domingo, fevereiro 10, 2019

Religião, cristianismo e verdade

      “Aquele, pois, que vos dá o Espírito, e que opera maravilhas entre vós, fá-lo pelas obras da lei, ou pela pregação da fé? Assim como Abraão creu em Deus, e isso lhe foi imputado como justiça. Sabei, pois, que os que são da fé são filhos de Abraão.Gálatas 3.5-7

      Ah, quem somos nós para julgar a religiosidade de cada pessoa? Quem somos nós, cristãos, para dizer que alguém tem ou não comunhão com Deus? Quem somos nós para saber o que de fato Deus pensa da religião de cada um, quem somos nós para entender o amor acessível e misericordioso do Senhor para se relacionar com o ser humano, independentemente da fé que cada um possui? Muitos cristãos evangélicos podem dizer, “eu creio em Jesus que disse que é o caminho, a verdade e a vida, se não for assim, não se tem acesso à salvação e à pessoa de Deus”. Mas até que ponto a interpretação e a prática desse texto não são baseadas só numa tradição de homens? Até que ponto o uso “fechado” desse texto expressa realmente a vontade de Deus? 
      Está reflexão não objetiva por a Bíblia em dúvida, mas confrontar doutrinas tradicionalmente protestantes com a verdade de fato. Muitos protestantes que arrogam ter posse do evangelho mais verdadeiro, não se atentam ao fato que durante mais de mil e duzentos anos, entre a criação oficial da igreja católica no século IV e o protestantismo no século XVI, a representante oficial e praticamente exclusiva do evangelho no planeta era o catolicismo, que eles tanto criticam. Onde estava essa verdade do cristianismo primitivo renascido no protestantismo que evangélicos acham ser a única verdade que salva? Deus deixou a humanidade sem salvação durante mil e duzentos anos? Todos os católicos que morreram nesse tempo foram para o inferno? Deus os condenou como idólatras e pagãos?
      Outro detalhe histórico é que muitas regiões do mundo ainda não haviam sido inteiramente alcançadas pela civilização europeia nos primeiros séculos, como extremo oriente, África, e outras regiões, como as Américas, nem tinham sido descobertas. Dessa forma, durante centenas de anos, mais de mil, talvez, pessoas nasceram, viveram e morreram sem terem tido contato com o cristianismo, mesmo o católico. Aliás, quem fez um trabalho eficiente de evangelismo em todos os continentes foram justamente os protestantes, a partir dos séculos XVI, e bastante no século XIX. Como Deus tratou essas vidas com relação à salvação eterna? Sim, Jesus realizou sua obra de redenção por eles também, mas muitos podem ter sido salvos sem uma decisão consciente e de acordo com a doutrina de tantos cristãos evangélicos atuais. 
      Meus queridos e queridas, não foram dez anos, cinquenta, nem cem, foram mais de 1.200 só com o catolicismo, isso é história! Não, não nego que esse cristianismo protestante é mais próximo do cristianismo primitivo do século I que o catolicismo, contudo, nego a necessidade de Deus precisar ter uma religião “perfeita” como ferramenta para salvação da humanidade, isso não é a realidade, de forma alguma, quem abrir os olhos para a história entende isso. Se aquilo que acreditam evangélicos e protestantes fosse verdade, além de condenar bilhões, cobraria deles viver um cristianismo de muito mais qualidade que católicos, ortodoxos ou outras religiões e seitas cristãs, mas não é isso o que acontece, nem nunca aconteceu, não mesmo.
      O cristianismo está errado? O evangelho está errado? A igreja católica está errada? Não necessariamente, está errado aquilo que muitos fanáticos arrogantes achar ser o que Deus pensa, ou como Deus trabalha. Se houver doutrina pura e próxima àquilo que Jesus pregou, Deus salva, mas se não houver, Deus salva também, como sempre fez, antes de Cristo e durante os séculos católicos da idade média, durante a venda de indulgências, inquisição, a perseguição injusta e cruel aos que pensavam diferentemente, enquanto impediam o leigo de conhecer a Bíblia com missas rezadas em latim. Da mesma forma no tempo atual, em meio a tanta heresia e ganância das igrejas evangélicas protestantes, que geram lucros materiais, não qualidade de vida.
      Deus nunca precisou e nunca vai precisar de dogmas, doutrinas ou representantes humanos para salvar o homem, Deus só precisa da sinceridade do coração de um homem que deseja ser um homem de bem. Do que adianta trocar catolicismo por protestantismo, protestantismo por “evangelicismo”, “evangelicismo” por pentecostalismo, pentecostalismo por neo-pentecostalismo, se continuamos a ser fanáticos, arrogantes, crendo num Deus conforme nossas conveniências, assim, criando “deuses”, sendo idólatras ideológicos que é tão idolatria quanto os que idolatram imagens e esculturas? 
      Tudo isso Deus contempla e olha o coração do que o busca, Deus vê o católico fervoroso e praticante tanto quanto o batista estudioso da Bíblia como o assembleiano que buscou com tanta devoção o dom de línguas estranhas para ser um crente melhor, não nos enganemos sobre isso. Mas na verdade, nada disso importa, não tanto como achamos, é tempo de termos coragem para admitir isso, ou então, vivamos de fato o que acreditamos, a nossa verdade, e demos exemplo por ações não por discurso que tenta convencer os outros com palavras, que o nosso cristianismo é melhor. 
      O sábio não julga, ninguém, nunca, em nenhuma instância, mas vive o caminho que achou com humildade, sem absolutamente nenhuma intolerância ou preconceito para com o que os outros pensam e vivem sobre religião, cristianismo ou verdade. No final cada um será julgado, não pela luz do outro, mas pela sua, por aquela luz que achou, Deus conhece bem os filhos da luz, sabe quem é de fato homem e mulher de bem, humildes de espírito e que nunca se renderam à vaidade e ao engano, esses serão avaliados por aquilo que acreditam ser o caminho, a verdade e a vida. 
      Jesus é o único salvador de toda a humanidade, eis a verdade, mas nem todos que não têm consciência absolutamente evangélica disso serão condenados, muitos são filhos de Abraão e nem sabem, mas temem a Deus mais que muito frequentador assíduo de templo cristão e conhecedor de doutrina, repito, doutrina de homens, não de Deus. Pobre dos que acharam no verbo de Deus, Jesus Cristo, o caminho, a verdade e a vida, mas que não viveram de acordo com a fé que professaram e que ainda lançaram nos rostos alheios hipocrisias e julgamentos. Esses serão considerados por Deus com muito mais rigor, e poderão ainda passar muita vergonha neste mundo até que entendam como funciona o amor e a graça do Altíssimo, eu creio assim.

      “Porque o Filho do homem virá na glória de seu Pai, com os seus anjos; e então dará a cada um segundo as suas obras.Mateus 16.27

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