sexta-feira, abril 29, 2016

Hernandes Dias Lopes: Apocalipse, uma mensagem urgente para a igreja

Apocalipse, uma mensagem urgente para a igreja

INTRODUÇÃO

1. Dois fatores contribuem para que muitos crentes evitem o livro de Apocalipse:

a) A idéia de que ele é um livro selado, que trata de coisas encobertas – Na verdade o livro de Apocalipse é oposto disto. Apocalipse significa tirar o véu, descobrir, revelar o que está escondido. A ordem de Deus é: “Não seles as palavras da profecia deste livro, porque o tempo está próximo” (22:10). As coisas que em breve devem acontecer mostra que há uma tensão entre o futuro imediato e o mais distante; o mais distante é visto como que transparecendo do imediato. O Cordeiro é o executor do deve acontecer. Há duas atitudes em relação à segunda vinda: 1) Quem se acomoda diz: “Onde está a promessa da sua vinda?” 2) “Estai de sobreaviso, vigiai; porque não sabeis quando será o tempo”.

b) A idéia de que ele é um livro que fala de catástrofe, tragédia e caos – Esse é o significado da palavra hoje. Tornou-se sinônimo de tragédia. Mas Apocalipse não fala de caos, mas do plano vitorioso e triunfante de Cristo e da sua igreja.

I. O TÍTULO DO LIVRO DE APOCALIPSE

1. O Apocalipse é um livro aberto e não fechado
A palavra “Apocalipse” significa descoberto, sem véu. Revelação não é especulação humana, é a Palavra de Deus e o testemunho fiel (v. 2). Ele revela o plano vitorioso, triunfante de Cristo e da sua igreja. Sua vitória absoluta contra todos os seus inimigos: a Meretriz, a besta, o falso profeta, o dragão, os incrédulos, a morte. O Apocalipse mostra que o último capítulo da história não será de tragédia, mas de uma retumbante vitória do Cordeiro de Deus, o Rei dos reis e Senhor dos senhores.
Apocalipse é um livro aberto em que Deus revela seus planos e propósitos para a sua igreja.

2. O Apocalipse não é revelação apenas das últimas coisas, mas sobretudo do Cristo vencedor e glorioso
O Apocalipse não fala tanto de fatos, mas de uma pessoa. Apocalipse é fundamentalmente a revelação de Jesus Cristo (v.1), e não apenas de eventos futuros. Você não pode divorciar a profecia da Pessoa de Jesus. Apocalipse não é revelação de João, mas revelação de Jesus Cristo a João.
Cristo veio ao mundo para revelar o Pai (Jo 17:6). No Apocalipse é o Pai quem revela a Jesus (Ap 1:1). E como o revela? Como o servo lavando os pés dos discípulos? Como uma ovelha muda que vai para o matadouro? Como aquele de quem os homens escondem o rosto? Como aquele que está pregado na cruz, com o rosto cheio de sangue? Como aquele que têm as mãos atadas e os pés pregados na cruz? Absolutamente não!
A revelação do Noivo da Igreja pelo Pai é de um Cristo glorioso: Seus cabelos não estão cheios de sangue, mas são alvos como a neve. Seus olhos não estão inchados, mas são como chama de fogo. Seus pés não estão pregados na cruz, mas são semelhantes ao bronze polido. Sua voz não está rouca, porque a língua está colada ao céu da boca, por atordoante sede, mas é voz como voz de muitas águas. Suas mãos não estão cheias de pregos, mas ele segura a igreja e a história em suas onipotentes mãos. Seu rosto não está desfigurado, mas brilha como o sol.
O objetivo do livro de Apocalipse não é nos dar uma tabela do tempo do fim, mas nos revelar o Noivo glorioso da igreja, o supremo conquistador. A igreja precisa olhar para a supremacia do seu Senhor. Durante a sua primeira vinda a glória de Cristo estava encoberta. Ele viveu se esvaziando da sua glória. Mas na segunda vinda de Cristo, sua glória será auto-evidente (Mc 14:61-62; Ap 1:7).

II. O AUTOR DO LIVRO DE APOCALIPSE – V. 1-2,4

1. Deus tem planos distintos ao usar seus servos
O Espírito Santo usou João para escrever o quarto evangelho, as cartas e o Apocalipse. O objetivo do evangelho é alertar as pessoas a crerem em Cristo (20:31). O objetivo das cartas é encorajar os crentes a terem certeza da vida eterna (5:13). O objetivo do Apocalipse era alartar os crentes para estarem preparados para a segunda vinda de Cristo (22:20).

2. Deus transforma tragédias em triunfo
Domiciano, o segundo Nero, que arrogou para si o título de Senhor e Deus, baniu João para a Ilha de Patmos, a colônia penal da costa da Ásia Menor. Mas ao mesmo tempo que se achava fisicamente em Patmos, achou-se também em espírito e Deus abriu-lhe o céu e revelou-lhe as coisas que em breve devem acontecer.
Num tempo em que a igreja estava sendo massacrada e pisada, perseguida e torturada, João recebe a revelação de que o Noivo da Igreja, o Senhor absoluto dos céus e da terra, está no total controle da igreja e da história (1:13; 5:5).

3. Deus esclarece uns e confunde outros
O livro de Apocalipse é um livro altamente simbológico. Por que? É como as parábolas: esclarece uns e confunde outros. Para a igreja era uma mensagem clara, mas para os ímpios uma mensagem indecifrável.
Os símbolos não enfraquecem com o tempo. Em vez de falar do diabo como um ser maligno, falou de um dragão. Em vez de falar de um ditador, falou de uma besta. Em vez de falar de um sistema sedutor, falou de uma Meretriz, Babilônia, a grande.

III. OS LEITORES DO LIVRO DE APOCALIPSE

1. As sete igrejas da Ásia Menor
O número sete é um número importante no livro de Apocalipse. Ele aparece 54 vezes neste livro. O livro fala de sete candeeiros, sete estrelas, sete selos, sete trombetas, sete taças, sete espíritos, sete cabeças, sete chifres, sete montanhas. O número sete significa completo, total. Havia mais de sete igrejas na Ásia Menor. Mas quando Jesus envia carta às sete igrejas, significa que ele envia sua mensagem para toda a igreja, em todos os lugares, em todos os tempos.
Não há nenhuma indicação nas sete igrejas que elas representem sete períodos sucessivos da história da igreja. João escolheu estas sete igrejas para que elas servissem de representantes da igreja toda. O Apocalipse era e é para toda a igreja.

2. Este livro é destinado a todos os cristãos em todos os tempos
Não podemos limitá-lo à visão preterista nem à visão futurista. Ele é um livro encorajador para os todos os cristãos em todos os tempos.
Este livro devia ser lido em voz alta em culto público (v. 3). Há uma bem-aventurança para os que lêem, ouvem, e praticam a mensagem deste livro.
Para todas as igrejas o Senhor que anda no meio dos candeeiros tem uma palavra de exortação e também de encoramento. Ele os desafia a serem vencedores!
A mensagem central de Jesus para a igreja é que nós não devemos nos aproximar da profecia apenas com curiosidade acerca do futuro. Quando Daniel e João receberam a palavra da profecia, do plano de Deus, do futuro, ambos caíram aos pés do Senhor (Dn 10:7-10; Ap 1:17). Eles ficaram esmagados pela grandeza da manifestação do Senhor. É assim que nós devemos nos aproximar do livro de Apocalipse, como adoradores e não como acadêmicos.

IV. O REMETENTE DO LIVRO DE APOCALIPSE

1. Uma saudação de encorajamento e não de medo – v. 4
Graça e Paz não é uma palavra de medo, mas de doçura, de encorajamento a uma igreja que passa pelo vale do martírio.

2. A Graça e a Paz são enviadas à Igreja pela Trindade – v. 4-5
O Deus Pai, o Deus Espírito e o Deus Filho estão no completo controle da história e num tempo de sombras e provas, eles enviam à igreja sua graça e sua paz.

3. Como a igreja deve ver o seu Noivo? – v. 5
a) Como a Fiel Testemunha – Jesus foi fiel durante todo o seu ministério. Nunca deixou de testemunhar sobre o Pai, mesmo na hora do sofrimento e da morte. “Eu vim para fazer a vontade do Meu Pai.” = PROFETA.
b) Primogênito dos Mortos – Jesus foi o primeiro a ressuscitar em glória. Ele está vivo para sempre. Ele é o primogênito porque é o primeiro da fila e nós vamos logo atrás. Jesus matou a morte. Ele venceu nosso último inimigo. Uma igreja que está enfrentando o martírio precisa saber que o seu Deus vencer o poder da morte. A noiva do Cordeiro não tem mais a morte à sua frente, mas atrás de si = SACERDOTE.
c) O Soberano dos Reis da Terra – A igreja precisa ver Jesus como o presidente dos presidentes, diante de quem todos os poderosos vão se dobrar. Jesus está acima de Roma, dos imperadores. Ele está acima dos impérios, das nações soberbas, dos reis da terra, dos presidentes que ostentam o seu poder = REI.

4. Como a igreja deve se posicionar diante do seu Noivo? – v. 5-6
Quando João vê a glória do Noivo, ele prorrompe numa doxologia suprema, diante da suprema glória de Cristo. Ele se encanta com o Cristo que lhe é revelado. Seu coração se derrama em adoração.
Por que a igreja deve adorar o seu Noivo?
a) Porque ele nos ama – O verbo está no presente. O amor de Cristo é algo que permanece. Ele nos amou, ainda nos ama e nos amará até o fim.
b) Ele nos libertou dos nossos pecados – Fala de um ato de redenção concluído (5:9). A versão King James diz que ele nos lavou. Ele quebrou as amarras do pecado e nos limpa. O que é maravilhoso é que ele nos amou quando estávamos sujos e perdidos e depois nos libertou.
c) Nos constituiu Reinos e Sacerdotes – A igreja não foi amada e libertada para nada. O alvo do amor é nos constituir reis e sacerdotes para Deus. Ele nos ama, nos levanta da lama e depois nos coloca a coroa e a mitra. Já estamos assentados com Cristo nas regiões celestiais, mas haveremos de ser co-regentes com ele, pois reinaremos com ele. Somos um reino não apenas porque Cristo reina sobre nós, mas porque participamos do seu reinado. A mitra do sumo sacerdote tinha uma placa de ouro “Santidade ao Senhor’. Temos livre acesso a ele, pois somos uma raça de sacerdotes reias.

V. O TEMA DO LIVRO DE APOCALIPSE – V. 7-8

1. Há uma descrição das características da sua Vinda
O grande tema do livro de Apocalipse é a glória e a vitória de Cristo na sua vinda. Esta verdade é apresentada nas sete seções paralelas. Cristo vem para estabelecer o juízo e triunfar sobre seus inimigos. Na primeira vinda a glória de Cristo não era autoevidente, mas na segunda vinda será (Mc 14:61). A igreja triunfa com ele, enquanto seus adversários lamentarão (6:15-16; Zc 12:10). Os ímpios não se converterão (9:20; 16:9,11). Como Jesus virá?
Aqueles que o amam se alegrarão na sua segunda vinda, mas aqueles que o rejeitaram se lamentarão. Como será a sua vinda?
a) Uma vinda Pessoal
b) Uma vinda Pública
c) Uma vinda Visível –
d) Uma vinda Poderosa
e) Uma vinda para juízo

2. Há uma descrição das características daquele que vem
Essas características da sua eternidade e onipotência são dadas, para mostrar que Jesus é poderoso para executar o seu plano na história humana.

CONCLUSÃO

Temos hoje uma visão da glória do Noivo da Igreja? Temos honrado o nosso Noivo? Estamos nos preparando para encontrar com ele, como as virgens prudentes? Nossas lâmpadas estão cheias de azeite?

Rev. Hernandes Dias Lopes

Fonte: http://hernandesdiaslopes.com.br/2007/08/apocalipse-uma-mensagem-urgente-para-a-igreja/#.Vr9qgvkrK00

quinta-feira, abril 28, 2016

Hernandes Dias Lopes: Como entender a mensagem do apolalipse

Como entender a mensagem do apocalipse

INTRODUÇÃO

1. O livro de Apocalipse é um livro sobre Jesus e sua igreja.

2. É um livro de revelação. O véu é retirado e nos é dado discernimento de determinadas coisas. Essa revelação é feita por meio de sinais: candeeiros, selos, trombetas, taças. Usa também números: o número sete aparece 54 vezes.

3. Lemos nos capítulos 1:12,13,20 e 5:5 que tanto a igreja como a história estão sob total o controle de Jesus Cristo. A história não caminha para o caos nem está dando voltas cíclicas, mas caminha para um fim glorioso da vitória completa de Cristo e da igreja.

4. O propósito ao estudarmos o livro de Apocalipse não é para nos aproximarmos dele com curiosidade frívola, como se estivéssemos com um mapa profético nas mãos, para investigar fatos históricos para sabermos os tempos no relógio profético. Ao contrário, esse livro nos foi dado como propósitos morais e espirituais: CONSOLAR-NOS, MOSTRAR O ÂMAGO DA LUTA QUE ESTAMOS TRAVANDO CONTRA O MUNDO E O DIABO E A VITÓRIA RETUMBANTE DE CRISTO.

5. O estudo do Apocalipse deve nos incentivar à santidade; encorajamento no sofrimento; adorar àquele que está no trono (2 Ped 3:12).

6. Aqueles que se aproximam desse livro com uma obcessão escatológica, perdem a sua mensagem. O livro é prático e revela-nos: 1) A certeza de que Jesus tem o total controle da igreja; 2) Jesus tem o total controle da História; 3) A perseguição do mundo e do diabo não podem destruir a igreja; 4) Os inimigos que perseguem a igreja serão vencidos; 5) Os inimigos de Cristo terão que enfrentar o juízo de Deus ao mesmo tempo que a igreja desfrutará da bem-aventurança eterna.

I. COMO ESTUDAR O LIVRO DE APOCALIPSE

1. Qual é o propósito deste livro?
Seu propósito principal é confortar a igreja militante em seu conflito contra as forças do mal. O livro está cheio de consolações para os crentes afligidos. A eles é dito:
a) Que Deus vê suas lágrimas – 7:17; 21:4
b) Suas orações produzem verdadeiras revoluções no mundo – 8:3-4
c) Sua morte é preciosa aos olhos de Deus – 14:13
d) Sua vitória é assegurada – 15:2
e) Seu sangue será vingado – 6:9; 8:3
f) Seu Cristo governa o mundo em seu favor – 5:7-8
g) Seu Cristo voltará em breve – 22:17

2. Qual é o tema deste livro?
a) O tema do livro de Apocalipse é a vitória de Cristo e de sua igreja sobre Satanás e seus seguidores (17:14). A intenção do livro é mostrar que as coisas não são como parecem ser. O diabo, o mundo, o anticristo, o falso profeta e todos os ímpios perecerão, mas a igreja triunfará. Cristo é sempre apresentado como Vencedor e conquistador (1:18; 5:9-14; 6:2; 11:15; 19:9-11; 14:1,14; 15:2-4; 19:16; 20:4; 22:3. Jesus triunfa sobre a morte, o inferno, o dragão, a besta, o falso profeta, a babilônia e os ímpios.
b) A igreja que tem sido perseguida ao longo dos séculos, mesmo suportando martírio é vencedora (7:14; 22:14; 15:2).
c) Os juízos de Deus mandados para a terra são uma resposta de Deus às orações dos santos (8:3-5).

3. Para quem foi destinado este livro?
a) Este livro foi inicialmente endereçado aos crentes que estavam suportando o martírio na época do apóstolo João. Houve grandes perseguições nos primeiros séculos contra a igreja: 1) Nero (64 d.C.); 2) Domiciano (95 d.C.); 3) Trajano (112 d.C.); 4) Marco Aurélio (117 d.C.); 5) Sétimo Severo (fim do segundo século); 6) Décio (250 d.C.); 7) Diocleciano (303 d.C.).
b) Este livro foi destinado não apenas aos seus primeiros leitores, mas a todos os crentes durante esta inteira dispensação, que vai da primeria à segunda vinda de Cristo.

4. Quando foi escrito este livro?
a) Este livro foi escrito por João quase no final do governo de Domiciano, quando foi banido para a Ilha de Patmos.

II. COMO INTERPRETAR O LIVRO DE APOCALIPSE

Há três escolas de interpretação do livro de Apocalipse:

1. A interpretação preterista
Tudo o que é profetizado no livro de Apocalipse já aconteceu. O livro narra apenas as peseguições sofridas pela igreja pelos judeus e imperadores romanos. O livro cumpriu seu propósito de fortalecer e encorajar a igreja do primeiro século.
Essa corrente falha em ver o livro como um livro profético, pertinente para toda a história da igreja.

2. A interpretação futurista
Tudo o que é profetizado no livro a partir do capítulo 4 tem a ver com os últimos dias sem nenhuma aplicação na história da igreja. Também essa escola não faz justiça ao livro que foi uma mensagem atual, pertinente e poderosa para todos os crentes em todas as épocas.
Esse livro não tinha nenhum conforto para os crentes primitivos nem para nós.
Transfere o Reino de Deus para o futuro milenar, enquanto sabemos que o Reino já veio e estamos no Reino.

3. A interpretação histórica
O livro de Apocalipse é uma profecia da história do Reino de Deus desde o primeiro advento até o segundo.
O livro é rico em símbolos, imagens e números: ele está dividido em sete seções paralelas progressivas: sete candeeiros, sete selos, sete trombetas e sete taças.
Agostinho, os Reformadores, as confissões reformadas e a maioria dos grandes teológos seguiram essa linha.

IV. COMO ENTENDER A DIVISÃO DO LIVRO DE APOCALIPSE

1. A corrente Pós-Milenista
Crê que o mundo vai ser cristianizado e que teremos um grande e poderoso reavivamento e o crescimento espantoso da igreja ao ponto da terra encher-se do conhecimento do Senhor como as águas cobrem o mar (Hc 2:4).
Essa corrente foi forte no século XVIII e XIX quando as missões estavam em franca expansão. Homens como Jonathan Edwards, Charles Hodge e Loraine Boetner foram defensores do Pós-Milenismo. Muitos missionários foram influenciados por esta interpretação, bem como muitos hinos foram escritos inspirados por esta visão.
Essa corrente deixa de perceber que antes da vinda de Cristo estaremos vivendo um tempo de crise e não um tempo de despertamento espiritual intenso e universal.

2. A corrente Pré-Milenista
Os Pré-Milenistas históricos ou moderados distinguem dos amilenistas em poucos aspectos: Reino e ressurreição.
Porém os Pré-Milenistas dispensacionalistas ou extremados têm vários ensinos estranhos às Escrituras:
a) Distinção entre Igreja e Israel no tempo e na eternidade
b) O Reino de Deus adiado para o Milênio terreno
c) A crença num arrebatamento secreto, seguido de uma segunda vinda visível
d) A idéia de que a igreja não passará pela grande tribulação (a igreja será poupada da ira de Deus (thymos e orge), mas não da tribulação (thlipsis). A tribulação não é a ira de Deus contra os pecadores, mas, sim, a ira de Satanás, do anticristo e dos ímpios contra os santos. (Gundry).
e) A idéia que teremos várias ressurreições
f) A idéia de que haverá chance de salvação depois da segunda vinda de Cristo.

3. A corrente Amilenista ou Espiritual
O livro de Apocalipse deve ser visto não como uma mensagem que registra os fatos em ordem cronológica, mas temos no livro sete seções paralelas e progressivas.
Cada seção descreve todo o período que compreende da primeira à segunda vinda. Cada sessão descreve uma cena do fim.
A cena do fim vai ficando cada vez mais clara e até chegar ao relato apoteótico da última sessão.
Essas sete seções estão dividivas em dois grandes períodos (1-11) e (12-22). A primeira descreve a perseguição do mundo e ímpios e a segunda a perseguição do dragão e seus agentes.

3.1) Primeira Seção (1-3) – Os sete candeeiros
Qual é a lição dessa seção? É que Cristo tem o controle da igreja em suas mãos.
Encontramos aqui Jesus uma descrição do Cristo que morre, ressuscita e vai voltar (1:5-7).
A morte e ressurreição de Cristo é o começo da era cristã, e o juízo final é o término da era cristã

3.2) Segunda Seção (4-7) – Os sete selos
Qual é a mensagem dessa seção? É que ele tem o controle da história em suas mãos (5:5). Contemplamos sua morte (5:6), mas essa seção encerra com uma cena da segunda vinda de Cristo (6:6-12 e 7:9-17).
Notemos a impressão produzida nos incrédulos pela segunda vinda (6:16-17) . Agora a felicidade dos salvos (7:16-17).
A segunda seção é uma reiteração da primeira seção. Sua revelação vai do princípio ao fim dos tempos, ao juízo final. E nos é mostrado a diferença entre os remidos e os perdidos.

3.3) Terceira Seção (8-11) – As sete trombetas
Nesta visão vemos a igreja vingada, protegida e vitoriosa.
Havendo começado com o Senhor como nosso sumo sacerdote no capítulo (8:3-5), avançamos até o juízo final em (10:7; 11:15-19).
Uma vez mais estamos tratando das mesmas coisas – O senhor e sua igreja e o que lhes sucede no mundo, o juízo final, os redimidos e os perdidos.
As trombetas são avisos antes do derramamento completo das taças da ira de Deus. Antes de Deus punir finalmente, ele sempre avisa.

3.4) Quarta Seção (12-14) – A tríade do mal
Novamente voltamos ao início, ao nascimento de Cristo (12:5). Depois vem a perseguição do Dragão a Cristo e à igreja (12:13). Ele levanta a besta e o falso profeta. Finalmente, vem a cena do juízo final (14:8).
Em (14:14-20) há uma cena clara do juízo final.

3.5) Quinta Seção (15-16) – As sete taças
Descreve as sete taças da ira, representando a visitação final da ira de Deus sobre os que permanecem impenitenes.
Uma vez mais a cena começa no céu relatando o Cordeiro com seu povo. Mas no capítulo 16 vemos uma espantosa descrição do juízo (16:15,20).
Aqui a destruição é completa.

3.6) Sexta Seção (17-19) – A derrota dos agentes do Dragão
Há um relato da destruição dos aliados do Dragão: A meretriz (18:2), a besta e o falso profeta, os seguidores da besta e em contrapartida a igreja é apresentada como esposa de Cristo (19:20). A grande festa da núpcias ocorre; o juízo final chegou outra vez e a uma grande distinção entre redimidos e perdidos ocorre novamente. No capítulo 19 há uma descrição detalhada da gloriosa vinda de Cristo (19:11-21).

3.7) Sétima Seção (20-22)
Essa seção mostra o Reinado de Cristo com as almas do santos no céu e não o milênio na terra depois da segunda vinda. O capítulo 20 começa na primeira vinda e não depois da segunda vinda. Então temos a descrição do juízo final (20:11-15). Após isso, vemos os novos céus e a nova terra e a igreja reinando com Cristo para sempre.

CONCLUSÃO

Apesar dessa seções serem paralelas, elas são também progressivas. A última seção leva-nos mais além para o futuro que as outras. Apesar do juízo final já ter sido anunciado em (1:7) e brevemente descrito em (6:12-17), não é apresentado detalhadamente senão quando chegamos a (20:11-15). Apesar do gozo final dos redimidos já ter sido insinuado em (7:15-17), não encontramos uma descrição detalhada senão quando chegamos em (21:1-22:5).

De que lado estamos nesta guerra milenar? Do lado de Cristo e da igreja ou do lado do dragão e seus agentes?

Rev. Hernandes Dias Lopes

Fonte: http://hernandesdiaslopes.com.br/2007/08/como-entender-a-mensagem-do-apocalipse/#.Vr9ptPkrK00

quarta-feira, abril 27, 2016

Hernandes Dias Lopes: Jesus Cristo virá em breve, você está preparado?

Jesus Cristo virá em breve, você está preparado?

Referência: Mateus 24.1-51

INTRODUÇÃO

A segunda vinda de Cristo é o assunto mais enfatizado em toda a Bíblia. Há cerca de 300 referências sobre a primeira vinda de Cristo na Escritura e 8 vezes mais sobre a segunda vinda, ou seja, há mais de 2.400 referências sobre a segunda vinda em toda a Bíblia.

A segunda vinda de Cristo é o assunto mais distorcido e o mais desacreditado. Muitos falsos mestres negam que Jesus voltará. Outros tentam enganar as pessoas marcando datas. Mas outros, dizem crer na segunda vinda de Cristo, mas vivem como se ele jamais fosse voltar.

É sobre esse importante tema que vamos falar nesta hora.

1. A admiração dos discípulos e a declaração de Jesus

Os discípulos ficaram admirados com a magnificência do templo e Jesus diz que não ficará pedra sobre pedra. Aquele majestoso templo de mármore branco, bordejado de ouro, o terceiro templo de Jerusalém, um dos mais belos monumentos arquitetônicos do mundo, seria arrasado pelos romanos quarenta anos depois no terrível cerco de Jerusalém.

2. A profecia acerca da destruição de Jerusalém e da segunda vinda

Os discípulos perguntam quando isso se daria e que sinais haveria da sua vinda. Essa resposta tem a ver com a destruição de Jerusalém e também com a segunda vinda, a consumação dos séculos. A destruição do templo é um símbolo do que vai acontecer na segunda vinda.

A segunda vinda de Cristo é a doutrina que recebe maior ênfase em toda a Bíblia. Há cerca de 300 referências à primeira vinda e oito vezes mais acerca da segunda vinda, ou seja, há mais de 2.400 alusões na Bíblia sobre a segunda vinda de Cristo.

Jesus prediz a iminente catástrofe de Jerusalém como um tipo da grande tribulação do final dos tempos.

I. OS SINAIS DA SEGUNDA VINDA DE CRISTO

1. Sinais que mostram a graça – v. 14

Jesus morreu para comprar aqueles que procedem de toda tribo, raça, povo, língua e nação (Ap 5.9). A evangelização das nações é um sinal que deve preceder a segunda vinda de Cristo. A igreja deve aguardar e apressar o dia da vinda de Cristo. Não há uma promessa de que toda pessoa receberá uma oportunidade de ser salvo. Jesus está falando das nações do mundo. Está falando que cada uma destas nações em uma ou outra ocasião durante o curso da história ouvirá o evangelho. Este evangelho será um testemunho. Aqui não há promessa de segunda oportunidade.

A história das missões mostra que o evangelho tem se estendido do oriente até o ocidente.

Primeiro, de Constantino até Carlos Magno (313-800) – as boas novas da salvação são levadas aos países da Europa Ocidental. Nesse tempo os maometanos apagam a luz do evangelho em muitos países da Ásia e África.

Segundo, de Carlos Magno até Lutero (800-1517) – Noruega, Islândia e Groelândia são evangelizados e os escravos da Europa Oriental se convertem como um só corpo ao Cristianismo.

Terceiro, de 1517 até 1792 – Originaram-se muitas sociedades missionárias e o evangelho é levado até o Ocidente.

Quarto, de 1792 até o presente – É no ano de 1792 que William Carey começa as missões modernas. A evangelização dos povos é ainda uma tarefa inacabada.

Hoje, os meios de comunicação de têm acelerado o cumprimento dessa profecia. Bíblias têm sido traduzidas. Missionários têm se levantado. Podemos apressar o dia da vinda de Cristo.

2. Sinais que indicam oposição a Deus

a) A tribulação (v. 9,10,21,22)

A vinda de Cristo será precedida de um tempo de profunda angústia e dor. Esse tempo é ilustrado com o tempo do cerco de Jerusalém, onde o povo foi encurralado pelos exércitos romanos e foram mortos à espada. Esse tempo será abreviado por amor aos eleitos. A igreja passará pela grande tribulação. Será o tempo da angústia de Jacó.

A perseguição religiosa (v. 9,10) tem estado presente em toda a história: os judaizantes, os romanos, a intolerância romana, os governos totalitários, o nazismo, o comunismo, o islamismo, as religiões extremistas. No século vinte tivemos o maior número de mártires da história.

Essa grande tribulação descreve o mesmo período: 1) A Apostasia; 2) A manifestação do homem da iniqüidade; 3) O pouco tempo de Satanás. Esse é um tempo angustiante como nunca houve em toda a história.

b) A apostasia (v. 4,5,23-26)

É significativo que o primeiro sinal que Cristo apontou para a sua segunda vinda tenha sido o surgimento de falsos messias, falsos profetas, falsos cristãos, falsos ministros, falsos irmãos, pregando e promovendo um falso evangelho nos últimos dias. Cristo declarou que um falso cristianismo vai marcar os últimos dias. Estamos vendo o ressurgimento do antigo gnosticismo, de um novo evangelho, de um outro evangelho, de um falso evangelho nestes dias.

A segunda vinda será precedida por um abandono da fé verdadeira. O engano religioso vai estar em alta. Novas seitas, novas igrejas, novas doutrinas se multiplicarão. Haverá falsos profetas, falsos cristos, falsas doutrinas e falsos milagres.

Vivemos hoje a explosão da falsa religião. O Islamismo domina mais de um bilhão de pessoas. O Catolicismo Romano também tem um bilhão de seguidores. O Espiritismo Kardecista e os cultos afro-brasileiros proliferam-se. As grandes religiões orientais: Budismo, Hinduísmo mantém milhões de pessoas num berço de cegueira espiritual.

As seitas orientais e ocidentais têm florescido com grande força. Os desvios teológicos são graves: Liberalismo, Misticismo, Sincretismo. Os grandes seminários que formaram teólogos e missionários hoje estão vendidos aos liberais. Muitas igrejas históricas já se renderam ao liberalismo. Há igrejas mortas na Europa, na América e no Brasil, vitimadas pelo liberalismo. Há aqueles que negam a ressurreição e dizem que os milagres são mitos.

O misticismo está tomando conta das igrejas hoje. A verdade é torcida. A igreja está se transformando numa empresa, o púlpito num balcão, o templo numa praça de barganha, o evangelho num produto de consumo, e os crentes em consumidores.

c) A depravação moral (v. 12)

A iniqüidade vai se multiplicar e o amor esfriar. O mundo vai estar sem referência, perdido, confuso, sem balizas morais, sem norte ético. Vai existir a desintegração da família, a falência das instituições, o colapso dos valores morais e espirituais. O índice de infidelidade conjugal é alarmante. O índice de divórcio já passa de 50%. O homossexualismo é aplaudido. A pornografia tornou-se uma indústria poderosa. O narcotráfico afunda a juventude no pântano das drogas.

A corrupção moral está presente nas cortes. As instituições estão desacreditadas. Os parlamentos estão sem autoridade moral. A corrupção religiosa é alarmante. O sagrado está sendo vendido.

A depravação moral pode ser vista:

a) Revolução sexual – homossexualismo, infidelidade, falta de freios morais.

b) Rendição às drogas – juventude chafurdada no atoleiro químico.

c) Dissolução da família – divórcio do cônjuge e dos filhos.

d) Violência urbana – As cidades tornaram-se campo de barbárie.

e) A solidão – No século da comunicação e da rapidez dos transportes, as pessoas estão morrendo de solidão, na janela virtual do mundo, a Internet.

d) O Anticristo (v. 15)

O sacrílego desolador de que fala Daniel aplicou-se ao Antíoco Epifânio no século II a.C. e também às legiões romanas que invadiram Jerusalém em 70 d.C. para fincar uma imagem do imperador dentro do templo. Eles são um símbolo e um tipo do anticristo que virá no tempo do fim.

O Espírito do anticristo já está operando no mundo. Ele se opõe e se levanta contra tudo o que é Deus. Ele vai se levantar para perseguir a igreja. Ninguém vai resistir ao seu poder e autoridade. Ele vai perseguir, matar, controlar. Muitos crentes vão ser mortos e selar seu testemunho com a própria morte.

O anticristo não é um partido, não é uma instituição nem mesmo uma religião. É um homem sem lei, uma espécie de encarnação de Satanás, que vai agir na força e no poder de Satanás. Ele será levantado em tempo de apostasia. Vai governar com mão de ferro. Vai perseguir cruelmente a igreja. Vai blasfemar contra Deus. Mas, no auge do seu poder, Cristo virá em glória e o matará com o sopro da sua boca. Ele será quebrado sem esforço humano. Nessa batalha final, o Armagedom, a única arma usada, será a espada afiada que sairá da boca do Senhor Jesus.

3. Sinais que indicam o juízo divino

a) As guerras (v. 6,7)

Ao longo da história tem havido 13 anos de guerra para cada ano de paz. Desde 1945, após a segunda guerra mundial, o número de guerras tem aumentado vertiginosamente. Registra-se mais de 300 guerras desde então, na formação de nações emergentes e na queda de antigos impérios. A despeito dos milhares de tratados de paz, os últimos cem anos foram denominados do século da guerra. Nos últimos cem anos já morreram mais de 200 milhões de pessoas nas guerras.

Segundo pesquisa do Reshaping International Order Report quase 50% de todos os cientistas do mundo (500.000) estão trabalhando em pesquisas de armas de destruição. Quase 40% dos recursos das nações são colocadas na pesquisa e fabricação de armas. Falamos de paz, mas gastamos com a guerra. Gastamos mais de um trilhão de dólares por ano em armas e guerras. Poderíamos resolver o problema da fome, do saneamento básico, da saúde pública e da moradia do terceiro mundo com esse dinheiro.

O mundo está encharcado de sangue. Houve mais tempo de guerra do que de paz. A aparente paz do império romano foi subjugada por séculos de conflitos, tensões, e guerras sangrentas. A Europa foi um palco tingido de sangue de guerras encarniçadas. O século vinte foi batizado com o século da guerra.

Na primeira Guerra Mundial (1914-1918) 30 milhões de pessoas foram trucidadas. Ninguém podia imaginar que no mesmo palco dessa barbárie, vinte anos depois explodisse outra guerra mundial. A segunda Guerra Mundial (1939-1945) ceifou 60 milhões de pessoas. Foi gasto mais de 1 trilhão de dólares.

Hoje falamos em armas atômicas, nucleares, químicas e biológicas. O mundo está em pé de guerra. Temos visto irmãos lutando contra irmãos e tribo contra tribo na Albânia, Ruanda, Bósnia, Kosovo, Chechênia, Sudão e Oriente Médio. São guerras tribais na África. Guerras étnicas na Europa e Ásia. Guerras religiosas na Europa. A cada guerra, erguemos um monumento de paz para começar outra encarniçada batalha.

b) Os terremotos (v. 7,29)

De acordo com a pesquisa geológica dos Estados Unidos:

a) De 1890 a 1930 – houve apenas 8 terremotos medindo 6.0 na escala Rischter.

b) De 1930 a 1960 – Houve 18.

c) De 1960 a 1979 – 64 terremotos catastróficos.

d) De 1980 a 1996 – mais de 200 terremotos dramáticos.

O mundo está sendo sacudido por terremotos em vários lugares. Os tufões e maremotos têm sepultado cidades inteiras: Desde o ano 79 d.C., no primeiro século, quando a cidade de Pompéia, na a Itália foi sepultada pelas cinzas de Vesúvio, o mundo está sendo sacudido por terremotos, maremotos, tufões, furacões e tempestades. Em 1755 60 mil pessoas morreram por terrível terremoto em Lisboa. Em 1906 um terremoto avassalador destruiu a cidade de São Francisco na Califórnia. Em 1920 a província de Kansu na China foi arrasada por um terremoto. Em 1923 Tókio foi devastada por um terremoto. Em 1960 o Chile foi abalado por um terremoto que deixou milhares de vítmas. Em 1970 o Peru foi arrasado por um imenso terremoto.

Nos últimos anos vimos o Tissunami na Ásia, invadindo com ondas gigantes cidades inteiras. O furacão Katrina deixou a cidade de New Orleans debaixo de água. Dezenas de outros tufões, furacões, maremotos e terremotos têm sacudido os alicerces do planeta terra, destruído cidades e levado milhares de pessoas à morte.

Só no século XX houve mais terremotos do que em todo o restante da história. A natureza está gemendo e entrando em convulsão. O aquecimento do planeta está levando os pólos a um derretimento que pode provocar grandes inundações.

Apocalipse 6 fala que as colunas do universo são todas abaladas. O universo entra em colapso. Tudo o que é sólido é balançado. Não há refúgio nem esconderijo para o homem em nenhum lugar do universo. O homem desesperado busca fugir de Deus, esconder-se em cavernas e procurar a própria morte, mas nada nem ninguém podem oferecer refúgio para o homem. Ele terá que enfrentar a ira de Deus.

Quando Cristo vier os céus se desfarão em estrepitoso estrondo. Deus vai redimir a própria da natureza do seu cativeiro. Nesse tempo a natureza vai estar harmonizada. Então as tensões vão acabar. A natureza será totalmente transformada.

c) As fomes e epidemias (v. 7; Lc 21. )

A fome é um subproduto das guerras. Gastamos hoje mais de um trilhão de dólares com armas de destruição. Esse dinheiro daria para resolver o problema da miséria no mundo. A fome hoje mata mais que a guerra. O presidente americano Eisenhower, em 1953 disse: “O mundo não está gastando apenas o dinheiro nas armas. Ele está despendendo o suor de seus trabalhadores, a inteligência dos seus cientistas e a esperança das suas crianças. Nós gastamos num único avião de guerra 500 mil sacos de trigo e num único missel casas novas para 800 pessoas”.

A fome é um retrato vergonhoso da perversa distribuição das riquezas. Enquanto uns acumulam muito, outros passam fome. A fome alcança quase 50% da população do mundo. Crianças e velhos, com o rosto cabisbaixo de vergonha, com ventre fuzilado pela dor da fome estonteante, disputam com os cães leprentos os restos apodrecidos das feiras.

Enquanto isso, as epidemias estão se alastrando e apavorando a humanidade: a gripe aviária na Ásia assusta o mundo, a aftosa no Brasil mexeu com a nossa economia, a AIDS está crescendo a fazendo milhões de vítimas em todo o mundo.

II. A DESCRIÇÃO DA SEGUNDA VINDA DE CRISTO

1. Será repentina – v. 27

Cristo virá como um relâmpago. É como o piscar do olho, o faiscar de uma estrela e como o dardejar da calda de um peixe. Ninguém poderá se preparar de última hora. Quando o noivo chegar será tarde demais para buscar encher as lâmpadas de azeite. Viver a vida despercebidamente é uma loucura. Você está preparado para a vinda do Senhor Jesus. Essa pode ser a sua última oportunidade. Já é meia-noite. O noivo está chegando. Você está pronto para encontrar-se com ele.

2. Será gloriosa – v. 30

Será uma vinda pessoal, visível, pública. Todo o olho o verá. Não haverá um arrebatamento secreto e só depois uma vinda visível. Sua vinda é única.

Jesus aparecerá no céu. Ele estará montado em um cavalo branco. Ele virá acompanhado de um séqüito celestial. Virá do céu ao soar da trombeta de Deus. Ele descerá nas nuvens, acompanhado de seus santos anjos e dos remidos. Ele virá com grande esplendor.

Todos os povos que o rejeitaram vão se lamentar. Aquele será um dia de trevas e não de luz para eles. Será o dia do juízo, onde sofrerão penalidade de eterna destruição. As tribos da terra conscientes de sua condição de perdidos se golpearão nos peitos atemorizados pela exibição da majestade de Cristo em toda a sua glória. O terror dos iníquos descreve-se graficamente em Apocalipse 6.15-17.

3. Será vitoriosa – v. 31

Jesus virá para arrebatar a igreja. Os anjos recolherão os escolhidos dos quatro ventos, de uma a outra extremidade dos céus. Os eleitos de Deus serão chamados. A Bíblia diz que quando Cristo vier, os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro, com corpos incorruptíveis, poderosos, gloriosos, semelhantes ao corpo da glória de Cristo. Então, os que estiverem vivos serão transformados e arrebatados para encontrar o Senhor nos ares e assim estaremos para sempre com o Senhor. Aquele dia será de vitória. Nossas lágrimas serão enxugadas. Então entraremos nas bodas do Cordeiro. Então ouviremos: Vinde benditos do meu Pai, entrai na posse do Reino.

Jesus virá também para julgar aqueles que o traspassaram (v. 30). Ele virá julgar vivos e mortos. Aqueles que escaparam da justiça dos homens não poderão escapar do tribunal de Cristo. Naquele dia o dinheiro não os livrará. Naquele dia, o poder político não os ajudará. Eles terão que enfrentar o Cordeiro a quem rejeitaram. Naquele tribunal os ímpios terão testemunhas que se levantarão: suas palavras os condenarão. Suas obras os condenarão. Seus pensamentos os condenarão. Seus pecados escreverão sua sentença de morte eterna.

III. A PREPARAÇÃO PARA A SEGUNDA VINDA DE CRISTO

1. Precedida por avisos claros – v. 32,33

Quando essas coisas começarem a acontecer devemos saber que está próxima a nossa redenção. A figueira já começou a brotar, os sinais já estão gritando aos nossos ouvidos. O livro de Apocalipse nos mostra que Deus não derrama as taças do seu juízo sem antes tocar a trombeta. Os sinais da segunda vinda são trombetas de Deus embocadas para a história. Ele está avisando que ele vem. Ele prometeu que vem. “Eis que venho sem demora”. Ele prometeu que assim como foi para o céu, voltará.

A Bíblia diz que Jesus virá em breve. Os sinais da sua vinda apontam que sua vinda está próxima. A Palavra de Deus não pode falhar. Passa o céu e a terra, mas a Palavra não passa. Essa Palavra é verdadeira. Prepare-se para encontrar-se com o Senhor seu Deus!

2. Será imprevisível – v. 36

Ninguém pode decifrar esse dia. Ele pertence exclusivamente à soberania de Deus. Quando os discípulos perguntaram a Jesus sobre esse assunto, ele respondeu: “Não vos compete saber tempos ou épocas que o Pai reservou para a sua exclusiva autoridade”. Daquele dia nem os anjos nem o Filho sabem. Aqueles que marcaram datas fracassaram. Aqueles que se aproximam das profecias com curiosidade frívola e com o mapa escatológico nas mãos são apanhados laborando em grave erro.

SE nós não sabemos o dia nem a hora, seremos tidos por loucos se vivermos despercebidamente.

3. Será inesperada – v. 37-39

Quando Jesus voltar os homens vão estar desatentos como a geração diluviana. Vão estar entregues aos seus próprios interesses sem se aperceberem da hora. Comer, beber, casar e dar-se em casamento não são coisas más. Fazem parte da rotina da vida. Mas, viver a vida sem se aperceber que Jesus está preste a voltar é viver como a geração diluviana. Quando o dilúvio chegou pegou a todos de surpresa.

Muitos hoje estão comprando, vendendo, casando, viajando, descansando, jogando, brincando, pecando; esses vão continuar vivendo despercebidamente até o dia que Jesus virá. Então, será tarde demais. Não há nada de mal no que estão fazendo. Mas quando os homens estiverem tão envolvidos em coisas boas em si ao ponto de esquecerem de Deus, estarão então maduras para o juízo.

4. Será para o juízo – v. 40,41

Naquele dia será tarde demais para se preparar. Haverá apenas dois grupos: os que vão desfrutar das bem-aventuranças eternas e os que vão ficar para o juízo. Dois estarão no campo um será levado e o outro deixado. Duas estarão trabalhando no moinho, uma será tomada e a outra deixada. Tomados para Deus, deixados para o juízo eterno. A lição aqui é a mesma. Os anjos tomarão uns para viverem com o Senhor para sempre e os outros serão deixados para o juízo de condenação eterna.

A segunda vinda de Cristo põe fim a todas as esperanças. Não tem segunda chamada. Não tem mais chance de salvação. Naquela a porta da oportunidade estará fechada. Em vão as virgens néscias baterão. Em vez os homens clamarão por clemência. A vinda de Cristo é única e logo em seguida ele se assentará no trono da sua glória para o grande julgamento.

5. Necessidade de vigilância – v. 42-44

A palavra de ordem de Jesus é: Vigiai! Esse dia será como a chegada de um ladrão: Jesus vem de surpresa, sem aviso prévio, sem telegrama. É preciso vigiar. É preciso estar preparado. Não sabemos nem o dia nem a hora. Precisamos viver apercebidos.

Aqueles que andam em trevas serão apanhados de surpresa. Nós, porém, somos filhos da luz. Devemos viver em santa expectativa da segunda vinda de Cristo, orando sempre, “Maranata, ora vem, Senhor Jesus”.

CONCLUSÃO

Jesus termina seu discurso profético, contando uma parábola acerca do Senhor que viajou e encarregou seus bens e seus servos nas mãos de dois encarregados (v. 45-51). A preparação para a vinda do Senhor é servi-lo com fidelidade.

1. O servo fiel

Um deles cuidou com zelo de tudo, sabendo que haveria de prestar contas ao seu Senhor. Seu senhor chegou e lhe galardoou com privilégios.

2. O servo infiel

O outro pensou: “Meu senhor vai demorar muito”. Então passou a espancar os companheiros e comer e beber com os ébrios. O seu senhor então, virá em dia em que ele não espera e o castigará e sua sorte com os hipócritas, onde há choro e ranger de dentes.

Esse servo demonstrou três atitudes: 1) Despreocupação; 2) Desalmado; 3) Dissipação.

Como você está vivendo: em santidade ou desprezando o seu senhor, porque julga que ele vai demorar. Acerte sua vida com Jesus. Em breve ele chamará você para prestar conta da sua administração. Viva hoje como se ele fosse voltar amanhã. O dia final se aproxima.

Rev. Hernandes Dias Lopes

Fonte: http://hernandesdiaslopes.com.br/2012/06/jesus-cristo-vira-em-breve-voce-esta-preparado/#.Vr9oXfkrK00

terça-feira, abril 26, 2016

Editora Vida Nova: entrevista com Russell Shedd

O texto que segue é da Revista Teologia Brasileira.

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Entrevista com doutor Russell Shedd

Aos oitenta anos de vida, o doutor Russell Shedd, mantêm-se como referência de integridade, conhecimento bíblico e vida cristã (7/06/2010).

Copyright © 2010 por Cristianismo Hoje / www.cristianismohoje.com.br

Não é muito comum um líder religioso chegar aos 80 anos em plena atividade. Mais raro ainda é ter atravessado todo este tempo mantendo um ministério de visibilidade internacional. Agora, privilégio mesmo é poder ostentar uma reputação inabalada e manter-se como referência de conhecimento bíblico e saber teológico em idade tão avançada. Pois Russell Philip Shedd entrou para o rol dos octogenários em 10 de novembro passado com todas essas características. Missionário de origem americana, ele está radicado no Brasil desde 1962. Neste quase meio século, tem prestado decisiva colaboração à Igreja nacional, seja através de seus livros e trabalhos de cunho teológico, seja com suas pregações, conferências e palestras.

Shedd é um teólogo com grande preparo. Com apenas 20 anos, graduou-se no Wheaton College, nos Estados Unidos. Ali, especializou-se em hebraico e grego – línguas bíblicas cujo conhecimento considera fundamental para uma correta interpretação das Escrituras. Em seguida, tornou-se mestre em teologia e, mais tarde, doutor em filosofia e Novo Testamento pela Universidade de Edimburgo, na Escócia. Mas o saber não fez dele um acadêmico arrogante, desses que enxergam a divindade com a frieza dos livros. “O conhecimento não enfraquece a fé; pelo contrário, auxilia o nosso relacionamento com Deus”, afirma. “E ainda produz muita dependência dele também”. Para manter a comunhão com Deus, a receita desse veterano da fé é simples: “Acordo todo dia antes das cinco da manhã. Assim, é possível dedicar uma hora ou mais à leitura bíblica e à oração.”

Com vinte livros publicados, Russell Shedd é muito conhecido no Brasil como fundador de Edições Vida Nova, casa publicadora especializada em obras teológicas pela qual lançou a Bíblia Vida Nova em 1977, abrindo o mercado para a popularização das versões de estudo das Escrituras Sagradas. Foi também professor na Faculdade Teológica Batista de São Paulo durante 30 anos e pastor da Metropolitan Chapel, congregação fundada por ele na capital paulista, onde vive e permanece ligado à denominação Batista. Missionário jubilado, Shedd tem um padrão de vida simples, razão pela qual não aceita que o líder evangélico ostente riquezas. “Não creio que o ensinamento do Novo Testamento favoreça em algum momento o ato de esbanjar ou gastar somas grandes para provar que Deus nos tem abençoado”, comenta. O “senhor Bíblia” – como muitos o chamam, à sua própria revelia – concedeu esta entrevista a Cristianismo hoje.

O senhor tem um dos mais invejáveis currículos de formação teológica entre os líderes cristãos que atuam no Brasil. É difícil conciliar tanto conhecimento com a simplicidade de um relacionamento com Deus?
RUSSELL SHEDD – Não, não acho difícil.  O conhecimento não enfraquece a fé; pelo contrário, auxilia o relacionamento com Deus. E produz muita dependência dele também.

De modo geral, como é o nível do conhecimento do crente brasileiro acerca de Deus e de sua Palavra?
RUSSELL SHEDD –  Creio que um problema em diversas igrejas é a falta de ensinamento que explique mais detalhadamente a Bíblia toda. Por exemplo: quantos creem num inferno eterno? E muitos crentes têm uma aversão contra a soberania de Deus, tal como a Palavra ensina.

Em 1962, quando o senhor chegou ao país, o panorama religioso nacional era completamente diferente do de hoje. Faça um paralelo entre a situação espiritual que encontrou naquela época e o que se vê atualmente.
RUSSELL SHEDD – Uma das principais diferenças foi que, naquele início dos anos 1960, as igrejas tradicionais condenavam interpretações e práticas pentecostais, como dons de línguas, profecia e curas miraculosas. Tais manifestações eram consideradas quase como heréticas. Hoje, as igrejas mais tradicionais tendem a condenar a teologia da prosperidade e os ensinamentos dos neopentecostais por falta de base bíblica.  Os seminários proliferam, embora o ensino bíblico, em muitos casos, seja bastante superficial.  E o interesse em missões continua sendo muito precário.

Então, apesar da haver mais seminários, o panorama do ensino teológico no Brasil não é bom?
RUSSELL SHEDD – Muitas igrejas montaram suas próprias escolas teológicas. Claramente, hoje temos muitas escolas sem professores treinados. O liberalismo teológico tem sido tirado de algumas escolas, enquanto em outras continua sendo uma opção que os alunos não têm habilidade para julgar ou avaliar.  A leitura de autores como Tillich e Bultmann pode dar a ideia de que não há muita diferença entre o liberalismo e ortodoxia. Um bom número de autores teológicos modernistas está aí, no mercado editorial. Ao mesmo tempo, há um crescente número de excelentes opções de autores que abraçam firmemente a inspiração plenária das Escrituras e a ortodoxia tradicional.
O reconhecimento dos cursos teológicos evangélicos pelo Ministério da Educação [tema tratado em reportagem nesta edição] pode ser uma solução?
RUSSELL SHEDD – Não acho que esse reconhecimento seja positivo, uma vez que os professores precisam adquirir graus de mestrado e doutorado, muitas vezes orientados por professores liberais. E a vantagem de fazer um curso reconhecido se perde na medida em que os pastores se tornam mais, digamos, profissionais.

Como um ex-editor, o que o senhor acha do segmento editorial evangélico hoje? A realidade do mercado sufoca a vocação ministerial?
RUSSELL SHEDD – Não há dúvida de que, se não existir um mercado editorial, as editoras não podem sobreviver. Claro, elas também têm de ter um caráter de missão, para poder escolher títulos que o povo precisa ler. É óbvio que há muitos títulos no mercado que acho de pouca importância, mas isso não quer dizer que não haja muitos leitores que buscam informação e encorajamento nesses livros. Existe também uma outra questão. Algumas editoras evangélicas têm receio de publicar livros liberais, que poderiam destruir a fé dos leitores. Mas aquelas que publicam tais livros têm interesse no mercado e no aparecimento de outros autores “famosos”, mesmo que não sejam crentes evangélicos.

A popularização das Bíblias de estudo temáticas – como Bíblia da mulher, Bíblia das profecias, Bíblia dos pequeninos, Bíblia do executivo – tem beneficiado as editoras, que investem cada vez mais em novos lançamentos do gênero. Essa corrida pelo mercado é boa ou ruim?
RUSSELL SHEDD – Não acho ruim, uma vez que qualquer ajuda que o leitor recebe dessas bíblias somente poderia trazer benefícios.  Não seria o caso se as notas fossem tendenciosas, oferecendo interpretações falsas.

Na diversidade de versões e edições que hoje existem da Bíblia, qual deve ser o parâmetro de escolha do crente em termos de fidedignidade?
RUSSELL SHEDD – O que importa é que a tradução escolhida não acrescente alguma ideia que o autor do original não tinha. Fidelidade na tradução sempre tem que reproduzir a ideia do original. Ela não pode incluir nem excluir algo que o texto hebraico ou grego diga.

O senhor é o presidente emérito de Edições Vida Nova, casa publicadora que ao longo dos anos tornou-se referência em obras de cunho teológico, e consultor da Shedd Publicações. Num mercado dominado por livros de cunho motivacional, a literatura teológica ainda encontra espaço?
RUSSELL SHEDD – Graças a Deus, sim.  As vendas de livros publicados pelas Edições Vida Nova, bem como de Shedd Publicações, têm aumentado ano a ano, juntamente como o crescimento do público evangélico.

O que deve ser feito pelas editoras para que as obras de conhecimento teológico não sejam apenas livros de referência para professores e estudiosos, mas também tenham apelo para o crente comum, o membro de igreja?
RUSSELL SHEDD – Os editores estão de olho naquilo que vende. Eles sempre seguirão o que a pesquisa de mercado indica que será um sucesso. Mas para aproximar as obras teológicas dos leitores comuns será evidentemente necessário tornar esses livros mais populares. Por exemplo, os manuais bíblicos. Hoje existem manuais de todos os níveis.

Em seus livros O líder que Deus usa e A oração e o preparo de líderes cristãos, o senhor enfatiza a necessidade do caráter e do exemplo que o pastor deve dar às suas ovelhas. Qual sua impressão sobre a integridade pastoral hoje?
RUSSELL SHEDD –  Infelizmente, temos ouvido sobre casos tristes de quedas de líderes no adultério, no nepotismo e na corrupção. Os pecados que destroem o ministério do líder muitas vezes são esquecidos pelas igrejas, que acham que o pastor é um homem de Deus e não deve ser demitido por um “tropeço”, especialmente se for um líder muito popular. A verdade é que sempre tivemos quedas de líderes durante a história, mas parece que a integridade deles hoje sofre desgaste maior.

Como evitar a excessiva vinculação da congregação a seu dirigente, de modo que a eventual queda do líder não represente um golpe inevitável na comunidade?
RUSSELL SHEDD –  A queda de líderes muito proeminentes, isolados e sem o acompanhamento de bons auxiliares, torna-se um desastre para a igreja. Quando presbíteros e diáconos – ou seja, o segundo escalão na liderança da igreja – são muito responsáveis, acompanhando de perto o ministério do dirigente da congregação, é possível, em muitos casos, amenizar os efeitos de uma eventual queda.

Uma das expressões dessa concentração de poder nas mãos dos líderes é o uso de título eclesiais, como o de bispo ou apóstolo. Biblicamente, qual é a legitimação disso?
RUSSELL SHEDD – O ensinamento de nosso Senhor sobre a necessidade de humildade e disposição de servir deve nos advertir sobre o perigo de procurar alguma autoridade que deve ser unicamente de Cristo. Não acho positiva a adoção de títulos que não sejam bíblicos. Bispo é um título bíblico, mas significa apenas “supervisor” e não alguém que domina a vida de outros líderes e pastores. Aliás, o único texto que menciona pastor humano no Novo Testamento é o de Efésios 4.11, onde o grego dá a entender que o pastor deve ser um mestre.

Já a nomenclatura apóstolo, a não ser em raros casos, refere-se às pessoas que Jesus apontou pessoalmente – razão pela qual Paulo argumenta, na sua primeira Epístola aos Coríntios, que viu o Senhor ressurreto e que Cristo apareceu para ele em último lugar. Já Filipenses 2.25 registra o termo “apóstolo” no original, fazendo referência a Epafrodito, que foi autorizado especificamente para levar os donativos da igreja de Filipos a Paulo. Logo, ele foi apóstolo da igreja de Filipos, tal como Barnabé e o próprio Saulo o foram da igreja de Antioquia.
Muitos dirigentes denominacionais justificam a própria opulência argumentando que a prosperidade financeira do líder é sinal da bênção de Deus. Isso tem base bíblica?
RUSSELL SHEDD – Não creio que o ensinamento do Novo Testamento favoreça em algum momento o ato de esbanjar ou gastar somas grandes para provar que Deus nos tem abençoado. Jesus mandou o jovem rico vender o que ele tinha para dar o produto aos pobres. Fica evidente que o Senhor é completamente contrário a que os líderes gastem dinheiro em luxo ou desnecessariamente.

O que faz um líder cair e ficar pelo caminho, transformando seu ministério em motivo de escândalo?
RUSSELL SHEDD – Creio que a falta de cuidado em buscar uma intimidade com Deus todos os dias, evitando a aparência do mal. Acredito que quedas ocorrem quando não achamos possível cair, ou quando ficamos seguros e até orgulhosos de nossa espiritualidade.
Quais têm sido as suas fontes de sustento ao longo desses anos todos?
RUSSELL SHEDD – Nós chegamos de Portugal em 1962, sustentados pela Missão Batista Conservadora. Ao longo desse tempo, igrejas e crentes da América do Norte enviaram suas ofertas missionárias para manter nossa família [Shedd é casado com Patricia e tem cinco filhos]. Hoje, esta entidade chama-se World Venture e continua sustentando missionários em muitos paises do mundo. O nível de sustento é determinado pela missão de acordo com o custo de vida do país no qual o missionário vive. Desde janeiro de 2008, nossos recursos vêm do plano previdenciário Social Security e de uma aposentadoria fornecida pela própria missão.  Não temos sofrido nenhuma falta.

Em sua opinião, por que entidades associativas de pastores e líderes, como a Associação Evangélica Brasileira (AEVB), enfrentam problemas de continuidade? Falta interesse dos pastores em participar desses movimentos associativos?
RUSSELL SHEDD – Vários motivos explicam a falta de interesse em entidades associativas. Poucos acham importante, ou de grande benefício, esse tipo de associação. A maioria dos pastores estão tão ocupados com seus programas, planos e ministérios que não acham que vale a pena contribuir e trabalhar para alguma entidade além da própria denominação.

Em que o conhecimento das línguas bíblicas originais pode ajudar na prática da pregação?
RUSSELL SHEDD – A importância de estudo das línguas originais reside no fato de que através dele se pode explicar melhor o significado que certos termos e frases tinham quando o autor escreveu o texto bíblico.  A diferença entre as culturas bíblicas e a cultura ocidental em que vivemos hoje requer bastante cuidado para se entender a visão de mundo e os valores que regeram os escritos bíblicos. Além disso, as línguas originais ajudam chegar a conclusões mais seguras acerca do que dizem as Escrituras. Trabalhar com o texto original leva o pastor a pregar com mais cuidado e a poder afirmar: “Assim diz o Senhor”. Bons comentários também ajudam na tarefa de buscar o sentido do texto.

Essa falta de conhecimento é o motivo de tantas pregações superficiais?
RUSSELL SHEDD – Não é apenas isso. Imagino que os pastores e professores de Escola Bíblica Dominical não têm tempo ou muito interesse em examinar as Escrituras para saber de fato o que o autor queria comunicar.  Preferem usar uma hermenêutica que recorre a alegorias sobre o texto bíblico. Assim, é possível dar uma interpretação muito diferente daquela que a Bíblia ensina.

Qual o tempo adequado para o preparo de uma mensagem consistente?
RUSSELL SHEDD –Varia muito. Alguns pregadores podem chegar à proposição, ou seja, ao ensinamento central do texto, com mais facilidade do que outros. Daí, procurar os argumentos dentro do texto que sustentem a proposição demora também. O professor Karl Lachler, que lecionou muitos anos na Faculdade Teológica Batista de São Paulo, dizia que uma hora de estudo por cada minuto de mensagem parece exagerado... Porém, aquele que estuda e medita para chegar ao cerne da mensagem do texto, além de buscar os argumentos dentro do trecho escolhido que comprovem essa proposição, pode gastar bastante tempo. Infelizmente, cuidado no preparo de mensagens que alimentem o rebanho e a realização de visitas para conhecer bem as vidas dos membros e confrontar aqueles que não estão obedecendo às ordens do Senhor têm sido práticas esquecidas em muitas igrejas. Pastores santos, crentes firmes na veracidade da Bíblia, com famílias ajustadas, que buscam ao Senhor com muita oração e fé, produzem igrejas de qualidade.
A Igreja contemporânea está sempre buscando novas formas de crescer, e muitas congregações recorrem a modelos empresarias de gestão e marketing. O que o senhor pensa de incorporação de tais elementos à obra de Deus?
RUSSELL SHEDD – Não tenho nada contra o crescimento das igrejas, desde que ele não ocorra em detrimento da qualidade da formação dos membros na imagem de Cristo, conforme preconiza o texto de Romanos 8.29. Sou muito a favor do crescimento do número dos genuinamente convertidos e nascidos de novo. O problema surge quando, no interesse de aumentar o tamanho da igreja, deixa-se de lado a santificação dos membros. Ora, sem a santificação, conforme Hebreus 12.14, ninguém verá o Senhor! Ocorre que modelos de gestão eclesiástica não têm tido muito sucesso no discipulado e na formação de homens e mulheres de Deus. Uma igreja muito grande pode ter dificuldades em integrar os fiéis num plano de crescimento espiritual verdadeiro. Com o aumento do número dos membros, é muito fácil perder os indivíduos de vista. Além disso, numa igreja grande os crentes muitas vezes não se sentem responsáveis para servir, contribuir, discipular ou alcançar novos convertidos, especialmente se houver na comunidade líderes pagos para cumprir esse papel. Por outro lado, uma igreja grande tem recursos pessoais e financeiros para se comprometer com grandes projetos e muitos ministérios.
Então, qual deve ser o objetivo de uma igreja?
RUSSELL SHEDD – O alvo bíblico descrito em Colossenses 1.28 – proclamação, advertência, ensino com toda sabedoria e entendimento espirituais – é o objetivo que todo pastor e igreja devem considerar como prioridade.
Na sua opinião, a mídia eletrônica é um bom púlpito?
RUSSELL SHEDD – A televisão pode, sim, ser um bom canal para se explicar o Evangelho. Mas ela tem sérias deficiências também: as pessoas não são discipuladas se não se tornam membros ativos da família de Deus. Um compromisso muito sério com uma igreja local que ensine a Palavra de Deus com autoridade é o caminho do discipulado e do crescimento espiritual.

De alto de sua experiência, o que o deixa preocupado em relação ao futuro da Igreja brasileira?
RUSSELL SHEDD – A minha preocupação se concentra na qualidade espiritual da liderança e dos membros das igrejas. É assustador ver a quantidade de divórcios que ocorrem hoje entre casais evangélicos e a falta de integridade por parte dos líderes. Também fico muito preocupado com a proliferação de ensinamentos que não são bíblicos, como a teologia da prosperidade, que nega a necessidade de o crente negar-se a si mesmo, tomar a sua cruz e seguir a Jesus.
Qual a sua compreensão acerca do que seja um avivamento?
RUSSELL SHEDD – O avivamento tem algumas evidências. Uma delas é quando o Senhor e sua Palavra têm mais importância do que o dinheiro ou qualquer outra coisa material. Avivamento cria arrependimento profundo pelos pecados cometidos e muita alegria no Senhor ao reconhecer seu perdão. Para uma Igreja avivada, o evangelismo se torna algo natural e as missões transculturais, uma prioridade, uma vez que Jesus mandou seus servos fazerem discípulos de todas as nações.
Logo, ao contrário do que se diz, a Igreja brasileira hoje não experimenta um avivamento?
RUSSELL SHEDD – Não acredito que o que acontece hoje, com o rápido crescimento da Igreja, seja um avivamento de verdade.  O que eu vejo é que falta temor do Senhor, arrependimento profundo e interesse por missões.

O senhor é filho de missionários americanos que aqui chegaram na primeira metade do século passado, época em que obreiros estrangeiros tinham grande influência no Brasil. Hoje em dia, sendo o país uma potência evangélica, ainda há espaço para eles?
RUSSELL SHEDD – De fato, a influência de missionários estrangeiros aqui é cada vez menor. Mas ainda há áreas em que obreiros vindos de fora poderiam ser úteis, como no preparo para as missões transculturais. O treinamento em determinadas áreas, como antropologia, linguística e informação acerca de povos não alcançados continua sendo uma área em que os missionários estrangeiros podem ser muito úteis à Igreja brasileira.

Pode-se dizer que já existe uma teologia genuinamente nacional?
RUSSELL SHEDD – Creio que teologia nacional, brasileira, seria aquela alicerçada em nossa história e cultura. Não acho que poderia encontrar uma visão como essa bem divulgada no Brasil.  Ainda há muita dependência dos livros estrangeiros e de modelos de igrejas que tendem a copiar o que se faz em outros países.

Do que o senhor sente falta na Igreja de hoje e que já viu em outros tempos?
RUSSELL SHEDD – De um lado, mais ensino da Palavra, mais preocupação com santificação e mais investimento em missões transculturais. De outro, uma Escola Dominical mais forte, uma hinologia alicerçada na teologia bíblica e mais livros de ensino sério.

Fonte: http://www.teologiabrasileira.com.br/teologiadet.asp?codigo=167

segunda-feira, abril 25, 2016

Editora Vida Nova: Baalismo evangélico

O texto que segue é da Revista Teologia Brasileira.

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Baalismo evangélico

Muitos cristãos hoje em dia possuem uma mentalidade toma lá, dá cá em seu relacionamento com Deus.
 
Os cananeus, isto é, os moradores dos países vizinhos de Israel, tinham vários deuses. O principal era Baal. Era esse o deus do vento e do clima. De acordo com o baalismo, era Baal quem enviava orvalho, chuva e neve e, conseqüentemente, quem dava fertilidade para a terra. Os cananeus acreditavam que era por causa do deus Baal que, ano após ano, a vegetação retornava após a estiagem, as fêmeas dos animais tinham inúmeras crias e as mulheres davam muitos filhos e filhas para seus maridos. 

Mas por que isso era tão importante para os cananeus? É preciso lembrar que aquelas pessoas dependiam basicamente da natureza. Não havia grandes cidades com suas fábricas, lojas e escritórios. Ou seja, os empregos não estavam nas cidades, mas na lavoura, e a imensa maioria das pessoas morava no campo, cultivando a terra e criando animais para sobreviver. Se houvesse muita seca, não teriam alimento para comer, trabalho para fazer, água para beber, nem mesmo animais para sacrificar ao seu deus. Além disso, sem comida, a saúde deles estaria comprometida. E, se não tivessem descendentes, quem iria cuidar deles na velhice? Então, o que fazer para conseguir a fertilidade em casa e no campo? Adorar Baal era, para eles, a chave para desfrutar de todas essas vantagens. Os baalistas acreditavam que, se agradassem Baal, ele seria um deus bom para eles.

Comparemos, agora, Baal com Javé, o Deus dos israelitas. Sem dúvida alguma Javé era (e continua sendo) um Deus bom. Segundo a Bíblia, é ele quem controla as estações do ano, o sol e a chuva, que faz com que a terra produza alimento. É o Deus que, no final das contas, nos faz felizes. Conforme disseram Barnabé e Paulo aos moradores de Listra, Deus é "bondoso, dando-nos chuva do céu e colheitas no tempo certo, concedendo-nos sustento com fartura e um coração cheio de alegria" (Atos 14.17). Até aqui Baal e Javé se parecem. Tanto um quanto outro cuidam dos seres humanos.
Todavia, existem duas diferenças principais. A primeira é que Baal era um deus de mentira. Só existia na imaginação dos seus seguidores. Javé, no entanto, é verdadeiro. Por isso os profetas de Baal pediram em vão a seu deus que mandasse fogo do céu, mas Javé, atendendo à oração de Elias, fez o que Baal não conseguiu fazer (1 Reis 18.21-39).

A segunda diferença é que, ao contrário de Baal, Javé está interessado não apenas no nosso bem-estar físico. Ele quer, acima de tudo, que estejamos firmes no nosso íntimo. E nada melhor do que uma boa provação para fortalecer os músculos da fé. Conforme nos ensina Pedro, Deus permite dificuldades e sofrimentos para que tenhamos certeza de que a nossa fé é verdadeira (1 Pedro 1.7). O que ele está dizendo é que sabemos que estamos em boas condições espirituais quando reagimos corretamente diante dos problemas da vida. É assim que Javé trabalha. Se de um lado ele oferece coisas boas para todos, até mesmo para aqueles que não o adoram (Mateus 5.45; Tiago 1.17), de outro ele também envia provações... para o bem daqueles que lhe pertencem!!! Como isso funciona? Bem, de acordo com Tiago, o irmão de Jesus, os problemas são um desafio para ficarmos firmes. Ele declara não apenas que "a prova da nossa fé produz perseverança", mas também que a perseverança conduz à maturidade e integridade (Tiago 1.3, 4).

No baalismo antigo as pessoas ofereciam dádivas a Baal na tentativa de conseguir seus favores e achavam que, se o agradassem, ele tinha a obrigação de abençoá-los. Era um toma lá, dá cá. Achavam que, sacrificando a Baal, receberiam fartura como recompensa. Hoje há muitos cristãos com essa mentalidade baalista. No baalismo “evangélico” de hoje em dia, as pessoas pensam que, se derem o dízimo, se não faltarem aos cultos da igreja, se participarem de todas as reuniões de oração, se fizerem isto e mais aquilo, então vão ter família sem problemas, bom emprego (de preferência com direito a promoção a cada ano), saúde de dar inveja, casa confortável, carro novo na garagem, dinheiro no banco, etc.

No entanto, o Deus da Bíblia nos promete felicidade, mas não necessariamente prosperidade. É o que se percebe nas palavras do profeta Habacuque: "Mesmo não florescendo a figueira, e não havendo uvas nas videiras, mesmo falhando a safra de azeitonas, não havendo produção de alimento nas lavouras, nem ovelhas no curral, nem bois nos estábulos, ainda assim eu exultarei em Javé e me alegrarei no Deus da minha salvação. Javé, o Soberano, é a minha força" (Habacuque 3.17-19a).
O baalista só quer saber de receber coisas boas. Não admite passar por sofrimento. O verdadeiro cristão raciocina como Jó, "Aceitaremos o bem dado por Deus, e não o mal?" (Jó 2.10). Quem segue a Jesus para valer reconhece que até mesmo as dificuldades da vida são bênçãos disfarçadas, são oportunidade de fortalecer nossa fé. E você, é adorador de Baal ou Javé? 


domingo, abril 24, 2016

Editora Vida Nova: Sinais dos Tempos

O texto que segue é da Revista Teologia Brasileira.

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Sinais dos tempos 

Entrevista originalmente concedida a Aline Campos, editora da revista Movimento Gospel Nº 18, Set-Out (2014), p. 28-30.

"E será pregado este evangelho do reino por todo o mundo, em testemunho a todas as nações. Então virá o fim" (Mt 24.14)

Quais são os sinais do fim dos tempos?

Os sinais que precederão a vinda de Cristo são: 1) o evangelho será proclamado a todos os povos (Mc 13.10); 2) uma futura conversão de Israel (Rm 11.25-29), que será a culminação da aliança da graça e da história da redenção; 3) a grande tribulação e a grande apostasia ocorrendo juntas (Mt 24.9-12,21-24); 4) a revelação do anticristo, o “homem da iniquidade” (2Ts 2.1-12); 5) o recrudescimento das guerras, fomes e terremotos em diversos lugares, o que é descrito como o “princípio das dores” (Mt 24.8); 6) a criação será abalada (Mt 24.29). Então, como o clímax destes sinais, “como o relâmpago sai do oriente e se mostra até no ocidente”, todos “verão o Filho do Homem vindo sobre as nuvens do céu, com poder e muita glória” (Mt 24.27, 30).

Os acontecimentos dos nossos dias são sinais dos tempos?

Ainda que esses sinais aconteçam durante a história, parece que eles ocorrerão simultaneamente na iminência do fim. Parece que a chave para entender esses sinais é oferecida em Mateus 24.33: “Quando virdes todas essas coisas, sabei [ou você saberá] que ele [o fim] está próximo, às portas”. Na iminência da vinda de Cristo, as guerras, os terremotos, a fome, as epidemias, “os poderes dos céus” abalados (Mt 24.29) acontecerão todos ao mesmo tempo, assim como sobrevirá a grande tribulação e a conversão de Israel.

Onde e como podemos identificá-los?

Estes sinais ocorrerão simultaneamente, antes do retorno de Cristo. Por isso, lembramos que existem nas Escrituras passagens que nos incentivam a estar prontos para a inesperada vinda de Cristo, estimulando-nos a estar preparados e vigilantes. Portanto, provavelmente, estes sinais serão mais intensos e extensos que as ocorrências parecidas que os precederam durante a história. E, me parece, esses sinais, não podem ser considerados independentemente, mas em conexão com a grande tribulação. Quando eles ocorrerem, serão reconhecidos pelos filhos de Deus como o que realmente são.

Quais as prerrogativas para a volta do Senhor?

A segunda vinda de Cristo será um evento único, que ocorrerá no “dia do Senhor”, um termo que se refere especialmente à sua vinda em glória. Cristo voltará uma única vez, corporal e visivelmente, gloriosa e triunfalmente, para vencer cabalmente todos os poderes do mal e renovar a criação.

A questão dos conflitos mundiais, doenças, guerras, a fome no mundo são sinais da vinda de Jesus?
A Escritura ensina que o tempo exato da vinda de Cristo é desconhecido. Isso significa que uma vigilância contínua pela vinda de Cristo é exigida; devemos estar prontos para uma vinda inesperada, já que os sinais podem acontecer simultaneamente, num pequeno período de tempo. Mas devemos notar que esses sinais estiveram presentes no tempo do Novo Testamento, ao longo da história e estão presentes agora. Ainda que esses sinais tenham aparecido durante toda a história, antes da volta de Cristo eles se intensificarão, dirigindo-se para o clímax. Portanto, ao considerarmos a exortação à vigilância (Mt 24.32,33), não precisamos interpretá-la como uma exortação para se buscar sinais imediatos do aparecimento do Senhor. Antes, trata-se de uma exortação para permanecermos ativos na realização da obra do Senhor, para não sermos surpreendidos por sua vinda.

O mundo será destruído?

Ainda que esta ideia seja popular, especialmente pela influência do fundamentalismo americano do começo do século 20, a posição bíblica, afirmada pela tradição reformada conectada com João Calvino, afirma o conceito de renovação da criação. Por isso, é importante ter em mente uma compreensão firmemente bíblica de Deus: o Eterno é o criador e renovador da criação, sustentando-a por sua providência. A Escritura nunca apresenta o Senhor Deus como destruidor.

Como Anthony Hoekema escreveu [em seu livro A Bíblia e o futuro], “tanto em 2Pedro 3.13 como em Apocalipse 21.1, o termo grego utilizado para designar a novidade do novo cosmos não é neos mas sim kainos. A palavra neos significa novo em tempo ou origem, enquanto a palavra kainos significa novo em natureza ou em qualidade. A expressão (...) ‘novo céu e nova terra’ (Ap 21.1) significa, portanto, não a emergência de um cosmos totalmente outro, diferente do atual, mas a criação de um universo que, embora tenha sido gloriosamente renovado, está em continuidade com o universo presente”.

Portanto, a Escritura nos assegura que Deus criará uma nova terra na qual viveremos para seu louvor, com corpos ressurretos e glorificados. Nessa nova terra é que esperamos passar a eternidade, desfrutando de suas belezas, explorando seus recursos e utilizando seus tesouros para a glória de Deus. Uma vez que Deus fará da nova terra seu lugar de habitação, e uma vez que o céu é onde Deus habita, estaremos no céu enquanto estivermos na nova terra. Tudo que é bom na cultura, que pela graça de Deus pode ser aproveitado em seu reino, será renovado e aperfeiçoado na nova criação. Em outras palavras, o “novo céu e a nova terra” será tanto um estado como um lugar, onde “o SENHOR está presente” (Ez 48.35).

O que precisamos entender sobre o milênio?

Há uma só passagem bíblica que cita a noção de “mil anos” (Ap 20.1-15). E muito já foi escrito sobre esse texto, derivando daí quatro posições principais sobre o milênio, as quais listo em ordem cronológica, isso é, na medida em que surgiram no decorrer da história da igreja: pré-milenismo histórico, amilenismo (posição conhecida como “milenismo realizado”), pós-milenismo e pré-milenismo dispensacional. Ainda que muito tenha sido escrito num tom polêmico, é preciso dizer que todas estas posições são opções legítimas dentro da tradição cristã e evangélica. Mas, me parece, tão ou mais importante que afirmar uma interpretação sobre o milênio é tentar entender as implicações práticas de tal posição. Por exemplo: quais são as implicações de certa interpretação quanto ao milênio para a relação com a cultura, arte, política, economia, igreja, evangelização e missões? Este é um estudo extremamente frutífero e que redundaria em mais humildade na hora de debatermos as interpretações quanto ao milênio – além de reservar algumas surpresas para os que dedicarem-se a tal estudo.

O evangelho será pregado em todo o mundo antes do fim?

O evangelho não será pregado a todas as pessoas, mas deverá ser pregado a todo grupo étnico. A palavra grega usada em Marcos 13.10, traduzida por “nações”, é ethnē, que pode ser traduzida como “países” e “nações”, mas também como “famílias” e “tribos”. A implicação é que quando todos os grupos étnicos tiverem conhecimento do evangelho, então virá o fim. Daí a necessidade de priorizarmos a tarefa missionária, especialmente entre os povos não alcançados, investindo os melhores esforços na tradução da Escritura para idiomas que ainda não têm acesso às porções bíblicas.

Podemos interpretar eventos isolados como indicação do fim dos tempos?

A respeito da segunda vinda de Jesus não é possível determinar com precisão uma data. Sobre isso, ele mesmo declarou: “Mas, quanto ao dia e à hora, ninguém sabe, nem os anjos do céu, nem o Filho, senão somente o Pai” (Mt 24.36). Não se pode saber, então, a ocasião exata do retorno de Cristo. Todas as tentativas que as seitas têm feito para determinar o momento preciso desse retorno acabam por mostrar o quanto elas estão erradas em suas previsões. O que se pode dizer, com certeza, é que Cristo virá em hora inesperada. Por isso, devemos estar atentos. Qualquer um, portanto, que afirme conhecer a data em que Cristo virá, independentemente de quem é ou de quão importante seja, deve ser completamente rejeitado.

A nação de Israel seria o sinal mais importante do fim dos tempos?

Depende de como se conecta Israel com os sinais do fim. A fundação do Estado de Israel, a principal democracia no Oriente Médio na atualidade, foi um dos grandes momentos do turbulento século 20, especialmente depois do sofrimento indizível do Holocausto (Shoah). Mas, me parece, o sinal determinante que se espera em conexão com Israel e o fim dos tempos é o cumprimento da palavra apostólica: “E, assim, todo o Israel será salvo, como está escrito: Virá de Sião o Libertador e ele apartará de Jacó as impiedades. Esta é a minha aliança com eles, quando eu tirar os seus pecados” (Rm 11.26-27).

Fonte: http://www.teologiabrasileira.com.br/teologiadet.asp?codigo=428

sábado, abril 23, 2016

Editora Vida Nova: Bíblia e literatura

O texto que segue é da Revista Teologia Brasileira.

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Bíblia e literatura I

A relação entre a Bíblia e a literatura é muito discutida, tanto nos meios teológicos quanto nos literários. Gostaríamos de retomar essa complexa e difícil discussão, sem pretensões de esgotamento, muito menos de redução da Bíblia a mais um livro, entre tantos outros.

Procuraremos, pelo contrário, demonstrar que uma perspectiva literária e séria da Bíblia, ao invés de nivelá-la a tudo aquilo que já se escreveu nesse mundo, realça ainda mais a sua singularidade. Para seguirmos essa linha de raciocínio, é preciso, em primeiro lugar, admitir sem medo que a Bíblia é, queiramos ou não, um livro . E como tal, ela faz parte de uma longa e complexa tradição cultural e literária. Mas não é só isso que torna a Bíblia parte do que costumamos chamar de literatura. Nem todo livro que nos é oferecido, principalmente hoje, pode ser considerado propriamente literário. Como distinguir? Certamente não é tarefa fácil, exigindo alguma experiência com o trato de livros. Mas o empreendimento é tão compensador que pode, inclusive, levar alguém a se dar conta da notoriedade desse livro específico chamado Bíblia.

Foi precisamente isso que aconteceu com o conhecido escritor e catedrático em literatura de Oxford, C.S. Lewis, que costumava dizer que preferia os livros antigos, ou clássicos, que não podem ser limitados cronologicamente porque , antes de tudo, eles foram testados pelo tempo, prova nada fácil de passar (para maiores detalhes a respeito dessa história, leia a autobiografia de Lewis, Surpreendido pela Alegria , da Editora Mundo Cristão). E, já que ele não tinha como ler os livros do futuro, dizia, dava um crédito a mais aos clássicos. Então, sua fórmula era ler dois clássicos para cada livro recente. Sua filosofia era incentivar a leitura dos livros de autores de outras épocas porque eles desenvolvem a capacidade de comunicação, pondo-nos em contato com todo o mundo que o leu antes de nós, ampliando, assim a nossa restrita visão de mundo. Dificilmente poderíamos alcançar esses conhecimentos pela experiência.

Se considerarmos, nesse contexto, que a Bíblia é um dos livros mais antigos de toda a humanidade, teríamos que lê-la numa proporção ainda muito maior do que lemos os livros antigos mais "ordinários". Não é para menos que esse livro unifica nações de raízes culturais diversas, sendo muitas vezes usado como instância de autoridade máxima para a tomada de decisões pessoais e coletivas. Trata-se de um dos livros mais traduzidos do mundo, que se tornou a razão para a alfabetizações de nações inteiras.

Sem desconsiderar as diferenças de religião, credo, cultura e gerações que já deram motivo a guerras e injustiças na história, a Bíblia, pelo contrário, estabelece um campo comum propício à comunicação no meio destas diferenças. Poderíamos citar inúmeras campanhas internacionais de distribuição de Bíblias e movimentos missionários de todos os tempos que apontam para isso. Os pais da Igreja e seus esforços para expandir o Cristianismo nos seus primórdios e os Reformadores são evidências históricas disso. Há livros sagrados, cuja tradução para outras línguas é inclusive proibida, dificultando esta comunicabilidade e transculturalidade.

A Bíblia absolutamente não se trata de um livro qualquer . Ela é, nada mais nada menos, do que um dos livros mais amplamente distribuídos e lidos de todos os tempos. Um verdadeiro best seller internacional, cujas primeiras cinco partes, o Pentateuco, já têm aproximadamente 3450 anos de idade, o que vale mais do que qualquer Prêmio Nobel em literatura ou selo de qualidade.
Uma das razões para o conhecimento amplo da Bíblia é que ela continua sendo um best-seller . Isso, apesar de ter sido um dos livros mais perseguidos, queimados e censurados de todo o mundo. A Bíblia foi traduzida em inúmeras línguas, inclusive de tribos situadas nos mais remotos lugares do mundo. Foi assim que a Bíblia marcou profundamente a biografia de pessoas mais ou menos conhecidas como Gandhi, Martin Luther King e Watchman Nee.

Basta consultar uma enciclopédia comum para encontrarmos diversas referências à Bíblia. Nada como um bom dicionário bíblico ou uma enciclopédia de teologia para se ter uma idéia da quantidade de expressões usadas para se referir a esse livro: Escrituras Sagradas, Palavra de Deus, Lei Divina, Livro Sagrado, e isto, somente no português.

Quem tem o prazer de conhecê-la mais de perto, o que é sempre preferível ao recurso apressado a qualquer enciclopédia, notará que se trata, na verdade, não de um livro ordinário, mas de um grande conjunto de livros. Não é para menos que a palavra Bíblia, ta biblia (os livros) seja o plural do grego biblion (livro). Quem se aventura a dar uma segunda folhada na Bíblia constatará que se trata de uma verdadeira "biblioteca", com uma extraordinária riqueza, não apenas literária, mas histórica, geográfica e principalmente de sabedoria de vida e conhecimento das coisas de Deus.

Essa diversidade e riqueza de partes que compõem a Bíblia, muitas vezes assustam os leitores, mesmo aqueles habituados à leitura. Mas, na verdade, trata-se basicamente do Antigo Testamento, com um total de trinta e nove livros, e do Novo Testamento, com vinte e sete. São aproximadamente trinta escritores, das mais diversas épocas e lugares envolvidos. O extraordinário é que isso não pôs a perder a sua coerência essencial para além de toda a diversidade – ou precisamente devido a ela.
Essa unidade dentro da diversidade pode ser mais bem compreendida se considerarmos que a palavra "testamento" nada mais significa do que "pacto" ou aliança, o da Lei Antiga de Moisés – que viveu cerca de quatrocentos anos antes do cerco de Tróia e trezentos anos antes dos filósofos antigos Pitágoras, Tales de Mileto e Confúcio – e o da nova aliança que se cumpriu em Cristo. Ou seja, a diversidade não impede a unidade, que aponta para uma mensagem ( kerygma ) única, que transcende todas as diferenças autorais, culturais e temporais: a encarnação e a possibilidade de salvação através dela.

Além da diversidade de autores, temos na Bíblia uma incrível variedade de gêneros literários. Desde a poesia dos Salmos e Provérbios, até ao espírito épico e profético do livro do Apocalipse. Temos aí também as profecias do Antigo Testamento, que se cumprem no Novo Testamento, como bem destacou Josh McDowell no clássico Mais que um Carpinteiro .

Por mais fascinante que seja o assunto, não entraremos aqui no mérito das polêmicas em torno da origem específica de cada um dos autores humanos desses escritos. Temos já aí uma ampla bibliografia especializada de excelente qualidade sobre o assunto. Restringimo-nos aqui à sua relação específica com a literatura.

Para tanto, é necessário primeiramente considerar um outro assunto, quem sabe o principal para entendermos a distinção da Bíblia entre tantos outros livros – até mesmo entre alguns outros escritos considerados "sagrados". Trata-se da questão da autoria ou "inspiração" que está para além de todos os autores humanos e que pode explicar a sua incrível unicidade de sentido para além da diversidade de escritores de diferentes épocas. No próximo artigo, abordaremos a questão da inspiração divina e como ela se relaciona com a identidade literária da Bíblia.

Fonte: http://www.teologiabrasileira.com.br/teologiadet.asp?codigo=6

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Bíblia e literatura II

Um dos pontos mais controversos no debate sobre a relação entre a Bíblia e a literatura é a questão da autoria. Tanto judeus – no caso da Torah – quanto cristãos alegam que a Bíblia tenha sido inspirada por Deus, alegação esta que o próprio texto sagrado afirma e corrobora quando fala de si mesmo. Os cristãos são ainda mais ousados do que os judeus nesse ponto quando afirmam que uma das provas de que a Bíblia é inspirada por Deus é o fato de que ela gira toda em torno de um personagem central – Jesus Cristo é tido como a chave que unifica o Antigo Testamento (AT) e o Novo Testamento (NT) para além das suas diferenças de conteúdo e de imagem de Deus. Ele é o cumprimento vivo das profecias do AT, em que é mais conhecido como Messias . Alguns judeus compreenderam tão bem esse ponto do AT que continuam esperando pelo Prometido até os dias de hoje. Essa é a diferença básica entre cristãos e judeus. Os primeiros reconhecem Jesus Cristo como sendo quem ele alegava ser, o Filho de Deus, sua encarnação, para escândalo de grande parte dos judeus.

O fato de a Bíblia ter sido escrita ao longo de centenas de anos por diversas mãos – a maioria delas anônimas – com diferentes backgrounds profissionais e geográficos é considerado motivo para as suspeitas daqueles que só crêem no que tocam ou no que leva o carimbo da Ciência. A Bíblia foi escrita por 40 pessoas, ao longo de 16 séculos, embora até nisso haja controvérsias, uma vez que alguns livros são de autoria e datação incerta.

Usualmente, pessoas assim também resistem ao novo paradigma da incerteza em toda a ciência e/ou desconfiam da validade da literatura oral e do senso-comum em geral. Querem muitas vezes com isso evitar se misturar com o povo e seu conhecimento de "segundo calão".

Já aqueles que se dão ao trabalho de uma leitura mais atenta da Bíblia notarão a estranha coerência interna que torna esse livro tão misterioso, fascinante e poderoso. Muitas vezes essa coesão não pode ser vista logo na primeira leitura, o que, por sua vez, faz com que até aqueles que dificilmente leriam um livro mais de uma vez, não resistam a voltar a abri-lo. E quem decide estudá-lo para valer, de maneira, por assim dizer, "científica", notará que nem tudo são mistérios em torno desse livro. Não raro, estes também acabam por se render à forte e assustadora intuição de que ela seja fruto de uma só mente: Deus.

É claro que não temos pretensão alguma aqui de querer identificar o estilo literário de Deus, como se pode identificar o de um pintor ou de um músico, o que não deixa de ser um excelente exercício. Se até Tomás de Aquino se dizia incapaz de "esgotar sequer a essência de uma mosca", uma das menores criaturas da natureza, imagine a de Deus! A face divina e a maneira de Deus agir são coisas ao mesmo tempo tão distantes e tão próximas de nós que vivem escapando por entre os dedos das mãos.

O sentimento que se tem diante do estilo de Deus é muito parecido com o que nos invade no trabalho de crítica literária quando se quer conhecer mais a fundo determinado autor "real" ou determinada língua, particularmente quando se trata de poesia ou literatura imaginativa em geral (mitos, contos de fada, provérbios, etc.) Esse sentimento de maior ou menor familiaridade ou estranhamento explica inclusive porque não é preciso ser especialista para desenvolver um certa intimidade com esse inexaurível Autor. Nós aprendemos a conhecê-lO como conhecemos certas pessoas do nosso cotidiano: pela postura, tom de voz, olhar, etc. – e, no caso, por meio da literatura e da ficção.
Ou seja, para entendermos o jeito de ser de alguém, o pressuposto necessário é a convivência e a linguagem comum , o nível de interlocução , isto é, de comunicação , que temos com ela. Na literatura, à semelhança do que acontece quando nos vemos deparados com a Bíblia, dá-se algo parecido. De tanto viver com certos autores e estilos, nós conseguimos, com grande chance de acerto, reconhecer ou discernir certas atitudes que são típicas a eles, e outras que destoam definitivamente.
No entanto, apesar de sermos capazes de reconhecer o estilo dos personagens criados por um autor e, por reflexo também, o do próprio autor, que se espelha de forma mais ou menos nítida em todos os personagens, não devemos recair no reducionismo, achando que podemos "classificá-los" de alguma forma predeterminada. Pois todo personagem é, antes de ser produto da imaginação humana, proveniente em última instância do Criador que a todos "inventou" imprimindo-lhes a Sua Imagem. Essa pode ser uma boa explicação para o poder de influência desse livro tão sui generis , a Bíblia, para além dos seus mistérios. E se nós já cremos na Bíblia como Palavra inspirada pelo próprio Deus, quanto mais não a estaremos apreciando quando a reconhecermos, além disso, também como excelente obra literária que é e que nos remete a outras obras muito saudáveis como, por exemplo, As Crônicas de Nárnia e outros tantos clássicos da literatura mundial.

É claro que não podemos reduzir a Bíblia à literatura ou submete-la às rígidas classificações de gênero, mesmo porque ela não cabe em nenhum deles, ao mesmo tempo em que cabe em todos eles. Mas acreditamos ter com essa aproximação entre a literatura e o estudo da Bíblia, ter dado uma vaga noção da riqueza desse diálogo e do estilo surpreendente que se encontra por trás de sua infinidade de autores, que diz respeito a toda a humanidade. Ou pelo menos, esperamos ter contribuído para melhorar a imagem que fazemos dAquele de Quem somos imagem.

Fonte: http://www.teologiabrasileira.com.br/teologiadet.asp?codigo=2

sexta-feira, abril 22, 2016

Editora Vida Nova: Há mitos na Bíblia?

O texto que segue é da Revista Teologia Brasileira.

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Há mitos na Bíblia?

Os liberais sempre estiveram certos. Há mitos na Bíblia. Mitos eram abundantes no mundo religioso do Antigo Oriente ao redor de Israel, bem como nas religiões à época da Igreja apostólica do primeiro século. Por conseguinte, os escritores bíblicos registraram vários deles em suas obras.

No Antigo Testamento encontramos vários desses mitos. Há a crença dos cananeus de que existiam deuses chamados Astarote, Renfã, Dagom, Adrameleque, Nibaz, Asima, Nergal, Tartaque, Milcom, Astarote, Renfã e Baal.

Sobre este último, há o mito de que podia responder com fogo ao ser invocado por seus sacerdotes. Há também o mito egípcio de que o Nilo, o sol e o próprio Faraó eram divinos; o mito filisteu do rei-peixe Dagom; e que o Deus de Israel precisava de uma oferta de hemorróidas e ratos de ouro para ser apaziguado. Para não falar do mito cananeu da Rainha dos Céus, que exigia incenso e libações (bolos) dos adoradores (Jeremias 44.17-25).

Outro mito na Bíblia é que o sol, a lua e as estrelas eram deuses, mito esse que sempre foi popular entre os judeus e radicalmente combatido pelos profetas (IIReis 23.5,11; Ezequiel 8.16). O mito pagão de monstros e serpentes marinhas é mencionado em Jó, Salmos e Isaías, em contextos de luta contra o Deus de Israel, em que eles representam os poderes do mal, os povos inimigos de Israel (Jó 26.10-13; Salmos 74.13-17; Isaías 27.1).

A lista é enorme. Há muitos mitos espalhados pelos livros do Antigo Testamento.

O livro de Jó cita mitos de outros povos, como Rahab e Leviatã, mas não podemos imaginar que o autor, por isto, esteja dizendo que os aceita como verdade. Os profetas, apóstolos e autores bíblicos se esforçaram por mostrar que os mitos eram conceitos humanos, falsos, e em chamar o povo de Deus a submeter-se à revelação do Deus que se manifestou poderosa e sobrenaturalmente na História. Eles sempre estiveram empenhados em separar mitologia de história real, e invenções humanas da revelação de Deus. Elias desmitificou Baal no alto do Carmelo. Moisés também desmitificou o Nilo, o sol e o próprio Faraó, provando, pelas pragas que caíram, que a divindade deles era só mito mesmo. E quando ele queimou o bezerro de ouro e o reduziu a cinzas, desmitificou a idéia de que foi o bovino dourado quem tirou o povo de Israel do Egito. O próprio Deus se encarregou de derrubar o mito de Dagom, rei-peixe dos filisteus, quando a sua imagem caiu de bruços diante da Arca do Senhor e teve a cabeça cortada (ISamuel 5.2-7).

No Novo Testamento, o apóstolo Paulo se refere por quatro vezes aos mythoi (grego). Mitos são estórias profanas inventadas por velhas caducas (ITimóteo 4.7), que promovem controvérsias em vez da edificação do povo de Deus na fé (ITimóteo 1.4). Entre os próprios judeus havia muitas dessas fábulas, histórias fantasiosas (Tito 1.14). E já que as pessoas preferem os mitos à verdade (IITimóteo 4.4), Timóteo e Tito, a quem Paulo escreveu essas passagens, deveriam adverti-las, e eles mesmos deveriam se abster de se deixar envolver nesses mitos. A advertência era necessária, pois os cristãos das igrejas sob a responsabilidade deles vinham de uma cultura permeada por mitos.

O próprio Paulo se deparou várias vezes com esses mitos. Uma delas foi em Listra, quando a multidão o confundiu, juntamente com Silas, com os deuses do Olimpo e queria sacrificar-lhes (Atos 14.11). Outra vez foi em Éfeso, quando teve de enfrentar o mito local de que uma estátua da deusa Diana havia caído do céu, da parte de Júpiter, o chefe dos deuses (Atos 19.35). Em todas essas ocasiões, Paulo procurou afastar as pessoas dos mitos e trazê-las para a fé na ressurreição de Jesus Cristo. De acordo com Paulo, mitos são criações humanas, oriundas da recusa do homem em aceitar a verdade de Deus. Ao rejeitar a revelação de Deus, os homens inventaram para si deuses e histórias sobre esses deuses, que são as religiões pagãs (Romanos 1.17-32).

Pedro também estava perfeitamente consciente do que era um mito. Quando ele escreve aos seus leitores acerca da transfiguração e da ressurreição de Jesus Cristo, faz a cuidadosa distinção entre esses fatos que ele testificou pessoalmente e mithoi , “fábulas engenhosamente inventadas” (2Pe 1.16). Ele sabia que a história da ressurreição poderia ser confundida com um mito, algo inventado espertamente pelos discípulos de Jesus. Ao que parece, Paulo e Pedro, juntamente com os profetas e autores do Antigo Testamento, estavam perfeitamente conscientes da diferença entre uma história real e outra inventada.

Dizer que os próprios autores bíblicos criaram mitos significa dizer que eles sabiam que estavam mentindo e enganando o povo com estórias espertamente inventadas por eles. Seus escritos mostram claramente que eles estavam conscientes da diferença entre uma história inventada e fatos reais. Através da História, os cristãos têm considerado o mito como algo a ser suplantado pela fé na revelação bíblica, que registra os poderosos atos de Deus. Equiparar as narrativas bíblicas aos mitos pagãos é validar a mentira e a falsidade em nome de Deus. É adotar uma mentalidade pagã e não cristã.

Existe, naturalmente, uma diferença entre o mito neoliberal e os contos que aparecem na Bíblia. Há várias histórias na Bíblia, criadas pelos autores bíblicos, que claramente nunca aconteceram. Contudo, elas nunca são apresentadas como história real, como fatos reais sobre os quais o povo de Deus deveria colocar sua fé, mas como comparações visando ilustrar determinados pontos de fé, ou linguagem figurada. São as parábolas, os contos, como aquela história do espinheiro falante contada por Jotão (Juízes 9.7). Há também a poesia, quando se diz que as estrelas cantam de júbilo, que Deus cavalga querubins e viaja nas asas do vento. Os salmos contêm muito disso. Quando os neoliberais deixam de reconhecer a diferença entre mitos e gêneros literários que usam licença poética e linguagem figurada, fazem uma grande confusão.

Eu disse que a atitude dos profetas, apóstolos e autores bíblicos em relação ao mito foi de desmitificação . Eu sei que dizer isso é anacrônico, pois foi somente no século passado que Rudolph Bultmann propôs seu famoso programa de desmitificação da Bíblia. Ele achava que havia mitos na Bíblia e que era preciso separá-los da verdade. Mas, antes dele, os próprios profetas, apóstolos e autores bíblicos já haviam manifestado essa preocupação. É claro que eles e Bultmann tinham conceitos diferentes. Mas se ao fim o mito é uma história de caráter religioso que não tem fundamentos na realidade e que se destina a transmitir uma verdade religiosa, eles não são, de forma alguma, uma preocupação exclusiva de teólogos modernos.

Vejam então que o programa de desmitificação começou muito antes de Bultmann! Começa na própria Bíblia, que nos chama a separar a verdade do erro.

Fonte: http://www.teologiabrasileira.com.br/teologiadet.asp?codigo=36