I. Introdução: conhecer a Deus
"E a vida eterna é esta: que conheçam a ti, o
único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, que enviaste." (João 17.3).
Quando pedi a Deus
um texto que fosse aquele que mais identificasse o conceito desse blog, Deus me
deu a versículo acima. Para mim ele responde a grande questão que todos os
homens fazem: o que é a eternidade, o que é vida, o que é religião? Não, não é
obedecer a leis ou tradições, não é fazer boas obras ou ser um homem de bem,
não só isso. Ter vida, e vida eterna, é conhecer a Deus.
Como
conhecemos alguém? É ficando de longe, numa atitude até de respeito, mas mais
de medo do que de temor? Aceitando tudo, sem fazer crítica ou ter opinião
própria? Não, conhecemos alguém dialogando com ele, e é claro, com Deus, quando
temos temor, entendemos que tudo o que ele faz é perfeito e o que ele diz é sábio.
Mas com diálogo, crescemos, amadurecemos, temos acesso aos mistérios de Deus,
mistérios que muitos sábios desse mundo quiseram e querem saber, mas que Deus
reserva para aqueles que em humildade colocam os joelhos no chão e o buscam.
A
reflexão de hoje fala sobre isso, sobre realmente conhecer a Deus e a vida que
ele quer nos dar, sobre os tesouros que ele quer colocar no nosso novo coração.
II. A velha e a nova mala
Ao
salvo, ao escolhido, Deus reserva seus tesouros, leiamos dois textos que falam
sobre os tesouros escondidos de Deus, que vão muito além de bens materiais,
antes são honra e sabedoria espirituais:
“Assim diz o Senhor a Ciro, seu ungido, a
quem tomo pela mão direita, para abater nações e desarmar reis; para abrir
diante dele as portas, para que não sejam trancadas.
Eu irei adiante de ti e deixarei planos os lugares acidentados;
quebrarei as portas de bronze e despedaçarei os ferrolhos de ferro. Eu te darei os tesouros das trevas e as
riquezas encobertas, para que saibas que eu sou o Senhor, o Deus de Israel, que
te chamo pelo nome.
Por amor do meu servo Jacó, e de Israel, meu escolhido, eu te
chamo pelo nome e te concedo título de honra, embora não me conheças. Eu sou o Senhor,
e não há outro; além de mim não há Deus. Eu
te capacito para a batalha, embora não me conheças.
Para que se saiba, desde o nascente do sol até o poente, que além
de mim não há outro; eu sou o Senhor, e não há outro. Eu formo a luz e crio as
trevas; faço a paz e crio o mal; eu sou o Senhor que faço todas estas coisas.”
Isaías 45.1-7
“Pois quero que saibais como é grande a luta
que enfrento por vós, pelos que estão em Laodiceia e pelos que ainda não me
viram em pessoa, para que o coração deles seja animado, estando vós unidos em
amor e enriquecidos da plenitude do entendimento para o pleno conhecimento do
mistério de Deus, Cristo, em quem estão
ocultos todos os tesouros da sabedoria e da ciência.
Digo isso para que ninguém vos engane com palavras capciosas. Pois
ainda que meu corpo esteja ausente, estou convosco em espírito, alegrando-me,
ao ver a vossa ordem e a firmeza da vossa fé em Cristo. Portanto, assim como
recebestes Cristo Jesus, o Senhor, também andai nele, arraigados e edificados
nele e confirmados na fé, como fostes ensinados, sempre cheios de ações de
graças.
Tende cuidado para que ninguém vos tome por presa, por meio de
filosofias e sutilezas vazias, segundo a tradição dos homens, conforme os
espíritos elementares do mundo, e não de acordo com Cristo; pois nele habita corporalmente toda a plenitude
da divindade, e nele, a cabeça de todo principado e poder, tendes a vossa
plenitude.”
Colossenses 2.1-10
Esses
tesouros que Deus dá só podem ser recebidos, armazenados e levados, em corações
realmente convertidos, santos e consagrados: nossos corações devem ser assim,
lugares especiais, malas espirituais, criadas pelo Espírito Santo em nosso
homem interior (o termo “mala” que citei, será a metáfora principal usada nesta
reflexão), então vamos lá.
Começamos
a frequentar a igreja evangélica trazendo bagagens, na verdade poucos de nós
realmente deixam essas bagagens no altar quando se convertem e tomam posse
totalmente da nova ótica que Deus dá através de Cristo e por meio do Espírito
Santo para ver, entender, viver e transformar a vida. A grande maioria até
esvaziam as malas, mas continuam com elas, Deus não quer somente malas vazias
para encher de novas coisas, Deus quer trocar as malas. O que são essas malas?
As
malas são as maneiras que o mundo, que nossa criação, que as religiões, que a
ciência, que as filosofias de vida, e que mesmo as igrejas evangélicas, nos
deram para acumular valores. Ninguém viaja sozinho nessa vida, precisamos de
ferramentas para sobreviver, percebemos isso quando nos tornamos adultos, mas
as malas estão conosco desde que nascemos. Com o que as enchemos? Com tudo aquilo
que pode atenuar nossa culpa e com maneiras de sermos aprovados pelos outros
homens e por Deus, jan que pessoas sadias e sociais precisam viver em grupo.
Contudo,
as malas não armazenam apenas falsos “bens”, elas também estocam maus reais.
Vícios e paixões da alma e da carne são os verdadeiros frutos de quem caminha
sem Deus, mesmo que tenha uma religião, mesmo que tenha princípios, na prática
sem o Deus verdadeiro sempre seremos escravos do mal. Por serem explicitamente
coisas ruins, esses maus são as coisas que entregamos sem hesitar quando nos
convertemos. Somos ensinados a fazer isso pelos púlpitos, o problema é acharmos
que só isso nos deixará preparados para seguir a vida cristã, que isso será
suficiente para que Deus faça de nós novas criaturas, realmente libertos do
velho homem.
O
mais difícil é nos livrar do falso “bem” e não do mal real, daquilo que parece
correto, mas não é, não para o evangelho. A dificuldade maior que temos com
relação a isso é que esses falsos “bens”, se encaixavam com perfeição na mala
velha, nem parecem que foram colocados lá, parece que sempre fizeram parte do
mal. Por que isso? Porque essa mala inicial que todos nós recebemos quando
nascemos é parte da velha criatura do homem, da natureza caída, não é algo
divinamente espiritual, mas é, em última instância, coisa do inimigo. Contudo,
se muitos demoram algum tempo para se livrar dos falsos “bens”, demoram ainda
mais tempo para se livrar da velha mala e tomar posse da nova, para só então
começar a enchê-la com os verdadeiros bens, aqueles tesouros espirituais, que o
Espírito Santo do Deus único dá e que durarão por toda a eternidade.
Vamos
refletir mais um pouco sobre a velha mala e parte de seu conteúdo, os falsos
“bens”. Se a velha mala é a religião, o falso “bem” é tudo aquilo que é
adquirido com as forças humanas: boas obras, tradições religiosas, educação
social como não matar, não roubar, ajudar o próximo, etc. Mesmo vivendo dentro
de uma igreja evangélica podemos adquirir malas equivocadas e enchê-las de
falsos “bens”. Um falso “bem” muito comum, são os rituais, as tradições, as
liturgias. Algo realmente de Deus e vivificado pelo Espírito Santo, quando se
tenta imitar pela carne torna-se tradição.
Vou
citar um exemplo: vamos todos os domingos à noite ao culto para adorarmos e
aprendermos a palavra com irmãos de fé. Nos acostumamos a isso e importa que
isso seja feito em horário e lugar fixo, por causa da vida nesse mundo, dos
compromissos que temos com a sobrevivência, afinal de contas todos nós
precisamos trabalhar e descansar, e essas coisas têm horários e lugares afixados.
Contudo, se começarmos a achar que o simples fato de obedecer a esse costume já
é suficiente para estarmos em comunhão com Deus, isso se torna uma tradição
morta, e não uma experiência viva. Isso acontece com muitos, tantos passam anos
dentro de igrejas fazendo a mesma coisa, e até fazendo da melhor maneira.
Muitos levam ministérios e obras como costumes, leem a Bíblia, como costume,
cantam, oram e até pregam. Mas não existe unção em suas obras, não existe vida,
porque nada é feito pelo Espírito vivo do Deus altíssimo, mas pela carne, pela
alma humana.
A
mala equivocada desse exemplo foi adquirida dentro de uma igreja legítima de
Deus, dentro dela foi colocado um conteúdo positivo, mas mesmo essa mala,
enquanto a pessoa não tiver uma real e total experiência de conversão, será uma
mala do pecado, não de Deus. Essa é a mala mais difícil de ser entregue no
trono de Deus.
Contudo,
um engano ainda maior que muitos cometem é tentar encher a mala velha com um
conteúdo novo, isso é impossível, carne não pode sustentar Espírito, assim como
o Espírito não gera pecado. Esses se cansam ainda mais da vida cristã, ficam
entediados, porque fazem e fazem e nunca alcançam a paz, sempre se sentem
insatisfeitos. Esses, aos olhos dos que estão de fora, parecem até consagrados,
religiosos, espirituais, mas estão sempre decepcionados, frustrados, vazios,
correndo atrás do vento e tentando aprisioná-lo em gaiolas feitas de grades,
uma missão impossível.
O
que Deus pede de nós é que não apenas troquemos o conteúdo da mala, mas abramos
mão da mala inteira: Deus tem uma nova mala para nos dar. Por que tantos têm
tanta dificuldade em fazer isso? Porque abrir mão de malas antigas e sair da
zona de conforto, deixar velhas maneiras de administrar a vida, soluções que
depois de serem usadas por anos, apesar de constatado que são soluções
imperfeitas, já se tornaram fáceis, rápidas.
Para
usar a nova mala, temos que abrir mão do nosso jeito de resolver as coisas, e
isso implica em deixar de lado o orgulho, o ego, a nossa posição arrogante.
Implica em seu humilhar, em se calar, em passar por um processo que não só nos
dará aquilo que buscamos e precisamos fora da gente, uma amizade, um casamento,
um emprego, uma profissão, um bem material, mas mudará algo dentro de nós:
nosso homem interior, nosso coração. A mala é o nosso coração, não o velho
coração, mas o novo, aquele que Deus gera em nós através de Cristo pelo
Espírito Santo.
Na
verdade o convertido já não tem o velho coração, só tem o novo, e nesse só cabe
os frutos gerados pelo Espírito Santo, não adianta por vinho velho em odres
novos ou o contrário (Lucas 5.37), na tentativa disso ser feito o coração
permanecerá vazio. Se nós, em nossas mentes, tentamos nos enganar, nosso
coração nunca nos engana. Ele foi mudado, transformado, após a conversão só
aceitará as coisas certas, os frutos do Espírito, quanto antes fizermos isso,
menos enfado geraremos para nossas almas.
É
importante que se entenda que nosso espírito, aquela parte eterna de nossa
identidade, que levará os frutos de Deus para toda a eternidade, nunca se
cansa, sempre está pronta para recomeçar, para receber perdão e ser abençoado
por Deus. Contudo, a nossa alma, nossos sentimentos e pensamentos, numa
rebeldia insistente se cansa, esse é o único atenuante que pode limitar a
bênção inicial que o Senhor tem para nossas vidas, portanto, se arrependa o
quanto antes e deixe Deus fazer as coisas da maneira dele e no tempo dele.
III. A mala errada: liberte-se de religião.
Vamos
refletir mais a fundo sobre as “malas”, analisemos esses dois objetos que eu
trouxe, quais as diferenças entre eles?
1ª
Tamanho;
2ª
qualidade: beleza e durabilidade;
3ª
organização: compartimentos adequados;
4ª
conteúdo: poucas, mas específicas ferramentas.
Assim
são os tesouros de Deus em nosso novo coração. A velha mala é até maior, mas de
pouca resistência, é desorganizada, leva coisas demais e desnecessárias, assim
é o velho homem.
A
pergunta que faço é a seguinte: até que ponto, como donos de novos corações,
estamos deixando que Deus os encha com seus tesouros? Ou será que estamos
tentando enchê-los com coisas velhas, ou pior ainda, tentando encher um velho
coração, que nem existe mais? Sim, porque o convertido recebe um novo coração,
mas pode ter uma falsa impressão de que o velho ainda existe e pode mantê-lo
vivo.
“O Senhor pergunta: Para que me trazeis
tantos sacrifícios? Estou farto dos holocaustos de carneiros e da gordura de
animais de engorda. Não me agrado do sangue de novilhos, de cordeiros e de
bodes. Quando vindes comparecer diante de mim, quem vos pediu que pisásseis nos
meus átrios?
Não continueis a trazer oferta inútil; para mim é incenso
abominável. Luas novas, sábados e convocações de assembleias; não suporto
maldade com solenidade! A minha alma aborrece as vossas luas novas e as vossas
festas fixas. Já me são pesadas! Estou cansado de suportá-las! Quando
estenderdes as mãos, esconderei os olhos de vós; e ainda que multipliqueis as
orações, não as ouvirei, porque as vossas mãos estão cheias de sangue.
Lavai-vos e purificai-vos; tirai de diante dos meus olhos as
vossas obras más; parai de praticar o mal; aprendei a praticar o bem; buscai a
justiça, acabai com a opressão, fazei justiça ao órfão, defendei a causa da
viúva. Vinde e raciocinemos, diz o Senhor: ainda que os vossos pecados sejam
como a escarlata, eles se tornarão brancos como a neve; ainda que sejam
vermelhos como o carmesim, se tornarão como a lã.
Se estiverdes prontos a ouvir, comereis o melhor desta terra; mas
se recusardes e fordes rebeldes, sereis destruídos pela espada, pois a boca do Senhor
o disse.”
Isaías 1.1-20
Muitos
de nós saímos do catolicismo e dos “espiritualismos” (e com esse termo me
refiro a toda espécie de religião que a exemplo do kardecismo acredito em
aperfeiçoamento espiritual pela prática de boas obras), mas o catolicismo e os
“espiritualismos” não saíram de nós. O pior é que muitos, criados, na igreja
evangélica, viveram e ainda vivem, na prática da moral e da espiritualidade, de
acordo com princípios romanistas e kardecistas. Então, quando se convertem
começam a caminhar na vida cristã ainda usando a mala velha, ainda de acordo
com o velho coração. Tradição é usar rituais e costumes sem um real envolvimento
do coração, religiosidade ruim é tentar viver a vida cristã, obedecer as
orientações de Deus, sem interação emocional, sem ter o coração realmente
convencido de que o que Deus quer é o melhor.
Muitos
mesmo usam uma pretensa fé para terem acesos às coisas espirituais, mas sem
passar por um processo de transformação interior de Deus. Assim pregam nos
púlpitos um evangelho frio, as palavras e o tom da voz podem até parecerem “quentes”,
mas não existe unção. Não se tem unção porque não se viveu aquilo que se está
pregando. Só uma palavra quebrantada, pode quebrantar, só uma palavra que
provou a vontade de Deus, pode realmente convencer os outros a provar a vontade
de Deus.
O
povo de Israel não deixou de executar sua religião, é isso que Isaías diz, ele
continuou com seus costumes, com seus sacrifícios, com suas festas solenes,
contudo, isso tudo, não agradava mais a Deus, ao contrário, o enojava, porque o
povo tinha tradição, mas não unção, religião, mas não consagração. Que não
cheguemos a esse ponto, tomemos posse do novo coração, e deixemos que Deus viva
em nós, e não nós vivamos para ele, isso é impossível.
Obras,
tradições, liturgias para nada servem, se o coração não estiver provando um
mover de Deus, uma transformação. Para isso é preciso mudar e mudar dói, já que
deixamos nossas zonas de conforto e obedecemos a Deus, de verdade. Sem
obediência não há mudança, e sem mudança não provamos a Deus, mas podemos estar
simplesmente levando em frente uma religião, que mesmo que pareça cristã, é tão
inútil como qualquer outra desse mundo.
IV. O conteúdo errado: responsabilidade pessoal e individual, a
grande verdade do evangelho.
Abro
aspas para dizer algo que ouvi uma vez: na verdade, todo pregador prega durante
toda a sua vida somente uma mensagem. Ele pode mudar as palavras, os pontos de
vista, mas o principal é sempre a mesma coisa. A outra parte dessa verdade é
que o pregador não prega para os outros, mas para si mesmo, a tecla que ele
mais bate é realmente a dificuldade, a luta, a deficiência que ele mesmo mais
tem. Bem, responsabilidade pessoal e individual é uma tecla que sempre bato em
minhas reflexões, com certeza porque é algo que eu mais preciso ouvir. A pessoa
que eu mais posso criticar em sua presença, sem correr riscos, é a minha própria,
o evangelho que prego deve mudar em primeiro lugar a mim mesmo. Só então ele
terá força, coerência e profundidade para mudar os outros, senão será só
teoria, hipocrisia e manipulação.
Volto
aqui a falar do que pra mim é uma das ênfases que a Igreja deve ter para viver
um avivamento, sim esse tal avivamento que tanto nossa igreja tem falado:
priorização da ótica neotestamentária no ensino da doutrina bíblica. Isso porque
um dos caminhos que os hereges têm usado para desviar a Igreja, para enfraquecê-la
diante do final de tempos eminente que estamos vivendo, para deixar a noiva do
cordeiro despreparada para o arrebatamento, é tirar o foco da Bíblia: sim, a Bíblia
é até “usada” (digo isso no pior dos sentidos), mas de maneira equivocada, para
enganar, fazendo com que as pessoas até achem que estão seguindo a Bíblia, mas
não estão.
Saímos
do foco do evangelho, do novo-testamento, quando entendemos a Bíblia pela ótica
do velho-testamento: gostaria de enfatizar aqui, que toda a Bíblia é divinamente
inspirada e sua produção foi supervisionada pelo Espírito Santo de Deus, para
que fosse ferramenta de conhecimento do próprio Deus pelos homens de todos os
tempos, portanto ela é atemporal e verdadeira sempre e para todos. Contudo, se
existe um novo testamento é porque algo passou a ser velho logo, o novo é mais
atualizado, é a interpretação final, a que deve ser usada como referência.
Os
hereges usam mentirosamente o velho-testamento quando pregam que os cristãos,
quase que em todas as situações, devem se considerar vítimas, e que as outras
pessoas são suas inimigas, e como tais, podem ser destruídas por Deus (veja o número
de letras de músicas que falam disfarçada ou mesmo descaradamente de vingança).
Nessa “vitimização” irresponsável os crentes são levados a ver que o problema
está na maldade dos outros, no ataque dos outros, e não em seus próprios corações.
Quando oramos pedindo que Deus destrua nossos inimigos, nos colocamos como vítimas,
e não como agressores, portanto, como inocentes.
(É
claro que muitas vezes nós somos isso mesmo, vítimas, mas seria essa a posição
que o novo-testamento nos ensina a ter? Em todo o tempo? Mesmo a
bem-aventurança sobre os perseguidos diz respeito aos perseguidos pelo nome de
Cristo, e não por outros motivos (Mateus 5.11). Muitos são perseguidos por
causa da falta de sabedoria com que vivem a vida, falta de amor, de misericórdia,
e ainda assim se colocam como vítimas que sofrem em nome de Deus. Isso é mais
que pecado, é loucura.)
Essa
heresia é arma do diabo para alcançar dois objetivos:
1º privar
o cristão de cura, já que como vítima ele não está errado, mas sim o outro,
assim não é ele que precisa mudar, mas o outro;
2º negar
o papel único de Jesus: ele e só ele foi vítima, vítima de quem? De todos nós,
de nossos pecados, de nossas ingratidões, de nossas malícias, de nossas
injustiças. Como vítima única e inocente, ele se fez salvador, exclusivo, que
pode salvar, perdoar, limpar aqueles que se achegam a ele não como inocentes,
mas como pecadores.
Então
chegamos ao ponto: responsabilidade pessoal e individual. Isso quer dizer que não
temos inimigos? Sim, a Bíblia, deixa bem claro que nosso inimigo, na verdade
nosso único, é o diabo (Efésios 6.12). As outras pessoas, sob o ponto de vista
do novo-testamento, não que sejam, mas que se colocam como nossas inimigas,
devem receber de nós intercessão, oração e bênção, não qualquer espécie de
vingança, maldição ou ódio (Mateus 5.44).
A
visão do novo testamento não resolve um problema destruindo os “inimigos”, como
Deus fazia com Israel no velho-testamento, onde a vitória era conseguida através
de confronto bélico, de guerra, de derramar de sangue. A visão do evangelho é
mudança do coração das vítimas para que aprendam a amar os agressores, a perdoá-los,
não o inimigo Satanás, mas homens, que precisam de salvação tanto quanto qualquer
um de nós.
V. Conclusão
Talvez
você tenha achado que lemos poucos versículos durante essa reflexão, mas é
assim que tenho sentido do Espírito Santo. Vivemos num tempo onde nunca se teve
tanta informação bíblica disponível. Sem falar da internet, temos Bíblias e
mais Bíblias comentadas, para todos os gostos. As pessoas conhecem a Bíblia, e
muitas vezes vemos pregadores passando mais da metade do tempo de suas pregações
lendo versículos bíblicos.
Sim,
a Bíblia é poderosa, única, eficaz, contém a palavra de Deus, que é o Espírito
Santo, espada que corta e discerne, só a sua leitura já basta. Contudo,
precisamos crescer, e para isso temos que meditar no que conhecemos, só assim a
palavra interagirá com nossas emoções e pensamentos e poderá ser vivida por nós,
aplicada em nossa realidade.
A
lição dessa reflexão é simples: largue mão da mala velha, pegue a nova e encha
com aquilo que o Espírito Santo, mais ninguém, vai te dar. Para isso pague o
preço de sair da zona de conforto da religiosidade e assuma sua
responsabilidade pessoal e individual, para que Deus possa trabalhar em sua
vida e usá-lo para abençoar outras vidas.
Muitos
passam tanto tempo dentro das igrejas sem nunca provar realmente um novo coração,
e assim, sem se apossar dos tesouros que Deus tem pra dar. Sabedoria,
entendimento, libertações, curas físicas e emocionais, perdão, mudança de autoimagem,
que gerarão uma adoração verdadeira, uma vida ungida, santa e vitoriosa, a única
que pode realmente fazer diferença nesse mundo, em nossas famílias e na
sociedade.
“Por isso se diz: Desperta, tu que dormes,
levanta-te dentre os mortos e Cristo te iluminará. Portanto, estai atentos para
que o vosso procedimento não seja de tolos, mas de sábios, aproveitando bem
cada oportunidade, porque os dias são maus. Por isso, não sejais insensatos, mas entendei qual é a vontade do
Senhor.” (Efésios 5.14-17).