01/10/22

Paciência e fé dos santos (62/92)

      “Se alguém tem ouvidos, ouça. Se alguém leva em cativeiro, em cativeiro irá; se alguém matar à espada, necessário é que à espada seja morto. Aqui está a paciência e a fé dos santos.Apocalipse 13.9-10

      Será que podemos usar o texto bíblico inicial como base para uma doutrina? Talvez. E se for para basear uma doutrina que se opõe a outra bem extremada? Quem sabe, mas isso não nos impede de conjecturar sobre algo que está na Bíblia. O texto não é metafórico, nem uma parábola, aliás, é bem objetivo, mas pode conter um mistério, e não está sozinho no cânone bíblico na categoria de textos, digamos assim, polêmicos. Está em Apocalipse e pode fazer parte de profecias dos últimos tempos, pelo menos assim creem, não todos, mas muitos, dessa forma pode se referir a algo que ainda ocorrerá. 
      Me chama a atenção o fato dele começar com a frase se alguém tem ouvidos, que parece nos exortar sobre algo além do óbvio, cujo significado mais profundo não pode ser entendido sem uma atenção maior. Mas ele também termina de forma enigmática, aqui está a paciência e a fé dos santos. Apesar de citar endividados morais e suas devidas penas, relaciona isso aos santos, não aos ímpios. Quem encarcera e oprime será encarcerado e oprimido, quem mata com espada com essa será morto, assim podemos concluir que quem mata com arma de fogo será morto com arma de fogo, não com arma branca. 
      Pergunto: esse texto de alguma forma não torna o conceito de condenação algo relativo, na proporção do erro? Ele pode simplesmente se relacionar à perseverança, necessária para aprovação em provas para se obter uma posição espiritual, trabalho exercido com insistência e no tempo. Mas se, como se crê tradicionalmente, fé em Jesus basta para pagar dívidas, para que outros pagamentos? Qual a relevância levantada aqui? Se usarmos o texto bíblico inicial para concluir que penas não são eternas, estaremos dizendo que o inferno pode não ser para sempre ou igual para todos os condenados. Será? 
      Quem matou, se for morto, terá pago sua dívida, quem colocou em cativeiro, se for posto em cativeiro, também estará livre da dívida. Porém, ser morto e ser colocado em cativeiro são penas distintas, então, se o pagamento for feito na eternidade o inferno não será igual, ser morto não é igual a estar em cativeiro, por outro lado, se for feito no mundo não haverá necessidade de inferno. Mas será que o que pagou a dívida com cativeiro e o que pagou com morte terão direito ao mesmo céu? Há nisso certa dificuldade para entendermos inferno e céu como eternos e iguais. Isso importa para você?
      Isso não anularia o poder do sacrifico do Cristo homem do passado, nem a posição exclusiva de Jesus espiritual hoje. Nossa fé em Jesus nos dá acesso espiritual a Deus, isso nos permite receber o perdão do Senhor, que nos deixa em paz com o Altíssimo, a paz que perdemos quando pecamos. Essa paz nos dá forças para seguirmos e permite que Deus nos ajude, o Espírito Santo habita os limpos, somos limpos assumindo pecados e tomando posse de perdão. Toda essa experiência, contudo, não nos exime de termos que pagar preços pelos nossos erros, e só quitando essas dívidas somos aperfeiçoados.
      Se há necessidade de paciência e fé ao santo, é porque o aperfeiçoamento não é instantâneo, o santo o adquire enquanto pratica boas obras morais no plano físico, ainda que pela fé em Jesus ele tenha paz com Deus e isso lhe dê direito à salvação necessária para ter o céu no plano espiritual. Fizemos assim uma distinção entre aperfeiçoamento moral e salvação. Isso é um pouco diferente da doutrina mais convencional, baseada, por exemplo, em textos como Colossenses 2.9-10, em que fé em Cristo, salvação, direito ao céu e aperfeiçoamento espiritual, é tudo obtido de uma só vez e imediatamente. 
      Você entende onde esta reflexão pode nos conduzir? O ponto não é diminuir Jesus, mas aumentar a responsabilidade do ser humano em seu aperfeiçoamento, entendendo que mesmo salvas no céu as pessoas terão níveis diferentes, conforme o que trabalharam no mundo. Não tenho dúvidas que interpretações que cristãos têm como certas da Bíblia por séculos, são só a superfície de muitos conhecimentos. Sobre Daniel e Apocalipse, por exemplo, sabemos muitos menos que achamos saber. Por que, então, estão na Bíblia? Para aprendermos a ser humildes, não arrogantes, achando que sabemos tudo. 
      Fizemos aqui uma distinção em relação ao que doutrinas cristãs tradicionais pensam sobre penas eternas e aperfeiçoamento moral. Fizemos também um rebalanceamento de importâncias da fé e das obras, mas também propomos uma interpretação diferente da relevância da existência no plano físico e no espiritual. Jesus continua como sempre será, acima de tudo, única porta para Deus e exemplo maior de excelência moral, mas as tarefas dos homens mudaram um pouco nesta ótica. Deus faz sua parte, mas se os homens não fizerem as deles não haverá aperfeiçoamento. O que você pensa sobre isso?

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a 2ª parte desta reflexão

30/09/22

Arrebatamento e batismo pelos mortos (61/92)

      “Eis aqui vos digo um mistério: Na verdade, nem todos dormiremos, mas todos seremos transformados; num momento, num abrir e fechar de olhos, ante a última trombeta; porque a trombeta soará, e os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados. Porque convém que isto que é corruptível se revista da incorruptibilidade, e que isto que é mortal se revista da imortalidade. 
      E, quando isto que é corruptível se revestir da incorruptibilidade, e isto que é mortal se revestir da imortalidade, então cumprir-se-á a palavra que está escrita: Tragada foi a morte na vitória. Onde está, ó morte, o teu aguilhão? Onde está, ó inferno, a tua vitória? Ora, o aguilhão da morte é o pecado, e a força do pecado é a lei. Mas graças a Deus que nos dá a vitória por nosso Senhor Jesus Cristo.” 
I Coríntios 15.51-57
  
      Uma doutrina parece ser citada em I Coríntios 15, o arrebatamento, na afirmação num abrir e fechar de olhos. Essa é a doutrina protestante que mais tenho dificuldade de compreender, não pode ser interpretada metaforicamente, mas só ao pé da letra, e é exatamente isso que me assusta. Jesus falou sobre ela em Mateus 24.27, Paulo também fala em I Tessalonicenses 4.17. Minha dificuldade para “aceitar” esse evento não tem a ver em quando ele vai acontecer, se antes, no meio ou depois do período escatológico chamado “tribulação”.
      Minha dificuldade está em como o arrebatamento vai acontecer. Por que minha dificuldade em aceitar o como? Porque é algo sobrenatural, que acho que evangélicos aceitam, mas nem param para pensar direito no que representa. Como assim, muitos seres humanos em corpos físicos sumirão do mundo puxados por uma força espiritual, num piscar de olhos, na velocidade de um relâmpago? Milhões de pessoas vão desaparecer do planeta Terra sem uma explicação científica? Até que ponto Deus agiu, age ou agirá assim? 
      Muitos protestantes e evangélicos não sabem, mas as igrejas Católica, Ortodoxa Oriental, Anglicana (Episcopal), Luterana e muitas denominações Calvinistas, não creem num retorno preliminar de Cristo, assim, não acreditam nesse arrebatamento físico no mundo. Crer nesse evento é exceção entre cristãos, não é regra. Penso que muitos que creem no arrebatamento estão com as cabeças tão cheias de milagres, que em grande parte nem acontecem, que só o aceitam por acharem que é só mais uma extraordinariedade de Deus.
      Interessante que Paulo inicia I Coríntios 15.51 com eis aqui vos digo um mistério, o mistério citado seria o arrebatamento ou o que ele diz depois, todos seremos transformados? O tema principal do texto não é arrebatamento, mas o corpo espiritual que teremos após a ressurreição. Me faz pensar o porquê de Paulo e de escritores dos evangelhos terem citado arrebatamento como citaram, ou sabiam mais e não disseram, porque sabiam que as pessoas daquele tempo não entenderiam, ou de fato criam do jeito que registraram.
      Prefiro o meio termo, que lhes foi revelado por Deus como metáfora de algo espiritual, ainda que não soubessem, para que estivesse na Bíblia. Um argumento que fundamentalistas usam é, “a Bíblia é a palavra de Deus”, e não, “a Bíblia contém a palavra de Deus”, assim, mesmo que tenha sido montada por homens, creem que o Espírito Santo acompanhou para que fosse construída conforme vontade divina. Não tenho dúvida que a vontade de Deus prevalece, só não acho que seja da maneira que muitos acham que é. 
      Deus usa coisas diferentes para prevalecer sua vontade, incluindo manipulações e equívocos humanos. A Bíblia contém a palavra Deus e é totalmente útil a Deus assim, ainda que não coesa muitas vezes. Primeiro porque serviu a pessoas de tempos antigos, mas depois porque desafia pessoas de outros tempos. Às pessoas dos tempos antigos falou como elas podiam entender, mas às pessoas de hoje pode ainda falar, se buscarmos no Espírito Santo uma interpretação mais profunda que nós hoje podemos compreender. 
      Será que devemos continuar interpretando a Bíblia hoje no século XXI, como interpretavam as pessoas do século XIX ou antes? Crer num arrebatamento físico e ao pé da letra é a mesma coisa que acreditar que o mundo tenha sido criado em seis dias. Sim, meus queridos, Deus pode realizar um arrebatamento físico e criar o mundo em seis dias, não estamos diminuindo o poder de Deus, mas será que é assim que ele age? Isso fica por conta da fé de cada um, só pense e ore mais, antes de aceitar uma interpretação romantizada.  
      Além de ressurreição, arrebatamento e corpo espiritual, I Coríntios 15 cita uma doutrina interessante no verso vinte e nove, batismo pelos mortos. “Doutra maneira que farão os que se batizam pelos mortos, se absolutamente os mortos não ressuscitam? Por que se batizam eles então pelos mortos?” Muitos criam na época de Paulo que podiam se batizar por quem não tinha sido batizado e havia morrido, legando ao morto o direito do batismo. Não entendemos que Paulo recrimine isso, também não estou julgando o costume. 
      A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias (Mórmons) ainda tem esse costume, eis um detalhe que a Bíblia contém que passa batido a muitos. Pois é, está na Bíblia, mas muitos evangélicos não obedecem, assim eu pergunto, aos que creem que devam obedecer cegamente a toda a Bíblia, por que esse costume não é seguido? Alguns alegam que Paulo se refere a um costume pagão, não de igreja cristã, mas juntemos essa passagem polêmica a outras iguais (como a da consulta de Saul à médium em I Samuel 28).
      O que importa é seguirmos a orientação final de I Coríntios 15.58: “sede sempre abundantes na obra do Senhor, sabendo que o vosso trabalho não é vão no Senhor”. O Altíssimo permitiu textos misteriosos na Bíblia, muitos o são porque nem os escritores originais, com toda a experiência que tinham com Deus, sabiam muitas das verdades mais profundas. Mas a dúvida existe por dois motivos: para que sigamos pela fé e estejamos trabalhando espiritualmente sempre, indiferente de como ou quando certas coisas ocorrerão.

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a 1ª parte desta reflexão

29/09/22

Ressureição e corpo espiritual (60/92)

      “Porque, se os mortos não ressuscitam, também Cristo não ressuscitou. E, se Cristo não ressuscitou, é vã a vossa fé, e ainda permaneceis nos vossos pecados. E também os que dormiram em Cristo estão perdidos. Se esperamos em Cristo só nesta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens. Mas de fato Cristo ressuscitou dentre os mortos, e foi feito as primícias dos que dormem.“ 
      “E há corpos celestes e corpos terrestres, mas uma é a glória dos celestes e outra a dos terrestres. Uma é a glória do sol, e outra a glória da lua, e outra a glória das estrelas; porque uma estrela difere em glória de outra estrela. Assim também a ressurreição dentre os mortos. Semeia-se o corpo em corrupção; ressuscitará em incorrupção.” 
I Coríntios 15.16-20, 40-42
 
      O capítulo quinze da primeira carta de Paulo à igreja de Corinto discorre sobre vários assuntos relacionados a últimos tempos e natureza de nossos corpos no plano espiritual. Ressurreição foi uma exortação que tinha relevância para o apóstolo-teólogo naquele momento, já que muitos não criam em existência clara e vitoriosa após a morte. Hoje, os que não são ateus e materialistas, e ateus e materialistas são minoria, creem de alguma maneira em vida pós-morte, mas isso não era crença dos judeus do século I.
      O antigo testamento, baseado na Torá e em outros textos sagrados israelitas, narra a história de um povo se relacionando com um Deus espiritual, mas que liberta e guia para uma Canaã no plano físico, as promessas, vitórias e prosperidades são materiais, aqui e agora no mundo. O povo judeu da Bíblia é um povo materialista, isso influenciou muito a civilização ocidental, diferente da oriental, que orientada principalmente pelo hinduísmo e o budismo, tem uma ótica mais espiritual e do outro plano da existência. 
      Esse entendimento veo-testamentário é tão forte que mesmo o cristianismo evangélico, que crê em céu e inferno, teima em achar que o reino de Deus deve ser evidenciado aqui, por isso vemos no Brasil atual tanto interesse de evangélicos em política e em ter um presidente de sua religião. Talvez vivamos um momento que ressurreição deva ser instada veementemente, não para que sejamos ociosos no mundo e nem desrespeitosos com o planeta e a humanidade, mas para que entendamos nossa chamada espiritual maior.
      Paulo exorta que a morte neste mundo não é o fim, que depois seguimos existindo no plano espiritual, que essa outra etapa da existência será com um corpo diferente, “celestial”, não material, e que se isso não for entendido a obra redentora do Cristo é menosprezada. Mas além de repreender alguns sobre a ressurreição, Paulo cita outras doutrinas. É interessante entendermos que muitas doutrinas que temos hoje em igrejas católicas e evangélicas, foram resultados de construções gradativas, não nasceram prontas. 
      Em primeiro lugar, homens que foram testemunhas oculares dos atos de Cristo e que ouviram direto dele muitas coisas, ensinaram depois o que acharam ser o evangelho original. Depois temos Paulo, que ainda que não tenha aprendido diretamente de Jesus, codificou o cristianismo, principalmente nas orientações que deu às igrejas, muitas fundadas por ele, através das cartas. Muito do que Paulo escreveu foi direcionado a judeus convertidos, mostrando-lhes que a nova aliança de Cristo era superior a de Moisés.
      Contudo, à medida que o que entendemos como catolicismo foi imergindo, textos cristãos, ou tidos como tais, dos quatro primeiros séculos foram sendo puxados, revistos, reinterpretados, mesmo alterados, conforme aqueles que se colocavam como novos líderes do cristianismo achavam adequado. Como hoje, nos primeiros séculos havia várias seitas, com doutrinas diferentes em alguns aspectos, assim, a Igreja Católica, subtraindo e adicionando textos, foi montando o que considerava ser a doutrina cristã oficial.  
      A reforma diminuiu o cânone, enfatizou salvação por fé e descartou compras de indulgências, nivelou adeptos acabando com hierarquias e celibato. Contudo, um ponto importante é que tanto o cristianismo original, quanto o catolicismo e o protestantismo, são de certa forma seitas judaicas. A base da religiosidade israelita, pecado que separa de Deus e necessidade de sacrifício de sangue para remissão desse, continuou. Só houve substituição de sacrifícios de animais no Templo de Jerusalém por fé no sacrifício do Cristo.
      Sobre a substância de nossos corpos no plano espiritual, o exemplo bíblico mais direto está nas aparições de Jesus após ressuscitado e neste mundo (leia João 20-21). Ele podia surgir e desaparecer, percorrer distâncias na velocidade do pensamento, comer e apresentar os sinais adquiridos no corpo físico. Jesus, contudo, era especial, com “glória” especial, e no plano espiritual a “glória” não será a mesma para todos, variará conforme a qualidade moral, ainda que a substância espiritual de todos seja incorruptível.
       Paulo pode ter se referido a essa diferença na mesma carta, em I Coríntios 3.12-15. “E, se alguém sobre este fundamento formar um edifício de ouro, prata, pedras preciosas, madeira, feno, palha, a obra de cada um se manifestará; na verdade o dia a declarará, porque pelo fogo será descoberta; e o fogo provará qual seja a obra de cada um. Se a obra que alguém edificou nessa parte permanecer, esse receberá galardão. Se a obra de alguém se queimar, sofrerá detrimento; mas o tal será salvo, todavia como pelo fogo.
      O conceito “galardão”, pouco falado em púlpitos, pode explicar as distinções, não na substância, mas na graduação moral dos seres no outro plano. Podemos entender que não serão só salvos e condenados, mas haverá nuanças entre santos e ímpios. Mas será que diferença moral também não interferirá na substância espiritual? Seres mais morais mais iluminados e seres menos morais mais entrevados? O certo é que uma grande maioria de cristãos, ocupada com o mundo, entende pouco sobre ressurreição e corpo espiritual. 

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28/09/22

O amor de Deus é eterno (59/92)

      “Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três, mas o maior destes é o amor.” I Coríntios 13.13

      O cristianismo no mundo não tem propriedade exclusiva sobre Cristo, mas como certas religiões professam o nome de Jesus de forma mais direta, há mais possibilidade dos homens conhecerem a Jesus nelas. Cristo, contudo, está muito além das religiões, seu amor é muito maior, nele não há penas eternas, mas misericórdias eternas, ainda que haja justiça e colheita de plantios ruins. A religião da eternidade é Cristo, não o cristianismo, é Jesus, não o catolicismo ou o protestantismo, é luz, não trevas, é vida eterna, não morte eterna. Podemos entender que há penas eternas por alguns textos bíblicos? Sim, mas por outros textos podemos entender outra coisa. A verdade está no Espírito Santo, busquemo-lo. 
      “Porque a sua ira dura só um momento; no seu favor está a vida. O choro pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã.” (Salmos 30.5). Quem pode afirmar que o inferno, apesar de terrível, não durará só uma noite? Que duração terá essa noite? Pode ser de alguns meses, como pode ser de anos. Será eterna? Será que Deus se ira para sempre? “Eu, porém, vos digo que qualquer que, sem motivo, se encolerizar contra seu irmão, será réu de juízo; e qualquer que disser a seu irmão: Raca, será réu do sinédrio; e qualquer que lhe disser: Louco, será réu do fogo do inferno.” (Mateus 5.22). Por outro lado será que passarei a eternidade no inferno por ter me irado? Jesus não teve a intenção de dizer isso. 
      O objetivo de ter sido tanto usado o termo “inferno eterno” no novo testamento foi enfatizar, principalmente para um ser humano do século um, a seriedade do pecado, principalmente o pecado interior que havia mesmo embaixo da aparência religiosa que líderes religiosos judeus pregavam. Foi conveniente à igreja católica manter textos com esse viés no cânone, por isso a Bíblia não pode ser interpretada ao pé da letra, precisa sempre do discernimento vivo do Espírito Santo. Muitos cristãos não aceitam que há ensinos antagônicos na Bíblia, ela não é coesa, assim os que dizem que só creem no que está na Bíblia precisam conhecer melhor a Bíblia, ou então assumir que só creem em um dos lados dela. 
      Existe nos textos bíblicos um “Deus” que se ira, que se vinga, que destrói e pune dura e eternamente? Sim, existe esse “Deus” na Bíblia. Mas também existe um Deus que ama e ama a todos, mesmo os que se colocam como inimigos dos cristãos, que não disciplina para sempre, e veja que usei o termo “disciplina”, não “pune”, que recebe o que reconhece seu pecado e pede perdão. O ponto é que o cristianismo tradicional não considera livre arbítrio na eternidade, mas só no mundo. Mas meus queridos, se em tão pouco tempo que vivemos aqui mudamos tanto, por que não mudaríamos tendo toda a eternidade, sem as distrações e limites da matéria, do espaço e do tempo? Se isso ocorrer, nosso inferno não seria convertido em céu? 
      Nada que estou supondo aqui, e estou apenas pensando contigo, supondo coisas, diminui o melhor do cristianismo que experimentamos no mundo. O poder exclusivo do nome de Jesus nas mais elevadas regiões espirituais, o exemplo de vida moral mais alta que ele nos ensinou, a sabedoria tão linda contida em tantos textos bíblicos, de Salmos ao evangelho de João, de Jó à primeira epístola de Paulo aos coríntios, da história da nação de Israel rumo à Canaã às viagens missionárias dos primeiros discípulos, dos mistérios de Gênesis aos de Apocalipse, tudo isso é verdade se interpretado com o Espírito Santo. Mas considere a possibilidade, só considere, de eterno ser o amor de Deus e o livre arbítrio humano, não a ira divina. 
      Não, caríssimos irmãos protestantes e evangélicos, isso não é passar a mão na cabeça de pecador ou diminuir a santidade de Deus, de forma alguma, isso também não é facilitar a espiritualidade dos seres humanos. Isso apenas leva-nos a entender a eternidade do espírito e a temporariedade da matéria, sendo matéria só oportunidade para aperfeiçoar o espírito. Nossa existência limitaria-se a uma? O que seriam os novos céus e a nova terra citados na Bíblia, só lugares de descanso eterno para não se fazer nada? Não, existir eternamente é trabalhar eternamente, a felicidade está em servir, não em permanecer inerte em estado de comtemplação. O que nos impulsiona nesse trabalho é o amor de Deus rumo à sua santidade.  

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27/09/22

Qual a religião da eternidade? (58/92)

      “As misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos, porque as suas misericórdias não têm fim; novas são cada manhã; grande é a tua fidelidade.Lamentações 3.22-23

      Será que há só uma religião no plano espiritual, que exige que todos creiam de uma maneira e que pune quem não crê assim? Entender a existência de uma única religião na eternidade é entender Deus impondo a todos uma única maneira de entender o universo, principalmente o plano espiritual, de acordo com uma religião que existe no mundo e que foi estabelecida por homens. Isso seria considerar o cristianismo (do mundo) como a perfeita vontade de Deus para guiar o homem, ignorando fatos sérios. Um fato são os terríveis erros que a igreja católica cometeu na história, como as cruzadas, a inquisição, o negacionismo científico, e mesmo sua omissão em eventos como a segunda guerra mundial. 
      Nesses erros não estão fora os protestantes, que também têm comedido sérios erros, principalmente atualmente, quando se envolvem com política, negacionismo e materialismo. Outro fato é ignorar outras religiões, como o hinduísmo, o islamismo, o budismo, o confucionismo, os espiritismos, que possuem uma enorme quantidade de adeptos. O mundo ocidental europeu desinformado desprezou por muito tempo os mundos árabe, oriental, africano, e mesmo povos americanos tradicionais, como se ele fosse maioria e mais importante no planeta. Todos esses outros mundos estão condenados ao inferno, que muitos cristãos acham que existe, só por não serem cristãos, ou por não serem europeus ou descendentes?
      Achar que na eternidade haverá só uma religião implica crer que Deus considera uma religião do mundo e desconsidera as outras. Entenda certo, cristão, não estou dizendo que sua crença seja banal ou só mais uma, mas estou levantando a possibilidade dessa ser só sua crença pessoal, que Deus respeita como respeita outros seres humanos com outras crenças, ainda que sua crença seja especial. Não estou tirando de Jesus sua posição exclusiva, no mundo e na eternidade, não creio assim. Acredito que apesar do cristianismo do mundo, catolicismo e protestantismo dentre outras seitas, Jesus foi, é e sempre será o melhor caminho, a mais pura verdade e a vida mais próxima do melhor plano de Deus para os homens. 
      Ainda que Jesus seja singular, Deus respeita quem não o conhece como os cristãos o conhecem, porque, meu querido irmão e minha querida irmã que me lê, você já se atentou ao tamanho do planeta? Você já pensou sobre o número de seres humanos que o habitam? Nos cinco continentes, com línguas, raças, níveis culturais e financeiros diferentes? Você já refletiu como é criada uma criança no meio da China, na selva da África, nas favelas do Haiti ou no Afeganistão dominado por extremistas do Islã? Não, meus amigos, ainda no século XXI não é todo mundo que pode conhecer a Jesus como você conhece, frequentar uma igreja evangélica ou uma catedral católica, mas ainda assim Deus ama toda a humanidade. 
      As doutrinas do catolicismo e do protestantismo não constituirão o livro de leis que regerá a eternidade, pelo menos não integralmente. Assim, meus queridos irmãos cristãos, católicos e demais, estejam felizes e sejam úteis em suas crenças, mas tenham as mentes abertas e preparem-se. Quando passarem para o outro lado encontrarão o Jesus real, puro e perfeito, sem as capas de corrupção que as religiões cristãs lhe impuseram no plano físico. Esse Jesus receberá todos com amor, abaixo dele poderá estar Krishna, Maomé, Buda, Confúcio, Kardec e outros fundadores de religiões, também esperando com afeto, mas ninguém tem a posição de Jesus, e acima dele, só Deus. Sejamos humildes, não sabemos tudo. 
      Creio que uma coisa é certa, na eternidade uns seres humanos se sentirão em paz e próximos a Deus, num “céu”, e outros seres humanos se sentirão atormentados e longe de Deus, num “inferno”. Qual a motivo dessa paz e desse tormento? Seria o fato deles terem professado no mundo a religião cristã ou não? Não necessariamente, com certeza muitos que conheceram na prática o que Jesus ensinou terão grandes possibilidades de estarem em paz, ainda que não tenham sido católicos, protestantes ou de outras seitas cristãs. Para aceitarmos isso precisamos enxergar Jesus além das religiões cristãs, muito mais maravilhoso que elas dizem que ele é. Busque a Deus com todo o coração e você entenderá isso.

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26/09/22

Você crê em céu e inferno? (57/92)

      “O Senhor não retarda a sua promessa, ainda que alguns a têm por tardia; mas é longânimo para conosco, não querendo que alguns se percam, senão que todos venham a arrepender-se.” II Pedro 3.9

      A teologia de penas eternas, que diz que após a morte as pessoas poderão ter dois destinos irrevogáveis e extremos, é relevante hoje no cristianismo? Em que, crer no céu e no inferno na eternidade, interfere na vida dos homens na realidade deste mundo? Muda alguma coisa na tua vida? Você pensa nisso quando faz tuas escolhas, quando tenta ser um ser humano melhor? Ou nem pensa a respeito, faz o que pode e entrega o resto nas mãos de Deus, sem esquentar muito a cabeça? 
      Ocorre que muitos que têm certeza do céu não se esforçam para serem melhores, creem na salvação e o que são já lhes basta ser. Já outros, que têm certeza do inferno, não sofrem por serem piores, acham que estão condenados e nada pode mudar isso. Mas alguns preferem não ter certeza de nada, acham que quando morrerem tudo acabará, ou no máximo todos irão para o mesmo limbo, todavia, isso torna as vidas desses absolutamente sem sentido e isenta de responsabilidades. 
      A verdade é que a eternidade não muda ninguém, a única coisa que nos muda é a existência temporária no mundo com certeza da morte, que faz com que queiramos ser melhores ainda que só para retardar o fim. Contudo, mais que o medo, o que mais nos transforma é o amor, ainda que não demos importância ao que vem depois da existência no mundo, desejamos ser melhores para fazermos felizes quem amamos. Jesus deu muita importância no evangelho a amar ao próximo. 
      Até que ponto certeza de salvação e de condenação eterna faz diferença nas vidas das pessoas neste mundo? Muitos aceitam isso porque é dogma de suas religiões, mas na verdade nunca pensaram seriamente no tema, se refletissem melhor a respeito talvez mudassem de ideia. Será que muitos hoje, no século XXI, são fiéis às igrejas porque têm medo do inferno? Não creio que a maioria dos cristãos, católicos ou protestantes, pense assim nos dias atuais, os dias são hipócritas. 
      Algo é certo, muitos buscam religiões, principalmente a evangélica, porque temem o diabo, não pelo que ele pode levá-los a ser espiritualmente na eternidade, mas pelo que ele pode fazer-lhes neste mundo na área material. Nisso a igreja católica teve sucesso, deu poder ao diabo e o usou para amarrar as pessoas a ela, mais do que usou o amor divino. O ponto é que muitos querem se livrar do diabo sendo bons religiosos no mundo, não sendo pessoas melhores para a eternidade. 
      Responda-me honestamente: você de fato aceita, sem dúvidas ou qualquer espécie de peso, que alguém que convive com você no trabalho ou que é um parente teu, por não ser cristão como você é, vai passar a eternidade no inferno? Muitos podem dizer, “mas o inferno existe para pessoas realmente más”, mas mesmo assim, será que ninguém pode mudar com o tempo? É mau porque gosta? Não tem motivos justificados para não ser alguém civilizado e merecedor do céu? 
      Muitos até fazem certas considerações, mas estão presos à religião que diz que certas coisas são assim porque Deus quer e nós não podemos ir contra. Novamente caímos no questionamento tanto feito aqui: quem são esses que dizem que Deus pensa assim? A Bíblia, os dogmas, a teologia tradicional? Não vou me estender no tema, vou apenas dizer: busque a Deus, pergunte a ele sobre algumas coisas, sem medo de discordar da religião, peça que ele te mostre a verdade. 
      A verdade é que o ser humano já mudou, não aceita mais o falso cristianismo como aceitavam os seres humanos de séculos passados, ocorre somente que a maioria dos seres humanos ainda não teve coragem de assumir a mudança. Assim continuam indo a missas e cultos, ouvindo muitas coisas, mas jogando a maior parte dessas coisas no lixo, retêm apenas o que lhes interessa. Vivemos tempos de hipocrisia religiosa, as pessoas querem parecer cristãs, mas não serem de fato. 
      Só os sofrimentos extremos, do tempo que muitos chamam de final e que abaterão todo o planeta, para acabar com essa hipocrisia, e esse tempo se aproxima. A humanidade terá que passar por uma enorme pressão para se livrar dos misticismos e superstições do falso cristianismo, e então entender a simplicidade do evangelho que Jesus ensinou há quase dois milênios atrás. Os homens já usaram todo o tempo que tinham para serem crianças, o momento de crescer urge. 
      Talvez uma visão mais pragmática da vida, onde se busca qualidade de vida no mundo, não só visando riqueza para todos, mas justiça social e respeito com o planeta, seja melhor, conduza as pessoas a tratarem todos com mais respeito, que simplesmente crer que uma decisão de fé livra do inferno e dá o céu para sempre. Até que ponto tantos que se acham melhores e mais próximos de Deus por seguirem o cristianismo de religiões, são de fato seres humanos espirituais? 
      Num juízo final, o que será cobrado? Teoria ou prática? Fé cega ou inteligente? Cuidado, os que creem no inferno, ele pode existir justamente para pessoas como vocês, não para os outros, como diz o ditado, “quem deve, teme”. Quanto aos que vivem com humildade e justiça, que amam a todos, indiferente de cor de pele, sexualidade, religião, poder aquisitivo, e que respeitam mistérios espirituais e não se acham donos da verdade, nada têm a temer, Deus os conhece bem.

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25/09/22

Disciplinas e julgamentos (56/92)

      “Se suportais a correção, Deus vos trata como filhos; porque, que filho há a quem o pai não corrija? Mas, se estais sem disciplina, da qual todos são feitos participantes, sois então bastardos, e não filhos.” “E ninguém seja devasso, ou profano, como Esaú, que por uma refeição vendeu o seu direito de primogenitura. Porque bem sabeis que, querendo ele ainda depois herdar a bênção, foi rejeitado, porque não achou lugar de arrependimento, ainda que com lágrimas o buscou.” Hebreus 12.7-8, 16-17

      Esta reflexão é uma análise do tratamento ao qual Deus nos submete para nos aperfeiçoar, tratamento que dividirei em quatro procedimentos: disciplinas menores, disciplinas maiores, julgamentos primários e julgamento final. Isso não refere-se especificamente a uma metodologia bíblica, mas você já deve ter verificado esse tratamento em tua jornada, ainda que com outros nomes. Acima de tudo, a reflexão é uma exortação para que não tenhamos que passar pelo terrível e derradeiro julgamento. 
      Com paciência Deus espera que nos arrependamos dos erros morais diários e não coloquemos nossas cabeças nos travesseiros sem nos sentirmos perdoados. Com paciência Deus aguarda que assumamos vícios mais duradouros e queiramos viver um novo dia sem cair neles, ainda que os tenhamos praticado por algum tempo. Mas com paciência vemos Deus nos disciplinar, não para que fiquemos na disciplina para sempre, mas para que entendamos que o pecado prejudica, a nós e aos outros, por isso melhor é não pecarmos
      Depois de nos dar muitas chances, de aguardar que entendamos que posições que nos afastam do melhor de sua moral para nossas vidas no final darão frutos amargos, vemos Deus nos julgar e nos deixar numa situação onde teremos que perder muitas coisas, passar muito sofrimento, para que corrijamos os caminhos errados. Contudo, se ainda assim persistirmos no orgulho, em não aceitarmos o plano de Deus como o melhor para nós, um segundo julgamento do Senhor poderemos provar. 
      Esse segundo julgamento é terrível, nele perdemos tudo, todas as nossas referências precisarão ser aniquiladas, uma “morte”, não necessariamente do corpo, haverá para que uma nova vida comece. Nisso Deus tentará nos reconstruir, agora não haverá modo de fugirmos, mas para alguns isso pode ser até perda da vida física. Esse último julgamento tem uma característica, entre ele e um menor anterior, um bom tempo pode se passar, é a paciência de Deus revelando que o que virá será bem sério. 
      Por ser esse hiato longo, muitos pensam que insistiram tanto que prevaleceram, acham que fizeram braço de ferro com o destino e foram vitoriosos. Mas só é a bonança antes do temporal, é um tempo a mais que Deus dá ao ser humano para mudar de atitude. Se nos erros menores a disciplina é rápida, se mesmo julgamentos primários vêm depressa, o segundo julgamento pode levar uma vida. Muitos morrem no erro, em boa situação material, mas longe de Deus, esses serão surpreendidos na eternidade. 
      Tem muita gente aguardando esse segundo julgamento, isso é muito triste. Já vi gente ser avisada e ser avisada e ser avisada e não mudar de vida, então, sofrer um final trágico. Entenda bem, gente assim não é criminosa, violenta ou marginal, esses têm um tratamento adequado mas diferente dos que me refiro aqui como réus do último julgamento. A principal característica dos réus desse julgamento é o orgulho, teimam em fazer as coisas dos seus jeitos, não se rendem humildemente à vontade de Deus. 
      Passamos por disciplinas menores quase que diariamente. Disciplinas maiores passamos por muitas, mas nelas sofremos como filhos. Julgamentos primários podem ser necessários, às vezes mais de um em nossas vidas. Neles precisamos aprender a crer em Deus ainda que em exílios, cárceres ou desertos, mas mesmo nesses Deus cuida de nós e eles passam. Contudo, o segundo julgamento só ocorre uma vez, alguns ainda conseguem superá-lo neste mundo, mas muitos terão que morrer para sofrê-lo. 
      O texto bíblico inicial fala-nos de dois procedimentos de Deus, primeiro a disciplina, e depois, pelo menos até onde entendemos o escritor sobre Esaú, um julgamento. Até um ponto sofremos como filhos, não perdemos direitos, há apenas a tristeza que o afastamento de Deus precisa nos trazer, e precisa para que entendamos que erros têm preços ruins. Mas depois desse ponto julgamentos podem nos humilhar e muito neste mundo, chegando ao ponto do Senhor nos deixar seguir sob a nossa própria sorte. 

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a 1ª parte desta reflexão

24/09/22

Mente, mãos e coração (55/92)

     “Ainda assim, agora mesmo diz o Senhor: Convertei-vos a mim de todo o vosso coração; e isso com jejuns, e com choro, e com pranto. E rasgai o vosso coração, e não as vossas vestes, e convertei-vos ao Senhor vosso Deus; porque ele é misericordioso, e compassivo, e tardio em irar-se, e grande em benignidade, e se arrepende do mal.Joel 2.12-13

      A primeira vergonha é difícil, mas a segunda pode ser muito pior se algo de bom não for aprendido com a primeira. Vemos isso na história da Alemanha na primeira metade do século XX, derrotada e humilhada na primeira guerra mundial, não aprendeu algo útil com isso. Ocorreu que o oportunista e insano Adolf Hitler apareceu e usou uma nação orgulhosa, levando os alemães a uma vergonha maior na segunda guerra mundial. (Refletimos sobre isso na postagem Hitler, arquétipo diabólico). 
      Paciência, eis uma característica decisiva no amor de Deus pelos homens, o Senhor não se apressa para disciplinar, nem para julgar, só para amar. Na verdade espiritual maior, Deus não envergonha ninguém, não disciplina ninguém, não julga ninguém e não condena ninguém, a escolha é sempre do ser humano. Perto de Deus o homem vivencia libertação moral e iluminação espiritual, assim como dignidade material. Longe, contudo, experimenta só prazeres materiais e isso só por um tempo. 
      O homem enxerga disciplinas e julgamentos, são pontos de vista seus. É o ser humano, principalmente o do antigo testamento com uma ótica antropomórfica de Deus, que interpretou um Deus ativamente punidor e executor de sofrimentos. Deus nunca se coloca nessa posição, está sempre disponível para amar e abençoar. O ser humano, contudo, afastando-se do Senhor, fica indisponível para ser beneficiado pelas bênçãos que existem nas altas regiões espirituais às quais Jesus dá acesso. 
      Para ser didático vou antropomorfizar Deus, perdoem-me a licença poética. A mente de Deus sabe tudo, acompanha tudo, sua providência administra todas as coisas. Suas mãos tomam a iniciativa para alcançarem todos que tomam a iniciativa de o buscarem, mesmo que estejam longe. O coração de Deus, e o entendamos como sendo o centro ativo das virtudes do Senhor, perdão, misericórdia, amor, luz, paz, ele está na posição mais alta. Têm acesso ao coração os que são conduzidos a Deus por suas mãos.
      Enquanto as mãos executam como que um movimento mecânico, de retirar de uma posição e colocar em outra, o coração executa a intenção que abençoa os próximos de Deus. O movimento das mãos do Senhor são condicionados ao nosso livre arbítrio, já o coração de Deus abençoa sempre, ainda que só alcançando os próximos. Os distantes são conhecidos pela mente de Deus, são chamados por Deus ao arrependimento, Deus não se esquece deles, mas enquanto não se decidem estão longe do coração. 
      O coração de Deus está longe dos que não querem obedecer a Deus porque em seu coração só existem virtudes. Se estivesse perto desses significaria que o coração do Senhor conteria vingança, punição, dores e trevas ativas. O que está ativo nas regiões espirituais longe de Deus são outros seres rebeldes, como o diabo e os demônios, são esses que fazem os distantes de Deus sofrerem, não Deus. O seres espirituais distantes do Senhor são eles mesmos os castigos do mal, punem a si mesmos e aos pares. 
      Os distantes provam disciplinas e julgamentos, assim como, em situação extrema, o inferno ou a pior eternidade, longe do coração de Deus. A melhor eternidade, o céu, está perto de Deus, nela estão os próximos do Senhor, praticantes de fé e de boas obras em Cristo. Há sérios enganos ao aliar a um Deus espiritual formas humanas, principalmente na área moral, contudo, na funcionalidade o antropomorfismo pode ser útil ao ensino, ainda que Deus não tenha cabeça, membros, tronco ou coração. 
      Deus delega a anjos e outros seres espirituais as tarefas de “movimentos” espirituais, perceba como é maravilhoso. Distantes, Deus nos e se importa, e ainda que não possa agir porque não autorizamos, seu coração nos ama e mostra-nos isso. O Senhor anda pela Terra procurando quem o queira. Então, decidimos nos achegar a ele, ele nos ouve, suas mãos nos tomam, seus braços nos aproximam de seu peito, abraçam-nos forte e nos colocam em seu coração, onde nos limpa, nos cura, nos ensina e nos protege

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a 2ª parte desta reflexão

23/09/22

O que se faz, não com o quê (II) (54/92)

      “O Senhor olha desde os céus e está vendo a todos os filhos dos homens. Do lugar da sua habitação contempla todos os moradores da terra. Ele é que forma o coração de todos eles, que contempla todas as suas obras.” Salmos 33.13-15

      Se acompanhou o raciocino da primeira parte desta reflexão, entendeu que fiz uma espécie de negação a algo que a maioria dos cristãos gosta de afirmar. “Só Cristo salva”, dizem os evangélicos, os católicos dizem algo mais extremo, ”Fora da Igreja (católica) não há salvação”, mas os espíritas contra-atacam com “Fora da caridade não há salvação”. Todos querem ser proprietários exclusivos da verdade dizendo que receberam de Deus a chancela. 
      A vaidade leva pessoas a se acharem donas de verdades, não entendendo que: Cristo nos capacita para sermos caridosos e assim fazermos parte de uma igreja celestial! Eis a harmonização de todas as afirmativas anteriores, vindas de origens distintas. Não tem a ver com religião e o mundo, mas com Deus e o plano espiritual. Os homens não aceitam que Deus ama a todos, entrega ferramentas conforme os limites humanos, para que todos façam boas obras. 
      Os fins justificam os meios? Não nesse caso, só existe um meio para Deus, Jesus. Até que ponto importa que as pessoas conheçam suas ferramentas, importa que saibam usá-las bem. Nem todos sabem como um computador funciona, mesmo assim podem usá-lo com eficiência. O Sol é o Sol, não importa se o olhamos a olhos nus ou com um potente telescópio. Se usarmos um telescópio saberemos de mais detalhes que quem olha a olhos nus, mas isso importa?
      Cientistas estudam mais a fundo o Sol para saber coisas importantes sobre o universo e a relação desse com a Terra. Mas para nós, seres humanos comuns, importa-nos ter o Sol brilhando num período suficiente para beneficiar agricultura, os animais e nos permitir exercer atividades produtivas com mais facilidade. Deus é Sol que brilha para todos, ainda que muitos não tenham ferramentas sofisticadas para saber com profundidade como ele age. 
      Confortáveis em templos cristãos, muitos não se atêm ao fato que milhares de pessoas no mundo não possuem as ferramentas igreja e Bíblia para conhecer Jesus como eles conhecem. Essas pessoas estão condenadas ao inferno porque não tiveram acesso a ferramentas melhores para chegar a Deus? Mas quem disse que muitas dessas pessoas, em suas religiões e com outras ferramentas, não têm experiências reais com o Deus verdadeiro? Deus é espírito.
      Cristãos, Deus não ama só vocês, ama a todos. Se vocês, de posse de doutrinas e dogmas definidos, de igrejas organizadas e reconhecidas, de tantas versões de Bíblias, de escolas teológicas com um pensamento cristão analisado sob tantos pontos de vista, enfim, com as melhores ferramentas, construíram um cristianismo corrupto, por que exigir dos outros que tenham crenças mais claras com as ferramentas que possuem? Deus vê a intenção do coração. 
      Não tenho dúvida que Jesus é alguém especial e exclusivo enviado por Deus a este planeta, acima de todas as ferramentas espirituais. Contudo, o que muitos cristãos não entendem é que muitos, ainda que não tenham conhecimento intelectual sobre Jesus e a Bíblia, se tiverem fé e intenção correta, têm comunhão com Deus e através de Jesus. Jesus é hoje um ser espiritual numa posição única, ninguém que quer se aproximar do Altíssimo o faz fora de Jesus. 
      Por outro lado tem muita gente dentro de templo e de catedral, falando o nome de Cristo, mas muito distante de Jesus e de Deus. Esses sabem o evangelho, conhecem o Cristo que viveu no primeiro século, foi crucificado e ressuscitou, mas não experimentam o Jesus que reina atualmente nas regiões espirituais mais altas. Eles têm acesso a melhor ferramenta e não constroem muito com ela. Será que só por conhecerem a ferramenta terão créditos na eternidade? 
      Na verdade, existe muita gente chamando Jesus de outro nome, em outro idioma, às vezes só por um dialeto que nem escrita usa, mas se aproximando de Deus. São os bons construtores, construindo castelos com pedaços de pau e pedra, enquanto que muitos que se chamam de cristãos, com a caixa de ferramentas completa nas mãos, estão dentro de cavernas rudimentares. Haverá muitas surpresas na eternidades, diminuí-las é possível aqui, com humildade. 
      Vejo católicos idolatrando Pedro, protestantes idolatrando Martinho Lutero, espíritas idolatrando Chico Xavier, e poderia citar mais exemplos. Só Jesus pode ser totalmente amado e seguido, e não me refiro às religiões cristãs, mas à pessoa espiritual de Cristo hoje. Deus usa muitos para descobrir ferramentas, esses são especiais, mas são homens. Há seres elevados no mundo hoje? Sempre há, mas talvez você nunca os conheça, eles vivem discretos e humildes. 

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a 1ª parte desta reflexão

22/09/22

O que se faz, não com o quê (I) (53/92)

      “Meus irmãos, pode também a figueira produzir azeitonas, ou a videira figos? Assim tampouco pode uma fonte dar água salgada e doce. Quem dentre vós é sábio e entendido? Mostre pelo seu bom trato as suas obras em mansidão de sabedoria.Tiago 3.12-13

      Na vida, dentro ou fora das religiões, dentro ou fora do cristianismo, Deus apresenta a todos os seres humanos ferramentas. Elas são conhecimentos religiosos, espirituais, morais, sobre espiritualidade e virtudes, sobre o mundo espiritual e sobre Deus. Através dessas ferramentas as pessoas podem conhecer elas mesmas, o ser humano, o mundo espiritual, Deus e os valores morais, para serem melhores, não só neste mundo, mas para a eternidade pós morte. 
      Existem vários tipos de ferramentas, algumas mais delicadas, específicas, precisas, e outras mais brutas, gerais, não tão precisas. Cabe a cada um de nós neste mundo, pelo trabalho e pelo livre arbítrio, escolher quais ferramentas tomar e usar. Na eternidade, contudo, não seremos avaliados pela sofisticação das ferramentas, mesmo pela aparência delas, mas pelo que fizermos com elas, pela qualidade das obras que construímos com as ferramentas. 
      Nós, seremos humanos, contudo, temos a tendência de julgar as pessoas pela qualidade das ferramentas que elas possuem, e muitas pessoas são hábeis para exibirem suas ferramentas, procurando justamente serem valorizadas por elas. Não percebemos que muitos com pedaços de madeira e pedras constroem lindos palácios, enquanto que outros, com furadeiras de última geração e jogos completos de chaves de fenda, só constróem cavernas rudimentares. 
      Um cuidado especial temos que ter com os que descobrem novas ferramentas, sim, porque ferramentas espirituais não são inventadas por homens, mas criadas por Deus, os homens apenas as descobrem. Não é porque alguém descobre pela primeira vez uma ferramenta que seja seu criador, que saiba usar bem a ferramenta, ou que possa seguir usando-a bem até o fim de sua vida neste mundo. É certo que quem descobre tem a missão de divulgar a ferramenta.
      Como divulgadores, descobridores ganham fama, principalmente se a ferramenta entrega uma iluminação inédita. Mas eles também terão que usar as ferramentas para construir algo, e serão, como qualquer outra pessoa, avaliados pelo que construírem. Nem o fato de terem descoberto uma ferramenta lhes dá créditos adicionais. Não podemos idolatrar alguém só por ser fundador de religião, seu valor está aliado àquilo que ele praticar de bom com ela. 
      Em termo espirituais, o homem que pisou este planeta e compartilhou a ferramenta mais poderosa foi Jesus Cristo. Ele não só mostrou o caminho como viveu esse caminho em toda a sua plenitude. Por isso, mesmo cristianismos corrompidos, resistem até hoje por estarem baseados num elevado exemplo de vida. Mas outros fundadores de religiões também descobriram, autorizados por Deus, ferramentas, e umas bem preciosas, ninguém se engane sobre isso. 
      Mas se o catolicismo, construído sobre a mais elevada ferramenta, se corrompeu, por que não se corromperiam religiões fundadas sobre ferramentas inferiores, tendo em vista que os próprios fundadores dessas viveram abaixo do nível de Cristo? Alguns descobridores, ainda que famosos, não construíram muito e até destruíram no final o que tinham feito. Isso ocorre quando se cai na vaidade de se achar melhor justamente por se ter descoberto algo.
      Por isso não devemos idolatrar nenhuma religião, muitos menos fundadores de religiões, reformadores de religiões ou codificadores de religiões, só Jesus viveu o que pregou e pregou o ensino mais elevado de todos. As ferramentas são de Deus, não dos homens, aos homens cabe tomá-las e usá-las para construir boas obras, os que as descobrem mais responsabilidade ainda têm, de fazer melhor com a nova ferramenta que entregam para que deem exemplo. 
      Mas também não podemos nos escandalizar só porque um descobridor pisou na bola, repito, os homens são descobridores, não inventores, quem cria é Deus. Não é porque alguém traz uma visão mais profunda de Deus e nos abençoa com ela, que ele seja Deus. Ele continua sendo homem, sujeito à vaidade e cabível de livre arbítrio, se ele parar de construir algo verdadeiro ou construir algo falso, a responsabilidade é dele. Nosso compromisso é por Jesus. 
      Cristãos, não sejam preconceituosos, neste século XXI Deus tem disponibilizado muitas ferramentas à humanidade. Sabemos se elas funcionam vendo não a beleza delas, nem a fama dos que as descobriram, mas os bons frutos dos que as utilizam. Saibamos mais que aquilo que nos é ensinado em missas e cultos por homens que se acham donos da verdade e exclusivos proprietários de ferramentas. Tudo é de Deus, dele viemos, a ele voltaremos, a ele a glória.

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a 2ª parte desta reflexão