26/08/25

O rio da união (uma parábola) (1/6)

      “Um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, e por todos e em todos vós. Mas a graça foi dada a cada um de nós segundo a medida do dom de Cristo.” Efésios 4.6-7

      Não julguemos mal ninguém, muito menos os que se dão ao trabalho de vivenciar uma religião com fidelidade pura e boa sinceridade. Nem todos os seres humanos acham no cristianismo ferramenta eficiente para conduzir ao aperfeiçoamento moral, e consequentemente, à vida digna neste mundo e “céu” no outro. Mesmo muitos que se autodenominam cristãos poderiam ter vidas mais limpas e felizes se buscassem outras ferramentas. Isso não significa que Jesus não seja único e excelente, mas significa que os que o seguem devem ser únicos e excelentes por causa disso, em amor, tolerância, justiça, santidade e humildade. Contudo, a verdade da conexão espiritual de cada ser com Deus, só conheceremos de fato na eternidade. 

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      O texto que segue é mais que obra de ficção, são simbologias espirituais por trás de um conto, num estilo literário no qual Jesus era mestre, a parábola. Pela misericórdia de Deus escrevi essa “estória” sem racionalizar muito, a base foi coisa de quinze minutos, parei depois com mais calma para apurar a linguagem e acrescentar detalhes, esses foram iluminações que o Espírito Santo me deu sobre a inspiração inicial. Nas próximas cinco postagens farei explicações das simbologias, mas muito mais pode ser aprendido se meditarmos sobre a “estória”. Espero abençoá-los com o texto. 

1. Ilusão ou realidade?

      É nossa existência neste mundo, realidade ou ilusão? Uma metáfora para nos ensinar o que de fato importa no universo? Pode ser só um sonho passageiro que o divino cria para que seres inferiores sejam instruídos. Não suportaríamos a verdade, não estamos preparados para ela, assim, como crianças, somos atraídos com doces para fazermos as coisas certas, ainda que em nossa infantilidade achemos que nosso principal propósito neste mundo seja pegar doces. Se for uma ilusão, seria igual em todos os mundos do universo? Ainda que a realidade seja só uma, os sonhos podem ser diferentes em cada mundo. Isso na verdade nem importa para o divino, contanto que os seres aprendam a lição. 

2. Experiências diferentes

      Em algum lugar do universo, após um período em que as chuvas deixaram de ser constantes e suficientes, que levou a zero o nível de águas nas cisternas, três homens tiveram sede. Sabiam, através de um mito antigo, que havia um rio de águas limpas e frescas próximo à sua cidade, assim resolveram procurar o rio. O primeiro homem, pobre e dependente de seu trabalho diário para sobreviver, foi o primeiro a achar o rio. Chegando ao rio levou as mãos em forma de concha às águas, depois à boca e matou sua sede. Ele entendeu que sempre que tivesse sede, para não depender das chuvas tão raras, teria que ir até o rio e tomar agua, fez outras viagens com sua família para que esses tivessem água. 
      O segundo homem, mais rico, sabendo do rio, quis pagar outros homens para irem ao rio e trazer a água, mas o esforço de levar baldes os levava a consumir a água dos baldes e assim quando retornavam já não tinham água para o homem rico. O homem resolveu então ir ele mesmo ao rio, mandou fazer uma caneca de ouro adornada com pedras preciosas, assim ia ao rio, matava sua sede e ainda podia trazer uma caneca cheia de agua. Fez outras viagens com membros de sua família, para os quais também mandou confeccionar luxuosas canecas. O rico temeu, achou que a água do rio poderia acabar, assim pôs soldados na saída da cidade que impediam que outros homens fossem buscar água. 
      O terceiro homem, conhecedor de tecnologia, mais íntimo da ciência, teve uma grande ideia, construir um sistema de canos que levaria a água do rio até o lugar onde morava. Para tal fez uma aliança com o homem rico, disse que entregaria água por um preço, cobraria um valor e dividiria o lucro com o rico. Com o tempo todos passaram a usar o sistema de transporte de água, e com o tempo grande parte das pessoas esqueceu-se da existência do rio. Contudo, depois de algum tempo o sistema de transporte de água parou de funcionar, os construtores haviam morrido, as pessoas não sabiam como construir um novo sistema, assim com chuvas raras o povo ficou novamente sem água e ainda mais cético. 

3. O jeito simples é o certo

      Um quarto homem resolveu acreditar no antigo mito, que a água vinha de um rio e era farta e de graça, assim, iniciou uma jornada para descobrir o lugar. Os tempos eram ainda mais difíceis, entre a cidade e o rio terrível seco deserto havia se formado. Os destroços do antigo sistema de canos ajudou um pouco, mostrando o caminho, mas justamente na parte mais próxima ao rio ele tinha sido totalmente invadido pela natureza. Finalmente o homem chegou ao rio, matou sua sede e teve uma ideia, chamar o povo para morar nas margens do rio, assim todos poderiam ter água sem grandes esforços. Contudo, essa mudança tinha um preço, muitos deveriam deixar seus palácios e construir residências próximas ao rio. 
      Para não sujar ou interferir no rio, as casas deveriam ser pequenas. Os ricos se revoltaram, não queriam perder o status que tinham por serem donos de palácios, assim resolveram ficar, mas antes tiveram permissão de ir até o rio e pegar grandes quantias de água para acumularem em cisternas. O povo do rio deixou claro que a cidade construída nas margens do rio estava disponível para que os ricos morassem nela, desde que obedecessem a regra da igualdade, contudo, só uma coisa foi proibida, caso quisessem continuar na cidade longe do rio, a construção de um novo sistema de canos para transportar a água. Os ricos estariam por conta da própria sorte, só teriam a água armazenado e a pouca chuva que caía.
      Com o tempo, o povo do rio prosperou, de maneira igual para todos, não havia em seu meio pobres ou ricos. Já os ricos da cidade empobreciam e sofriam, sabendo disso, o povo do rio teve compaixão, mandou mensageiros, com alguma água, para convencer o povo da cidade para que viesse morar com eles. Os primeiros mensageiros foram mortos e a água que levaram foi roubada. Mas o povo do rio, em seu grande amor, não desistiu, mandou novos mensageiros, a segunda leva foi roubada e aprisionada, usada para cavar poços profundos, que entregava uma água salobra e de pouca quantidade ao povo da cidade. Finalmente, depois de um tempo, após vários mensageiros não retornarem, o povo do rio parou de enviá-los. 

4. No tempo colhe-se os frutos

      Muitos do povo da cidade longe do rio morreram, pais orgulhosos viram filhos e idosos definharem, assim, após muitos anos de sofrimento e humilhação um pequeno grupo de sobreviventes tomou uma decisão, iriam até o rio, pediriam misericórdia ao povo de lá, que os recebesse ainda que como escravos, mas que os permitissem usar as águas do rio. A distância não era grande, mas devido ao estado debilitado que se encontravam a viagem durou muito mais que deveria. Todavia, quando estavam no meio do caminho, avistaram, vindo em direção a eles, o povo do rio, então, eles temeram, pensaram, “nos matarão, a todos, se vingarão de todos os mensageiros que matamos e encarceramos”. 
      Os remanescentes dos ricos orgulhosos surpreenderam-se quando, aproximando-se, o povo do rio os recebeu com cântaros de água limpa e fresca e com largos sorrisos nos rostos. O povo do rio ajudou o povo debilitado da cidade a chegar à cidade do rio, lá os viajantes cansados receberam casas para morar, iguais às dos que lá já moravam. Os ricos, agora empobrecidos pelo próprio orgulho, disseram: nós não merecemos essas casas, fomos cruéis com vocês e vocês nos recebem com honras? O povo do rio respondeu: nós já vencemos a vingança e a cobiça, só queremos viver em paz com todos, vocês sempre foram nossos irmãos, mas distantes, que precisaram de mais tempo para entender as mais altas relevâncias da vida. 
      Entre os sobreviventes do povo da cidade, havia especialistas em tecnologia, mais talentosos que o povo da rio, a necessidade aperfeiçoa a ferramenta. O povo da cidade não sobreviveu porque não conhecia a ciência, mas porque era orgulhoso, não reconhecia que todo o seu conhecimento não muda leis básicas da natureza, como clima, falta de chuvas, distâncias geográficas ou superfície do solo. Quando aprendeu a lição, tornou-se humilde, assim pôde ajudar o povo do rio, que sempre foi rico em humildade e amor, a realizar um sonho que tinha e que pelas próprias capacidades não podia realizar, ajudar outras cidades longe do rio, construindo sistemas de encanamento de água. União entregou a força maior. 

5. Amor, fruto da verdade

      Novos e aperfeiçoados sistemas de canos assim como cisternas mais eficientes foram criados, mas as cidades que recebiam esse auxílio recebiam também a informação que a água vinha de um rio que o povo inicial que habitou suas margens tratava como sagrado. Os que recebiam a água encanada não deveriam se ensoberbecer com a autonomia, mas serem gratos pela ajuda dos outros povos e pelo rio. As residências nas margens do rio eram limitadas, senão prejudicariam o rio, mas à medida que os que lá moravam faleciam sobravam casas que podiam receber habitantes das cidades longe do rio. Eram selecionados para tal aqueles que tinham vidas mais corretas, de maneira a incentivar as pessoas a serem melhores. 
      Cada cidade longe do rio que era ajudada, à medida que seus habitantes podiam morar com o povo do rio, acrescentava à cidade do rio novos talentos e capacitações. Dessa forma, à medida que o tempo passava novas técnicas permitiam aumentar as residências nas margens do rio, sem prejudicá-lo. Com o tempo a cidade do rio se tornou a única cidade do mundo conhecido por aqueles povos, todos vivendo de maneira justa, sem pobres ao extremo, nem ricos exagerados, todos reunidos numa missão, conservar o rio e distribuir gratuitamente água para o maior número de pessoas. Aquilo trouxe uma sensação de solução, infelizmente o ser humano deve seguir trabalhando, ainda que evolua de trabalhos pesados para mais sutis.
      Se não houver trabalho há tempo para enganos, assim, quando a vida estava boa para todos, um homem, descendente do rico da caneca de ouro da primeira cidade, apareceu dizendo: o rio é o que nos mantém vivos, devemos reverencia-lo. Essa palavra convenceu muitos, esses com o tempo se tornaram arrogantes, achando-se melhores por se colocarem como guardiões do rio. Mas outro homem, descendente do primeiro homem que tinha tomado a água do rio com as mãos, após observar silenciosamente o líder e os que se reuniam ao redor dele, se levantou e disse: o rio, como a natureza e os seres humanos, têm um criador, esse merece reverência; o rio, apesar de importante, é criatura como tudo, precisa de respeito, não de adoração. 

6. Muito além do rio

      Na verdade, o rio não era uma divindade, mas um motivo usado pelo divino para unir todos os seres humanos em paz e justiça, se as pessoas soubessem e praticassem isso desde o início não faltariam chuvas para todos, ou poços com águas mais próximas. Finalmente, as pessoas mudaram seus olhares, pararam de olhar para o rio, e olharam para o alto, além do céu visível, para o divino, o criador de todas as coisas. Então entenderam que a existência vai além das cidades da Terra, vai para o universo, para outros planetas, então, compreenderam que a água mais importante não está no solo, na matéria, mas no céu, no plano espiritual, então, saciados da água física estavam prontos para a água espiritual. 

Nas próximas cinco reflexões 
as explicações desta parábola.
José Osório de Souza, 30/01/2023

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