sexta-feira, outubro 09, 2020

9. Para vencer o inimigo

Espiritualidade Cristã (parte 9/64)

      “Dando graças ao Pai que nos fez idôneos para participar da herança dos santos na luz, o qual nos tirou da potestade das trevas, e nos transportou para o reino do Filho do seu amor” (Colossenses 1.12-3), em Jesus temos uma mudança de posição espiritual, isso não ocorre com nossos corpos no mundo, mas no plano espiritual. Temos acesso a essa nova posição através do Espírito Santo e nessa posição somos vencedores sobre os seres espirituais rebeldes. “Digo, porém, andai em Espírito e não cumprireis a concupiscência da carne, porque a carne cobiça contra o Espírito e o Espírito contra a carne, e estes opõem-se um ao outro, para que não façais o que quereis, mas, se sois guiados pelo Espírito, não estais debaixo da lei.” (Gálatas 5.16-18), ainda assim enfrentamos uma batalha constante.
      Essa batalha é contra o Diabo? Não, contra nossa própria carne, contudo, Tiago em sua carta é claro, “sujeitai-vos, pois, a Deus, resisti ao diabo, e ele fugirá de vós” (Tiago 4.7), assim a vitória para os salvos é sempre um posicionamento de fé por uma condição de santidade que ganhamos através do perdão pelo nome de Jesus. Mas então, como interpretarmos o texto de Efésios 6.11-12, “revestis-vos de toda a armadura de Deus, para que possais estar firmes contra as astutas ciladas do diabo, porque não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais“? Entendendo onde o diabo faz a guerra, se é numa posição material ou espiritual e como isso interage conosco. 
      O plano espiritual não é fácil de ser entendido, não pelas referências materiais, mas ainda que Deus seja só um, os seres espirituais também são espíritos, portanto com faculdades semelhantes às de Deus, e ainda que não sejam onipresentes, oniscientes nem onipotentes, eles existem no espaço e no tempo de maneira espiritual. O exemplo bíblico que temos disso é o de Jesus já ressuscitado no plano físico, onde podemos entender coisas espirituais com olhos materiais, quando ele “aparece” para falar com seus discípulos com o corpo transformado (Lucas 24.36). No plano espiritual e na eternidade, os homens salvos e com corpos transformados são diferentes de anjos, caídos ou não, esses não têm em sua consciências uma identidade pessoal que nós temos, podemos entender isso quando, por exemplo, vemos que anjos não têm nomes. 
      Existem algumas referências a nomes de anjos na Bíblia, como Miguel, Gabriel, e também aos nomes dos grandes anjos caídos, Satanás, Lúcifer, Belial, Leviatã, mas isso pode se referir mais a legiões que a indivíduos, e legiões são seres espirituais unidos por um mesmo propósito ou missão. Mas esses nomes são excessões e ainda assim não podemos dizer, baseados, na Bíblia, se referem-se de fato a indivíduos, podem se referir aos nomes das funções, comuns a toda uma legião. Mas algo que podemos entender é que quanto mais perto de Deus ou distante dele, portanto, extremos acima e abaixo dos homens, em seres espirituais da luz e das trevas a individualidade perde a relevância. Isso já é algo muito importante nos seres humanos, personalidades, nomes, histórias, escolhas, palavras e ações, definem nossas identidades. 
      Contudo, mesmos sendo diferentes no aspecto identidade, na substância os corpos dos seres espirituais são semelhantes aos que vamos ter na eternidade, àquele que Jesus apresentou após a ressurreição, por exemplo. Depois que Cristo subiu ao céu ele mudou de novo, não se tornou só um justo na eternidade, como nós seremos, mas o próprio Deus, visto que Deus pai, Deus filho e Deus Espírito são um. Mas não nos esqueçamos também que Jesus disse que como ele ia ser um com o pai nós também seríamos (João 17.20-23), assim será que haverá diferenças? Quais? Esse assunto é profundo, a Bíblia relata aparecimento mesmo de anjos com corpos humanos e com necessidades físicas (Gênesis 18.1-8), seja como for os seres espirituais rebeldes existem no plano espiritual que chamamos de céu. 
      Esse céu espiritual não está, em relação ao plano físico, nem acima nem abaixo de nós, mas espiritualmente mais perto ou mais distante do Deus altíssimo, numa outra dimensão. A referência não somos nós, os altos montes do nosso planeta, nem mesmo a Lua, o Sol, os planetas e ou as estrelas, mas um Deus espiritual. Como percebemos e nos comunicamos com esse plano espiritual? Pelo nosso espírito. O que nosso espírito entende é decodificado por nossas emoções e por nossos pensamentos que então passam para o nosso corpo. Dessa forma a guerra com inimigos espirituais se passa não fora de nós, mas dentro, depois disso somos nós que damos autorização para eles agirem, fora ou dentro de nós, em atuações que sempre necessitam da autorização de Deus e do livre arbítrio humano. 
      Um dos principais erros que o cristão comete é olhar demais para fora de si, procurar inimigos nos outros, muitas vezes em quem está próximo dele e na verdade só lhe quer bem, isso tudo ao invés de olhar para dentro de si. Por outro lado olhar para dentro de nós não significa nos alienarmos, fugirmos da realidade, não, o mundo é mau e existem muitos homens maus nele, cruéis e egoístas, que não se importam em pisar os outros para terem benefícios próprios, precisamos ser sábios para conviver com isso. Mas em olhar para dentro de nós me refiro ao plano espiritual, e esse nós conhecemos pelo nosso espírito, e todos os homens, salvos ou não, podemos ter contado com o mundo espiritual pelos seus espíritos. Entretanto, é só quando abrimos nossos olhos espirituais pelo Espírito Santo que conhecemos a realidade mais profunda. 
      O melhor dessa mais elevada iluminação espritual é acharmos comunhão com o Altíssimo, só depois disso temos clareza para interagir com nós mesmos, com o diabo, com a realidade exterior e física e com os outros homens, que também enfrentam as mesmas batalhas que nós. Não, não fique procurando inimigos nas pessoas, e também não interprete o texto de Efésios 6 de forma errada, como tantos dessa última geração de cristãos vitimistas interpretam, querendo ver o diabo em tudo para por a culpa de tudo nele. Sim, o diabo autorizado por Deus, nos mostra sempre o lado que não tem Deus como princípio e fim, que não agrada a Deus nem o honra, mas quem escolhe somos nós. Assim, a maior prova de espiritualidade não é vencermos os outros, nem mesmo o diabo, mas a nós mesmos fazendo as melhores escolhas. 
      Adão e Eva não tinham qualquer inimigo e o diabo só precisava receber um não, mas eles perderam a maior de todas as batalhas: para eles mesmos. O que mais se perde nessa batalha? Não é a simplicidade de quem pode andar na luz do dia e dormir uma boa noite de sono sem culpa, não são as colheitas ruins, físicas ou morais, resultados de quem alterou seu equilíbrio no universo, isso tudo é efeito. O casal mítico perdeu o privilégio de ter o Espírito de Deus em seus espíritos, isso foi o principal. Para que isso fosse recuperado Deus teve que se fazer homem, retroceder espiritualmente encarnando. Encaremos a verdade, com coragem e humildade, nosso inimigo não é o homem, por mais que ele nos incomode, e se ele nos incomoda é porque somos incomodáveis, frágeis para o ataque, de quem? Do mal dentro de nós. Permitamos que Deus viva em nós pelo Espírito Santo, isso encerra as guerras e nos dá a paz que permanece. 

Espiritualidade Cristã
é um estudo dividido em 64 partes,
por favor, se possível, leia todas as reflexões 
para melhor entendimento do assunto abordado.
José Osório de Souza, 30/09/2020

quinta-feira, outubro 08, 2020

8. Para ter vitória numa guerra

 Espiritualidade Cristã (parte 8/64)

      “E o servo do homem de Deus se levantou muito cedo e saiu, e eis que um exército tinha cercado a cidade com cavalos e carros; então o seu servo lhe disse: Ai, meu senhor! Que faremos? E ele disse: Não temas; porque mais são os que estão conosco do que os que estão com eles. E orou Eliseu, e disse: Senhor, peço-te que lhe abras os olhos, para que veja. E o Senhor abriu os olhos do moço, e viu; e eis que o monte estava cheio de cavalos e carros de fogo, em redor de Eliseu. E, como desceram a ele, Eliseu orou ao Senhor e disse: Fere, peço-te, esta gente de cegueira. E feriu-a de cegueira, conforme a palavra de Eliseu.I Reis 6.15-18

     Um motivo que leva muitos a desejarem espiritualidade é para ter vitória numa guerra, isso porque muitos veem a existência assim, como uma batalha, contra outros homens, contra os demônios, contra os que são contra os demônios e por aí vai. Existe alguém que tem muito interesse em criar e manter guerras, e esse alguém não é Deus, o Altíssimo não precisa combater ninguém para conquistar algo, ele já é dono de tudo e sempre, quem tem interesse é o diabo. O homem longe de Deus cria o campo de batalha e oferece os soldados, para ambos os lados, e mesmo cristãos sinceros ainda veem a vida dessa maneira, baseados equivocadamente numa visão da vida do velho testamento, não da nova aliança de Cristo. 
      Olhar a existência com uma ótica beligerante faz com que achemos inimigos em muitos lugares, ao mesmo tempo que faz como que nos olhemos como soldados numa guerra sem fim. Assim pode-se achar duas posturas na existência: avançar e ganhar fazendo os outros retrocederem, ou perder quando se tem que retroceder diante do avanço dos outros. Numa busca constante de controle de território só um pode estar num determinado lugar, por isso é preciso expulsar alguém para conquistar o espaço. A verdadeira espiritualidade pode oferecer uma opção superior à guerra, onde não é preciso avançar nem retroceder, mas abraçar, podendo assim dois ou mais ocuparem um mesmo espaço em comunhão, em paz e sem guerra. 
     Podemos entender essa guerra através de uma lei física: dois corpos não podem ocupar o mesmo espaço ao mesmo tempo. Pode-se até pedir com educação, “por favor, pode sair para eu entrar?”, mas ainda assim só um estará num lugar em um determinado momento. A solução está em olharmos a existência não sob o ponto de vista material, mas espiritual, nessa ótica dois ou mais seres podem estar num mesmo espaço e ao mesmo tempo, um espação espiritual. Isso é possível através das virtudes espirituais da luz, do bem, do Espírito do Deus Altíssimo, por essas virtudes podemos abraçar os outros, numa união que vai muito além da física, se na terra não tem espaço para dois, no coração há, e para muito mais que dois. 
      Infelizmente muitos usam o conceito “guerra”, avançar e retroceder, tão inferiores e materiais, para exercer o que acham ser espiritualidade. Na verdade isso pode até ser uma ótica espritual, mas das trevas, dos espíritos rebeldes, e no plano espiritual existe, sim, uma batalha por território, ainda que seja para conquistar espaços que os seres encarnados entregam aos seres espirituais do mal. Mas mesmo essa guerra não nos compete entender, a nós basta orar no nome de Jesus, entregar os problemas a Deus e crer que ele solucionará. Só a Deus cabe determinar batalhas espirituais ou comandar anjos, esse é o entendimento da teologia cristã tradicional (já estudamos sobre isso em “Desvendando o verdadeiro mundo espiritual”). 
      Quando se fala em inimigos espirituais, se fala em demônio, e vemos pouco sobre demônios no velho testamento, justamente porque ele relata a história de Israel, um povo separado e cuidado por Deus. O diabo aparece, por exemplo, em algumas situações especiais, no Éden tentando o homem, em Jó sendo usando para uma prova, em I Samuel atormentando a alma desobediente de Saul e em Daniel tentando impedir as orações de Daniel no exílio. Relatar atividades demoníacas em Israel seria semelhante a relatar essas atividades dentro das igrejas cristãs, em Israel só aparecem quando a nação está desviada, mas hoje nas igrejas a presença do Espírito Santo impede isso, mesmo em igrejas desviadas em heresias, assim o diabo está no mundo. 
      Nos evangelhos aparecem mais registros de possessões demoníacas porque é o início da nova aliança num mundo longe de Deus sob o império Romano, ainda que em terras originalmente israelitas. Contudo, é interessante como que nas últimas décadas temos visto menos manifestação de possessos nas igrejas evangélicas, em relação ao que víamos, principalmente nas pentecostais, de vinte, trinta anos atrás. Qual o motivo disso, estariam as igrejas menos ungidas? Possessões teriam diminuído? Os demônios estariam agindo de maneira diferente? Isso pode nos dizer algumas coisas sobre a espiritualidade nesses tempos que podem ser o início dos tempos finais, assim como pode nos ensinar sobre as últimas estratégias do diabo.
      Mas existia uma guerra espiritual no tempo do antigo testamento, talvez até maior que depois, mais aliada aos confrontos físicos entre as nações. Num mundo pré-cristianismos o diabo tinha mais liberdade de agir, como em sacrifícios humanos onde até crianças eram oferecidas, e de forma aberta, não velada em cerimônias de bruxaria como aconteceu depois que o cristianismo se instalou. Quando Israel lutava contra uma nação que não temia a Deus e adorava falsos deuses, havia também uma guerra espiritual ocorrendo, por conquista de território, a visão do moço do profeta Eliseu nos mostra isso. Feliz o homem que tem os olhos espirituais abertos para ver que “mais são os que estão conosco do que os que estão com eles”.

      Guerra espiritual: é preciso ter uma espiritualidade superior para enfrenta-la? O cristão é um soldado de Deus contra as trevas? Temos que ser espirituais especificamente para isso, para vencermos uma batalha nesse campo? Não, não e não! A nova aliança do novo testamento entrega um conceito novo, diferente e que será o eterno para a humanidade sobre espiritualidade. O campo de batalha não é mais os campos de Israel, mas o coração do homem, na verdade a humanidade teve que esperar alguns milênios para evoluir e poder enfrentar a verdadeira guerra, que se iniciou no Éden quando o homem caiu na tentação do diabo, comendo do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal. 
      Em sua obra de salvação Jesus vence a batalha, não por territórios neste mundo ou mesmo no outro, mas por almas humanas, ele anula a legalidade que o próprio homem tinha dado a Satanás, não no exterior do ser humano, seja ele material ou espiritual, mas no seu interior, em seu coração. Por isso o reino de Deus estabelecido pelo evangelho não foi na nação política de Israel, tendo Jesus como o novo rei Davi, mas no espírito humano. Jesus vence uma vez por todas a guerra e no seu ponto de origem, na causa primordial, de maneira que ninguém precisa mais lutar, pelo menos não pela condenação que o pecado original traz, só precisa crer. Se o homem volta para Deus o diabo perde todas as possibilidades de vitória.
      Talvez seja por isso que o “diabo” tivesse tanto interesse em corromper o homem, criado à imagem e semelhança de Deus, que foi feito superior mesmo aos anjos e que recebeu do pai direitos maiores que os de qualquer outra criatura. Talvez o diabo não pudesse ter nada que não lhe fosse autorizado, e como Deus não autorizou porque ele se rebelou e não estava preparado para administrar nada além do inferno que para ele fora criado, ele teria que desviar o homem para que esse desse a ele algum direito. Foi justamente o que aconteceu, quando o pecado original foi cometido, por ser uma desobediência ao criador o homem sai de sua proteção e fica só, então, naturalmente o diabo passa a ter direitos.
      Qual foi o primeiro direito que o diabo recebeu? De existir no coração do homem, em qualquer outro espaço o diabo não poderia derrotar Deus, mas no coração do homem ele pode, por isso ele tinha tanto interesse nesse território, mais do que em qualquer outro. Através desse lugar o diabo pode dominar o mundo, e mais que isso, pode dominar mesmo o universo, dependendo do que o homem conquista. Contra o diabo Deus pode ir e destruir totalmente suas obras, mas contra o homem não, por causa do livre arbítrio, assim se o homem escolhe obedecer ao diabo e entregar a ele suas conquistas, Deus nada pode fazer. Deus só destrói as obras das trevas quando o homem pede e permite. 
      Esse raciocínio parece estranho, o homem ter tanto poder e Deus nenhum, e o diabo só ter algum poder porque o homem lhe deu? Mas é isso, por isso os seres encarnam, vivem nesse mundo, para terem oportunidades de livre arbítrio, e com dessa forma os espíritos rebeldes que não encarnam passam a ter também direitos. Nossa curta existência neste mundo é muito especial, significativa, muitos não entendem isso, mesmo cristãos. Não, meus queridos, não é o homem que adora o diabo, é o diabo que adora o homem, que o inveja, que deseja o que o ele mesmo não tem, mas que ao homem foi dado por Deus. O que acontece é que o diabo é astuto e focado, enquanto o homem é tolo, volúvel, vaidoso, amante do passageiro.
      Vou dizer outra coisa que talvez te surpreenda, à medida que o homem foi vivendo no mundo, conquistando-o e infelizmente buscando espiritualidade errada, pelos espíritos rebeldes das trevas e não por Deus, o diabo e os demônios foram sendo “modificados“, humanizados. Sempre nos parecemos com aquilo que mais gostamos. Se um cristão diz que adora a Deus e o serve, mas mostra em seu jeito de ser, de se trajar, nas coisas gasta suas rendas, referências não tão adequadas ao que diz que crê, não tão santas quanto o Deus que diz obedecer, nesse caso podemos dizer que esse cristão mente, não adora a Deus, mas o mundo e seus valores. O que fazemos de fato é o que nos define, não o que dizemos.
      Toda essa pluralidade de religiões, de mitos, de folclores, que variam conforme e região geográfica da Terra, do povo que a habita e de sua identidade cultural, influenciou os seres espirituais rebeldes das trevas. E não é só como o homem vê os espíritos, os espíritos se manifestam com aparências variadas conforme o povo. Na cultura celta, por exemplo, os seres espirituais rebeldes aparecem de um jeito, na nórdica europeia de outro, na hindu de outro, na africana de outro, no extremo oriente de outro, entre os indígenas da América do Sul de outro. São todos diabos e demônios, mas que se apresentam conforme os homens que os buscam, suas aparências físicas e suas estéticas culturais. 
      Se Deus fez originalmente o homem à sua imagem e semelhança, o homem transformou o diabo à sua imagem e semelhança, sempre a partir de uma guerra do diabo contra Deus que tem início no coração humano. Não, não precisamos ser poderosos soldados espirituais porque não existe uma guerra, não depois que aceitamos Jesus como único e suficiente salvador, assim se gabar de ser espiritual porque se tem competência para fazer uma guerra no plano espiritual é desnecessário. Não vencemos nos esforçando, avançando, mas nos posicionando, em Deus, no lugar mais alto, no qual nenhum ser espiritual do mal têm acesso. Nesse lugar não se avança ou se retrocede, se abraça, no amor eterno de Deus. 

“Espiritualidade Cristã”
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José Osório de Souza, 30/09/2020.

quarta-feira, outubro 07, 2020

7. Para conhecer os mistérios espirituais

Espiritualidade Cristã (parte 7/64)

      As pessoas querem ser espirituais por motivos e para fins diferentes, alguns para poderem conhecer os mistérios espirituais, por uma curiosidade sobre o plano espiritual, isso ocorre com uma minoria no meio cristão, católico e protestante, já que os que desejam isso procuram antes outras religiões, não o cristianismo. Percebe-se claramente, por essa abordagem, que existem dois tipos de pessoas no mundo, as materialistas e as espiritualistas, e não alie essas classificações a virtudes morais ou comunhão com o Deus verdadeiro, não alie nenhuma das duas. Existem muitos materialistas no meio cristão, e não são só os abordados anteriormente, que buscam no evangelho prosperidade material, existem materialistas bem desprendidos de vaidades e prazeres físicos, que aparentemente parecem ser até mais espirituais que os que veem a vida de forma mais espiritualizada. 
      Há cristãos sinceros e de fato convertidos no grupo mais materialista, mas eles creem só no minimamente necessário, na salvação, em Deus, no céu, basicamente, no resto são céticos, por isso se sentem melhor no protestantismo tradicional, que não acredita, por exemplo, nos dons do Espírito Santo, pelo menos não para os dias atuais. No protestantismo tradicional as pessoas também têm curiosidade espiritual, mas a saciam com ferramentas deste mundo, digamos assim, não do outro, pelo intelecto, não pela subjetividade emocional, conhecendo mais profundamente a Bíblia com estudo teológico, conhecimento das línguas dos textos originais, enfim, numa ótica mais científica. Talvez porque essa satisfação necessite mais de estudo, é a outra baste “intuição” possa explicar porque num meio existem pessoas financeiramente mais providas que no outro. 
      Mas nesse ponto da reflexão é importante que se levante uma questão: será que quem busca um cristianismo mais intelectual é justamente o que mais tem receio de enfrentar suas feridas emocionais? E por outro lado, será que quem busca um cristianismo mais emocional e espiritualizado não é justamente quem tem mais a tendências de “viajar” em fantasias e a acreditar em qualquer coisa? Sim, nos dois extremos existem desvantagens porque a solução é o equilíbrio, onde se aprende com os dois lados, o intelectual e o emocional, o Espírito Santo quando acha liberdade transborda todo o nosso ser, pensamentos e emoções, razão e intuição, os simples entenderão isso e serão abençoados plenamente.
      Entretanto, também existem pessoas extremamente espiritualizadas em meios não cristãos, aliás, não que buscam esses meios porque acham que o cristianismo é limitado para conduzir à espiritualidade mais alta, assim buscam religiões que os coloquem mais perto do mundo espiritual na prática. Os espíritas são um grupo bem conhecido no Brasil, tanto na linha kardecista quando nas religiões de origem africanas, umbanda e candomblé, por exemplo, os esotéricos e/ou ocultistas também querem ser espirituais por possuírem uma curiosidade muito grande sobre o mundo espiritual. Essa é uma tendência que a princípio é positiva, mas que se não houver cuidado pode se transformar numa armadilha terrível, aos que querem não só o Éden e a companhia do criador, mas provar do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal para saberem mais. 
      Uma coisa é certa, cada um tem uma tendência espiritual eterna, e amar mais as coisas da eternidade que as desse mundo coloca o ser humano em contato com o sua essência, seu espírito eterno, que viverá muito além desse plano, só é preciso aos que têm essa tendência humildade para buscarem a Deus, nãos aos “deuses”. No meio evangélico, nas igrejas de linha carismática, onde os dons espirituais são buscados e provados com mais liberdade, se oferece ao homem mais oportunidade para desenvolver espiritualidade no aspecto de entender e interagir com o mundo espiritual. Não existe nada de errado em querer experimentar dons espirituais, ao contrário, creio que a vontade de Deus é que todos falem em línguas espirituais estranhas, profetizem, tenham visões e sonhos etc. Isso deveria ser normal no meio cristão, não proibido, como é no meio protestante tradicional, ou mistificado, como é no meio pentecostal. 
      Contudo, curiosidade espiritual pode ser tanto vaidade quanto meio de suprir uma autoimagem ruim, assim pode ser, sim, efeito de alguma doença psicológica, por isso é preciso ter cuidado e não confundir as coisas. Esse, contudo, é um limite difícil de se estabelecer, seriam os “loucos” os que mais desejam ser “espirituais” por serem “loucos”, ou os que buscam ser “espirituais” se tornam “loucos”? Ou, o que é loucura de homem, na carne, na cabeça, e o que é loucura de Deus, no espírito? (Já fizemos aqui no blog um longo estudo a respeito, “Loucura”). Como sempre, o que comprova a legitimidade de nossos caminhos são nossos frutos, se uma busca por espiritualidade não só responde às questões sobre mistérios, mas também nos faz pessoas socialmente melhores, com os frutos do Espírito e não só com os dons do Espírito, então essa busca pode ser efeito da melhor espiritualidade de Deus.


“Espiritualidade Cristã”
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José Osório de Souza, 30/09/2020.

terça-feira, outubro 06, 2020

6. Para ter o poder de Deus

 Espiritualidade Cristã (parte 6/64)

     “Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo; como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dele em amor; e nos predestinou para filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade, para louvor e glória da sua graça, pela qual nos fez agradáveis a si no Amado” Efésios 1.3-6

      “Sabendo que não foi com coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados da vossa vã maneira de viver que por tradição recebestes dos vossos pais, mas com o precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro imaculado e incontaminado, o qual, na verdade, em outro tempo foi conhecido, ainda antes da fundação do mundo, mas manifestado nestes últimos tempos por amor de vós; e por ele credes em Deus, que o ressuscitou dentre os mortos, e lhe deu glória, para que a vossa fé e esperança estivessem em Deus” I Pedro 1.18-21

      Algumas pessoas acreditam no poder de Deus, ainda que não tenham intimidade com Deus, assim querem espiritualidade para terem esse poder, querem o efeito, não a causa, desejam ser beneficiadas, não ter amizade com quem beneficia, conhecendo-o e adorando-o. Mas é mais que isso, quem não crê no Deus verdadeiro, com profundidade, também não pode entender a maneira como ele age, não pode entender seu poder ou como esse poder é manifestado. O mais equivocado é que muitos desses apologistas do poder divino se acham mais crentes que os outros, justamente por crerem numa virtude tão grandiosa de Deus, quando na verdade são esses os que estão mais enganados sobre o assunto e que mais são manipulados. 
      O tema “Deus é poderoso” é marketing fortíssimo entre as pessoas que querem soluções rápidas e milagrosas para suas vidas, geralmente em assuntos materiais, e não desejam mudança de caráter e desenvolvimento de virtudes interiores, o tema é produto fácil para trocar por “dízimos”. Deus, em sua misericórdia permite que muitos sejam abençoados ainda que peçam do jeito errado e não se deem ao trabalho de agradecer a ele do jeito certo. Deus é um pai de amor, ele já previu isso no início dos tempos, todavia, se muitos soubessem de fato como o “poder” de Deus funciona, talvez não buscassem tanto o cristianismo vendido em muitas igrejas, feiras livres de milagres baratos para crentes rasos. 
     Os que querem de fato uma relação com Deus que mude seus homens interiores e não só lhes deem coisas, vivenciam uma existência constante no poder de Deus, não experimentam ações extraordinárias, mas sincronia com o Altíssimo. Na verdade os mais crentes não são os que experimentam o poder de Deus, mas são os que não experimentam, e espere um pouco, vou explicar melhor, não experimentam porque não precisam desse “poder”, eles andam em Deus o tempo todo e são cuidados e mantidos por Deus com equilíbrio, não com “milagres”. Eles sabem que os maiores “milagres” ocorrem em suas almas e isso não acontece num passe de mágica, mas em anos de erros, resignações e enfim, atitudes humildes de mudança.
      Milagre não é a manifestação do poder de Deus, mas é a maneira como aqueles que não têm intimidade com Deus interpretam a ação de Deus, para esses parece que Deus age de vez em quando e de forma extraordinária, mas para os que andam em Deus nada é extraordinário, mas ordinário, normal. Esses entendem que Deus criou tudo no passado, por isso ele sabe de tudo, as ações que precisamos dele não são criadas quando creem, mas já foram criadas há muito tempo, previstas por um Deus onisciente, dessa forma o que é preciso não é crer muito e de vez em quando, mas andar em Cristo sempre, sincronizado com suas provisões, livramentos e bênçãos, criados paras os santos antes da criação do mundo. 
      O texto inicial, que só poderia ter sido registrado pela profundidade espiritual e teológica de Paulo, nos revela mistérios que muitos cristãos leem, passam batido e na verdade não percebem a relevância. Paulo fala de um Deus que criou tudo antes da fundação do mundo e do lugar mais alto onde as bênçãos que os filhos de Deus podem receber estão guardadas. O texto tira nossos olhos da Terra, do material, do presente, do humano, e nos arrebata para a habitação do Altíssimo, eterno e que não só já criou tudo, mas tudo nele e para ele existe e para sempre. Quando queremos milagres para resolver problemas materiais passageiros estamos sendo menores, em relação à chamada de Deus para nossas vidas.
      A oração de fé não faz algo acontecer, mas nos coloca na posição onde as coisas acontecem, essas coisas não são criadas com a fé, Deus já as criou no início dos tempos, estão lá e sempre estiveram. Perdão que dá a paz? Cura para um vício? Provisão material? Tudo Deus já providenciou e está guardado para os santos. A posição onde as coisas acontecem não é dentro de nós ou no mundo, mas no plano espiritual, assim provar “milagres” é andar com Deus, pisando nos passos de Cristo, deixar-se levar pelo Espírito Santo. O efeito da fé não são milagres, mas ter os olhos espirituais abertos para verem onde Deus está, quando vemos e nos posicionamos tudo aquilo de bom que acontece em Deus nós também provamos. 
      Crer num Deus que cria só quando uma oração de fé é feita é diminuir a Deus e empoderar o homem, Deus sempre soube do que os que o buscam precisam e já criou isso antes. Dentro desse assunto Paulo incluiu o polêmico tema predestinação, que podemos entender só quando vemos as coisas sob o ponto de vista de Deus. Podemos dizer que Deus predestinou porque é onisciente, onipotente e onipresente, mas nós não temos capacidade espiritual para interpretar nossas existências sob esse aspecto, a nós cabe testemunharmos da luz e permitirmos que as pessoas escolham, sem nos preocuparmos sobre quem é ou não predestinado, principalmente enquanto a pessoa ainda tem oportunidade de ser salva e ainda está neste mundo. 

      “O minha alma, espera somente em Deus, porque dele vem a minha esperança. Só ele é a minha rocha e a minha salvação; é a minha defesa; não serei abalado. Em Deus está a minha salvação e a minha glória; a rocha da minha fortaleza, e o meu refúgio estão em Deus. 
      Confiai nele, ó povo, em todos os tempos; derramai perante ele o vosso coração. Deus é o nosso refúgio. 
      Certamente que os homens de classe baixa são vaidade, e os homens de ordem elevada são mentira; pesados em balanças, eles juntos são mais leves do que a vaidade. Não confieis na opressão, nem vos ensoberbeçais na rapina; se as vossas riquezas aumentam, não ponhais nelas o coração. 
      Deus falou uma vez; duas vezes ouvi isto: que o poder pertence a Deus. A ti também, Senhor, pertence a misericórdia; pois retribuirás a cada um segundo a sua obra.” 
Salmos 62.5-12

      O salmo 62 é lindíssimo, os livros poéticos de Davi e de Salomão (creditados a eles mas não sendo eles autores integrais dos livros) são o coração da Bíblia, atemporais se os soubermos ler, revendo no Espírito Santo os confrontos físicos com inimigos humanos que tanto são falados nos Salmos e a ótica secular e mesmo materialista de Provérbios. Pelo Espírito Santo podemos usar tudo isso como metáforas de nossos lutas pessoais e interiores, onde nós mesmos somos os amigos de Deus, os inimigos dos homens (e de nós mesmos), assim como os seres encarnados envelhecidos pelo tempo que entendem que tudo é vaidade e tédio, mesmo na abastança de prazeres físicos e de riquezas materiais. 
      Quando o temor de Deus se alia à unção do Espírito Santo e à poesia de almas sensíveis e inteligentes temos a expressão máxima de sabedoria que os seres humanos podem expressar neste mundo, Davi e Salomão sabiam se expressar assim, personagens bíblicos especiais, por isso tiveram posições tão importantes na nação de Israel, os que proporcionaram ao povo de Deus da velha aliança seu apogeu neste mundo. Por isso Jesus é da raiz de Davi, assim como é o eterno templo onde foi sacrificado como cordeiro de Deus para salvar a humanidade, do qual o templo de Salomão é a referência material máxima. Jesus é rei, o templo e o cordeiro, o Senhor, o altar e o salvador eterno.
      Na apresentação inicial, dividi o trecho do Salmo 62 em quatro parágrafos, reflitamos um pouco nos três primeiros. Esperar somente em Deus que nos propicia um lugar seguro e inabalável para pisar, a sua promessa de salvação e suprimento é a rocha de nossas vidas, assim ainda que não vejamos, que não saibamos, estamos seguros e em paz. Se temos essa experiência temos uma palavra legítima a compartilhar, e não podemos nos calar, mas falar aos homens que Deus existe e quer nos tomar nos braços para nos conduzir no caminho melhor. Essa segurança nos ensina que os valores desse mundo não têm importância, não têm poder, nem a falta deles deve nos entristecer, nem a abastança nos iludir. 
      O quarto parágrafo, contudo, diz algo especial, “Deus falou uma vez, duas vezes ouvi isto: que o poder pertence a Deus”, o salmista dá ênfase em que o poder pertence a Deus! Quem acompanha o “Como o ar que respiro” sabe que sempre procuro desconstruir um evangelho baseado em fé e poder quando isso se refere a referências físicas, assim entendo que o poder de Deus se revela em sua maior e melhor expressão não quando faz um milagre físico, mas quando nos leva a uma espiritualidade superior que nos torna pessoas mais humildes e amorosas. O poder máximo de Deus é espiritual, no plano espiritual não há necessidade de mover montanhas nem de curar doentes, mas de iluminar espíritos com virtudes. 
      A melhor manifestação do poder de Deus é vertical, não horizontal, é espiritual, não física, assim não é aquela vista pelos homens, não pelos homens materialistas e imaturos, mas é conhecida e honrada por Deus enquanto os homens, aqueles que quiserem e puderem ver, enxergam em nós apenas seres humanos discretos e tranquilos, mais ocupados em viver a vida eterna que em falar dela, focados em dar exemplo, não em convencer ninguém disso ou daquilo com palavras. Mas o salmista encerra o Salmo 62 com uma frase que pode parecer antagônica, “a ti também, Senhor, pertence a misericórdia, pois retribuirás a cada um segundo a sua obra”. Para entender isso é preciso entender a diferença entre justiça e misericórdia.
      Devolver na mesma proporção do que se fez é justiça, já misericórdia dá mais do que se merece, devolve mais do que se fez para ganhar. Mas o salmista pode querer dizer que neste mundo nem justiça existe, as pessoas não recebem nem aquilo que por direito fizeram por merecer. Deus, contudo, em sua misericórdia, retribui a todos, e se na velha aliança era conforme a obra de cada um, na nova aliança, através da justificação do nome de Cristo, Deus pode dar muito mais, mesmo se alguém nada tiver feito, mas tiver crido. Nos referimos aqui à bênção espiritual, perdão e paz, e principalmente ao melhor de Deus na eternidade, nos conduzir a mais alta espiritualidade é a manifestação maior do poder de Deus. 

“Espiritualidade Cristã”
é um estudo dividido em 64 partes,
por favor, se possível, leia todas as reflexões 
para melhor entendimento do assunto abordado.
José Osório de Souza, 30/09/2020.

segunda-feira, outubro 05, 2020

5. Para entender a eternidade

Espiritualidade Cristã (parte 5/64)

      “E vi um novo céu, e uma nova terra. Porque já o primeiro céu e a primeira terra passaram, e o mar já não existe. E eu, João, vi a santa cidade, a nova Jerusalém, que de Deus descia do céu, adereçada como uma esposa ataviada para o seu marido. E ouvi uma grande voz do céu, que dizia: Eis aqui o tabernáculo de Deus com os homens, pois com eles habitará, e eles serão o seu povo, e o mesmo Deus estará com eles, e será o seu Deus. E Deus limpará de seus olhos toda a lágrima; e não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor; porque já as primeiras coisas são passadas. E o que estava assentado sobre o trono disse: Eis que faço novas todas as coisas. E disse-me: Escreve; porque estas palavras são verdadeiras e fiéis.” Apocalipse 21.1-5

      O que vou compartilhar a seguir é o que eu sinto sobre a eternidade, não é “achismo” pois eu não acho isso, eu creio em Deus, ainda que em alguns casos não possa dar texto bíblico como base, não de maneira direta. Esteja à vontade para desconsiderar, aliás, ande conforme tua fé, não pela minha, seremos julgados pelo que cremos, não pelo que os outros creem, quem crê que tenha paz nisso e não escandalize ninguém com isso dizendo que é verdade absoluta de Deus, e não só a sua interpretação pessoal. Eu creio que céu e inferno se constroem aqui, levamos daqui, mas isso não é algo que se faz só com ferramentas humanas, com pensamentos sentimentos que interpretam a realidade, os sonhos, os medos e as esperanças. 
      Não, é mais que isso, Deus conhece o homem, sua estrutura, como ele funciona e o que ele necessita, assim tudo o que permitiu que fosse registrado na Bíblia possibilita a todos os homens e de todos os tempos construírem uma eternidade dentro deles. A Bíblia não é conhecimento espiritual puro, nós não suportaríamos isso e muito menos suportariam os homens dos tempos bíblicos, mesmo os apóstolos que andaram com Cristo. Textos bíblicos são interpretação humana de revelações divinas, ainda que entreguem verdades absolutas passam por filtros subjetivos, são registrados com matéria prima emocional e racional humanas, nascem em Deus, mas frutificam no homem e o preparam para voltar a Deus. 
      A eternidade é construída em nós primeiramente quando cremos que em Jesus temos perdão para todos os nossos pecados e paz, a simplicidade do evangelho não “viaja” na doença, não procura culpados, mas entrega o remédio e avisa que cada homem tem a liberdade de tomar ou não esse remédio. Isso é simples e poderoso, por isso o cristianismo é tão especial para conduzir o homem diretamente a Deus, sem reencarnação, purgatório e muito menos inferno, só céu. Em segundo lugar passagens como a inicial de Apocalipse, que dão uma descrição do paraíso, criam em nossas mentes e em nossos corações, imagens da pós morte, imagens que Deus em sua sabedoria autorizou, assim o que o homem precisa saber revelado foi.
      Mas não basta só saber intelectualmente, frequentar cultos, ser membro oficial de igrejas, se parecer com cristão convertido, tem que ser de fato, de todo o coração e em perseverança. Só isso ultrapassará a morte do corpo, e isso é uma opinião pessoal, não penso que quem carregou o inferno em si por toda vida seja simplesmente mudado depois que morrer, nossa identidade não se perde, e no outro plano ela é mais forte já que não está presa aos limites do corpo. Se aqui podemos esquecer a dor provando um bom prato de comida, uma boa bebida, uma relação sexual, ou simplesmente tendo uma boa noite de sono, na eternidade não teremos esses escapismos físicos, mas só nossa existência mental e espiritual.
      Assim, cuidado, os que tentam vender, por um motivo ou outro, imagens de cristãos, mas que sabem que na verdade carregam infernos dentro de si, isso não irá mudar com a morte do corpo, o inferno vai junto e prevalece. Mas entenda certo, ter uma vida de lutas, ter problemas sérios, mesmo fraquezas difíceis de serem vencidas, não significa que não somos cristãos ou que temos o inferno dentro de nós. As lutas podem durar bastante, os problemas podem ser grandes, mas um dia, na vida do verdadeiro filho de Deus, terminam. Alguns mantém o inferno, apesar de todas as boas aparências, outros seguram o céu, mesmo com toda a realidade ruim, mas a verdade de cada um, só Deus conhece.
      Lá no fundo, quem vai pro céu sabe disso, e digo mais, sempre soube, já quem vai para o inferno, pode até negar a existência de qualquer coisa após a morte, mas lá em seu íntimo sabe que está em trevas, simplesmente porque não é humilde o suficiente para se render a Deus, ainda que seja um ser humano de bem em muitos aspectos. Assim, não tente ter uma religião ou buscar as referências de espiritualidade que uma ótica metafísica ensina, só por medo. Ame a Deus, com todo o teu ser, e você verá a luz do altíssimo te abraçando, te ensinando, te ajudando, te curando, te consolando, nessa luz verá a melhor eternidade de Deus e saberá que tem lugar garantido lá, não por méritos próprios, mas pelo amor de Deus. 
      Céu (ou a vida eterna) é uma construção específica de cada ser humano levantada com tijolos constituídos de uma única substância, o amor. Amor por Deus, que nos leva à santidade, amor por nós mesmos, que nos conduz à humildade, e amor pelos outros, que nos faz respeitar a todos. O que é o inferno? É a negação de tudo isso, resumindo, é impedir o amor de existir, quem não ama tem medo e que tem medo já tem o inferno dentro de si, pois não agrada a Deus com santidade, violenta a si mesmo com falta de humildade e desrespeita os outros por não lhes dar o direito de serem indivíduos livres, especiais e amados. Nada substitui o amor, o fim de todas as virtudes é o amor e sem ele nenhuma virtude é legítima. 

“Espiritualidade Cristã”
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José Osório de Souza, 30/09/2020.

domingo, outubro 04, 2020

4. Para não ir pro inferno

Espiritualidade Cristã (parte 4/64)

      “E ele, respondendo, disse-lhes: O que semeia a boa semente, é o Filho do homem; O campo é o mundo; e a boa semente são os filhos do reino; e o joio são os filhos do maligno; O inimigo, que o semeou, é o diabo; e a ceifa é o fim do mundo; e os ceifeiros são os anjos. Assim como o joio é colhido e queimado no fogo, assim será na consumação deste mundo. Mandará o Filho do homem os seus anjos, e eles colherão do seu reino tudo o que causa escândalo, e os que cometem iniqüidade. E lança-los-ão na fornalha de fogo; ali haverá pranto e ranger de dentes. Então os justos resplandecerão como o sol, no reino de seu Pai. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça.” Mateus 13.37-43

      Algumas pessoas buscam alguma espécie de espiritualidade porque têm medo da morte, ou mais, para se livrarem do inferno, bem, nesse quesito há um ponto positivo para os que creem assim, tem que se acreditar no inferno para se ter medo dele, assim como crer que Jesus pode livrar dele. Mas será que só isso, o medo do inferno, é motivo legítimo para sermos espirituais? Quem é motivado só por medo nunca aprenderá de fato sobre o amor verdadeiro, respeitará, até temerá, mas não amará, e uma relação em e por amor é princípio fundamental da nova aliança em Cristo, seja amor a Deus ou aos homens. É mais sadio amarmos mais o céu, que temermos o inferno, isso é uma motivação mais positiva. 
      Penso que quem busca religião só por temor do inferno precisa, além de crer em Jesus, ter sessões de psicoterapia, esse medo pode ser só uma projeção de outros medos, não espirituais, mas psicológicos e maiores, acumulados em uma vida que sofreu com autoritarismo e violência. Muitos com doenças emocionais têm a tendência de transferir suas referências erradas de família para as coisas Deus, buscam um lar na igreja e um pai no pastor. Por outro lado o medo pode ser só de morrer, dizem que só não tem medo da morte quem tem medo da vida, assim, esse tipo de pessoa intimamente alimenta uma vontade de “partir” para não ter que enfrentar certas realidades ou responsabilidades no plano físico. 
      O que nos leva a temer a morte? Como outros medos, tememos mais a imaginação que fazemos de certas coisas, as imagens mentais que nos vêm à cabeça e os sentimentos que pesam em nosso coração, que a coisa em si, ou o que ela é de fato. É claro que se tratando de morte, ninguém pode saber com rigor científico o que acontecerá depois que nosso corpo físico parar de funcionar, assim, a única referência que temos são as interpretações religiosas que colecionamos durante nossas vidas. Condenação eterna a sofrimento é conceito de várias religiões, mas o cristianismo prega isso de maneira especial, e o cristianismo protestante não deixa meio termo, ou é céu ou é inferno. 
      Ausência de tudo, um lugar fechado e escuro, sem ar, quente e desconfortável, muitos podem sentir que a morte lhes entregará a uma condição assim, mas é preciso entender que essas são sensações que nos aterrorizam porque restrigem o corpo, é o nosso corpo que precisa de oxigênio limpo, de temperatura adequada, de espaço e de luz, o espírito não precisa disso. Mas o que nosso espírito sentirá após morte? Nem a Bíblia traz detalhes de nossa existência pós morte, e como já dissemos, na doutrina protestante, ou é céu ou é inferno. O texto inicial de Mateus 13 fala sobre o inferno, pela doutrina protestante os salvos por Cristo terão direito ao céu, os demais, ao inferno.
      O texto de Mateus 13 é parte da parábola do joio e do trigo, vegetais semelhantes e plantados num mesmo lugar, mas com diferenças, o trigo dá fruto, o joio não, o trigo é mais maleável, o joio é mais duro. A simbologia nos faz pensar na igreja, num grupo onde pessoas diferentes frequentam a mesma comunidade e professam a mesma religião, contudo, umas são de fato convertidas, as outras não. Interessante que Jesus cita como condenados ao inferno não pessoas do mundo, mas o joio, religiosos que dizem professar a mesma fé que o trigo, mas que são joio, não praticam o que professam e devem permanecer assim, enganando, até o fim, quando receberão a justa condenação. 
      Quem prestar atenção verá essa delicadeza em grande parte da Bíblia, os ensinos não cobram os de fora, os do mundo, mas os de dentro, seja da nação de Israel ou de membros de igrejas evangélicas. Isso deveria ser exemplo para pregadores que gostam de julgar e condenar ao inferno aqueles que aparentemente são diferentes deles, enquanto deixam de cobrar muitos dentro de suas igrejas, só porque se parecem cristãos e são fiéis nos dízimos. Quanto adultério, hipocrisia e mentira no joio que muitas vezes é até mais honrado que o trigo, trigo que não aceita o pecado, principalmente aquele do “altar”, e que acaba sendo desprezado pela liderança que não quer confrontar os que lhe oferecem vantagens política e econômicas.
      Devemos ser espirituais para não irmos para o inferno? Cuidado, o céu não é lugar (ou posição) para preconceituosos, assim como o que nunca frequentou igreja cristã não irá necessariamente para o inferno, não só por isso. A verdade é que muitos se surpreenderão quando passarem desse mundo para o outro, desse plano para o outro, um estado de surpresa que poderá levar não instantes, mas milhares de anos. O grau de surpresa está diretamente relacionado com a nível de verdadeira espiritualidade em que cada um estiver, não de acordo com referências que muitos líderes religiosos, incluindo cristãos, ensinam, mas de acordo com a verdade mais alta e iluminada do Deus altíssimo.
      Os cristãos, pela Bíblia, têm pouca informação sobre o céu, e a verdade é que em sua maioria, seguindo a tradição dos israelitas no antigo testamento, pouco se interessam pelo melhor de Deus na eternidade, digo melhor porque o inferno, o pior de Deus, também pertence a Deus, mas ele criou com objetivo diferente do céu e destinado a seres diferentes. Temos informações no novo testamento, principalmente nos evangelhos e no Apocalipse, mas se resumem a um lugar onde não haverá sofrimento, morte e trevas, mas amor, luz, vida eterna e uma comunhão plena com Deus. João o evangelista mostra o céu como uma cidade luxuosa cercada por uma natureza exuberante, enfim, com referências físicas de estética e bem estar. 
      O céu pelo cristianismo é recompensa máxima para quem atingiu a mais elevada espiritualidade, espiritualidade que está, de acordo com o novo testamento, mais relacionada à salvação pela fé em Cristo e a virtudes de justiça e amor, ainda que devam ter como efeitos obras na Terra, que de fato a um conhecimento e uma comunicação profunda com o mundo espiritual. Assim o cristianismo aguarda o céu, mas pouco se interessa por ele, na prática quer vida boa na Terra, e a princípio não há nada de errado com isso. Estamos no mundo físico com orientação de Deus para dominá-lo, com população e conhecimento, e mais, temos todo o universo para conhecer ainda encarnados, luas, planetas, sóis etc.
      Ocorre diferentemente com outras religiões, muitas têm um interesse mais profundo pelo plano espiritual, tanto filosófica quanto praticamente. Isso seria porque elas são conduzidas pela mesma curiosidade pecaminosa que levou o homem a provar do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal no Éden? Basicamente, sim. Se alguém não concorda, acha que a Bíblia fala bastante sobre o mundo espiritual e que isso é bem ensinado nas igrejas, é porque não conhece de fato sua religião, assim como as demais. Mas por favor, entendam corretamente, com isso não vai aqui uma crítica ao cristianismo, apenas uma constatação que nos permite entender algumas coisas, certas prioridades levantadas nas igrejas. 
      O cristianismo é a expressão do mais alto amor de Deus à humanidade, à medida que oferece, através de personagens da nação de Israel no velho testamento, Moisés, Samuel, Davi, profetas e outros, e dos apóstolos e Paulo registrando as palavras de Jesus e do início da Igreja, a maneira mais simples assim como a mais eficaz do homem ter comunhão com o melhor de Deus, sem “atravessadores”. Essa maneira se resume a uma palavra: Jesus. Outras religiões até se aprofundam em alguns assuntos, mas não focam no principal, por um motivo ou outro, e acredite, evangélico e católico que só conhecem as próprias religiões e olhe lá, existe sabedoria em textos sagrados fora da Bíblia, que todos deveriam ler, com o cuidado devido. 
      Existem dois posicionamento sobre saber se se vai para o céu: uns acham que o espiritual tem certeza que vai, crê no evangelho e não pode negar uma promessa que é de Deus, que por sua vez não volta atrás com sua palavra. Outros, porém, acham que a resposta mais espiritual que se pode dar quando se é questionado sobre certeza de ir para o céu após a morte é, “Deus sabe”. Confesso que como crente com base doutrinária de igreja batista tradicional fui ensinado que devo ter certeza e pronto, contudo, ultimamente tenho refletido sobre a resposta “Deus sabe” com mais atenção, mesmo sem que eu tenha perdido a convicção sobre a minha experiência pessoal com Deus, aliás, ela só tem aumentado. 
      “Deus sabe” talvez seja a maneira que devemos encarar os outros cristãos, ainda que os amando e respeitando como cristãos. Quem é meu irmão em Cristo e estará no céu comigo? Eu tenho muito cuidado em usar o termo “irmão”, certeza só terei na eternidade, ainda que queira e tenha amigos que gosto muito dentro de igrejas evangélicas, contudo, também tenho ótimos amigos que não são evangélicos, e alguns que me ajudam mais que muitos que me chamam de “irmão”. Mas isso é como eu encaro as coisas, e eu separo bem pessoas que de fato têm uma verdadeira comunhão com Deus de pessoas simplesmente doutrinadas por comunidades cristãs, muitas vezes convencidas, mas não convertidas.   

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José Osório de Souza, 30/09/2020.

sábado, outubro 03, 2020

3. Para ter prosperidade material

Espiritualidade Cristã (parte 3/64)

      Muitas pessoas querem ser espirituais, por isso procuram religiões e outras práticas, mas por que realmente elas querem isso? Alguns acham que ser espiritual é respeitar a moralidade da sociedade em que vivem, assim virtudes como honestidade, controle emocional, caridade e não se dar a vícios como cigarro, bebida e prostituição devem definir espiritualidade. Contudo, isso tudo é só deveres de cidadania, de vida em grupo, que respeita limites e não invade limites alheios. Outros pensam que ser espiritual é ser fiel a doutrinas religiosas, mas em sua maioria as religiões sempre ensinam e cobras boa moralidade e equilíbrio os apetites carnais, mais regras para se viver em sociedade nesse mundo que de fato espiritualidade. Outros ainda, pensam que ser espiritual ter experiências místicas com o sobrenatural, ter mediunidade, se comunicar com o mundo espiritual. 
      Assim, as pessoas entendem espiritualidade de maneiras e em níveis diferentes, assim como a buscam em lugares e de formas distintas, de acordo com suas idiossincrasias, curiosidades, medos e paixões. Mas e quanto a você, evangélico, que frequenta uma igreja protestante, por que você quer ser espiritual? As questões nessa reflexão têm o objetivo de fazer pensar e conduzir a reavaliações os cristãos, não os outros, olhamos para dentro e não para fora, para os filhos de Deus. Será que nós, que acreditamos que cremos na verdade maior e absoluta do evangelho, experimentamos de fato uma espiritualidade melhor? Será que somos melhores que monges e espiritualistas de outras religiões, que esotéricos, clérigos e tantos que se dedicam exclusivamente à busca do divino? (Ou será que eles são piores por isso?) E se somos melhores, por que somos, ou mais, para que somos? 
      Atualmente muitas pessoas em igrejas evangélicas querem ser espirituais por razões absolutamente materialistas, a prova disso é a dizimolatria da qual tanto falamos aqui no “Como o ar que respiro”. Até querem ter vidas morais melhores e tentam ser fiéis às doutrinas que seus líderes ensinam nos púlpitos, mas que nem sempre conduzem de fato à espiritualidade, só à religiosidade. O que é essa religiosidade? Sim, é a obediência a algumas leis morais e sociais, basicamente no cristianismo aos mandamentos mosaicos, mas a isso são adicionadas regras específicas de uma denominação, e uma presente em muitas, principalmente pentecostais, é a obrigação do dízimo. Nem venham dizer que isso não é verdade, é sim, e ocorre uma verdadeira chantagem que tenta convencer as pessoas que caso elas não dizimem sofrerão os flagelos da tão usada passagem bíblica de Malaquias 3.10-11, ou melhor, mal usada. 
      Assim, no entendimento de muitos, se acha que é necessário ser “espiritual” para receber os favores de Deus neste mundo, principalmente prosperidade material, numa visão infantil, rasa e física do Senhor e de sua mais alta espiritualidade. As pessoas têm no materialismo não só o meio de atingirem espiritualidade, vivendo dessa e daquela maneira, fazendo isso ou deixando de fazer aquilo, mas também o objetivo, já que prosperidade material pode ser vista como critério de avaliação para espiritualidade, quando o próspero é membro de igreja e fiel ao dízimo. Num ambiente que só dinheiro e bens interessam, de um jeito ou de outro, onde fica de fato a espiritualidade, aquela evidenciada na vida simples de Jesus homem? Por isso o evangelho perde muitos para o espiritismo ou para o budismo, porque muitas pessoas encontram nessas religiões mais espiritualidade prática que em igrejas evangélicas, e assim o caminho mais reto e mais eficiente que é o nome de Jesus não é trilhado por tantos. 
      Contudo, fica difícil as pessoas não serem enganadas quando o engano começa na liderança, no conceito que muitos pastores têm do que seja um evangelho vitorioso e glorioso, conceito mostrado nas construções dos templo, nas vidas pessoais dos líderes, e na maneira como dízimos e ofertas arrecadados são administrados. Se quem deve dar exemplo não dá, aqueles que chegam, como novos cristãos, já começam suas carreiras incorretamente. Muitas igrejas atuais nem batistério têm, o que mostra que o objetivo não é converter incrédulos, mas só seduzir crentes insatisfeitos de outras igrejas, o produto usado nessa sedução é a promessa de prosperidade material que ganha ainda mais valor num momento econômico do nosso país onde há tanto desemprego. O erro não é só de líderes, é também dos liderados, enquanto buscam líderes que lhes agradem, que falem o que desejam ouvir, que vendam o produto que querem comprar, contudo, o juízo maior de Deus é, sim, sobre líderes mal intencionados, que ainda que o povo estivesse errado deveriam orientar o caminho certo e não obterem vantagens pessoais com o engano. 
      Mas o que muitos não entendem é que a disciplina de Deus não vem sobre os incrédulos, esses serão julgados no juízo final, no tempo atual ela vem sobre os cristãos, não como condenação eterna, mas como correção passageira. Assim, se o Brasil vai mal é porque os cristãos não estão andando corretamente, a culpa não é dos incrédulos no mundo, usufruindo a vida material e não se importando com espiritualidade, mas de cristãos materialistas dentro de igrejas. Da mesma maneira a bênção voltará ao país não para que o Brasil seja uma nação totalmente convertida e que possa ser chamada de cristã, não, isso não irá acontecer e nem é necessário que aconteça. A bênção voltará especificamente ao povo de Deus, quando esse voltar-se para Deus através de Deus, não de promessas de políticos que se dizem em nome de Deus, uma bênção espiritual e também material. Essa última, suficiente para que os cristãos tenham vidas financeiras dignas, não mais que isso, bênção material que nunca deve ser pedra de tropeço que impeça o cristão de atingir a verdadeira espiritualidade que o evangelho pode entregar pelo nome de Cristo e através do Santo Espírito.

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José Osório de Souza, 30/09/2020.

sexta-feira, outubro 02, 2020

2. Para não pecar

Espiritualidade Cristã (parte 2/64)

      “Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele. Quem crê nele não é condenado; mas quem não crê já está condenado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus.” 
João 3.17-18
      “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que limpais o exterior do copo e do prato, mas o interior está cheio de rapina e de iniqüidade.“ 
Mateus 23.25

      “Todas as coisas me foram entregues por meu Pai, e ninguém conhece o Filho, senão o Pai; e ninguém conhece o Pai, senão o Filho, e aquele a quem o Filho o quiser revelar. Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei.
  Mateus 11.27-28

      Não podemos entrar neste estudo sobre espiritualidade sem pensarmos sobre pecado. Se queremos uma resposta rápida para por que grande parte das pessoas quer ser espiritual é: para não pecar. De maneira geral, na maioria das religiões, espiritualidade é buscada como caminho oposto ao pecado, representando virtudes que vencem as fraquezas da carne. Eu disse na maioria das religiões porque é fato que existem cultos para contato com o mundo espiritual onde santidade não é relevância, nesses faz-se uso de práticas nada limpas, como prostituição, orgias, sacrifícios, para “energizar” seus rituais mágicos (se bem que tecnicamente o termo “religare” nem se aplica a essas religiões). 
      Com certeza não são para terem acesso a Deus e muitos menos a seres espirituais, ainda que não por Cristo, que de alguma maneira prezem por limpeza moral e espiritual, mas ainda que a mídia em geral negue, existem cultos “satanizados”, que acham melhores condições de espiritualidade na sujeira e no mal. No senso comum, contudo, a definição para pecado é isso, cair nas fraquezas da carne, assim muitas religiosidades e espiritualidades estão ligadas à vitória sobre os apetites carnais. Como cristãos sabemos que pecado é mais que isso, leva a um desvio do alvo não só o corpo físico, mas coloca todo o nosso ser, corpo, alma e espírito, em desacordo com o centro da vontade de Deus.
      No texto inicial de João é relatada a trágica condição do homem natural, que antecede ao pecado em si, pior que errar o alvo é já estar passivamente condenado, simplesmente por não se posicionar, “quem não crê já está condenado“. No texto de Mateus está o exemplo dos fariseus, que erraram o alvo exercendo religião, eram ativos na busca do divino, mas por motivos errados, para pousarem como melhores diante dos homens e os dominarem, não para agradarem a Deus e conhecê-lo de verdade. Seja como for, o ser humano não foi criado para o pecado, ainda que tenha livre arbítrio para escolhê-lo, por isso é natural que pecar traga desconforto, culpa que precisa de perdão para ser anulada. 
      Pecado é algo que macula todo o ser: machuca o corpo, suja a alma e esfria o espírito, pensaremos mais a respeito na próxima reflexão. A definição clássica de “pecado” é errar o alvo, assim implica em haver uma iniciativa de seguir um percurso, no uso de um bom esforço, mas que não cumpre o melhor trajeto, ainda que seja o objetivo inicial desejado de quem se esforçou. Isso nos leva a pensar não nos vícios da carne, na busca desenfreada de satisfação dos prazeres do corpo, esses nem seriam pecado como alvo não atingido, mas como algo que não teve nenhum objetivo espiritual, que nem teve início de trajetória. Já é uma condição passiva de perdição, não a causa, mas o efeito final do pecado primal.
      O que chamamos de “pecados da carne” não é o pecado principal, são os efeitos desse, o pecado principal é a tentativa de se viver sem Deus, que erra o alvo, e que tem como consequência a queda nos apetites carnais, na fraqueza moral e espiritual, na morte do espírito. Adão e Eva não pecaram porque quiseram fazer coisas moralmente reprováveis, serem pessoas más e egoístas, adulterarem, não, pecaram porque quiserem ser iguais a Deus. Foi essa a tentação principal que a serpente usou com eficiência (veremos a respeito mais à frente nas reflexões “Três testes para a espiritualidade“), e como consequência eles perderem o rumo de todo o resto de suas existências.
      A prova disso é o fratricídio ocorrido na próxima geração depois deles, que pecado terrível, entre irmãos. Isso nos faz pensar nas religiões, elas, sim, são flechas lançadas para o divino, mas que muitas vezes não chegam a Deus, portanto erram o alvo, assim são pecados no sentido exato da palavra, mais que os “pecados da carne”, são os pecados causais que geram todos os outros. O pecado mais puro tem lugar no espírito, não na carne, vejam os seres espirituais rebeldes, diabos e demônios, eles não têm corpo físico, mas são a expressão mais pura e poderosa do pecado, justamente porque tentam atingir a espiritualidade mais alta sem Deus, ainda que não tenham corpos físicos para caírem nos apetites carnais.  
      Vivemos um momento na história da humanidade onde, talvez como nunca antes, se negue o pecado, e principalmente, a consequência dele, e quem nega a doença, nega o remédio. Na agenda da estratégia final do anti-cristianismo esse é um ponto importante, ao mesmo tempo que agrada ao homem, nega a Jesus, permite que o ser humano faça o que deseja, com quem deseja, onde e quando deseja, sem que tenha que se sentir culpado por isso, em pecado. Se não há pecado, não existe condenação e consequentemente não se precisa de salvação, assim anula-se o cristianismo, nega-se Cristo, desvia o homem definitivamente de Deus, mesmo que tal agenda também pregue coisas boas como tolerância e igualdade.
      O pecado precisa ser repensado, não como a culpa que o catolicismo jogou sobre o homem por séculos, para dominar sobre ele, tradição ruim que o protestantismo dá seguimento, mas como desvio do Deus Altíssimo, o único que pode dar ao homem espiritualidade, o objetivo final de todo ser no universo. Assim, podemos chegar a uma definição final para pecado: é desvio do alvo? Sim, mas não necessariamente fazendo coisas ruins ou erradas, mas simplesmente não caminhando retamente para Deus, pecado é tudo que separa o homem de Deus. Por isso a prioridade do anti-cristianismo final não é pregar o mal, se isso foi em outros tempos, agora mudou, ele prega tudo que é bom e para todos, em todas as áreas.
      Contudo, sem ter Deus como origem e fim, e tendo Jesus somente como mais um homem, bom, sábio, espiritual, mas não um salvador, a solução para o pecado original do Éden é esquecida. O próprio termo anti-cristo já diz tudo, não é contra o amor, contra a justiça, contra a paz, mas contra Cristo, isso basta, e é isso que muitos que insistem em caminhar sem Deus não enxergam, cegos que estão em seus corações orgulhosos que acreditam que podem ser deuses e não adoradores do verdadeiro Deus. Não digo que seja fácil atualmente discernir as coisas, na verdade é difícil e vai ficar cada vez mais difícil, já que o mal prega o bem e aqueles que se dizem do lado do bem cometem equívocos. 
      Por isso é de suma importância que reavaliemos nossas crenças e entendamos o que é de fato espiritualidade, Jesus sempre oferecerá algo superior e exclusivo, os que forem a ele acharão vida que não existe em nenhum outro, só Jesus recebeu de Deus essa vida (Mateus 11.27-28). Mas é preciso que Jesus seja de fato pregado, não prosperidade material, não fé na fé e muito menos um “Deus” fechado na “caixinha” das tradições e do cânone bíblico sem a leitura do Espírito Santo, que só incentiva preconceitos e intolerâncias. Espero que o momento atual, que deu espaço a falsos cristãos principalmente nas lideranças políticas, abra os olhos daqueles que já creram no evangelho e que têm a missão de pregá-lo. 

      Por que quero ser espiritual? Para vencer o pecado, com certeza esse já é um bom motivo, depois podemos ser espirituais para pedirmos a Deus proteção e suprimentos e finalmente conhecimento. Mas por que o pecado é tão ruim, o que ele faz em nós? Ele desarruma todo o nosso ser, machuca nosso corpo, suja nossa alma e esfria nosso espírito, vamos refletir nesses três pontos. 

      “Eis que em iniqüidade fui formado, e em pecado me concebeu minha mãe. Eis que amas a verdade no íntimo, e no oculto me fazes conhecer a sabedoria. Purifica-me com hissope, e ficarei puro; lava-me, e ficarei mais branco do que a neve. Faze-me ouvir júbilo e alegria, para que gozem os ossos que tu quebraste. Esconde a tua face dos meus pecados, e apaga todas as minhas iniquidades.” Salmos 51.5-9

      O pecado machuca o corpo, porque insiste em querer tirar da carne algo que a carne não pode dar, prazer que permanece, daí nascem os vícios. Quantas doenças, físicas e psicológicas, vêm dos vícios da carne, da obsessão por sexo, por bebida, por comida, pelas sensações que elementos químicos dão a carne de euforia, de relaxamento, de delírios. Isso machuca a mente, os pulmões, os órgãos genitais, isso inviabiliza as funções normais dessas partes do corpo, não, um viciado em sexo não dará maior prazer ao seu parceiro, mas menor, e um prazer artificial, dependente de recursos não naturais, de objetos e fantasias, que transformam algo simples e bonito em dor e morte.
      O pecado suja a alma, nosso coração e nossa mente, cria caminhos desnecessários para se obter satisfação, que depois serão difíceis de serem deixados. Uma alma suja vê sujeira em tudo e não se sente mal, com culpa, quando suja inocentes e puros só para conseguir seu prazer egoísta, por isso devassos e depravados, que já não têm identidade, ganham a identidade do pecado que cometem. Um adúltero não é mais um homem ou uma mulher, mas o próprio adultério, assim como o viciado em cocaína, não é mais o ser humano, mas a droga, que anda e vive só para se mantê-la viva. Alma em pecado é cega e surda, a sujeira do pecado a impede de ver e ouvir moralmente.
      A sujeira do pecado espalha no ambiente um “cheiro” desagradável, que nem precisa ser necessariamente físico, um adúltero pode estar sempre banhado e perfumado, mas exala um “cheiro” moral horrível de pecado, que traz repugnância aos que têm sensibilidade de alma, aqueles que não são perfeitos, mas que buscam dia a dia o perdão purificador. Muitos de nós muitas vezes sentimos esse “cheiro” de alma suja, que repito, pode não ter nada a ver com o corpo, de alguém que pode estar usando as roupas caras e perfumes raros, mas pelo Espírito Santo, ainda que não conheçamos tais pessoas intimamente, percebemos que elas têm algo de errado, o pecado, e muitas vezes bem escondido. 
      Diferentemente do corpo e da alma, que podem ser “danificados” pelo pecado, o espírito, sopro de Deus em todos os seres criados à imagem dele, não pode, mas ainda assim é afetado pelo pecado, ainda que não possa ser morto ou sujado. Ele pode estar “mortificado”, e naqueles que têm o Espírito Santo, se o ser está em pecado, ainda que por pouco tempo sem se apossar do perdão de Cristo, pode ser “esfriado”. E como o nosso espírito pode se esfriar, e infelizmente muitos cristãos até se acostumam com isso, isso acontece quando o Espírito Santo de alguma forma é negado, negado não ferido, não vou usar o termo machucado pois o Espírito de Deus não pode ser machucado, mas ele pode se calar em nós. 
      Deus cala seu Espírito em nós para nos disciplinar, faz isso por um tempo, e não existe nada pior para um filho de Deus que estar nessa disciplina. Se a pessoa é de fato convertida se sentirá num deserto sem água pura e fresca para saciar sua sede, sofrerá mais que o não convertido que ainda não sabe da satisfação espiritual que a água viva do Espírito dá. Nós precisamos aprender a discernir essa disciplina, ver quando ela está existindo, aceitar que está ocorrendo porque erramos, para então sabermos onde erramos, buscarmos arrependimento, posse de perdão e então termos um desejo sincero de não errarmos mais. A disciplina de Deus, apesar de doer, conduz à vida, não é uma condenação para a morte.
      Todo espírito, de todos os seres humanos, convertidos ou não a Cristo, no plano físico ou no espiritual, está vivo, ele é eterno, mas só pode ser “vivificado” se ganhar o selo do Espírito Santo, que permite que o ser tenha comunhão com o Altíssimo, o que nos confere vida é estarmos ligados a Deus. Mesmo que conheçamos sobre espiritualidade, que saibamos profundamente os mistérios dos principados e potestades, que tenhamos comunhão com o mundo espiritual, com entidades, com espíritos, se não tivermos sido selados com o Espírito Santo, após um novo nascimento em Cristo, nossos espíritos estarão inabilitados para terem plena comunhão com Deus e direito às bênçãos que só ele pode dar. 
      A melhor eternidade de Deus é um dos direitos exclusivos do espiritualmente vivificado por Deus. O que chamamos de céu, o “ceio de Abraão”, para onde vão os salvos, é a melhor eternidade de Deus, já o que chamamos de inferno, para onde vão os diabos, seus demônios e os seres humanos não salvos, é a pior eternidade. Bem, ambas são de Deus, Deus é dono de tudo e tudo fez, mas alguns “lugares” fez para os humildes que se aproximaram dele e conheceram a salvação única e suficiente de Cristo, outros “lugares” o mesmo Deus fez para os condenados, inicialmente para os seres espirituais das trevas, mas depois para os seres humanos que levarem seus infernos pessoais do plano físico ao espiritual.
      Precisamos entender que o espírito é nossa parte mais importante, é a essência do nosso ser, no plano espiritual seremos o espírito com um corpo transformado. É o nosso espírito que leva nossa identidade eterna, que vai além de tudo que fomos e fizemos em nossa existência passageira neste mundo. Assim, o pior mal que o pecado faz, quando machuca o corpo e suja a alma, é esfriar o espírito, impedindo-o de ter plena comunhão com Deus. Todavia, ainda que nos apossemos do perdão espiritual, nossos corpos podem se machucar de forma irremediável, isso poderemos sentir só na velhice, justamente quando o que mais vamos querer é saúde física para nos focarmos em Deus, assim, cuidemos melhor de nossos corpos. 
      A sujeira da alma, por sua vez, pode levar anos para desgrudar de nós, lembranças e sentimentos ruins, culpas e arrependimentos, devaneios imundos, que podem voltar e nos tirar do foco maior, isso se já não tiverem instalado em nossas mentes doenças psicológicas sérias. Deus nos perdoa, mas nós mesmos e os homens, não, não facilmente. A sujeira da alma talvez seja ainda pior que os machucados do corpo, pois pode se esconder dentro de nós, usar mecanismos complicados que nos enganam e até nos convencem de que ela nunca existiu. Dessa forma, precisamos ser sábios e nos livrarmos do pecado o quanto antes, antes que firam nossos corpos frágeis, e sujem nossas almas, mais frágeis ainda, de maneira permanente.
      O texto inicial é uma oração poderosa, assumindo a gravidade de pecado diante de Deus, não colocando a culpa em mais ninguém, mas se colocando como o único responsável pelo pecado, que rouba a paz e separa do melhor de Deus. Junto dessa assunção vem o reconhecimento de quão santo é Deus, pois essa oração coloca o homem perto de Deus, mas isso é só o começo de uma experiência maior com o mundo espiritual, com o conhecimento dos mistérios do Altíssimo. O verdadeiramente arrependido não imputa ao santíssimo erro por ter sido disciplinado, antes aceita a disciplina com humildade e deseja com todo o coração não pecar mais, esse é o terreno mais fértil para que espiritualidade verdadeira brote. 

“Espiritualidade Cristã”
é um estudo dividido em 64 partes,
por favor, se possível, leia todas as reflexões 
para melhor entendimento do assunto abordado.
José Osório de Souza, 30/09/2020.

quinta-feira, outubro 01, 2020

1. Para que ser espiritual?

Espiritualidade Cristã (parte 1/64)

      É com muita alegria que compartilho aqui no blog “Como o ar que respiro” um livro original, dividido em sessenta e quatro reflexões, sobre o tema espiritualidade cristã. Procurei pensar no assunto sobre diversas abordagens, seja em relação ao tempo de caminhada do Cristão com Deus, assim falando tanto aos mais novos na fé quanto aos mais maduros, seja em relação ao espaço físico de prática de espiritualidade, dentro dos templos ou no mundo. Também abordei um aprofundamento do tema em relação aos ensinos mais tradicionais sobre o que é espiritualidade cristã, isso é algo que na visão que tenho no Esprito Santo falta aos cristãos para que tenham de fato uma existência, ainda que no plano físico, localizada espiritualmente nas regiões espirituais mais elevadas em Cristo, onde há cura para toda dor e resposta para todo questionamento. Que essa leitura possa te fazer reavaliar muitas coisas, mas que ela possa, na prática e não na filosofia de seus ensinos, te trazer paz. O Deus Altíssimo abençoe a todos em amor. 

      “E Jesus disse-lhe: Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento. Este é o primeiro e grande mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas.” Mateus 22.37-40

      A orientação máxima, segundo a Bíblia, para que o ser humano tenha uma vida de qualidade está contida no texto inicial, amar a Deus acima de tudo e depois ao próximo como a si mesmo, quem ama a Deus obedece-o e quem ama o próximo como a si respeita-o, só isso deveria bastar para que vivêssemos em sociedade com justiça igual para todos, de maneira honesta e sem qualquer espécie de violência ou intolerância. Isso representa o cerne de espiritualidade que antigo e novo testamento ensinam, que a velha aliança de Israel propôs, mas que só foi possível a toda a humanidade viver de fato através do evangelho, o nascimento, a vida, a morte e a ressurreição do filho de Deus sem pecado salvando o mundo.
      A Bíblia é acima de tudo um texto religioso prático, pouco se fala do mundo espiritual, do diabo e mesmo de anjos, apesar de muitos amplificarem o pouco que é falado, ela ensina como se viver na Terra, com os pés no chão. No antigo testamento mantendo a nação de Israel fiel ao Deus que prometeu guarda-la pela promessa inicial a Abraão, e deixando as outras nações em paz, com suas crenças e deuses, desde que não tocassem o território original dos israelitas. No novo testamento a orientação de Jesus, de Paulo, de João, de Pedro e de outros é clara, não se metam com política ou com os costumes sociais vigentes, aceite-os e seja bom dentro de seus sistemas que Deus os guardará.
      Isso pode parecer resignação demais, mas isso é o evangelho, não o uso tão equivocado da frase “feliz a nação cujo Deus é o Senhor” que muitos utilizam hoje em dia no Brasil, uma orientação para Israel física e não para o reino de Deus espiritual da nova aliança. Mas se quisermos resumir espiritualidade segundo o centro do ensinamento bíblico em uma palavra, a palavra é Jesus. Se estudarmos não só o que Cristo fez para salvar humanidade, que já bastaria para que sua missão fosse cumprida, mas como ele se relacionava com as pessoas, não pelos discursos, mas pelas entrelinhas de suas amizades e reações diante da hipocrisia dos fariseus, saberemos o que é ser espiritual para Deus, de maneira simples e precisa. 
      A verdade é que o termo espiritualidade não é comum na Bíblia, seja na velha aliança de Israel, seja na nova aliança do evangelho, muitos evangélicos, quando usamos o termo, pensam em “espiritismo”, isso porque o cristianismo católico e protestante, se fizermos uma avaliação honesta, representa bem a visão de “religare” ocidental (religar o homem com Deus em latim). No ocidente a grande maioria trabalha seis dias por semana na vida secular e separa só o domingo para a religião, a visão oriental é diferente, nela o ser humano tem uma relação dia a dia com o divino. 
      Enquanto o cristianismo visa uma relação com Deus mais para ter uma vida material decente, com a sociedade, com os bens, as religiões orientais pensam no mundo espiritual e visam a eternidade, ainda que sacrificando vida material. Dessa forma, o termo espiritualidade, é muito mais ligado à religiões esotéricos, espiritualistas e orientais, que ao cristianismo, honestamente a Bíblia fala mais desse mundo que do outro, principalmente no antigo testamento. Mas mesmo no novo testamento, ainda que vise um reino de Deus no coração do homem não na Terra, a eternidade é definida como céu e inferno, mais nada, sem detalhes ou outras gradações, ser espiritual é ser salvo e batizado, quase que na prática bastando isso.
      O movimento carismático, que se renovou relativamente há pouco tempo no cristianismo, começo do XX, ainda que tenhamos registros de grandes pregadores com experiências de milagres nos séculos XVIII e XIX, deu mais ênfase ao termo à medida que espiritualidade começou a ser aliada a dons espirituais. Até então espiritualidade era mais ligada à negação dos prazeres físicos nas ordens católicas, e a um conhecimento intelectual da Bíblia, esse mais exclusivo de sacerdotes e realeza, que podiam estudar mais. A grande maioria do povo não sabia ler e muito menos tinha acesso à Bíblia, cerimônias católicas eram celebradas em latim e o louvor era exclusivo dos corais. 
      Foi o protestantismo que entregou ao cristianismo uma religião mais democrática, menos mística e acessada por fé, não por compra de indulgências, o que fazia de muitos escravos e de poucos com direitos por serem ricos materialmente, não por ser espirituais. O termo espiritualidade no meio cristão tem ganhado nova leitura atualmente, quando revemos as tradições que não funcionaram antes só levaram à hipocrisia e ao materialismo, temos voltado ao evangelho primitivo onde não basta parecer cristão, temos que ser interiormente e isso é espiritualidade. 

      Após essa introdução, propomos uma pergunta: para que ser espiritual? É sobre esse assunto que refletiremos num estudo assim dividido: 

01. Para que ser espiritual?

02. Para não pecar 
03. Para ter prosperidade material
04. Para não ir pro inferno
05. Para entender a eternidade 
06. Para ter o poder de Deus 
07. Para conhecer os mistérios espirituais
08. Para ter vitória numa guerra 
09. Para vencer um inimigo
10. Para cumprir uma missão

- Princípios básicos 

11. Pecado se vence com vontade!
12. Deus é Espírito 
13. Somos templos do Espírito 
14. Espiritualidade e unção 
15. O Espírito Santo é espiritualidade 
16. A espiritualidade dos primeiros cristãos 
17. Uma espiritualidade gradativa 
18. Espiritualidade e o tempo
19. Tempos: de salvação, de galardão
20. Espiritualidade conforme tua fé

- Início da caminhada 

21. Espiritualidade do profeta
22. Espiritualidade é obedecer a vocação maior 
23. O que Deus tem e o que não tem para nós 
24. Espiritualidade gera santidade, humildade e amor
25. Espiritualidade exercida com amor 
26. Espiritualidade exercida com sabedoria 
27. Humildade: opção ou obrigação?
28. Humildade: único jeito de crescer 
29. Humildade: condição para libertação  
30. Espiritualidade para os olhos de Deus
31. Espiritualidade é mudança

- No mundo 

32. Espiritualidade de Cristo 
33. Espiritualidade e vitimismo 
34. Espiritualidade e crítica
35. Espiritualidade e hipocrisia
36. Espiritualidade e obras
37. Espiritualidade e liberdade 
38. Espiritualidade e arte 
39. Espiritualidade e bebidas alcoólicas 
40. Espiritualidade e sexo 
41. Espiritualidade e o planeta
42. Espiritualidade e a mídia

- Indo além 

43. Rádio espiritual 
44. Atraídos pelo Espírito Santo
45. Ouça o Espírito 
46. Comunicação espiritual 
47. Já perguntou a Deus?
48. Espiritualidade e meditação 
49. Nos lugares celestiais em Cristo 
50. Espiritualidade de graça 
51. Adoração, porta para espiritualidade 
52. Permaneçamos no amor de Deus 
53. Três testes para a espiritualidade 

- Evolução?

54. Onde está teu Deus?
55. A verdade sobre o mundo espiritual
56. Espíritos 
57. Sigamos para o Altíssimo 
58. Evolução espiritual 
59. Causa e efeito 
60. Alfa e Ômega
61. Surpresas na eternidade  
62. Prossigamos em conhecer a Deus
63. Conhecimento é vida 
64. O que é ser espiritual? 

      Acompanhe nas próximas postagens o estudo, “Espiritualidade Cristã”. 

José Osório de Souza, 30/09/2020