terça-feira, março 07, 2023

A arte imita a vida? (1/2)

      “Para o sábio, o caminho da vida leva para cima, para desviar do inferno, embaixo.” Provérbios 15.24

      Um filme que assistimos na TV ou no cinema é registrado por uma câmera, esse aparelho capta imagem e som, mas de maneira direcionada. Ainda que filmando um documentário histórico, não uma obra de ficção, enquadra uma área específica de imagem e colhe uma faixa restrita de áudio. Um filme não é a realidade, mas um corte dela pelo que filma, de acordo com intenções e preferências estéticas desse. Há truques clássicos, carros que aos nossos olhos se movem no filme pronto por um bom tempo numa longa rodovia, movimentam-se muitas vezes de um lado para o outro em uma estrada pequena, que na edição das filmagens parciais e curtas formam um único e longo trajeto. 
      Algo semelhante ocorre com filmagens em florestas, uma pequena área é filmada várias vezes, em ângulos e com os personagens se movendo em direções distintas, assim tomadas menores se transformam numa longa tomada numa floresta enorme e desconhecida. Muitas vezes o local nem é uma floresta real, mas só um cenário interno num estúdio, com plantas falsas ou plantadas em vasos, que a localização adequada do foco da câmera não revela, dando a impressão de serem árvores e outras folhagens verdadeiras em ambiente externo. Esse preâmbulo teve o intuito de mostrar uma metáfora, que pode ser usada para a maneira como entendemos e exibimos nossas vidas aos outros. 
      Ninguém escapa de interpretar a existência como um filme, um romance, um quadro ou uma canção, faz parte da alma humana expressar-se artisticamente, não só produzindo arte, mas se vendo como uma. Isso confere alguma integridade e alguma beleza à vida, dá relevância mesmo às existências mais medíocres. Mas talvez a matéria, todo o universo físico, seja isso, uma obra de arte de um Deus puramente espiritual, não é a realidade, só uma ilusão, e que maravilhosa ilusão é. O mistério está em entender por que Deus tem o propósito de aperfeiçoar criaturas espirituais eternas em limitadas passagens por um plano físico, que existe para virar pó, que tem na morte a única certeza.
      Acompanhar a evolução das artes plásticas, principalmente da pintura, é entender não só a evolução da arte, mas da própria psique humana. De esboços rupestres em cavernas, já uma tentativa de harmonizar esteticamente uma moradia, passando por pinturas unidimensionais sem fundo definido, onde só divindades e nobreza eram registradas e de forma esplendorosa, depois o realismo onde perspectiva é entendida e simples plebeus, muitas vezes em momentos pouco glamorosos, são registrados, até os modernismos, onde só percepções de sensações são assinaladas, aproximando-se mais da ótica real que o ser humano tem, é o homem evoluindo à medida que se olha e se conhece por dentro. 
      Isso também acontece na música, na dramaturgia, na literatura, das quais o cinema é evolução, mas a chamada arte moderna talvez seja a expressão artística mais humanamente honesta, apesar de ser esteticamente desconfortável e muitas vezes impossível de ser entendida, já que o objetivo dela pode ser esse mesmo. O que é mais “bonito”, um Rembrandt ou um Picasso? À primeira vista muitos dirão que é um Rembrandt, mas será que no século XXI podemos nos dar ao luxo da ingenuidade do homem do passado? Picasso é “feio”, mas será que o ser humano pode se ver interiormente mais ”bonito”, que a desconstrução que Van Gogh e Mondrian expressaram em quadros a óleo? 
      Para se construir uma história que evoluirá para o bem e se conseguir reter esse bem por um tempo significativo neste mundo, deve-se buscar o melhor ponto de vista, essa posição é por Jesus e de Deus. Se vivermos só sob o ponto de vista da matéria, depois avaliando o que vivemos só sob esse ponto de vista, a verdade é que construiremos historias infernais, espiritualmente disformes, sem estética moral, para o qual só restará a ilusão da arte humana para dar algum sentido. Olhemos para cima, achemos para Deus e deixemos que a luz mais alta venha e reflita em nossas vidas, espírito se verifica com o Espírito e só o Espírito de Deus para construir em nosso espírito a eterna e linda arte de Deus. 

Leia na postagem de amanhã
a 2ª parte desta reflexão

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