terça-feira, dezembro 22, 2020

Amor: às vezes dói...

      “Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.I Coríntios 13.7

      Quem não sabe receber uma palavra não tão delicada sem dar resposta à altura e à queima roupa, nunca aprenderá o caminho do amor. Dar amor de verdade pode doer, principalmente quando é dado a pessoas que temos que conviver mais proximamente e tratar bem, como parentes próximos. Não me refiro aqui a aceitar relacionamento abusivo, não é isso, violência de fato deve ser identificada, corrigida e se não for possível ser retirada, deve ser mantida à maior distância possível. Me refiro, contudo, a relacionamentos comuns do dia a dia, onde ainda assim podemos não ser tratados do jeito que realmente gostaríamos, e que achamos que merecemos visto que tratamos com cuidado, ainda que nossa dificuldade seja mera carência.
      As pessoas da minha geração sabem que nossos pais nos tratavam diferentemente do jeito que filhos são tratados hoje, e me refiro novamente a famílias equilibradas, sem violências, o fato é que nós aceitávamos certas coisas como normais, construímos vidas e valores sobre um já antigo jeito de se criar filhos. Antigamente nós não tínhamos direitos que hoje parecem até bobagens, não levantávamos a voz para os mais velhos, sim, podíamos não concordar e não gostar, mas não reagíamos na cara de quem nos opunha. Eu tentei desde o nascimento de minhas filhas dar a elas o que sinto não ter recebido, assim hoje, com elas já jovens, vejo como me tratam diferentemente do jeito como eu tratava, principalmente, meu pai.
      O lado bom é que essas novas gerações são mais seguras para dizerem o que pensam, não se reprimem, isso é benéfico para elas em muitas áreas. Mas isso não impede minhas filhas, por exemplo, de cumprirem com qualidade suas obrigações como jovens, que na área profissional por enquanto se limitam aos estudos, elas não são mal educadas, respeitam professores e colegas, dão bom testemunho. Contudo, confesso que às vezes tenho que engolir uns sapos, ouvir opiniões e me calar, dando a elas mesmo o direito de errar, afinal não são mais crianças, mas entender que devo amar, abrindo mão de carência que eu mesmo ainda tenho como filho, e o que me fortalece como pai para com Deus construir a quatro mãos seres humanos. 
      Lucas registra que devemos amar ao próximo como a nós mesmos, ao que alguém pergunta a Jesus, mas quem é meu próximo? (Lucas 10.27-29). A palavra próximo nos remete ao pragmatismo tão presente na Bíblia, que nos leva a viver o evangelho na prática de forma objetiva, sem ficarmos viajando em filosofias ou nos orgulhando em caridades à distância. Talvez as pessoas mais difíceis de amarmos sejam justamente aquelas que mais somos chamados a amar, os nossos próximos, não existem pessoas mais próximas a nós que nossos parentes, principalmente cônjuges e filhos. Dessa forma não adianta ser um gentleman na rua, e mesmo na igreja, e ser um estúpido em casa, como dizem por aí, Deus está vendo. 

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