domingo, junho 13, 2021

Lava-pés

      “Levantou-se da ceia, tirou as vestes, e, tomando uma toalha, cingiu-se. Depois deitou água numa bacia, e começou a lavar os pés aos discípulos, e a enxugar-lhos com a toalha com que estava cingido. Aproximou-se, pois, de Simão Pedro, que lhe disse: Senhor, tu lavas-me os pés a mim? Respondeu Jesus, e disse-lhe: O que eu faço não o sabes tu agora, mas tu o saberás depois. 
      Disse-lhe Pedro: Nunca me lavarás os pés. Respondeu-lhe Jesus: Se eu te não lavar, não tens parte comigo. Disse-lhe Simão Pedro: Senhor, não só os meus pés, mas também as mãos e a cabeça. Disse-lhe Jesus: Aquele que está lavado não necessita de lavar senão os pés, pois no mais todo está limpo. Ora vós estais limpos, mas não todos. Porque bem sabia ele quem o havia de trair; por isso disse: Nem todos estais limpos.” 
João 13.4-11

      A passagem bíblica inicial é surpreendente, fico pensando como João (ou aquele que escreveu o texto) gravou na memória tantos detalhes e depois os registrou. Sempre fico pensando em que momento os escritores bíblicos fizeram seus registros em pergaminho, papiro ou outro meio, será que foi no momento em que presenciaram um fato, ouviram as palavras, será que foi depois? Quanto tempo depois? É importante lembrarmos que nos tempos bíblicos, mesmo nos tempos do novo testamento, não se tinha tanta facilidade para documentar as coisas, e nem todos sabiam escrever ou ler. Mas o texto de João começa com um ato simples de Jesus que vai abrindo para mais e mais revelações, à medida que mais que às perguntas do curioso e imaturo Pedro são respondidas, mas outras questões, que ele nem sabia que existiam. 
      Após a ceia Jesus se põe a lavar os pés (veja mais no link) dos discípulos, um costume da época mas que feito pelo Cristo mostrou sua humildade. Pedro avalia com seu senso comum e conclui que deveria ser ele a lavar os pés do mestre e não o contrário, assim, Jesus começa a ensinar algo que vai além da lavagem do corpo. Ainda que Cristo exorte Pedro dizendo que ele entenderia depois o significado do que estava fazendo, Pedro não aceita o fato, então Jesus insiste, “se eu te não lavar, não tens parte comigo“. Finalmente Pedro aceita, se entendeu não sabemos, o fato é que ele exagera na reação, “não só os meus pés, mas também as mãos e a cabeça“, Jesus então responde com um mistério, “aquele que está lavado não necessita de lavar senão os pés, pois no mais todo está limpo”. O que ele quis dizer?
      Primeiro uma palavra sobre a afirmação de Jesus “que eu faço não o sabes tu agora, mas tu o saberás depois”, quantas coisas não sabemos, quantos bens e justiças Deus pode estar fazendo por nós agora, enquanto esperamos respostas, enquanto estamos ansiosos e até achando que temos problemas que nunca serão solucionados. O justo viverá pela fé, se já entregamos nas mãos de Deus e estamos esperando vigilantes, em santidade e humildade, confiemos, nem tudo podemos saber antes e esperarmos certo nos amadurece, assim, fiquemos em paz. Sobre a lavagem de pés, mãos e cabeça, essas partes diferentes do corpo físico têm significados morais e espirituais distintos, foi sobre essas diferenças que Jesus se referiu. A lavagem dos pés têm prioridade sobre as outras, sobre o ponto de vista moral e espiritual. Por quê? 
      Jesus disse que quem está lavado só precisa lavar os pés, naquele tempo as pessoas andavam muito a pé e com calçados menos eficientes, assim, ainda que tivessem se banhado bastava uma ida rápida a algum lugar para que os pés se sujassem. Espiritualmente somos limpos quando oramos a Deus e colocamos nossas vidas em ordem, pedindo perdão, perdoando, entregando necessidades, nos firmando em sua vontade para seguirmos em direção ao Altíssimo. Contudo, alguns pecados são anexados em nós só pelo simples fato de nos relacionarmos com o mundo exterior, e nos dias atuais o mundo exterior chega aos nossos olhos e aos nossos ouvidos não só pela realidade física, mas também pela realidade virtual de celulares e computadores. A sujeira dos pés muitas vezes nem vemos, gruda em nossos sapatos e ficam lá. 
      Nossos pés morais são nossos olhos e nossos ouvidos físicos, que ainda que não interajamos com algo podem não ser protegidos a tempo de verem e ouvirem coisas ruins e sujas, essa sujeira precisa ser lavada. Uma boa maneira de fazermos isso espiritualmente é louvar a Deus, falar em línguas estranhas, pararmos de olhar para baixo, para o chão, para a terra, que sempre está suja, e olharmos para o alto, para o Santíssimo. Precisamos lavar nossos pés espirituais constantemente para que a sujeira não alcance mãos e cabeças, aí, algo inconsciente se tornará desejo, vontade e ato, estabelecendo-se como pecado. Fazemos as coisas com as mãos, elas tocam diretamente pessoas e objetos, se tocarem coisas imundas ficarão sujas, mas antes de agirmos com elas, pensamos, assim nossos pensamentos são sujos antes das mãos. 
      A última revelação de Jesus está em “vós estais limpos, mas não todos, porque bem sabia ele quem o havia de trair”, o costume simples de lavar os pés encerrou-se na revelação do traidor, que os discípulos podem ter ouvido naquele momento, mas não entendido. João sabia bem o desfecho da história quando registrou a passagem em seu evangelho e nos explica em seu texto. Judas Iscariotes poderia lavar os pés à exaustão, poderia fazer isso em todo o tempo, mas não adiantaria mais, não a partir do momento que sua cabeça foi corrompida com a traição. Muitos querem lavar os pés sem lavarem mãos e cabeça, assim são assíduos em templos, mas não na real presença de Deus, se acham limpos, mas estão imundos. 

sábado, junho 12, 2021

Reavaliemos nossas crenças: sempre! (Íntegra)

1. Onde estão nossos inimigos?

       “Apanhai-nos as raposas, as raposinhas, que fazem mal às vinhas, porque as nossas vinhas estão em flor.” Cantares  2.15

      Século XXI, os computadores diminuíram de tamanho, baixaram de preço, estão presentes em aparelhos domésticos, TVs, telefones, carros, que ligados a uma rede mundial de comunicação muito rápida colocam o planeta numa relação íntima, pessoal e em tempo real. Hoje todos os seres humanos podem ser produtores e espectadores, música e outras artes, indiferentemente se as pessoas têm ou não talentos e experiências especiais nisso, são compartilhadas por qualquer um, tendo como protagonista ele mesmo. 
      O mundo moderno trouxe um novo conceito de deidades, de super heróis, de celebridades, todos têm direito a tudo sempre, para ser e ter basta querer, desde que se possua um pequeno aparelho na mão, o espírito foi substituído por um celular, que tem o poder de unir, desunir, trazer e levar, transformando solidão em festa, tristeza em prazer, vazio em qualquer coisa. Eis uma faceta do tempo em que vivemos, está disponível para todo mundo? Não, ainda existe necessidade do básico para muitos e desrespeito com grande parte da população.
      Guerras seculares persistem, extremismos religiosos ganham adeptos, em ideologias distintas, a união global possível se antagoniza a conflitos que antes nem existiam, a liberdade que as rodovias virtuais permitem só armam o ser humano de mais ferramentas para prender e matar, não só os corpos, mas ideias e reputações. O que sempre existiu mas estava escondido em famílias, cidades e países, agora é revelado em mensagens no Twitter, em imagens no Instagram e em vídeos no Youtube, a “porcaria” não foi inventada, só veio à tona.
      Como uma metáfora dessa nova realidade, um vírus, microscópico e que estava escondido como tantas pessoas na mediocridade de seus lares, antes de poderem se manifestar no Whatsapp, conquista mais espaços que aqueles conquistados por mísseis teleguiados ligados a satélites ao redor do globo terrestre. Especialistas dizem que o Sars-Cov-2 (o vírus Corona que causou a Covid 19) não é o primeiro vírus e não será o último, só inaugurou uma era de doenças que mudou o mundo, mutações desse assim com novos surgirão. 
      A despeito de outros inimigos exteriores e mais convencionais, o vírus destrói de dentro para fora, outra metáfora dos tempos modernos, semelhante aos celulares, um tipo de possessão individual que desconsidera fronteiras e ataca pessoas diretamente. Enquanto tantos temiam uma terceira grande guerra mundial, com exércitos e armas destruindo cidades e invadindo países, ocorre outra coisa, o indivíduo sendo subjugado, não por inimigos grandiosos e exteriores de nações, mas por pequenas entidades, um celular ou um vírus. 

2. Peixes num aquário

      “Eis que vos envio como ovelhas ao meio de lobos; portanto, sede prudentes como as serpentes e inofensivos como as pombas.” Mateus 10.16

      O “mal”, que muitos ainda não entenderam o que realmente é, achou novas maneiras de agir através de caminhos que o próprio homem criou, a tecnologia e a globalização, para invadir, conquistar e destruir. Isso ocorre a despeito de muitos, ainda que testemunhem uma nova era, continuarem achando que ainda estão vivendo no passado. Parece que o “mal” moderniza-se, evolui, enquanto o “bem” mantém-se atrasado, achando que manter tradições humanas faz dele mais forte, o “bem” não vê que lhe foi armada uma armadilha e ele caiu, como um peixe num aquário. 
      Mas não foi o bem que caiu numa armadilha, foi a arrogância humana, o bem verdadeiro não se engana, não se enfraquece jamais, não se aprisiona num aquário. E Deus com isso? Deus nada tem a ver com isso, ele permanece no mais alto lugar espiritual, emanando sua luz e atraindo os humildes. Pela ciência já entendemos que o ser humano mudou o suficiente para reavaliar suas crenças e ver além, não mais como criança, mas como adulto, a ciência contempla a matéria, mas o método científico, ferramenta usada para fazer ciência, pode ser usado também para as coisas do espírito. 
      O homem já aprendeu a ver além da aparência, a identificar inimigos além do mundo exterior, a entender o erro moral além de ações físicas, mas na íntima intenção emocional. A base disso não foi ensinada pela ciência, a partir do século XIX, mas pela espiritualidade de Jesus desde o século I. Pelo evangelho o homem entendeu que não basta uma religião de sacrifícios com morte e sangue para acessar a graça divina para obter uma vitória também com derramamento de sangue contra homens de carne e sangue iguais a ele. Jesus ensinou há quase dois mil anos que a guerra é espiritual. 
      O inimigo do homem é ele mesmo, a batalha se dá em seu interior, o mal não é algo físico e grande, mas pequeno, que pode ser alojado e disfarçado dentro do ser humano. Se é isso, se já temos condições intelectuais de entender isso, por que muitos cristãos ainda insistem em ler o mundo e a existência como liam os israelitas no antigo testamento? Por que evangélicos querem poder político no Brasil para ter uma nação cristã física, quando Jesus ensinou que seu reino é o dos céus, não na Terra? Essa é a armadilha que prende um peixe que entrou no aquário por vontade própria, não por coação.
      Por que crentes enchem templos e se entopem de fé para pedirem milagres materiais, não mudanças de caráter para serem humildes e caridosos? Por que continuam interpretando a Bíblia ao pé da letra, negando não só a ciência, mas o Espírito Santo que dentro deles pode ensinar muito mais que sabiam escritores bíblicos de milênios atrás? Por que protestantes que criticam tanto católicos, insistem em cometer os mesmos erros que esses, crendo num “Deus” que nada faz pelos que sofrem sem merecer? Dentro do aquário acha-se que não se pode ir além das paredes de vidro, que permitem ver, mas não permitem tocar. 

3. As coisas não são bem o que parecem ser

      “Porque agora vemos por espelho em enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei como também sou conhecido.” I Coríntios 13.12

      Cristãos protestantes e evangélicos, um apocalipse com batalhas épicas é uma interpretação mitológica da Bíblia, não será assim, da mesma maneira como o mundo e o homem não foram criados em seis dias de vinte e quatro horas. Teólogos e líderes cristãos, onde foi que o cristianismo oficial conseguiu chegar no mundo, mantendo tradições de homens, que se tiveram uma utilidade adequada para Deus no passado já não têm mais e há algum tempo? Deus não mudou, mas o homem sim, e pode saber mais, se quiser, se parar de querer uma religião só para ser próspero no mundo. 
      Infelizmente, se o que Jesus ensinou, há quase dois mil anos, não foi entendido até hoje, e só isso já bastaria para conduzir o homem a Deus, quanto mais as revelações espirituais do final do século XIX, essas ainda são demonizadas por muitos e mistificadas por outros. Contudo, o que Jesus fez e ensinou basta para que qualquer ser humano, se de fato for bem intencionado, chegue a todos os mistérios de Deus, respondendo não só a questões intelectuais como também resolvendo-se moralmente. O evangelho original é para todos e sempre, ninguém se engane sobre isso. 
      Todavia, não se revoltem, cristãos, nem se alegrem, inimigos do cristianismo, o engano não está só nas igrejas que representam o cristianismo oficial, as outras religiões também caem na armadilha da arrogância, que leva todo ser humano a se achar, principalmente na área religiosa, melhor que os outros. Ainda que Jesus seja especial e único em relação a todas as religiões, e isso nunca negaremos, Deus também se revela nas outras religiões, em todas elas. Mas onde há o homem há o engano, e também há Deus, sempre amando pacientemente a todos. 
      Alguns creem e não vivem, outros vivem e não creem, alguns sabem e não falam, outros falam e não sabem, alguns sofrem e ainda assim têm semblantes serenos, outros usufruem tudo o que podem e se fazem de sofredores. Muitos são injustiçados e não reclamam, outros reclamam de barriga bem cheia, alguns têm paz mesmo sem terem nada que lhes garanta o porvir, outros têm uma falsa paz baseada no egoísmo. Em alguns Deus vê humildade mesmo sobre a rudeza, em outros a arrogância é clara ainda que sob comportamento erudito ou religioso.
      As coisas não são bem o que parecem ser, principalmente se nos basearmos no cômodo ensino da religião, que só quer manipular homens para manter poder no mundo. É preciso coragem para acharmos o que Deus tem, não para as religiões, mas para cada um de nós. Por isso a perda que Jesus ensinou, necessária para que o ganho melhor seja alcançado, hoje tem mais a ver com sair da cela das religiões e voarmos para a liberdade do Altíssimo, que nos abstermos de excessos de prazeres físicos. Talvez abrir mão do ego, hoje, não seja mais deixar o mundo e entrar numa igreja, mas deixar a igreja para estar com Deus... 

4. O que você quer com Deus?

      “Disse-lhe Jesus: Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem, e segue-me.” Mateus 19.21

      De verdade, o que você quer com Deus? Essa talvez seja a pergunta mais feita aqui no “Como o ar que respiro”. A primeira coisa que temos que saber é que mantermos uma religião, por si só, nada significa, assistirmos cultos com frequência, educarmos filhos debaixo de uma doutrina, isso não nos faz melhores que ninguém. Ao contrário, sabermos mais pode nos fazer ainda mais culpados, caso não vivamos o que sabemos, de quem muito sabe, mais é cobrado. Isso tem que ser repetido à exaustão, pois só entendendo isso as pessoas poderão diferenciar Deus de religião. 
      A religião, por mais encantadora que seja a palavra, por mais animado que seja o louvor, por mais afetuosos que sejam os amigos que fazemos em templos confortáveis e organizados, um dia cansa. Paixão sempre acaba, mesmo paixão por igreja e religião, e quem se aprofunda na religião que se prontifica a crer e conhecer também achará nela enfado, se de fato o único e verdadeiro Deus não estiver sempre à frente, chamando e dando forças para se praticar o que ele ensina. Toda religião, incluindo as cristãs, não oferecem todo o caminho para se chegar a Deus, e eu disse religião, não Jesus. 
      Quem quiser verdadeiramente provar que Jesus é o caminho, a verdade e a vida, um dia terá que tomar uma decisão, seguir em uma busca pessoal e solitária. Isso é para todos? É, mas nem todos estão preparados para isso ou pagam os preços para isso. Para muitos é melhor que permaneçam bem quietinhos dentro dos templos, religiosamente repetindo cultos, rituais e liturgias, cantando “belos” louvores, dando dízimos. Eles não serão totalmente felizes assim, mas correrão menos riscos, para muitos do estágio espiritual atual da humanidade, só a eternidade para entenderem certas coisas. 
      Uma grande maioria não vai além, não faz certos questionamentos, não duvida de certas tradições, porque tem medo, e alguns já se acham tão em falta não conseguindo obedecer o que a religião lhes orienta, que pensam que só piorariam suas situações duvidando do que padres, pastores e reverendos ensinam. Muitos desses, contudo, não percebem que não questionarem tradições ultrapassadas é o motivo pelo qual eles não conseguem praticar ensinos equivocados, assim o medo alimenta a mentira que mantém uma vida hipócrita e infeliz, conveniente só para líderes enganadores. 
      Mas não queira mudar os outros ou a religião quando na verdade é você que não quer mudar de vida. Se não pode ser fiel no pouco, muito menos o será no muito, se não quer praticar o evangelho básico de Jesus, nem queira saber mais sobre o mundo espiritual, termine o curso primário antes de fazer o superior. O Senhor é bondoso o suficiente para ensinar crianças como crianças, misericordioso o suficiente para tratar jovens como jovens, e sério o suficiente para conduzir adultos como adultos, tudo no tempo certo de cada indivíduo, ainda que o evangelho seja simples, amar a Deus e ao próximo. 

5. Pura intenção

      Dizia, pois, João à multidão que saía para ser batizada por ele: Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da ira que está para vir? Produzi, pois, frutos dignos de arrependimento, e não comeceis a dizer em vós mesmos: Temos Abraão por pai; porque eu vos digo que até destas pedras pode Deus suscitar filhos a Abraão.” Lucas 3.7-8

      Um profundo temor a Deus, que nos faz olhar a religião com cuidado, considerar suas premissas com seriedade, para conhecer e viver a espiritualidade proposta com pureza de coração, não para ter aprovação humana, mas divina, eis o que deve estar nos corações de todos que se dizem seguidores de religiões, sejam elas quais forem, quem assim proceder sempre achará a verdadeira sabedoria e conseguirá pô-la em prática. Não se enganem, cristãos, todas as religiões, ou pelo menos a maioria delas, propõem regras, protocolos e interpretações da vontade de Deus para os homens, e todas elas pedem do homem sinceridade.
      A grande maioria das pessoas inicia-se numa religião desejando sinceramente Deus e o bem, mas elas seguem assim? Não muitas, e o número de insinceros aumenta à medida que as pessoas se “acostumam” com suas religiões e se envolvem com a vida social de suas comunidades religiosas. Com o tempo muitas pessoas esquecem-se de Deus, perdem a pureza em relacionarem-se com ele, passam a administrar suas religiões com uma atitude política, não com temor a Deus. Isso revela algo comum a muitos homens, eles querem agradar mais aos homens que veem que ao Deus invisível, simplesmente porque é mais fácil. 
      Talvez muitos evangélicos estejam achando esquisito este texto, onde o cristianismo é posto no mesmo nível das outras religiões, eles que se acostumaram a ouvir de púlpitos que sua religião é melhor que as outras, que ela tem propriedade exclusiva de uma verdade. Mas do que adianta ter uma religião que se diz melhor que as outras quando se é, no mínimo, igual aos outros religiosos, tendo o mesmo descuido de não levar a sério algo que se prontifica a religar o ser humano com o criador do universo? Cabe a muitos cristãos hoje a mesma exortação que João batista deu ao povo de sua época no texto bíblico inicial. 
      Não se enganem cristãos, qualquer homem em qualquer religião, mesmo pedras que creem em pedra, se tiver uma intenção pura para chegar a Deus, chegará! Deus conhece os sinceros do bem, a eles se revela sempre, ajuda com amor, responde em verdade. Entender ou não a relevância de Jesus nessa experiência é só questão de tempo para os puros de coração, e esses não serão só supersticiosos aceitando cegamente dogmas, mas terão uma experiência viva e renovadora com o ensino principal que Jesus revelou e viveu como homem, e deseja como Deus para todos. Jesus salvou toda a humanidade, isso independe de religião. 
      Queridos kardecistas, uma palavra a vocês: do que vale saberem “mais” sobre o mundo espiritual, explicar melhor coisas que sob o ponto de vista católico e protestante não se harmonizam com o amor de Deus, do que vale terem curso superior se se esquecem do primário, que revela Jesus como o único caminho para Deus? Não me refiro a ver Jesus como um espírito superior que deu o melhor exemplo de vida moral agradável a Deus, mas como posição espiritual exclusiva para salvar o homem. Saber mais não é ter a melhor intenção, às vezes é melhor saber menos, mas praticar em amor a pureza da verdade divina. 

6. Sofrimento com resignação correta

      “Que nenhum de vós padeça como homicida, ou ladrão, ou malfeitor, ou como o que se entremete em negócios alheios; mas, se padece como cristão, não se envergonhe, antes glorifique a Deus nesta parte.” I Pedro 4.15-16

      Só evoluímos espiritualmente em direção a Deus com sofrimento resignado, que não usa nem a dor como moeda de vaidade, mas apenas como meio de servir ao próximo e ao Senhor, e quem ajuda os outros sempre se ajuda. Não gostamos de sofrer, mas sofrer do jeito certo é condição imprescindível para crescer. Por que sofremos? Todos os seres humanos na Terra sofrem por causa do orgulho, seja pelo próprio orgulho ou pelo orgulho dos outros, e não fazemos ideia de que tipo de sofrimentos as pessoas precisam vivenciar para abrir mão do orgulho. 
      Se tua religião ficou fácil de viver, talvez seja momento de algo mudar, se você não está pagando nenhum preço para ser melhor, se não está doendo, você não está caminhando em direção a Deus, talvez esteja sendo só um religioso regular. Alguns sofrem fazendo trabalhos pesados, outros sofrem fazendo trabalhos intelectuais, outros ainda sofrem por não poderem trabalhar, mas se há algo que de um jeito ou outro nos aperfeiçoa é o dever do trabalho no dia a dia, nos esforçarmos nos confronta com a realidade e nos faz crescer.
      Mas o sofrimento só vale como aprimoramento se for experimentado do jeito correto, o homem pode usar mesmo o sofrimento como crédito para exigir direitos e se postar como superior aos outros. Entenda certo, não estou aqui fazendo apologia ao masoquismo, certos sofrimentos devem ser evitados e confrontados. Contudo, muitos sofrimentos não são injustiças, mas meios, de alguma forma são justos e nos oferecem oportunidades para melhorarmos como seres humanos. A verdade é que nenhum sofrimento é criado por Deus, mas pelos homens.
      Os que dizem que isso é impossível, que é ignorância sofrer com resignação, desconhecem o amor de Deus, que não permite sofrimento que não possamos suportar e que a todos vê e ajuda. Não duvide nem da fé daquele mendigo, que muitas vezes vemos num canto do centro de nossas cidades e tentamos fazer de conta que não é um problema nosso, ele é criatura de Deus como nós, com chances de ter alento mesmo em suas desgraças, enquanto a nós é dada a oportunidade de o ajudarmos. Todos são problemas de todos, assim como todos podemos ser a solução. 
      Se teu sofrimento parece grande, existem sofrimentos bem maiores no mundo, assim nos libertemos do cômodo recinto da autocomiseração, que nos diz que não precisamos nos esforçar porque nosso problema é impossível de ser resolvido, e que isso já é motivo para não fazermos mais nada pelos outros. Essa não é a resignação que agrada a Deus e que te fará crescer espiritualmente, ela não conduz à vida, só à morte. A resignação que liberta se acha na humildade e o humilde é sempre feliz porque encontra paz na aprovação de Deus, não no julgamento humano. 

7. Do lado de Deus

      “Antes de ser afligido andava errado; mas agora tenho guardado a tua palavra. Tu és bom e fazes bem; ensina-me os teus estatutos. Os soberbos forjaram mentiras contra mim; mas eu com todo o meu coração guardarei os teus preceitos.” Salmos 119.67-69

      Vivemos um momento onde muitos estão focados em encaixotar pessoas e ideias em polos extremos, rotulando umas coisas como “diabos” e outras como “deuses”, cegos a qualquer tipo de centro, antes acusando os equilibrados de covardes. Nessa ótica maliciosa, e não sábia, muitas pessoas podem estar sendo manipuladas sem se darem conta disso. Os cristãos evangélicos e protestantes também têm caído nessa armadilha, muitos pensam que quem não está a favor deles está contra eles, sem entenderem que muitos não estão nem a favor e nem contra, na verdade não estão nem aí.
      Muitos cristãos tentam situar os acontecimentos atuais em sua agenda apocalíptica, dizendo que tudo já estava escrito, a leitura que eles faziam da Bíblia segue a mesma, sem que vejam que essa leitura não os levou a muita coisa, eles não são assim tão melhores que aqueles que não pensam como eles. É mais fácil adequar a realidade a suas ideias, cortando algumas coisas, adicionando outras, para não ter que sair da zona de conforto da religião tradicional, para não reavaliar tudo com honestidade e mudar de ideia. Cristãos precisam estar não em lados extremos, mas no lado de Deus. 
      Mudar de ideia não é pecado, Deus se revela aos poucos, conforme inteligência e fé dos homens, assim não temos que pensar como pensavam cristãos de séculos atrás e nem como nós mesmos pensávamos há vinte anos. Certas crenças foram usadas por Deus para abençoar as pessoas de tempos passados, mas não são mais suficientes para nós hoje, quantas vezes teremos que repetir isso?! Se fosse assim estaríamos até hoje tendo que seguir a religião de Moisés, ainda que na essência tanto Moisés quanto Cristo disseram o que precisamos saber, os que têm olhos espirituais para ver veem isso. 
      A mudança do homem se realiza à medida que ele se desliga da matéria e dirige-se para o espírito, assim uma humanidade materialista que cria num Deus na forma de seus reis físicos, que matavam seus inimigos e que demonstravam sua realeza com luxo e riqueza, agora começa a entender um Deus que ama todos e que não considera riquezas materiais como diferenciais. As ciências abriram espaço nas mentes dos homens para interpretações mais espirituais de Deus, mas Jesus homem já tinha inaugurado isso quando disse que não bastava ser religioso na aparência externa, mas no interior.
      Cristãos precisam reavaliar muitas crenças para de fato entenderem como funciona a justiça divina e o livre arbítrio. Deus revela tudo ao que o busca sem as algemas da religião, ao que quer de fato Deus, não só uma crença que o faça ter aprovação de homens, àquele que deseja crescer espiritualmente, ser santo e humilde. Deus se mostra ao que quer fazer diferença no mundo ajudando tantos que sofrem violência, intolerância e preconceitos, só temos que dar o primeiro passo para ficar do lado de Deus, não em polos. Povo de Deus, esteja do lado de Deus, nele não há confusão nem engano. 

8. Verdades em tempo de serem aceitas

      “Os restantes se converterão ao Deus forte, sim, os restantes de Jacó. Porque ainda que o teu povo, ó Israel, seja como a areia do mar, só um remanescente dele se converterá; uma destruição está determinada, transbordando em justiça. Porque determinada já a destruição, o Senhor Deus dos Exércitos a executará no meio de toda esta terra.” Isaías 10.21-23
      
      O pecado não está na carne, mas no espírito, assim não origina-se no corpo ou da formação social, mas antes disso. Se não é assim que justiça há num Deus que cria alguns, com corpos e almas, com menos capacidades morais e físicas que outros? “Deus dá o frio conforme o cobertor”, dizem muitos, mas até que ponto isso não é só desculpa para não pensarmos seriamente no sofrimento de tantos, que padecem sem terem feito nada de errado nesta vida, assim como nas condições terríveis de outros, que não têm forças para vencerem vícios, criminalidade e outras fraquezas? Muitos passarão uma vida inteira e nunca terão condições, físicas, intelectuais e morais, para escolherem o Jesus das religiões cristãs, será que esses irão para o inferno por causa disso? Pensemos mais seriamente a respeito. 
      O perdão de Deus, por si só, não transforma, só dá a paz para começarmos a ser transformados, é só o primeiro passo. A fé nos coloca em comunhão com Deus para que, sabendo que temos do Pai maior o perdão, tenhamos forças para trabalhar. A mudança, demorada e difícil, vem, então, através de trabalho pessoal, perseverando nós na busca e vivência de virtudes, e no distanciamento de prazeres que satisfazem o corpo indiferentes ao egoísmo e às vaidades que prejudicam os outros. Deus nos perdoa, mas quem nos muda somos nós, e isso, ainda assim, para a glória de Deus, não nossa, eis um mistério. Isso não significa que uma oração de arrependimento feita no leito de morte não possa mudar alguém, mas isso é uma situação extrema e de exceção, só os muito duros de coração experimentam isso. 
      Não existe igreja oficial de Deus no mundo, nenhuma, Jesus nunca teve o propósito de fundar uma instituição religiosa. Católicos, evangélicos, protestantes, muçulmanos, budistas, hinduístas, espíritas e outros, a boa intenção de propagar o que nos faz bem é digna, mas não nos consideremos donos de nada, principalmente de verdades espirituais. O compromisso de Deus é com o indivíduo, esse tem a liberdade para conhecer as experiências religiosas de outros indivíduos, mas sabendo que todas as religiões têm verdades e “enganos”, ainda que enganos necessários às limitações humanas de cada tempo e cultura. Nascemos e morremos sozinhos, levaremos somente virtudes espirituais, o céu é individual e está diretamente relacionado a virtudes anexadas aos nossos espíritos no mundo.
      Deus não é um ancião de vestido, barba e longos cabelos brancos, sentado num longíquo trono, ele é espírito. Irmãos e irmãs, e com isso me refiro a todos os seres humanos, indiferente da religião que professam, entendamos de uma vez que as tradições religiosas baseiam-se em descrições divinas feitas por homens e para homens de centenas ou de milhares de anos atrás. Nossa inteligência evoluiu, assim como nossa capacidade de entender Deus, deixemos para lá uma ótica material e humana do Senhor e o vejamos como Ele é, Espírito. Imagens mentais são só portais que Deus nos permite utilizar para termos acesso ao mundo espiritual, mas são meios que nós criamos, não representam de fato a realidade espiritual, elas variam conforme os homens e Deus respeita todas elas. 
      Nosso mestre é o Espírito Santo, essa é uma palavra de Jesus, não líderes religiosos e teólogos, papas, bispos e doutores das escrituras e doutrinas, dentre outros. A Bíblia é construção humana, não divina, ainda que baseada em verdades divinas apresenta essas verdades sob óticas humanas e temporais. Ver um Deus que usa a evolução das espécies e que não criou tudo do nada em seis dias de vinte e quatro horas não é pecado, é ir além da letra morta e ser instruído pelo vivo e Santo Espírito. Um Deus espiritual se conhece com ferramentas espirituais para que ensinos espirituais nos ensinem a sermos espirituais para vivermos uma eternidade que será plenamente espiritual, livremo-nos pois da passageira ilusão material. Homens, livrem-se de homens, só assim poderão amá-los.  
      Quem pode entender de fato os mistérios de Deus? Poucos, ainda que Deus ame a todos e a todos atraia, com o seu amor revelado em Jesus, para sua luz mais alta, de onde o Espírito Santo emana verdade e justiça aos que creem com corações puros e mentes limpas. O cristianismo estabelecido na Terra ainda será confrontado por muitas verdades e será pego de surpresa, então, líderes serão desmascarados, e todo o poderio, de religiões, denominações e ministérios construídos sobre o falso cristianismo, desmoronará. Os humildes, entretanto, os simples de coração, que ainda que estivessem no meio das congregações nunca fizeram parte delas, mas eram genuíno povo de Deus, separados antes do início dos tempos, esses não serão envergonhados, serão poupados do pior, quem viver verá.

José Osório de Souza
22/01/2021

Verdades em tempo de serem aceitas (8/8)

      “Os restantes se converterão ao Deus forte, sim, os restantes de Jacó. Porque ainda que o teu povo, ó Israel, seja como a areia do mar, só um remanescente dele se converterá; uma destruição está determinada, transbordando em justiça. Porque determinada já a destruição, o Senhor Deus dos Exércitos a executará no meio de toda esta terra.” Isaías 10.21-23

      O pecado não está na carne, mas no espírito, assim não origina-se no corpo ou da formação social, mas antes disso. Se não é assim que justiça há num Deus que cria alguns, com corpos e almas, com menos capacidades morais e físicas que outros? “Deus dá o frio conforme o cobertor”, dizem muitos, mas até que ponto isso não é só desculpa para não pensarmos seriamente no sofrimento de tantos, que padecem sem terem feito nada de errado nesta vida, assim como nas condições terríveis de outros, que não têm forças para vencerem vícios, criminalidade e outras fraquezas? Muitos passarão uma vida inteira e nunca terão condições, físicas, intelectuais e morais, para escolherem o Jesus das religiões cristãs, será que esses irão para o inferno por causa disso? Pensemos mais seriamente a respeito. 
      O perdão de Deus, por si só, não transforma, só dá a paz para começarmos a ser transformados, é só o primeiro passo. A fé nos coloca em comunhão com Deus para que, sabendo que temos do Pai maior o perdão, tenhamos forças para trabalhar. A mudança, demorada e difícil, vem, então, através de trabalho pessoal, perseverando nós na busca e vivência de virtudes, e no distanciamento de prazeres que satisfazem o corpo indiferentes ao egoísmo e às vaidades que prejudicam os outros. Deus nos perdoa, mas quem nos muda somos nós, e isso, ainda assim, para a glória de Deus, não nossa, eis um mistério. Isso não significa que uma oração de arrependimento feita no leito de morte não possa mudar alguém, mas isso é uma situação extrema e de exceção, só os muito duros de coração experimentam isso. 
      Não existe igreja oficial de Deus no mundo, nenhuma, Jesus nunca teve o propósito de fundar uma instituição religiosa. Católicos, evangélicos, protestantes, muçulmanos, budistas, hinduístas, espíritas e outros, a boa intenção de propagar o que nos faz bem é digna, mas não nos consideremos donos de nada, principalmente de verdades espirituais. O compromisso de Deus é com o indivíduo, esse tem a liberdade para conhecer as experiências religiosas de outros indivíduos, mas sabendo que todas as religiões têm verdades e “enganos”, ainda que enganos necessários às limitações humanas de cada tempo e cultura. Nascemos e morremos sozinhos, levaremos somente virtudes espirituais, o céu é individual e está diretamente relacionado a virtudes anexadas aos nossos espíritos no mundo.
      Deus não é um ancião de vestido, barba e longos cabelos brancos, sentado num longíquo trono, ele é espírito. Irmãos e irmãs, e com isso me refiro a todos os seres humanos, indiferente da religião que professam, entendamos de uma vez que as tradições religiosas baseiam-se em descrições divinas feitas por homens e para homens de centenas ou de milhares de anos atrás. Nossa inteligência evoluiu, assim como nossa capacidade de entender Deus, deixemos para lá uma ótica material e humana do Senhor e o vejamos como Ele é, Espírito. Imagens mentais são só portais que Deus nos permite utilizar para termos acesso ao mundo espiritual, mas são meios que nós criamos, não representam de fato a realidade espiritual, elas variam conforme os homens e Deus respeita todas elas. 
      Nosso mestre é o Espírito Santo, essa é uma palavra de Jesus, não líderes religiosos e teólogos, papas, bispos e doutores das escrituras e doutrinas, dentre outros. A Bíblia é construção humana, não divina, ainda que baseada em verdades divinas apresenta essas verdades sob óticas humanas e temporais. Ver um Deus que usa a evolução das espécies e que não criou tudo do nada em seis dias de vinte e quatro horas não é pecado, é ir além da letra morta e ser instruído pelo vivo e Santo Espírito. Um Deus espiritual se conhece com ferramentas espirituais para que ensinos espirituais nos ensinem a sermos espirituais para vivermos uma eternidade que será plenamente espiritual, livremo-nos pois da passageira ilusão material. Homens, livrem-se de homens, só assim poderão amá-los.  
      Quem pode entender de fato os mistérios de Deus? Poucos, ainda que Deus ame a todos e a todos atraia, com o seu amor revelado em Jesus, para sua luz mais alta, de onde o Espírito Santo emana verdade e justiça aos que creem com corações puros e mentes limpas. O cristianismo estabelecido na Terra ainda será confrontado por muitas verdades e será pego de surpresa, então, líderes serão desmascarados, e todo o poderio, de religiões, denominações e ministérios construídos sobre o falso cristianismo, desmoronará. Os humildes, entretanto, os simples de coração, que ainda que estivessem no meio das congregações nunca fizeram parte delas, mas eram genuíno povo de Deus, separados antes do início dos tempos, esses não serão envergonhados, serão poupados do pior, quem viver verá.

8ª parte da reflexão 
“Reavaliemos nossas crenças: sempre!”
José Osorio de Souza, 21/01/21

sexta-feira, junho 11, 2021

Do lado de Deus (7/8)

      “Antes de ser afligido andava errado; mas agora tenho guardado a tua palavra. Tu és bom e fazes bem; ensina-me os teus estatutos. Os soberbos forjaram mentiras contra mim; mas eu com todo o meu coração guardarei os teus preceitos.Salmos 119.67-69

      Vivemos um momento onde muitos estão focados em encaixotar pessoas e ideias em polos extremos, rotulando umas coisas como “diabos” e outras como “deuses”, cegos a qualquer tipo de centro, antes acusando os equilibrados de covardes. Nessa ótica maliciosa, e não sábia, muitas pessoas podem estar sendo manipuladas sem se darem conta disso. Os cristãos evangélicos e protestantes também têm caído nessa armadilha, muitos pensam que quem não está a favor deles está contra eles, sem entenderem que muitos não estão nem a favor e nem contra, na verdade não estão nem aí.
      Muitos cristãos tentam situar os acontecimentos atuais em sua agenda apocalíptica, dizendo que tudo já estava escrito, a leitura que eles faziam da Bíblia segue a mesma, sem que vejam que essa leitura não os levou a muita coisa, eles não são assim tão melhores que aqueles que não pensam como eles. É mais fácil adequar a realidade a suas ideias, cortando algumas coisas, adicionando outras, para não ter que sair da zona de conforto da religião tradicional, para não reavaliar tudo com honestidade e mudar de ideia. Cristãos precisam estar não em lados extremos, mas no lado de Deus. 
      Mudar de ideia não é pecado, Deus se revela aos poucos, conforme inteligência e fé dos homens, assim não temos que pensar como pensavam cristãos de séculos atrás e nem como nós mesmos pensávamos há vinte anos. Certas crenças foram usadas por Deus para abençoar as pessoas de tempos passados, mas não são mais suficientes para nós hoje, quantas vezes teremos que repetir isso?! Se fosse assim estaríamos até hoje tendo que seguir a religião de Moisés, ainda que na essência tanto Moisés quanto Cristo disseram o que precisamos saber, os que têm olhos espirituais para ver veem isso. 
      A mudança do homem se realiza à medida que ele se desliga da matéria e dirige-se para o espírito, assim uma humanidade materialista que cria num Deus na forma de seus reis físicos, que matavam seus inimigos e que demonstravam sua realeza com luxo e riqueza, agora começa a entender um Deus que ama todos e que não considera riquezas materiais como diferenciais. As ciências abriram espaço nas mentes dos homens para interpretações mais espirituais de Deus, mas Jesus homem já tinha inaugurado isso quando disse que não bastava ser religioso na aparência externa, mas no interior.
      Cristãos precisam reavaliar muitas crenças para de fato entenderem como funciona a justiça divina e o livre arbítrio. Deus revela tudo ao que o busca sem as algemas da religião, ao que quer de fato Deus, não só uma crença que o faça ter aprovação de homens, àquele que deseja crescer espiritualmente, ser santo e humilde. Deus se mostra ao que quer fazer diferença no mundo ajudando tantos que sofrem violência, intolerância e preconceitos, só temos que dar o primeiro passo para ficar do lado de Deus, não em polos. Povo de Deus, esteja do lado de Deus, nele não há confusão nem engano. 

7ª parte da reflexão 
“Reavaliemos nossas crenças: sempre!”
José Osorio de Souza, 21/01/21

quinta-feira, junho 10, 2021

Sofrimento com resignação correta (6/8)

      “Que nenhum de vós padeça como homicida, ou ladrão, ou malfeitor, ou como o que se entremete em negócios alheios; mas, se padece como cristão, não se envergonhe, antes glorifique a Deus nesta parte.I Pedro 4.15-16

      Só evoluímos espiritualmente em direção a Deus com sofrimento resignado, que não usa nem a dor como moeda de vaidade, mas apenas como meio de servir ao próximo e ao Senhor, e quem ajuda os outros sempre se ajuda. Não gostamos de sofrer, mas sofrer do jeito certo é condição imprescindível para crescer. Por que sofremos? Todos os seres humanos na Terra sofrem por causa do orgulho, seja pelo próprio orgulho ou pelo orgulho dos outros, e não fazemos ideia de que tipo de sofrimentos as pessoas precisam vivenciar para abrir mão do orgulho. 
      Se tua religião ficou fácil de viver, talvez seja momento de algo mudar, se você não está pagando nenhum preço para ser melhor, se não está doendo, você não está caminhando em direção a Deus, talvez esteja sendo só um religioso regular. Alguns sofrem fazendo trabalhos pesados, outros sofrem fazendo trabalhos intelectuais, outros ainda sofrem por não poderem trabalhar, mas se há algo que de um jeito ou outro nos aperfeiçoa é o dever do trabalho no dia a dia, nos esforçarmos nos confronta com a realidade e nos faz crescer.
      Mas o sofrimento só vale como aprimoramento se for experimentado do jeito correto, o homem pode usar mesmo o sofrimento como crédito para exigir direitos e se postar como superior aos outros. Entenda certo, não estou aqui fazendo apologia ao masoquismo, certos sofrimentos devem ser evitados e confrontados. Contudo, muitos sofrimentos não são injustiças, mas meios, de alguma forma são justos e nos oferecem oportunidades para melhorarmos como seres humanos. A verdade é que nenhum sofrimento é criado por Deus, mas pelos homens.
      Os que dizem que isso é impossível, que é ignorância sofrer com resignação, desconhecem o amor de Deus, que não permite sofrimento que não possamos suportar e que a todos vê e ajuda. Não duvide nem da fé daquele mendigo, que muitas vezes vemos num canto do centro de nossas cidades e tentamos fazer de conta que não é um problema nosso, ele é criatura de Deus como nós, com chances de ter alento mesmo em suas desgraças, enquanto a nós é dada a oportunidade de o ajudarmos. Todos são problemas de todos, assim como todos podemos ser a solução. 
      Se teu sofrimento parece grande, existem sofrimentos bem maiores no mundo, assim nos libertemos do cômodo recinto da autocomiseração, que nos diz que não precisamos nos esforçar porque nosso problema é impossível de ser resolvido, e que isso já é motivo para não fazermos mais nada pelos outros. Essa não é a resignação que agrada a Deus e que te fará crescer espiritualmente, ela não conduz à vida, só à morte. A resignação que liberta se acha na humildade e o humilde é sempre feliz porque encontra paz na aprovação de Deus, não no julgamento humano. 

6ª parte da reflexão 
“Reavaliemos nossas crenças: sempre!”
José Osorio de Souza, 21/01/21

quarta-feira, junho 09, 2021

Pura intenção (5/8)

      Dizia, pois, João à multidão que saía para ser batizada por ele: Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da ira que está para vir? Produzi, pois, frutos dignos de arrependimento, e não comeceis a dizer em vós mesmos: Temos Abraão por pai; porque eu vos digo que até destas pedras pode Deus suscitar filhos a Abraão.” Lucas 3.7-8

      Um profundo temor a Deus, que nos faz olhar a religião com cuidado, considerar suas premissas com seriedade, para conhecer e viver a espiritualidade proposta com pureza de coração, não para ter aprovação humana, mas divina, eis o que deve estar nos corações de todos que se dizem seguidores de religiões, sejam elas quais forem, quem assim proceder sempre achará a verdadeira sabedoria e conseguirá pô-la em prática. Não se enganem, cristãos, todas as religiões, ou pelo menos a maioria delas, propõem regras, protocolos e interpretações da vontade de Deus para os homens, e todas elas pedem do homem sinceridade.
      A grande maioria das pessoas inicia-se numa religião desejando sinceramente Deus e o bem, mas elas seguem assim? Não muitas, e o número de insinceros aumenta à medida que as pessoas se “acostumam” com suas religiões e se envolvem com a vida social de suas comunidades religiosas. Com o tempo muitas pessoas esquecem-se de Deus, perdem a pureza em relacionarem-se com ele, passam a administrar suas religiões com uma atitude política, não com temor a Deus. Isso revela algo comum a muitos homens, eles querem agradar mais aos homens que veem que ao Deus invisível, simplesmente porque é mais fácil. 
      Talvez muitos evangélicos estejam achando esquisito este texto, onde o cristianismo é posto no mesmo nível das outras religiões, eles que se acostumaram a ouvir de púlpitos que sua religião é melhor que as outras, que ela tem propriedade exclusiva de uma verdade. Mas do que adianta ter uma religião que se diz melhor que as outras quando se é, no mínimo, igual aos outros religiosos, tendo o mesmo descuido de não levar a sério algo que se prontifica a religar o ser humano com o criador do universo? Cabe a muitos cristãos hoje a mesma exortação que João batista deu ao povo de sua época no texto bíblico inicial. 
      Não se enganem cristãos, qualquer homem em qualquer religião, mesmo pedras que creem em pedra, se tiver uma intenção pura para chegar a Deus, chegará! Deus conhece os sinceros do bem, a eles se revela sempre, ajuda com amor, responde em verdade. Entender ou não a relevância de Jesus nessa experiência é só questão de tempo para os puros de coração, e esses não serão só supersticiosos aceitando cegamente dogmas, mas terão uma experiência viva e renovadora com o ensino principal que Jesus revelou e viveu como homem, e deseja como Deus para todos. Jesus salvou toda a humanidade, isso independe de religião. 
      Queridos kardecistas, uma palavra a vocês: do que vale saberem “mais” sobre o mundo espiritual, explicar melhor coisas que sob o ponto de vista católico e protestante não se harmonizam com o amor de Deus, do que vale terem curso superior se se esquecem do primário, que revela Jesus como o único caminho para Deus? Não me refiro a ver Jesus como um espírito superior que deu o melhor exemplo de vida moral agradável a Deus, mas como posição espiritual exclusiva para salvar o homem. Saber mais não é ter a melhor intenção, às vezes é melhor saber menos, mas praticar em amor a pureza da verdade divina. 

5ª parte da reflexão 
“Reavaliemos nossas crenças: sempre!”
José Osorio de Souza, 21/01/21

terça-feira, junho 08, 2021

O que você quer com Deus? (4/8)

      “Disse-lhe Jesus: Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem, e segue-me.Mateus 19.21

      De verdade, o que você quer com Deus? Essa talvez seja a pergunta mais feita aqui no “Como o ar que respiro”. A primeira coisa que temos que saber é que mantermos uma religião, por si só, nada significa, assistirmos cultos com frequência, educarmos filhos debaixo de uma doutrina, isso não nos faz melhores que ninguém. Ao contrário, sabermos mais pode nos fazer ainda mais culpados, caso não vivamos o que sabemos, de quem muito sabe, mais é cobrado. Isso tem que ser repetido à exaustão, pois só entendendo isso as pessoas poderão diferenciar Deus de religião. 
      A religião, por mais encantadora que seja a palavra, por mais animado que seja o louvor, por mais afetuosos que sejam os amigos que fazemos em templos confortáveis e organizados, um dia cansa. Paixão sempre acaba, mesmo paixão por igreja e religião, e quem se aprofunda na religião que se prontifica a crer e conhecer também achará nela enfado, se de fato o único e verdadeiro Deus não estiver sempre à frente, chamando e dando forças para se praticar o que ele ensina. Toda religião, incluindo as cristãs, não oferecem todo o caminho para se chegar a Deus, e eu disse religião, não Jesus. 
      Quem quiser verdadeiramente provar que Jesus é o caminho, a verdade e a vida, um dia terá que tomar uma decisão, seguir em uma busca pessoal e solitária. Isso é para todos? É, mas nem todos estão preparados para isso ou pagam os preços para isso. Para muitos é melhor que permaneçam bem quietinhos dentro dos templos, religiosamente repetindo cultos, rituais e liturgias, cantando “belos” louvores, dando dízimos. Eles não serão totalmente felizes assim, mas correrão menos riscos, para muitos do estágio espiritual atual da humanidade, só a eternidade para entenderem certas coisas. 
      Uma grande maioria não vai além, não faz certos questionamentos, não duvida de certas tradições, porque tem medo, e alguns já se acham tão em falta não conseguindo obedecer o que a religião lhes orienta, que pensam que só piorariam suas situações duvidando do que padres, pastores e reverendos ensinam. Muitos desses, contudo, não percebem que não questionarem tradições ultrapassadas é o motivo pelo qual eles não conseguem praticar ensinos equivocados, assim o medo alimenta a mentira que mantém uma vida hipócrita e infeliz, conveniente só para líderes enganadores. 
      Mas não queira mudar os outros ou a religião quando na verdade é você que não quer mudar de vida. Se não pode ser fiel no pouco, muito menos o será no muito, se não quer praticar o evangelho básico de Jesus, nem queira saber mais sobre o mundo espiritual, termine o curso primário antes de fazer o superior. O Senhor é bondoso o suficiente para ensinar crianças como crianças, misericordioso o suficiente para tratar jovens como jovens, e sério o suficiente para conduzir adultos como adultos, tudo no tempo certo de cada indivíduo, ainda que o evangelho seja simples, amar a Deus e ao próximo. 

4ª parte da reflexão 
“Reavaliemos nossas crenças: sempre!”
José Osorio de Souza, 21/01/21

segunda-feira, junho 07, 2021

As coisas não são bem o que parecem ser (3/8)

      “Porque agora vemos por espelho em enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei como também sou conhecido.I Coríntios 13.12

      Cristãos protestantes e evangélicos, um apocalipse com batalhas épicas é uma interpretação mitológica da Bíblia, não será assim, da mesma maneira como o mundo e o homem não foram criados em seis dias de vinte e quatro horas. Teólogos e líderes cristãos, onde foi que o cristianismo oficial conseguiu chegar no mundo, mantendo tradições de homens, que se tiveram uma utilidade adequada para Deus no passado já não têm mais e há algum tempo? Deus não mudou, mas o homem sim, e pode saber mais, se quiser, se parar de querer uma religião só para ser próspero no mundo. 
      Infelizmente, se o que Jesus ensinou, há quase dois mil anos, não foi entendido até hoje, e só isso já bastaria para conduzir o homem a Deus, quanto mais as revelações espirituais do final do século XIX, essas ainda são demonizadas por muitos e mistificadas por outros. Contudo, o que Jesus fez e ensinou basta para que qualquer ser humano, se de fato for bem intencionado, chegue a todos os mistérios de Deus, respondendo não só a questões intelectuais como também resolvendo-se moralmente. O evangelho original é para todos e sempre, ninguém se engane sobre isso. 
      Todavia, não se revoltem, cristãos, nem se alegrem, inimigos do cristianismo, o engano não está só nas igrejas que representam o cristianismo oficial, as outras religiões também caem na armadilha da arrogância, que leva todo ser humano a se achar, principalmente na área religiosa, melhor que os outros. Ainda que Jesus seja especial e único em relação a todas as religiões, e isso nunca negaremos, Deus também se revela nas outras religiões, em todas elas. Mas onde há o homem há o engano, e também há Deus, sempre amando pacientemente a todos. 
      Alguns creem e não vivem, outros vivem e não creem, alguns sabem e não falam, outros falam e não sabem, alguns sofrem e ainda assim têm semblantes serenos, outros usufruem tudo o que podem e se fazem de sofredores. Muitos são injustiçados e não reclamam, outros reclamam de barriga bem cheia, alguns têm paz mesmo sem terem nada que lhes garanta o porvir, outros têm uma falsa paz baseada no egoísmo. Em alguns Deus vê humildade mesmo sobre a rudeza, em outros a arrogância é clara ainda que sob comportamento erudito ou religioso.
      As coisas não são bem o que parecem ser, principalmente se nos basearmos no cômodo ensino da religião, que só quer manipular homens para manter poder no mundo. É preciso coragem para acharmos o que Deus tem, não para as religiões, mas para cada um de nós. Por isso a perda que Jesus ensinou, necessária para que o ganho melhor seja alcançado, hoje tem mais a ver com sair da cela das religiões e voarmos para a liberdade do Altíssimo, que nos abstermos de excessos de prazeres físicos. Talvez abrir mão do ego, hoje, não seja mais deixar o mundo e entrar numa igreja, mas deixar a igreja para estar com Deus... 

3ª parte da reflexão 
“Reavaliemos nossas crenças: sempre!”
José Osorio de Souza, 21/01/21

domingo, junho 06, 2021

Peixes num aquário (2/8)

      “Eis que vos envio como ovelhas ao meio de lobos; portanto, sede prudentes como as serpentes e inofensivos como as pombas.Mateus 10.16

      O “mal”, que muitos ainda não entenderam o que realmente é, achou novas maneiras de agir através de caminhos que o próprio homem criou, a tecnologia e a globalização, para invadir, conquistar e destruir. Isso ocorre a despeito de muitos, ainda que testemunhem uma nova era, continuarem achando que ainda estão vivendo no passado. Parece que o “mal” moderniza-se, evolui, enquanto o “bem” mantém-se atrasado, achando que manter tradições humanas faz dele mais forte, o “bem” não vê que lhe foi armada uma armadilha e ele caiu, como um peixe num aquário. 
      Mas não foi o bem que caiu numa armadilha, foi a arrogância humana, o bem verdadeiro não se engana, não se enfraquece jamais, não se aprisiona num aquário. E Deus com isso? Deus nada tem a ver com isso, ele permanece no mais alto lugar espiritual, emanando sua luz e atraindo os humildes. Pela ciência já entendemos que o ser humano mudou o suficiente para reavaliar suas crenças e ver além, não mais como criança, mas como adulto, a ciência contempla a matéria, mas o método científico, ferramenta usada para fazer ciência, pode ser usado também para as coisas do espírito. 
      O homem já aprendeu a ver além da aparência, a identificar inimigos além do mundo exterior, a entender o erro moral além de ações físicas, mas na íntima intenção emocional. A base disso não foi ensinada pela ciência, a partir do século XIX, mas pela espiritualidade de Jesus desde o século I. Pelo evangelho o homem entendeu que não basta uma religião de sacrifícios com morte e sangue para acessar a graça divina para obter uma vitória também com derramamento de sangue contra homens de carne e sangue iguais a ele. Jesus ensinou há quase dois mil anos que a guerra é espiritual. 
      O inimigo do homem é ele mesmo, a batalha se dá em seu interior, o mal não é algo físico e grande, mas pequeno, que pode ser alojado e disfarçado dentro do ser humano. Se é isso, se já temos condições intelectuais de entender isso, por que muitos cristãos ainda insistem em ler o mundo e a existência como liam os israelitas no antigo testamento? Por que evangélicos querem poder político no Brasil para ter uma nação cristã física, quando Jesus ensinou que seu reino é o dos céus, não na Terra? Essa é a armadilha que prende um peixe que entrou no aquário por vontade própria, não por coação.
      Por que crentes enchem templos e se entopem de fé para pedirem milagres materiais, não mudanças de caráter para serem humildes e caridosos? Por que continuam interpretando a Bíblia ao pé da letra, negando não só a ciência, mas o Espírito Santo que dentro deles pode ensinar muito mais que sabiam escritores bíblicos de milênios atrás? Por que protestantes que criticam tanto católicos, insistem em cometer os mesmos erros que esses, crendo num “Deus” que nada faz pelos que sofrem sem merecer? Dentro do aquário acha-se que não se pode ir além das paredes de vidro, que permitem ver, mas não permitem tocar. 

2ª parte da reflexão 
“Reavaliemos nossas crenças: sempre!”
José Osório de Souza, 21/01/21

sábado, junho 05, 2021

Onde estão nossos inimigos? (1/8)

      “Apanhai-nos as raposas, as raposinhas, que fazem mal às vinhas, porque as nossas vinhas estão em flor.Cantares  2.15

      Século XXI, os computadores diminuíram de tamanho, baixaram de preço, estão presentes em aparelhos domésticos, TVs, telefones, carros, que ligados a uma rede mundial de comunicação muito rápida colocam o planeta numa relação íntima, pessoal e em tempo real. Hoje todos os seres humanos podem ser produtores e espectadores, música e outras artes, indiferentemente se as pessoas têm ou não talentos e experiências especiais nisso, são compartilhadas por qualquer um, tendo como protagonista ele mesmo. 
      O mundo moderno trouxe um novo conceito de deidades, de super heróis, de celebridades, todos têm direito a tudo sempre, para ser e ter basta querer, desde que se possua um pequeno aparelho na mão, o espírito foi substituído por um celular, que tem o poder de unir, desunir, trazer e levar, transformando solidão em festa, tristeza em prazer, vazio em qualquer coisa. Eis uma faceta do tempo em que vivemos, está disponível para todo mundo? Não, ainda existe necessidade do básico para muitos e desrespeito com grande parte da população.
      Guerras seculares persistem, extremismos religiosos ganham adeptos, em ideologias distintas, a união global possível se antagoniza a conflitos que antes nem existiam, a liberdade que as rodovias virtuais permitem só armam o ser humano de mais ferramentas para prender e matar, não só os corpos, mas ideias e reputações. O que sempre existiu mas estava escondido em famílias, cidades e países, agora é revelado em mensagens no Twitter, em imagens no Instagram e em vídeos no Youtube, a “porcaria” não foi inventada, só veio à tona.
      Como uma metáfora dessa nova realidade, um vírus, microscópico e que estava escondido como tantas pessoas na mediocridade de seus lares, antes de poderem se manifestar no Whatsapp, conquista mais espaços que aqueles conquistados por mísseis teleguiados ligados a satélites ao redor do globo terrestre. Especialistas dizem que o Sars-Cov-2 (o vírus Corona que causou a Covid 19) não é o primeiro vírus e não será o último, só inaugurou uma era de doenças que mudou o mundo, mutações desse assim com novos surgirão. 
      A despeito de outros inimigos exteriores e mais convencionais, o vírus destrói de dentro para fora, outra metáfora dos tempos modernos, semelhante aos celulares, um tipo de possessão individual que desconsidera fronteiras e ataca pessoas diretamente. Enquanto tantos temiam uma terceira grande guerra mundial, com exércitos e armas destruindo cidades e invadindo países, ocorre outra coisa, o indivíduo sendo subjugado, não por inimigos grandiosos e exteriores de nações, mas por pequenas entidades, um celular ou um vírus. 

1ª parte da reflexão 
“Reavaliemos nossas crenças: sempre!”
José Osório de Souza, 21/01/21

sexta-feira, junho 04, 2021

Paciência (2/2)

      “Na vossa paciência possuí as vossas almas.” Lucas 21.19

      Creio que só entendemos o que é paciência e sua real eficácia quando a vivenciamos não como um sofrimento, um preço a se pagar, por exemplo, para suportar uma pessoa que nos incomoda. Se é sofrida não é paciência, é só uma resiliência humana, que também tem sua utilidade, mas que é finita e inútil, visto que é criada e mantida só pelo homem, não por alguém com o espírito em comunhão com o Espírito de Deus. Ter esse entendimento é questão de vida real com Deus, de oração e confiança.
      Paciência é lapidação da alma que a princípio é bruta e cheia de irregularidades, por isso funciona mal, com dor e instabilidade, contudo, quando a alma adquire paciência se torna um globo perfeito, consegue funcionar com facilidade e estabilidade. Muitos funcionam, mas por não terem paciência sofrem desnecessariamente como fazem sofrer aqueles com os quais não têm paciência, e muitos, por não terem humildade para lapidarem a alma, dizem que o problema não é sua falta de paciência, mas os outros. 
      Deus nunca engana ninguém, principalmente aqueles que o buscam e entregam a ele suas vidas, esses sempre serão confrontados para que aprendam a ser pacientes, paciência é óleo puro e perfumado que cura. Assim, meu querido, entenda certo, se você deu autorização a Deus para que ele cuide de você, em algum momento você terá que passar pela matéria paciência e ser aprovado, senão perderá tempo, repetindo e repetindo a mesma matéria até que aprenda a ser paciente, consigo mesmo, com os outros e com Deus. 
      Paciência não é só mais uma virtude, é o retirar de uma venda que nos permite enxergar todas as outras virtudes. Sem paciência não amamos, não conseguimos perdoar, não conseguimos esperar a ação de Deus e nos apressamos, julgando e agindo conforme achamos melhor, fazendo justiça com as próprias mãos e impedindo Deus de agir. Mas ao mesmo tempo que ela é causa primal é efeito final, quando experimentamos as virtudes adquirimos mais paciência, pois aprendemos que vale a pena esperar em Deus. 
      Negar-se ser paciencioso, contudo, é algo muito sério, muitos conquistam muito na vida, valores materiais e morais, mas por não aprenderem a lição da paciência, que acima de tudo não deseja morte antes do tempo, terão que ser fisicamente e até psicologicamente imobilizados, por uma enfermidade, seja numa cadeira de rodas ou num leito de hospital, para que não partam antes de aprenderem a lição. Cuidado, aquele que se nega ser paciente, o universo tem seus meios e ninguém pode fugir de aprender a esperar. 

quinta-feira, junho 03, 2021

Paciência (1/2)

      “Sede vós também pacientes, fortalecei os vossos corações; porque já a vinda do Senhor está próxima.Tiago 5.8

      Adquirir paciência também é um trabalho espiritual, e talvez um dos mais difíceis, pois só se adquire paciência esperando, e muitas vezes esperando sem poder fazer nada. Como é mais fácil para o homem sentir-se bem quando tem algo para fazer, nessa situação ele louva a Deus ainda que no fundo de seu coração ache que tem prosperidade porque está trabalhando, e assim acha que isso é fruto de seu esforço físico pessoal, não de sua vigilância espiritual. Deus fica pequeno quando o homem se vê grande. 
      Muitos passam anos se enganando dessa maneira, se achando bons cidadãos, religiosos fiéis, mas na verdade estão longe de Deus, também pudera, podem trabalhar e receber os frutos disso, para que intimidade com o Senhor? Para que ter paciência com os outros? Aliás, quem está fazendo e fazendo se dá o direito de exigir do outro a mesma coisa, julgando quem não faz como ocioso e menos que ele, ainda que não conheça o motivo real do outro não fazer. Quando o homem se acha grande, se acha deus. 
      Eu tenho muita dificuldade para ser paciente, em minha vida isso causou muita dor, nascida de atitudes feitas na ansiedade, sem esperar o momento mais adequado. Se é difícil esperar fazendo, trabalhando dez horas por dia, nos relacionando com as pessoas, muito mais difícil é esperar tendo que fazer menos que o necessário, e nesses tempos de pandemia e de poucas oportunidades de emprego esperar com a virtude paciência é trabalho duro, mas necessário aos que querem crescer espiritualmente. 
      Sobre o texto inicial, abro parênteses para a ideia que os cristãos do primeiro século tinham sobre a segunda vinda de Jesus, achavam que estava próxima. Isso é um erro, não só temporal já que não está próxima nem de nós hoje, como de entendimento sobre como ou onde será essa segunda vinda, se no plano físico ou no plano espiritual, sim, porque muitos entendem que não será no mundo, mas só no céu. Mas isso é assunto para outra reflexão, a lição principal é estarmos sempre preparados, fecho parênteses. 
       A verdadeira paciência mantém uma vigilância espiritual constante e só temos forças para fazer essa vigilância quando amamos a Deus. Quem ama não quer desapontar, trair, desagradar, e faz isso não por medo, e em se tratando de Deus não por temer um juízo eterno, um inferno. O amor é justamente o oposto do medo, o medo afasta, o amor aproxima, e quem está protegido debaixo das asas do Altíssimo está imerso em amor, não está ansioso por nada e assim pode esperar do jeito certo, em paz. 

quarta-feira, junho 02, 2021

A malícia e a retidão

      “Porque o Senhor Deus é um sol e escudo; o Senhor dará graça e glória; não retirará bem algum aos que andam na retidão.Salmos 84.11

      Algumas pessoas estão acostumadas a usar indiretas, têm sempre “papos tortos”, quando falam conosco têm sempre alguma crítica a alguém, e mesmo falando diretamente conosco, parecem esconder algo, querem aparentar que nos aprovam, mas estão sempre querendo confrontar nossas atitudes, nossas palavras, nossas intenções. É gente incrédula, que por ter parado de buscar a Deus (ou talvez por nunca ter de fato buscado), que por não estar resolvida no Senhor, duvida que muitos possam ter uma comunhão sincera com Deus. Quem não crê em Deus, não crê em si mesmo e não crê nos outros. Essas pessoas adquiriram na vida a malícia, não a sabedoria, e o mais triste é que muitas se acham cristãs. Filho de Deus de verdade não dá indiretas, ou fala sem receio e em amor o que pensa ou se cala com temor. 
      Os jovens usam o termo “papo reto”, esse termo tem um sentido semelhante ao termo reto citado na Bíblia, significa falar a verdade sem rodeios, mas falar com respeito, não sentir a necessidade de ser malicioso, usando afirmações dúbias, que parecem ter sempre um segundo e escondido sentido. Quando usamos de indiretas o fazemos por termos medo de dizer a verdade, e isso acontece ou porque aquilo que achamos ser verdade na verdade não é, antes é uma avaliação injusta, uma crítica destrutiva, ou porque ainda que seja uma verdade não temos amor e respeito suficientes de Deus para dizê-la sem machucar o outro. Ser espiritual não é só dizer e fazer a coisa certa, mas também dizer e fazer do jeito certo, no tempo certo, agir assim, por mais duro que seja, constrói, nunca destrói ou fere alguém. 
      Jesus falava muitas vezes por parábolas, mas sua intenção não era maliciosa, ao contrário, a simbologia tinha como objetivo tanto explicitar melhor um ensino, através de uma analogia, quanto proteger aqueles que ainda não estavam preparados para certos mistérios, Jesus era sábio, reto e muito amoroso. Com algumas pessoas às vezes Deus nos orienta a falar com simbologias, não sermos diretos, não para enganá-las ou criticá-las, mas para que a exortação entregue não seja de pronto descartada por elas, caso fosse mais explícita, ficando assim em suas mentes para que depois, sozinhas, elas possam refletir melhor e, quem sabe, mudarem de vida. O amor de Deus é sábio, não é malicioso, é educado, e sempre espera mudança de atitude para melhor, respeitando o livre arbítrio dos homens e seus tempos. 
      “A malícia matará o ímpio e os que odeiam o justo serão punidos” (Salmos 34.21), “as palavras da sua boca são malícia e engano, deixou de entender e de fazer o bem” (Salmos 36.3). A malícia cega justamente aquele que acha que tem mais visão que os outros, o malicioso é um sábio do mal, conhece as fraquezas do homem, mas não acredita que em Deus os homens possam mudar e serem bons. Malícia separa, não une, pois o malicioso, achando-se astuto, sempre desconfia, sempre vê no outro aquilo que há nele, malícia que quer levar vantagem. O malicioso é ladrão e homicida, rouba a honra e mata a reputação, ele sempre tem como inimigo aquele que é o oposto dele, o justo, que possui justamente aquilo que ele não tem, sabedoria genuína, por isso a voz do justo em seus ouvidos lhe deixa tão desconfortável. 
      “Cria em mim, ó Deus, um coração puro, e renova em mim um espírito reto” (Salmos 51.10), “seja reto o meu coração nos teus estatutos, para que não seja confundido” (Salmos 119.80). O reto teme a Deus, anda com Deus, ama a Deus, por isso tem a luz do Altíssimo sobre si, retidão é luz que protege da confusão, o reto sabe de onde veio, onde está e para onde vai, sabe quem foi e quem é, por isso é misericordioso e generoso com o próximo. O reto não se sente melhor que ninguém, não se acha sábio, pode até se achar menor, mas por se ver assim confia e se satisfaz no Senhor, por isso tem uma sabedoria simples e natural, manifestada até no silêncio. O malicioso querendo manter o que tem e ganhar mais perderá tudo, já o reto, que nada pensa ter além do Senhor, verá sua felicidade expandida, aqui e no céu. 

terça-feira, junho 01, 2021

Palavras com amor

      “Ora, o fim do mandamento é o amor de um coração puro, e de uma boa consciência, e de uma fé não fingida. Do que, desviando-se alguns, se entregaram a vãs contendas; querendo ser mestres da lei, e não entendendo nem o que dizem nem o que afirmam.I Timóteo 1.5-7

      Nem o “bem” na boca de quem tem o mal no coração é bem, mas é mal, não são as palavras que aliam a uma atitude o bem, mas a intenção interior e espiritual. Se alguém tiver amor no coração, até seu silêncio contribuirá para que o bem seja feito, e mesmo o de pouco conhecimento, com menos informações, que nem sabe falar direito ou tecer raciocínios mais elaborados, se tiver uma intenção embebida em amor, fará mais bem que o articulado, que conhece tudo e fala discursos relevantes.
      Num mundo atual, onde a humanidade acordou para o preconceito e a desigualdade, quando nos conscientizamos do preço que tem que ser pago, de alguma maneira, para descendentes de africanos escravos, toda ação e toda palavra importam. Contudo, é preciso que sejam ações e palavras para desconstruir o erro e construir o acerto, não simplesmente para destruir o errado, precisamos odiar o “pecado”, não o “pecador”, só assim construiremos união e não desunião.
      Se não tomarmos cuidado, ainda que tenhamos bons motivos e estejamos munidos de discursos relevantes (e como as pessoas atualmente sabem fazer belos discursos), estaremos fazendo guerras e exercendo violência, a mesma que mulheres, homossexuais (e outras sexualidades) e principalmente os negros sofreram e sofrem. Uma guerra não justifica outra, uma violência não justifica outra, o mal se vence com o bem e o bem está dentro de nós, não só nas palavras e nas ações. 
      Atitudes que promovem transformações que ficam são as que nascem de intenções espirituais puras. Por quê? Porque essas estão em sintonia, muito mais que com bandeiras e ideologias ou homens, com o Deus Altíssimo, pai de todos os espíritos. A melhor mudança é espiritual, e o espírito não tem cor, sexualidade ou raça, só virtudes que quanto maiores mais fazem do ser, servo de outro ser, não dono, e ser servo por amor não humilha nem cria ódio, mas honra e faz amigos. 
      No texto inicial, Paulo fala de um outro tempo e de um outro contexto, se refere a religiosos israelitas de sua época que sabiam falar, entendiam a teoria de suas doutrinas religiosas, mas não tinham a intenção correta em seus corações. Paulo diz que o amor de um coração puro, e de uma boa consciência, e de uma fé não fingida, é o que confere legitimidade às palavras, se não existir isso o discurso é só para gerar polêmica e criar contenda, é de ódio, ainda que com belas palavras.