quinta-feira, fevereiro 13, 2020

Não se preocupe com o tempo

      “E Jesus disse-lhes: Em verdade vos digo que vós, que me seguistes, quando, na regeneração, o Filho do homem se assentar no trono da sua glória, também vos assentareis sobre doze tronos, para julgar as doze tribos de Israel. E todo aquele que tiver deixado casas, ou irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe, ou mulher, ou filhos, ou terras, por amor de meu nome, receberá cem vezes tanto, e herdará a vida eterna. Porém, muitos primeiros serão os derradeiros, e muitos derradeiros serão os primeiros.Mateus 19.28-30

      O texto inicial é o final da passagem onde um jovem rico procura Jesus, tal jovem queria saber o caminho da vida eterna, e ele era de fato um bom religioso. Contudo, conhecendo como sempre a verdade do coração humano, Jesus revela ao jovem aquilo que ele não queria ouvir, que não bastava ser um bom religioso, com uma vida moral e social correta, ele teria também que abrir mão daquilo que era importante para ele, riquezas materiais. Talvez para outro rico, Jesus teria dado uma orientação diferente, um rico que talvez pelas contingências da vida fosse rico, mas que na verdade não era preso à riqueza, mas no caso do jovem em questão, riqueza era um ponto sensível, algo que ele deveria se desprender se quisesse conhecer a eternidade melhor com Deus. Riqueza não é necessariamente problema, mas para o jovem era. 
      Os discípulos ficaram preocupados com a revelação, mas Jesus lhes disse que nada que se faz para Deus fica sem recompensa, assim se alguém abre mão de algo importante pelo evangelho terá com certeza honra retribuída por Deus, principalmente na eternidade. Contudo, sempre conhecendo o coração do homem, Jesus faz uma nova revelação, essa é o ponto dessa reflexão, “muitos primeiros serão os derradeiros, e muitos derradeiros serão os primeiros”, ou em outras palavras, ninguém se julgue melhor por ter começado a seguir a Jesus antes e nem menos privilegiado por ter começado a seguir Jesus depois. Para Deus, ao contrário de para nós, tempo não significa nada, apenas a sinceridade do bem que busca o Deus altíssimo com todo o coração, em verdade e com fé, para Deus qualidade vale mais que quantidade.
      Com sessenta anos faço certas medidas, e muitas vezes chego a conclusões equivocadas, acho que por ter vivido algumas décadas tenho certos direitos, mas também me considero com pouco tempo para começar certas coisas e ganhar novos direitos. O texto inicial, contudo, pelo Espírito Santo me consola, me ensina que mesmo que eu comece a acertar só agora e que me reste pouco tempo para ser melhor, não importa. O que importa é a qualidade da minha escolha e do que eu vou construir sobre ela. Ainda que eu tenha pouco tempo, se eu for humilde, benigno, persistente, verdadeiro comigo mesmo, com as pessoas e com Deus, o Senhor saberá e me dará retorno adequado, mesmo que eu, a essa altura, queira fazer o que é certo só para cumprir meu dever no mundo, adorar a Deus e abençoar minha esposa e minhas filhas. 

quarta-feira, fevereiro 12, 2020

Deus é acessível a todos

      “Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles.Mateus 18.20

      Sou um crítico da igreja cristã oficial, de todas as denominações, seja a católica, as protestantes, as evangélicas, quem acompanha o “Como o ar...” verifica isso, defendo uma igreja cristã pura e bíblica, a que estava no coração de Cristo quando esse falou aos apóstolos no momento de sua subida ao céu transformado após ter ressuscitado, ou a que pode mais se aproximar dessa na medida do possível. Muitos podem dizer que isso é tão impossível quanto desnecessário, impossível porque onde há o homem há o erro, desnecessário porque Deus na verdade nem se importa tanto com essa integridade, se se importasse nenhum homem seria abençoado na história da humanidade.
      Contudo, esse último argumento, que diz que a procura de uma igreja ideal é desnecessária, acha base bíblica no texto inicial, e isso nos ensina algo sobre o amor e a graça de Deus, “se somente dois me buscarem juntos, isso já constitui uma igreja e eu no meio dela estou”, diz Mateus 18.20. Sim, ainda que não gostemos de certos ajuntamentos, que discordemos de seus costumes, mesmo que achemos, do alto de nossa (ou de minha) arrogância que essa ou aquela igreja é herege, se há uma busca verdadeira a Deus por meio de Jesus, Deus ouve e responde. Eu ou você podemos não concordar com isso, mas creia, é assim que Deus age, que sempre agiu. 
     O homem complica as coisas, a religião, a espiritualidade, os ritos, as invocações, as rezas, as doutrinas, mas Deus é simples com os simples, se há busca genuína ele permite ser achado, por qualquer um, em qualquer lugar, qualquer mesmo. Deus olha o coração e fala, docemente, poderosamente, verdadeiramente e simplesmente. Quem o ouve se alegra, se consola, é alimentado, é restabelecido, curado, perdoado, levantado com esperança e com novo vigor. Busquemos a Deus com persistência, em profundidade e em verdade, o que caminha com ele há anos tem o dever de crescer, e muito há de se saber sobre Deus e a razão de nossa existência no universo.
      Todavia, não impeçamos nem nos escandalizemos com o pequenino que se aproxima de Deus com pouco conhecimento, mas com um coração aberto e sincero, esse tem o mesmo direito que nós de se abrigar nos braços do Pai eterno. Muitos doutores na lei, teólogos no evangelho e profundos conhecedores dos mistérios espirituais, se surpreenderão na eternidade, ao constatarem que todo o seu conhecimento não lhes conferiu qualquer graduação a mais de espiritualidade, e que aquele que eles achavam ignorantes, superficiais, mesmo hereges, ganharam uma intimidade com Deus que eles chamais tiveram, só porque se aproximaram do Senhor sem vaidade e sem segundas intenções. 

terça-feira, fevereiro 11, 2020

Com ou sem muletas?

      “Pois tu és a minha esperança, Senhor Deus; tu és a minha confiança desde a minha mocidade. Por ti tenho sido sustentado desde o ventre; tu és aquele que me tiraste das entranhas de minha mãe; o meu louvor será para ti constantemente.Salmos 71.5-6

      Todo vício é uma muleta emocional, anda de muleta quem não consegue andar só com as próprias pernas, assim precisa de um artifício para desempenhar uma função que normalmente poderia fazer sozinho. Muletas emocionais são agregadas de tal maneira às vidas das pessoas que essas acabam acreditando que as muletas fazem parte delas, e que assim são suas aliadas, amigas e por isso devem ser protegidas, mesmo adoradas. Dessa forma muleta é um vício que se torna um ídolo, algo falso que se coloca no lugar de algo verdadeiro, material ou não, mesmo de Deus, ser espiritual. Eu e você, conseguimos andar sozinhos ou somos dependentes de muletas? 
      Como se tornam amigas, companheiras, caminhar sem muletas pode trazer a princípio um sentimento de solidão, podemos até tentar andar sem elas, mas sentindo-nos sozinhos voltamos a elas, é preciso coragem, força, para andar sem muletas. O caminho mais alto com o Deus verdadeiro muitas vezes (ou quase sempre) é solitário, ao menos em alguns aspectos, assim pode ser secreto. No segredo não achamos aprovação humana nem aplauso de homens, mas nele provamos uma comunhão diferenciada com Deus. Conhecer a Deus intimamente não é para todos, só para os íntegros e libertos de muletas, de vícios e de ídolos, sejam quais forem as muletas, os vícios e os ídolos. 
      Religião pode ser muleta tanto quanto drogas, vício pode ser tanto gostar de más companhias quanto assistir cultos, e ídolos não são apenas santos romanos, podem ser também heresias retiradas da Bíblia. A pergunta, contudo, é simples: como queremos andar, com as próprias pernas ou com muletas? Cuidado, muita coisa que muitos de nós achamos ser espadas e escudos, armas de ataque ou ferramentas de defesa, são na verdade muletas, não nos deixam mais fortes e protegidos, mas fracos, dependentes, viciados, idólatras. Só sabemos de fato se usamos muletas e só entendemos que precisamos nos livrar delas, quando temos um encontro real com Deus, um encontro muitas vezes solitário e secreto. 

segunda-feira, fevereiro 10, 2020

“Sobre ele deves dominar”

      “E o Senhor disse a Caim: Por que te iraste? E por que descaiu o teu semblante? Se bem fizeres, não é certo que serás aceito? E se não fizeres bem, o pecado jaz à porta, e sobre ti será o seu desejo, mas sobre ele deves dominar. E falou Caim com o seu irmão Abel; e sucedeu que, estando eles no campo, se levantou Caim contra o seu irmão Abel, e o matou.” Gênesis 4.6-8

      Todos nós temos tendências ruins, pecaminosas, egoistas, que buscam direitos de maneira injusta, isso será até o fim de nossas existências neste mundo, portanto é a constante. A variável maravilhosa que Deus nos chama para viver em Cristo, é o domínio sobre essas tendências, que permite que o nosso desejo não se torne ação. Caim tinha uma tendência, tinha um desejo, mas ele não buscou domina-lo em Deus, antes foi dominado por ele e assim se tornou assassino de seu próprio irmão. Por quê? No caso dele foi por inveja, alimentou uma insegurança tão grande, que o acabou levando a matar aquele que ele achava que era melhor que ele. 
      Não nos iludamos, ninguém está livre de seus maus desejos, assim como ninguém pode fugir da responsabilidade de controlar esses desejos, ou então pagar um alto preço pelas consequências de desejos ruins realizados. Contudo, todos nós podemos escolher andar com Jesus, o tempo todo, para assim ter vitória sobre as tendências ruins que dia a dia nos tentam. “Sem mim nada podeis fazer.” (João 15.5b), tenhamos cuidado, não coloquemos a culpa de nossas fraquezas em homens ou em diabos, mas “se vivemos em Espírito, andemos também em Espírito” (Gálatas 5.25), sempre conscientes de que sem Jesus nada podemos fazer. 

domingo, fevereiro 09, 2020

Adoração: santidade e liberdade

      “Nada façais por contenda ou por vanglória, mas por humildade; cada um considere os outros superiores a si mesmo. Não atente cada um para o que é propriamente seu, mas cada qual também para o que é dos outros. De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, Que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus, Mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens; E, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz.Filipenses 2.3-8

      Vemos nas igrejas protestantes e evangélicas tipos diferentes de atitudes durante o período denominado louvor. Alguns ficam calados, só observando o ambiente, outros cantam, acompanham a música com alguma som e quando se pede pelos ministros, mesmo com palmas, outros cantam emocionados, batem palmas quase o tempo todo numa interação maior de corpo e alma. Dizer que qualquer um desses três tipos presta uma adoração mais verdadeira a Deus não nos compete, não nos compete mesmo, infelizmente o julgamento é erro que muitos cometem, e pior ainda, que pastores e ministros de louvor cometem. Como vemos líderes de louvor dando ordens de comportamento, querendo nivelar todos por aquilo que acham que é mais “espiritual”, mandando cantar mais alto ou bater mais palmas.
      As pessoas têm níveis de expressão emocional diferentes, isso se deve às suas personalidades moldadas por criações diferentes como também por pré disposições naturais distintas. Algumas dessas características podem mudar com o tempo, precisam que algumas áreas da vida sejam curadas para que a pessoa se “solte”, digamos assim, mais em público, contudo, muitas pessoas não manifestarão grandes diferenças, mesmo depois de experimentarem curas psicológicas e espirituais profundas e verdadeiras. Outras pessoas, contudo, parece já nascerem “soltinhas”, mas essas ”mexerão o esqueleto” tanto num período de louvor quanto ouvindo um pagode, um sertanejo ou uma música eletrônica, farão isso sem maiores dificuldades e mesmo sem que ninguém precise “ministra-las”.
      Período de louvor deveria ter só duas regras, santidade e liberdade, mais nada. Em primeiro lugar os tais “ministros” deveriam ter a obrigação de levar as pessoas a entenderem a seriedade do momento, que louvor não se presta com o espírito de qualquer jeito, que adorar a Deus é entrar em sua presença mais íntima e nessa experiência somos levados a nos santificar. Assim um momento para oração, assunção de pecados e posse de perdão é imprescindível para que uma adoração real a Deus exista. Contudo, depois disso, que as pessoas tenham liberdade para adorar cada uma à sua maneira, que “ministros” parem com a deselegância que muitos chamam de espiritualidade de mandar as pessoas se levantarem, sentarem, baterem palmas, e o pior de tudo, dançarem e fazerem coreografias.
      Isso tudo não tira necessariamente de ninguém uma adoração melhor, só deixa os “soltos” mais soltos, e os mais discretos, desconfortáveis. Quer levantar, dançar? Esteja à vontade. Quer ficar sentado com os olhos fechados cantando em som mais baixo? Não tem problema. Que ninguém julgue ninguém, mas que ninguém escandalize ninguém, que se olhe só para Deus durante a adoração pública e permita-se que cada um preste sua adoração como quer. Para que isso ocorra em primeiro lugar os líderes de louvor devem ser mais maduros, não basta ter uma boa voz e vontade de pegar microfone, o que muitos fazem só por vaidade, ainda que se achem chamados e ungidos, apoiados por pastores também equivocados, sejam manipuladores ou imaturos. 
      A imaturidade leva muitos líderes a exigirem tal e tal atitude dos outros por insegurança pessoal, e não por se preocuparem com a qualidade do louvor dos outros. Liderar adoração nos cultos não é momento para que o líder tenha um momento de louvor pessoal, isso não é a prioridade, mas para permitir que os outros tenham esse momento, ainda que o líder tenha que abrir mão de valores e liberdades, que pessoalmente para ele permitiriam uma adoração melhor. O líder de louvor precisa ter humildade e maturidade para pensar nos outros, e não em si mesmo, para isso pode ser que precise cantar menos, fazer menos segundas vozes, momento de louvor coletivo não é espaço pra solos e apresentações de alguns, mas para a adoração da maioria possível. Bons solistas nem sempre dão bons ministros de louvor. 
      Por isso, a maneira do líder cantar, o tipo de música que escolhe para a igreja cantar e o jeito como lidera a congregação, devem ser sempre visando santidade, sim, qualidade, sim, mas também liberdade para que cada um adore do jeito que prefere. É de conhecimento geral que a música se tornou um marketing importante em muitas igrejas, mais que oração e palavra, assim importa a muitos que querem igrejas cheias terem um “período de louvor” onde todos participem. Esse desvio conduz as pessoas a acharem que experiência com Deus é emoção, alegria, e não prática de vida amorosa e misericordiosa, mas também é terreno propício para heresias como teologia da prosperidade, fé na fé e dizimolatria, enquanto isso Deus de fato não é adorado, enquanto isso se olha para baixo e não para o alto. 
      Quem perde com isso são as pessoas, não Deus, Deus não é menos Deus quando as pessoas não o adoram, mas nós somos melhores à medida que o adoramos. Mas ainda que filho legítimo de Deus e não só um bom religioso, se não adora o altíssimo perde o privilégio de experimentar o nível mais alto e íntimo de espiritualidade, muitos, com medo de perderem o “controle”, têm negado a si mesmos essa maravilhosa experiência, limitando-se a uma adoração meramente intelectual. Mas o nível de verdadeiro adorador nos liberta mais quem a alegria passageira de cantar músicas religiosas, mais que uma interação só emocional e física com uma comunidade cristã, aliás, muitos se enchem de uma coragem para se mostrarem cheios do Espírito nos cultos, a mesma coragem que se ausenta para se mostrarem cristãos diferentes no mundo.
      As melhores experiências que tenho com Deus são na privacidade de meu lar, numa sala escura na madrugada, enquanto esposa e filhas dormem. A liberdade e a santidade que experimento nesses momentos é o que me faz continuar no evangelho, seguir estudando a Bíblia e confiando em Deus. Talvez os que me vejam quieto durante um período de louvor não saibam disso, e vejam que sou músico, trabalhei por anos atrás de um piano, de um órgão e de teclados, vendo a igreja receber chuvas de bençãos no período de louvor. Mas ainda assim, tendo experimentado dons no Espírito e tantas outras experiências espirituais, prefiro, em culto público, quando estou sentado com a congregação, uma atitude de tranquilidade, de menos sons e gestos, esse é o meu jeito de melhor adorar a Deus, mas é só o meu jeito. 

sábado, fevereiro 08, 2020

Isaías 35 - Profecia para todos!

      “O deserto e o lugar solitário se alegrarão disto; e o ermo exultará e florescerá como a rosa. Abundantemente florescerá, e também jubilará de alegria e cantará; a glória do Líbano se lhe deu, a excelência do Carmelo e Sarom; eles verão a glória do Senhor, o esplendor do nosso Deus.Isaías 35:1-2

      Uma das belezas singulares da Bíblia é que suas palavras proféticas não são só predições do futuro, mas são palavras poéticas, isso revela muito sobre a espiritualidade mais pura e alta, ela é plenamente harmoniosa esteticamente, responde à razão, à emoção e também ao espírito. A glória espiritual de Deus é metaforizada na glória terrena e humana, da natureza, da arte e do melhor que o homem pode construir. 
      A profecia do capítulo 35 de Isaías, sobre o futuro glorioso de Israel, livre do cativeiro e tendo seu melhor momento restaurado, é compartilhada com essa harmonia, que emoção o profeta deve ter experimentado quando recebeu do Espírito Santo tal revelação. O maior dos mistérios, porém, é entender que a mais sublime das glórias divinas é revelada em Jesus, o verbo do Deus altíssimo. 

      Fortalecei as mãos fracas, e firmai os joelhos trementes. Dizei aos turbados de coração: Sede fortes, não temais; eis que o vosso Deus virá com vingança, com recompensa de Deus; ele virá, e vos salvará. Então os olhos dos cegos serão abertos, e os ouvidos dos surdos se abrirão. Então os coxos saltarão como cervos, e a língua dos mudos cantará; porque águas arrebentarão no deserto e ribeiros no ermo. E a terra seca se tornará em lagos, e a terra sedenta em mananciais de águas; e nas habitações em que jaziam os chacais haverá erva com canas e juncos.Isaías 35.3-7

      Em seu amor único, Deus não dá em primeiro lugar a profecia aos rebeldes e maus que traíram sua aliança e levaram Israel a sofrer a disciplina do cativeiro, não, Deus a dá aos fracos, aos humildes, aos que sofrem injustamente por causa de erros de poderosos e líderes ruins, devassos e gananciosos. Mas a palavra profética de libertação iminente promete milagres, cegos verão, surdos ouvirão, coxos saltarão e mudos falarão. 
      Será que a profecia se refere a problemas físicos, a deficiências no corpo material? Não, os cegos, surdos, coxos e mudos o são espiritualmente, essas limitações não nasceram com eles ou lhes foram atribuídas por acidente, mas eles mesmos as adquiriram por terem se afastado de Deus e consequentemente serem levados cativos. A prisão tira direitos, de ir e vir, de se expressar, de escolher o próprio caminho.
      A disciplina do cativeiro, todavia, depois de executada, tem a função de despertar o homem espiritualmente e trazê-lo novamente para perto de Deus. É claro que quando isso acontece a benção se manifesta também no plano físico, a saúde é curada e a prosperidade material é restabelecida, tudo entra novamente em sincronia com o melhor do plano de Deus e o homem passa a ter novamente liberdade. 

      E ali haverá uma estrada, um caminho, que se chamará o caminho santo; o imundo não passará por ele, mas será para aqueles; os caminhantes, até mesmo os loucos, não errarão. Ali não haverá leão, nem animal feroz subirá a ele, nem se achará nele; porém só os remidos andarão por ele. E os resgatados do Senhor voltarão; e virão a Sião com júbilo, e alegria eterna haverá sobre as suas cabeças; gozo e alegria alcançarão, e deles fugirá a tristeza e o gemido.Isaías 35.8-10

      As profecias do antigo testamento bíblico têm sempre mais de uma camada, a primeira refere-se a predição de fatos históricos futuros como resposta a situações históricas do presente e do passado do povo judeu. A segunda, no caso de profecia para a nação física de Israel, refere-se também à Igreja universal, abrangendo o conceito do povo de Deus judeu para o povo do reino de Deus estabelecido pelo evangelho de Cristo. 
      A terceira camada refere-se à minha e à tua vida, à aplicação que fazemos do ensino genérico para as nossas existências atuais. Essa terceira interpretação muitas vezes pode ser equivocada (alguns teólogos acham inapropriado seu uso), pois coloca o texto fora do contexto original, mas ainda assim, pela sua misericórdia, o Espírito Santo nos consola com textos que originalmente nada têm a ver com nossas realidades.
      A verdade é que é impossível entendermos de fato a atemporalidade de Deus, o fato dele existir sempre, não envelhecer, saber de tudo o tempo todo e de sua palavra ter diversas camadas para abençoar a pessoas diferentes e de tempos diferentes. A verdade é que a maioria de nós e na maior parte do tempo não conhece o Deus incognoscível, ele é sempre mistério, e assim deve ser. Muitas coisas preditas na Bíblia só serão entendidas por gerações futuras. 
      A profecia de Isaías 35 quando cita “resgatados” e “caminho santo” podemos dizer que se refere não só ao livramento final dos judeus de seu cativeiro, mas também aos salvos da Igreja universal (os filhos de Deus de todos os tempos e lugares) e a Jesus, ela não se refere só a Israel, mas a toda a humanidade. Muitas vezes nem o profeta tem noção do poder da palavra que está entregando, ainda que ele seja limitado o Espírito não é. 
      Mas ainda assim, Israel foi e sempre será um povo especial para Deus, eu creio que ainda que a salvação em Cristo seja uma aliança mais abrangente e completa que a Lei mosáica e o Templo de Jerusalém, Deus cumprirá todas as promessas que fez aos judeus, incluindo uma volta não como homem humilde mas como rei eterno. Deus é fiel ainda que nós não sejamos e nenhuma de suas palavras deixará de ser cumprida. 
      Eu penso que essa volta ainda não aconteceu, ela não foi a encarnação de Jesus há dois mil anos atrás, mas será aquela que ocorrerá no evento depois do arrebatamento, quando Jesus voltará em Jerusalém com os mortos em Cristo e arrebatados em meio a um conflito mundial envolvendo o mundo e a nação de Israel. No final não haverá judeu ou gentio, israelita ou cristão, mas todos seremos restaurados por Deus do cativeiro maior que é viver encarnados neste mundo. 

sexta-feira, fevereiro 07, 2020

Se Deus chama, não cansa

      “Assim como o cervo brama pelas correntes das águas, assim suspira a minha alma por ti, ó Deus! A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo; quando entrarei e me apresentarei ante a face de Deus?Salmos 42.1-2

      “Eu tento orar, mas me dá um sono, fico sem assunto, não consigo orar por muito tempo”, muita gente alega isso sobre oração, principalmente jovens atuais, mas como já dissemos aqui, boa oração não é quantidade, mas qualidade. Precisamos entender que vida com Deus, desde o recebimento da salvação até todo o processo de crescimento e maturidade espiritual, é sempre vertical e de cima para baixo, é Deus chamando o homem, e não o contrário. Isso não significa que devemos ficar esperando “Deus chamar” para que oremos e o conheçamos, andando de qualquer jeito e sem vigilância, o homem deve querer, e com convicção, mas sempre obedecendo a voz suave do Espírito Santo. 
      O que vive com temor a Deus, que está sempre sensível à voz de Jesus, sentirá de maneira maravilhosa o Espírito Santo chamando-o a orar, para confessar, para adorar, para conhecer a boa, perfeita e agradável vontade do Senhor. Penso que atingimos um grau de maturidade espiritual quando oração se torna como a respiração física, natural, na medida certa, sem que precisemos forçar nada, apenas provar da presença do Espírito Santo nos chamando e nos ensinando, fazemos simplesmente porque queremos viver bem. Se Deus chama, não cansa, mas vivifica nosso espírito, ainda que nossos corpos e almas estejam tão sobrecarregados de existir neste mundo. Se Deus chama, orar é como respirar e a presença de Deus, “como o ar que respiro”, simples mas vital. 

quinta-feira, fevereiro 06, 2020

Fale em línguas espirituais estranhas

      “Portanto, irmãos, procurai, com zelo, profetizar, e não proibais falar línguas. Mas faça-se tudo decentemente e com ordem.” I Coríntios 14.39-40

      Uma prova de experiência profunda em oração com Deus é falar em línguas espirituais estranhas, aqui preciso deixar algo bem claro: não estou dizendo que os que não falam em línguas não estão tendo experiência profunda com Deus, nem que todos devem falar em línguas espirituais estranhas. Mas segue um conselho de um cristão com alguma experiência em vários ministérios, tanto protestantes tradicionais como pentecostais, se você não tiver esse dom, busque-o! Nem precisa ser para usá-lo em público, aliás em muitos casos é mais espiritual e sábio não usar dom espiritual em público que usar, vaidade espiritual também é vaidade, e pior que as outras (porque usa o nome de Deus). 
      Assim que use o dom de línguas espirituais estranhas só em teus momentos privados de oração, isso entrega uma experiência profunda com o Senhor, espiritual e emocional, que nos fortalece e nos ensina. Mas se já tiver o dom, suba mais um degrau, peça a Deus o dom de interpretação de línguas estranhas, e repito, que se também for usado em momentos pessoais de oração nos cura e consola sobremaneira. Ore, fortaleça-se no Senhor para enfrentar a vida, mas não enfrente as batalhas que Deus nos manda lutar com armas inadequadas, carnais e mesmo intelectuais, mas com as armas espirituais. Oremos, mas oremos mesmo, e se possível, revestidos dos dons espirituais.

quarta-feira, fevereiro 05, 2020

Nos ocupemos com o bem

      “E não vos embriagueis com vinho, em que há contenda, mas enchei-vos do Espírito; falando entre vós em salmos, e hinos, e cânticos espirituais; cantando e salmodiando ao Senhor no vosso coraçãoEfésios  5.18-19

      Não ocupe tua alma com coisas vãs e de pouca validade para o bem maior, que o vaidoso se iluda com com os falsos aplausos, que o mentiroso se vicie nas mentiras sobre si mesmo, que o ganancioso use e manipule para ganhar rápido o que não merece, o tempo dará sua resposta. Quanto ao verdadeiro filho de Deus siga fazendo o melhor e a tempo, trabalhando quando preciso, descansando quando necessário, mas nunca dependendo de si mesmo, mas de Deus. Não invejemos o mal intencionado que faz e acontece, e que ainda assim parece não ser apanhado e ser honrado pelos homens, a inveja congela a vida numa referência de homem, impede crescimento em Deus e amarga a alma. Fujamos de qualquer sombra de contenda, é melhor está com poucos na luz que com muitos nas trevas.
      Olhemos para frente e para o alto, nada passa desapercebido a Deus, nada fica sem medida e sem recompensa, nenhuma causa fica sem efeito, assim, não percamos tempo e energia com o que não resistirá aos anos, às provas, à luz do altíssimo. Purifiquemos nossos espíritos com o sangue do cordeiro que é Jesus, consolemo-nos com os dons do Espírito Santo, sejamos fiéis a Deus, aos nossos cônjuges, aos nossos filhos e aos nossos patrões, o resto administremos com equilíbrio nunca dando mais valor que realmente merece. Deus é com o justificado, com o misericordioso, com o verdadeiro homem de bem, com aqueles que sabem que nada são sem ele e que não fitam seus olhos na efêmera glória humana. 
      Enchei-vos do Espírito e não vos embriagueis com vinho, e vinho não é só bebida fermentada de uva, é qualquer alegria que não se baseia na justiça, na misericórdia e na paz, é qualquer obsessão que leva ao vício, que nos domina e sobre o qual não temos controle, e como vício é idolatria que tenta substituir o vivo Espírito de Deus. Religião de homens é vinho, legalismo doutrinário é vinho, fé na fé é vinho, assiduidade em cultos pode ser vinho à medida que o simples fato de não faltar a um culto se torna mais importante que praticar o que se aprende no culto. O Espírito de Deus é vida e liberdade, para obedecer a Deus sem se importar com reconhecimento humano. 
     Nos ocupemos com o bem e o maior bem é adorar a Deus, em espírito e em verdade, em palavra e na prática, diante dos homens e na intimidade. Saibamos, contudo, que a verdadeira adoração só presta um coração realmente puro, sincero do bem, quebrantado diante de Deus. O melhor louvor vem dos inocentes, crianças são inocentes, alguns tipos de limitados mentais são inocentes (e não qualquer espécie de maluco), mas os lavados com o sangue de Cristo se tornam inocentes à medida que caminham com Jesus e limpam intenções e ações. Louvor liberta, abre portas, mas o verdadeiro louvor é o que revela de fato quem somos, já que ele não vem de boca e corpo, mas do coração que se aproximou de Deus com todas as suas forças e de fato tocou o santo altar do altíssimo.

terça-feira, fevereiro 04, 2020

Orai sem cessar

      “Orai sem cessar. Em tudo dai graças, porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco. Não extingais o Espírito. Não desprezeis as profecias.I Tessalonicenses 5.17-20

       Eis uma tentação que na maior parte das vezes sofre, não o cristão novo e menos atuante na igreja, mas o mais velho de igreja, o mais maduro e mesmo aquele com mais atuação em cargos e lideranças ministeriais. Às vezes entramos numa integração tão intensa com a roda viva da vida que simplesmente paramos de orar como se deve, até oramos nos cultos, pensamos em Deus, pedimos sua orientação durante situações de decisões e de seriedade, mas orar mesmo, isso não fazemos. Esse mecanismo pode se instalar de tal forma em nossas mentes que acabamos acreditando que somos espirituais, mesmo orando pouco ou errado. 
      Bem, o que é “orar mesmo”, qual a maneira certa de orar? É ter uma interação direta, profunda e a sós com Deus, envolvendo razão, emoção, fé e espírito, isso nem precisa acontecer em períodos longos, oração não é quantidade mas qualidade. Numa experiência assim confessamos todos os pecados, assumimos um desejo firme de não comete-los mais e depois adoramos a Deus, com todo o coração, com todo o pensamento e no Espírito Santo. Santidade e adoração são as provas que estamos tendo de fato vidas de oração verdadeira, já se os pecados se acumulam e se a adoração mais emocional é difícil, podemos até estar trabalhando muito na obra, mas não estamos em comunhão com Deus em oração.

segunda-feira, fevereiro 03, 2020

Tranquilo mas vigilante

       “Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; na verdade, o espírito está pronto, mas a carne é fraca.Mateus 26.41

      Ande tranquilo e descansado, mas só depois de ter orado e entregado tua vida nas mãos de Deus. Essa entrega deve ser constante, assim que não se passe muito tempo entre um período de oração sério na presença do Senhor e outro, nem precisa ser longo, mas tem que ser profundo, almejando sempre a santidade e a adoração. Não enfrente o dia a dia, o mundo, o trabalho e o estudo secular, e mesmo as relações sociais dentro de igreja e família, de qualquer jeito, e é claro muito menos compromissos com o ministério, compartilhamento de palavra, ministração de louvor ou direção de oração. 
      O espírito está pronto, mas a carne não, e ela pode conter a unção espiritual de forma limitada, é um vaso pequeno, assim deve ser constantemente cheio com o Espírito Santo. É importante, contudo, que se entenda uma coisa, tranquilo não significa displicente ou passivo, aquele que descansa em Deus não se enfraquece, mas fortalece-se, pois está calmo não por confiar nas ilusões do mundo, da carne e do diabo, mas por firmar-se no altíssimo. Assim, o segredo da força esta em confiar plenamente, pela fé em Deus, e crer não é fazer força, mas descansar, Deus é a nossa força.

domingo, fevereiro 02, 2020

Simples ou bipolar?

      “Quisera eu me suportásseis um pouco na minha loucura! Suportai-me, porém, ainda. Porque estou zeloso de vós com zelo de Deus; porque vos tenho preparado para vos apresentar como uma virgem pura a um marido, a saber, a Cristo. Mas temo que, assim como a serpente enganou Eva com a sua astúcia, assim também sejam de alguma sorte corrompidos os vossos sentidos, e se apartem da simplicidade que há em Cristo.” II Coríntios 11.1-3

      Às vezes refletimos tanto, pensamos tanto, raciocinamos tanto, que nos esquecemos da simplicidade de agradecer ao Senhor por tudo, sem filosofar demais, sem se preocupar em basear-se demais na teologia, e desculpe-me se este texto se refere somente a mim, se é pessoal demais, quem me acompanha aqui entenderá minha sinceridade. Não, ser profundo, ser sério, analizar a fé, o cristianismo, a prática do evangelho com coerência, pesando teoria com prática, não é costume da maioria, aliás, uma das ênfases do “Como o ar...” é justamente sobre a ociosidade intelectual de muitos cristãos atuais, ociosidade que leva tantos a serem presas de heresias e hipocrisias. É preciso crer mas com sabedoria, com crítica, sempre!
     Contudo, só às vezes, arrogantes como eu, que se acham melhores por serem mais informados (ou se acharem mais informados), descobrem na simplicidade do primeiro amor do evangelho uma satisfação maior. Mas o que de fato é ser profundo no evangelho? O cristianismo oferece um acesso a Deus diferenciado justamente por ser descomplicado, e por isso pode ser provado por todos, de todos os tempos e lugares, de níveis intelectuais e financeiros distintos, o cristianismo é simples. Glória a Deus por isso, e por mais que precisamos ser íntegros, conhecer a Deus não só com fé e emoção mas também com razão e trabalho, não podemos nos esquecer disso. 
      Se analisarmos a história da igreja cristã no mundo, a primitiva, a católica, a protestante, a pentecostal, a neo-pentecostal e a atual (misturada e sem identidade), veremos um jogo de queda de braço. Entre quem, entre o homem e Deus? Não, isso é desnecessário tanto quanto impossível, mas entre polos de visões do que seja o cristianismo. Por um lado está a liberdade emocional no Espírito Santo e por outro lado o legalismo racional dos textos bíblicos. Mas esse jogo na verdade é do homem contra o próprio homem, que se perde na liberdade emocional e se abriga nos grilhões do racional, depois desfalece nas cadeias do legalismo doutrinário e deseja de novo a liberalidade passional do que acha que é o Espírito. 
      Os extremos ficam interessantes quando o homem deixa a simplicidade do evangelho, da fé e obras, do crer e praticar, do sentir mas avaliar racionalmente, isso dá trabalho, exige tanto conhecimento bíblico quanto vida de oração, isso exige cérebro e intuição espiritual, inteligência e dons do Espírito. Quem não quer se dar a esse trabalho considera melhor simplesmente repousar num extremo e ou não pensar mais ou não sentir mais. Equilíbrio dá trabalho, mas cansa, por isso às vezes, basta sermos simples, talvez Deus conte com o nosso cansaço, não para que estacionemos num polo, mas para que descansemos realmente nele, para que achemos o ponto de equilíbrio.
      A verdade é que o equilíbrio é uma quimera, desejado mas poucas vezes provado, somos seres bipolares, passamos a vida num jogo de queda de braço que nos leva de um lado para outro. Todavia, às vezes ser simples basta, e é nesses momentos que provamos Deus de maneira mais pura e direta, que ouvimos sua voz com clareza, que entendemos a vontade de Deus para nossas vidas e que vemos que tudo faz sentido e que somos felizes. À medida que envelhecemos no corpo e amadurecemos no espírito esses momentos aumentam, mas só quando vencemos a desesperança, que também podem ser tentação forte à medida que o tempo passa. Desculpe-me novamente se essa reflexão só serviu a mim...

sábado, fevereiro 01, 2020

Filosofar no Espírito

      “Mas falamos a sabedoria de Deus, oculta em mistério, a qual Deus ordenou antes dos séculos para nossa glória; A qual nenhum dos príncipes deste mundo conheceu; porque, se a conhecessem, nunca crucificariam ao Senhor da glória. Mas, como está escrito: As coisas que o olho não viu, e o ouvido não ouviu, E não subiram ao coração do homem, São as que Deus preparou para os que o amam. Mas Deus no-las revelou pelo seu Espírito; porque o Espírito penetra todas as coisas, ainda as profundezas de Deus. Porque, qual dos homens sabe as coisas do homem, senão o espírito do homem, que nele está? Assim também ninguém sabe as coisas de Deus, senão o Espírito de Deus.” I Coríntios 2.7-11

      “Filosofia (do grego Φιλοσοφία, philosophia, literalmente «amor pela sabedoria» é o estudo de questões gerais e fundamentais sobre a existência, conhecimento, valores, razão, mente, e linguagem; frequentemente colocadas como problemas a se resolver. O termo provavelmente foi cunhado por Pitágoras (c. 570 – 495 BCE). Os métodos filosóficos incluem o questionamento, a discussão crítica, o argumento racional e a apresentação sistemática. As questões filosóficas clássicas incluem: É possível saber qualquer coisa e provar que se sabe? O que é mais real? Os filósofos também colocam questões mais práticas e concretas, como: Existe uma maneira melhor de se viver? É melhor ser justo ou injusto (se haver como se safar)? Os seres humanos têm livre arbítrio?“ Fonte: Wikipedia 

      Quem acompanha o “Como o ar...” já entendeu que a “pegada” aqui é filosofia, e não tem nada errado em cristão filosofar, isso usa outras partes importantes do nosso ser, filosofia é uma ferramenta, não uma religião, usada pelo nosso intelecto. Analizar aquilo que nos toca, que impressionou em nós fortes sentimentos, que mudou de alguma maneira nossas vidas, entender o que somos, porque nos tornamos assim, e o que nos leva tanto a sofrer quanto a sermos felizes, é importante. A diferença entre filósofo e cristão filósofo e que o cristão não encerra o processo na reflexão, nem está sozinho para praticar as conclusões obtidas, mas ele tem Deus morando nele numa íntima ligação.
     O cristão tem o privilégio de filosofar no Espírito Santo, que tanto o conduz às melhores conclusões quanto o fortalece para viver de fato o que concluiu, pensar é preciso, ainda que conquistemos os mistérios espirituais por fé que é o primeiro passo, depois temos que refletir sobre o mistério e chegar mais perto da mente de Deus. Quem crê e vive abençoa a si mesmo, mas quem crê, vive e pensa a respeito (filosofa), consegue verbalizar e então ensinar o que aprendeu, isso abençoa os outros. Por outro lado o motivo da humanidade ser joguete nas mãos de maus líderes religiosos é justamente porque muitas vezes deixou que outros pensassem por ela. 
     Paulo não só acreditava, tinha experiências com o Espírito Santo, praticava o evangelho e o pregava, ele também escreveu os textos maiores e mais importantes do novo testamento, que têm ensinado a igreja desde o início. Por que Deus escolheu Paulo para escrever esses textos e não outros, como João e Pedro? Porque Paulo tinha inteligência, tinha cultura, pensava e escrevia com profundidade e verdade, Paulo era também um filósofo cristão, mais do que qualquer outro escritor bíblico, refletiu profundamente sobre o reino de Deus estabelecido por Cristo, argumentou com os judeus que insistiam em permanecer debaixo da lei, mesmo depois de convertidos. 
      Salomão é outro escritor bíblico que também foi útil nos planos de Deus porque era um profundo pensador além de temente a Deus, Eclesiastes prova isso. Moisés, criado como príncipe no Egito, com a melhor educação, foi incumbido por Deus de escrever o pentateuco, os cinco primeiros livros da Bíblia. Podemos citar também Daniel, um dos “jovens em quem não houvesse defeito algum, de boa aparência, e instruídos em toda a sabedoria, e doutos em ciência, e entendidos no conhecimento, e que tivessem habilidade para assistirem no palácio do rei, e que lhes ensinassem as letras e a língua dos caldeus” (Daniel 1.4), outro selecionado pelo Espírito Santo para registrar profecias sobre o fim dos tempos no nível de Apocalipse de João.
      Moisés, Salomão, Daniel, Paulo, são homens que escreviam bem porque pensavam bem, eles, e não outros, foram as ferramentas usadas por Deus para registrar mais que crônicas históricas e políticas ou biografias, mas pensamentos profundos sobre Deus, o homem e a vida, isso nos ensina que pensar, sim, é preciso, obviamente depois de crer e buscar a Deus. Eu pessoalmente creio que mais do que nunca, nesses tempos de tanta manipulação ideológica, de tanta heresia, de tantas vozes virtuais, o cristão precisa pensar mais, avaliar mais as coisas, buscar coerência entre palavras e vida. Contudo, tudo isso para voltar à simplicidade do evangelho de Jesus e de fato vivê-lo, não para se perder nos extremos. 

sexta-feira, janeiro 31, 2020

Mente de Cristo

      “Mas nós não recebemos o espírito do mundo, mas o Espírito que provém de Deus, para que pudéssemos conhecer o que nos é dado gratuitamente por Deus. As quais também falamos, não com palavras de sabedoria humana, mas com as que o Espírito Santo ensina, comparando as coisas espirituais com as espirituais. Ora, o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente. Mas o que é espiritual discerne bem tudo, e ele de ninguém é discernido. Porque, quem conheceu a mente do Senhor, para que possa instruí-lo? Mas nós temos a mente de Cristo.I Coríntios 2.12-16

      Eu amo o texto inicial de Paulo, muitos não captam sua profundidade, nele o apóstolo-teólogo une conceito espiritual com intelectual, fé com conhecimento, constrói um entendimento maduro sobre a obra de Cristo em nossas vidas, que vai muito além do leite espiritual que muitos acham atualmente que é alimento de cristão crescido quando não é. O que é leite espiritual? São as primeiras e básicas coisas do caminhar com Cristo, fé, perdão de pecados, salvação eterna, santidade e adoração, mesmo dons espirituais, que muitos acham serem efeitos de vida altamente espiritualizada, também é o início da caminhada, não o fim (como tantas vezes já refletimos aqui).
      Alimento espiritual de cristão crescido leva a um confronto com todas as realidades, sem a proteção inicial que as crianças precisam, conduz a um longo processo de cura pessoal e conhecimento divino, que não interfere na salvação, mas que permite tanto o auto-conhecimento quanto uma intimidade profunda com Deus e o mundo espiritual. Não, ninguém precisa de maturidade espiritual para ter direito à eternidade melhor e a um cuidado especial do Senhor neste mundo. Maturidade, assim como o novo nascimento inicial, é uma questão de escolha, ainda que o Espírito Santo que habita o homem após o novo nascimento atraia o filho de Deus sempre para o crescimento, mas só cresce quem se permite crescer. 
      Como sabemos se damos ao Espírito de fato liberdade? Quando experimentamos um conhecimento crescente daquilo que nos foi dado gratuitamente no início, como diz o texto. Veja bem, Deus já está em nós e nos abençoa, mas ainda assim podemos não entender ou conhecer sua atuação, porque ainda que ser curado só dependa de fé, saber como essa cura é operada depende de nós, de “filosofarmos no Espírito”, digamos assim. Isso é nos alimentarmos de comida espiritual de adulto, isso é uma escolha de trabalho, assim implica em querer isso e em se dar ao trabalho de buscar. O que nós precisamos saber é que no novo nascimento, quando o Espírito Santo nos sela, ganhamos a “mente de Cristo” e o potencial para crescer.
      “Dado gratuitamente por Deus”, “não com palavras de sabedoria humana”, “o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus porque lhe parecem loucura”, isso tudo vai contra o entendimento de ocultistas e esoteristas (e filósofos) que diz que o conhecimento mais profundo pode ser adquirido por homens que queiram isso. Sim, querer é preciso, deve-se escolher querer questionar e aprender mais, mas só depois que o Espírito de Deus é dado por Deus através de uma fé que dá um pulo no escuro, sem conhecimento. Muitos podem até, por esforço próprio, adquirirem profundos conhecimentos sobre o mundo espiritual, alguns até desconhecidos pela maioria dos cristãos.
      Mas por si só ninguém nunca entenderá a relevância de Jesus, e portanto nunca será salvo e terá o melhor da eternidade. Ninguém conhece a Deus, assim Deus precisa nos dar sua mente, em Cristo, para que possamos conhecê-lo, ao menos um pouco. Ah se os cristãos entendessem de verdade a profundidade desse mistério, que recebemos a mente de Cristo, não só o privilégio de sentir a presença de Deus, mas também o intelecto de Cristo para conhecer de fato as verdades universais. Essa capacidade muitos que se acham espirituais não têm, vai muito além dê emoções, só ela pode nos levar a uma maturidade espiritual realmente verdadeira de auto-conhecimento e intimidade com o altíssimo.