Deus me disciplinou

      “Porque o Senhor corrige o que ama, E açoita a qualquer que recebe por filho. Se suportais a correção, Deus vos trata como filhos; porque, que filho há a quem o pai não corrija? Mas, se estais sem disciplina, da qual todos são feitos participantes, sois então bastardos, e não filhos.” Hebreus 12.6-8

      O mal que outros nos fizeram são cobrados deles, mas nós seguimos vivendo, tendo liberdade de calar lembranças traumáticas ou mantê-las vivas dentro de nós, assim, uma cura importante é entendermos essa liberdade, que só depende de nós extinguirmos as acusações do passado. Se não fizermos isso poderemos não ser mais vítimas, mas novos agressores fazendo novas vítimas, se isso ocorre não somos tratados por Deus mais como inocentes, mas como culpados, e culpados precisam ser disciplinados para mudarem de atitude. A pior fase de nossas vidas é quando não temos mais nada de bom a colher, só os efeitos de males que fizemos, todavia, viver essa fase com humildade mudará nossas vidas de forma definitiva, eis a fase mais difícil no hospital da vida. 

Deus me curou do passado

      “Portanto, agora nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus, que não andam segundo a carne, mas segundo o Espírito.” Romanos 8.1

      O mal que mais nos escraviza, nos cega, nos limita, é o passado ruim, nossas identidades acabam sendo construídas de traumas, de ações e palavras que nos trataram injustamente, principalmente em nossas infâncias, quando não tínhamos noção de tantas coisas, e total inaptidão para fazer certas escolhas e assumir certas responsabilidades. Mesmo depois que nos distanciamos fisicamente dos que nos agrediram, os traumas poderão seguir vivos em nossas mentes, nos machucando. Mas que idade define o final da infância dos seres humanos? Isso é muito variável, traumas podem ser tão fortes que podem nos amarrar a uma infância emocional e moral ainda que nossos corpos já estejam desenvolvidos como adultos. Deus, contudo, segue esperando por nós, em amor. 

Deus me atraiu com laços de amor

      “Atraí-os com cordas humanas, com laços de amor, e fui para eles como os que tiram o jugo de sobre as suas queixadas, e lhes dei mantimento.” Oseias 11.4

      Os caminhos que Deus usa para atrair filhos perdidos podem ser inacreditáveis para muitos, por algum motivo, que não é crédito do homem, Deus enxerga no íntimo de alguns uma sinceridade do bem, ainda que esses estejam tendo muita dificuldade para acertar, para achar a felicidade, e a despeito de outros homens enxergarem ou não essa boa intenção. Por isso ele trata certos filhos perdidos com mais cuidado, como enfermos fragilizados, não como criminosos condenados, ainda que outros homens os vejam não como enfermos, mas como criminosos. Dessa forma alguns não vêm pela dor, mas pelo amor, o contrário do ditado, Deus sabe que alguns estão perdidos justamente por falta de amor e se eles o acharem se acharão também, glória a Deus! 

Deus me confrontou com a urgência

      “Conheço as tuas obras; eis que diante de ti pus uma porta aberta, e ninguém a pode fechar; tendo pouca força, guardaste a minha palavra, e não negaste o meu nome.” Apocalipse 3.8

      Deus nos ama, ainda que erremos, mas nos ama muito mais para nos conduzir aos acertos, e chega um momento que o universo urge, não temos mais tempo para insistir numa infância emocional irresponsável, desprezando as virtudes do espírito e envelhecendo o corpo. Dessa forma, com amor, Deus pode permitir que a realidade bata em nossa cara para nos despertar, para acordarmos para seu plano maior, e quem teima demais nos caminhos que se distanciam desse plano pode ser desperto abruptamente, vendo que tem pouco tempo para recuperar o tempo perdido. O amor de Deus só é limitado pela sua justiça, mas mesmo sua justiça pode ser azeitada com sua misericórdia, que nos trata como filhos, não como ímpios, Deus tem urgência em nos amar. 

Deus me deu tempo para amadurecer

      “Não te lembres dos pecados da minha mocidade, nem das minhas transgressões; mas segundo a tua misericórdia, lembra-te de mim, por tua bondade, Senhor.” Salmos 25.7

      Muitos podem nos abandonar e duvidar que nós um dia poderemos ser pessoas melhores, mas Deus segue conosco, como amigo, nos ouvindo, mesmo nossas loucuras, nossas ilusões, nosso prazeres finitos, que só alegram temporariamente o corpo, mas que nenhum bem trazem à alma e ao espírito. Ocorre que precisamos de tempo até para sermos imaturos, se por algum motivo não o fomos no tempo mais adequado, Deus nos dá esse tempo, sim, isso terá um preço, mas se for o único jeito de ganharmos consciência, sensibilidade espiritual e moral, Deus nos dará essa chance. O que é sincero experimentará milagres nesses momentos que só saberá que existiram anos depois, quando for quebrantado, libertado e amadurecer. 

Deus foi meu amigo e conversou comigo

      “Mas eu sou pobre e necessitado; contudo o Senhor cuida de mim. Tu és o meu auxílio e o meu libertador; não te detenhas, ó meu Deus.” Salmos 40.17

      Deus é salvador? Deus é pai? Deus é Senhor? Mas antes de tudo Deus é amigo, e o amigo nem sempre concorda com a gente, nem sempre obedecemos o amigo, e aliás é por isso que somos amigos de certas pessoas, porque não nos sentimos desconfortáveis com eles, acusados ou mesmo bajulados. Numa amizade verdadeira existe uma aceitação sem cobranças, e isso é difícil para Deus, porque nem sempre sermos aceitos como somos nos faz bem, por isso Deus não pode ser só nosso amigo, não para sempre. O pecado precisa ser mostrado para que sejamos limpos dele e andemos no melhor caminho, mas por um tempo podemos provar um Deus amigo, que ainda que estejamos fazendo coisas erradas nos acompanha e espera, sem nos julgar.

Deus respeitou minhas escolhas erradas

      “E o mais moço deles disse ao pai: Pai, dá-me a parte dos bens que me pertence. E ele repartiu por eles a fazenda. E, poucos dias depois, o filho mais novo, ajuntando tudo, partiu para uma terra longínqua, e ali desperdiçou os seus bens, vivendo dissolutamente.” Lucas 15.12-13

      Somos presas não do passado, não dos homens que nos fizeram males anteriormente, não do mundo e nem do diabo, mas só do nosso orgulho, e como somos arrogantes, ainda que escondamos isso jogando a culpa nos outros e nos fazendo de vítimas. Assim Deus nos respeita, permite que façamos escolhas ruins, que depois gerarão efeitos sérios que nos farão sofrer, nesse sofrimento há humilhação, na humilhação há oportunidade de humildade e na humildade há libertação do orgulho, há assunção de pecado como pessoal, há tomada de responsabilidade. Entretanto, é só então que Deus pode começar a trabalhar em nós, retirando as doenças mais profundas, limpando as sujeiras mais íntimas, iniciando a construção do céu em nós. 

Deus me protegeu de mim

      “Porque serei misericordioso para com suas iniquidades, e de seus pecados e de suas prevaricações não me lembrarei mais.” Hebreus 8.12

      Existe prova de amor maior que proteger alguém dele mesmo, da vergonha que alguém possa estar passando sem ao menos ter consciência disso? Pois Deus fez isso comigo, me protegeu de mim, penso que nos meu passado deveria haver um anjo em cada esquina, me livrando do abismo, da morte, e protegendo aqueles com os quais eu me relacionava de dores maiores que aquelas que eu provocava sem ter noção. Quantos de nós nos prendemos a vícios terríveis, que machucam nossos corpos, sujam nossas almas e esfriam nossos espíritos? Quantos de nós passamos por isso sozinhos, muitas vezes envolvidos com igrejas despreparadas para nossas realidades, que nos nos condenam e não nos oferecem oportunidades de cura? Enquanto isso Deus só espera e nos ama. 

Deus me acompanhou com paciência

      “Quando Israel era menino, eu o amei; e do Egito chamei a meu filho.” Oseias 11.1

      Só quem é pai entende mais a seu próprio pai, mas entende ao menos um pouquinho mais a Deus, o pai de amor com uma grandiosa paciência. Que pai perdoa e abençoa ouvindo uma promessa de acerto de vida de um filho, sabendo que no dia seguinte esse filho cometerá o mesmo erro, e de novo, e de novo? Só Deus, e só Deus na verdade é pai, os outros podem ser irmãos mais velhos, patrões, mesmo amigos, mas não pais como o Senhor é. Quando estou sozinho em silêncio, desejando do fundo de meu coração ouvir aquela palavra de Deus que vai me dar paz, a única palavra que eu falo é pai! Ainda que eu não consiga muitas vezes expressar esse amor por atos, que sejam só por palavras emocionadas, Deus, meu pai de amor, me ama. 

Deus se mostrou do jeito que eu podia vê-lo

      “E disse-me: A minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade, pois, me gloriarei nas minhas fraquezas, para que em mim habite o poder de Cristo.” II Coríntios 12.9

      Quem está preparado para ver Deus com ele é? Ninguém e neste mundo, nunca, por isso mesmo ao sincero e crente Deus se mostra aos poucos, e no início é preciso que aprendamos na religião, na tradição dos homens, e ainda que seja no cristianismo dessa tradição humana, nisso temos, sim, muita coisa boa a aprender, principalmente se estamos em igrejas cristãs que ensinam a Bíblia com mais seriedade. Para mim foram tempos antagônicos, minha juventude no corpo trabalhando na igreja, mas minha alma machucada não conseguindo se adaptar e fugindo sozinho em vícios secretos, em minha mente havia sede por coerência, falar e praticar a mesma coisa, ser liberto, antes de tudo, da minha hipocrisia que era suportada pela hipocrisia alheia. 

Deus me salvou

      “Mas agora, assim diz o Senhor que te criou, ó Jacó, e que te formou, ó Israel: Não temas, porque eu te remi; chamei-te pelo teu nome, tu és meu. Quando passares pelas águas estarei contigo, e quando pelos rios, eles não te submergirão; quando passares pelo fogo, não te queimarás, nem a chama arderá em ti.” Isaías 43.1-2

      Deus me amou, me atraiu e abriu meus olhos espirituais para que eu entendesse a relevância de Cristo, não só como um modelo moral, não só como um espírito superior, não só como outra religião, mas como filho de seu amor que por amor encarnou, viveu, morreu e ressuscitou sem pecado, para se tornar meu único e suficiente salvador. Minhas trevas espirituais se iluminaram e vi o caminho reto do Espírito Santo que leva direto ao Altíssimo, era só o começo, muito havia de se processar em mim, para que meu livre arbítrio fosse despertado, sim, porque às vezes no início nem sabemos que temos direito a escolhas, sejam boas ou ruins, muitas vezes achamos que somos só consequências de escolhas dos outros. 

Deus viu minha sinceridade

      “Quanto a mim, tu me sustentas na minha sinceridade, e me puseste diante da tua face para sempre.” Salmos 41.12

      O início de minha juventude, meu primeiro amor, meus encantamentos ingênuos, e minha primeira iniciativa em entender as grandes questões da existência humana, o mundo espiritual, a morte, o divino, Deus via, atentamente, não me julgava pelos caminhos que eu tomava, nos quais eu seguia por serem só o que meus pais tinham me ensinado. Contudo, em amor Deus enxergava minha intenção mais profunda, minhas primeiras preces, minha incursão, ainda que equivocada, numa religião, o Senhor sabia que havia em meu coração boa sinceridade e já se agradava de mim, eu não me acomodava ao pecado, ainda que fosse oprimido por ele, sentia sua dor e queria me livrar dele, por isso Deus me entendeu e mais se mostrou a mim. 

Deus me conhece desde sempre

      “Como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dele em amor” Efésios 1.4

     Em minha infância, quando eu só queria me divertir, brincar, ouvir histórias fantásticas, ser inocente e receber proteção, Deus me amou e me viu, depois, em minha adolescência, quando enfrentava a dor da primeira mudança, aquela que me tiraria da ausência de culpa e me levaria para as primeiras responsabilidades morais, o Senhor se aproximou de mim, respeitando minhas primeiras escolhas sob o livre arbítrio. Depois, enquanto eu estudava para ter uma profissão, e me esforçava para fazer certo aquilo que me diziam que era minha incumbência na vida, Deus cuidou de mim e por mim intercedeu, eu era só um esboço, incompleto e estranho, aos meus olhos, mas o Senhor já me protegia de males que eu nem sabia existirem. 

Deus me amou antes que eu o amasse

      “Nós o amamos a ele porque ele nos amou primeiro.” I João 4.19

      Muito antes que eu buscasse a Deus com inteligência, ainda antes que eu tivesse dentro de mim um desejo de conhecê-lo, antes mesmo que eu soubesse o que é pecado, e o quanto isso desagrada a Deus e me separa dele, Deus me amou, não me vendo com eu era, mas como eu poderia ser, não meu homem físico, emocional ou intelectual, mas meu homem espiritual, totalmente restaurado, curado e limpo pelo Espírito Santo em Cristo Jesus. Deus me amou e agiu, tomou a iniciativa, muito antes mesmo de eu nascer neste mundo, Deus planejou minha melhor versão quando eu não era projeto nem de meus pais, Deus me construiu em seu amor e me quis, me atraiu e me expressou, em sua luz.