sexta-feira, setembro 30, 2022

Arrebatamento e batismo pelos mortos (61/92)

      “Eis aqui vos digo um mistério: Na verdade, nem todos dormiremos, mas todos seremos transformados; num momento, num abrir e fechar de olhos, ante a última trombeta; porque a trombeta soará, e os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados. Porque convém que isto que é corruptível se revista da incorruptibilidade, e que isto que é mortal se revista da imortalidade. 
      E, quando isto que é corruptível se revestir da incorruptibilidade, e isto que é mortal se revestir da imortalidade, então cumprir-se-á a palavra que está escrita: Tragada foi a morte na vitória. Onde está, ó morte, o teu aguilhão? Onde está, ó inferno, a tua vitória? Ora, o aguilhão da morte é o pecado, e a força do pecado é a lei. Mas graças a Deus que nos dá a vitória por nosso Senhor Jesus Cristo.” 
I Coríntios 15.51-57
  
      Uma doutrina parece ser citada em I Coríntios 15, o arrebatamento, na afirmação num abrir e fechar de olhos. Essa é a doutrina protestante que mais tenho dificuldade de compreender, não pode ser interpretada metaforicamente, mas só ao pé da letra, e é exatamente isso que me assusta. Jesus falou sobre ela em Mateus 24.27, Paulo também fala em I Tessalonicenses 4.17. Minha dificuldade para “aceitar” esse evento não tem a ver em quando ele vai acontecer, se antes, no meio ou depois do período escatológico chamado “tribulação”.
      Minha dificuldade está em como o arrebatamento vai acontecer. Por que minha dificuldade em aceitar o como? Porque é algo sobrenatural, que acho que evangélicos aceitam, mas nem param para pensar direito no que representa. Como assim, muitos seres humanos em corpos físicos sumirão do mundo puxados por uma força espiritual, num piscar de olhos, na velocidade de um relâmpago? Milhões de pessoas vão desaparecer do planeta Terra sem uma explicação científica? Até que ponto Deus agiu, age ou agirá assim? 
      Muitos protestantes e evangélicos não sabem, mas as igrejas Católica, Ortodoxa Oriental, Anglicana (Episcopal), Luterana e muitas denominações Calvinistas, não creem num retorno preliminar de Cristo, assim, não acreditam nesse arrebatamento físico no mundo. Crer nesse evento é exceção entre cristãos, não é regra. Penso que muitos que creem no arrebatamento estão com as cabeças tão cheias de milagres, que em grande parte nem acontecem, que só o aceitam por acharem que é só mais uma extraordinariedade de Deus.
      Interessante que Paulo inicia I Coríntios 15.51 com eis aqui vos digo um mistério, o mistério citado seria o arrebatamento ou o que ele diz depois, todos seremos transformados? O tema principal do texto não é arrebatamento, mas o corpo espiritual que teremos após a ressurreição. Me faz pensar o porquê de Paulo e de escritores dos evangelhos terem citado arrebatamento como citaram, ou sabiam mais e não disseram, porque sabiam que as pessoas daquele tempo não entenderiam, ou de fato criam do jeito que registraram.
      Prefiro o meio termo, que lhes foi revelado por Deus como metáfora de algo espiritual, ainda que não soubessem, para que estivesse na Bíblia. Um argumento que fundamentalistas usam é, “a Bíblia é a palavra de Deus”, e não, “a Bíblia contém a palavra de Deus”, assim, mesmo que tenha sido montada por homens, creem que o Espírito Santo acompanhou para que fosse construída conforme vontade divina. Não tenho dúvida que a vontade de Deus prevalece, só não acho que seja da maneira que muitos acham que é. 
      Deus usa coisas diferentes para prevalecer sua vontade, incluindo manipulações e equívocos humanos. A Bíblia contém a palavra Deus e é totalmente útil a Deus assim, ainda que não coesa muitas vezes. Primeiro porque serviu a pessoas de tempos antigos, mas depois porque desafia pessoas de outros tempos. Às pessoas dos tempos antigos falou como elas podiam entender, mas às pessoas de hoje pode ainda falar, se buscarmos no Espírito Santo uma interpretação mais profunda que nós hoje podemos compreender. 
      Será que devemos continuar interpretando a Bíblia hoje no século XXI, como interpretavam as pessoas do século XIX ou antes? Crer num arrebatamento físico e ao pé da letra é a mesma coisa que acreditar que o mundo tenha sido criado em seis dias. Sim, meus queridos, Deus pode realizar um arrebatamento físico e criar o mundo em seis dias, não estamos diminuindo o poder de Deus, mas será que é assim que ele age? Isso fica por conta da fé de cada um, só pense e ore mais, antes de aceitar uma interpretação romantizada.  
      Além de ressurreição, arrebatamento e corpo espiritual, I Coríntios 15 cita uma doutrina interessante no verso vinte e nove, batismo pelos mortos. “Doutra maneira que farão os que se batizam pelos mortos, se absolutamente os mortos não ressuscitam? Por que se batizam eles então pelos mortos?” Muitos criam na época de Paulo que podiam se batizar por quem não tinha sido batizado e havia morrido, legando ao morto o direito do batismo. Não entendemos que Paulo recrimine isso, também não estou julgando o costume. 
      A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias (Mórmons) ainda tem esse costume, eis um detalhe que a Bíblia contém que passa batido a muitos. Pois é, está na Bíblia, mas muitos evangélicos não obedecem, assim eu pergunto, aos que creem que devam obedecer cegamente a toda a Bíblia, por que esse costume não é seguido? Alguns alegam que Paulo se refere a um costume pagão, não de igreja cristã, mas juntemos essa passagem polêmica a outras iguais (como a da consulta de Saul à médium em I Samuel 28).
      O que importa é seguirmos a orientação final de I Coríntios 15.58: “sede sempre abundantes na obra do Senhor, sabendo que o vosso trabalho não é vão no Senhor”. O Altíssimo permitiu textos misteriosos na Bíblia, muitos o são porque nem os escritores originais, com toda a experiência que tinham com Deus, sabiam muitas das verdades mais profundas. Mas a dúvida existe por dois motivos: para que sigamos pela fé e estejamos trabalhando espiritualmente sempre, indiferente de como ou quando certas coisas ocorrerão.

Leia na postagem de ontem
a 1ª parte desta reflexão

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