sábado, fevereiro 23, 2019

“Vira essa boca pra lá”?

      É cultural no Brasil, faz parte da tradição popular do brasileiro ser supersticioso, uma dessas superstições diz que falar do problema atrai o problema, pode fazê-lo acontecer, assim quando alguém diz sobre o risco de um perigo se responde, “vira essa boca pra lá”. Quem responde assim acha, mesmo inconscientemente, que essas palavras têm certo poder mágico, e que elas bastam para anular perigo, bem, como dito no início, isso é só uma superstição, não interfere na realidade. 
      Obviamente não só o brasileiro é assim, gente de todo o mundo é supersticiosa, mas no Brasil, essa tal superstição aliada ao tal “jeitinho brasileiro”, que não busca soluções sérias e eficientes para os problemas, mas apenas paliativos, gambiarras, leva muita gente a fugir de ter que enfrentar de frente coisas não resolvidas e que podem ser solucionadas, se houver coragem e boa vontade para exercer solução. O parábola dos talentos de Mateus 25 pode ser aplicada para muitas lições, vejamos parte dela para o tema desta reflexão.

      “Mas, chegando também o que recebera um talento, disse: Senhor, eu conhecia-te, que és um homem duro, que ceifas onde não semeaste e ajuntas onde não espalhaste; E, atemorizado, escondi na terra o teu talento; aqui tens o que é teu. Respondendo, porém, o seu senhor, disse-lhe: Mau e negligente servo; sabias que ceifo onde não semeei e ajunto onde não espalhei? Devias então ter dado o meu dinheiro aos banqueiros e, quando eu viesse, receberia o meu com os juros.Mateus 25.24-27

      O texto dá um bom exemplo de quem recebe algo e não reage de maneira correta, não enfrenta de frente o desafio, que no caso era aumentar o valor que tinha recebido originalmente. Interessante que a solução que o senhor do servo dá não violenta a vontade inicial do servo que era trabalhar minimamente, o senhor nem o repreende dizendo que ele deveria ter trabalhado mais para fazer render o talento. O senhor mostra uma solução que era possível ao servo, colocar o talento num banco para render, pelo menos para ter atualização monetária mensal ou aumentar com uma pequena taxa de poupança, lendo num ponto de vista atual.
      Deus não exige de um o que exige do outro, ele conhece os limites de cada um e julgará cada um conforme suas forças, seu potencial. Mas nem isso o servo negligente e bajulador fez, ele que menos recebeu para fazer render e sobre o qual menos responsabilidade foi lançada. Talvez alguém tivesse chegado a ele e dito, “você vai deixar esse talento parado? aí em casa, debaixo do colchão, enterrado na terra? não é seguro, e se um ladrão vier e roubar?”, talvez o negligente tivesse respondido, “vira essa boca pra lá, não vai acontecer nada, deixa quieto aí que quando o senhor voltar eu devolvo”. Como diz o ditado, quem pouco faz, menos tempo tem para fazer, quem muito faz sempre acha tempo para fazer mais.
      Enfrentemos nosso problema de frente, o verbalizemos em oração, de forma consciente, entendamos seu começo, seu meio e seu fim e então, lúcidos e diante de Deus, achemos solução e coloquemos mãos à obra para resolvê-los, isso é andar na luz de Cristo. Otimismo que foge da realidade não é otimismo, é insanidade irresponsável, enchergar problemas não é pessimismo, é maturidade, não inventa-los ou aumentá-los, mas os olharmos por completo, nos planejar, com paciência, trabalho e esperança, focados na solução. Infelizmente, essa cultura ruim do brasileiro tem levado nosso país a tantos acidentes, a tantas tragédias, isso tem relação direta com a falta de fiscalização. 
      Obras, rodovias, viadutos, prédios, barragens etc, que um dia foram construídos, não sofrem vistoria e se sofrem, são feitas por corruptos que ganham para darem autos mentirosos, não cobrando reformas ou em muitos casos reconstrução completa para se adequar a norma atuais. É o tal jeitinho brasileiro, não uma qualidade do nosso povo, mas um mal terrível, enquanto o povo, que deveria cobrar das autoridades fiscalização honesta e devida punição dos que não estiverem dando manutenção adequada, simplesmente diz, “vira essa boca pra lá, isso atrai coisa ruim, não vai acontecer nada, não”.

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