02/10/20

2. Para não pecar

Espiritualidade Cristã (parte 2/64)

      “Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele. Quem crê nele não é condenado; mas quem não crê já está condenado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus.” 
João 3.17-18
      “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que limpais o exterior do copo e do prato, mas o interior está cheio de rapina e de iniqüidade.“ 
Mateus 23.25

      “Todas as coisas me foram entregues por meu Pai, e ninguém conhece o Filho, senão o Pai; e ninguém conhece o Pai, senão o Filho, e aquele a quem o Filho o quiser revelar. Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei.
  Mateus 11.27-28

      Não podemos entrar neste estudo sobre espiritualidade sem pensarmos sobre pecado. Se queremos uma resposta rápida para por que grande parte das pessoas quer ser espiritual é: para não pecar. De maneira geral, na maioria das religiões, espiritualidade é buscada como caminho oposto ao pecado, representando virtudes que vencem as fraquezas da carne. Eu disse na maioria das religiões porque é fato que existem cultos para contato com o mundo espiritual onde santidade não é relevância, nesses faz-se uso de práticas nada limpas, como prostituição, orgias, sacrifícios, para “energizar” seus rituais mágicos (se bem que tecnicamente o termo “religare” nem se aplica a essas religiões). 
      Com certeza não são para terem acesso a Deus e muitos menos a seres espirituais, ainda que não por Cristo, que de alguma maneira prezem por limpeza moral e espiritual, mas ainda que a mídia em geral negue, existem cultos “satanizados”, que acham melhores condições de espiritualidade na sujeira e no mal. No senso comum, contudo, a definição para pecado é isso, cair nas fraquezas da carne, assim muitas religiosidades e espiritualidades estão ligadas à vitória sobre os apetites carnais. Como cristãos sabemos que pecado é mais que isso, leva a um desvio do alvo não só o corpo físico, mas coloca todo o nosso ser, corpo, alma e espírito, em desacordo com o centro da vontade de Deus.
      No texto inicial de João é relatada a trágica condição do homem natural, que antecede ao pecado em si, pior que errar o alvo é já estar passivamente condenado, simplesmente por não se posicionar, “quem não crê já está condenado“. No texto de Mateus está o exemplo dos fariseus, que erraram o alvo exercendo religião, eram ativos na busca do divino, mas por motivos errados, para pousarem como melhores diante dos homens e os dominarem, não para agradarem a Deus e conhecê-lo de verdade. Seja como for, o ser humano não foi criado para o pecado, ainda que tenha livre arbítrio para escolhê-lo, por isso é natural que pecar traga desconforto, culpa que precisa de perdão para ser anulada. 
      Pecado é algo que macula todo o ser: machuca o corpo, suja a alma e esfria o espírito, pensaremos mais a respeito na próxima reflexão. A definição clássica de “pecado” é errar o alvo, assim implica em haver uma iniciativa de seguir um percurso, no uso de um bom esforço, mas que não cumpre o melhor trajeto, ainda que seja o objetivo inicial desejado de quem se esforçou. Isso nos leva a pensar não nos vícios da carne, na busca desenfreada de satisfação dos prazeres do corpo, esses nem seriam pecado como alvo não atingido, mas como algo que não teve nenhum objetivo espiritual, que nem teve início de trajetória. Já é uma condição passiva de perdição, não a causa, mas o efeito final do pecado primal.
      O que chamamos de “pecados da carne” não é o pecado principal, são os efeitos desse, o pecado principal é a tentativa de se viver sem Deus, que erra o alvo, e que tem como consequência a queda nos apetites carnais, na fraqueza moral e espiritual, na morte do espírito. Adão e Eva não pecaram porque quiseram fazer coisas moralmente reprováveis, serem pessoas más e egoístas, adulterarem, não, pecaram porque quiserem ser iguais a Deus. Foi essa a tentação principal que a serpente usou com eficiência (veremos a respeito mais à frente nas reflexões “Três testes para a espiritualidade“), e como consequência eles perderem o rumo de todo o resto de suas existências.
      A prova disso é o fratricídio ocorrido na próxima geração depois deles, que pecado terrível, entre irmãos. Isso nos faz pensar nas religiões, elas, sim, são flechas lançadas para o divino, mas que muitas vezes não chegam a Deus, portanto erram o alvo, assim são pecados no sentido exato da palavra, mais que os “pecados da carne”, são os pecados causais que geram todos os outros. O pecado mais puro tem lugar no espírito, não na carne, vejam os seres espirituais rebeldes, diabos e demônios, eles não têm corpo físico, mas são a expressão mais pura e poderosa do pecado, justamente porque tentam atingir a espiritualidade mais alta sem Deus, ainda que não tenham corpos físicos para caírem nos apetites carnais.  
      Vivemos um momento na história da humanidade onde, talvez como nunca antes, se negue o pecado, e principalmente, a consequência dele, e quem nega a doença, nega o remédio. Na agenda da estratégia final do anti-cristianismo esse é um ponto importante, ao mesmo tempo que agrada ao homem, nega a Jesus, permite que o ser humano faça o que deseja, com quem deseja, onde e quando deseja, sem que tenha que se sentir culpado por isso, em pecado. Se não há pecado, não existe condenação e consequentemente não se precisa de salvação, assim anula-se o cristianismo, nega-se Cristo, desvia o homem definitivamente de Deus, mesmo que tal agenda também pregue coisas boas como tolerância e igualdade.
      O pecado precisa ser repensado, não como a culpa que o catolicismo jogou sobre o homem por séculos, para dominar sobre ele, tradição ruim que o protestantismo dá seguimento, mas como desvio do Deus Altíssimo, o único que pode dar ao homem espiritualidade, o objetivo final de todo ser no universo. Assim, podemos chegar a uma definição final para pecado: é desvio do alvo? Sim, mas não necessariamente fazendo coisas ruins ou erradas, mas simplesmente não caminhando retamente para Deus, pecado é tudo que separa o homem de Deus. Por isso a prioridade do anti-cristianismo final não é pregar o mal, se isso foi em outros tempos, agora mudou, ele prega tudo que é bom e para todos, em todas as áreas.
      Contudo, sem ter Deus como origem e fim, e tendo Jesus somente como mais um homem, bom, sábio, espiritual, mas não um salvador, a solução para o pecado original do Éden é esquecida. O próprio termo anti-cristo já diz tudo, não é contra o amor, contra a justiça, contra a paz, mas contra Cristo, isso basta, e é isso que muitos que insistem em caminhar sem Deus não enxergam, cegos que estão em seus corações orgulhosos que acreditam que podem ser deuses e não adoradores do verdadeiro Deus. Não digo que seja fácil atualmente discernir as coisas, na verdade é difícil e vai ficar cada vez mais difícil, já que o mal prega o bem e aqueles que se dizem do lado do bem cometem equívocos. 
      Por isso é de suma importância que reavaliemos nossas crenças e entendamos o que é de fato espiritualidade, Jesus sempre oferecerá algo superior e exclusivo, os que forem a ele acharão vida que não existe em nenhum outro, só Jesus recebeu de Deus essa vida (Mateus 11.27-28). Mas é preciso que Jesus seja de fato pregado, não prosperidade material, não fé na fé e muito menos um “Deus” fechado na “caixinha” das tradições e do cânone bíblico sem a leitura do Espírito Santo, que só incentiva preconceitos e intolerâncias. Espero que o momento atual, que deu espaço a falsos cristãos principalmente nas lideranças políticas, abra os olhos daqueles que já creram no evangelho e que têm a missão de pregá-lo. 

      Por que quero ser espiritual? Para vencer o pecado, com certeza esse já é um bom motivo, depois podemos ser espirituais para pedirmos a Deus proteção e suprimentos e finalmente conhecimento. Mas por que o pecado é tão ruim, o que ele faz em nós? Ele desarruma todo o nosso ser, machuca nosso corpo, suja nossa alma e esfria nosso espírito, vamos refletir nesses três pontos. 

      “Eis que em iniqüidade fui formado, e em pecado me concebeu minha mãe. Eis que amas a verdade no íntimo, e no oculto me fazes conhecer a sabedoria. Purifica-me com hissope, e ficarei puro; lava-me, e ficarei mais branco do que a neve. Faze-me ouvir júbilo e alegria, para que gozem os ossos que tu quebraste. Esconde a tua face dos meus pecados, e apaga todas as minhas iniquidades.” Salmos 51.5-9

      O pecado machuca o corpo, porque insiste em querer tirar da carne algo que a carne não pode dar, prazer que permanece, daí nascem os vícios. Quantas doenças, físicas e psicológicas, vêm dos vícios da carne, da obsessão por sexo, por bebida, por comida, pelas sensações que elementos químicos dão a carne de euforia, de relaxamento, de delírios. Isso machuca a mente, os pulmões, os órgãos genitais, isso inviabiliza as funções normais dessas partes do corpo, não, um viciado em sexo não dará maior prazer ao seu parceiro, mas menor, e um prazer artificial, dependente de recursos não naturais, de objetos e fantasias, que transformam algo simples e bonito em dor e morte.
      O pecado suja a alma, nosso coração e nossa mente, cria caminhos desnecessários para se obter satisfação, que depois serão difíceis de serem deixados. Uma alma suja vê sujeira em tudo e não se sente mal, com culpa, quando suja inocentes e puros só para conseguir seu prazer egoísta, por isso devassos e depravados, que já não têm identidade, ganham a identidade do pecado que cometem. Um adúltero não é mais um homem ou uma mulher, mas o próprio adultério, assim como o viciado em cocaína, não é mais o ser humano, mas a droga, que anda e vive só para se mantê-la viva. Alma em pecado é cega e surda, a sujeira do pecado a impede de ver e ouvir moralmente.
      A sujeira do pecado espalha no ambiente um “cheiro” desagradável, que nem precisa ser necessariamente físico, um adúltero pode estar sempre banhado e perfumado, mas exala um “cheiro” moral horrível de pecado, que traz repugnância aos que têm sensibilidade de alma, aqueles que não são perfeitos, mas que buscam dia a dia o perdão purificador. Muitos de nós muitas vezes sentimos esse “cheiro” de alma suja, que repito, pode não ter nada a ver com o corpo, de alguém que pode estar usando as roupas caras e perfumes raros, mas pelo Espírito Santo, ainda que não conheçamos tais pessoas intimamente, percebemos que elas têm algo de errado, o pecado, e muitas vezes bem escondido. 
      Diferentemente do corpo e da alma, que podem ser “danificados” pelo pecado, o espírito, sopro de Deus em todos os seres criados à imagem dele, não pode, mas ainda assim é afetado pelo pecado, ainda que não possa ser morto ou sujado. Ele pode estar “mortificado”, e naqueles que têm o Espírito Santo, se o ser está em pecado, ainda que por pouco tempo sem se apossar do perdão de Cristo, pode ser “esfriado”. E como o nosso espírito pode se esfriar, e infelizmente muitos cristãos até se acostumam com isso, isso acontece quando o Espírito Santo de alguma forma é negado, negado não ferido, não vou usar o termo machucado pois o Espírito de Deus não pode ser machucado, mas ele pode se calar em nós. 
      Deus cala seu Espírito em nós para nos disciplinar, faz isso por um tempo, e não existe nada pior para um filho de Deus que estar nessa disciplina. Se a pessoa é de fato convertida se sentirá num deserto sem água pura e fresca para saciar sua sede, sofrerá mais que o não convertido que ainda não sabe da satisfação espiritual que a água viva do Espírito dá. Nós precisamos aprender a discernir essa disciplina, ver quando ela está existindo, aceitar que está ocorrendo porque erramos, para então sabermos onde erramos, buscarmos arrependimento, posse de perdão e então termos um desejo sincero de não errarmos mais. A disciplina de Deus, apesar de doer, conduz à vida, não é uma condenação para a morte.
      Todo espírito, de todos os seres humanos, convertidos ou não a Cristo, no plano físico ou no espiritual, está vivo, ele é eterno, mas só pode ser “vivificado” se ganhar o selo do Espírito Santo, que permite que o ser tenha comunhão com o Altíssimo, o que nos confere vida é estarmos ligados a Deus. Mesmo que conheçamos sobre espiritualidade, que saibamos profundamente os mistérios dos principados e potestades, que tenhamos comunhão com o mundo espiritual, com entidades, com espíritos, se não tivermos sido selados com o Espírito Santo, após um novo nascimento em Cristo, nossos espíritos estarão inabilitados para terem plena comunhão com Deus e direito às bênçãos que só ele pode dar. 
      A melhor eternidade de Deus é um dos direitos exclusivos do espiritualmente vivificado por Deus. O que chamamos de céu, o “ceio de Abraão”, para onde vão os salvos, é a melhor eternidade de Deus, já o que chamamos de inferno, para onde vão os diabos, seus demônios e os seres humanos não salvos, é a pior eternidade. Bem, ambas são de Deus, Deus é dono de tudo e tudo fez, mas alguns “lugares” fez para os humildes que se aproximaram dele e conheceram a salvação única e suficiente de Cristo, outros “lugares” o mesmo Deus fez para os condenados, inicialmente para os seres espirituais das trevas, mas depois para os seres humanos que levarem seus infernos pessoais do plano físico ao espiritual.
      Precisamos entender que o espírito é nossa parte mais importante, é a essência do nosso ser, no plano espiritual seremos o espírito com um corpo transformado. É o nosso espírito que leva nossa identidade eterna, que vai além de tudo que fomos e fizemos em nossa existência passageira neste mundo. Assim, o pior mal que o pecado faz, quando machuca o corpo e suja a alma, é esfriar o espírito, impedindo-o de ter plena comunhão com Deus. Todavia, ainda que nos apossemos do perdão espiritual, nossos corpos podem se machucar de forma irremediável, isso poderemos sentir só na velhice, justamente quando o que mais vamos querer é saúde física para nos focarmos em Deus, assim, cuidemos melhor de nossos corpos. 
      A sujeira da alma, por sua vez, pode levar anos para desgrudar de nós, lembranças e sentimentos ruins, culpas e arrependimentos, devaneios imundos, que podem voltar e nos tirar do foco maior, isso se já não tiverem instalado em nossas mentes doenças psicológicas sérias. Deus nos perdoa, mas nós mesmos e os homens, não, não facilmente. A sujeira da alma talvez seja ainda pior que os machucados do corpo, pois pode se esconder dentro de nós, usar mecanismos complicados que nos enganam e até nos convencem de que ela nunca existiu. Dessa forma, precisamos ser sábios e nos livrarmos do pecado o quanto antes, antes que firam nossos corpos frágeis, e sujem nossas almas, mais frágeis ainda, de maneira permanente.
      O texto inicial é uma oração poderosa, assumindo a gravidade de pecado diante de Deus, não colocando a culpa em mais ninguém, mas se colocando como o único responsável pelo pecado, que rouba a paz e separa do melhor de Deus. Junto dessa assunção vem o reconhecimento de quão santo é Deus, pois essa oração coloca o homem perto de Deus, mas isso é só o começo de uma experiência maior com o mundo espiritual, com o conhecimento dos mistérios do Altíssimo. O verdadeiramente arrependido não imputa ao santíssimo erro por ter sido disciplinado, antes aceita a disciplina com humildade e deseja com todo o coração não pecar mais, esse é o terreno mais fértil para que espiritualidade verdadeira brote. 

“Espiritualidade Cristã”
é um estudo dividido em 64 partes,
por favor, se possível, leia todas as reflexões 
para melhor entendimento do assunto abordado.
José Osório de Souza, 30/09/2020.

01/10/20

1. Para que ser espiritual?

Espiritualidade Cristã (parte 1/64)

      É com muita alegria que compartilho aqui no blog “Como o ar que respiro” um livro original, dividido em sessenta e quatro reflexões, sobre o tema espiritualidade cristã. Procurei pensar no assunto sobre diversas abordagens, seja em relação ao tempo de caminhada do Cristão com Deus, assim falando tanto aos mais novos na fé quanto aos mais maduros, seja em relação ao espaço físico de prática de espiritualidade, dentro dos templos ou no mundo. Também abordei um aprofundamento do tema em relação aos ensinos mais tradicionais sobre o que é espiritualidade cristã, isso é algo que na visão que tenho no Esprito Santo falta aos cristãos para que tenham de fato uma existência, ainda que no plano físico, localizada espiritualmente nas regiões espirituais mais elevadas em Cristo, onde há cura para toda dor e resposta para todo questionamento. Que essa leitura possa te fazer reavaliar muitas coisas, mas que ela possa, na prática e não na filosofia de seus ensinos, te trazer paz. O Deus Altíssimo abençoe a todos em amor. 

      “E Jesus disse-lhe: Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento. Este é o primeiro e grande mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas.” Mateus 22.37-40

      A orientação máxima, segundo a Bíblia, para que o ser humano tenha uma vida de qualidade está contida no texto inicial, amar a Deus acima de tudo e depois ao próximo como a si mesmo, quem ama a Deus obedece-o e quem ama o próximo como a si respeita-o, só isso deveria bastar para que vivêssemos em sociedade com justiça igual para todos, de maneira honesta e sem qualquer espécie de violência ou intolerância. Isso representa o cerne de espiritualidade que antigo e novo testamento ensinam, que a velha aliança de Israel propôs, mas que só foi possível a toda a humanidade viver de fato através do evangelho, o nascimento, a vida, a morte e a ressurreição do filho de Deus sem pecado salvando o mundo.
      A Bíblia é acima de tudo um texto religioso prático, pouco se fala do mundo espiritual, do diabo e mesmo de anjos, apesar de muitos amplificarem o pouco que é falado, ela ensina como se viver na Terra, com os pés no chão. No antigo testamento mantendo a nação de Israel fiel ao Deus que prometeu guarda-la pela promessa inicial a Abraão, e deixando as outras nações em paz, com suas crenças e deuses, desde que não tocassem o território original dos israelitas. No novo testamento a orientação de Jesus, de Paulo, de João, de Pedro e de outros é clara, não se metam com política ou com os costumes sociais vigentes, aceite-os e seja bom dentro de seus sistemas que Deus os guardará.
      Isso pode parecer resignação demais, mas isso é o evangelho, não o uso tão equivocado da frase “feliz a nação cujo Deus é o Senhor” que muitos utilizam hoje em dia no Brasil, uma orientação para Israel física e não para o reino de Deus espiritual da nova aliança. Mas se quisermos resumir espiritualidade segundo o centro do ensinamento bíblico em uma palavra, a palavra é Jesus. Se estudarmos não só o que Cristo fez para salvar humanidade, que já bastaria para que sua missão fosse cumprida, mas como ele se relacionava com as pessoas, não pelos discursos, mas pelas entrelinhas de suas amizades e reações diante da hipocrisia dos fariseus, saberemos o que é ser espiritual para Deus, de maneira simples e precisa. 
      A verdade é que o termo espiritualidade não é comum na Bíblia, seja na velha aliança de Israel, seja na nova aliança do evangelho, muitos evangélicos, quando usamos o termo, pensam em “espiritismo”, isso porque o cristianismo católico e protestante, se fizermos uma avaliação honesta, representa bem a visão de “religare” ocidental (religar o homem com Deus em latim). No ocidente a grande maioria trabalha seis dias por semana na vida secular e separa só o domingo para a religião, a visão oriental é diferente, nela o ser humano tem uma relação dia a dia com o divino. 
      Enquanto o cristianismo visa uma relação com Deus mais para ter uma vida material decente, com a sociedade, com os bens, as religiões orientais pensam no mundo espiritual e visam a eternidade, ainda que sacrificando vida material. Dessa forma, o termo espiritualidade, é muito mais ligado à religiões esotéricos, espiritualistas e orientais, que ao cristianismo, honestamente a Bíblia fala mais desse mundo que do outro, principalmente no antigo testamento. Mas mesmo no novo testamento, ainda que vise um reino de Deus no coração do homem não na Terra, a eternidade é definida como céu e inferno, mais nada, sem detalhes ou outras gradações, ser espiritual é ser salvo e batizado, quase que na prática bastando isso.
      O movimento carismático, que se renovou relativamente há pouco tempo no cristianismo, começo do XX, ainda que tenhamos registros de grandes pregadores com experiências de milagres nos séculos XVIII e XIX, deu mais ênfase ao termo à medida que espiritualidade começou a ser aliada a dons espirituais. Até então espiritualidade era mais ligada à negação dos prazeres físicos nas ordens católicas, e a um conhecimento intelectual da Bíblia, esse mais exclusivo de sacerdotes e realeza, que podiam estudar mais. A grande maioria do povo não sabia ler e muito menos tinha acesso à Bíblia, cerimônias católicas eram celebradas em latim e o louvor era exclusivo dos corais. 
      Foi o protestantismo que entregou ao cristianismo uma religião mais democrática, menos mística e acessada por fé, não por compra de indulgências, o que fazia de muitos escravos e de poucos com direitos por serem ricos materialmente, não por ser espirituais. O termo espiritualidade no meio cristão tem ganhado nova leitura atualmente, quando revemos as tradições que não funcionaram antes só levaram à hipocrisia e ao materialismo, temos voltado ao evangelho primitivo onde não basta parecer cristão, temos que ser interiormente e isso é espiritualidade. 

      Após essa introdução, propomos uma pergunta: para que ser espiritual? É sobre esse assunto que refletiremos num estudo assim dividido: 

01. Para que ser espiritual?

02. Para não pecar 
03. Para ter prosperidade material
04. Para não ir pro inferno
05. Para entender a eternidade 
06. Para ter o poder de Deus 
07. Para conhecer os mistérios espirituais
08. Para ter vitória numa guerra 
09. Para vencer um inimigo
10. Para cumprir uma missão

- Princípios básicos 

11. Pecado se vence com vontade!
12. Deus é Espírito 
13. Somos templos do Espírito 
14. Espiritualidade e unção 
15. O Espírito Santo é espiritualidade 
16. A espiritualidade dos primeiros cristãos 
17. Uma espiritualidade gradativa 
18. Espiritualidade e o tempo
19. Tempos: de salvação, de galardão
20. Espiritualidade conforme tua fé

- Início da caminhada 

21. Espiritualidade do profeta
22. Espiritualidade é obedecer a vocação maior 
23. O que Deus tem e o que não tem para nós 
24. Espiritualidade gera santidade, humildade e amor
25. Espiritualidade exercida com amor 
26. Espiritualidade exercida com sabedoria 
27. Humildade: opção ou obrigação?
28. Humildade: único jeito de crescer 
29. Humildade: condição para libertação  
30. Espiritualidade para os olhos de Deus
31. Espiritualidade é mudança

- No mundo 

32. Espiritualidade de Cristo 
33. Espiritualidade e vitimismo 
34. Espiritualidade e crítica
35. Espiritualidade e hipocrisia
36. Espiritualidade e obras
37. Espiritualidade e liberdade 
38. Espiritualidade e arte 
39. Espiritualidade e bebidas alcoólicas 
40. Espiritualidade e sexo 
41. Espiritualidade e o planeta
42. Espiritualidade e a mídia

- Indo além 

43. Rádio espiritual 
44. Atraídos pelo Espírito Santo
45. Ouça o Espírito 
46. Comunicação espiritual 
47. Já perguntou a Deus?
48. Espiritualidade e meditação 
49. Nos lugares celestiais em Cristo 
50. Espiritualidade de graça 
51. Adoração, porta para espiritualidade 
52. Permaneçamos no amor de Deus 
53. Três testes para a espiritualidade 

- Evolução?

54. Onde está teu Deus?
55. A verdade sobre o mundo espiritual
56. Espíritos 
57. Sigamos para o Altíssimo 
58. Evolução espiritual 
59. Causa e efeito 
60. Alfa e Ômega
61. Surpresas na eternidade  
62. Prossigamos em conhecer a Deus
63. Conhecimento é vida 
64. O que é ser espiritual? 

      Acompanhe nas próximas postagens o estudo, “Espiritualidade Cristã”. 

José Osório de Souza, 30/09/2020

30/09/20

O melhor possível

      “E, se o teu olho te escandalizar, lança-o fora; melhor é para ti entrares no reino de Deus com um só olho do que, tendo dois olhos, seres lançado no fogo do inferno, onde o seu bicho não morre, e o fogo nunca se apaga.Marcos 9.47-48

      Um dos segredos de felicidade é aceitar em paz que muitas vezes não podemos fazer o melhor, ainda que o conheçamos e o queiramos, assim o possível se torna a única saída, que ainda que não mostre para os outros aquilo que realmente somos ou queremos ser, é o que de fato podemos ser. Se não tivermos a humildade para aceitar essa realidade poderemos seguir num conflito interno que acabará nos mostrando de um jeito pior ainda, manifestando nossas fraquezas para quem não nos ama ainda que não assuma isso e só espera uma brecha para nos difamar ainda mais. Dar prioridade para a paz interior tem um preço, mas compensa, e deixa-nos com tempo sobrando para o que realmente importa. 
      Novamente lembro o ensino, também presente no texto inicial, no qual tenho achado orientação para tomar certas atitudes, principalmente relacionadas à exposição social, seja na vida real e mais ainda na virtual, visto que essa tem ganhado muita relevância nos dias atuais. Traduzindo é o seguinte: se não temos forças para administrar da melhor maneira a opinião que os outros têm sobre a nossa opinião, é melhor não expormos nossa opinião, não para todos. Por outro lado, se alguns não têm a coragem de se afastarem de nós, ainda que não nos amem, tenhamos nós a coragem, para o bem de nós mesmos, continuar com certas coisas só pra manter aparências não leva a nada e só rouba nosso tempo.
      Mas sigamos em paz, perdoados e perdoando, sem mágoas ou vinganças, quem de fato se encontra em Deus descobre em si mesmo alguém especial, forte, não fraco, sincero, não falso, íntegro, não dividido, Deus não fez ninguém menor, todos podemos ser felizes e singulares, desde que sejamos humildes. Algumas coisas podemos resolver, outras não, algumas pessoas nos amarão sem fazer força, outras se esforçarão para achar o nosso pior e divulgar isso, algumas coisas teremos que levar conosco, não como erros indesculpáveis, mas como provas que temos que confiar antes e mais em Deus, não em nós mesmos ou nos homens. Mas trabalhemos até o fim, para sermos o melhor possível. 

29/09/20

Deus está atento

      “Os olhos do Senhor estão sobre os justos, e os seus ouvidos atentos ao seu clamor.Salmos 34.15

      Que versículo mais lindo esse, entendo por ele que se eu precisar de uma palavra de consolo Deus me responderá, porque na verdade ele está sempre pronto para ouvir o “justo”. Contudo, tenho medo de usar a palavra “justo”, eu não sou justo, nunca houve um justo na Terra, a não ser Jesus, melhor é usar o termo justificado, justificado por Cristo, ele nos torna justos porque ele pagou o preço para sermos justos, ele nos justificou em sua obra de redenção. Em Cristo Deus nos vê como justos, e isso é algo maravilhoso, por isso em Cristo o Altíssimo está ligado a nós, pela presença de seu Espírito, nessa comunhão Deus está sempre perto, sempre atento, sempre pronto para nos dar uma palavra de amor que nos entrega paz. 
      Quando estamos bem nem nos preocupamos em dimensionar a distância de Deus, contudo, quando nosso coração aperta e nossa alma se sente só e desprotegida, como ficamos sensíveis, só um abraço apertado fará com que nos sintamos amparados, ouvidos, importantes. Deus nos abraça pelo seu Espírito, nos olha de perto e ouve mesmo nosso sussurro em meio às lágrimas que às vezes nem forças têm para subirem do nosso interior, ficam lá, engasgadas, reprimidas, silenciosas, o tempo pode fazer isso conosco. Mas Deus se aproxima de nós, imutável, Deus nunca desiste de nós, ele não é homem, ele é o amor na essência e têm o bem em seu íntimo reservado para os justos que precisam dele e de mais ninguém.

28/09/20

Quem conhece, confia

      “Em ti confiarão os que conhecem o teu nome; porque tu, Senhor, nunca desamparaste os que te buscam.” Salmos 9.10

      Conhecemos a Deus, de verdade? Quando conhecemos alguém confiamos nesse alguém, é assim com amizades e com nossos cônjuges, esses últimos temos a obrigação de conhecer e bem, senão não estamos de fato casados com eles. Conhecemos convivendo, dialogando, muito, de perto, aprendendo não aquilo que os outros sabem, as superfícies, mas profundamente, intimamente, se não se conviver e muito não se pode conhecer de verdade. Se conhecemos, podemos confiar, e em se tratando de nossos parceiros afetivos mais próximos, não haverá nisso espaço para ciúmes ou medos, quem conhece para amar, não teme. 
      Contudo, como muitas vezes, na prática, agimos com Deus como se não o conhecêssemos de fato, duvidando de sua boa vontade para nós, por mais que já tenhamos provado de sua amizade tão querida. Quantas vezes não buscamos a Deus, numa situação onde nos parecia impossível uma solução, e Deus nos deu paz? Não, nem sempre Deus disse sim, nem sempre disse não, muitas vezes disse espera, mas essa experiência nos dá uma certeza, Deus nunca desampara os que o buscam, nunca. Se nos aproximarmos com fé, com humildade e com paciência, ouviremos a voz do Senhor e seremos consolados por ele, sempre.

27/09/20

Paz

      “Mas aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito. Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como o mundo a dá. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize.João 14.26-27

      Paz, o bem mais procurado, mais caro, mas raro, pelo menos depois que o prazer carnal é satisfeito, passou a falsa paz e ficou o vazio, o vazio sem ar e sem chão que afoga a alma. O ser humano é ambíguo, desde cedo aprende que a paz que fica é insubstituível, mas passa a vida tentando substituí-la por prazeres que só dão paz temporária. Sua alma é um mar profundo que frequentemente se move violentamente, sofre tempestades, são as ansiedades, as curiosidades, os desejos, assim o homem tenta navegar sobre as águas, dominá-las do seu jeito. Ele deseja um barco, o constrói, pagando às vezes preços caros por ele, e num determinado momento ele consegue, com o barco pronto, flutuar e se mover sobre as águas. Primeiro ele sente um grande prazer por isso, depois uma paz, contudo, que dura pouco, o mar revolto é traiçoeiro e logo desequilibra o barco que submerge, é então, só então, que o homem pede socorro, socorro a Netuno. 
      Netuno, o deus das águas, diz que pode acalmar o mar e fazer com que o homem ande sobre elas, alguns homens despendem uma fé tão grande que chegam a caminhar sobre o mar, mas esses dão suas almas em troca de algum tempo a mais de vida do corpo. É só quando as forças terminam e o homem afunda, profundamente no mar, que alguns, com humildade, buscam ao Deus verdadeiro, esse não oferece uma saída sobrenatural, mas ensina o homem a nadar. O Deus verdadeiro faz uma sociedade com o homem, parte do trabalho ele faz e parte faz o homem, os “netunos”, não, não fazem nada, deixam o homem fazer tudo sozinho, mas requerem do homem enganado adoração por isso. Com suas próprias forças, mas crente no ensino de Deus, os humildes persistentes nadam até terra firme, e lá acham finalmente a paz. 
      A primeira vez que o homem pisa essa terra prometida é como um sonho bom, é quando o homem prova a paz por mais tempo na vida. Um momento assim terá talvez só na velhice, quando a alma se cansar de iludir, quando o homem não sentir mais prazer nela, mas permanecer em Deus. Todavia, mesmo os que já aprenderam a nadar e já acharam terra firme, ainda são seduzidos pelo mar, podem se lançar nele, esquecerem que sabem nadar e tornarem a construir barcos, que novamente lhes darão um prazer imediato, uma paz passageira e novamente um final infeliz no fundo das águas. Pela misericórdia de Deus, esses se lembrarão que já aprenderam a nadar e que existe terra firme, mas perderam um tempo precioso com a ilusão do mar e do barco. Ainda que o espírito esteja pronto, tenha aprendido sobre nadar e que existe terra firme, a alma humana sempre será um mar tempestuoso e tentador. 
      Viver é aprender a não confiar na alma, no mar de emoções e pensamentos presos ao plano físico, ao corpo, à carne, mas confiar na paz que permanece e que está na terra firme que é a vontade de Deus. O que será a eternidade? Um grande mar de águas espirituais, nele, sim, poderemos estar sem nos afogar, andar sobre ele ou ir até o fundo, na verdade “o que está embaixo é como o que está em cima”. O sábio, contudo, aprenderá a respeitar os limites, não dos universos ou de Deus, esses não têm limites, mas dele, humanos, de acordo com o plano em que está. O que buscam ao Deus altíssimo saberão, ainda que na carne, sonharem com o mar espiritual, o desejarem, se prepararem para ele, mas com os pés firmados em terra firme, enquanto vivendo neste mundo, esse é o segredo da paz que permanece.
      Aprender a nadar é entender Jesus como único e suficiente salvador, alcançar a terra firme da melhor vontade de Deus e poder viver nela, mas tenhamos cuidado, as religiões, incluindo as cristãs, podem oferecer ao homem não o que ele precisa, mas o que ele quer, para poder manipula-lo. Muitos homens rebeldes à vontade de Deus buscam mesmo em igrejas cristãs palavras convenientes e doces aos ouvidos, assim “netunos” existem não só na idolatria, nos “espiritismos” ou no esoterismo, mas também em muitas igrejas que se intitulam evangélicas. Essas pregam fé na fé, dizimolatria e Canaã neste mundo, desses “netunos” devemos fugir, ainda que a princípio suas palavras de saídas sobrenaturais pareçam tão sedutoras, esses parecem sob ordens de Deus, mas obedecem seus próprios corações, e quem leva a glória por isso, sem fazer nada, é o diabo.
      Jesus viveu como homem comum, fez milagres por amor e principalmente para convencer um povo, enganado por uma religiosidade de aparência exterior, que basta fé nele para alcançar salvação. Se o povo de fato vivesse a fé na nova aliança em Cristo, talvez muitos sinais não precisariam ser feitos, ao contrário do que muitos pensam, ver sinais não é para os fortes mas para os fracos, que precisam ver para crer, e ver curas e vitórias materiais, não espirituais. Os sinais que de fato agradam a Deus são um espírito humilde e misericordioso, numa vida simples e em paz. Jesus, com todo o seu poder de Deus, não fugiu da cruz, mas nadou com as forças humanas até cumprir o plano divino para sua vida, o plano que nos permite posse do reino de Deus em nossos corações e uma paz de espírito que não tem fim. 

26/09/20

Roubo por trabalho honesto

      Muitas vezes podemos estar trabalhando honestamente e muito, mas ainda assim estarmos cometendo um roubo, à medida que precisamos ganhar mais dinheiro para pagar um estilo de vida que não era para ser o nosso. Eu disse trabalho honesto e também não disse um estilo de vida que não é para ninguém ter, mas que pode não ser para nós, eu e você, termos. Nessa desobediência, que se constitui um roubo já que obtemos algo que não é para nós, perdemos tempo, saúde, oportunidade de ser nesta existência alguém de fato melhor, espiritual. Mas a quem roubamos, a Deus? Não, Deus não perde com isso mas fica impedido de dar, enquanto nós roubamos a nós mesmos e até a outros. 
      A nós mesmos porque usamos nossa existência com a finalidade errada, sonegando de nós a oportunidade de ganhar coisas mais importantes, e importantes não de acordo com o mundo, com os homens, mas de acordo com o plano maior e melhor do Altíssimo. Mas podemos estar roubando também aos outros, por duas maneiras, por estarmos ocupando um tempo e uma energia só com nossos interesses deixando de usar esse tempo e essa energia para dar atenção a outras pessoas, e por estarmos fazendo, ainda que de maneira honesta, algo que outro deveria estar fazendo, portanto roubando o lugar desse, a chance desse desempenhar seu melhor e ser feliz com o que pode de fato ter.
      Não entendeu ou não concordou com esse raciocínio? Eu não me refiro aqui a buscar e ter uma vida material e financeira digna, para nós e para nossas famílias, mas em ir além disso e ir sem de fato ter um aval de Deus. Alguns podem argumentar, “mas estou trabalhando honestamente, me esforçando”, a esses podemos perguntar, mas para quê? Para ter dois carros ao invés de um? Para pagar viagem de férias ao exterior ao invés de para o Brasil? Para vestir grife ao invés de em magazines? Para comer nouvelle cuisine ao invés de self-service? Enfim, para luxos e excessos que muitas vezes nunca foram o normal de nossa criação, mas que queremos só para nos exibir socialmente.
      A questão não é nem ter ou deixar de ter, ser rico ou ser pobre, usufruir luxos ou não, o problema não está nas coisas e no corpo que as consome, mas no coração e no espírito, o quanto o melhor, o mais caro materialmente importa para que nos sintamos satisfeitos ou realizados. Se só nos sentimos felizes com algo que vai jogar na cara dos outros que é mais caro que aquilo que eles têm, só para que nos sintamos superiores a eles, então temos um problema, deixamos de querer para nos satisfazer e queremos só para satisfazer referências dos outros. Assim não vivemos só para nós, mas para os outros, e dessa maneira mais longe ainda de viver para Deus, visto que Mamom (Mateus 6.24) se tornou nosso deus.
      Infelizmente na maior parte das vezes, se não em todas, quem tenta fazer mais que precisa, quer ser e ter para mostrar para os outros, não para ser feliz. É diferente de quem nasceu num lar com um padrão financeiro alto e se acostumou desde cedo a coisas caras, não que esse não possa cair na tentação de viver para os outros e de gastar a vida para ter e ser mais do que de fato precisaria para ser feliz, mas esse a princípio não tenta ser o que nunca foi. Concluindo, como temos gasto nossas vidas? Fazendo o suficiente para ter uma vida material digna e usando o resto do tempo para nos preparar para a eternidade? Ou sendo escravos de aparência exterior e dos valores físicos dos outros? 
      Que não sejamos condenados no último momento por roubo, ainda que achemos que estamos sendo hoje trabalhadores honestos e esforçados. “Não temais, ó pequeno rebanho, porque a vosso Pai agradou dar-vos o reino. Vendei o que tendes, e dai esmolas. Fazei para vós bolsas que não se envelheçam; tesouro nos céus que nunca acabe, aonde não chega ladrão e a traça não rói. Porque, onde estiver o vosso tesouro, ali estará também o vosso coração. Estejam cingidos os vossos lombos, e acesas as vossas candeias.” (Lucas 12.32-35). Que sejamos encontrados no juízo não com as contas bancárias cheias, mas com os lombos cingidos e com as candeias acessas, plenos do Espírito Santo e moralmente fortes.

25/09/20

Quem dentre nós habitará com o fogo consumidor?

      “Os pecadores de Sião se assombraram, o tremor surpreendeu os hipócritas. Quem dentre nós habitará com o fogo consumidor? Quem dentre nós habitará com as labaredas eternas? O que anda em justiça, e o que fala com retidão; o que rejeita o ganho da opressão, o que sacode das suas mãos todo o presente; o que tapa os seus ouvidos para não ouvir falar de derramamento de sangue e fecha os seus olhos para não ver o mal. Este habitará nas alturas; as fortalezas das rochas serão o seu alto refúgio, o seu pão lhe será dado, as suas águas serão certas.Isaías 33.14-16

      As pessoas não precisam viajar até o Sol, com naves e roupas especiais, para sentirem seu calor. A energia desprendida do astro rei é tão forte que mesmo a milhares de quilômetros dele podemos sentir seu calor e sermos beneficiados por ele, na verdade, todo o planeta Terra, flora e fauna, depende desse calor, a maior fonte de energia nosso plano físico, e ainda não aproveitada da maneira mais eficiente. Nenhuma comparação é perfeita, mas isso talvez não ajude a entender a influência positiva que podemos ter com as pessoas, é preciso cuidado , educação, respeito, elegância, para abençoar as pessoas. 
      Se nos aproximarmos demais podemos “queimá-las”, ninguém na verdade está preparado para a verdade plena de cada um, só Deus para nos olhar de perto, nos conhecer, não se escandalizar, e ainda assim enxergar algo bom em nós. Por outro lado, ter que fazer concessões demais para se aproximar de alguns, construir “naves” e “trajes” caros e sofisticados para estar próximos a eles, tomando um cuidado danado para não se queimar, também não vale a pena, que cada um administre seu próprio “fogo” e o use como achar melhor, colhendo com responsabilidade as consequências disso. 
      Mas acho que todos nós somos estrelas incandescentes, podemos construir e destruir com um toque, com uma palavra, por isso tantos se mantêm distantes, talvez não sejam tímidos ou covardes, mas sábios, talvez os corajosos e impulsivos é que sejam irresponsáveis e sem noção. Mas quem consegue ser o que não é ou fugir do próprio destino? Às vezes passamos a vida lutando contra tendências pessoais que ao mesmo tempo são nossas bênçãos e nossas maldições, nosso melhor e nosso pior, que nos fazem conquistar com uma mão e perder com a outra. 
       Só o tempo para nos levar ao equilíbrio, na maneira como agimos e como reagimos, como nos aproximamos e como respondemos a quem se aproxima de nós, mas a Bíblia nos orienta que ouvir é melhor que falar, que esperar é mais sábio que agir, que aprender é mais sensato que ensinar, que ser discípulo ensina mais que ser mestre. Assim, seja como o Sol, distante, mas quente, imenso, mas parecendo pequeno aos olhos de muitos, não fazendo força para ser, mas sendo, sempre fazendo bem, iluminando, esquentando como o calor certo, sem “queimar” ninguém.
      O texto inicial, contudo, nos revela que alguns poderão habitar no “sol” e não serão queimados, esses são os amigos íntimos de Deus, filhos que foram além da religião e buscaram pelo Espírito Santo os mistérios do Altíssimo. Esse “sol” é o Altíssimo, fogo consumidor que arde, ilumina, mas não consome, não os purificados no sangue do cordeiro Jesus. O mal foge dos que ardem nesse fogo, os espíritos das trevas e mesmo possessos em algum nível pelo mal, esse “sol” só se pisa em santidade, com persistência e humildade, nele somos protegidos e supridos de forma especial. 

24/09/20

Deus te ama!

      “Assim como um pai se compadece de seus filhos, assim o Senhor se compadece daqueles que o temem. Pois ele conhece a nossa estrutura; lembra-se de que somos pó. Quanto ao homem, os seus dias são como a erva, como a flor do campo assim floresce. Passando por ela o vento, logo se vai, e o seu lugar não será mais conhecido.” Salmos 103.13-16

      Muitos não querem amar, e como consequência não permitem que sejam amados, por homens mas até por Deus. Negar o amor de Deus é afastar-se de seu perdão, o fruto nobre do amor é o pleno perdão, sem perdão segue-se com o pecado para depois inventar desculpas para negar sua existência. Os que não experimentam o amor de Deus fatalmente chamarão o pecado de outros nomes, arrumando desculpas para continuar pecando, esses têm medo de se aproximar de Deus e serem amados. Por quê? Porque o amor desarma.
      Desarmados temos que enfrentar a realidade de uma outra maneira e nos reposicionarmos, contudo, isso é um processo que se tem que ser humilde para vivenciar, numa nova disposição que assume dependência de Deus. Nessa dependência ganhamos liberdade e amor, mas precisamos aceitar os valores de Deus, que ainda que sejam mais elevados muitas vezes não nos colocam na evidência que gostaríamos de ter neste mundo e diante dos homens. O amor de Deus aproxima, perdoa, desarma, transforma e nos dá novos valores. Só ama quem amado foi!
      A verdade é que não podemos entender o amor de Deus, eu não consigo entender o porquê do Senhor me amar tanto e há tanto tempo, mesmo quando eu não sabia, mesmo quando eu sabia mas não agia de acordo. O segredo, contudo, está em não entender, se entendermos é porque achamos o motivo dele nos amar, que equivocadamente pode ser porque nós merecemos esse amor, e nós nunca merecemos. Dia a dia nossos atos confirmam nosso desmérito, mas a iniciativa do Senhor também é vista pelos que querem ver, na insistência de nos amar.
      Deus rega a flor no início de um dia, espera-a crescer, alegra-se com ela ao meio-dia no apogeu de sua beleza, para depois vê-la murchar no ocaso e secar-se na noite. Ainda assim o Senhor tornará a regar a flor, na alvorada de um novo dia, e novamente o processo ocorrerá. Deus é jardineiro persistente, sabe que somos fracos, pó, por isso é tão paciencioso e nunca exige de nós mais do que podemos suportar, ainda que nós mesmos e os outros exijam. Essa delicadeza de nos tratar como delicadas flores, que encantam por tão pouco e a custo de tanto, é o amor de Deus, quiçá tivéssemos a mesma delicadeza para amar os outros. 

23/09/20

Deus me ama?

      “Pois o mesmo Pai vos ama, visto como vós me amastes, e crestes que saí de Deus.João 16.27

      Se quer saber se Deus te ama, e o quanto ele te ama, lembre-se, depois de você ter se convertido e recebido o selo do Espírito Santo, de todas as vezes que você, mesmo já salvo e tendo experimentado a presença maravilhosa do Senhor e a paz singular que se tem através do perdão por Cristo, ainda assim pecou, sujou o templo, foi infiel, trocou o eterno pelo passageiro, o real pela ilusão. Mesmo assim, teu pai espiritual, santíssimo e perfeito, te atraiu para o arrependimento e te perdoou, dando-te de novo a alegria da salvação, te enchendo do Espírito Santo e te levantando diante dos homens.
      Deus não te abandonou e te aceitou, e isso aconteceu muitas vezes, apagando teu pecado dos “livros divinos”, te tratando como se nada tivesse acontecido, só porque você creu que em Jesus há perdão. Isso é amor sem fim, que gosta e protege sem segunda intenção, que é fiel para com o infiel, forte com o fraco, aceitando-o e nunca humilhando-o ou acusando-o. Se tem algo que você pode ter plena certeza é que Deus te ama, se for humilde e crente nele entenderá isso, de todo o coração, e será consolado, terá forças para se por de pé e seguir em frente, com esperança e em paz. Deus te ama!
      Mas se quer saber mais sobre o amor de Deus, compare-o com o teu, com o que você dá às pessoas. Via de regra amamos quem nos ama, ou mais, quem de fato gostamos e que nos dá aquilo que queremos receber mesmo quando erramos e não nos arrependemos. O amor humano é sempre conveniente, é sempre “toma lá dá cá”, não é de maneira alguma sacrificial, e se se sacrifica muitas vezes é de forma doentia, tentativa de amar alguém mesmo sendo maltratado por esse alguém. Esse falso tipo de amor faz mais mal que bem, de alguns temos mais que nos afastar mesmo, é o melhor que podemos fazer.
      Deus, contudo, não age assim, com nenhum ser humano, neste mundo está sempre disponível para mudar a vida de alguém, mudança que começa nesse mundo e vai até à eternidade. Nesse mundo Deus é salvador para os ímpios, pai para os filhos rebeldes, Senhor dos servos abnegados e amigo dos verdadeiros profetas, que o buscam com intimidade. Na eternidade é irmão dos que o escolheram seu amor e juiz dos que não escolheram. São as várias facetas de um amor único, maior, eterno, que é mais que uma virtude ou um sentimento, mas a essência da espiritualidade mais alta e iluminada. Deus é amor!
      Talvez no final de nossas vidas, quando nos livramos das vaidades, de querer dar a última palavra, talvez nesse momento conseguimos amar mais proximamente à maneira como Deus ama, talvez velhos e cansados conseguimos dar sem exigir nada em troca, deixar que os outros brilhem mais do que nós. O amor entre homens é basicamente isso, deixar que o outro brilhe forte, sem impedir isso, sem invejar isso e promovendo isso. Deus vê nosso potencial de iluminação ainda quando somos trevas, nos redime e nos coloca num lugar especial para que brilhemos, esse é o objetivo prático do amor de Deus.

22/09/20

O que as pessoas nos levam a ser?

     “Porque Jesus mesmo testificou que um profeta não tem honra na sua própria pátria.” João 4.44

      Por que com algumas pessoas é tão fácil sermos o nosso melhor, enquanto que com outras parece que somos sempre levados a ser piores? Bem, em primeiro lugar é preciso admitir que se fôssemos perfeitos já não estaríamos mais aqui, e em segundo lugar precisamos aceitar que por algum motivo, que Deus o pai de todas as almas sabe, as pessoas que mais nos incomodam são nossos familiares mais próximos, justamente aqueles com os quais temos que conviver mais assiduamente e mais proximamente. 
      Todavia, são críticos próximos que exigem de nós mais atitude de amor e de profunda humildade, e eles existem em nossas vidas para isso, acredite e não fuja desse confronto, vivencie-o em Deus e será alguém melhor ainda que aquele que você acha que é, com os que você não precisa se esforçar para ser. Deus sabe o que faz, o reconheçamos em nossos caminhos e teremos vitória. Uma coisa é certa, somos confrontados com a descrença e desonra para aprendermos a seguir para Deus, isso é o que nos empurra para frente. 

21/09/20

Por que as pessoas caem?

      “A soberba precede a ruína, e a altivez do espírito precede a queda.Provérbios 16.18

      As pessoas não caem porque erram, muitas neste mundo ainda que errem e não se arrependam, não sofrem grandes tropeços, pelo menos nesse plano. O que leva às quedas, contudo, é a arrogância, principalmente quando se joga publicamente na cara dos outros que se é intocável, que nunca errou ou ainda que tenha errado não será julgado por isso. O homem pode enganar a si mesmo, até a outros homens, mas não tente ele ludibriar a justiça, desdenhar do juízo, desprezar o juiz, não se ache ele deus pensando que nunca erra e tentando construir neste mundo obras de justo, defendendo uma reputação mentirosa como correta, usando isso para enganar e se apossar do que nunca foi ou será seu. 
      Quem lhe será juiz nesse caso? Nem será Deus em pessoa, mas os semelhantes de tal homem, principalmente seus opositores, esses o odiaram por ter se mostrado como melhor, como moralmente diferente, quando não era. Melhor teria sido para ele aliar-se aos errados, ser amigo dos pecadores, fazer alianças, como fazem todos que querem algum poder nesse mundo. Ele escaparia do juízo de Deus? Não, mas nesse mundo poderia ter alguns anos de glória, já que ainda que errado teve certa “humildade”, errou mas não foi arrogante. Não, as maiores vergonhas neste mundo não passam os pecadores, todos somos pecadores, mas os loucos que se colocam acima da justiça e não fazem alianças com seus semelhantes.

20/09/20

Ore mais!

      “Se vós estiverdes em mim, e as minhas palavras estiverem em vós, pedireis tudo o que quiserdes, e vos será feito.
  João 15.7
      “Se vivemos em Espírito, andemos também em Espírito.”
  Gálatas 5.25

      Quando oramos frequentemente várias coisas boas acontecem:

- falamos diretamente com Deus, isso é de suma importância para termos de fato comunhão com o Senhor, ninguém conhece alguém só pensando nesse alguém, mesmo gostando ou admirando à distância, é preciso dialogar, de perto, olho no olho;

- testamos nossas intenções e nos conhecemos, ninguém resiste orar por muito tempo pelas coisas erradas, assim, ainda que comecemos a pedir a Deus algo que não é para nós termos, na insistência nosso coração esfria, a paixão passa e fica só o que é de fato legítimo;

- entendemos a intenção de Deus, quando nossas ilusões caem por terra, o que fica é a firme vontade de Deus, a qual se tivermos humildade e maturidade aceitaremos como a melhor para as nossas vidas, ouvir a voz de Deus com precisão é um trabalho de oração persistente;

- conhecemos a Deus, nesse conhecimento há comunhão, nos sintonizamos na “vibração” do Altíssimo, nessa experiência nos colocamos num local especial, elevado espiritualmente, nesse lugar há paz e vitória, orar é mais que dialogar, é se posicionar;

- nos santificamos, a oração confronta homem com Deus, esse confronto, se verdadeiro e íntimo, exige do homem limpeza espiritual e moral (e mesmo física), quem se aproxima do rei quer estar com os melhores trajes, banhado e bonito;

- somos ouvidos por Deus, o resultado de tudo isso é que pedimos e recebemos, antes ainda de pedirmos, pois não só andamos com Deus ou seguimos a Deus, mas vivemos em Deus, somos nele, numa comunhão plena, em todas as alturas e dimensões.

19/09/20

Ganhar ou perder?

      “Vale mais o pouco que tem o justo, do que as riquezas de muitos ímpios.Salmos 37.16

      Talvez, só talvez, os homens sejam divididos em dois grupos, os que vieram ao mundo para ganhar e os que vieram para perder, e me refiro a ganhar ou perder valores materiais, bens, posição social, fama, por ter ganho isso ou sido aquilo, não às virtudes morais e espirituais. Alguns de nós precisam se esforçar, mais e mais, estudar mais, trabalhar mais, para entender que neste mundo as coisas são obtidas com trabalho árduo e honesto, isso é o que os tirará de suas zonas de conforto e os fará crescer. Contudo, outros de nós, precisam aprender a renunciar, precisam entender que por mais que se esforcem certas coisas não darão certo, não para os deixarem ricos e famosos, talvez esses não estejam preparados para serem ricos e famosos, ainda que nasçam com aptidões e em lares que lhes propiciem isso. 
      Talvez você não veja a vida assim, talvez a veja por um dos dois extremos, um extremo, crédulo até fantasioso, que diz que todos devem fazer o máximo para chegar ao topo, ou o outro extremo, amargo ou simplesmente abnegado, que diz que ninguém é feliz nessa vida e nunca consegue ser o que realmente quer. Ilusão e mágoa são coisas que todos nós, de um jeito ou de outro, sempre levamos na alma. Mas podemos ver a vida ainda de uma outra maneira, como uma oportunidade para crescimento espiritual, onde os valores materiais são só provas, que a uns conduzem para melhor quando existem e a outros para melhor quando faltam. Por que pode ser assim? Porque nós, seres humanos, somos maravilhosamente diferentes.
      Qualquer generalização que desrespeite as diferenças é injusta, impede de entender o real motivo da nossa existência neste plano, assim é falsa a premissa que a felicidade é alcançada por todos do mesmo jeito, que todos têm que vencer sempre, em termos materiais. Sim, todos precisam ter na sociedade os mesmos direitos de escolha, mas as escolhas devem ser diferentes, contudo, o que tem feito muita gente infeliz é achar que o que faz o outro feliz a fará também, que alguém tem que ser e fazer algo porque os outros têm e são, assim, muitos tentam e tentam e nunca ganham, perdem e perdem, por quê? Porque esses têm que aprender a perder, não, não tudo, mas o suficiente para que sejam libertados de vida de aparência, ou que acha que tem que agradar os outros, para ser e ter o suficiente para achar a felicidade. 
      Quem precisa perder para de fato achar a espiritualidade, encontrar a humildade, a simplicidade, será infeliz se não aceitar isso, será amargo e terá inveja dos que são ou têm o que eles gostariam de ser ou ter. A felicidade é descobrir quem somos de verdade, e isso só descobrimos em Deus, ele é o espelho puro e limpo que nos mostra quem realmente somos, revela-nos nosso melhor homem interior. Muitos, todavia, passam a vida fugindo do espelho, se olham nos outros, ao invés de em Deus, e nos outros só veem os outros, não eles mesmos, assim podem até enriquecerem e serem famosos, mas não são felizes. Em primeiro lugar busque a Deus, conheça-o e assim a si mesmo, só depois poderá construir uma vida sobre a rocha, será uma pequena casa ou um castelo? Não importa, contanto que seja o que de fato você em Deus. 
      A felicidade não está no muito ou no pouco, mas em ser justo com o que se tem, se podemos ser justos com o pouco, nos resignemos com isso, e não almejemos mais, contudo, se podemos ter muito e ainda assim sermos justos, nos esforcemos para isso em Deus. Não nos esqueçamos, porém, de Marcos 10.25, “é mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha, do que entrar um rico no reino de Deus“, não que Deus não queira que sejamos ricos, mas riqueza nesse mundo, assim como fama, podem ser tentações grandes demais para a maioria. A realidade para a maioria de nós é, aprendamos a perder, a morrer, a abrir mão, com a certeza que por Jesus ganhamos vida e liberdade espiritual, bens que transcendem esse plano e que nos acompanharão onde as riquezas e a fama não irão, a melhor eternidade com Deus. 

18/09/20

Ter ou não ter?

      “Mas nós, que somos fortes, devemos suportar as fraquezas dos fracos, e não agradar a nós mesmos. Portanto cada um de nós agrade ao seu próximo no que é bom para edificação.Romanos 15.1-2

      Pessoas diferentes precisam pagar preços diferentes para se aproximarem mais de Deus e amadurecerem espiritualmente. Alguns precisam aprender a administrar com misericórdia o poder que recebem, outros com humildade o podem que não recebem. Os que recebem algum tipo de poder não são maiores, nem os que não recebem menores, não diante de Deus, e ambos precisam e podem crescer igualmente para chegarem ao mesmo nível. Misericórdia ou humildade? É claro que em alguma instância todos precisamos das duas virtudes, assim como todos temos poderes para dar aos outros para administrar assim como administrar falta de alguns poderes que dependemos de outros para ter. Na verdade é tudo um jogo de equilíbrio, o universo é equilibrado, Deus é equilibrado, ainda que a princípio o mundo não pareça e muitos homens insistam em não ser, também a princípio.
      O que é ter poderes? Ter uma empresa com funcionários é ter poderes, os que colaboram conosco como empregados trocam serviços por dinheiro, mas são os empregadores que mantém empregados, e esses podem ser despedidos e trocados pelos proprietários das empresas. Mas existem poderes mais subjetivos, muitas vezes apenas em ter possibilidades de ajudar alguém, sem receber nada por isso, de fazer um favor, é esse tipo de poder que pode exigir de nós mais espiritualidade, para que não o exerçamos com arrogância, frieza ou displicência, nem querendo algo em troca. Os poderes que de fato são provas da vida para que adquiramos misericórdia podemos realizar sem fazer muita força, sem que seja um peso para nós, podemos fazer simplesmente para sermos ferramentas da providência divina, do amor de Deus com as pessoas. Nesse caso é importante, se queremos de fato amadurecer espiritualmente, entender que não somos donos de nada, apenas mordomos de algo, de um direito, que nos foi dado por Deus para abençoar, libertar, as pessoas, não prende-las a nós.
      Por outro lado convém a Deus, através do universo, de seus sistemas e probabilidades, que estão diretamente ligadas às nossas escolhas, que não tenhamos certos poderes, certas vantagens, assim precisamos aceitar, em Deus, se é que queremos crescer nele, que dependemos de outros para tê-los. Nesse caso é preciso humildade para aceitar isso com um coração simples e pacífico, que não cria amargura por causa dessa dependência nem busca vingança contra aqueles dos quais depende. Quem é maior o que tem ou o que recebe? O evangelho diz que mais bem-aventurado é dar que receber, mas por outro lado ter parece ser mais fácil que não ter, dar parece ser mais fácil que receber, ser humilde parece ser mais difícil que ser misericordioso. Em última instância, como já dissemos no início, tudo pode ser um desafio espiritual que pode nos conduzir a um crescimento em direção ao Deus altíssimo. O que tem coração de aluno, não de mestre, sempre achará na vida uma oportunidade para ser alguém melhor e mais parecido com Jesus.
      Contudo, muitos recebem a possibilidade de exercer poder porque talvez não conseguiriam viver de outro jeito, porque não são humildes suficientemente para depender de algum poder alheio. Outros, por sua vez, precisam aprender a receber, serem fiéis no pouco, para só depois poderem dar, serem fiéis no muito, mas o mais espiritual é sermos misericordiosos enquanto recebemos, enquanto dependemos de alguém, e humildes enquanto damos, enquanto administramos os que dependem de nós. Se entendermos, todavia, que ninguém é dono de nada, que tudo pertence a Deus, e que muitas posições neste mundo são passageiras, hoje pode ser de dono de poder e amanhã de dependente do poder de outro, aceitando assim a fragilidade do ser humano, tanto fará estar numa quanto em outra posição, teremos paz das duas maneiras, seremos homens de bem das duas formas, glorificaremos ao Senhor dos dois jeitos, nunca ao homem, nunca a nós mesmos, nem por sermos poderosos materialmente para poder dar, nem elevados espiritualmente para receber e não se sentir menor por isso. 

17/09/20

Ser ou não ser?

      “Mil cairão ao teu lado, e dez mil à tua direita, mas não chegará a ti. Somente com os teus olhos contemplarás, e verás a recompensa dos ímpios. Porque tu, ó Senhor, és o meu refúgio. No Altíssimo fizeste a tua habitação.Salmos 91.7-9

      O texto inicial nos faz pensar na situação política atual do Brasil e no envolvimento de cristãos nela, ele diz, “mil cairão ao teu lado e dez mil à tua direita”, mesmo nossos “irmãos” de fé podem ser derrotados se quiserem estabelecer um reino de Deus neste mundo. O amigo de Deus, contudo, não se apoia nos lados, nos extremos, nos homens, mas no altíssimo, que está no plano espiritual, não nos poderes, mesmo religiosos, deste mundo. No altíssimo somos protegidos, de todos os extremos, sejam à esquerda e à direita, dos homens, seja abaixo, dos seres espirituais das trevas.
      Ocorre todavia um engano entre muitos cristãos, que começa quando refletem erroneamente no adjetivo altíssimo que é dado a Deus, um adjetivo que mostra como o Senhor está num ponto extremo. Isso leva muitos a pensarem assim: “mas a Bíblia não ensina algo extremo, sobre santidade e verdade? O crente fiel não deve ser extremista em sua fé? Ser cristão não é viver num extremo moral e espiritual?” Sim, isso está correto, mas o extremismo de Deus é o espiritual, não o material, ele se reflete numa vida de virtudes interiores, não necessariamente refletidos em prosperidade material e domínio político sobre a sociedade. 
      Esse extremismo que vem de Deus, e não de tradição religiosa, deve nos levar a abrir mão de querer ter, ser ou dizer, diante dos homens. Depois de refletirmos bastante, nas últimas postagens aqui do blog, no extremismo exterior equivocado que muitos cristãos têm tentado viver no mundo, reflitamos agora em como alcançar o extremismo espiritual verdadeiro do altíssimo, que é o oposto do que muitos pensam. Nele muitos valores são trocados, nele perder é ganhar, não se impor é ser e calar diz mais que muitas palavras.

      Quando o que você tanto deseja ter não fizer mais para você diferença se tem ou não, quando o que você deseja ser você não quiser mais ser para mostrar para os outros que é, quando o que você tem tanto a dizer for satisfeito com o silêncio ou mesmo com a ausência de ouvidos para ouvir, então você poderá dizer. Isso tudo se buscar ter, ser ou dizer em Deus, não em teu ego para os homens. 
      Não é assim para quem vive longe de Deus, ainda que seja um bom religioso ou um cidadão preocupado com o planeta, esse tem o próprio ego como deus, esse precisa ter, ser ou dizer a todo custo, e enquanto isso não acontecer não achará que fez diferença no mundo. Mas não se engane, esse ter, ser ou dizer não é necessariamente ter, ser ou dizer algo mau, ruim, ao contrário.
      Os mais focados em brilharem neste mundo acham forças para isso porque legitimam suas lutas com boas intenções, debaixo de bandeiras levantadas por gente importante. Mas mesmo o bem, desejado, feito ou falado, longe de Deus, é mal, porque não adora o Altíssimo, se não adora não conduz a ele, e se não conduz a ele leva ao homem e aos seres espirituais, por mais bem intencionado que alguém esteja.
      Temos de Deus, recebemos verdadeiramente do Altíssimo, e por nenhum outro meio, ainda que esse outro meio seja através de trabalho honesto e competente, quando o que queremos não nos afasta de Deus. Somos em Deus e podemos dizer em Deus da mesma maneira, quando o que tanto desejamos ser e dizer não desagrada ou não nos afasta de algum jeito do Altíssimo, antes nos aproxima ainda mais dele.
      Abra mão de ter, ser ou dizer, apenas adore a Deus, busque-o, ouça-o, aprenda dele e então cale, que toda a vaidade se vá, que o que o homem pode dar neste mundo, por mais verdadeiro que seja, não seja mais teu objetivo maior, que não seja a motivação para você persistir e se esforçar para ser melhor, que o que o homem pense, qualquer homem, não faça mais diferença para você.
      Quando tua motivação for somente exaltar a Deus, não teu ego, haverá uma legitimidade maior para a tua existência, não apoiada por homens, mas por Deus, não para estabelecer um reino neste mundo, mas na eternidade espiritual, não para convencer as pessoas e ter uma graduação diante delas, mas simplesmente para ser canal direto e limpo da luz mais alta do Senhor, que revela as trevas silenciosamente. 
      Esse é o extremo que cristãos verdadeiros devem almejar, não no plano físico, mas no espiritual, não um extremo para a esquerda ou para a direita, mas para cima, e não nos altos castelos deste mundo, mas na presença elevada do Altíssimo, onde a luz moral está, onde a verdade está, onde o amor está, onde não há conflito, de espécie alguma, mas equilíbrio, o equilíbrio eterno e universal do criador e Senhor de tudo. 

16/09/20

Crítica, liberte-se dela!

      “A candeia do corpo é o olho. Sendo, pois, o teu olho simples, também todo o teu corpo será luminoso; mas, se for mau, também o teu corpo será tenebroso.” Lucas 11.34

      Toda crítica que fazemos aos outros nasce de uma crítica que fazemos a nós mesmos, e depois projetamos nos outros. Excesso de crítica não é virtude, não é zelo por perfeccionismo, na verdade quanto mais crítico se é, mas imperfeito se é. Deus é perfeito, e ele não crítica ninguém, pois nele não há nada a ser criticado. Crítica, seja ela qual for, mesmo a chamada de construtiva, é ineficiente para mudar alguém, pois implica em um agente externo querendo modificar algo interno. Mudança só ocorre de dentro pra fora, quando alguém quer mudar, decide isso e trabalha em si mesmo para mudança. Qual o papel do outro nisso? Dar exemplo, mostrar com ação o jeito melhor de fazer algo, não mostrar o jeito errado com palavras, que a crítica se passe no coração de quem percebe que está errado e então mude. O único que pode mudar você é você, com a ajuda de Deus. 
      Nenhum homem neste mundo, encarnado, mostrou melhor isso que Jesus, Jesus nunca criticava, nunca apontava erros, nunca acusava, era sempre amoroso, paciencioso, elegante, e acima de tudo, praticava o jeito melhor de viver, dando exemplo na prática. Por isso as pessoas se sentiam tão incomodadas com eles, por isso os errados se sentiam tão acusados, por isso os hipócritas viam em Jesus críticas tão pesadas às suas maneiras de viver e às suas religiões. Não, não era crítica humana que mostrava aos religiosos judeus suas incoerências, era a luz do Deus altíssimo que era lançada sobre as trevas dos que não viviam e exigiam que os outros vivessem, era um confronto silencioso e realmente justo. Deus não crítica porque fala, mas porque existe, só isso basta para confrontar as trevas, a existência de Deus é viva, fogo consumidor, luz que tudo ilumina, mas silenciosa.  
      Quando abrimos mão de fazer críticas e vivemos o que acreditamos, Deus age por nós, de maneira espiritual, confronta os homens com a verdade. Quando nos colocamos no centro da vontade de Deus para nossas vidas e obedecemos ao Senhor, não vivemos mais para nós, mas para Deus, e assim Deus vive em nós, luta por nós, nos defende, e mostra para os outros, através de nossas vidas, sua vontade. Não é fácil parar de criticar, principalmente quando vemos que nossas vidas são tão imperfeitas, e isso na verdade, pelo menos a princípio, é bom, ser crítico, exigente não é, em primeira instância, um mal. Mas isso se entendermos que somos nós os imperfeitos que precisam ser mudados, não os outros, já que a vida dos outros é problema dos outros e de Deus. Muitos de nós precisam de uma grandiosa libertação, libertação da crítica. 
      Se você, como eu, for um desses críticos compulsivos, aceite que tudo o que você vê nos outros você viu antes em você, assim, mude tua vida e deixe que Deus mude as dos outros, se os outros assim permitirem. Crítica é só um jeito de prender as pessoas, quem prende rouba a liberdade, mas também perde a própria liberdade, pois passa o tempo vigiando os outros para fazer críticas. Criticar é vício, disfarçado de virtude, mas é também tomar o lugar de Deus, se achar juiz, e juiz só existe um, o Senhor. Assim, toda vez que vir um defeito em alguém, pergunte a si mesmo, e eu, tenho esse defeito, o que posso fazer para mudar? Evite verbalizar (ou escrever em redes sociais) os defeitos dos outros para outros, mas ore pela pessoa cuja crítica te veio à mente, fique tua critica só entre você e o Senhor, e abençoe o criticado com oração e bênção.
      Poderíamos usar o texto de Lucas 6.41 para dar um exemplo bíblico do que foi pensado nesta reflexão, mas o texto inicial, de Lucas 11.34, vai além do óbvio, de censurar o julgamento. Ele nos remete a uma característica da crítica, como falsa virtude ela costuma ser elaborada, tentando mostrar legitimidade com alguma profundidade, um olhar não com os olhos nus, mas com uma lupa. O texto inicial, contudo, diz, “sendo, pois, o teu olho simples, também todo o teu corpo será luminoso”, ele alia ausência de crítica à simplicidade. O olho simples não vasculha procurando defeitos para criticar, não apela para discursos e manipulações, ele é puro. A luz é pura, revela sem fazer força, já as trevas são misteriosas, quem pode dizer o que encobrem? O olhar é uma via de mão dupla, o simples o guarda, não vê mal nos outros, assim como impede que o mal entre nele pelo olhar da crítica.

15/09/20

Elogie sempre

      “Amai-vos cordialmente uns aos outros com amor fraternal, preferindo-vos em honra uns aos outros.Romanos 12.10

      Gosto de receber elogio, quem não gosta? Mas o que devemos fazer? Não é criticar quem não nos elogia, nos vingarmos, desmerecer esse alguém, antes elogiar quem merece, e todos merecem. A matemática da justiça é simples crédito, débito e saldo, recebemos o que damos. Contudo, é melhor termos saldo positivo, porque o saldo, o que damos mais que recebemos, não nos dará o homem, mas Deus, e esse sempre aumenta o valor pois nos trata com misericórdia, que é mais que justiça.  
      Os falsos, contudo, sempre acharão falsidade mesmo em elogios, os verão como bajulação interesseira, é difícil vermos no outro o que não existe em nós mesmos, e por outro lado sempre achamos no outro aquilo que existe em nós, se sinceridade, sinceridade, se falsidade, falsidade. Já o generoso vê generosidade, acha generosidade, sempre a tem para dar e nunca se sente necessitado de elogios. Você já elogiou alguém hoje ou só criticou? Dar sempre é melhor que receber. 
      Elogio não é dar lugar ao diabo fomentando vaidade no elogiado, como já ouvi de pregador criticando quem o elogia após uma pregação, elogio é justiça. Agora, se a pessoa vai tomar para si glória que não é dela, ou pior, que é de Deus, isso não é problema nosso, eu penso que é melhor administrar vaidade que carência, o excesso pode ser mais fácil de equilibrar que a falta. Se uma pessoa tem falta, é nossa responsabilidade dar, mas se tem excesso, dar é responsabilidade dela. 

14/09/20

Deixai a mentira

      “E vos revistais do novo homem, que segundo Deus é criado em verdadeira justiça e santidade. Por isso deixai a mentira, e falai a verdade cada um com o seu próximo; porque somos membros uns dos outros.Efésios 4.24-25

      Se santidade é a meta final do homem espiritual, efeito de quem obedece a Deus, já que é a obediência que nos dá forças para sermos santos, existe algo que é causa inicial, que prepara o nosso coração para a presença mais íntima de Deus. É ser um pessoa totalmente verdadeira, não falar mentira nem se apresentar como mentiroso, em nenhuma instância. Contudo, apesar de muitos de nós cristãos acharmos que não somos mentirosos, que trilhamos o caminho da verdade, se olharmos mais de perto veremos que a mentira está mais presente em nossas vidas do que queremos admitir. 
      Mentimos nos currículos profissionais, mentimos sobre nossa situação financeira, mentimos sobre o nosso passado, e também sobre o que queremos para o nosso futuro, e fazemos tudo isso muitas vezes de maneira sútil, cheios de paixão, de razão, de fé. Uma mentira que usamos bastante é aquela que tenta esconder a inveja que sentimos por certas pessoas, para não admitirmos para nós mesmos que invejamos, já que isso nos colocaria como inferiores em relação justamente a quem invejamos, mentimos sobre o invejado, diminuindo suas qualidades, e sobre nós, aumentando as nossas. 
      Todas as virtudes começam e terminam na verdade, é preciso verdade para se assumir pecador e tomar posse do perdão de Jesus, o caminho para a verdade mais alta de Deus começa numa verdade pessoal humana. A verdade não só perdoa e restaura, ela também confere humildade, para quem não se exibe como o que não é, e respeita a verdade alheia que tem tanto direito de ser legítima como a sua própria. Assim, a qualquer custo, sejamos verdadeiros, com nós mesmos, com nossos cônjuges, com nossos familiares, mesmo com nossos inimigos, Deus só trabalha num espírito verdadeiro.

13/09/20

A casa de Deus foi relegada a segundo plano

      “Assim diz o Senhor dos Exércitos: Considerai os vossos caminhos. Subi ao monte, e trazei madeira, e edificai a casa; e dela me agradarei, e serei glorificado, diz o Senhor. Esperastes o muito, mas eis que veio a ser pouco; e esse pouco, quando o trouxestes para casa, eu dissipei com um sopro. Por que causa? disse o Senhor dos Exércitos. Por causa da minha casa, que está deserta, enquanto cada um de vós corre à sua própria casa. Por isso retém os céus sobre vós o orvalho, e a terra detém os seus frutos.” Ageu 1.7-10

      Quando o homem busca extremos ele busca o homem, não a Deus, o homem está nos extremos, Deus está no equilíbrio. Quem busca o homem busca seus próprios interesses, constrói sua casa, não a de Deus. Qual é a casa de Deus? Hoje em dia não são os templos religiosos, como era em Israel do antigo testamento, hoje isso também é casa de homem, hoje a casa de Deus, segundo a nova aliança em Cristo, é o coração do homem, é a vida interior do espírito humano onde o Espírito Santo habita e cultiva virtudes. 
      Muitos cristãos pararam de cuidar do templo de Deus e tentam construir um templo material, é isso que fazem quando acham que ter um presidente que os apoie fortalecerá o cristianismo no mundo, com isso se preocupam com suas casas, não com a de Deus. Mas isso não é novo, é só o final infeliz de uma história, já estavam fazendo isso há algum tempo em tantas cidades deste país quando apoiavam ministérios luxuosos, onde a “dizimolatria” era pregada para manter o desvio. 
      No momento atual, que se iniciou no Brasil com a eleição para presidente em 2018 onde a ideologia de direita ressurgiu, só acharam um jeito de expandir o desvio até Brasília. Quem pensa diferentemente deles são seus inimigos, que acham que não são só inimigos seus, mas também de Deus, assim querem usar a religião cristã para estabelecer um reino nesse mundo, em nosso país. Contudo, porque não deram ouvidos ao Espírito Santo, mas aos homens, caíram na armadilha de um extremo político estúpido. 
      Sem Deus é impossível ao homem ser equilibrado, pois o homem se baseará em si mesmo, não no Espírito Santo, assim, muitos cristãos acham que estão sendo zelosos e batalhadores, mas só agem como agiam os fariseus no primeiro século, baseiam-se numa tradição religiosa humana para construir algo que agrade seus egos, não a Deus. Se o reino de Deus nesse mundo só pode existir no coração de indivíduos é essa obra que os cristãos deveriam estar construindo, não com religião, não com política, não com riquezas.
      Como se constrói a casa de Deus hoje? Buscando uma amizade íntima com Deus, não para impor aos outros, mas preocupando-se consigo mesmo e não com os outros. Mas pode-se argumentar, “mas assim não testemunharíamos do evangelho no mundo”. Sim, testemunharíamos, mas do jeito certo, como efeito, não como causa, como testemunhas, não como advogados, assim deixaríamos a mais alta luz brilhar no mundo de dentro de nós para fora, de maneira realmente espiritual e divina. 
      “Não por força nem por violência, mas sim pelo meu Espírito, diz o Senhor dos Exércitos“ (Zacarias 4.6b), parece que muitos se esqueceram desse texto, totalmente, a verdadeira obra de Deus nunca foi por força física, por imposição, pelo menos não na nova aliança do evangelho de Cristo. Desviados estão os cristãos que vão às ruas defender ideologias políticas, deveriam viver o evangelho dando testemunho de amor e de misericórdia, não defenderem extremos ideológicos humanos.
      Muitos cristãos perderam a noção do que é de fato o evangelho, pararam de olhar para o Cristo homem encarnado que mostrou a única maneira de viver neste mundo, uma maneira simples e humilde, que não se impunha, que não tinha apoio de autoridades, que não se envolvia com política, mas que se ocupava em fazer e verdadeira vontade de Deus, não da religião ou da tradição. Pois isso tantos estão sendo presas do extremo, por isso quiseram Saul e não Davi, por isso são enganados e levados em cativeiro. 
      A libertação está em aceitar que isso que muitos chamam de igreja cristã conduziu o cristianismo ao extremo, a saída está em voltar ao evangelho primitivo e original de Jesus. Infelizmente isso de fato só vai acontecer com uma perseguição, que ocorrerá após essa ilusão atual que tantos cristãos vivem achando que o cristianismo pode ser proeminente no mundo. O engano só levará muitos cristãos a enxergarem a realidade, ainda que da pior maneira, mas que seja suficiente para prepará-los para o final iminente. 

12/09/20

O homem, esse desconhecido

      Quem de fato pode conhecer alguém, quem sabe de fato quem é o ser humano, o que realmente é um homem, uma mulher, o que de fato quer e por que age de um modo ou daquele outro modo? Só Deus sabe. Contudo, só entendemos isso quando vemos a nós mesmos através de Deus, vemos os outros com justiça quando nos vemos em verdade. Enquanto isso não ocorre seguiremos enganados pelo que muitas pessoas mostram e não pelo que são, assim como julgando, e na maior parte das vezes mal, sem de fato conhecer as pessoas. 
      O imenso mistério individual nos é percebido quando percebemos o nosso mistério pessoal, mas só Deus para nós fazer aceitar esses mistérios, o Deus único e verdadeiro, Senhor de todos os mistérios, e creia, cada ser traz em si um mistério imenso e especial. Desculpe-me, você que segue o blog, mas eu tenho que repetir Provérbios 20.5, um dos meus versículos bíblicos favoritos, “como águas profundas são os propósitos do coração do homem, mas o homem de inteligência sabe descobri-los”, ele é bem adequado nesta reflexão.
      A realidade no plano físico, no corpo, que sobrevive e se relaciona com sociedade material no mundo, é uma ilusão, e pra ser mais exato, é uma mentira, ninguém de fato mostra o que é, vive o que é, realiza o que mais quer. O que se tem são arredondamentos, médias, viáveis para se conseguir existir, pelo menos num meio civilizado. Mas calma, isso não é só para o lado ruim, não, e em se tratando de filhos de Deus, de pessoas realmente convertidas em Cristo, seladas com o Espírito Santo, é para o lado bom, ou para o lado que queremos que seja bom.
      Só Deus sabe o quanto queremos viver para ele, agradá-lo, adora-lo sem outra intenção que não seja dar a ele o que só ele merece, para estão estar sincronizado com ele, sintonizado nele, vibrando em sua mais alta frequência, para poder conhecer sua vontade e obedecê-la. Só Deus sabe o quanto nossas ações, em grande parte das vezes, não refletem nossas intenções, o quanto nosso corpo e mesmo nossa alma, não realizam o desejo mais íntimo de nosso espírito, batizado no Santo Espírito, intenções e desejo que quer acertar, não errar. Só Deus sabe o quanto nossos erros doem em nós.
      “De boas intenções o inferno está cheio”, como diz o ditado? Mas o céu também está repleto delas, isso se elas forem em Cristo, não no egoísmo humano ou nos seres espirituais malignos. O Deus que conhece todos os mistérios também discerne as intenções, pode confiar nisso. Quanto a nós, não julguemos, muitos que parecem algo podem de fato ser o oposto, o tempo dirá, seja para o bem, seja para mal, ou seja para um meio termo, quem tiver paciência verá e não será presa do julgamento injusto. Muitos já entenderam os mistérios, mas os calam, por conhecerem o coração dos homens.
      Encarnado, o ser sempre sucumbe ao tempo, o tempo é implacável com a matéria, aliás, o que mais define o plano físico e a matéria é o tempo. No plano espiritual não existe tempo, Deus não tem tempo, ele é, por isso sabe de tudo sempre e julga pelo final no plano físico, que é o que passará para o plano espiritual. Deus não julga por passado, presente ou futuro do corpo neste mundo, mas pelo final. Ah, se víssemos os seres humanos como Deus vê, não podemos ver de maneira natural, ainda que nasça puro o homem adquire filtros ao andar por este mundo.
      Contudo, com humildade, com simplicidade, com fé, e somente em Jesus, podemos ver a verdade, a nossa e a dos outros, é só com essa iluminação que podemos entender a vida, não baseados em coisas passageiras e finitas, mas nas referências eternas de virtudes. Nessa iluminação achamos paz, encontramos satisfação, a mais profunda, que resolve as ansiedades e paixões e nos faz espirituais, ainda encarnados. Busquemos em Deus essa iluminação, não sejamos duros demais com as pessoas e com nós mesmos, vejamos além do que veem os dois olhos físicos.

11/09/20

O que há em nossas cabeças?

      “Teve José um sonho, que contou a seus irmãos; por isso o odiaram ainda mais.
 Gênesis 37.5
      “Mas por fim entrou na minha presença Daniel, cujo nome é Beltessazar, segundo o nome do meu deus, e no qual há o espírito dos deuses santos; e eu lhe contei o sonho...
 Daniel 4.8
      “E, projetando ele isto, eis que em sonho lhe apareceu um anjo do Senhor, dizendo: José, filho de Davi, não temas receber a Maria, tua mulher, porque o que nela está gerado é do Espírito Santo“ 
Mateus 1.20
      “E, estando ele assentado no tribunal, sua mulher mandou-lhe dizer: Não entres na questão desse justo, porque num sonho muito sofri por causa dele.” 
Mateus 27.19

      O ser humano pode sonhar, e acordado, assim imagina possibilidades de vida que lhe dão alegria, prazer, respeito, mas também pode reter dores, lembranças de violências, de frustrações, de desafetos. A cabeça do homem é criativa, converte em palavras, em textos, assim como em música e em imagens, as emoções, os amores e os ódios, a arte é a realização do imaginário, não é o real, mas o que se deseja que seja. Mas a mente do homem também acredita, e não existe nada mais pessoal que fé, acredita nas pessoas, em si mesma, a acima de tudo, num Deus, maior, bondoso, poderoso, misericordioso, que a aceite, a salve, a proteja, a perdoe, mesmo quando nada na realidade pode fazê-lo.  
      Os materialistas, céticos, ateus, dizem que Deus é uma invenção da cabeça humana, a psicologia pode alegar isso, eu disse pode, já que muitos cientistas e psicoterapeutas têm a humildade de ainda que Deus não possa ser provado de existência, não deve ser duvidado de não existir, e que fé nele pode, sim, ajudar as pessoas de maneiras incríveis. Seja como for, o cérebro humano é o órgão mais misterioso do corpo físico do homem, ainda não se entende seu pleno funcionamento e muito menos a relação e interação dele com toda a subjetividade do ser humano, com os pensamentos, os sentimentos, as memórias, e mesmo com os conceitos “alma”, “espírito” e “deus”.
      Quem pode entender a origem e a razão dos sonhos durante o sono, quando nosso físico e nosso consciente relaxam e nos permitem visualizar, ouvir, sentir, e às vezes até experimentar outras sensações? São apenas nosso subconsciente trazendo à tona experiências que guardamos da nossa realidade, mas que de alguma maneira não digerimos direito de forma consciente? É o nosso ser tentando resolver assuntos que nos dizem respeito, mas que de alguma forma não quisemos resolver? É só isso, como afirmam psiquiatrias e psicologias, ou é algo mais? Podemos ter, de alguma maneira, experiências espirituais durante o sono, nos relacionarmos com entidades fora de nós, com Deus, termos revelações do futuro?
      A ótica cristã menciona comunicação espiritual por sonhos, personagens bíblicos tiveram essa experiência assim como podemos tê-la hoje, como um dom do Espírito Santo. Mas quando acaba uma experiência meramente psicológica e começa uma espiritual? E ainda que não seja com o Espírito Santo, com influência de maus espíritos, sim, porque demônios e diabos também podem nos atormentar durante o sono. Os textos iniciais relatam dois homens de Deus especiais em ter e interpretar sonhos, José e Daniel, depois cita José, esposo de Maria, mãe de Jesus, que em sonho recebeu a visita de um anjo de Deus, por fim narra a experiência da esposa de Pilatos, que diz que em sonho sofreu por Jesus.
      Em cada sonho dos textos iniciais uma experiência diferente é registrada, a José eram revelados mistérios de sua vida e de sua família, a Daniel mistérios de Babilônia e do mundo, a José um segredo que naquele momento talvez só Maria soubesse, finalmente à esposa de Pilatos, que não é citada como uma mulher com alguma intimidade com Deus, tem o sonho que mais me chama a atenção. Ela simplesmente sofreu por Jesus, deve ter tido um daqueles pesadelos que nos deixam desconfortáveis e que não sabemos o porquê. A esposa de Pilatos, excluindo o fato de ser mulher de um líder romano na Palestina, nos parece ser uma pessoa comum, mas que teve naquele momento um conhecimento diferenciado através de sonho.
      Eu creio em Deus, sou salvo por Cristo, o Espírito Santo me habita e tenho procurado dar liberdade a ele, por outro lado penso que somos muitos mais que matéria física, e que nossas almas e nossos espíritos têm conhecimentos e comunicações que vão além de nossos relacionamentos sociais com outras pessoas em estado consciente. Contudo, tenho cuidado, provo os sonhos, quando acho que tive um sonho um pouco, digamos assim, diferente, peço orientação a Deus, oro, por mais forte que seja o sentimento logo quando acordo de um sonho assim. Sentimento de sonho “diferente” pode ficar conosco por um tempo, mas se for sonho espiritual permanece por muito tempo e de fato terá ligação com a realidade.
      A mente do homem, contudo, é complexa e complicada, desconhecida mesmo para nós que a levamos, só Deus para nos ajudar, assim não dê atenção exagerada a qualquer sonho, e mesmo que for um sonho “diferente”, prove-o de forma consciente e racional diante de Deus. Sonhos estranhos podem também ser consequências de vidas “estranhas”, de uso de álcool, drogas, mesmo de remédios, e nesses casos mais cuidado ainda temos que ter, mas por outro lado, não desprezemos sonhos. Se estivermos em comunhão com Deus e em sanidade emocional, Deus pode, sim, falar conosco através deles, assim como podemos ter através deles experiências espirituais bem reveladoras, mas sempre com muito cuidado.

10/09/20

Tudo tem um fim

      “Disse-lhe Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que esteja morto, viveráJoão 11.25

      Tudo tem um fim, mas não precisa ser com morte, seja morte do que for, onde for ou quando for. O ser pode morrer várias vezes, mas o salvo por Jesus, iluminado pelo Espírito Santo e em comunhão com o Deus altíssimo, não morre nunca, mas vive e revive, numa renovação eterna e sempre para o alto da luz maior e melhor. Quem é vivo experimenta passagens de momentos, não mortes, pois Deus o protege de dores mortais, sejam no corpo, na alma ou no espírito. Morre-se na cabeça, na alma que não venceu a dor, a solidão, a culpa, o rancor, que não conseguiu mais criar boas expectativas, esperanças, por mais distantes e ilusórias que fossem. O morto emocionalmente não sonha, não sonhar é morrer. 
      Morre-se no corpo, quando se leva junto a morte do espírito que morreu na alma antes de mudar de plano, o que morre em Cristo terá de Deus uma passagem em paz, não violenta, o que morre em Cristo nem o findar do funcionamento de seu corpo será morte. O corpo só morre sem Cristo, com Cristo apenas liberta o espírito para a eternidade melhor. A morte espiritual, impossível de ser desfeita no plano espiritual, aquela que leva ao inferno, é decretada no juízo final por Deus, quando, então, não haverá mais nenhuma chance de se viver, assim o único caminho para o ser é morrer. Morte sempre é sofrimento, sofrimento é morte, eterno enquanto dura, trevas profundas, ausência de vida ou de esperança de vida.
      O céu, o paraíso, o melhor de Deus na eternidade, é a antítese da maior e derradeira morte, que ocorre na última instância do ser no universo. Contudo, não cair nos laços da morte no plano físico, implica em reconhecer e conhecer os momentos, deixá-los terminar e buscar em Deus e com esperança que novos momentos comecem. Quem entende momentos como degraus, como passagens, não prova a morte, mas esse entendimento deve ser mais que intelectual e emocional, deve ser espiritual. É preciso aproveitar bem os momentos, vasculha-los e possuí-los até o último instante, ao mesmo tempo que não se deve prender-se a eles, nos prendemos quando apequenamos o olhar, quando nos tornamos egoístas e incrédulos.
      Na verdade, quando entendemos um momento, nós o vemos e quando vemos não existe mais desafio de fé, assim é preciso deixar esse momento e partir para outro, pela fé. Esse é o processo de evolução espiritual, de crescimento como ser, de maturidade em Deus. Por que é assim? Porque esse é o caminho do espírito humano no Espírito de Deus, não o andar do corpo, da alma, que são passageiros, mas do sopro eterno de Deus em suas criaturas mais formidáveis, os seres humanos. Só não haverá mais fim quando estivermos no “ceio de Abraão”, no mais alto e iluminado dos céus, aquele lugar, momento e estado de espírito, que só Jesus pode nos colocar. Tudo tem um fim? Jesus, não, assim, estejamos nele.

09/09/20

Servos, soldados ou advogados? Amigos e testemunhas

      Podemos achar na Bíblia argumentos para diferentes posicionamentos que os filhos de Deus tomaram e tomam em relação a como fazem a vontade do Senhor. Em algumas situações bíblicas o povo de Deus é chamado de exército do Senhor, soldados do altíssimo, isso vemos bastante no antigo testamento, em outras situações o povo de Deus é denominado servos do Senhor, vemos isso muito no novo testamento. Atualmente, na prática, num momento quando há mais liberdade religiosa, quando cristãos de nome representam grande parte da sociedade, quando evangélicos detêm cargos importantes na política e até são celebridades na mídia, dentro do entendimento equivocado de que um nação física deste mundo pode ser integralmente de Cristo, muitos se colocam enfaticamente como advogados de Deus. Muitos agem como se tivessem carta de procuração do Senhor para falarem e fazerem coisas em nome dele. Como dito no início, todos esses termos e funções têm seus lugares legítimos no tempo e no espaço, mas qual é o mais adequado à doutrina central da Bíblia, ao nível mais alto da vontade de Deus para os homens no mundo?
      Amigos e testemunhas, eis os posicionamentos que Deus espera de seus filhos maduros, isso conforme a visão do evangelho de Jesus. “Já vos não chamarei servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; mas tenho-vos chamado amigos, porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos tenho feito conhecer.” (João 15.15). “Mas recebereis a virtude do Espírito Santo, que há de vir sobre vós; e ser-me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria, e até aos confins da terra.” (Atos 1.8). Qual a diferença entre ser amigo e testemunha de ser servo, soldado ou advogado? A diferença é a essência do evangelho, que apresenta um Deus tomando a iniciativa, descendo, vivendo, morrendo, ressuscitando e salvando o homem em Jesus, para então viver no homem pelo Espírito Santo. No antigo testamento esse princípio já havia sido ensinado, em textos como, “nesta batalha não tereis que pelejar, postai-vos, ficai parados, e vede a salvação do Senhor para convosco, ó Judá e Jerusalém, não temais, nem vos assusteis, amanhã saí-lhes ao encontro, porque o Senhor será convosco.” (II Crônicas 20.17).
      Infelizmente, a coisa ruim por trás de gente que quer valer seu ponto de vista no papel de servo, soldado e advogado, é o uso de um certa violência para impor o evangelho, sendo assim mais maquiavélicos que cristãos, à medida que acham que o fim justifica os meios. Muitos pensam assim, “se defendo o evangelho, a única maneira de salvar o homem do inferno, o caminho, a verdade e a vida, tenho o direito de usar os meios que posso, pelo menos no mesmo nível dos meios que os que se opõem ao evangelho usam para fazerem valer seus pontos de vista”. Isso é uma interpretação superficial das verdades divinas, pô-las só como o oposto das mentiras das trevas, bem, a vontade de Deus não é oposto das escolhas oferecidas pelo diabo, da mesma maneira como Deus não é o oposto do diabo. Deus é muito mais que um antagonista do mal, Deus é tudo, e o diabo apenas um escolha, que ganha legitimidade se o homem opta por ela. Assim, se enganam os que acham que podem usar para compartilhar o evangelho as mesmas armas que os que não conhecem a Deus pelo evangelho usam para compartilhar o que acreditam. Aos espirituais cabem armas espirituais, não carnais, por mais civilizadas que essas sejam, por mais “democráticas” que se apresentem.
      Não somos soldados numa batalha de igual para igual contra o mal, na verdade não há batalha, Jesus já a venceu, há apenas um deixar que Deus mostre a vitória, enquanto nós que nos dizemos cristãos, testemunhamos tudo para relatar depois aos homens, não como advogados, mas como testemunhas. Sim, temos um trabalho neste mundo, o de crer e viver como justificado, numa existência honesta como cidadãos exemplares, mas é Deus quem luta as guerras espirituais. Esse entendimento, todavia, têm os amigos, não os servos, os servos, ainda que com um senhor mais excelente, apenas obedecem, cegamente, já os amigos têm intimidade com alguém, e esse alguém, ainda que um Senhor divino e superior, revelas as verdades a seus amigos. Atualmente no Brasil, esses que se colocam como soldados querendo impor o cristianismo, ainda que debaixo do comando de um presidente que se diz “cristão”, cometem um enorme equívoco, lutam uma batalha tão tola quanto inútil, no mínimo agem como crianças imaturas, servos de homens e não de Deus, mas numa instância maior, fazem o jogo das trevas e colaboram para desacreditar o cristianismo. 
      Essa é a grande estratégia do inimigo por trás do que muitos cristãos estão sendo levados à fazer atualmente no Brasil, desacreditar o cristianismo, que hoje é defendido por extremistas morais, construindo o cenário que entregará no futuro o país nas mãos dos maiores inimigos do cristianismo, mas que serão a única opção aparentemente equilibrada. Infelizmente muitos protestantes e evangélicos brasileiros não estão percebendo isso, e se tentamos alerta-los a respeito eles nos acusam de termos sido convencidos pelo outro lado, ou de sermos “isentões”. Eles não entendem que a melhor maneira de destruir alguém não é impedi-lo de fazer algo, mas levá-lo a fazer algo de forma exagerada, extremista, assim ninguém o destruirá, nem seus antagonistas, mas ele mesmo. Infelizmente os cristãos pararam de lutar contra as trevas, lutam contra eles mesmos, contra suas heresias, seus radicalismos, suas mentiras, ainda que digam, “e conhecereis a verdade e a verdade vos libertará” (é triste ver João 8.32 ser usado de maneira tão inadequada). Não concorda com isso? O tempo dirá.