quinta-feira, outubro 14, 2021

Cansados de ensinar (14/31)

      “E não nos cansemos de fazer bem, porque a seu tempo ceifaremos, se não houvermos desfalecido.
Gálatas 6.9

      As lutas contra preconceitos, como racismo e homofobia dentre outros, têm evoluído nos últimos tempos, contudo, nem sempre pelos melhores motivos. Uma frase temos ouvido bastante, “estamos cansados de ensinar”, para entendermos isso precisamos entender vários eventos no processo histórico das lutas. Uma luta começa no coração do que sofre o preconceito, lugar onde a dor é mais devastadora, ainda que silenciosa, quantos não sofrem por anos sem que alguém saiba? Quantos não sentem, quando entram num lugar, que são discriminados, desprezados, odiados, só por não fazerem parte daquilo que a sociedade daquele momento considerava normal? Não só negros, mas aqueles com mais peso, com alguma característica física diferente, na altura, na aparência, mesmo na maneira de se vestirem e de usarem os cabelos? Só sabe quem sofre a dor que se sofre só por se ser alguém que só quer ser alguém.
       Então, como sempre acontece na vida, semelhantes se reúnem, para compartilharem o que sentem, e como é forte uma união que liga por uma dor comum, principalmente se é uma dor que uma maioria deslegitimiza. Quando os afrodescendentes se uniram nos anos 1950, 1960 e 1970 nos E.U.A. e criaram o movimento Black Power, o estilo de cabelo grande e solto, não era só um gosto estético, era um instrumento de resistência e de divulgação cultural, a afirmação de uma identidade, hoje ainda deve ser visto assim. Portanto, quando alguém critica esse tipo de penteado, não apenas opina como tendo um gosto estético diferente, como não apreciando uma preferência, mas como um opositor a um movimento, a direitos de um grupo de seres humanos, isso temos que entender para que tomemos mais cuidado. A vida ficou complicada? Parece que hoje temos que tomar cuidados que antes não tínhamos que tomar?
      Respeitar todos os seres humanos com suas idiossincrasias, não classificando-os só como pertencentes a manadas e nivelando essas com privilégios diferenciados, finalmente a sociedade entendeu que isso é o que deve ser feito, e que quando não foi feito a humanidade cometeu um erro terrível, machucando seres humanos que são iguais a todos os demais seres humanos em direitos e liberdades. Esse cuidado fica amplificado com todo mundo postando sobre tudo e a todo momento nas redes sociais na internet. Privacidade parece ser um luxo que as pessoas abdicaram de ter para que pudessem ser famosas, ainda que só através de um post com muitos likes. Mas se aumentaram conhecimentos, aumentaram responsabilidades, infelizmente isso é algo que muitos não assumem, desejam o direito de falarem o que querem, mas não o dever de ouvirem o que podem não gostarem de ouvir como retorno disso. 
      O fato é que a civilização tem uma enorme dívida com afrodescendentes devido ao cruel sistema de escravos que foi usado por séculos para enriquecer principalmente a brancos, ponto final! A dor que se sente quando se é criticado por usar o cabelo de forma livre e natural é legítima, não é mimimi nem vitimismo, todos temos que aprender a tomar muito cuidado, a princípio com o que dizemos e escrevemos, mas principalmente com o que sentimos e somos. Não existe mais no mundo lugar para preconceitos por cor de pele, tipo de cabelo e tipo de sexualidade. Isso já está sendo dito há algum tempo, não muito, mas há algum tempo, e já é suficiente para que muitos afrodescendentes digam, “já cansei de ensinar”. No termo “ensinar” já existe um posicionamento diferente, não de guerra, não de oprimido destruindo opressor, mas de vítima ensinando ao agressor sobre como ele deve agir para não ser opressor.
      Isso representa uma evolução nas lutas, contudo, as lutas já estão em fases novas quando ouvimos que o “professor” está cansado, principalmente de ouvir que algo que o machucou não tinha a intenção disso. A verdade é uma só, só mudamos quando dói, e se não temos compaixão suficiente para sentir a dor do outro por amor, ou pelo menos por respeito, temos que ser impedidos de agredir com palavras, e senão resolver, com penalização legal. Não só deboches sobre a aparência, mas toda chacota com aqueles que não têm a sexualidade binária, que se dizia que era tradicional e que não é mais, tudo isso deve ser rejeitado com veemência. Isso deveria ser ensinado em púlpitos, ao invés de fazerem de conta que o assunto não existe, ou pior, seguirem insistindo na visão ultrapassada e sem amor que usa a Bíblia para apoiar preconceitos. Não devemos nos cansar é de amar, e em Deus sempre achamos forças para amar. 
      O penteado natural, grande e solto de africanos e descendentes, é mais que uma preferência que pode ou não ser apreciada, é símbolo de uma luta legítima, mas ainda mais que isso, é a coroa de príncipes e princesas, reis e rainhas, que ajudaram tanto quanto qualquer outros a construir o que temos de melhor na humanidade. Na música, nem precisamos dizer o quanto afrodescendentes espalhados pelo mundo fizeram e fazem, como músico tenho gostos e fundamentos assentados sobre o jazz, o blues, o samba, o reggae, os funks. Nos esportes, quantas marcas já foram quebradas por negros, épicas as medalhas de ouro de Jesse Owens nos Jogos Olímpicos de 1936 em plena Alemanha de Hitler, assim como a carreira e o posicionamento político de Muhammad Ali-Haj, eleito "O Desportista do Século". Mas também na literatura, nas ciências, enfim, diversidade é a expressão mais profunda da sabedoria e da beleza de Deus. Não nos cansemos de aprender!

Está é a 14ª parte do estudo
“Militou errado!” dividido em 31 partes,
para um melhor entendimento, 
se possível, leia o estudo na íntegra.

José Osório de Souza, março de 2021

quarta-feira, outubro 13, 2021

Sem limites para a estupidez humana (13/31)

      “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que sois semelhantes aos sepulcros caiados, que por fora realmente parecem formosos, mas interiormente estão cheios de ossos de mortos e de toda a imundícia.” 
Mateus 23.27

      Soube de uma notícia que me assustou, pessoas que fazem tatuagens em seus animais de estimação, não só pequenas, mas grandes, em quase todo o corpo do animal. Isso além de submeter o pet a uma dor que ele não escolheu e nem precisa ter, visto que não é um acidente, põe a saúde do bicho, seja por dermatites ou outras doenças, em risco. Felizmente leis já estão sendo aprovadas para coibir isso, que crueldade de quem buscando uma identidade na aparência, egoisticamente submete inocentes à tortura, que obsessão o ser humano pode ter para ser diferente. Não duvido se levantaram-se pessoas militando pelo direito de se fazer isso, dizendo que impedir isso é ir contra algum tipo de liberdade de expressão.
      Mas temos outro exemplo do quanto a estupidez humana pode sempre nos surpreender, esse está acontecendo com as vacinas para a Covid 19 em meio à pandemia. Gente furando fila, vendendo vacina roubada ou falsa, e gente comprando essas vacinas ilegais ou falsificadas, geralmente pessoas de mais posses, muitas já acostumadas a fazerem prevalecer seus direitos através da maior das estupidezes humanas, o mal uso do dinheiro. Aqui também ocorre o equívoco de se tentar estabelecer uma identidade diferenciada baseada em valores externos, naquilo que o dinheiro mostra na aparência diante de pares, esse engano sempre dá mais importância ao homem que a Deus, gradua pela matéria, não pelo espírito.
      Duas coisas precisam ficar claras: as pessoas têm o direito de tatuarem suas peles, de usarem acessórios como brincos e piercings, assim como de usufruirem aquilo que um dinheiro ganho de forma honesta pode permitir. Não estamos aqui julgando ricos nem tatuados, essas coisas não representam em si mesmas problemas. Se você pode comer num restaurante mais caro ou usar uma roupa mais luxuosa, pagando com um recurso que é teu, problema teu. Se você quer estender tua identidade interior a marcas em tua pele e a objetos anexados a ela, também é uma questão tua. Não podemos julgar ninguém pelo exterior físico, tanto quanto ninguém se julgue melhor por ele, seja no luxo ou no exotismo. 
      Contudo, o ser humano sempre tende à obsessão e ao vício. Isso perde o controle se suas quatro áreas, física, emocional, intelectual e espiritual, não estiverem em harmonia em Deus. Quem não milita em Deus (e não necessariamente por Deus em uma causa espiritual ou religiosa, o que não tem nada de errado) militará fora de Deus e, consequentemente, por bobagens, colocando esta reflexão no contexto do estudo “Militou errado!”. Muitos que começam a se tatuar viciam-se nisso e acabam querendo marcar a ferro quente a maior área possível de seus corpos. O que foi inicialmente um reforço de identidade, acaba se tornando uma obsessão, e aí nem é mais para os outros verem, mas só para satisfação de vício. 
      Outros, que tendo um pouco mais de grana trocaram um restaurante bom por um mais sofisticado, acabaram num restaurante caríssimo, nem por necessidade alimentar ou para provarem algo diferente, mas só para mostrarem para pares que podem pagar por isso. O dinheiro é um deus egocêntrico, começa dizendo aos homens que tê-lo é poder desfrutar de bens e prazeres melhores, mas no final o único prazer que o homem terá é ter mais e mais dele, quanto ao resto que o dinheiro pode pagar, nem terá mais valor ou dará prazer, dinheiro se torna fim em si mesmo. A mais importante militância no mundo é pelo dinheiro, ninguém se iluda sobre isso, ele está por trás de tudo, mesmo de causas aparentemente puras.
      Esses direitos, pelos quais tantos militam, melhoram o ser humano no principal? Não, só o deixam mais estúpido, e de uma maneira que eles nem percebem a vergonha que estão passando. Você quer ter direito de se tatuar? Tudo bem, isso não representa um problema, mas antes lute pelo direito de buscar a Deus e conhecê-lo, sem filtros, sem as manipulações das tradições religiosas humanas. Se estiver imbuído nessa militância as outras não serão tão importantes, você não achará assim tão relevante aparentar luxo ou exotismo, isso tudo passa e fica neste plano. Na eternidade seremos trevas ou luzes, sem lugar para marcas ou graduações físicas. Espírito não se tatua, não para sempre, só se purifica e se ilumina. 
      Mas tem outro lado de quem gasta grana com vícios, obsessões e vaidades, desperdiçar um dinheiro que poderia estar ajudando outros, que não estão ocupados em mostrar aparência para pares, mas só em sobreviver, comer e beber o básico que lhes permita continuar vivendo no mundo e trabalhando. Ricos, sejam na área que forem, serão mais cobrados no juízo pelo qual os seres humanos passarão na eternidade, se tiveram condições de ajudar outros mas foram irresponsáveis com o que receberam e cruéis com os que não receberam. Sobrou dinheiro? Doe. Recebeu misericórdia? Ame. Tem conhecimento sobre algum área? Compartilhe, hoje com a internet coisa fácil é compartilhar o que se sabe, milite por causas nobres. 

Está é a 13ª parte do estudo
“Militou errado!” dividido em 31 partes,
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José Osório de Souza, março de 2021

terça-feira, outubro 12, 2021

Quem milita pelo planeta? (12/31)

      “E a Adão disse: Porquanto deste ouvidos à voz de tua mulher, e comeste da árvore de que te ordenei, dizendo: Não comerás dela, maldita é a terra por causa de ti; com dor comerás dela todos os dias da tua vida. Espinhos, e cardos também, te produzirá; e comerás a erva do campo. No suor do teu rosto comerás o teu pão, até que te tornes à terra; porque dela foste tomado; porquanto és pó e em pó te tornarás.” 
Gênesis 3.17-19

      Que militância interessa a Deus? Todas interessam. Deus usa todos os seres humanos para harmonizar e evoluir o universo, aceite isso, cristão. Sabe aquele ateu materialista que está lutando pela ecologia? Pois Deus o está usando para fazer algo que muitos cristãos não fazem e que é muito importante para todos. Se todos nós, cristãos ou não, temos uma visão muito materialista da existência, evangélicos e protestantes, em grande parte, têm uma visão restrita da vida, uma pseudo interpretação do que são prioridades. Muito disso se deve a um entendimento apocalíptico equivocado da história da humanidade, entendimento que esteve presente em todas as fases do cristianismo, desde a igreja primitiva de Pedro e Paulo. 
      É claro que esse entendimento equivocado é conveniente para muitos, ainda que seja uma conveniência legítima. Tantos tentando sobreviver com tão pouco, não têm tempo para causas coletivas e globais, estão mais ocupados em trabalhar e se sustentarem, por isso acabam se ocupando com militâncias por ecologia e outras causas sociais, os de nível monetário e intelectual mais elevado. É assim no atual estágio de espiritualidade da humanidade. São também esses os que, confrontando ciência com fé, menos acham relevância em religião, pelo menos na cristã, já tão tradicionalmente aliada a perseguição da ciência e de outras bandeiras de iluminação social, principalmente através da instituição religiosa sediada no Vaticano. 
      Não estou generalizando, sei que existem cristãos engajados em causas ecológicas, lutando contra poluição de água e ar, defendendo animais e florestas, administrando ONGs, contudo, muitos cristãos parecem estar mais preparados para o fim do mundo que para deixarem um mundo material melhor para filhos e netos. Esse talvez seja o maior engano que o cristianismo comete, pois contribui na prática, com mais intensidade, para que a vida na Terra não melhore, consequentemente o papel mais proeminente de luz acaba sendo feito por muitos que o cristianismo coloca nas trevas. Mas o que de fato é luz? Interessante que a época em que o cristianismo mais dominou o mundo foi justamente a chamada de idade das trevas. 
      Eis uma discussão importante, que nos leva a enxergar de fato quem é trevas e quem é luz, sobre isso a Bíblia é clara, “pelos frutos os conhecereis” (Mateus 7.20), simples assim, e não adianta tentar esconder isso com argumentos. Fins não justificam os meios, mas obras sempre falam mais alto que crença. O que de fato fará diferença no homem interior de cada ser humano e que será manifestado na eternidade? Deus sabe, mas não julguemos mal ninguém e nunca, e nem bem antes do tempo. Tem muita gente fazendo o trabalho que cristãos não estão fazendo, por isso o cristianismo é odiado por tantos e outras religiões são tão respeitadas. Interessa é que o amor de Deus seja exercido, mesmo que por outras bocas (Lucas 19.40). 
      Uma revelação nos é feita no texto bíblico inicial, se pela queda da mulher e da “serpente” elas mesmas foram amaldiçoadas, no caso do homem quem foi amaldiçoada for a terra, ainda que por causa disso o homem colha sérias consequências. Isso é relevante principalmente numa visão de família e de sociedade onde a produção de recursos de sustento era desempenhada pelo homem, a mulher cuidava da criação de filhos e trabalhos do lar. Ao ser humano não cabe só se religar a Deus através do Cristo, para restabelecer uma conexão espiritual, Gênesis nos lembra que também é sua responsabilidade restaurar o mundo, ele faz isso com a ciência, criando tecnologias para proteção e administração do planeta e de suas intempéries. 
      Mas e os cristãos, eles têm responsabilidade nisso? Novamente precisamos dizer que existem muitos cristãos protestantes que valorizam estudos, que seguem como pesquisadores e que contribuem, sim, para melhorar o planeta. Contudo, uma grande quantidade de evangélicos, doutrinada para pensar que basta fé e pouco esforço, acha nas teorias conspiratórias do fim do mundo álibis para entregar os destinos do planeta nas mãos de opositores do cristianismo. Por isso políticos e diplomatas contra o globalismo, a favor de Israel e que se opõem a sistemas políticos comunistas, são apoiados por tantos cristãos, que acham que isso é militância cristã. Esse engano entregou a liderança do Brasil nas mãos de um maluco estúpido. 
      Muitos cristãos não percebem o quadro terrível que se arma, e tudo porque teimam em ler o momento atual como o início do final dos tempos. Nesse quadro muitos, chamados cristãos, se posicionam do lado do engano, do real anticristianismo, se de fato entendermos o que é o cristianismo verdadeiro  de Jesus, enquanto que outros, que não defendem nenhuma religião e só a ciência, se posicionam ao lado da sensatez. Por isso tantos cristãos sendo negacionistas dentro de uma pandemia mundial cuja solução não está na política, nem na religião, só na ciência. O que mais assusta é o nome de Deus sendo colocado do lado da insensatez, esse mau testemunho será cobrado na eternidade de cristãos militando equivocadamente. 

Está é a 12ª parte do estudo
“Militou errado!” dividido em 31 partes,
para um melhor entendimento, 
se possível, leia o estudo na íntegra.

José Osório de Souza, março de 2021

 

segunda-feira, outubro 11, 2021

Militância materialista (11/31)

      “E dizia também aos seus discípulos: Havia um certo homem rico, o qual tinha um mordomo; e este foi acusado perante ele de dissipar os seus bens. E ele, chamando-o, disse-lhe: Que é isto que ouço de ti? Dá contas da tua mordomia, porque já não poderás ser mais meu mordomo. E o mordomo disse consigo: Que farei, pois que o meu senhor me tira a mordomia? Cavar, não posso; de mendigar, tenho vergonha. 
      Eu sei o que hei de fazer, para que, quando for desapossado da mordomia, me recebam em suas casas. E, chamando a si cada um dos devedores do seu senhor, disse ao primeiro: Quanto deves ao meu senhor? E ele respondeu: Cem medidas de azeite. E disse-lhe: Toma a tua obrigação, e assentando-te já, escreve cinqüenta...” 
      Quem é fiel no mínimo, também é fiel no muito; quem é injusto no mínimo, também é injusto no muito. Pois, se nas riquezas injustas não fostes fiéis, quem vos confiará as verdadeiras? E, se no alheio não fostes fiéis, quem vos dará o que é vosso? Nenhum servo pode servir dois senhores; porque, ou há de odiar um e amar o outro, ou se há de chegar a um e desprezar o outro. Não podeis servir a Deus e a Mamom.” 
Lucas 16.1-6, 10-13

      Nada deve ser imposto, ainda que se ache que se tenha bons argumentos, assim religião não pode ser imposta, ainda que se acredite que uma religião seja mais verdadeira que outra, e mesmo ciência - como religião, já que muitos a encaram assim - também não pode ser imposta. Ciência torna-se religião quando desconsidera Deus, e algo que se coloca no lugar de Deus se torna um deus, e como tal, uma religião. Eu não creio num gênesis interpretado ao pé da letra, considero a ciência para me ajudar a entender o que Moisés registrou, de acordo com a tradição oral que chegou até ele. Contudo, muitos materialistas querem impor a ciência desprezando a existência de um ser mais alto, mais poderoso, criador e eterno, com objetivos ativos de amor para a humanidade, cuja existência ou não, nem a ciência pode afirmar. 
      Atualmente existem pessoas, principalmente entre as com mais poder aquisitivo, bem formadas intelectualmente, que militam pelo bem do planeta e que defendem a ciência, mas que se portam como aqueles evangélicos extremistas, puritanos e usando roupas diferentes. Esses cientificistas se consideram sinceramente superiores a muitos cristãos, se acham mais lúcidos que esses, mas na prática afetiva de vida são bitolados, indisponíveis a diálogo e só confiam socialmente em pares. Eles querem impor uma liberdade que nem eles possuem, mas são adeptos de toda nova moda pedagógica que surge, doutrinados pela mídia e com muito medo de perderem empregos ou serem interpretados como ultrapassados por empresas, também administradas por empresários que são seus pares, adeptos da mesma idolatria materialista-científica. 
      Se existem extremistas tanto na religião quanto na ciência, a conclusão que chegamos é que o que diferencia o ser humano não é o nível acadêmico, a religião, ou a ausência de ambos, mas uma virtude, essa é a humildade. Ninguém tem culpa de ter nascido nesse ou naquele lar, de ter recebido essa ou aquela educação, de ter sido criado com ou sem religião, de ter sido informado com essa ou com aquela relevância de vida, dando valor seja a bens materiais, à intelectualidade, à religiosidade ou a outra coisa. Contudo, humildade é algo que podemos escolher ou não vivenciar, e humildade nada mais é que respeitar, a si mesmo, os outros e a Deus, seja ele quem for e onde estiver. É essa humildade que nos leva a ter o temor a Deus que a Bíblia ensina, ela é o segredo de uma vida feliz e sustentável, em todas as áreas, indiferente das outras escolhas de vida que se faça. 
      Muitas militâncias que a mídia veicula em novelas, filmes, músicas, jornalismo, redes sociais, são só modas burguesas, eis a verdade, a grande maioria da população, ocupada em trabalhar de manhã para pagar o almoço, e depois trabalhar à tarde para pagar o jantar, nem está preocupada com esses modismos. São relevâncias que importam a jovens de classe média alta, que querem salvar o planeta, mas que preferem criar pets que formar família e criar filhos. Esses burgueses não suportariam uma noite com um bebê chorando querendo mamar e tendo fraudas para trocar. Se tiverem um bebê delegarão a tarefa a pedagogos em escolas caras, achando que estão fazendo o melhor para o filho e para a sociedade. Temos que ter muito cuidado com aquilo que a mídia prega como o jeito melhor de se viver, ela não é tão pura como muitos pensam.  
      Que fique bem claro, este texto não é de forma algum uma crítica à classe profissional ligada à pedagogia, existem verdadeiros heróis e heroínas ajudando em creches de educação infantil, fazendo com muito amor e ganhando pouco, o trabalho que aqueles que colocaram tais crianças no mundo não podem ou não querem fazer, e na maior parte das vezes, não podem porque estão trabalhando pela sobrevivência básica. A crítica também não é a pessoas com mais poder aquisitivo, elas não têm culpa de serem o que são. Contudo, repito, humildade pode ser escolhida, e a vida nos confronta com ela à medida que vivemos, se é que vivemos e não fugimos de viver estudando e trabalhando demais, não para ter uma vida digna, mas só para satisfazer ao “deus” dinheiro e à “religião” materialismo. Ninguém pode escolher onde nasce, mas todos podem escolher serem humildes. 
      Numa sociedade ideal, o ser humano faria os primeiros esforços para poder sobreviver fisicamente, para poder pagar por moradia, alimentação e roupa. Depois, se estudasse mais e trabalhasse melhor poderia pagar entretenimento e artes, o ser humano também precisa de tempo livre para lazer e consumir expressões artísticas, isso não é luxo, é necessidade. Depois, se tivesse renda financeira maior, poderia se dedicar a causas filantrópicas e ecológicas, para ajudar os outros e o planeta. Infelizmente é nesse ponto que muitos preferem dedicar-se a si mesmos e mais que o necessário, por isso tantas academias, bares, restaurantes, resorts etc. E quanto à religião? Espiritualidade verdadeira está em todas essas coisas, viver com humildade, respeito, temor a Deus, dando prioridade a virtudes e ajudando o próximo. Todos, em qualquer lugar, podem servir ao próximo de algum jeito. 
      Temos uma ótica materialista da existência, achamos que se formos prósperos no mundo, administrando bem o dinheiro, seremos seres melhores, mas só isso pode representar não sermos fiéis no pouco. Sabe o que é o pouco no texto bíblico inicial? Este mundo, seus valores, e nada disso é nosso de verdade, é emprestado, achar que isso é o mais importante é não entender a vida, é não administrar bem o pouco. Na parábola, o mordomo, com medo de perder o emprego, não cobrou dos devedores o valor que seria justo, mesmos havendo juros justos, caso estivessem com pagamentos atrasados. Cobrar o justo e com juros representaria para muitos hoje em dia serem fiéis no pouco, administrarem com inteligência vida financeira, obterem lucros. Mas o mordomo fez o contrário, cobrou menos, para ficar bem com os devedores, pensando que se perdesse o emprego poderia ser ajudado pelos que ajudou. 
      O senhor, justo, que representa na simbologia Deus, não reclamou da atitude do mordomo, antes o elogiou, reconheceu em sua estratégia sabedoria, o mordomo não pensou no lucro imediato, mas numa relação cordial com as pessoas que poderia ajudá-lo no futuro. O muito da parábola está na eternidade, não em valores materiais, mas em valores espirituais, na eternidade seremos acordados para a luz mais alta de Deus, que nos revelará o que realmente tem valor em nossas existências eternas. Se existirem valores espirituais em nosso interior seremos conduzidos ao céu, senão, só deixará claro o que já existe dentro de nós hoje, o inferno. Se o mordomo tivesse cobrado o valor exato da dívida, poderia até ficar bem com um senhor materialista, mas fazendo amigos ele trouxe para si valores espirituais eternos. O mordomo militou pela militância mais elevada, não pelo materialismo. 

Está é a 11ª parte do estudo
“Militou errado!” dividido em 31 partes,
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José Osório de Souza, março de 2021

domingo, outubro 10, 2021

Pela liberdade mais plena (10/31)

      “Estai, pois, firmes na liberdade com que Cristo nos libertou, e não torneis a colocar-vos debaixo do jugo da servidão.” 
Gálatas 5.1

      Luta pelas minorias, eis a bandeira principal de tantas militâncias, a fim de que todos os seres humanos possam ser aquilo que querem, onde e quando quiserem. Isso é lutar pela liberdade, mas a verdade é que em se tratando de humanidade, o conceito de minoria é ilimitado. Veja por exemplo o conceito de sexualidade, de dois sexos passou-se a três, depois a quatro, sete (LGBTQIA+), e hoje já se fala no conceito de não se ter conceito, onde não se é obrigado a fazer escolha definitiva, pode-se ser qualquer coisa e mesmo nenhuma. Mas será que são todos que não querem referências binárias? Para defendermos de fato a liberdade, nem a própria liberdade deve ser imposta, as pessoas precisam ser livres mesmo para escolherem não ser, isso porque o que uma pessoa acha ser liberdade pode não ser liberdade para outra.
      A bandeira mais inclusiva talvez não seja a da liberdade, mas a do individualismo, e não entendendo isso, muitos, achando-se paladinos da justiça social, são na verdade só autoritários ressentidos, querem obrigar os outros a serem o que eles querem ser e acham que são impedidos de ser. Só pode ser livre aquele que se liberta da carência de aprovação alheia, quem quer se algo, mas para exibir isso aos outros, para lançar na cara dos outros que é isso ou aquilo, tem necessidade, não de liberdade, mas de reconhecimento externo. Quem depende do outro para ser feliz nunca será, sempre será escravo de homem e esse é patrão injusto e nunca satisfeito, como vício, sempre quer mais. Mas quem quer ser para si, tem paz que não depende do que o outro pensa, é livre no espírito, e ao espírito nenhuma algema humana pode amarrar.
      O que há por trás da tal liberdade tão almejada hoje por tantos? Está um espírito encarcerado, e sendo assim não é liberdade física, afetiva ou intelectual que irá livra-lo. Isso, contudo, não impede um ser humano que não quer se aproximar do verdadeiro Deus de tentar. O que um homem longe de Deus acha querendo ter liberdade? Acha o caos, um abismo infinito para cair, e quem cai, cai para baixo, para mais longe de Deus. A real liberdade está em cima, no Altíssimo, essa não se alcança movendo-se para baixo, mas elevando-se, só sobe quem se livrou de todos os pesos e então, leve o suficiente, flutua e eleva-se. Mas os que tentam se livrar dos pesos dos preconceitos e das falsas moralidades não ficam leves o suficiente para subirem? Não, quem pesa é o espírito, e leveza espiritual só uma íntima relação com Deus confere. 
      Muitos pais modernos tentam criar filhos no caos e pensam estar fazendo a coisa certa, mas crianças em desenvolvimento físico, intelectual e afetivo, precisam de referências. Na matemática ninguém começa aprendendo física quântica, primeiro aprende-se operações aritméticas. É errado ensinar sobre dois sexos? Não, são as referências físicas mais comuns, ainda que não reflitam as interiores, estão ligadas a características do corpo, masculino e feminino. Depois, acompanhando em amor e com valores morais, os que criam devem verificar o processo, não impondo, não usando de qualquer espécie de violência, incluindo orientações religiosas. Pais sábios, respeitando especificações individuais, devem achar o equilíbrio entre a visão científica e sempre renovada da pedagogia, e a religião na qual criam filhos. 
      Pais que amam devem estar preparados para que filhos sejam totalmente diferentes deles, fazendo escolhas que mesmo eles não fariam. O ser humano deve ser educado para assumir o que ele é, indivíduo que sozinho veio ao mundo e sozinho voltará à eternidade, com todas as suas escolhas pessoais. Isso não significa não ensinar valores morais, criar mau caráter, mas principalmente nas áreas afetiva e sexual, significa deixar a pessoa ser aquilo que sempre foi, e que pode ter ficado meio escondido na infância. Pais cristãos precisam entender que identidade sexual é algo muito pessoal, não pode ser imposta, entretanto, só entendem isso pais que têm uma experiência com Deus, não só com o que é ensinado pela tradição religiosa, caso contrário ao invés de libertarem, encarcerarão e produzirão seres humanos infelizes. 
      Pais cristãos, estamos de fato criando os filhos que Deus nos permitiu, muito mais que fazer, ensinar, e isso ouvindo o Senhor? Ou queremos só fabricar clones, por orgulho, por medo ou por ignorância? Por orgulho, porque muitos querendo exibirem-se para os outros, provarem para esses que são bons evangélicos, querem filhos nos moldes daquilo que as igrejas cristãs ensinam, conhecedores de Bíblia, cantores nos cultos, falando e se vestindo no estilo evangeliques. Por medo, pois se creem que se não forem evangélicos irão para o inferno e cairão nas tentações do diabo e do mundo, o mesmo ocorrerá com seus filhos, e como existem pais incentivando filhos a se casarem o mais depressa possível e com crentes para não caírem em promiscuidades. Por ignorância, porque muitos cristãos não conhecem um caminho melhor. 
      Meus queridos irmãos e queridas irmãs crentes, o ser humano é muito mais complexo que aquilo que aprendemos dele nas igrejas, só Deus em seu amor para abraçar e orientar a todos, nós não temos poder de definir nossos filhos, e nem devemos, são espíritos livres enviados por Deus para que os auxiliemos por um tempo, e que depois devem seguir sozinhos. Muitos bons evangélicos e protestantes conseguem até criar novos bons evangélicos e protestantes, mas é só isso, clonam religiosos, mas não encaminham seres humanos melhores e que farão diferença positiva num mundo moderno e em constantes mudanças tecnológicas e sociais. Se tememos a Deus, o temamos ainda mais, assumindo nossas incompetências, e humildemente entendendo que liberdade de fato só Deus pode dar, o mundo não pode, nem a religião. 

Está é a 10ª parte do estudo
“Militou errado!” dividido em 31 partes,
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José Osório de Souza, março de 2021

sábado, outubro 09, 2021

Vocação para ser escravo?? (9/31)

      “Cada um fique na vocação em que foi chamado. Foste chamado sendo servo? não te dê cuidado; e, se ainda podes ser livre, aproveita a ocasião. Porque o que é chamado pelo Senhor, sendo servo, é liberto do Senhor; e da mesma maneira também o que é chamado sendo livre, servo é de Cristo.” 
I Coríntios 7.20-22

      Logo de início chamo a atenção para que ninguém julgue o título sem ler todo o texto, tanto que o coloquei como pergunta, não como afirmação. O texto bíblico inicial deve ser entendido em camadas, a primeira é a do contexto histórico em que Paulo o escreveu, essa pode ser polêmica nos dias atuais. Paulo diz que o que é escravo deve permanecer assim, e o que é senhor (de escravo) também deve continuar dessa maneira, e que ambos podem ser felizes em Cristo nisso. Será que tantos que leem o texto o entendem de fato? Ou só passam a vista e o aceitam, “afinal”, pensam muitos, “está na Bíblia e deve ser aceito”. 
      O texto define o conceito de vocação, ele não tem a ver só com aptidão física natural e dons espirituais recebidos, mas com a identidade interior do ser humano, que também vai além de sua formação social e emocional e sua ocupação profissional. Por isso Paulo diz que o que tem a vocação de servo deve continuar como tal, nisso não temos embasamento bíblico que incentiva escravatura, principalmente nos dias atuais, mas só a revelação que Paulo escrevia como homem de seu tempo para uma sociedade de seu tempo, ainda que fosse servo de Deus com conhecimento e prática do mais puro evangelho de Jesus Cristo. 
      O ponto desta reflexão não é confrontar militâncias legítimas com preconceito por cor da pele, ou por direitos de afrodescendentes, o ponto não é militâncias coletivas, mas pessoal, e que pode independer de características externas. Somos definidos espiritualmente pelo lugar e pela família na qual nascemos, fomos educados e por características e gostos intelectuais que temos? Não, e nisso também está implícito que ninguém é “burro”, aliás esse termo é inadequado sob diversas instâncias, todos podemos desenvolver habilidades e competências com o que temos nas mãos, se quisermos e nos esforçarmos para isso. 
      Todas as nossas especificações físicas, intelectuais, emocionais e sociais, são ferramentas para que nossos homens interiores evoluam, e isso precisa ser considerado assim porque na eternidade não fará diferença a graduação acadêmica, a sofisticação de nossos trabalhos, a fineza de nossas educações sociais. O que vai valer são as virtudes morais que tivermos em nossos espíritos, que foram construídas à medida que fizemos escolhas em fé e praticamos obras de amor com a vocação espiritual que recebemos de Deus. Eu já vi muitas discrepâncias nesta vida, desejo de aparentar que não se casava com a prática.
      Vi pessoas criadas em famílias pobres, que nem o português falavam direito, mas que se portavam socialmente com nobreza, com muita sabedoria, com uma delicadeza aristocrática, eram doutores em peles de trabalhadores braçais. Mas eu vi também o contrário, gente bem estudada, acostumada com luxos, com as melhores roupas e usufruindo de comidas sofisticadas, que viajaram pelo mundo, em profissões que só se relacionavam com gente do mesmo nível social, contudo, absolutamente estúpidas, insensíveis, comilões e beberrões viciados em prazeres baixos do corpo, sem nenhuma sensibilidade para tratar os outros. 
      A ótica simplista que muitos cristãos se acostumam a ter da humanidade, ensinados por suas tradições religiosas, não acha base na realidade, há algo a mais que simplesmente crer em Cristo e ganhar o céu. O que ocorre de verdade é que alguns Deus coloca no mundo para serem uma coisa, e não outra, e não serão felizes nem farão os outros felizes se não entenderem e viverem isso. Não somos definidos por ocupações, nem pelo meio, mas por nossas vocações espirituais, elas vêm conosco em nossos nascimentos, definem nossas identidades espirituais, e são elas que devem ser evoluídas neste mundo, não outras coisas.
      É essa lição que está meio que escondida de uma rasa e equivocada interpretação do texto inicial, o que o Espírito Santo pode nos ensinar não é aceitar escravidão física e social como sua vontade, não é isso, mas é entendermos que se formos chamados para servirmos como coadjuvantes, não acharemos paz sendo protagonistas, tomando a frente para liderar, se nossa vocação é sermos discretos, não teremos paz discursando, mesmo tendo coisas legítimas a dizer. Deus vocaciona para crescimento, assim poder mas não fazer para cumprir uma vocação, é tão eficiente quanto a princípio não poder mas se esforçar para fazer porque se é vocacionado. 
      A primeira e mais importante militância é a que precisamos fazer por nós como indivíduos, ela deve ser correta, de acordo com a vocação que Deus nos dá, mas só descobre essa vocação quem busca a Deus, e não só a religiões. Você sabe qual é a sua vocação? Seja qual for, ela pode ser executada com qualidade, de maneira que você receba ainda neste mundo retorno para ter uma vida digna e em paz. Mesmo o servo chamado por Deus, é livre, e ainda que seja senhor, tem o privilégio de a Deus servir, o segredo da paz não está em ser servo ou ser senhor, mas em estar em Deus, nisso conhecemos o Altíssimo e a nós mesmos. 
      Muitos militam errado, e mesmo por grandes e boas causas, porque não se aceitam como seres humanos, nesse conflito há uma insatisfação que o homem pode tentar satisfazer com militâncias coletivas. Visto como líder de uma militância importante, ele pode achar uma valorização que sente que não tem como indivíduo, mas se essa for a razão principal que o leva a militar ela é falsa, um dia o deixará na mão, só, fraco e infeliz. Resolva-se primeiro, antes de querer resolver problemas alheios, não se esconda atrás de bandeiras, você até poderá conquistar direitos para os outros, mas seu coração continuará sem paz. 

Está é a 9ª parte do estudo
“Militou errado!” dividido em 31 partes,
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se possível, leia o estudo na íntegra.

José Osório de Souza, março de 2021

sexta-feira, outubro 08, 2021

Servos não militam por si (8/31)

      “Nada façais por contenda ou por vanglória, mas por humildade; cada um considere os outros superiores a si mesmo. Não atente cada um para o que é propriamente seu, mas cada qual também para o que é dos outros. De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus, mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens; e, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz.” 
Filipenses 2.3-8

      Políticos não são donos de cidades, estados ou países, políticos são escolhidos pelo povo para servirem o povo, são nossos empregados, portanto, servos de todos, não senhores. Um empresário pode ser patrão, construiu em negócio que é seu, para seu benefício, ainda que tenha empregados e deva, como cidadão e como ser moral, respeitar os direitos desses empregados, entretanto, políticos não são donos de empresas e não têm direito de usar o que administram em benefícios próprios. O exército brasileiro, não é do presidente, de um governo, nem do de direita e muito menos do de esquerda, mas do Brasil, do povo brasileiro, assim como todas as instituições estatais, sejam nas áreas que forem. Por isso, acima de tudo, a consciência que deve haver na mente de políticos é a de um humilde servo com um emprego temporário.  
      Como tal ganha, e deve ganhar, um salário decente para ter tempo para poder desempenhar sua função, enquanto sustenta uma vida digna para si e para sua família, mas sua satisfação maior deve ser a alegria de ter a honra de poder representar por um cargo político, não seus interesses, mas os interesses de membros de uma nação, e tendo esses votado ou não no político. Isso nada tem a ver com religião ou com vida espiritual, mas com vida social civilizada, contudo, se políticos devem ter a consciência de que são servos, muito mais líderes religiosos cristãos, de todas as denominações e seitas, católicos, protestantes ou outros, se é que querem levar o nome de cristãos. Essa missão deve ser desempenhada por e em amor, não para dar sentido a uma vida pessoal não resolvida, se alguém quer servir como religioso deve se ajudar antes de ajudar os outros.
      Servo, o texto inicial define essa função com precisão, mas não são só líderes religiosos que devem servir ao próximo, todos nós, de alguma maneira, somos vocacionados para servir. Numa reflexão que pensa em tantos que parecem militar só para terem lugar de fala para se sentirem importantes e parte de algo maior que eles, para darem sentido a vidas muitas vezes não resolvidas e terem cargos políticos, entender o servo bíblico pode confrontar muitos com um conceito mais alto, e quiçá, fazê-los repensar o porquê de suas militâncias. Uma virtude que um servo chamado por Deus precisa ter é humildade, que não se acha dono de algo, mas só administrador temporário do que lhe é emprestado. Nossa existência no mundo é isso, com nada viemos e com nada sairemos, a não ser com as virtudes que conseguirmos fixar em nossos espíritos. 
      Mas mesmo desprendimento material, se for só isso, pode conduzir a uma missão equivocada, muitos são humildes, não querem ser donos de nada, mas vivem uma espiritualidade só para eles mesmos, militam só por si. O texto inicial diz mais sobre o exemplo maior de servo que a humanidade na Terra conheceu, Jesus, um servo serve, simples assim, mas não a si mesmo, aos outros, e faz isso até as últimas consequências se for necessário. Jesus serviu a mim e a você até à morte. Mas calma, não somos chamados para sermos cristos, não temos quilate moral para isso, Deus conhece nossos limites e sabe o que pedir de nós, de maneira que possamos servir com alegria e da melhor maneira que pudermos. Mas cada um de nós, se procurar em Deus dentro de si mesmo, saberá exatamente o que precisa fazer para ser útil para abençoar alguém. 
      Temos que ter algum cuidado, sempre que o conceito sacrifício se apresenta, temos a tendência de interpretar esse termo de jeitos errados. Podemos nos sacrificar, ou por medo de não conseguirmos dizer não a quem só quer nos explorar, ou para termos de alguns algum afeto, mesmo que a preço de sangue. Podemos exigir sacrifícios dos outros por colocarmos nos outros a culpa por problemas que são nossos, mas mesmo que nossos problemas tenham sido legitimamente causados por terceiros, podemos nos achar no direito, como vítimas, de exigir que alguns se sacrifiquem por nós. Quem se sacrifica desnecessariamente não é feliz, tentará ajudar os outros, mas não se ajudará. Quem exige sacrifícios dos outros também não é feliz, sempre achará que os outros lhe devem alguma coisa, assim não amará, não se sentirá amado e não conseguirá servir a Deus. 
      “Porque eu quero a misericórdia, e não o sacrifício; e o conhecimento de Deus, mais do que os holocaustos” (Oseias 6.6), muitas vezes nos sacrificamos simplesmente porque isso parece mais fácil fazermos que sermos misericordiosos, mas só somos misericordiosos quando provamos misericórdia e só provamos misericórdia quando somos humildes. “Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas” (Mateus 11.29), que texto maravilhoso é esse, daqueles que vêm do centro do evangelho. Quer militar por uma causa que valha a pena? Comece militando por si mesmo, ache a paz e a segure, humildemente com todo o coração, seja curado, só depois você poderá entender o que é ser servo, e só um servo de verdade pode lutar uma militância legítima e por amor.     

Está é a 8ª parte do estudo
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José Osório de Souza, março de 2021

quinta-feira, outubro 07, 2021

Quem é o anticristo? (7/31)

      “Filhinhos, é já a última hora; e, como ouvistes que vem o anticristo, também agora muitos se têm feito anticristos, por onde conhecemos que é já a última hora. Saíram de nós, mas não eram de nós; porque, se fossem de nós, ficariam conosco; mas isto é para que se manifestasse que não são todos de nós. E vós tendes a unção do Santo, e sabeis tudo.” 
I João 2.18-20
      “Respondeu Jesus: O meu reino não é deste mundo; se o meu reino fosse deste mundo, pelejariam os meus servos, para que eu não fosse entregue aos judeus; mas agora o meu reino não é daqui.” 
João 18.36

      Algumas coisas não são bem o que parecem ser, ter convicção, por exemplo, não significa estar certo, só ter fé não confere legitimidade para que se receba algo, pelo menos não de Deus. Seguir alguém que tem certeza do que é, quer e faz, pode parecer seguro, nos dar o foco que podemos não achar em nós mesmos, mas delegar escolhas para os outros nos colocará como escravos dos outros, assumiremos a responsabilidade de erros dos outros. Usar o nome de Deus não significa ter aprovação de Deus. Eis uma estratégia que líderes populistas de direita podem usar, colocar Deus na história, e quem coloca Deus de maneira errada numa causa, certamente colocará também o diabo, como seu antagonista e no lado dos inimigos de sua causa, na outra militância. Um conflito entre Deus e o diabo pode ser tudo que muitos cristãos equivocados necessitem para militarem por uma causa, esses podem pensar, “se Deus está envolvido devo me envolver, e do lado dele, com certeza se há Deus, a vitória é do lado dele”. 
      Isso é muito perigoso, pode ser usado para envolver cristãos em militâncias que eles não entrariam se vissem claramente que eram só conflitos entre ideologias humanas e políticas. Não estou comparando nenhum líder político brasileiro de direita ao “fühler”, longe disso, mesmo porque não acho que eles tenham, não só a maldade, mas também a inteligência do Adolf. Também não acredito que Deus tenha esse grau de provação para o povo brasileiro, contudo, precisamos ter cuidado (leia mais na reflexão anterior). "O poder tende a corromper, e o poder absoluto corrompe absolutamente, de modo que os grandes homens são quase sempre homens maus” (John Dalberg-Acton), por isso não é sábio cristãos se envolverem com militância política, querer estabelecer o reino de Deus no mundo é heresia (interpretando errado Deuteronômio 11.24-25 para os dias atuais e para o Brasil). Ainda assim é nessa tentação que muitos evangélicos têm caído, quando veem num político que se diz simpatizante de causas cristãs um salvador, ser simpatizante não significa ser cristão. 
      O que é um ídolo senão aquilo que está abaixo do céu mais alto e o homem põe o olhar buscando solução para sua vida para depois adora-lo? Um mito não é Deus, pode ser só uma fake news antiga que hoje parece verdade só por ser antiga, mas pode se transformar num diabo, ainda que apresentando-se como um profeta divino. Para um líder populista de direita é fácil defender causas cristãs convencionais, como não ao aborto, sexualidade binária, valores familiares tradicionais, Cristo como única verdade. Isso engaja multidões em sua militância, isso ganha eleições, mantém cargos políticos e lhe veneração a um líder. O engano é que causas ditas como de esquerda, como conceito mais amplo de sexualidade e casamento, não ao racismo, feminismo, defesa de minorias e de causas ecológicas globais, podem ser tomadas como bandeiras de uma militância demonizada pela direita, e isso ao pé da letra, a esquerda pode ser vista como militando por estratégias do diabo para corromper a sociedade e fortalecer o anticristo.  
      Em conflitos estabelecidos por líderes populistas não há espaço para o equilíbrio, o seu lado é do bem e o outro é do mal, e em se tratando da ótica de cristãos equivocados engajados, o seu lado é de Deu e o outro do diabo. Essa militância extremista não entende que a justiça está no meio, que existe o bem em coisas de ambos os lados, assim como existe o mal. Deus sempre se encontra no centro, não por ser isento, mas por amar a todos, e se revelar a todos que o querem conhecer, indiferente de ideologias políticas pelas quais lutem. É claro que por causa de todo um processo histórico, certas bandeiras se tornaram tradições de esquerda e outras de direita. A luta contra ditadores, por exemplo, parece ser mais pauta da esquerda, ainda que existam também ditadores de esquerda e bem violentos (é só estudarmos um pouco as histórias da Rússia, da China e da Coreia do Norte, por exemplo). Já o conceito de luta contra um anticristo, que representa todo o mal, é uma bandeira tradicional da direita cristã, ainda que para a esquerda um líder facista torturador seja uma espécie de “anticristo”. 
      Os anticristos, aos quais João se refere em sua primeira carta, são os gnósticos e seitas vertentes, desviados do evangelho de sua época, por isso ele diz no capítulo dois saíram de nós. Esses defendiam que “o conhecimento é superior à virtude, que o verdadeiro significado das Escrituras está no sentido não literal”, “que o mal no mundo impossibilita que Deus seja o criador, que a Encarnação é coisa incrível porque a divindade não pode se ligar a nada que seja material - tal como o corpo, e que não existe a ressurreição da carne”. Outra vertente “defendia que Jesus não era humano sob qualquer aspecto, mas uma teofania meramente estendida”, por isso a exortação, no capítulo quatro da mesma carta, Cristo veio em carne (leia mais em Comentário Bíblico Mood). Anticristo, termo tão usado hoje, não é bem o que parece ser, fez sentido para a época em que foi usado, aliás, engano que muitos que fazem estudos bíblicos comentem frequentemente, usarem textos antigos para defenderem assuntos atuais, que pouco podem ter a ver com o que motivou os escritores bíblicos a escreverem originalmente. 
      Mas o que de fato significa anticristo na prática para nós hoje? Algo que nega Cristo, que se apresenta como um opositor a tudo o que Jesus representa (I João 4.2-3). Mas o que Jesus representa? Podem ser coisas diferentes para pessoas diferentes. Os homens entendem relevâncias diferentes no evangelho de acordo com aquilo que acham importante para suas vidas, assim o conceito de anticristo pode não ser algo constante, novamente, algumas coisas não são bem o que parecem ser. O cristão que crê que deve ter prosperidade material no mundo e que pode colocar no governo um político que defenda sua religião, se forem transportados os objetivos que Deus tinha com a nação de Israel na velha aliança (conforme Deuteronômio 11.24-25) para a igreja da nova aliança, pode achar que anticristianimos é crer que no mundo temos que viver de maneira mais simples, que não temos que ser prósperos só por sermos cristãos, que não precisamos ter um presidente evangélico e nem nos envolvermos ativamente com militância política. 
      Por outro lado, o que vê o reino de Deus como algo que só será plenamente realizado no plano espiritual, entendendo dessa forma a palavra de Jesus (por exemplo em João 18.36), pode definir anticristianismo como tentar estabelecer um reino de Deus no mundo hoje. Os dois entendimentos têm embasamento bíblico, qual te representa? Que posicionamento você tem agora, após alguns anos de um governo que se elegeu apoiado por muitos cristãos e se dizendo defensor dos verdadeiros valores da tradição judaica-cristã? Contudo, talvez a pergunta que se deva fazer seja: qual a orientação de Jesus pelo vivo Espírito Santo ao homem do século XXI? O tempo mostra os frutos, é por eles que avaliamos as árvores, e para quem quer ver frutos já têm sido mostrados, basta enxergar as consequências de uma administração federal negacionista diante de uma pandemia. Mas ninguém se iluda com lados, há militantes errados na esquerda e na direita, só não caem em armadilhas os que se colocam no Deus verdadeiro, não em homens, sejam políticos, religiosos ou outros, homens sempre militam errado. 
 
Está é a 7ª parte do estudo
“Militou errado!” dividido em 31 partes,
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José Osório de Souza, março de 2021

quarta-feira, outubro 06, 2021

Hitler, arquétipo diabólico (6/31)

      “O homem ímpio cava o mal, e nos seus lábios há como que uma fogueira. O homem perverso instiga a contenda, e o intrigante separa os maiores amigos. O homem violento coage o seu próximo, e o faz deslizar por caminhos nada bons.” 
Provérbios 16.27-29

      Militância de direita, eis uma bandeira que não foi levantada no Brasil, de maneira significativa, por um bom tempo, principalmente pelos remorsos deixados pela ditadura militar, e que permitiu à esquerda liderar politicamente, mas que ressurgiu e tem sido apoiada por muitos cristãos. Para entendermos melhor o perigo de se militar não só por homens, mas por homens que usam bandeiras divinas como meios de fortalecer suas causas e convencer as pessoas, que é o que ocorre com militância de direita atualmente no Brasil, refletiremos um pouco sobre o arquétipo de líder facista, o alemão Adolf Hitler, que levou o mundo à segunda guerra mundial. É fascinante a personalidade desse terrível personagem, que num momento certo achou num povo as condições adequadas para estabelecer seu intento. Cuidado, os que buscam salvadores da pátria, podem achar só falsos messias. 
      Quando eu pensava que já tinha assistido todos os documentários possíveis sobre a segunda guerra mundial, assisti um, na CNN Brasil, com depoimentos colhidos pela BBC de pessoas que viveram nas décadas de 1920 e 1930, especificamente sobre o carisma de Hitler. Hitler, fisicamente era descrito como um homem comum, que berrava com uma voz rouca e estridente, sua aparência externa não impressionava, mas ele tinha algo em seu interior que era lançado por seus olhos, por seus gestos e por suas palavras, que conquistava as pessoas. Hitler não chegou onde chegou por sorte ou ao acaso, ele construiu uma personalidade que se conectou com milhões, ele achou determinação para isso em uma convicção pessoal de que era alguém predestinado por aquilo que ele denominava como “providência”, uma força espiritual que chamou-o inicialmente e orientava-o nas decisões. 
      Adolf transformou seus limites, falta de talento para debates, argumentos fracos e cheios de ódio e preconceitos, e dificuldade em estabelecer vínculos afetivos, em vantagens, que muitos interpretaram não como fraquezas, mas como empatia. Ele não queria só dar uma vida decente para um país, ele queria colocar um povo como superior no mundo, dominando militarmente outras nações, e exterminando aqueles que considerava inferiores, ele pregava a superioridade ariana. Seja como efeito da condição de seu povo, ou usando essa condição para exaltar seu ego doentio, ele achou uma Alemanha derrotada na primeira guerra mundial, humilhada pelo Tratado de Versalhes e dentro de uma depressão econômica mundial, ódios principalmente pelos  judeus, e ressaltou temores, como pelo comunismo que despontava como solução para levantar os germânicos, isso tudo para construir uma intenção. 
      O que não faz um homem machucado e não resolvido, com carisma e achando outros em iguais condições que só precisam de um líder. A responsabilidade não foi só de Hitler pelo genocídio que houve, mas da maioria do povo alemão da época que lhe deu ouvidos. Eis fatores importantes nas mãos de um líder populista, conhecer as fraquezas de alguém, assim quando ele se levanta como líder, não é para lutar por interesses pessoais, como alguém que pensava só em si, mas como um paladino altruísta, que batalha pelos direitos dos fracos. Enfraquecer para liderar, eis outro princípio eficiente, e se alguém não está fraco o suficiente, enfatiza-se essa fraqueza com discursos apaixonados. Hitler desempenhou esse papel, sim, porque ele parecia isso, um ator encenando um papel e fazia isso o tempo todo, não só como líder político, mas como messias religioso. Dessa forma ele descobriu e potencializou as fraquezas de outros para depois se colocar como aquele que poderia livrar esses de suas fraquezas. 
      Há inteligência nessa estratégia, Hitler sabia o que queria desde o início, e mesmo em 1923, quando seu golpe de estado em Munique para tentar tomar o poder fracassou, resultando em sua prisão, durante a qual ele escreveu o manifesto político, Mein Kampf ("Minha Luta"), ele usou isso para firmar uma característica importante num messias, a de mártir. O “fühler” manipulou todo o ambiente, mostrou o problema, apontou a causa e conectou-se com a vítima, convencendo-a que sua solução era a melhor, e não fez isso com trabalho em grupo, mas como um personagem, que sozinho tinha todas as melhores respostas. A ele se juntaram outros homens, isso é certo, poderosos e competentes, na área militar e também na do marketing, e Hitler soube usar muito bem o marketing para criar a figura de um salvador. Mas ele deixava bem claro que a palavra inicial e a final eram dele, de mais ninguém, e ai dos que se levantassem contra isso. 
      Hitler não demonstrava a carência, que muitos líderes tiveram e têm, de necessidade de apoio dos outros para tomar decisões, ele se mostrava sempre seguro e todos viam nele uma rocha firme em quem podiam confiar, isso só mudou de fato em seus últimos dias. Adolf não se apresentava só como um homem, mas como um deus, mesmo parte da igreja cristã protestante alemã da época o apoiou. Um homem não acessa tanto poder e consegue se conectar a tanta gente usando só argumentos políticos, mesmo se aproveitando de uma situação econômica terrível. Os grandes líderes entendem que o mundo espiritual tem um apelo forte sobre os homens, assim constróem ambientes religiosos ao seus redores, templos para que sejam, não só obedecidos, mas adorados, e não só nesta vida, mas na outra. Hitler usou de vários meios para conferir legitimidade espiritual a seu império, enviando equipes pelo mundo para colher objetos aliados à magia e ocultismo, e praticando rituais mágicos (veja mais no link).
      Que fique bem claro que não estou fazendo aqui comparações, muito menos lançando indiretas. Aliás, seria injusto comparar Hitler com quem quer que seja, pela gravidade extrema e singular de seus atos na humanidade, especialmente para o povo judeu. Concordo que esta reflexão foi mais compartilhamento histórico que orientações morais, mas certas informações podem nos ajudar a entender certos mecanismos do mal espiritual, tentando prevalecer no mundo físico. Estar na luz de Deus é mais que amar o próximo e viver de trabalho honesto, isso é o mais importante, mas não é tudo, precisamos ser cidadãos realmente do bem, não como militantes políticos, mas como filhos do Altíssimo. É importante termos discernimento espiritual para percebermos a tempo a atuação de homens maus, que podem usar qualquer coisa para terem poder. Ninguém se engane, o falso pode não ser fácil de ser reconhecido, se fosse a Bíblia não diria, “porque surgirão falsos cristos e falsos profetas, e farão tão grandes sinais e prodígios que, se possível fora, enganariam até os escolhidos” (Mateus 24.24). 

Está é a 6ª parte do estudo
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José Osório de Souza, março de 2021

terça-feira, outubro 05, 2021

Teoria de conspiração, grana e sexo (5/31)

      “Rogo-vos, porém, irmãos, pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que digais todos uma mesma coisa, e que não haja entre vós dissensões; antes sejais unidos em um mesmo pensamento e em um mesmo parecer.” 
I Coríntios 1.10

      Não creio em teorias de conspiração, em nenhuma delas, sejam de direita, de esquerda, de centro etc. Olhando todas essas militâncias atuais, muitos nelas veem teorias de conspiração, acreditam que bandeiras são levantadas com o objetivo de colocar grupos contra grupos, de maneira a lançar a sociedade em guerra. Para quê? Para gerar caos, e quando isso for feito “alguém” poderá tomar o comando, é mais fácil dominar uma sociedade desunida, assim, dividir antes para conquistar depois. Dividir para conquistar é um conceito antigo, foi utilizado pelo governante romano César (“divide et impera”), por Filipe II da Macedónia e pelo imperador francês Napoleão (“divide ut regnes”), dentre outros (veja mais no link).
       Quem as pessoas acham que pode dominar em um caos estabelecido? Muitos cristãos acham que será o anticristo, muitos da esquerda acham que será um ditador facista, muitos da direita acham que será o comunismo, enfim, existem teorias de conspiração para todos os gostos e ideologias. O que é mais sensato pensar de acordo com esse que vos escreve? Que o que ocorre no momento atual é só mais uma etapa da evolução humana no planeta Terra, com enganos, como ocorre sempre no início de novas etapas, mas como efeitos de necessidades legítimas, cujas bandeiras serão purificadas pelo tempo que darão, no momento certo, bons frutos. Deus é mais, está sempre no controle, não existe plano secreto do diabo, capice
      É preciso dizer algo sobre teoria de conspiração, ela nasce de uma necessidade íntima e sincera das pessoas, na verdade algo profundo e eterno que vem da essência espiritual do ser humano que clama por Deus. Por isso a curiosidade pelo desconhecido, a paixão pelos mistérios, a busca de respostas para aquilo que o homem não consegue entender, até aí tudo bem. Contudo, ao invés do ser humano buscar o Deus altíssimo, abrir diante dele o coração, persistir nessa busca para então receber respostas, todas elas, e de alguém que não mente, o homem assume que existem coisas que não podem ser perguntadas a Deus, ou que ninguém sabe mesmo, então, não querendo confiar no Senhor, confia em teorias de conspiração. 
      As artes, principalmente a literária e a cinematográfica, são construídas a partir dessa curiosidade humana, e se isso ficasse só aí, como imaginação para entretenimento, não haveria problema, o problema é quando os homens começam a acreditar nas teorias de conspiração, aí viram paranóia, doença mental. Entendamos uma coisas, no plano físico, abaixo do poder de Deus, existem dois poderes supremos, um é o do sexo, o outro é o da grana, se não existe Deus como foco, homens desejarão dinheiro e prazer sexual. Mesmo os que se acham espiritualizados, mas não buscam o Deus altíssimo, querem alguma espécie de poder, ainda que supersticioso, para serem ricos financeiramente e poderem ter na cama quem desejarem. 
      Papas buscaram esses poderes, assim como bruxos, imperadores, presidentes, donos de corporações, e homens comuns como eu e você, se não existe Deus, há grana e sexo na jogada. Assim, o grande plano do mal é seduzir as pessoas por esses poderes, é isso que conspira contra a humanidade, e isso esta dentro delas, não fora, para obtê-los, quem não tem Deus como prioridade, usará de todas as artimanhas, mesmo o mundo espiritual. Não é o diabo que manipula o homem, mas o homem que utiliza o diabo, que o inventa, que o empodera, para tentar satisfazer seu corpo físico com dinheiro e prazer sexual, o mesmo homem que depois culpa um demônio exterior pelos frutos amargos que, quem busca satisfação em mentiras, colhe. 
      Talvez a grande conspiração que exista, o mais eficiente plano secreto do mal, e eu disse do mal, que existe no interior do homem, não do diabo como ser externo, seja o homem acreditar que pode ser virtuoso sem Deus. Assim ele se ilude, achando que pode lutar por bandeiras elevadas, mesmo que não se quebrante diante do Senhor, sendo que na verdade só quer satisfazer a carne, esse plano nivela todos os seres humanos por baixo. O que isso tem a ver com militância ideológica? Se não há Deus no coração, mesmo lutas legítimas podem ser só jogo de poder. Por justiça? Não, justiça só há em Deus, mas jogo de poder por grana e sexo, ainda que iludidos muitos iniciem suas “jornadas” achando-se paladinos da justiça. 
      “Não erreis: Deus não se deixa escarnecer; porque tudo o que o homem semear, isso também ceifará” (Gálatas 6.7), o que semeia não são nossas palavras, nossas bandeiras, é a nossa intenção que realiza, é ela quem move e comunga com o plano espiritual, que escolhe que Deus abençoe ou que outros espíritos trabalhem. Ainda que sejam aparentemente boas, obras feitas fora da luz mais alta de Deus não prevalecem, ninguém se engane com relação a isso. Dividir para conquistar? Um plano secreto do diabo? Não, só teorias de conspiração enganosas, que escondem as maiores militâncias humanas, grana e sexo. Busquemos a Deus que ilumina quem o busca e o liberta do engano de todas as falsas militâncias.    

Está é a 5ª parte do estudo
“Militou errado!” dividido em 31 partes,
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José Osório de Souza, março de 2021

segunda-feira, outubro 04, 2021

A luta é de todos (4/31)

      “Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos” 
Mateus 5.6 
      “E qualquer que tiver dado só que seja um copo de água fria a um destes pequenos, em nome de discípulo, em verdade vos digo que de modo algum perderá o seu galardão.” 
Mateus 10.42
      “Veio o Filho do Homem, comendo e bebendo, e as pessoas dizem: “Eis aí um glutão e bebedor de vinho, amigo de publicanos e pecadores!” Mas a sabedoria é justificada por suas obras.” 
Mateus 11.19 (versão Nova Almeida Atualizada)

      A luta é de todos, o problema é de todos, todos devem lutar por uma sociedade ferida que considera alguns diferentemente de outros. Homens lutem pelas mulheres, brancos lutem pelos afro-descendentes, heterossexuais lutem por todos os que vivenciam outras sexualidades. Contudo, talvez devam lutar os que não sofrem opressão mais até que os que são oprimidos, simplesmente porque eles têm mais condições para isso. Isso não representa qualquer espécie de apropriação cultural, não deve ser encarado como motivo para vitimização orgulhosa, mas aceito humildemente como compaixão, como genuíno evangelho. O que mais mostrou o Cristo encarnado que luta por minorias? Por isso o crucificaram. 
      Jesus homem lutou por aqueles que sofriam preconceitos na sociedade judaica de seu tempo, globalizada pela ocupação romana, acolheu prostitutas, coletores de impostos, leprosos, marginalizados, enfraquecidos por um motivo ou outro. Muitos fracos estão em situações que devem ser administradas porque não podem ser mudadas, esses são todos os seres humanos na infância, os deficientes mentais, muitos sem-teto, que não estão preparados para competir com adultos produtivos e sãos, esses precisam ser amparados. Entretanto, muitos estão enfraquecidos pelas contingências da realidade no mundo, esses podem lutar, mas também precisam da ajuda dos outros para que suas situações mudem.
      O que muitos militantes precisam entender hoje em dia é que certas bandeiras são muito importantes, mais até que eles, e por isso são pesadas, se eles não tiverem força moral elas não ficarão de pé. Jesus, sozinho, empunhou a mais pesada e importante das bandeiras, aquela que libertaria e conduziria todos os seres humanos, de todos tempos, raças e posições, sejam financeiras, intelectuais ou religiosas, ao Altíssimo Deus. Cristo, contudo, só conseguiu empunhar essa bandeira, só pôde militar certo, e sem apoio de ninguém, visto que em seu último e crucial momento todos o abandonaram, até seus amigos mais próximos, porque tinha força moral e espiritual, adquirida em vida de íntima comunhão com Deus. 
      Quantos hoje acham legitimidade para militar porque podem se esconder no meio das massas, sim, “juntos somos mais fortes”, e a existência de grupos pode evidenciar a legitimidade de uma causa, mas será que muitos hoje se insurgiriam sozinhos contra uma injustiça? E nem estou dizendo que correndo o risco de exporem suas vidas à morte, não estou chegando a esse extremo, mas só por exporem um ponto de vista diante de uma sociedade virtual que cancela todos que discordam de seus pontos de vista. Eu sei que muitos precisam mais é serem cancelados (outro termo em voga), principalmente se militam errado, mas muitos de nós nos calamos, mesmo diante de injustiças, só para não ganharmos dislikes.
      A verdade é uma só, preconceito só se anula com amor verdadeiro, assim enganam-se os que acham que podem vencê-lo com boa educação que respeita direitos civis, isso pode até mudar palavras e ações, mas não mudará a intenção, o coração. Muitos se consideram sinceramente superiores aos outros por serem educados, por obedecerem a leis, por não exercerem violência ativa. Mas lá dentro, em seus corações, eles se acham melhores só por serem quem são, e por isso se sentem com mais direitos que os outros. Orgulho negro? Orgulho gay? Orgulho feminino? Ou orgulho branco, hétero e masculino? Antes de tudo isso, orgulho de ser humano, de ser indivíduo único, e mais, de ser espiritual, eterno e filho de Deus. 
      É nesse ponto que a humanidade deve chegar, e do jeito que vai, podemos ver isso, ainda que existam hoje tantos equívocos que mais desunem que unem. Antes se via dois tipos de sexo, depois passou-se a ver três, mas hoje se entende muitas sexualidades, assim a militância não será nem por grupos majoritários, nem por minoritários, mas pelo indivíduo, seu amplo livre arbítrio para ser o que escolher. Não é essa a bandeira que o verdadeiro Deus levanta e pela qual Jesus militou? Não, meus queridos, não é a bandeira do cristianismo oficial no mundo, representado pelo catolicismo e pelo protestantismo, mas a do Cristo genuíno, cujas palavras estão registradas num evangelho de amor e justiça, eis como militar certo!  

Está é a 4ª parte do estudo
“Militou errado!” dividido em 31 partes,
para um melhor entendimento, 
se possível, leia o estudo na íntegra.

José Osório de Souza, março de 2021

domingo, outubro 03, 2021

Preconceito na história (3/31)

      “Vós, servos, sujeitai-vos com todo o temor aos senhores, não somente aos bons e humanos, mas também aos maus. Porque é coisa agradável, que alguém, por causa da consciência para com Deus, sofra agravos, padecendo injustamente. Porque, que glória será essa, se, pecando, sois esbofeteados e sofreis? Mas se, fazendo o bem, sois afligidos e o sofreis, isso é agradável a Deus.” 
I Pedro 2.18-20
      “Peço-te por meu filho Onésimo, que gerei nas minhas prisões; o qual noutro tempo te foi inútil, mas agora a ti e a mim muito útil; eu to tornei a enviar.” “Porque bem pode ser que ele se tenha separado de ti por algum tempo, para que o retivesses para sempre, não já como servo, antes, mais do que servo, como irmão amado, particularmente de mim, e quanto mais de ti, assim na carne como no Senhor? Assim, pois, se me tens por companheiro, recebe-o como a mim mesmo.” 
Filemom 1.10-11, 15-17

      Um fator que temos que considerar, é que muitas violências e injustiças foram cometidas em outros tempos. O ser humano era diferente, tinha níveis de inteligência intelectual, moral, afetiva e social, inferiores aos de nosso tempo, estava contido num processo histórico que legitimava certos costumes. Escravidão foi parte da sociedade por séculos, ainda que a escravatura de africanos tenha características diferentes daquela praticada, por exemplo, por gregos e romanos. Uma sociedade pré-industrial crescia fazendo guerras, usando os derrotados como mão de obra, e nessa sociedade homens saiam, guerreavam e faziam o trabalho na terra, enquanto as mulheres tinham que ficar, gerar filhos, administrar família e casa.
      Por favor, não me entendam errado, mas tentemos ser mais lúcidos, em todos os tempos da humanidade existiram seres humanos maus e seres humanos bons, patrões cruéis e patrões justos, assim existiam fazendeiros de bem que mesmo num sistema de escravidão, que hoje temos consciência do quão injusto era, procuravam fazer seu trabalho com alguma humanidade. As pessoas se adaptam, as mulheres se adaptavam a uma sociedade onde o costume era os pais escolherem de antemão maridos para elas, e não pense que todas as mulheres eram extremamente infelizes por causa disso. Ocorre que chega um momento que a consciência evolui, e aí as coisas não podem mais seguir iguais, precisam mudar e para melhor. 
      Uma criança não é infeliz por ser tratada como criança, mas há maneiras justas e injustas de se tratar uma criança, contudo, se um adulto for tratado como criança, mesmo de maneira justa, ele não se sentirá bem, cada coisa para seu tempo e sempre do jeito adequado. Se estudarmos um pouco de história mundial veremos o quanto a humanidade mudou, quanto algumas coisas terríveis foram deixadas para trás, aqui no blog temos falado bastante sobre a história do cristianismo e todas as atrocidades que a igreja católica cometeu. Não pensemos que com isso a grande maioria da sociedade não era feliz, ela levava sua vida normalmente, a maioria nem tinha consciência que algo terrível estava sendo feito em nome de Deus. 
      Junto de militância outra palavra em voga é vitimizar, o grande problema de quem se vitimiza é que só vê o seu problema, mais nada, vitimização não é uma disposição justa, madura, mas infantil e egoísta. Uma coisa não exclui a outra, não é porque há vitimização por um motivo que não se deva militar pelo mesmo motivo, mas o que milita deve ter consciência da nobreza de sua causa, que ela vai muito além de uma dor pessoal. Contudo, é difícil, injusto e até desumano, exigir de quem sofre um preconceito que seja maduro para separar as coisas, a vitimização nesse caso é inerente. Talvez não sejam os oprimidos que devam ser prioritariamente melhores, mas humildemente os herdeiros dos opressores, como obrigação civilizatória.
      Tem gente militando errado? Mais por vitimização que por justiça, mais por vingança que para trazer um bem que beneficiará não só os oprimidos, mas toda a sociedade, não só os afrodescendentes, mas os brancos, não só as mulheres, mas os homens, não só os héteros, mas os de demais sexualidades? Sim! Mas é injusto exigir do doente que luta por direito de tratamento, que se porte com a mesma saúde que aqueles que estão sãos e fora do hospital. Não são os militantes que têm a obrigação de melhorar, são os outros, que desfrutam de situações privilegiadas, que não sofrem com preconceitos, e que por não serem opressores ativos, se sentem no direito de serem passivos na militância. O problema é nosso, não deles! 
      O texto inicial de Pedro é um exemplo bíblico de que nem personagens bíblicos iam contra os costumes de seus momentos históricos, mas a carta de Paulo a Filemon é exemplo de um testemunho pessoal disso. Fala sobre Onésimo, um escravo fujão, que convertido a Cristo precisava voltar a Filemon, seu senhor, que já era convertido e que recebe de Paulo orientação para aceitar o servo, agora não só como tal, mas também como irmão. Por ter se tornado cristão, Onésimo não ganhou direito de não ser mais servo, antes a obrigação de ser um escravo melhor. Esse conhecimento é relevante para que cristãos aceitem que a Bíblia não deve ser transportada ao pé da letra para a sociedade atual, principalmente em termos de costumes.
      Escritores do cânone bíblico não eram revolucionários ou militantes sociais e políticos, eram apenas homens de seus tempos com experiências com Deus. Por outro lado, não cristãos não devem tomar isso como exemplo da Bíblia apoiar escravatura, não é com o costume social que é respeitado, ainda que seja ultrapassado hoje, que devemos aprender, mas com o princípio moral, e esse é justamente o ponto que muitos hoje querem desprezar. Muitos querem liberdade e respeito, mas não querem ser humildes e misericordiosos, assim levantam bandeiras corretas, mas com os corações fragmentados. Bandeiras assim não se sustentam, não por falta de verdade nelas, mas pela fraqueza moral dos que as tentam empunhar. 

Está é a 3ª parte do estudo
“Militou errado!” dividido em 31 partes,
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se possível, leia o estudo na íntegra.

José Osório de Souza, março de 2021

sábado, outubro 02, 2021

Bandeira certa com intenção certa (2/31)

      “Que aproveita a imagem de escultura, depois que a esculpiu o seu artífice? Ela é máscara e ensina mentira, para que quem a formou confie na sua obra, fazendo ídolos mudos? Ai daquele que diz ao pau: Acorda! e à pedra muda: Desperta! Pode isso ensinar? Eis que está coberta de ouro e de prata, mas dentro dela não há espírito algum. Mas o Senhor está no seu santo templo; cale-se diante dele toda a terra.” 
Habacuque 2.18-20

      Quem tem direito a militar? Talvez a pergunta melhor seja: quem tem a obrigação de militar? Todos têm, contudo, se questões pessoais e interiores não forem resolvidas, as pessoas poderão usar militâncias externas e coletivas como álibis para resolverem problemas dos outros, sem resolverem os seus problemas antes, colocando-se como heróis coletivos para compensarem feridas não curadas que são delas, não do coletivo. É por isso que vemos pessoas “militando errado”, porque trazem questões pessoais que precisam resolver sozinhas, como pautas de agendas coletivas, se alguém tem problemas com autoaceitação, autoestima, tanto fará a cor de sua pele, seria mais sensato resolver-se antes de lutar por causas.
      É claro que problemas pessoais podem ser causados por problemas sociais mais amplos, mas é preciso separar as coisas, alguém que sofreu bullying desde pequeno por ter tendência a engordar poderá até encorajar-se e se tornar um militante do grupo de pessoas com mais peso. Mas qual é o problema, então? O que torna alguém um militante errado? O coração. Antes da pele, do tamanho do corpo ou do sexo se tornar bandeira, o coração deve ser curado, aceitar-se, perdoar os que o oprimiu. Se não houver isso antes, a militância usará a vitimização como arma para agredir os opressores, e vítima que agride também é agressor. A diferença está, não na bandeira, nas palavras, mas na intenção, no interior. 
      O que o texto inicial tem a ver com este tema? Quem milita, ainda que por causas relevantes para a coletividade, mas com um coração cheio de ódio, de rancor, de inveja, de não respeito a si mesmo, e respeito na proporção correta, nem menos, levando à autocomiseração, e nem mais, levando à arrogância, milita, não por uma verdade espiritual alta, que é viva por si só, mas por um ídolo material, morto e vazio. Verdades espirituais não morrem, se impõe por si só, sobrevivem aos homens, mas ídolos são máscaras, mentiras, acabam em nada, não convencerão ninguém, e assim que aquele que fala por eles, mesmo com veemência, com boa oratória, com carisma, com o apoio da mídia, se calar, os ídolos se calam. 
      Escondidos dentro de alguém que milita por uma causa coletiva, podem estar questões pessoais não resolvidas. Quem verifica se uma pessoa trata mal o filho, quando ela se apresenta como feminista militante? Esse é o motivo de gostarmos de assistir reportagens sobre gente cometendo violências, quando uma referência extrema de um mal é apresentada, males menores perdem a relevância, diante de um serial killer assassino de crianças nossos erros ficam pequenos, com os holofotes sobre esses somos relevados. É essa covardia, que se esconde atrás dos erros dos outros, que dá legitimidade para alguém se achar paladino da justiça, e que conduz a linchamentos, sejam físicos ou verbais, ao vivo ou pela internet. 
      Sim, meus queridos cristãos, se as pessoas buscassem curas pessoais em Deus através do verdadeiro evangelho, ricos, pobres, brancos, negros, héteros, homoafetivos, homens, mulheres, eruditos, com menos instrução, os preconceitos, todos eles, desapareceriam. Contudo, não cabe a nós, mesmo sabendo por experiência própria, que o amor de Jesus é maravilhoso, desrespeitar o livre arbítrio que o próprio Deus respeita. Cabe a nós dar um testemunho genuíno, de misericórdia, de justiça, de humildade e acima de tudo de amor que não faz acepção de pessoas. Assim, nosso cristianismo deve ser o primeiro a dar exemplo de militância, não por essa ou aquela bandeira, mas pelo indivíduo, seja ele quem for. 
      Alguém pode argumentar, “mas por que eu preciso ter amor no coração para militar, quem me oprimiu e me oprime não teve e não tem nenhum amor por mim?” Porque senão, com o tempo, você, ainda que esteja defendendo hoje uma causa nobre, se não tiver a intenção correta pode se tornar um novo opressor, por ser motivado por ódio. Militantes, vocês querem justiça ou vingança? O que levará a esses objetivos diferentes é a qualidade, não da bandeira, mas da intenção no coração do militante. Percebemos com clareza, olhando nos olhos do militante e ouvindo o tom de sua voz, quando sua militância é feita por justiça social ou só por recalque pessoal, clamando por justiça em paz ou por vingança em ódio. 

Está é a 2ª parte do estudo
“Militou errado!” dividido em 31 partes,
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José Osório de Souza, março de 2021

sexta-feira, outubro 01, 2021

Preconceito: mal a ser combatido (1/31)

      Hoje começo a compartilhar “Militou errado!”, um estudo dividido em trinta e uma partes, uma reflexão sobre temas atuais, preconceitos, militâncias, ideologias, cristianismo e política. O estudo é constituído de partes independentes, mas se puder leia todo o texto para ter uma opinião melhor.

      “O que come não despreze o que não come; e o que não come, não julgue o que come; porque Deus o recebeu por seu.” 
Romanos 14.3
      “E, chegando Pedro à Antioquia, lhe resisti na cara, porque era repreensível. Porque, antes que alguns tivessem chegado da parte de Tiago, comia com os gentios; mas, depois que chegaram, se foi retirando, e se apartou deles, temendo os que eram da circuncisão.” 
Gálatas 2.11-12

      O que a Bíblia registra em Romanos 14.3 é um preconceito, o de judeus contra gentios, quando judeus julgavam como menores aqueles que se convertiam ao cristianismo e não obedeciam às leis da religião judaica. Esse assunto é tão importante que motivou Paulo a escrever vários textos, exortando tanto sobre a superioridade da nova aliança sobre a velha aliança, como ensinando que ninguém era melhor que ninguém por exercer sua religião dessa ou daquela maneira, nem gentios convertidos seriam melhores que judeus convertidos por agirem de outra forma. Ação é importante, mas se não bate com a intenção fica desqualificada, essa Deus conhece bem, ainda que nós possamos esconder com perícia de outros homens. 
      O registro em Gálatas 2.11-12 sobre Pedro, refere-se ao mesmo assunto, sim, Pedro, aquele que a igreja católica diz ser o primeiro papa (e que como tal deveria ser infalível?), esse é repreendido por Paulo por agir de maneira preconceituosa. O registro é de um evento informal, Pedro comia com gentios, mas quando os judeus chegaram afastou-se dos gentios, com medo dos judeus, ele agiu por pura conveniência social. Como nós fazemos isso, muitas vezes de forma sútil, só para agradarmos a uns, que achamos que são mais importantes numa situação, em detrimento de agradarmos a outros, por considerarmos esses menos importantes, e consequentemente achando nós que agindo assim nos prejudicamos politicamente menos.
      Vivemos um momento especial no mundo, onde preconceitos têm sido desmascarados, principalmente no Brasil, onde costuma-se dizer que é um país onde não existem certos preconceitos, só desigualdade financeira por causa de injustiça social. Mas existe, sim, preconceitos, assim um homem hétero e branco tem mais oportunidades que uma mulher, que um homoafetivo ou que um afro-descendente, e se a pessoa tiver as três características, mulher, negra e não heterossexual, ela desce para o nível mais baixo de direitos. Nessa triste realidade, construída por séculos de injustiças e tratamentos desiguais em todo o mundo, é preciso lutar, todos precisamos lutar, o problema não é dele, mas meu, ou melhor, nosso. 
      Cristão, não vou tentar convencê-lo de nada neste texto, e você nem precisa mudar seu ponto de vista, aliás, se tentar, por exemplo, viver seu posicionamento, que acredita ser o da tradição cristã diante de homossexualidade, em amor verdadeiro, Deus e o tempo vão ensiná-lo a respeito. O que não pode, como cristão, é lutar pelo cristianismo sem amor, se não houver amor é melhor ficar quieto e não se envolver em questões que você não pode resolver, mesmo porque o cristianismo, mais que qualquer outra bandeira, é baseado no amor. Contudo, a questão nesta reflexão não é mudar ninguém para que possa se encaixar naquilo que o cristianismo prega como sendo o que dá direito ao céu, a questão aqui se refere ao mundo.  
      Dessa forma, logo de início informo aos cristãos, seja qual for o ensino da Bíblia que vocês desejam ensinar para o mundo, se fazem isso sem amor, militam errado! O ponto deste texto tem a ver com o mundo, com existência como cidadão numa sociedade, com direito à alimentação, casa, saúde, educação, infraestrutura de água, esgoto e energia, emprego, vida afetiva, divertimento, cultura, religião, tudo com liberdade de escolha e direito de ir e vir, indiferente da posição que a pessoa tiver sobre Deus e o mundo espiritual. O cristão não pode tentar se isentar disso, achando que tem uma causa mais alta para lutar, ele faz parte da sociedade, sobrevive nela e tem responsabilidades sobre ela, assim o bem de todos é o dele. 
      Postas essas palavras introdutórias, vamos ao assunto principal: quem tem direito de militar? Militar é uma palavra que está em moda, e não tem a ver com militar (substantivo) relativo a soldado, mas significa militar (verbo), lutar por uma bandeira, por uma ideologia. Os que defendem uma ideia, como “vidas negras importam”, fazem parte de uma militância, são militantes. Todos têm direito a militar por causas nas quais acreditam e que são relevantes para a sociedade, principalmente para grupos minoritários que são perseguidos e oprimidos por maiorias. O significado de minoria e maioria atualmente tem mudado, hoje, no Brasil, brancos não são mais maioria, e a tendência é que sejam cada vez menos no mundo.
      A população mundial migra de um lugar para outro mais facilmente atualmente, consequentemente a mistura entre raças e nacionalidades ocorre com mais facilidade e celeridade. A tendência é termos no futuro, uma população mundial parecida, onde africanos, chineses, indianos, árabes, europeus, americanos, e de demais origens, se misturem, as diferenças que tantas guerras já causaram e que têm sido motivos de tantas militâncias, podem desaparecer no futuro. Na verdade os corpos e suas aparências físicas, só vão refletir com mais exatidão os espíritos, e espírito não tem cor, não tem nacionalidade, não tem raça, não têm diferenças financeiras nem intelectuais, são todos iguais, distintos só pela moralidade.

Está é a 1ª parte do estudo
“Militou errado!” dividido em 31 partes,
para um melhor entendimento, 
se possível, leia o estudo na íntegra.

José Osório de Souza, março de 2021