31/10/25

Vá para a luz

      “Envia a tua luz e a tua verdade, para que me guiem e me levem ao teu santo monte, e aos teus tabernáculos.Salmos 43.3

      É triste como tantos cristãos têm ido para as trevas. Isso significa que muitos cristãos mudaram para pior? Não, significa que não mudaram para melhor, que na melhor circunstância, ficaram iguais, não cresceram. Os tempos urgem, pedem crescimento, pedem maturidade, simplesmente porque a luz limitada que trouxe o cristianismo até aqui não é mais suficiente. Limitada pelos seres humanos, que ainda não podiam receber a verdade mais alta, ainda que em Jesus, a verdade mais alta, tenha sido entregue à humanidade há quase dois mil anos. Mas limitada por Deus, que sabia que a humanidade, pelo menos não sua maioria, não estava preparada para toda a verdade. Deus revela-se gradativamente com amor paciente.
      Muitos podem contra-argumentar: "como assim, cristãos em trevas, nunca houve tanta igreja evangélica no Brasil, e o número de evangélicos é tão expressivo que elege presidente e outros cargos, isso é a luz iluminando o país". Bem, na idade média a maioria da humanidade ocidental era católica, ainda assim havia intolerância, perseguição, negacionismo científico, apoio da Igreja a reis corruptos, uma maioria religiosa na sociedade não significa que haja bem e verdade legítimos com ela. Mas o principal são os frutos: temos visto frutos de santidade, amor e humildade nessa massa de cristãos atuais? Ou só materialismo buscando satisfação pela fé? E os líderes a quem essa massa apoia, são de fato espirituais no exemplo do Cristo?
      Ouvi uma “líder” protestante dizer: “o ex-presidente é homem íntegro, apesar do seu jeito, é honesto, defensor da moral da tradição judaico-cristã”. A mentira funciona assim, para ser mantida deve ser reinventada cada vez que é confrontada com a verdade, a mentira original nunca se sustenta. A tal “líder” é alguém engajado há décadas com o protestantismo e há alguns anos com política de extrema direita. Mas quem conhece sua história sabe que ela foi se desviando do evangelho de Jesus aos poucos, ainda que sempre ligada oficialmente à religião cristã. Quem conhece sabe que é alguém materialista, cético, arrogante, que desistiu de pedir perdão, assim também de dar perdão, alguém infeliz, amargo, solitário, alguém em trevas. 
      Não gosto de compartilhar experiências muito pessoais, também não acho sábio relatar exemplos ruins, isso meio que amarra alguém ao mal, a escolhas erradas. Não sabemos, ainda que devamos esperar, quando alguém vai se arrepender e voltar a ser amigo de Deus, fazer a escolha certa. A vida é longa e Deus sempre dá novas oportunidades. Infelizmente muitos não mudarão de opinião, não neste mundo, poderão acabar suas jornadas numa situação ruim, passando aqui mais tempo que necessário. Quando a morte demora é porque se demora para viver certo. Deus aguarda até o último instante que estejamos na luz mais alta. O que crê estar na luz, pratique amor, não condene, não feche portas, esteja disponível para ser luz até o fim. 

José Osório de Souza, 8/03/2023

30/10/25

Eternidade interior

      “Por isso não desfalecemos; mas, ainda que o nosso homem exterior se corrompa, o interior, contudo, se renova de dia em dia. Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós um peso eterno de glória mui excelente; não atentando nós nas coisas que se vêem, mas nas que se não vêem; porque as que se vêem são temporais, e as que se não vêem são eternas.II Coríntios 4.16-18

      Nosso mundo espiritual é interior, definido por qualidade moral, dessa forma céu e inferno constroem-se aqui, no mundo material, à medida que praticamos e persistimos em praticar as obras da carne ou o fruto do Espírito (Gálatas 5.19-22). Na eternidade, essa verdade interior não achará uma região externa para residir, Deus está em tudo e atrai todos ao seu melhor, a luz mais alta nas regiões espirituais mais elevadas em Cristo. Contudo, aquilo que ficou escondido aqui será manifestado lá, infernos individuais dos rebeldes e orgulhosos serão materializados (por falta de termo melhor) para esses, de dentro para fora, então esses serão atraídos a outros seres em disposição semelhante. Ninguém vive só, mais ainda os atormentados.
      No ajuntamento de pares há o inferno geral ou coletivo, em seu amor Deus permite locais assim (como os porcos que Jesus autorizou aos demônios em Mateus 8.28-32). O inferno que há na eternidade é o inferno interior que o ser leva com ele. Se infernos são variáveis, excepcionais, até subjetivos, ainda que a teologia protestante diga diferente, céu é eterno e imutável. Os que perseveraram no fruto do espírito subirão à luz mais alta, acharão consonância na presença de Deus e dos servos de luz do Altíssimo, porque foi isso que buscaram no mundo. Infernos pessoais no mundo podem ser camuflados, torturados disfarçam-se com prazeres e vaidades da carne. Céu não se esconde, nem aqui, luz revela-se ainda que em amor e discrição. 
      Não é a primeira vez que toco neste tema, mas a orientação é o mesma para outros assuntos bíblicos, pararmos de interpretar as coisas ao pé da letra, como os antigos faziam. Contudo, acredito que mesmo Moisés tinha consciência que os registros de Gênesis que fez, baseados em informações chegadas a ele por tradição oral, eram mitos, não acontecimentos concretos, ainda que antigos confundissem mito e história. Mas se não nos colocarmos na luz que Deus quer nos pôr hoje como cristãos, continuaremos sendo ignorantes e extremistas, negando verdades como as que a ciência tem entregue. Não é Deus quem muda, Deus sempre soube que o homo sapiens não foi criado num instante mágico, mas foi fruto de demorada evolução.
      Sobre o tema, não é só questão de entendimento técnico sobre o que é céu e inferno, que são internos, não externos. O ponto principal é entender que um Deus de amor, de luz, de paz, de bem, não pode condenar os seres humanos para sempre, quem pode se condenar para sempre é o próprio ser humano, quando se mantém rebelde, orgulhoso, cruel, ou então, por outro lado, acusado, magoado, amarrado. A escolha é sempre do ser, escolha errada mantém nas trevas, o mal só os maus fazem, Deus sempre chama à luz e ao bem. Não posso “detalhar” mais certas coisas, senão desobedeço a voz de Deus, que me orienta a escrever aqui a protestante, evangélico e pentecostal, assim não devo escandalizar quem posso alimentar...

29/10/25

“Te porei contra este povo”

      “Por que dura a minha dor continuamente, e a minha ferida me dói, e já não admite cura? Serias tu para mim como coisa mentirosa e como águas inconstantes? Portanto assim diz o Senhor: Se tu voltares, então te trarei, e estarás diante de mim; e se apartares o precioso do vil, serás como a minha boca; tornem-se eles para ti, mas não voltes tu para eles. E eu te porei contra este povo como forte muro de bronze; e pelejarão contra ti, mas não prevalecerão contra ti; porque eu sou contigo para te guardar, para te livrar deles, diz o Senhor. E arrebatar-te-ei da mão dos malignos, e livrar-te-ei da mão dos fortes.Jeremias 15.18-21

      Uma leitura mais atenta no texto bíblico inicial, sobre o qual já refleti aqui outras vezes, visto ser uma passagem que fala comigo há muito tempo, pode nos mostrar contradições, um jogo de palavras, de conceitos opostos, mas que tem na voz do Espírito Santo revelações importantes. Nas primeiras frases é o homem falando com Deus, o profeta, Jeremias, ou esse se colocando no lugar da nação de Israel naquele momento. O homem reclama de seu sofrimento, duvida mesmo de Deus. Quem de nós já não se sentiu assim? Mas a esses reclames Deus responde, iniciando com uma afirmação típica de textos proféticos do velho testamento “assim diz o Senhor: se tu voltares, então te trarei e estarás diante de mim“. 
      Temos que tomar a iniciativa, ao menos o primeiro passo, isso mostra para Deus que aprendemos com a prova, que nos arrependemos de nosso pecado, que o queremos, do jeito que ele é, não como desejamos que ele seja em nossa rebeldia. Quando fazemos nossa parte Deus faz a dele, e a dele é poderosa. Então, há no texto uma orientação sobre nossa iniciativa com certos homens, que parece ser oposta a dada sobre nossa iniciativa com Deus, “tornem-se eles para ti, mas não voltes tu para eles”. Não use essa afirmação como regra, busque em Deus quando e com quem segui-la, mas a verdade é que de certas pessoas temos que nos afastar, não por orgulho, mas com sabedoria, obedecendo a voz do Espírito Santo. 
      Então temos uma terceira afirmação de Deus que parece soar como contradição: “eu te porei contra este povo como forte muro de bronze; e pelejarão contra ti, mas não prevalecerão contra ti; porque eu sou contigo para te guardar”. Tenhamos cuidado para usar estas palavras, já que podemos ter a tendência doentia de nos acharmos ou vítimas ou justiceiros, coisas opostas, mas que podem ser esconderijos para almas mal resolvidas. Vermo-nos como vítimas nos entrega o álibi de jogar nos outros responsabilidades que são nossas. Já nos acharmos justiceiros nos dá o direito equivocado de fazermos prevalecer a justiça nossa, como se tivéssemos uma visão mais clara da vida, de Deus, da verdade, que os outros.
      Com santidade e amor podemos receber do Senhor esclarecimentos diferenciados, isso é certo, mas ter intimidade com o Altíssimo nos faz mais humildes, mais controlados, mais calados, mais misericordiosos. O texto não diz que nós devemos nos colocar contra os outros, mas que Deus nos coloca contra alguns, e mais, que esses se oporão duramente contra nós, tentarão nos destruir, roubar o que somos e temos. Mas a vitória não está em agredirmos o inimigo, mas em deixarmos que Deus lute por nós e faça prevalecer a verdade na qual vivemos, que não é a nossa verdade, mas a do Senhor. “Arrebatar-te-ei da mão dos malignos, e livrar-te-ei da mão dos fortes”, estejamos em Deus e descansemos, Deus é quem nos livra. 
      De “inimigos” até podemos fugir, mas de Deus, não! Se Deus nos orienta, com o texto bíblico inicial, que pode nos colocar contra certas pessoas, então, temos que aceitar isso como tendo um propósito bom. Tudo que Deus permite, mais que como disciplina, mas como prova, nos faz mais fortes. Permissão divina para que certos opositores nos confrontem permite que sejam criados em nós “anticorpos” morais, assim espirituais, e é assim porque não há outro jeito. Aceite a oposição, não com mágoa, com autocomiseração ou com ódio, mas com a mais profunda humildade em amor. Só resista a tentar vencer a oposição com tuas forças, controle-se e deixe o Senhor agir no tempo. No final será um ser preparado para a melhor eternidade.

28/10/25

Pão ou brioche?

      “Então foi conduzido Jesus pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo diabo. E, tendo jejuado quarenta dias e quarenta noites, depois teve fome; e, chegando-se a ele o tentador, disse: Se tu és o Filho de Deus, manda que estas pedras se tornem em pães. Ele, porém, respondendo, disse: Está escrito: Nem só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus.Mateus 4.1-4
      “E Jesus, cheio do Espírito Santo, voltou do Jordão e foi levado pelo Espírito ao deserto; e quarenta dias foi tentado pelo diabo, e naqueles dias não comeu coisa alguma; e, terminados eles, teve fome. E disse-lhe o diabo: Se tu és o Filho de Deus, dize a esta pedra que se transforme em pão. E Jesus lhe respondeu, dizendo: Está escrito que nem só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra de Deus.” Lucas 4.1-4

      Aos que creem que só soluções extraordinárias são respostas de Deus para problemas, os textos acima são emblemáticos. Na verdade, nesse caso, quem orientou que se solicitasse a Deus um milagre foi o próprio diabo. Havia legitimidade na orientação? Sim, Jesus estava há quarenta dias em jejum, além disso, Jesus sabia que Deus tinha amor e poder para transformar pedras em pães. Mas Jesus, em sua sabedoria mais alta, respondeu com um texto bíblico (Deuteronômio 8.3). Naquela situação específica, a vontade melhor de Deus não era responder com milagre físico, mas levar Jesus a viver a lição melhor. Alimento espiritual é mais importante que o material, ainda que muitas vezes crer em milagre físico possa parecer mais fácil.
      A palavra de Deus é vida! Mas será que temos pago o preço para ouvi-la? Orar é bem mais que entregar a Deus relatórios de necessidades e agradecimentos, orar é muito mais que falar, orar é ouvir, não qualquer voz, mental ou espiritual, mas a voz do Santo Espírito. Como em toda relação de amizade, aprender a ouvir a voz de Deus não é algo que ocorre de um dia para o outro, é preciso paciência, obediência, santidade. O segredo do mistério é descansar profundamente a alma, purificando-se com perdões e livrando-se de apegos e expectativas, segredo que religiosos orientais utilizam mais que cristãos. Na serenidade de um coração santo e de uma mente bem intencionada, ouvimos o Senhor. Como alimenta essa voz única, mais que pão. 
      “Que comam brioche”, é uma frase supostamente atribuída à Maria Antonieta, quando lhe disseram que os pobres não tinham pão para comer. Bem, brioche é mais caro que pão francês, se os pobres não tinham condições de adquirir pão simples, quanto mais outros alimentos. Esta reflexão interpreta os textos bíblicos iniciais sob outro aspecto, e com certeza não é para todos, visto que muitos atualmente mal conseguem ganhar para comprar o pão do dia. Contudo, até que ponto estamos nos matando de trabalho, não para comprar pães, que já saciariam nossa fome, mas para comprar brioche? Ou estendendo a simbologia, não basta um aparelho de TV, uma casa simples, para que gastar tempo para mais? Só para nos ostentarmos? 
      Quem é autônomo ou empresário, sabe que um dia pode ter muito serviço e outro dia não, não se tem salário fixo, assim é difícil negar trabalho, mesmo quando se está com agenda abarrotada. Contudo, como amigos de Deus, que entendem que a passagem por este mundo não é para acumular bens materiais, mas para aperfeiçoamento moral, temos que saber dizer não. Muitas vezes temos o pão, mas queremos brioche, nesse ponto passamos o limite de sobrevivência digna para o de luxo vaidoso. Isso sobrecarrega-nos, se é além do que precisamos é além do que podemos suportar, assim pode nos adoecer fisicamente e enfraquecer nosso espírito, já que gastamos tempo e energia, que poderíamos usar para orar e nos santificar, com outros trabalhos. 

27/10/25

Vestes brancas

      “E, havendo aberto o quinto selo, vi debaixo do altar as almas dos que foram mortos por amor da palavra de Deus e por amor do testemunho que deram. E clamavam com grande voz, dizendo: Até quando, ó verdadeiro e santo Dominador, não julgas e vingas o nosso sangue dos que habitam sobre a terra? E foram dadas a cada um compridas vestes brancas e foi-lhes dito que repousassem ainda um pouco de tempo, até que também se completasse o número de seus conservos e seus irmãos, que haviam de ser mortos como eles foram.” Apocalipse 6.9-11

      “E um dos anciãos me falou, dizendo: Estes que estão vestidos de vestes brancas, quem são, e de onde vieram? E eu disse-lhe: Senhor, tu sabes. E ele disse-me: Estes são os que vieram da grande tribulação, e lavaram as suas vestes e as branquearam no sangue do Cordeiro. Por isso estão diante do trono de Deus, e o servem de dia e de noite no seu templo; e aquele que está assentado sobre o trono os cobrirá com a sua sombra. Nunca mais terão fome, nunca mais terão sede; nem sol nem calma alguma cairá sobre eles. Porque o Cordeiro que está no meio do trono os apascentará, e lhes servirá de guia para as fontes das águas da vida; e Deus limpará de seus olhos toda a lágrima.Apocalipse 7.13-17

      Não farei um estudo escatológico do texto acima, detalhando interpretações sobre tribulação, tentando entender se os que vieram dela são os que não foram arrebatados, por isso tiveram que pagar um preço maior por salvação. Vou só pinçar alguns ensinos que são benéficos a todos, independente de teológicas tecnicidades. Santidade aqui no mundo conquista os seguintes privilégios lá na eternidade: servir os outros e ser cuidado por Deus. Tudo na existência é trabalho, saindo de esforços materiais e chegando aos espirituais, passando pelos intelectuais e artísticos. Mas o texto acima é um consolo, todo sofrimento passado aqui do jeito certo, será recompensado lá, onde não haverá fome, sede e qualquer tipo de desconforto físico, só o refrigério de um Deus próximo. 
      Santificação é algo mal entendido, por cristãos e por céticos. Ser realmente santo não se é sozinho, ou vivendo só uma religião intelectual ou de homens. É preciso comunhão íntima com Deus, conexão persistente com o Espírito Santo, não só para começar a ser santo, como para manter e aprofundar a santidade exigida à medida que se amadurece em Deus. Vestes brancas, que o texto bíblico se refere, não são vestimentas sobre o corpo, espírito não precisa de roupa, ainda que João em seu entendimento de cristão do primeiro século tenha interpretado assim. É o “corpo” do próprio espírito, que iluminado com a santidade moral mais elevada adquire brancura ímpar. Só na eternidade saberemos quem tem essas vestes.
      Quem quer ter vestes brancas, quem quer se santo, não precisa de desculpas para isso, nem em liberalismo de um falso amor divino, nem em extremismo religioso intolerante. Quem busca de coração as vestes brancas faz porque ama a Deus e sabe que é amado por ele, assim quer estar limpo para agradar o pai. Vou dizer algo que pode escandalizar muitos, quem de fato quer ser santo não o faz para merecer o céu ou por temer o inferno. Pelo contrário, quem quer santidade só para ser salvo e não condenado, pode até perseguir a limpeza moral, mas terá dificuldade em tê-la, ou não conseguirá mantê-la por muito tempo, assim, corre o risco de se revoltar e se tornar, ou um hipócrita falso moralista, ou um cético frio e imoral.
      Apocalipse 6.9-11 cita vestes brancas relacionadas aos que morreram por defenderem a justiça de Deus mas isso em tempos passados. (Parecem ser pessoas diferentes das citadas em Apocalipse 7.13-17, aliás Apocalipse 6.9-11 pode citar as pessoas de Apocalipse 7.13-17 quando diz haviam de ser mortos como eles foram). Enfim, vestes brancas parecem ter um preço, mas será que é só o de vidas físicas sacrificadas em perseguição? Para o escritor João do primeiro século, acostumado a guerras como meio de enriquecimento e expansão territorial de reinos, onde matar e morrer era comum, parece que era. Contudo, atualmente podemos ter que nos sacrificar de formas mais subjetivas pela justiça de Deus, ainda que caras também. 

26/10/25

Guarda o que tens (4/4)

      “E ao anjo da igreja que está em Filadélfia escreve: Isto diz o que é santo, o que é verdadeiro, o que tem a chave de Davi; o que abre, e ninguém fecha; e fecha, e ninguém abre: Conheço as tuas obras; eis que diante de ti pus uma porta aberta, e ninguém a pode fechar; tendo pouca força, guardaste a minha palavra, e não negaste o meu nome.
      Eis que eu farei aos da sinagoga de Satanás, aos que se dizem judeus, e não são, mas mentem: eis que eu farei que venham, e adorem prostrados a teus pés, e saibam que eu te amo. Como guardaste a palavra da minha paciência, também eu te guardarei da hora da tentação que há de vir sobre todo o mundo, para tentar os que habitam na terra.
      Eis que venho sem demora; guarda o que tens, para que ninguém tome a tua coroa. A quem vencer, eu o farei coluna no templo do meu Deus, e dele nunca sairá; e escreverei sobre ele o nome do meu Deus, e o nome da cidade do meu Deus, a nova Jerusalém, que desce do céu, do meu Deus, e também o meu novo nome. Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas.” 
Apocalipse 3.7-13

      Das palavras proféticas que João dá às sete igrejas, a palavra à igreja de Filadélfia cai em mim como uma luva, mas contêm ensinos úteis a todos. Já refleti sobre essa passagem (link), mas sinto de atualizar o entendimento. O primeiro ensino é porta aberta, uma saída que Deus nos dá, que por vir dele não pode ser fechada, que muitas vezes esperamos por anos, que soluciona questões de forma bem específica. Outros dois ensinos complementam esse, conheço as tuas obras e tendo pouca força guardaste a minha palavra. É consolador sabermos que Deus sabe que estamos fazendo o que podemos para acertar, que não o negamos, ainda que sejamos limitados. É o humilde, ciente de seus limites, que Deus cuida de forma especial. 
      Contrapondo ao pequeno em Deus, a palavra cita os grandes neste mundo, da sinagoga de Satanás que se dizem judeus e não são. Enquanto alguns têm pouco e fazem muito, outros têm muito e fazem pouco, mas pior, mentem dizendo que fazem bastante. Cada ser humano tem o inimigo que precisa, não para humilhá-lo, mas para vencê-lo com humildade e ser honrado. Os que se acham protegidos, não no mundo, mas nas igrejas, podem ser os mais expostos. A palavra cita sinagoga de Satanás, assim é gente religiosa, não ateus e céticos. Segue um ensino sério, farei que adorem a teus pés e saibam que eu te amo, o humilde, que só tem Deus como bem, terá glória depois, penso que essa palavra é mais para o outro mundo. 
      Finalmente a palavra profética fala da proximidade do juízo, agora a promessa é para este mundo, como guardaste a palavra da minha paciência, também eu te guardarei da hora da tentação que há de vir sobre todo o mundo. Enquanto muitos reagem a um juízo final de maneiras diferentes, negando-o ou postando-se como vencedores nele, outros pacientemente se calam, não levantam bandeiras de homens, não se deixam enganar com falsas profecias. Todavia não duvidam da Bíblia, sabem que não sabem tudo, mas têm certeza que são amigos de Deus. Guarda o que tens para que ninguém tome a tua coroa, há momentos que é melhor parar e se proteger, que se expor e correr o risco de perder o pouco que se ganhou até o momento. O sábio discernirá esse momento. 
      O que importa quando lemos sobre juízo final e últimos tempos na Bíblia? Importa reagirmos a esses textos seguindo o exemplo de prática de vida de Jesus homem. Importa como nos preparamos para o que possa ser interpretado nesses textos, indiferente da tecnicidade escatológica usada no entendimento deles. Muitos ficam encantados com estudos do Apocalipse, cultos com teólogos especialistas nas semanas de Daniel, no arrebatamento e em grande tribulação, abarrotam templos. É claro que esses temas ainda perdem para os assuntos campeões em muitas igrejas, fé na fé e milagre material. Mas será que o interesse é o mesmo quando se prega amar inimigos, humildade e santidade, ensinos que vão além de não beber e não adulterar? 
      Adorar a Bíblia não é necessariamente adorar a Deus, ao contrário, ser obcecado pela palavra escrita pode conduzir mais ao desvio, que ao Altíssimo, vide exemplo de líderes religiosos judeus que perseguiram e mataram Jesus, eram especialistas nas escrituras. Ainda assim, com exemplo tão claro e bíblico, muitos cristãos se consideram hoje sinceramente mais espirituais que outras pessoas, porque se acham obedientes fiéis a tudo que a Bíblia manda, principalmente nas questões de família e sexualidade. Se ouvem algo que pensam ir contra a Bíblia já consideram diabólico e herético. Sinagoga de Satanás, se dizem judeus, mas mentem, quem são esses hoje? São eles? Nós? Você? Eu? A isso, os frutos de cada um podem responder. 

25/10/25

Terrível é o Santíssimo (3/4)

      “Chegai-vos a Deus, e ele se chegará a vós. Alimpai as mãos, pecadores; e, vós de duplo ânimo, purificai os corações. Senti as vossas misérias, e lamentai e chorai; converta-se o vosso riso em pranto, e o vosso gozo em tristeza. Humilhai-vos perante o Senhor, e ele vos exaltará.Tiago 4.8-10

      Há exemplos na Bíblia de homens que tiveram experiências mais próximas com Deus e temeram e tremeram, abaixo citei alguns. Por que devemos ter medo de Deus? Não é porque ele tenha poder sobre o universo físico, mas porque ele tem virtudes morais elevadas, ama sempre, mas principalmente, é Santíssimo, nele não há mal, só o bem. Algo importante precisa ser dito: coisas espirituais são percebidas por pessoas espirituais, assim, não sentem o impacto da santidade de Deus os meramente religiosos, moralistas, mesmo os que se guardam dos apetites do corpo e das paixões do mundo, esses necessariamente não são os mais espirituais, portanto, mais aptos para perceberem a elevação moral do Altíssimo. 
      Ainda que essas coisas possam ser efeitos de espiritualidade, não são causas dela, porque elas usam como referência conceitos humanos sobre santidade. Deus só é percebido por Deus! Só nos conectamos com Deus pelo seu Santo Espírito. Só tememos a Deus do jeito certo, com temor espiritual, estando perto da presença mais elevada de Deus, onde reside sua santidade mais pura. Deus é santo em sua totalidade, não é só em parte, mas ele está em todos os lugares, para administrar todos, incluindo os que se rebelam contra ele e se colocam em trevas. Assim, nas regiões para onde fogem os impuros, não podemos sentir a santidade mais alta de Deus, se não fosse assim ninguém resistiria, ninguém teria livre arbítrio ainda que para não ser santo.
      Aos que querem e se preparam, as regiões espirituais mais elevadas são acessíveis, e esses, pelo menos no nível espiritual do ser humano dos últimos milênios, sentem o que Isaías, Ezequiel e Daniel sentiram, temor e tremor, físico, mental, emocional, mas influenciados por conexão espiritual do ser humano com uma expressão mais alta de Deus. Não é simples arrepio na espinha, ou medo do desconhecido, digo a céticos que existem mesmo no meio cristão, antes é o fogo que arde e que não queima atingindo nossa essência espiritual, à semelhança da sarça ardente que Moisés testemunhou (Êxodo 3.2). Terrível é o Santíssimo! Quem não sentir isso no mundo, ainda que de forma limitada, mas por livre arbítrio e em amor, sentirá no juízo. 
      Nos humilharmos diante de Deus, o que é? É algo que não pode ser encenado, fingido, e para isso deve ser experiência de duas vias, buscamos a Deus e Deus deixa-se achar. A experiência é interior, de dentro para fora no sentido humano, mas provando ação espiritual de Deus no interior. Deus está em todo lugar, mas comunica-se conosco pelo nosso espírito, que passa a informação à nossa mente e aos nossos sentidos para que entendamos emocional e racionalmente. Ainda que Deus saiba de tudo e não precise de nossa mente e de nossos sentidos para saber o que pensamos e sentimos, precisamos experimentar algo de forma profunda na mente e nos sentidos para impressionarmos nosso espírito e esse comunicar-se com Deus.
      O entendimento sobre nossa comunicação com Deus permite-nos saber que nos humilharmos diante de Deus é provar a santidade de Deus, primeiro espiritualmente e depois em nossos pensamentos e emoções. Isso nos faz temer e tremer de forma profunda e singular. Chorar por si só não é se humilhar, “lágrimas de crocodilo” não quebrantam nosso espírito e não tocam a Deus, da mesma forma que muitos êxtases que o ser humano prova não são espirituais, ainda que sejam em templos e durante cultos. Experiência religiosa não é necessariamente espiritual, experiência espiritual não é necessariamente com o Santo Espírito, mas toda experiência íntima com Deus impressiona nossa mente e nossos sentidos de forma terrível. 

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      “E clamavam uns aos outros, dizendo: Santo, Santo, Santo é o Senhor dos Exércitos; toda a terra está cheia da sua glória. E os umbrais das portas se moveram à voz do que clamava, e a casa se encheu de fumaça. Então disse eu: Ai de mim! Pois estou perdido; porque sou um homem de lábios impuros, e habito no meio de um povo de impuros lábios; os meus olhos viram o Rei, o Senhor dos Exércitos.” Isaías 6.3-5
      “Como o aspecto do arco que aparece na nuvem no dia da chuva, assim era o aspecto do resplendor em redor. Este era o aspecto da semelhança da glória do Senhor; e, vendo isto, caí sobre o meu rosto, e ouvi a voz de quem falava.” “E disse-me: Filho do homem, põe-te em pé, e falarei contigo. Então entrou em mim o Espírito, quando ele falava comigo, e me pós em pé, e ouvi o que me falava.” Ezequiel 1.28, 2.1-2
      “Fiquei, pois, eu só, a contemplar esta grande visão, e não ficou força em mim; transmudou-se o meu semblante em corrupção, e não tive força alguma. Contudo ouvi a voz das suas palavras; e, ouvindo o som das suas palavras, eu caí sobre o meu rosto num profundo sono, com o meu rosto em terra. E eis que certa mão me tocou, e fez com que me movesse sobre os meus joelhos e sobre as palmas das minhas mãos.” Daniel 10.8-10

24/10/25

Você está preparado? (2/4)

      “— Ao cair da tarde, o dono da vinha disse ao seu administrador: "Chame os trabalhadores e pague-lhes o salário, começando pelos últimos, indo até os primeiros." Chegando os que foram contratados às cinco da tarde, cada um deles recebeu um denário. Ao chegarem os primeiros, pensaram que receberiam mais; porém também estes receberam um denário cada um. Mas, tendo-o recebido, começaram a murmurar contra o dono das terras, dizendo: "Estes últimos trabalharam apenas uma hora, mas você os igualou a nós, que suportamos a fadiga e o calor do dia." — Então o dono disse a um deles: "Amigo, não estou sendo injusto com você. Você não combinou comigo trabalhar por um denário? Pegue o que é seu e saia daqui. Pois quero dar a este último tanto quanto dei a você. Será que não me é lícito fazer o que quero com o que é meu? Ou você ficou com inveja porque eu sou bom?" — Assim, os últimos serão primeiros, e os primeiros serão últimos.Mateus 20.8-16

      Por favor, leia todo o capítulo vinte de Mateus para melhor entendimento, usarei a passagem na reflexão, mas sem fazer estudo bíblico minucioso. 

      Você está preparado para o juízo? Eu não estou, mas tento me preparar o máximo que posso. Não, não há incredulidade nessa minha resposta, penso que ela é a mais coerente para quem busca se aproximar mais da luz do Altíssimo. Espiritualidade não nos faz sentir mais puros, mas mais impuros, quanto mais pedimos perdão, mais culpados nos sentimos, e entenda isso também do jeito correto. Não significa que eu não tenha paz, tenho, e cada vez mais, mas ela também se torna cada vez mais sensível, pouca coisa me faz perdê-la. Quem chega à velhice forte, em si mesmo, com todas as respostas e certezas, não se aproximou de Deus. Chegar ao final da vida mais fragilizado é o que agrada a Deus, ainda que vencendo mais o pecado.
      A verdade é que há um antagonismo trágico, muitos que têm certeza de aprovação de Deus, podem até ser aprovados por religião, mas na certeza pode haver arrogância, assim, preconceito e intolerância com quem não tem certeza ou não dá relevância para ela. Já muitos que não têm certeza e sofrem com isso do jeito certo, lutando para serem melhores, para serem dignos pelo menos do último lugar na fila de entrada do Paraíso, podem ser os primeiros a entrar nele. O ensino da passagem acima é: Deus não nos recompensa só pela quantidade que fazemos, mas pela qualidade, Deus não nos aprovará pelo que aparentamos fazer diante de homens no mundo, mas pelo que fazemos dentro de nós, pela misericórdia dele e para ele. 
      Estamos preparados para o juízo? Vaidosos e arrogantes nunca estão preparados, ainda que assíduos em cultos, trabalhadores em igrejas e defensores da moralidade da tradição judaico-cristã. Sabemos que fazemos as coisas do jeito certo, que serão bem avaliadas por Deus no juízo, quando não nos comparamos com os outros, quando não condenamos quem achamos que anda errado, ou invejamos quem achamos que anda certo, ainda que possamos condenar também esses para não admitirmos a nós mesmos que eles andam mais certos que nós. Quem está bem preparado para o juízo é humilde e sabe amar, assim acha e segura paz e santidade, porque recebe misericórdia e dá misericórdia, persevera e reconhece perseverança alheia.
      Confesso, que como protestante/evangélico desde 1976 (quando tinha 16 anos), tive fases diferentes com percepções diferentes sobre “certeza de salvação” e lugar no céu. No início, como batista tradicional, me achava na obrigação de ter certezas e de saber tudo, assim não tinha dúvidas sobre ser um salvo destinado ao céu. Na prática, contudo, esse foi meu pior tempo de vida, cheio de secretos erros e dores. Depois perdi o medo, pensava, o que vier, Deus sabe, todavia, não sofria tanto com possibilidades ruins. Esse momento coincidiu com um tempo de busca e assunções pessoais onde de fato me conheci. Mas de uns anos para cá achei coerência entre fé e obras, também conquistei qualidade moral, esta reflexão reflete o que penso hoje.
      Talvez o ponto não seja termos certeza de como será a outra vida e de onde estaremos lá, mas estarmos convictos que somos amigos de Deus nesta vida. Quando confiamos num amigo, se ele disser que vai nos levar a um lugar bacana nós vamos, mesmo sem saber detalhes do lugar. O que importa é que somos amigos próximos de alguém que quer o nosso bem. Será que importa sermos o primeiro da fila, já que sabemos que o dono da festa é nosso amigo? O primeiro da fila é visto pelos outros, mas pode estar lá de maneira equivocada, assim poderá até passar mais vergonha se o dono negar sua entrada à festa. O de fato amigo de Deus não tem carência de ser visto pelos homens, espera paciente e humildemente sua vez.

23/10/25

É vinda a hora do juízo (1/4)

      “Dizendo com grande voz: Temei a Deus, e dai-lhe glória; porque é vinda a hora do seu juízo. E adorai aquele que fez o céu, e a terra, e o mar, e as fontes das águas.Apocalipse 14.7 

      O ser humano tem perdido o medo de Deus. O lado positivo é que o humanismo libertou as pessoas do medo de um “Deus” imposto por religião, mais que isso, medo de conhecimentos pseudo-científicos que religião impunha por não discordarem de suas interpretações de seus textos sagrados. Mas diferente do que pensam ateus, o humanismo não “matou” Deus, matou a religião infantil que pregava um "Deus" limitado. Agora o ser humano está livre, ainda que aprendendo na religião o básico sobre Cristo, para ter uma experiência pessoal e interior com o Espírito do Deus verdadeiro, sem imposição externa. O lado negativo é que muitos, não sabendo administrar a liberdade, simplesmente desconsideram Deus, sua elevação moral, seu juízo que virá a todos. 
      Vamos supor que você resida em Ribeirão Preto, São Paulo, e tenha que fazer uma viagem até São Paulo, capital. Se você for uma criança, a orientação é: faça a viagem com seus pais ou responsáveis, eles te levarão ao destino. Se você for um adulto poderá ir de ônibus ou de carro. De ônibus terá que chegar antes numa rodoviária, pegar o transporte e chegar em outra rodoviária. Já de carro poderá sair na hora que desejar, poderá parar no caminho para um café num lugar da tua escolha, e viajar, não só até a rodoviária do destino, mas exatamente até o endereço do destino. Dos dois jeitos o trajeto principal é feito, dos dois jeitos o destino não muda, mas como adultos temos certos direitos, até mais escolhas, mas também mais deveres. 
      Com todos os erros, violências, manipulações e enganos que catolicismo e protestantismo cometeram, ainda assim eles pregaram e pregam a Cristo, posição espiritual mais elevada, que nos dá acesso direto ao Altíssimo, através do Espírito Santo, em quem não há mentira ou desvio. Para isso vale textos como o inicial, exortando sobre um Deus único e todo-poderoso que avaliará a trajetória de todos os seres humanos neste mundo. Os princípios principais do texto nunca mudarão, mas, adulto, o ser humano hoje pode saber detalhes e assumir responsabilidades que como criança não podia. Por isso insisto tanto na necessidade urgente do ser humano conhecer Deus além de religião, do cristianismo, da infantilidade. É hora de pegarmos o carro e dirigi-lo. 
      Quem aprende mais com a viagem, o que dirige o próprio carro, que conhece as estradas, o trânsito, outros motoristas, mas que também sabe dos restaurantes e postos do trajeto? Ou a criança sentada no banco de trás do carro, dormindo em grande parte do trajeto, que não precisa fazer escolhas, só ficar quieta e confiar naquele que dirige o carro em que está? O motorista do carro da criança poderá até estar fazendo um caminho mais longo, poderá não parar para lanchar, ainda que chegue ao destino, contudo, nesse caso a criança não poderá reclamar, aliás, poderá nem saber que pode reclamar ou sobre o que pode reclamar. Não preciso explicar mais a metáfora, foi suficiente para entender. O destino não muda, mas é você quem faz o trajeto. 
      Mas voltemos à afirmação inicial, o homem não teme mais a Deus. O medo que me refiro aqui não é ficar aterrorizado diante de alguém, só porque sabe que esse alguém é maior que você e pode puni-lo, caso você desobedeça-o ou desagrade-o. Isso é medo que criança tem de pai prepotente. O bem não pune ninguém, mas quem se afasta dele já sente-se e está punido. Diferente de tribunais humanos, onde são necessários longos processos, ouvir testemunhas, fazer dramáticos discursos, para convencer juiz e jurados sobre um ponto de vista, à luz basta brilhar. Quem por mais tempo andou nela no mundo, na eternidade naturalmente será atraído para ela e será recompensado, quem não, se afastará envergonhado e será punido. 

      “Levanta-te, ó Deus, julga a terra, pois tu possuis todas as nações.Salmos 82.8

22/10/25

50% certo (parte 2)

      “Portanto, qualquer que me confessar diante dos homens, eu o confessarei diante de meu Pai, que está nos céus. Mas qualquer que me negar diante dos homens, eu o negarei também diante de meu Pai, que está nos céus. Não cuideis que vim trazer a paz à terra; não vim trazer paz, mas espada; porque eu vim pôr em dissensão o homem contra seu pai, e a filha contra sua mãe, e a nora contra sua sogra; e assim os inimigos do homem serão os seus familiares. Quem ama o pai ou a mãe mais do que a mim não é digno de mim; e quem ama o filho ou a filha mais do que a mim não é digno de mim. E quem não toma a sua cruz, e não segue após mim, não é digno de mim.Mateus 10.32-38

      Talvez a pior vaidade que há, é nos acharmos 100% certos sobre algo (refletimos sobre isso em 50% incerto). Muitos cristãos parecem sentirem-se na obrigação de acharem-se totalmente certos sobre suas crenças, convictos que só os que creem como eles irão ao céu, e os outros irão para o inferno. O ponto nem é isso estar certo, ou as pessoas terem direito de crerem no que querem, mesmo em extremismos, o ponto é falta de amor justamente daqueles que se dizem seguidores de Jesus, a maior expressão de amor de Deus à humanidade. Crer em inferno é algo tão sério, que não deveria ser dito de qualquer jeito ou a qualquer um, mas quem crê nisso deveria viver de tal maneira que mostrasse como ama o próximo e quer vê-lo no céu. 
      Muitos cristãos acham que se não forem extremistas em certas crenças não serão bons cristãos, parece que isso é mais importante para eles que amar ao extremo. Sem fazer juízo de valor de certas crenças, como Jesus agia? Jesus homem não sabia do juízo, de penas e recompensas recebidas na eternidade? Sob o ponto de vista de muitos cristãos, sim. Mas ele jogava isso na cara das pessoas? Ele fechava portas ou as deixava abertas para que o ser humano se arrependesse e mudasse? Repito, isso não é passar a mão na cabeça de pecador, não é usar amor divino como álibi para permanência no pecado! Isso é entender que até o último instante neste mundo há oportunidade, e o que de fato ocorrerá na eternidade só compete ao juiz saber, não a nós. 
      O raciocínio que leva muitos a serem extremistas é o seguinte: não creio em qualquer coisa, creio num Deus que é o mais elevado em virtudes morais e o mais poderoso do universo, assim o que esse Deus diz é verdade absoluta que não preciso ter medo de viver e dizer. Podemos questionar muitas afirmativas desse raciocínio. Será que de fato entendemos e conhecemos Deus? Nosso conhecimento é recebido de Deus ou de tradições e textos religiosos? Essas tradições e textos são puramente de Deus ou construções humanas? Entendemos as prioridades das virtudes divinas, e relevância de cada uma, compreendemos o amor de Deus? Ainda que saibamos a vontade mais alta de Deus, sabemos o que disso pode ser dito no mundo? 
      Muitos respondem a esses questionamentos: “você está ponto dúvida na inquestionável vontade de Deus, isso é pecado, é do diabo, leva ao inferno”. Extremistas consideram opositores como extremistas, e respondem a questionamentos desses com extremismos. Essa disposição é tão terrível que encerra diálogos antes de começarem. A extremistas assim faço novos questionamentos: onde essa maneira extrema de interpretar as coisas tem levado tua prática de vida, principalmente na área moral? você tem tido vitória sobre teus pecados mais íntimos? tem encontrado paz e felicidade que permanecem? tem conseguido perdoar e se sentir perdoado? tem feito alianças com gente sábia, ou só com hipócritas falsos moralistas?  
      Concordo que não é fácil quebrar alianças com gente que nos apoia, que diz que o que acreditamos é certo, que é a melhor maneira de ver as coisas, a verdade. Em si tratando de aprovação religiosa cristã é ainda mais difícil, nela se tem certeza que se vive com Deus, não com o diabo, que se vai para o céu, não para o inferno. Grande parte das pessoas, por não conseguirem se livrar de dependência errada de pais e familiares, e nem é na área financeira, mas na área emocional, projeta essa carência em pastores e igrejas. Contudo, o medo maior de gente assim nem é do diabo, do inferno, do pastor ou de pai e mãe, mas de si mesma, de não ter forças, caso quebre tais alianças de aprovação, para se libertar do que chama de pecado.
      Alianças erradas criam falsos amigos e falsos inimigos, e em se tratando de aliança com cristianismo extremista, falsos pecados, assim, falsos medos e falsas culpas. Muitos não estão preparados, dessa forma é melhor continuarem ligados a igrejas e religiões, presos em gaiolas, mas com seu “pecado” sob controle, que livres fora das gaiolas e escravos de medos e culpas. Melhor se acharem 100% certos. Só tenham a humildade de entender que na eternidade, sob a luz mais alta de Deus, toda verdade será revelada. Contudo, não se enganem, os que têm coragem de defender suas crenças, mas só apoiados por homens, a verdade maior é individual, para vivê-la só recebendo a glória de Deus e libertando-se da falsa glória de homens. 

José Osório de Souza, 28/02/2023

21/10/25

Quem é de Deus?

      “De uma mesma boca procede bênção e maldição. Meus irmãos, não convém que isto se faça assim. Porventura deita alguma fonte de um mesmo manancial água doce e água amargosa? Meus irmãos, pode também a figueira produzir azeitonas, ou a videira figos? Assim tampouco pode uma fonte dar água salgada e doce. Quem dentre vós é sábio e entendido? Mostre pelo seu bom trato as suas obras em mansidão de sabedoria.Tiago 3.10-13

      Assisti recentemente vídeo de uma “pastora” evangélica atacando um pastor protestante. Ela é filha de famosos músicos baianos, ele é alguém que teve revezes em sua vida matrimonial e por isso foi execrado por muitos cristãos. Ela se posta como cristã conservadora, inclusive sendo apoiadora do político de direita que tem arrebatado muitos cristãos para seu curral eleitoral. O pastor protestante atacado é um líder que quando surgiu, trazia um evangelho diferenciado, intelectual, mas mais realista, progressista. Uma grande maioria de cristãos, sabendo da história dela, que após converter-se diz ter vivido de forma consagrada, e da história dele, que mesmo sendo convertido e pastor separou-se da esposa, entende que ela é de Deus, ele não é, ela está certa, ele, errado. 
      Algo a ser compreendido é que aquele que apoia a tradição judaico-cristã, nas áreas de família e sexualidade principalmente, não é só protestante, evangélico ou pentecostal, há também católico e mesmo espírita kardecista que se diz assim, portanto o conservadorismo tem facetas diferentes. Já refletimos aqui sobre conservador e progressista assim como sobre a interpretação extremista que extremistas dão a seus opositores, quando dizem que os que atacam o conservadorismo usam o amor de Deus como desculpa para aprovar práticas pecaminosas no mundo e negar o juízo de Deus na eternidade. O ponto desta reflexão é uma pergunta: ouvindo os que defendem valores bíblicos, e aqueles que publicamente desobedeceram tais valores, como saber quem é de Deus? 
      É difícil dizer que não é de Deus quem defende a inviolabilidade de um único casamento, nem eu digo que não seja a vontade de Deus que cada um de nós acerte na primeira escolha de cônjuge e mantenha essa aliança até a morte. Mas esse ideal é provado por todos? Não atualmente, e nem antigamente era, ocorre que antigamente a mulher ficava presa a uma aliança da qual dependia economicamente. Antigamente havia menos divórcio, mas mais adultério, principalmente uso de profissionais do sexo pelos homens. Hoje a coisa não está melhor, mas há hipocrisia oficializada e prostituição gratuita, jovens desfrutam de sexo com muitos, mas só se casam quando acham interessante, passando a falsa ideia que não se divorciam. 
      Casamento é aliança pública, religiosa ou legal, que se faz diante de familiares e amigos, de pastores e irmãos e de juízes e testemunhas? Ou é aliança que se faz na intimidade física com outro ser humano e na presença espiritual de um Deus que tudo sabe? Cada um vai responder conforme a relevância que dá à religião ou a Deus, e a Deus se conseguir separar religião de Deus. Quem é de Deus? Todos podem ser. Quem usa o amor de Deus como desculpa para seguir errado não mantém conexão com o Espírito Santo, assim o tempo mostrará que o que esse professa é só uma teoria, não vida prática de santidade em Deus. Deus sempre chama-nos à santidade, quem atenta-se à voz do Senhor desejará ser limpo para agradá-lo. 
      O ponto não é saber quem é Deus, não é nos acharmos com certos direitos por crermos que somos de Deus, o ponto é entendermos que temos deveres se nos achamos de Deus. Esses deveres levam a frutos, fruto não é jogar na cara dos outros seus pecados, julgar e condenar, fruto é ser como foi Jesus homem, misericordioso, pacificador. São esses frutos que não vemos nas vidas de muitos que pregam moralidade e família na internet. Se a tal “pastora” do início deste texto se acha de Deus por não ter errado após a conversão, não seja vaidosa por causa disso. Se o pastor acha-se mais experiente no amor de Deus porque errou mais para acertar, seja discreto e não escandalize. A ambos, sejam mais sábios na internet. 

José Osório de Souza, 22/02/2023

20/10/25

Luz e trevas (3/3)

      “Porque todo aquele que faz o mal odeia a luz, e não vem para a luz, para que as suas obras não sejam reprovadas. Mas quem pratica a verdade vem para a luz, a fim de que as suas obras sejam manifestas, porque são feitas em Deus.” João 3.20-21

      Diferente da visão cristã tradicional, certas religiosidades, sem generalizar, não fazem contato direto com Deus no Espírito Santo e por Jesus em suas conexões espirituais, mas elas negociam com as trevas para vencerem as trevas. Há resultado prático nisso? Sim, até há, mas tem um preço. Quando interagimos com Deus também há um preço para nos mantermos sob a proteção do bem: nos mantermos virtuosos, santos, em amor. Já o preço que se paga para afugentar o mal barganhando com o mal é se tornar parte do mal, assim distanciar-se da luz e da força que essa entrega para se ter vida eterna, paz e virtudes morais. Nesse caso demônio mais forte submete o mais fraco, engana o homem com mentiras e faz mal a todos. 
      Quem conhece este blog sabe que não uso muitas das generalizações que o entendimento cristão usa, penso que dizer que todo espiritismo conecta-se com espíritos malignos ou que todo afro-espírita é mau não é sábio. Há gente de bem em outras religiões, como há gente não tão boa no cristianismo, religião pode importar menos que o que as pessoas fazem dela. Mas admito que em certas regras extremas que a tradição judaico-cristã faz sobre comunicação com o plano espiritual há proteção, assim como a conexão indiscriminada com espíritos traz sérios riscos. Algo é certo, não julguemos ninguém, tenhamos as portas de nossas crenças abertas em amor, mas por Jesus e no Espírito Santo o bem é garantido e sem perigos. 
      A luz oferece duas escolhas, ser luz ou afastar-se dela, as trevas só dão uma escolha, ser trevas. Os que se deixam atrair pela luz e por ela se elevam, provarão as misericórdias, os perdões, as curas e os auxílios de um Deus que é todas as virtudes morais mais altas. Na excelência e topo moral, há poder espiritual e material, Deus é todo-poderoso porque é Altíssimo em virtudes, não porque pode mover montanhas no mundo. Os que dizem não à luz fazem outra escolha, caírem nas trevas, essas não dão opção ao homem a não ser serem maus. Em trevas se é vítima de ira e vingança que se plantou, e ainda que se achando livre, se é escravo. Deus segue chamando, mesmo a esses, aguardando que se deixem ser elevados pela e à luz. 
      Só há liberdade na luz, mas os que optam por ela uma vez sempre desejarão mais dela, ainda que caiam se levantarão, e seguirão persistindo em subir. Os momentos de tristeza na luz são curtos, mas os momentos de tormento nas trevas podem ser extensos, o mal oferece mentiras atrás de mentiras para escravizar os seres que acabam achando zonas de conforto para continuarem enganados. As trevas têm várias faces porque não têm nenhuma, são sempre ilusões criadas para seduzir rebeldes e orgulhosos. A luz só tem um rosto, a verdade, que revela ao humilde o que ele é e o que Deus é, o humilde pode então saber quem são maus ou bons, para não ser presa de vaidades e egoísmos. A luz glorifica Deus, as trevas só o ego humano. 

19/10/25

Bem e mal (2/3)

      “Quem é injusto, faça injustiça ainda; e quem está sujo, suje-se ainda; e quem é justo, faça justiça ainda; e quem é santo, seja santificado ainda. E, eis que cedo venho, e o meu galardão está comigo, para dar a cada um segundo a sua obra.” Apocalipse 22.11-12

      Os responsáveis por fazer o mal aos maus são os maus, os bons sempre fazem o bem, sejam humanos ou espirituais. Todos têm propósito nas mãos de Deus, de forma que o universo funcione com justiça. Por exemplo, Jesus precisava ser injustiçado para cumprir a vontade de Deus, um justo ser sacrificado pelos injustos. Mas quem Deus usou para entregar Jesus, para realizar sua vontade maior, foi Pedro, João? Não, Judas Iscariotes. O mau foi usado pelo bem para fazer o mal. Esse raciocínio diz que os seres do bem nada fazem? A luz cumpre seu propósito só por existir, acesa ela afugenta os maus para as trevas, ela não precisa agredir ninguém. Se uma justa agressão é necessária, são as trevas que fazem com autorização de Deus. 
      Quando pedimos que Deus nos livre do mal, isso pode significar afastar de nós seres humanos e espirituais malignos. Mas como Deus faz isso, é mandando anjos agredirem os maus? Não, é emanando um raio de sua luz sobre os seres. Deus emana santidade e amor, é nisso, não num poder físico que empurra e fere, que reside o maior poder de Deus. Como antropomorfizamos Deus pensamos que ele age como agimos, assim entendemos um Deus forte como um brutamonte que frequenta academia e que impõe-se aos fisicamente mais fracos. Mas não é assim que acontece, o que afugenta os maus sem virtudes morais são as virtudes, de uma forma inicialmente espiritual, que depois pode afastar territorialmente seres físicos maus. 
      Já tive experiência de pedir que Deus me livrasse de certas pessoas e na semana seguinte saíram da empresa que eu trabalhava, e tive experiências ainda mais extremas. Mas cuidado, a orientação inicial do evangelho é de orarmos pelos inimigos, abençoá-los, trazê-los a luz, não afugenta-los para as trevas. Deus, contudo, sempre respeita livre arbítrio, assim se alguém não quer mudar para melhor Deus pode usar outras maneiras para proteger-nos delas. A maneira mais comum é anular o mal espiritual que age nelas, pelo menos naquilo que nos atinge, assim elas podem continuar convivendo fisicamente conosco, mas nos respeitarem mais, silenciam-se. Seja como for, não nos compete pedir vingança a Deus, mas seu amor. 
      No plano espiritual as coisas funcionam diferentemente, lá os seres não têm corpos físicos. Quando oramos a Deus pedindo que interceda por nós ou por alguém, através de anjos de luz ele afugenta espíritos malignos de uma área física, nossa casa, firma, escola, igreja etc, para infernos espirituais, assim esses seres de fato se afastam de nós. Seres humanos maus podem ter algumas ações e palavras cerceadas e caladas, mas não necessariamente suas presenças físicas afastadas, não totalmente. Já seres espirituais malignos são substancialmente expulsos de nossa presença. "Vingança" e "ira de Deus" são assim entendidas pelos maus que continuam maus, contudo, se houver neles mudança de atitude serão atraídos pela e para a luz, não afastados dela. 

18/10/25

Justiça ou vingança? (1/3)

      “Não vos vingueis a vós mesmos, amados, mas dai lugar à ira, porque está escrito: Minha é a vingança; eu recompensarei, diz o Senhor.Romanos 12.19
      “Irai-vos, e não pequeis; não se ponha o sol sobre a vossa ira.” Efésios 4.26
      “Portanto, meus amados irmãos, todo o homem seja pronto para ouvir, tardio para falar, tardio para se irar. Porque a ira do homem não opera a justiça de Deus.Tiago 1.19-20
      “E, quando jejuardes, não vos mostreis contristados como os hipócritas; porque desfiguram os seus rostos, para que aos homens pareça que jejuam. Em verdade vos digo que já receberam o seu galardão.” Mateus 6.16

      Depois de tentações relacionadas à área sexual, ser tentado por uma ira tal que nos faz querer fazer justiça com as próprias mãos é prova séria que a maioria de nós passa. Todos, de alguma maneira, nos sentimos injustiçados, o que nos leva à flertar com a vingança não é querer dar retorno a alguém que fizemos mal, mas a alguém que achamos que nos fez mal. Para querer fazer justiça tem que se achar vítima de injustiça. Três das passagens acima não tiram a legitimidade de sentimento de ira e vingança, mas dizem que pecado há quando materializamos ira e vingança. A quarta passagem não fala disso, mas cita um princípio que é válido para honra e para justiça: quem obtém certas coisas com as próprias mãos não as recebe de Deus.
      Cabe-nos trabalhar, perseverar e conquistar muitas virtudes, santidade, amor, humildade etc, mas justiça só Deus pode fazer. Enganando-se sobre isso é que criam teologias como a católica, da libertação, e mesmo a mais neo-pentecostal, da prosperidade. Essas põem o ser humano e neste mundo como ferramentas para obter-se benefícios, que parecem materiais, bens e grana, mas que desconsidera a justiça de Deus que vai além deste mundo. Sempre é preciso deixar claro: deixar Deus fazer justiça não é aceitar violência, intolerância e diferenças sociais passivamente, não, há coisas que podemos e precisamos fazer já. Mas há limites, esses só humildes e tementes a Deus conhecerão e terão forças para acatar com dignidade e em paz.
      Mas às vezes Deus nos usa para cobrar justiça, num sentimento tão forte, estancado por tanto tempo, suportado em tanta injustiça, que um dia o Senhor permite que saia de nós e cumpra sua vontade. Jesus mostrou algo semelhante na passagem do comércio no Templo de Jerusalém, quando um ser humano sábio, sereno, temperado, pacificador, amoroso e com tantas outras virtudes, usou ações físicas enérgicas para demonstrar a vontade de Deus sobre o uso errado de coisas sagradas (João 2.13-17). Mas tenhamos cuidado para usar tal passagem como desculpa para ação impensada, mesmo que seja revolta contra o comércio que há em muitas igrejas hoje. A experiência de Jesus foi exceção, não regra, e foi do filho santíssimo de Deus. 
      As palavras ira e vingança não são adequadas para denominar ações diretas de Deus, passam a ideia de algo descontrolado, agressivo. Deus sempre age com amor, contudo, o universo que Deus criou, e que recebe as injustiças, pode cobrar justiça com o mesmo peso dos danos e assaltos que recebeu. Vemos isso, por exemplo, quando fortes chuvas caem em encostas de montanhas, inundando e levando tudo que está em lugar errado, causando morte e destruição. Não foi uma ira subjetiva do divino que agiu, mas um efeito proporcional a uma causa. É assim também quando homens e espíritos maus lesam de alguma forma seres que andam na luz, os maus sofrerão pelas mãos de seres também maus as consequências de suas injustiças. 

17/10/25

Indivíduos diferentes (5/5)

      “E acontecerá nos últimos dias que se firmará o monte da casa do Senhor no cume dos montes, e se elevará por cima dos outeiros; e concorrerão a ele todas as nações. E irão muitos povos, e dirão: Vinde, subamos ao monte do Senhor, à casa do Deus de Jacó, para que nos ensine os seus caminhos, e andemos nas suas veredas; porque de Sião sairá a lei, e de Jerusalém a palavra do Senhor. E ele julgará entre as nações, e repreenderá a muitos povos; e estes converterão as suas espadas em enxadões e as suas lanças em foices; uma nação não levantará espada contra outra nação, nem aprenderão mais a guerrear. Vinde, ó casa de Jacó, e andemos na luz do Senhor.” Isaías 2.2-5

      O mundo caminha para a individualidade, para a independência de diferentes. Não nego que haja um lado ruim nisso, mas sempre há no início das mudanças, até que os excessos sejam equalizados, que se ache equilíbrio. O pior lado da agenda progressista “liberdade para ser indivíduo, diferente e singular”, é a demonização de qualquer referência, assim de valores morais e de Deus. Também pudera, depois de escravizada por séculos, a humanidade ocidental cansou-se do cristianismo oficial, esse por suas vez não se mostrou digno do nome do Cristo que diz professar. Mas vemos um cristianismo equivocado insistindo em fazer escolhas erradas, sendo arrogante, não paciente, sendo trevas, não luz, condenando e não amando. 
      Se o cristianismo infantil e intimidador não soube conduzir uma humanidade temerosa do diabo e do inferno e mal informada cientificamente, que tinha que ocultar experiências espirituais e mesmo científicas em ordens secretas e esotéricas, mais dificuldade tem com uma “esquerda” que se libertou da utopia marxista e agora luta pelos direitos de mulheres, negros, l.g.b.t.q.i.a.p+ e tantos outros de serem o que são. O cristianismo perdeu o bonde e não tem humildade para pedir, por favor, parem que eu quero subir, antes tenta minar os trilhos para impedir que o bonde siga. O bonde da história não pode ser parado, e nos últimos tempos ele virou trem-bala. Mas sempre há tempo de mudar se há o despojamento visto no Cristo. 
      Se a humanidade caminha para a individualidade, a fala deve ser mais abrangente, respeitando o máximo possível, abraçando as diferenças e não obrigando-as a serem aquilo que um grupo acha ser normal e correto, aliás, o conceito de normal hoje é outro. Não é a igreja que deve adentrar o mundo, fazer escravos e trazê-los para dentro dos templos, são os de fato espirituais que devem levar suas luzes às trevas e lá ficarem, transformando trevas em luz. Contudo, triste é o juízo daquele que recebendo uma lanterna para guiar os cegos, transformou-a numa arma para surrar os cegos e condená-los. Na verdade o castigo do que usou mal sua luz é pior do que está procurando pela luz. Como temos usado a luz que recebemos? 
      Seres humanos, pelo menos grande parte deles, precisam subir ao próximo nível espiritual. Sei que como cristãos não estamos acostumados com essas palavras, parece mais entendimento de espiritualistas, mas o próximo nível é isso, como cristãos, pararmos de interpretar a existência só do jeito tradicional. A que nos levou o cristianismo tradicional? Àquilo que podia, e foi muito, temos acesso ao perdão Deus pelo nome de Jesus, assim à paz que nos fortalece para praticarmos virtudes morais e construirmos o céu em nós. Mas há mais, temos direito de nos conectarmos com o Deus Altíssimo pelo Espírito Santo, que pode nos ensinar sobre mistérios espirituais com a palavra de vida eterna. Mas há mais no próximo nível, creiam.

José Osório de Souza, 15/02/2023

16/10/25

Mau, cético, religioso, espiritual (4/5)

      “Mas o dia do Senhor virá como o ladrão de noite; no qual os céus passarão com grande estrondo, e os elementos, ardendo, se desfarão, e a terra, e as obras que nela há, se queimarão. Havendo, pois, de perecer todas estas coisas, que pessoas vos convém ser em santo trato, e piedade, aguardando, e apressando-vos para a vinda do dia de Deus, em que os céus, em fogo se desfarão, e os elementos, ardendo, se fundirão?” II Pedro 3.10-12

      Há quatro tipos de pessoas: maus, céticos, religiosos e espirituais. As bolhas desses quatro grupos não estão separadas, elas se penetram, às vezes mais de uma vez. Há bons céticos, maus céticos, religiosos maus, religiosos bons, espirituais religiosos, espirituais céticos, dentre outras intercessões. Em cada um dos quatro tipos há graduações diferentes de comprometimentos, cético vai do ateu ao materialista, religioso vai do mais extremista ao mais equilibrado, espiritual vai dos mais raso aos mais profundo, e há maus em todos os grupos, de orgulhoso e indiferente ao ativamente cruel e egoísta. Pessoas de todos os tipos também podem ter envolvimentos com religião estabelecida em níveis diferentes, nem todos são membros assíduos.
      Mas sendo mais específico, usei a classificação acima nos seguintes sentidos: cético não crê em Deus, mau até crê no plano espiritual, mas quer usá-lo para fins egoístas, religiosos são bons, ou pelo menos se acham assim, mas pensam que o bem só pode ser praticado estando eles ligados oficialmente a uma igreja ou religião, já os espirituais são o que muitos chamam de iluminados ou iniciados, têm uma experiência mais profunda com o plano espiritual. As bolhas se interceptam, como dito acima, assim espirituais podem ter origens diferentes, mas o mais comum é chegar-se à espiritualidade a partir, não do ceticismo, mas de alguma religião estabelecida, usando experiência dos outros como base para construir experiência pessoal. 
      O cristianismo não é tão poderoso e manipulado no mundo à toa, carrega o nome de Jesus e esse tem poder em si mesmo. Penso que todos podem seguir suas trajetórias espirituais da maneira que preferirem, mas creio que todos deveriam fazer pelo menos um “estágio” no cristianismo mais puro e próximo ao original possível, conhecendo de fato a vida do Cristo homem e o poder do nome do Cristo espiritual. Isso faria as primeiras curas emocionais nas pessoas e as livraria de muitos perigos que existem em religiões espiritualistas que às vezes abrem as portas do plano espiritual sem muito cuidado. A verdadeira iniciação e a iluminação mais alta só temos pelo Espírito Santo através do nome único de Jesus Cristo! Creio assim.
      Haverá um “final dos tempos”, não do jeito físico, explícito, cinematográfico, que muitos acham que será. Mas creiam, será justo e sério, mais do que muitos estão preparados para ser. A pergunta que faço é: como se portarão, muitos que batem no peito e gritam alto colocando-se como cristãos preparados para o fim, quando virem que as coisas não são como acham que deveriam ser? Inventarão novos enganos para seguirem acreditando no engano inicial? Desistirão da fé e brigarão com Deus? Ou serão humildes o suficiente para admitirem que estavam enganados, e que de fato nunca se prepararam para receber as verdades espirituais mais altas? Cristãos, não sabemos tudo que achamos que sabemos, sejamos humildes. 

José Osório de Souza, 15/02/2023

15/10/25

Próximo nível (3/5)

      “Porque já é manifesto que vós sois a carta de Cristo, ministrada por nós, e escrita, não com tinta, mas com o Espírito do Deus vivo, não em tábuas de pedra, mas nas tábuas de carne do coração.” II Coríntios 3.3

      Exemplos, o ser humano precisou de exemplos manifestados de forma explícita, que por isso transformaram-se em religiões. O ser humano carrega um desejo intrínseco por idolatria, no sentido de construir algo que possa ser visto, celebrado, adorado e obedecido, materialmente. Não fiz juízo de valor das religiosidades e seres humanos na lista de religiões na postagem anterior, assim não separei o que a tradição judaico-cristã alia a Deus daquilo que não alia. O ponto desta reflexão é: será que ainda precisamos de ídolos, ainda que seja da manifestação mais elevada de Deus à humanidade, Jesus Cristo? Tudo que é definido é encarcerado, tudo que vira religião limita a atuação espiritual de Deus, assim é deste mundo, não do outro.
      Além do Cristo houve muitos exemplos manifestados de seres humanos de espiritualidade elevada que a humanidade conheceu e que se transformaram em religiões, visto que a humanidade precisou de “pais” físicos em sua infância espiritual. Mas houve outros homens de calibre espiritual que não ficaram famosos. Jesus, há quase dois mil anos atrás, já anunciava uma espiritualidade diferenciada e discreta, se apareceu para matar a fome da multidão e curar doenças de muitos de forma visível, foi por amor, não para fundar uma religião. O ser humano, contudo, pelo menos pelo cristianismo, não entendeu a lição, retrocedeu no catolicismo e no protestantismo, ainda que conhecendo o exemplo de homem e o poder espiritual de Jesus Cristo.
      Um ministério espiritual desempenhado pelo Espírito de Deus para conduzir espíritos humanos a um reino espiritual, eis as boas novas do Cristo. Pareço citar o termo “espírito” demasiadamente? Mas não, ainda assim grande parte das pessoas não entende a relevância. Um ministério espiritual não precisa de templos ou igrejas, só do espírito humano. Esse ministério não tem o propósito de fortalecer instituições religiosas, de manipular massas, de ser adorado pela aparência material, esse ministério cala a matéria e aperfeiçoa o espírito. Esse ministério precisa de religiões, ainda que seja para desempenhar evangelismo inicial aos que nada sabem sobre Deus? Não, precisa de indivíduos com experiências reais com Deus.
      As pessoas só precisam ser recordadas do que já sabem, que dentro delas há espíritos que anseiam por Deus. Como buscarão mais a Deus? Vendo os frutos práticos de quem já buscou. Esse ministério sente a necessidade de reunião em grupos, de administrar dinheiro e bens para manutenção do lugar da reunião e de necessidades dos reunidos? Sim, mas sem que o ministério em si seja usado para gerar lucro material, o único lucro deve ser a prática de virtudes morais nas vidas dos que compartilham a fé. Isso significa que todos que buscam a Deus devem fazer do mesmo jeito? Não, que cada um procure o jeito que se sente melhor, sem julgar o jeito dos outros. Eis o próximo nível de espiritualidade que o ser humano precisa. 

José Osório de Souza, 15/02/2023

14/10/25

Tantas religiões (2/5)

      “Ora, tendo a Escritura previsto que Deus havia de justificar pela fé os gentios, anunciou primeiro o evangelho a Abraão, dizendo: Todas as nações serão benditas em ti. De sorte que os que são da fé são benditos com o crente Abraão.” Gálatas 3.8-9

      Abaixo, uma lista com alguns fundadores, criadores e codificadores de tradições religiosas (links individuais em fonte). Selecionei 40, desses, 18 (*) têm base na tradição judaico-cristã. O entendimento de muitos cristãos dessa lista, ainda que não assumido, é um: “22 dessas religiões não são de Deus, 18, são”. Pareço extremista? Mas essa é a realidade que muitos cristãos devem assumir, baseados em suas doutrinas e nos ensinos de seus líderes nos púlpitos de suas igrejas. “Um número enorme de seres humanos, em todo o mundo e ao longo da história, teve em suas religiões ensinos que não os levou ao céu, passados por espíritos malignos enganadores”, se não é isso, então, o que se diz não é o que se crê em muitas igrejas. 
      Uma verdade que muitos cristãos que se consideram donos da verdade maior não aceitam: Deus permite a cada ser humano, em tempos e lugares diferentes, a espiritualidade que cada um pode administrar para estar mais perto dele. No mundo atual existe um número enorme de pessoas que não é cristão, nasceu em outras religiões e morrerá assim. Haja inferno, se o fim desses seres humanos for a condenação só porque nunca puderam ser batizados e doutrinados no evangelho. Por outro lado, um estudo de muitas religiões revelará pontos em comum entre elas, ritos e objetivos parecidos, se Deus a todos chama, por que só alguns responderiam esse chamado por Cristo, não pelos meios que têm em mãos em suas realidades? 
      Muitos dizem: “conheço gente que era infeliz numa religião, foi para a igreja evangélica e a vida mudou”. Se de fato isso é verdade, primeiro, a pessoa era viável para ser evangélica, vivia perto de gente que lhe falou do evangelho e pôde frequentar uma igreja evangélica, isso não acontece com todo mundo no planeta. Segundo, talvez o lugar de Deus para essa pessoa fosse igreja evangélica, não outra religião. Por outro lado há muita gente feliz em outras religiões assim como infeliz em igreja evangélica, o lugar melhor para cada um vivenciar espiritualidade é Deus quem sabe. Mesmo “felicidade” frequentando igreja e tendo religião é algo variável, muitos só querem a vida social de uma comunidade, a doutrina pouco importa. 
      A verdade é que muitos evangélicos, refugiados em suas bolhas, e ainda que socialmente respeitando outros religiosos, não fazem ideia do que acontece dentro de outros cultos religiosos, no máximo têm uma visão distorcida, preconceituosa e pessimista, aliando o que não se encaixa em suas doutrinas ao capeta. A vida não é tão simples assim, aqui e no além, mas ao mesmo tempo é mais simples que muitos acham que é. Para quem ama há luz, assim espera o melhor mesmo sem entender, vê portas abertas mesmo sem saber, enxerga o sincero do bem mesmo atrás das capas de religiosidades diferentes. O humilde e temente a Deus vislumbra de antemão aquilo que muitos só olharão na eternidade, assim é mais feliz e tem paz com todos.

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      Lista com alguns fundadores, criadores e codificadores de tradições religiosas:

      - Antes do ano 500

  • Hinduísmo/Bramanismo (fonte)
  • Abraão, Judaísmo *
  • Amósis I, adoração monoteísta de Amon-Rá
  • Aquenáton, Atonismo 
  • Moisés, Judaísmo *
  • Zoroastro, Zoroastrismo
  • Lao-Tsé, Taoísmo
  • Confúcio, Confucionismo
  • Pitágoras, Pitagorismo
  • Siddhartha Gautama (o Buda), Budismo
  • Platão, realismo platónico
  • Epicuro, Epicurismo 
  • Zenão de Cítio, estoicismo
  • Jesus Cristo, cristianismo *
  • Gnosticismo (fonte) *
  • Maniqueu, maniqueísmo
  • Catolicismo (fonte) * 

      - Medieval e Moderna 

  • Bodhidharma, zen
  • Maomé, islão
  • Martinho Lutero, protestantismo *
  • Henrique VIII de Inglaterra, anglicanismo *
  • João Calvino, calvinismo *
  • John Knox, presbiterianismo *
  • John Smyth, igreja batista *
  • Avvakum, igreja ortodoxa russa *
  • John Wesley, metodismo *
  • Candomblé (fonte
 
     - Após o ano 1800

  • Masaharu Taniguchi, Seicho-no-ie 
  • Allan Kardec, espiritismo moderno *
  • Meishu-Sama, messianismo oriental
  • Joseph Smith Jr., mormonismo *
  • James White, Igreja Adventista do Sétimo Dia *
  • Mary Baker Eddy, ciência cristã *
  • Helena Blavatsky, teosofia 
  • Charles Taze Russell, Testemunhas de Jeová *
  • Aleister Crowley, thelema
  • William Seymour, pentecostalismo *
  • Gerald Gardner, wicca
  • Zélio Fernandino de Moraes, Umbanda 
  • Anton LaVey, satanismo

José Osório de Souza, 15/02/2023

13/10/25

Final dos tempos (1/5)

      “E naquele tempo se levantará Miguel, o grande príncipe, que se levanta a favor dos filhos do teu povo, e haverá um tempo de angústia, qual nunca houve, desde que houve nação até àquele tempo; mas naquele tempo livrar-se-á o teu povo, todo aquele que for achado escrito no livro. E muitos dos que dormem no pó da terra ressuscitarão, uns para vida eterna, e outros para vergonha e desprezo eterno. Os que forem sábios, pois, resplandecerão como o fulgor do firmamento; e os que a muitos ensinam a justiça, como as estrelas sempre e eternamente. E tu, Daniel, encerra estas palavras e sela este livro, até ao fim do tempo; muitos correrão de uma parte para outra, e o conhecimento se multiplicará.Daniel 12.1-4 

      “E naquele tempo”, em que tempo será esse tempo? Daniel fala de um tempo de angústia como nunca houve. “Livrar-se-á o escrito no livro”, que livro é esse? Haverá uma ressurreição, será no corpo físico e neste mundo ou no espírito e no outro plano? “Os que ensinam a justiça resplandecerão”, mas a Daniel convinha esperar, muita coisa ainda aconteceria no mundo, “o conhecimento se multiplicaria”. Já não evoluiu a ciência, a internet, a sociedade? Acho covarde pôr dúvidas nas crenças de muitos e ficar em cima do muro, assim posiciono-me diante de homens e de Deus: muitos entendem a Bíblia errado, assim recebem ajuda limitada para vencerem o mal e se prepararem para o “final dos tempos”, seja isso o que for. 
      É importante entendermos que o cristianismo espera os últimos tempos desde o início de sua história, Paulo já exortava tessalonicenses a respeito em suas cartas, e mesmo em Atos, a vida comunitária dos primeiros convertidos, mostrava a crença que não valia a pena investir na existência secular. Na verdade sempre que a igreja experimenta alguma espécie de “avivamento” acha que o mundo vai acabar, quem já não teve experiência assim? É o encantamento e a ilusão que a paixão traz, e essa existe mesmo se provamos experiência com base espiritual, contudo, como toda paixão, passa. Então, não nos enganemos nos achando mais merecedores de viver o final dos tempos que achavam outros cristãos em outros tempos.
      “O livro da vida onde estão listados os nomes dos salvos”, bem, esse é um entendimento antigo de um homem antigo, no tempo que poucos sabiam ler e menos ainda escreviam, assim ter o nome registrado num papiro, couro, pedra ou outro material, era um privilégio. Talvez, se muitas profecias fossem recebidas hoje diríamos que os nomes estariam escritos numa mensagem de celular divino. Enfim, o que importa não é a interpretação ao pé da letra, mas o princípio. Eu penso que há algo mais nesse livro, mas a nós não compete entender ou explicar muitas coisas, só fazer o nosso melhor para que de algum jeito tenhamos direito à melhor eternidade com Deus. Isso não se faz na última hora, mas perseverantemente durante uma vida. 
      Quem sabe ou acha que sabe gosta de falar, eu acho que sei por isso escrevo aqui, se sei de fato, a eternidade dirá. Mas me chama a atenção as frases “os que ensinam a justiça resplandecerão” e “o conhecimento se multiplicará”, ambas se relacionam à informação. De fato vivemos um tempo especial para a informação. Internet, redes sociais e celulares comunicam todos com todos em todo o tempo, mas até que ponto o que se compartilha é útil para conduzir à vida eterna? Quem ensina a justiça é iluminado, mas não a justiça de homens ou de religiões, a do Espírito de Deus. Hoje, contudo, ficou mais difícil, no meio de tanta news e fake news, saber o que é justiça, assim, quando muitos falam, mais sábio é calar-se. 

José Osório de Souza, 15/02/2023

12/10/25

Espiritual X Mental

      “Na multidão dos meus pensamentos dentro de mim, as tuas consolações recrearam a minha alma.Salmos 94.19

      Temos acesso ao mundo espiritual pela mente, podemos entender a voz do Senhor focando nossos pensamentos. Contudo, enquanto o espiritual não está limitado pela matéria, não se cansa, tem acesso a um Deus perfeito e que ama em todo tempo, o mental é humano, entedia-se, desespera-se, exalta-se, encanta-se, ilude-se. Viver é administrar espiritual e mental com humildade, isso tem propósito de Deus para nos aperfeiçoar moralmente. Muitas vezes, ainda que queiramos de todo o coração acertar certas coisas, receber de Deus uma palavra especial, nossa mente está sobrecarregada, ansiosa, deprimida, assim o próprio Espírito Santo nos diz, “espera, você ainda não está pronto”. Nos conhecer e nos respeitar é preciso. 
      A palavra de Deus sempre nos dá o melhor que podemos receber no momento, pode não ser o máximo de Deus, mas é o máximo nosso. Cabe-nos acatar e não desistir, ainda que com humildade e sem desespero, se hoje não estamos preparados, uma hora estaremos, tenhamos paciência, não com Deus, com nós mesmos. A comunicação espiritual encontra nas mentes humanas restrições intelectuais, emocionais, morais, religiosas, Deus não fala a um adolescente como fala a um adulto com doutorado, nem a um cristão como fala a um muçulmano. Na verdade a palavra de Deus é uma só, mas entendemos diferente conforme nossa mente, por isso lemos o mesmo texto bíblico tantas vezes e sempre achamos ensino renovado.
      É importante não confundirmos as coisas, limitarmos Deus à mente humana, acharmos que porque sabemos tudo que podemos, sabemos tudo que há. Também é importante não limitarmos Deus às emoções, não é porque nos sentimos mal que Deus está “bravo” conosco, também não é porque estamos alegres que Deus se agrada conosco. Enganoso é o coração, a Bíblia se refere aos sentimentos em Jeremias 17.9, emoções são influenciadas pelos pensamentos e esses podem ser confusos, fantasiosos, doentios. Por isso fé é tão importante numa experiência com Deus, ela independe do que se sabe ou se sente, ainda que se verifique isso e se poste com equilíbrio e maturidade. Deus nos fala pela mente, mas a mente não cria Deus. 
      Um dos argumentos dos ateus é esse, Deus e o mundo espiritual são construções humanas, não existem a não ser nas mentes dos homens. De fato as religiões institucionalizadas são construções humanas, mas o Espírito de Deus não é, ainda que cada ser humano entenda o mundo espiritual à sua maneira. Se há vaidade e arrogância, mesmo entendimentos parciais do verdadeiro Deus conduzem a criação de fechados muros, dividem a humanidade, em última instância levam até a guerras. Mas se há amor e humildade, mesmo a limitação da mente humana, leva à construção de portas e pontes, que adicionam à experiência pessoal de um a experiência singular do outro. Jesus entregou-nos isso, a possibilidade do céu aqui, pelo menos dentro de nós. 

11/10/25

Já olhou o mundo espiritual hoje?

      “Acerca dos dons espirituais, não quero, irmãos, que sejais ignorantes. Vós bem sabeis que éreis gentios, levados aos ídolos mudos, conforme éreis guiados. Portanto, vos quero fazer compreender que ninguém que fala pelo Espírito de Deus diz: Jesus é anátema, e ninguém pode dizer que Jesus é o Senhor, senão pelo Espírito Santo. Ora, há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo. E há diversidade de ministérios, mas o Senhor é o mesmo. E há diversidade de operações, mas é o mesmo Deus que opera tudo em todos. Mas a manifestação do Espírito é dada a cada um, para o que for útil.I Coríntios 12.1-7

      Você já deu uma olhada no plano espiritual hoje? A um cristão tradicional seria melhor perguntar, você já orou hoje? Como já disse aqui antes, orar pode ser bem mais que pedir coisas a Deus e agradecer por coisas recebidas. Contudo, e por achar que oração é só isso, muitos desistem de orar, simplesmente não acham mais graça, mais prazer, mais retorno espiritual em dizer as mesmas coisas sempre do mesmo jeito. Pode haver um lado positivo nessa insatisfação, Deus estar pedindo algo mais profundo na oração. Mas como também já disse aqui, não confunda oração feita de qualquer jeito, ou simples preguiça de orar, com ter ido até onde podia com experiências básicas de oração que estão pedindo experiências avançadas
      Antes éreis guiados aos ídolos mudos, interessante o modo como Paulo começa suas orientações sobre dons espirituais. Infelizmente muitos cristãos hoje, principalmente católicos, mas também muitos protestantes e mesmo pentecostais, continuam, tendo experiência com um Deus mudo. A igreja católica tirou a legitimidade de dons quando começou a existir como tal, não necessariamente quando Constantino conectou estado (império romano) e religião (cristianismo + paganismo). A reforma protestante não mudou isso, e muitos pentecostais hoje também não dão tanta liberdade para exercício de dons. O motivo é prático, fica difícil dar liberdade a qualquer um que se levanta falando em nome de Deus, é algo um tanto subjetivo (e perigoso para os que querem controlar as igrejas). 
      Se o ser humano tem a tendência de assentar-se em extremos, também tem a de trocar liberdade de escolha por obediência cega a leis. Ainda que Jesus tenha entregue a nova aliança de amor, que é de liberdade e do Espírito de Deus, que pretendeu trocar isso pela velha aliança da lei de Moisés, pouco tempo após a ressurreição do Cristo os homens já trocaram a nova aliança por uma nova religião de leis. O antigo testamento de Moisés foi expandido num cânone bíblico protestante de sessenta e seis livros relevando a genuína nova aliança de Jesus. Hoje a bibliolatria manda nas igrejas protestantes, se considera tudo que está escrito no cânone bíblico palavra direta de Deus e registros históricos do chamado povo de Deus. 
      Troca-se algo que pode dar trabalho monitorar, checar, mas que pode conduzir os seres humanos à maturidade espiritual, àquilo que Jesus inaugurou, por leis que nivelam por baixo, que prendem à infantilidade. Enfim, foi isso que a humanidade pôde administrar pela igreja católica por +/- 1.700 anos e por igrejas protestantes por +/- 400 anos. Todavia, o tempo de ordens secretas e ocultistas, esotéricas e espiritualistas, como meios únicos para investigar mundo espiritual, meios demonizados pelo cristianismo da tradição judaico-cristã, acabou. É tempo de buscarmos iluminação em plena luz, sem medo de líderes religiosos, sem preguiça, tendo Jesus como porta e o Espírito Santo como professor. Já olhou o mundo espiritual hoje? 
      Olhar o mundo espiritual é descansar o coração das ansiedades, a mente de expectativas, focar em ver e ouvir o que Deus quer mostrar e falar. Muitas vezes o Espírito só dirá, “fica em paz, tua oração foi ouvida, Deus te abençoa, siga na vigilância por santidade, humildade e amor”. Mas quem persiste com limpeza de alma, pureza de intenções, em fé e discrição, prova do Espírito. Isso não é algo que pode-se definir em fórmula, é experiência que cada um deve esforçar-se por achar a sua, pacientemente checando busca com frutos de vida eterna à luz da verdade. Sim, podemos nos enganar no início, confundir criações mentais com revelações espirituais, mas com trabalho duro eleva-se até o topo do monte e vislumbra-se maravilhas. 

      Não devo dar o peixe, mas tentar ensinar a pescar, cada um com a vara que trabalhou para construir e no pedaço de rio que lhe é permitido…

10/10/25

Estamos ou somos? (5/5)

      “Porventura não esquadrinhará Deus isso? Pois ele sabe os segredos do coração. Sim, por amor de ti, somos mortos todo o dia; somos reputados como ovelhas para o matadouro. Desperta, por que dormes, Senhor? Acorda, não nos rejeites para sempre. Por que escondes a tua face, e te esqueces da nossa miséria e da nossa opressão? Pois a nossa alma está abatida até ao pó; o nosso ventre se apega à terra. Levanta-te em nosso auxílio, e resgata-nos por amor das tuas misericórdias.Salmos 44.21-26

      Não é escolha o que muitos são, é característica, parte da essência do ser humano que o acompanhará até o fim neste mundo, e essência de espírito, não de corpo. Não é configuração, usando um termo da informática, onde software pode receber update, até upgrade, mas especificação técnica, fixa, inalterável, de hardware. O que leva muitos conservadores a desacreditarem disso, é acharem que por fé tudo é possível, e que isso, mudar a realidade pela fé, é prova de espiritualidade maior, assim mais digna do céu. Não entendem que espiritualidade maior exige, não mudar certas coisas, mas aceitar e conviver com coisas imutáveis, isso pede humildade. Aceitar do jeito certo é mais difícil que mudar a qualquer custo, e muitos querem cristianismo para mudar, não para aceitar.
      Por exemplo, muitos que nasceram com características físicas masculinas, querem ser tratados como mulheres não por terem escolhido isso, por estarem mulheres, por sentirem-se assim num momento e por poderem sentir-se de outro jeito em outro momento. Não é isso. Muitos nasceram com características físicas masculinas, mas possuem almas com necessidades afetivas, e com efeito, físicas, femininas. Isso não vai mudar! Quando sentiram e assumiram isso ganharam paz e certezas que não tinham, quando ainda lutavam para aceitar o que sempre foram. Isso não significa que existam homens, com características físicas masculinas e com uma alma masculina, que não provem relações homossexuais, mas isso é outra coisa. 
      Faço uma diferenciação aqui que pode ir contra o que a esquerda pensa, tanto quanto com o que pensa a direita. Esse é um exemplo de como a verdade é mais difícil de achar porque requer avaliação de todos os pontos, não ser extremista, mas achar equilíbrio, e principalmente, o melhor de Deus. Para a esquerda a liberdade deve ser total, ainda que a pessoa não seja homossexual, pode ter relação física homossexual se achar que isso lhe dá prazer. Já para a direita a pessoa não pode ter relação homossexual nunca, ainda que seja homoafetiva de alma e sempre, não só por uma escolha física de prazer. Na verdade a diferenciação que faço é definir homoafetivo como identidade da alma, mais que do corpo, corpo só recebe o efeito da alma. 
      Achando-se mais crentes, porque têm mais fé, muitos cristãos estão mais arrogantes e cruéis com quem tem características que não mudarão nem com fé que move montanha. Isso nos leva a concluir que muitos cristãos não entendem a melhor vontade de Deus para suas vidas, o propósito de suas existências aqui, assim como o exemplo que houve na vida do Cristo homem. Sempre cito aqui o termo “melhor vontade de Deus”, porque nada acontece sem ser vontade de Deus, incluindo coisas ruins, mas principalmente coisas não tão boas acontecem porque Deus permite na insistência de crentes sinceros mas imaturos. Já estamos no tempo da história da humanidade de provarmos, não só a vontade de Deus, mas sua melhor vontade.
      Estou ou sou? Antes as pessoas demoravam mais tempo para assumirem que o que sentiam ser não era vontade momentânea, não era pecado, mas suas íntimas essências clamando pelo direito de realizarem-se. Parece que as últimas gerações têm realizado essa assunção com mais facilidade e em menos tempo, é isso que tem escandalizado muito cristão conservador. Experiência ocorre dentro da casa do que durante anos levou filhos a igrejas, doutrinando-os na tradição judaico-cristã, que constata na adolescência dos filhos que Deus não criou só homem e mulher. Triste para tantos, trágico para outros, mas falta de humildade e amor para muitos, que não acham no conservadorismo jeito certo de interagir com a verdade porque nesse conservadorismo não há a verdade perene e irrevogável.  

José Osório de Souza, 9/03/2023