19/01/22

Criatura, filho, servo ou amigo?

       “E criou Deus o homem à sua imagem: à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou.Gênesis 1.27

     “Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos que crêem no seu nome; os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus.João 1.12-13

      “Porque, quando éreis servos do pecado, estáveis livres da justiça. E que fruto tínheis então das coisas de que agora vos envergonhais? Porque o fim delas é a morte. Mas agora, libertados do pecado, e feitos servos de Deus, tendes o vosso fruto para santificação, e por fim a vida eterna.Romanos 6.20-22

      “Já vos não chamarei servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; mas tenho-vos chamado amigos, porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos tenho feito conhecer.” João 15.15

      Qual a nossa ligação com Deus? A teologia tradicional protestante trata todos como criaturas de Deus, mas filhos só os convertidos por Cristo, o catolicismo leva isso ainda mais a sério batizando bebês para que esses deixem o paganismo e sejam cristãos o mais rapidamente possível. O espiritismo e outras religiões são menos radicais, creem que todos são criaturas e são filhos de Deus, indiferente se servem ou se são amigos de Deus, com uma relação mais próxima das boas obras. 
      Os evangélicos gostam de usar o termo servo para diferenciar do simples filho, para eles o servo é um cristão mais consagrado que trabalha com mais esmero nos ministérios das igrejas evangélicas. Jesus disse que não chamaria seus seguidores de servos, ensinou que ainda que servos sejam obedientes a ele, não conhecem sua vontade com mais profundidade. Ele chamaria os homens de seus amigos, amizade essa que é possível não por qualquer religiosidade, mas pelo evangelho. 
      Numa relação de pai e filho existem coisas que não existem em relações de senhor e servo e de general e soldado. Por mais útil que possa ser comparar Deus a um senhor e os homens que trabalham para ele a servos, ou Deus a um general que lidera os homens que o obedecem como soldados numa guerra, a obediência de um filho a um pai envolve afeto. Não precisamos gostar, sermos mais próximos ou mesmo passar momentos de lazer com chefes, sejam empresariais ou militares.
      Nós servimos a patrões e capitães enquanto desempenhando uma tarefa, depois nos afastamos deles, mesmo que sirvamos com eficiência profissional eles podem nem nos conhecer intimamente ou terem características pessoais em comum conosco, eles só precisam de nossas habilidades e capacidades como funcionários e subalternos militares. Não é assim a relação de filho e pai, ela pode ter eficiência, mas nela existe uma parte afetiva forte assim como semelhanças mais profundas.
      A diferença é que um filho tem em sua estrutura os mesmos elementos que existem no pai, senão físicos, carne e sangue, semelhanças faciais e de outras partes do corpo, mas também e principalmente elementos emocionais, adquiridos por anos numa criação próxima, compartilhando o mesmo lar, a mesma casa, o mesmo estilo de vida, os mesmos sonhos e lutas. Um filho é um pedaço do pai, e repito, muito mais emocionalmente que fisicamente, é uma extensão dele, mesmo que negue isso.  
      “E ele negou outra vez com juramento: Não conheço tal homem. E, daí a pouco, aproximando-se os que ali estavam, disseram a Pedro: Verdadeiramente também tu és deles, pois a tua fala te denuncia. Então começou ele a praguejar e a jurar, dizendo: Não conheço esse homem. E imediatamente o galo cantou.” (Mateus 26.72-74). Pedro tentou convencer os homens que não tinha ligação com o Cristo, mas seu jeito o denunciou, quem anda com Deus é marcado para sempre. 
      Somos tudo, criaturas que nascem inferiores e que tendem à superioridade, só Deus é incriado. Somos filhos, ligados a Deus pelo amor, isso não é frio e “científico”, mas encharcado de carinho e cumplicidade. Somos servos, o trabalho mais nobre do ser é servir, a Deus e aos outros seres, é assim sempre e também será na eternidade, quanto mais superior é o ser mais deve servir. Somos amigos, íntimos de um Deus que por mais alto que seja nos trata como semelhntes e nos revela seus mistérios. 

Esta reflexão faz uma pergunta,
se puder leia a próxima reflexão, 
onde concluiremos o assunto. 
José Osório de Souza, 16/07/2921

18/01/22

Pôs meus pés sobre uma rocha

      “Esperei com paciência no Senhor, e ele se inclinou para mim, e ouviu o meu clamor. Tirou-me dum lago horrível, dum charco de lodo, pôs os meus pés sobre uma rocha, firmou os meus passos. E pôs um novo cântico na minha boca, um hino ao nosso Deus; muitos o verão, e temerão, e confiarão no Senhor.Salmos 40.1-3

      Um daqueles salmos onde o autor usa com primazia metáforas da natureza para descrever um ambiente emocional interior. Tirou-me dum lago horrível, dum charco de lodo, pôs os meus pés sobre uma rocha, isso é perfeito, pelo menos para mim, como me sinto tantas vezes nessa situação, diante de certas pessoas, tendo que enfrentar uma decisão, ou mesmo superar um passado que já pensava ter superado. Não achamos o chão, isso significa não conseguirmos ver referências que nos mantenham firmes, tudo parece rodar, se mover, nos esquecemos quem somos e o que conquistamos até então. 
      Como sempre, só nos resta orarmos a Deus, com muita humildade, com todo o coração e cheios de fé, pedindo que ele nos dê a mão, nos ponha de pé e nos firme sobre sua palavra, uma promessa de esperança. O que ocorre depois é simplesmente uma mudança de olhar, nos desprendemos do chão movediço, do charco de lodo, que no meio da luta parecia envolver tudo, e olhamos para o Deus Altíssimo. Achamos o ar, liberdade para respirarmos, perdão para darmos aos outros, forças para superarmos os ataques injustos do homem egoísta e falso, voltamos a viver, achamos de novo a paz. 
      No final de provas assim o louvor ganha legitimidade, fica novo, pois o Espírito Santo tem facilidade para descer, nos tocar e nos levar para o alto, o caminho espiritual para Deus fica desimpedido. O chão, antes um lago horrível, se transforma numa rocha, confiável, nos lembramos de quem somos, do que trabalhamos para ser o que somos, tomamos posse do que já nos foi dado e obtemos um bem precioso. Esse bem é um testemunho verdadeiro de uma experiência profunda com o Senhor, esse testemunho poderá ajudar a outros, cumprirá nosso propósito no mundo, sermos luzeiros. 
      Se as pessoas precisam de nossa paciência, se nós mesmos necessitamos de tempo para digerirmos as coisas e fazermos as melhores escolhas, Deus também necessita de nossa paciência, não por alguma limitação dele, mas por limitações de outras variáveis do universo que ele pode estar esperando resolverem-se para nos responder. É a isso que o salmista se refere quando diz “esperei com paciência no Senhor e ele se inclinou para mim”. Você tem tido paciência com Deus ou fica exigindo que ele resolva as coisas imediatamente, quando você pede? Ter paciência é ato de amor verdadeiro.

17/01/22

Não há virtude na ansiedade

      “Não estejais inquietos por coisa alguma; antes as vossas petições sejam em tudo conhecidas diante de Deus pela oração e súplica, com ação de graças. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os vossos corações e os vossos sentimentos em Cristo Jesus.Filipenses 4.6-7

      O ansioso deseja uma coisa que ainda não aconteceu, mas acreditando que algo ruim pode ocorrer. Já o esperançoso também aguarda algo, mas na certeza que as coisas de algum jeito vão dar certo. Ansiedade só se transforma em esperança quando temos uma experiência viva com Deus em oração, onde conseguimos entregar algo, abrindo mão de querer ter controle sobre as coisas, confiando que Deus tem a posse do que entregamos e fará o melhor.
      Essa transformação requer consciência racional, mas também experiência emocional, e ambas só são possíveis com profunda comunhão espiritual em Deus. Disso assenta-se em nós a paz maior, que nos protege das acusações dos maliciosos e do ceticismo dos que não temem ao Senhor. Você sempre tem direito à paz, não se esqueça disso, assim não permita que situações ou pessoas construam contingências desnecessárias em você. 
      Ansiedade não alia trabalho a alguém, não há vantagens em andar ansioso, nos mostrarmos ansiosos não exibe para os outros que somos pessoas responsáveis, esforçadas, ocupadas, ansiedade não é virtude, não se ganha horas extras sendo ansioso. Ansiedade é oração que não foi feita, é doença construída em nossos corpos e mentes, é vaidade e incredulidade, é ver o problema maior que Deus, portanto, confiar em ídolo vazio, não no Senhor. 
      Muitos de nós, talvez a maioria, são ansiosos crônicos, disso nascem vícios buscados para que prazeres fáceis anulem a dor da ansiedade. Se todos devem ter vidas diárias de oração, muito mais os ansiosos, que podem transformar pequenos problemas em torturantes sofrimentos. O ansioso aguça sua criatividade de forma negativa, vive mais no plano imaginário e mental que no físico e real, a esse só experiência espiritual com Deus traz cura e paz. 

16/01/22

Abrir mão da coisa certa

      “Pois os braços dos ímpios se quebrarão, mas o Senhor sustém os justos. O Senhor conhece os dias dos retos, e a sua herança permanecerá para sempre. Não serão envergonhados nos dias maus, e nos dias de fome se fartarão.Salmos 37.17-19

      Em algumas situações, por mais que queiram e mesmo que se esforcem, muitos não conseguem mudar suas vidas, aceitar isso com humildade, seguindo com honestidade, principalmente quando o que tem que ser aceito é na área financeira, pode levar as pessoas a crescerem espiritualmente. Ainda que possa ser, não resiliência legítima, mas só aceitação passiva de uma situação onde se acomoda a ela, podemos crescer quando aprendemos a viver com a falta de algumas coisas. Mas e aquilo que temos e merecemos ter, conseguimos administrar bem, possuindo ou abrindo mão de possuir? 
      Com o que recebemos sem merecermos podemos nem nos sentir na responsabilidade de administrar, e isso em nada pode contribuir para nosso crescimento, ganhar uma fortuna em loteria pode até nos prejudicar e nos fazer piores que éramos antes de ganhar, o que fácil vem, fácil vai. Mas ter algo sabendo que se merece de alguma maneira, seja por se ter trabalhado para ter, ou por se ter recebido como herança e na herança há o mérito de se ser ligado legitimamente a alguém que tem algo, ter que abrir mão disso depois pode amadurecer muito mais que só aceitar uma situação de falta. 
      Citei a condição de herança porque um não tem culpa de nascer rico, como não tem culpa outro de nascer pobre, e tentem explicar a justiça de Deus diante disso, cristãos, baseados em sua doutrina tradicional. Tenho certa dificuldade de explicar isso assim, mas esse não é o ponto desta reflexão, o ponto é que indiferente do que recebemos podemos crescer espiritualmente neste mundo. O que não podemos é nos achar melhores, desconsiderando quem não tem, ou piores, odiando quem tem, a todos cabe humildade e ajudar quem não tem, e sempre há alguém que tem menos que nós. 
      A verdade é que quantidade não importa, todos podemos abrir mão de algo para que aprendamos a viver com menos, a não vangloriar-nos pelo que temos, para que cedamos um direito nosso por amor a alguém que precisa mais que nós. Quem dá nove partes de dez dá tanto quanto quem dá noventa partes de cem, mas quem dá uma parte de uma dá muito mais. Não somos avaliados espiritualmente baseados em aparência no mundo, em riquezas materiais, naquilo que a maioria dos homens considera muito ou valoroso, mas nas virtudes morais que nos permitem ser humildes e amorosos. 
      Muitos abrem mão de tempo de amar para trabalharem mais e serem prósperos materialmente, quando cresceriam mais espiritualmente se contentassem-se com menos, podendo trabalhar menos e amar mais. Outros são ociosos, têm tempo de sobra para amar e não amam, porque no excesso material sempre há dolo e negligência, mas deixando de trabalhar não beneficiam materialmente os que dizem amar. É tudo muito relativo, só Deus sabe o que alguém tem que abrir mão para crescer, se do excesso ou da falta, se de fazer ou de não fazer, se de reter ou de conceder, se de falar ou de calar.
      Não julguemos ninguém, mas não façamos as coisas para sermos vistos por homens, o excesso material sempre tem razão de existir na vaidade e no egoísmo, nos preocupemos com o que Deus pensa de nós, com o que ele quer de nós. Cada um de nós veio a este mundo com uma prova principal, ainda que muitas coisas aconteçam a nós, muitas perdas e muitos ganhos, existe uma coisa que nos é pedida que definirá toda nossa eternidade. Descobrir que coisa é essa, aceitá-la com humildade e vivê-la com temor a Deus, é o que nos dá o crescimento espiritual que nos acompanhará no outro mundo. 
      Tantos fazendo e acontecendo na vida, outros sofrendo e reclamando de homens, mas sempre fugindo dessa prova principal, assim têm existências inúteis, ainda que com tipos distintos de excessos. “Pois os braços dos ímpios se quebrarão, mas o Senhor sustém os justos… não serão envergonhados nos dias maus”, o que adianta se esforçar sem confiar em Deus? Dias maus chegam a todos, nesses dias uns não terão mais forças, porque se esforçaram no momento errado, outros acharão forças e paz quando muitos não acharem, porque confiam em Deus em todos os momentos e a ele são gratos.

15/01/22

Hobby, estilo de vida ou trabalho?

      “Mas tu, sê sóbrio em tudo, sofre as aflições, faze a obra de um evangelista, cumpre o teu ministério.II Timóteo 4.5

      Como você desempenha suas atividades religiosas, a oração, o estudo bíblico, os cultos: como hobby, como estilo de vida ou como trabalho? Alguns exercem religiosidade como hobby, gostam de ir a cultos e outras reuniões, sentem-se bem nessas atividades, têm respondidas questões importantes nelas. Esses apreciam o convívio social que essas atividades proporcionam, a sensação de pertencimento a algo maior, serem aprovados por um grupo, terem cúmplices, querem Deus, mas amam as pessoas que falam o que eles querem ouvir sobre Deus. Esses separam as coisas, têm outras vidas em outros lugares, usam uma sala de seus corações para religião, mas não ocupam a casa inteira com ela, por pouca coisa se mudam de igreja.
      Muitos têm nas atividades religiosas um estilo de vida, são os mais assíduos em cultos e conhecem profundamente suas doutrinas. Geralmente foram criados em igrejas, têm uma tradição familiar em suas crenças, se não se agruparem nos templos suas vidas não terão sentido, se pudessem viveriam dentro de igrejas, suas religiões são o único jeito que aceitam para viver e as aceitam sem críticas. Não dependem de opinião alheia para serem o que são e crerem no que creem, todavia, como amam extremamente algo, podem não gostar com mesma intensidade de outras coisas, mesmo que não externem isso e sejam educados com todos. Ligados à religião de homens, creem nela como a verdadeira e para mudar o mundo. 
      Outros exercem religião como trabalhadores profissionais, não precisam sentir para fazer, fazem porque é preciso, liderança de igreja é a que mais vê vida religiosa assim. Mas eles não são só líderes remunerados, há outros profissionais nas igrejas, que se sentem bem servindo, mesmo que não ganhem nada por isso, abrem e fecham templos, participam de vigílias em horários e lugares mais difíceis. Os hobistas saem e voltam, os “estilo de vida” são, digamos assim, meio alienados, mas os profissionais são a base de trabalho dos ministérios e a ligação desses com o mundo. A diferença entre eles e os outros é que são pragmáticos, têm noção que suas religiões não são perfeitas, e são mais politicamente corretos com outras religiões. 
      Você se identificou com alguma das análises? Sabe qual é o tipo mais correto? Na verdade os três, um pouco de cada um. Muitos precisam ver religião como algo socialmente sadio, não como um deus, mas como um meio para conhecer a Deus, e sempre achando algo bom, que faça bem, e se não fizer, que se mude, não de Deus, mas de templo, de igreja, mesmo de religião. Muitos precisam descobrir a felicidade que é ter na vida com Deus um estilo de vida, ao invés de ter isso na vida de bares, da noite, da bebida e das relações afetivas rápidas, mas novamente, não estilo de vida religiosa, mas de amizade com Deus, de forma natural. Outros, contudo, precisam entender a utilidade de trabalhar, não para uma religião, mas em Deus. 
      O que me levou a esta reflexão foi a experiência de vida com Deus como trabalho, e entenda certo, não com frieza, não no mau sentido de trabalho religioso profissional, que leva muitos a usar ministério como empresa com fins lucrativos materiais. Também não me refiro ao trabalho pela sobrevivência no mundo, que pode não precisar de qualidade moral, só de força física e preparo intelectual. Há um meio termo, e muitos são sustentados por Deus e de maneiras diversas para alimentarem os espíritos humanos com o pão da vida. Esses não ganham de igreja salário para desempenharem atividades em tempo integral, nem são reconhecidos como obreiros por homens, mas trabalham em segredo, servindo diretamente ao Senhor. 
      Deus chama muitos para esse trabalho direto, mesmo entre os que têm profissões seculares, entregando horas diárias para empresas para ganharem o suficiente para terem vidas dignas no mundo. O trabalho espiritual legítimo não depende de quantidade, mas de qualidade e fidelidade, quem é chamado para fazê-lo deverá estar disponível, não necessariamente para uma igreja ou para líderes cristãos, mas para o Espírito Santo de Deus. Os que têm essa chamada sentem uma inclinação forte, clara e em amor para ajudar os outros, mesmo que seja só intercedendo em oração. Apesar disso ter que ser encarado como trabalho, não é algo frio, mas vivido no calor do fogo do Espírito Santo e feito com humildade, de um jeito ou de outro. 
      Tenha religião como um hobby, tenha a amizade com Deus como estilo de vida, mas tenha o amor com que deve tratar os outros, ajudando-os, orando por eles, abençoando-os, como um trabalho, que deve ser feito todos os dias, pela fé, independente de como você se sente. Isso não é fazer a obra de Deus de qualquer jeito, mas é se esforçar para estar de pé, crente, mesmo com as lutas do mundo, com as injustiças dos homens, com as inconstâncias de nossas almas, mesmo com pecados do dia a dia (assumidos e perdoados), para ser instrumento do Espírito Santo para ser luz do Altíssimo no universo. Hobby pode ser vivido às vezes, estilo de vida é algo natural, mas trabalho é duro, e se não fizermos, ninguém fará por nós. 
      Que ninguém se escandalize ao ler que religião deve ser hobby, nisso, como sempre fazemos aqui no “Como o ar que respiro”, separamos religião de Deus. O ideal seria que nossas religiões e nossas igrejas representassem perfeitamente a vontade de Deus para os homens, no mundo e na eternidade, mas a história do cristianismo já provou que isso não acontece. Não é por isso que não devemos participar de igrejas, nem é por isso que não podemos descobrir o maravilhoso estilo de vida de Jesus, mas de um jeito ou outro todos somos chamados para trabalhar em Deus pelo próximo. Esse trabalho, mais que qualquer outra atividade, remunerada ou não, é o que leva os homens a crescerem e serem felizes, sentindo-se úteis no universo.

14/01/22

Poucas palavras

      “Aquele que não ama não conhece a Deus; porque Deus é amor. Nisto se manifesta o amor de Deus para conosco: que Deus enviou seu Filho unigênito ao mundo, para que por ele vivamos.” I João 4.8-9

      Tudo que tem que ser explicado demais é porque não é para ser explicado, a verdade maior é sempre fácil de ser dita, ainda que se refira a conhecimentos profundos. Explicações verbais são manifestações da matéria, o plano espiritual não precisa delas, o Espírito Santo não se comunica com quantidade de detalhes repetitivos, mas com uma única emanação de luz do Altíssimo. Somos nós, humanos encarnados, que sentindo essa manifestação espiritual tentamos expressá-la com nossa pobre e vaidosa semântica. Deus é amor! A explicação completa do que Deus é está nessas três palavras, e a manifestação física desse amor está no Cristo homem, João diz isso de maneira econômica e espiritual. 
      Você já deve ter tido a experiência de se relacionar com algumas pessoas, de se esforçar para ser amigo delas, mas de repente, por uma bobagem, ver a relação se acabar. Alguma coisa é dita e não é entendida, ou melhor é mal entendida, e depois, por mais que você tente explicar não tem jeito, as pessoas insistem em que entenderam outra coisa, que elas estão certas e que o errado é você. Aos meus sessenta e dois anos, eu tenho um certo pressentimento sobre algumas pessoas, é como se algo me dissesse, “cuidado, não insista, por mais que você tente isso um dia vai dar ruim, e o problema não é você, nem sofra com isso”. Não que sejamos perfeitos, mas com alguns nem perfeição basta.
      A verdade é que ninguém sabe o que vai nas cabeças das pessoas, as expectativas que elas têm sobre nós e as ideias que elas fazem sobre elas mesmas, só Deus. Muitos de nós nos levamos a sério demais, nos damos valores que não temos e que nem precisamos ter, e eu me incluo nesses. Assim, muitas vezes nos pegamos tentando convencer a nós mesmos, e por isso dizendo aos outros tantas palavras, tantas justificativas, tantos motivos para sermos isso e não sermos aquilo. Temos que ser seres humanos do bem e o bem é simples, não precisa de muitas explicações, só de amor. Deus teria todas as explicações do mundo para nos dar, mas ele amou, entregou seu filho para morrer, simples assim. 
      Quando temos uma experiência verdadeira com o Espírito Santo encontramos a paz, e muitas vezes numa situação que a princípio achávamos impossível ser resolvida, isso acontece porque recebemos de Deus uma palavra. Seja lendo a Bíblia, seja ouvindo uma pregação, seja em oração, a palavra de Deus é sempre simples, uma pequena frase, mas que nos faz ver a luz no fim do túnel. Se é numa pregação, às vezes de mais de uma hora de duração, uma frase que o pregador disser ficará em nossas mentes, porque essa era a palavra que Deus tinha para nós no meio do extenso discurso do homem, e pessoas diferentes poderão ser abençoadas por palavras diferentes de uma mesma pregação. 
      Deus não joga conversa fora, quando ele fala algo acontece, cumpre um propósito, e faz isso com poucas palavras, mas nem tudo que o homem diz, ainda que usando a Bíblia e citando Deus, é palavra do Espírito Santo. “Porque a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais penetrante do que espada alguma de dois gumes, e penetra até à divisão da alma e do espírito, e das juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração” (Hebreus 4.12), lindo esse versículo, comparando a palavra de Deus a uma espada afiada e precisa, que discerne intenções, verdade de mentira. Contudo, muitos cristãos não vivenciam o privilégio de poderem receber essa palavra quando precisam.
      Que nível de maturidade atingimos em nossa relação com Deus? Que grau de intimidade temos com o Senhor em nossas orações? Aprendemos a ouvir a voz do Espírito Santo? O Senhor pode nos falar pelas pregações de homens de Deus e pelo maravilhoso cânone bíblico, mas o consolador enviado por Jesus é a palavra viva de Deus conosco o tempo todo. Viver em oração, como nos orienta Paulo em Efésios 6.18, não é só louvar e pedir, é ouvir, e para isso é preciso calar todos os discursos que muitas vezes amamos dizer a nós mesmos. A semântica de Deus não é explicação ou som, é ação, é poder, é vida, e é simples e direta, como um raio puro de Sol que cai sobre nós após uma fria tempestade. 

13/01/22

A bênção vem do desconhecido

      “Assim diz o Senhor ao seu ungido, a Ciro, a quem tomo pela mão direita, para abater as nações diante de sua face, e descingir os lombos dos reis, para abrir diante dele as portas, e as portas não se fecharão. Eu irei adiante de ti, e endireitarei os caminhos tortuosos; quebrarei as portas de bronze, e despedaçarei os ferrolhos de ferro. Dar-te-ei os tesouros escondidos, e as riquezas encobertas, para que saibas que eu sou o Senhor, o Deus de Israel, que te chama pelo teu nome.
      Por amor de meu servo Jacó, e de Israel, meu eleito, eu te chamei pelo teu nome, pus o teu sobrenome, ainda que não me conhecesses. Eu sou o Senhor, e não há outro; fora de mim não há Deus; eu te cingirei, ainda que tu não me conheças; Para que se saiba desde o nascente do sol, e desde o poente, que fora de mim não há outro; eu sou o Senhor, e não há outro. Eu formo a luz, e crio as trevas; eu faço a paz, e crio o mal; eu, o Senhor, faço todas estas coisas.
  Isaías 45.1-7

      Muitas vezes duvidamos porque não fazemos ideia de quem Deus pode usar para nos dar uma bênção. Num momento em que Israel estava aprisionado pelo povo babilônico, Deus levanta um povo estranho e mais poderoso para libertar Israel. A chamada de Ciro é peculiar, o Senhor lhe diz, “te cingirei, ainda que tu não me conheças”, “dar-te-ei os tesouros escondidos… para que saibas que eu sou o Senhor… que te chama pelo teu nome”. 
      Maravilhoso como Deus capacita o que chama para um trabalho, e não se engane, Deus chama quem e quando ele quer. “Tomo pela mão direita para abater as nações diante de sua face… irei adiante de ti e endireitarei os caminhos tortuosos”, Deus chama e prepara o caminho do chamado antes desse começar a caminhar, Deus, Senhor do tempo e dos destinos.
      O trabalho pode ser duro, mas mandado por Deus tem objetivo poderoso, semelhante à chamada de Ciro, Deus sempre nos chama para libertar os homens, de um jeito ou de outro. Às vezes, também como Ciro, homens com os quais nem temos uma ligação direta, às vezes verdadeiros desconhecidos para nós. Mas também como com Ciro, Deus nos prepara antes assim como aqueles que temos que ajudar, de maneira que destinos diferentes se cruzem e o nome do Senhor seja exaltado. 
      Quem precisa da libertação, como no caso de Israel, pode não ter ideia de que Deus pode levantar um desconhecido, mais forte que aquele que o oprime, para que seja libertado, mas Ciro era o homem certo para vencer Babilônia. Deus sempre tem o homem certo para anular as forças das Babilônias que nos oprimem, confie nisso, se não vemos isso é porque não sabemos tudo. 
      O final do texto bíblico inicial é fantástico, “eu sou o Senhor e não há outro, eu formo a luz e crio as trevas, eu faço a paz e crio o mal, eu, o Senhor, faço todas estas coisas”, mistérios poderosos são revelados, ainda que sob a ótica temporal de Isaías, um profeta dos tempos antigos. O diabo não cria o mal, os homens não produzem as guerras, mas mesmo o mal e as guerras podem ser instrumentos de Deus para abençoar os quem temem seu nome. 
      Nada acontece sem a permissão do Senhor e tudo está previsto em seus planos, assim como será útil, na maravilhosa máquina cósmica do universo, para que a vontade de Deus seja feita, abençoando quem precisa, disciplinando quem necessita e punindo quem merece, num equilíbrio perfeito. Não duvide, Deus está preparando um Ciro específico para você, ainda que você não o conheça. 

12/01/22

“Escudo do bem” (2/2)

      “Vós, portanto, amados, sabendo isto de antemão, guardai-vos de que, pelo engano dos homens abomináveis, sejais juntamente arrebatados, e descaiais da vossa firmeza; antes crescei na graça e conhecimento de nosso Senhor e Salvador, Jesus Cristo. A ele seja dada a glória, assim agora, como no dia da eternidade. Amém.” II Pedro 3.17-18

      O poder é perigoso e quando se diz representante do bem é duplamente perigoso. Sem Deus o ser humano é inviável para administrar poder, assim muito menos será possível a ele exercer poder para o bem de todos. Se isso não é possível, muito menos é ser representante do Deus de poder e do bem no mundo. O homem já foi mais honesto, ainda que mais bruto era menos hipócrita, e vivemos um momento especial de hipocrisia no mundo, do politicamente correto utópico e chato. Não se pode mudar o mundo sem mudar o espírito humano, e esse só Deus, o verdadeiro escudo do bem, muda.
     Pode-se argumentar, o que há de errado em usar o “escudo do bem”, esse não é defensor de causas legítimas? Sim, as causas são legítimas, mas a intenção que leva muitos a usá-las não é boa. Primeiro porque muitas empresas adotaram essas causas só para serem aceitas por aqueles que se consideram os novos sacerdotes de uma nova religião, ciência e meio acadêmico. Ciência tem muita relevância, é bênção de Deus, mas não para substituir Deus e os valores espirituais, esses são referências que não fazem parte da competência científica, que pode tratar da matéria, não do espírito. 
      O meio acadêmico, que antigamente era dominado pelo cristianismo católico e já há algum tempo é dominado pela “esquerda”, tem formado os jovens para acreditarem que podem mudar o mundo (sem Deus). Assim os que se iniciam nas empresas já vêm com a “cabeça feita” assim, só o tempo para lhes ensinar que o mundo não funciona dessa maneira, mas até isso acontecer teremos um momento no mundo onde a nova religião ganha adeptos. Os publicitários só fazem se aproveitar desse momento, para vender a equivocados é preciso dar importância a equívocos, depois aliar produtos a esses.
      A internet e as redes sociais têm papel importantíssimo no estabelecimento do poder e na divulgação do “escudo do bem”, redes sociais são supranacionais, não pertencem a nenhuma nação, ainda que seus donos pertençam, coletam dados e distribuem informações para todo o globo. Mas a internet não é isenta, direciona as pessoas para aquilo que convém aos donos das páginas e sites, nos convence sobre necessidades que pouco antes nem sabíamos que existiam. Mas ela é meio para todos, ciência, ensino, empresas, publicidade, seja de esquerda, seja de direita, seja do centro. 
      Em segundo lugar, causas são boas e intenções não são, porque a relevância de muitas causas acha lugar nas pessoas de fora para dentro, de homens para o homem, e não de dentro para fora, do espírito humano para o Espírito de Deus. Muitos não sabem e muitos que sabem não assumem, mas o “escudo do bem” tem sido uma obrigação para empresas existirem e lucrarem, assim como para pessoas terem empregos e mantê-los, ainda que muitas não concordem com os “escudos”. A curto prazo isso é positivo? Sim, e necessário. A médio prazo isso terá eficiência? Sim, para surpreza de muitos. 
      Mas a longo prazo, como sempre no mundo, novos modismos surgirão e mesmo liberdade e respeito, se não forem virtudes espirituais no interior do homem, cederão lugares a outras coisas. O “diabo” cansou de ser mal, os seres humanos não acreditam mais, não a maioria, no pan (se puder leia matéria no link) católico medieval, um ser vermelho, de chifres, rabo e cascos. Por outro lado muitos homens não querem o verdadeiro Deus, mas colocam em seu lugar algo mais light, que lhes dê liberdade, respeito, serenidade, que os ajude a ter uma vida mais duradoura e de qualidade e a conservar o planeta.
      Não sejamos enganados pelos “escudos do bem” que publicitários e empresários têm usado para vender seus produtos. Por mais benignas que sejam as intenções, não se sustentarão sem o verdadeiro Deus. O “diabo”, como construção humana, e não o ser espiritual genuíno, tem sido modificado pelos séculos, assim fica um alerta. Que cristãos, arrogantemente achando-se com mais discernimento espiritual que os outros, não façam guerra contra um “diabo” que não existe mais, se é que algum dia existiu, enquanto são manipulados por um “diabo” mais inteligente, da internet e dentro de suas igrejas.

Leia na postagem de ontem
a 1ª parte desta reflexão.

11/01/22

“Escudo do bem” (1/2)

      “Senhor julgará os povos; julga-me, Senhor, conforme a minha justiça, e conforme a integridade que há em mim. Tenha já fim a malícia dos ímpios; mas estabeleça-se o justo; pois tu, ó justo Deus, provas os corações e os rins. O meu escudo é de Deus, que salva os retos de coração.Salmos 7.8-10

      O poder é perigoso e quando se diz representante do bem é duplamente perigoso. O homem ter poder no mundo é ter controle sobre outros homens, levá-los a fazer algo, antigamente isso era feito de forma beligerante, com guerras que conquistavam e faziam os perdedores escravos. Atualmente o ser humano, fantasiado de civilizado, usa meios menos violentos, mas que no final têm o mesmo objetivo, permitir que alguns tirem proveito de muitos. O capitalismo é a guerra hoje usada para conquistar, para que ele estabeleça poder precisa convencer as pessoas a comprarem coisas e ideias.
      Poder hoje está relacionado à manipulação das massas para consumirem, a humanidade, contudo, está numa fase dois do capitalismo. Aos produtos não bastam mais resolverem problemas imediatos, saciar fome e sede, vestir pessoas, ajudar em serviços domésticos e profissionais, levar pessoas a lugares, eles precisam ser sustentáveis, não prejudicar meio ambiente e saúde das pessoas assim como não restringir direitos. Tudo deve estar disponível para todos, sem preconceitos, por isso tem sido aliado à programação de TV, assim como à venda de serviços e produtos, causas sociais e humanitárias. 
      Usar causas do bem como argumento de convencimento de venda é o que chamaremos aqui de “escudo do bem”, entenda que há certa ironia nisso. A informação é uma arma importante do poder do capitalismo no mundo atual, usada para veicular esse escudo. A ciência legitimiza a informação, o meio educacional a ensina, as empresas a usam e a publicidade convence a sociedade que ela é boa, o poder é estabelecido por esses quatro braços. Os políticos servem a esse poder, a internet, a alma virtual do mundo real, transmite essa informação. Não há bem para todos nesse poder, só lucros para alguns, não há verdade, só conveniências. 
      Tanto os de esquerda quanto os de direita usam “escudos do bem”. Os que se dizem de esquerda, que têm maior apoio de professores, jornalistas e publicitários, constróem o tal “escudo do bem” dizendo-se representantes da ecologia, das diversidades e das minorias. Os que se dizem de direita têm tal escudo construído com os valores da tradição judaica-cristã, mas tudo é só o mal usando meios para seduzir e se aproveitar das pessoas, vendendo e obtendo lucros. Essa reflexão pode parecer uma visão pessimista e incrédula da realidade atual, mas não é, assim como não é só a deste que vos escreve.
      Aquilo que na “era anterior” era papel do cristianismo, principalmente do católico, agora, na chamada nova era, é papel da mídia e da publicidade, parece que o cristianismo não fez direito sua tarefa e outros usurparam seu lugar. Podemos argumentar que quando era papel da religião o objetivo era espiritual, e que agora, sendo de empresários e políticos, o objetivo é material, mas não é bem assim. Poder neste mundo sempre tem objetivos materiais. Ocorre que antes só a religião se sentia no direito de lutar por certas causas, agora outros se acham nesse direito. (Se tornaram as novas religiões?)
      A verdade é que o poder e o bem pertencem a Deus, qualquer um, religião ou outro, que se disser dono dele é usurpador, e ainda que acredite sinceramente que possa desempenhar poder e bem com justiça, se não for mau, será louco. Tivemos os dois tipos nos últimos anos na função política principal do nosso país, primeiro um pilantra e depois um insano. Pilantra porque roubou, louco porque acredita ser representante de Deus, não que alguém não possa ser as duas coisas, mas o pilantra tenta enganar os outros e sabe disso, enquanto que o louco tenta enganar os outros e a si mesmo.
      Tempos difíceis vivemos, os corações escondem a mentira lá no fundo, ainda que com fotos felizes na internet, com palavras de ordem em manifestações, engajados em lutas sociais, munidos da modernidade. Querem liberdade, mas para libertinagens, defendem as religiões, mas não amam a Deus, querem direito de serem o que querem ser, mas são todos iguais e não percebem. Nunca o bem esteve tão confuso, fantasiado de modismos, por isso nunca foi tão importante buscarmos com todo o coração o Deus verdadeiro, o único que nos livra de toda confusão dos falsos “escudos do bem”.

Leia na postagem de amanhã
a 2ª parte desta reflexão.

10/01/22

Narrativa do falso testemunho

      “Não admitirás falso boato, e não porás a tua mão com o ímpio, para seres testemunha falsa. Não seguirás a multidão para fazeres o mal; nem numa demanda falarás, tomando parte com a maioria para torcer o direito. Nem ao pobre favorecerás na sua demanda. 
      Se encontrares o boi do teu inimigo, ou o seu jumento, desgarrado, sem falta lho reconduzirás. Se vires o jumento, daquele que te odeia, caído debaixo da sua carga, deixarás pois de ajudá-lo? Certamente o ajudarás a levantá-lo. Não perverterás o direito do teu pobre na sua demanda. 
      De palavras de falsidade te afastarás, e não matarás o inocente e o justo; porque não justificarei o ímpio. Também suborno não tomarás; porque o suborno cega os que têm vista, e perverte as palavras dos justos.” 
Êxodo 23.1-8

      A palavra “narrativa” está em moda atualmente no meio político, ela significa uma interpretação de fatos. Os fatos deveriam ser a verdade, e portanto impassíveis de interpretação, os fatos são os fatos, não boatos. Mas não tem sido assim, mentira também está em moda, e alguns a repetem à exaustão utilizando a estratégia que diz que mentira repetida torna-se verdade. Quando tantas falsas testemunhas se levantam me lembro das orientações da velha aliança sobre falso testemunho, eis um ensino que muitos cristãos que querem a prosperidade do antigo testamento não seguem. Isso, contudo, só é mais uma narrativa, que pega o que convém e desconsidera o resto, tomando partes da verdade inteira, mas meia verdade é na verdade uma mentira inteira. 
      Vou dar um exemplo, um bêbado, depois de passar num bar e tomar muitas cachaças, tropeça na calçada e cai dentro de um templo, no chão, desacordado, ele fica durante toda a missa. Depois, ele consegue se pôr de pé e voltar para a casa, lá, a esposa pergunta-lhe: onde esteve? Ele responde, na missa. É mentira? Não, mas é só parte da história, contudo, o alcoólatra pode construir toda uma narrativa sobre isso, dizer que a esposa é uma megera, que desconfia dele, que o calunia, mesmo quando ele está numa missa na igreja. Atualmente no Brasil existe muito “bêbado” caindo dentro de “igreja” dizendo que foi à “missa”, e não só políticos, como a mídia, ainda que ela diga ser dona exclusiva de fatos e da narrativa verdadeira. A narrativa da verdade só Deus detém. 
      Não há novidade, o homem sempre foi mau, os poderes sempre construíram a narrativa histórica que lhes convinha, o rei deposto sempre foi o vilão e o posto o herói, entretanto, o triste é ver muitos cristãos defendendo narrativas. Todavia isso também não é novidade, um estudo sem muita profundidade na história do cristianismo católico e protestante mostrará uso de narrativas manipuladas, usando até partes da verdade, mas sempre para beneficiar uns e deslegitimizar outros. O que mais me assusta é que evangélicos que ouviram por tanto tempo que o mundo jaz no maligno, que o deus do mundo é o pai da mentira, ainda são enganados, tomam partido de homens que só têm interesse em poder no mundo, esses cristãos não entenderam que sua Canaã está no céu. 
      Sobre o texto bíblico inicial, em primeiro lugar precisamos recordar que as leis de Moisés não eram para uma vida espiritual, para preparar o homem para a eternidade, isso até poderia ser consequência, mas o foco das orientações de Deus para Israel era conduta social no mundo. As leis de Moisés eram a constituição política, o código penal, recomendações de saúde e higiene, relação completa de regras para a existência de um povo de forma civilizada. Isso tudo além dos protocolos de religião, de sacrifícios, de festas, de manutenção da tribo de sacerdotes de Levi e do templo. O texto fala sobre justiça social, sobre falso testemunho e outras injustiças, isso abrangeria a todos, indiferente de classe social ou ligação afetiva, e nisso há mais que regras de cidadania.
      A orientação que chama a atenção é se vires o jumento daquele que te odeia caído debaixo da sua carga, deixarás pois de ajudá-lo?”. Deus é paciencioso, num tempo da lei de talião, de um ser humano infantil social e intelectualmente, o Senhor dava orientações para uma vida moral madura que conduziria o homem daquele tempo à espiritualidade que seria avaliada na eternidade. A lei poderia ter dito somente, ajude a todos, mas o detalhe aquele que te odeia é revelador, e não diz o que você odeia, que poderia dar a alguém motivo para não ter que ajudar o outro. Auxilie o que te odeia, ou, “amai a vossos inimigos… fazei bem aos que vos odeiam” (Mateus 5.44), se alguém já age certo não odiando, mesmo o que o odeia, faça mais, dê a outra face, ajude esse em sua necessidade. 
      O que isso tem a ver com “narrativas” e falso testemunho? Talvez não tenha nada a ver para os que não temem a Deus, mas para os cristãos isso deveria significar muito na prática de vida real. Ficarmos do lado da verdade, pagando o preço que for preciso, temos coragem para fazer isso? Mas ficar sempre com a verdade é ficar sempre com Deus, isso é possível? É, em primeiro lugar se desconectarmos Deus de religiões e de líderes religiosos, mas também se desligarmos religião de política. Sim, podemos ter religiões e relações com política, mas passando tudo pelo filtro de Deus. Se isso não acontecer, se não tivermos coragem para isso, e nisso implica não sermos aprovados por muitos homens, seremos só marionetes de narrativas de homens, portanto, falsas testemunhas. 

09/01/22

Vocação para a paz (9/9)

      “Se for possível, quanto estiver em vós, tende paz com todos os homens.” Romanos 12.18

      Não creio que no século XXI Deus chame seus filhos para morrerem pelo que creem, não como regra, não como foi nos primeiros séculos num mundo dominado pelo paganismo greco-romano, não no Brasil ou em nações civilizadas. A morte para a qual o Espírito Santo chama não é a física em batalha da direita política contra esquerda, da democracia contra o comunismo, de crentes contra ateus, não, a humanidade já passou desse momento, e se muitos teimam em ver o final da tempos assim serão surpreendidos e manipulados. A morte para a qual somos chamados é a do ego, das vaidades, do orgulho e dos preconceitos, para que amor e justiça vençam. Será que a maioria do povo evangélico brasileiro está preparada para morrer do jeito realmente certo?
      Pelo que temos visto muitos evangélicos preferem pôr as mãos em armas e atirar contra os que o atual presidente considera seus opositores, que oferecerem a outra face e orarem pelos que os perseguem. Nessa análise nem estou dizendo que as causas pelas quais muitos evangélicos lutam e querem lutar não são legítimas, só estou dizendo que a maneira como eles querem lutar não é a maneira legítima do evangelho, não é modo de ser de pacificadores. Para que as causas fossem legítimas teriam que ser, por exemplo, por liberdade de culto, por direito de testemunhar suas crenças em público, por direito de possuir, levar e estudar a Bíblia. Mas eu pergunto, é por isso que certos líderes evangélicos estão conclamando o povo cristão para se manifestarem politicamente? 
      Não, é só para fazerem prevalecer sobre os outros a visão ideológica que eles acham ser a certa, a de Deus, eles não são prejudicados, mas querem prejudicar os outros. Tudo isso apoiando desobediência à constituição, a volta da ditadura militar, o desrespeito com os poderes judiciário e legislativo. Eu pergunto, se os evangélicos tivessem todo esse poder que agora querem ter, como eles administrariam, por exemplo, os afroespíritas? Isso mesmo que hoje a verdade seja que evangélicos destruindo terreiros de candomblé e umbanda são excessões, não é a regra que, ainda nas entrelinhas, a mídia de esquerda diz ser. Muitos evangélicos chegaram hoje num ponto que não acreditávamos que fosse possível que chegassem há anos atrás, contudo, eu temo, não sei se isso pode ficar pior.
      Os evangélicos brasileiros não são mais inexpressivos e muito menos vítimas injustiçadas, e eis o cenário para que humildade e pacificação sejam dispensáveis. Como diz o ditado, dê poder ao homem para conhecer quem de fato ele é. Bastaram mais ou menos trezentos anos para o cristianismo primitivo e puro se transformasse no catolicismo pagão e corrupto, parece que não está sendo diferente com o protestantismo. “A soberba precede a ruína e a altivez do espírito precede a queda. Melhor é ser humilde de espírito com os mansos, do que repartir o despojo com os soberbos” (Provérbios 16.18-19). “A luz dos justos alegra, mas a candeia dos ímpios se apagará. Da soberba só provém a contenda, mas com os que se aconselham se acha a sabedoria” (Provérbios 13.9-10). 
      O Espírito Santo já vinha há alguns anos me alertando sobre certos desvios, a teologia da prosperidade, a “dizimolatria”, a doutrina preconceituosa sobre homoafetivos, o uso de igrejas como empresas para fins lucrativos etc. Mas isso se restringia aos templos e às vidas internas das igrejas, contudo, bastou um político no âmbito federal surgir dizendo-se “evangélico” e com viés ideológico de direita, que o desvio tomou proporções mais sérias. Um falso cristianismo beligerante e querendo poder no mundo só segue, ainda que de maneira mais civilizada, revivendo as antigas cruzadas e a inquisição, se não com a mesma violência, com o mesmo espírito. Quanto ao Espírito Santo, permanece longe de tudo isso, chamando os filhos de Deus para serem pacificadores.  

08/01/22

Pacificadores, não soldados (8/9)

      “Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus.Mateus 5.9 

      Deus não chama para a batalha, mas para a paz! Ser pacificador não é escolha para um filho de Deus, não é virtude opcional, que às vezes pode ser deixada de lado, como para conquistar algo quando se considera que assim como Deus autoriza também libera meios mais agressivos. No antigo testamento Deus autorizava e apoiava guerras físicas, onde inimigos eram submetidos e muitas vezes aniquilados, incluindo mulheres e crianças desses. Mas esse definitivamente não é o modo de agir de um povo de Deus debaixo da nova aliança em Cristo, aliás nessa aliança não existe uma nação de Deus e povos inimigos, existem só indivíduos, todos chamados para a comunhão com Deus e portanto com privilégios de serem filhos de Deus, amigos entre si e em paz. 
      A marca de um filho de Deus é ser pacificador, ainda que isso custe sua vida! Isso é ponto passivo no evangelho, assim, não há espaço para embates de qualquer espécie, sejam verbais ou físicos, entre indivíduos, e principalmente entre um filho de Deus e outro indivíduo que não aceita sê-lo. Por ser essencialmente um pacificador, o filho não tem direito de ser agressivo em confrontos com a certeza de vitória só por ter Deus como pai. Mesmo o filho de Deus, se colocar-se como opressor, não terá o apoio do Senhor, e mais, pode ter uma derrota mais vergonhosa que o que não se posta como filho. Isso porque o que não se liga a Deus não precisa dar testemunho dele, mas o que se põe na posição de filho precisa, a esse Deus tem que disciplinar com rigidez. 
      Se algum pastor evangélico discorda disso que rasgue de sua Bíblia as páginas com o sermão da montanha, o das bem-aventuranças. Pode-se argumentar, “Jesus perdeu para que ganhássemos, se ele morreu nós não precisamos morrer, ganhamos vida pela cruz”. A teologia da substituição tem levado os cristãos a enganos, a ideia de que Cristo se tornou salvador morrendo, por isso tendo o poder de dar vida aos que creem nele, pode conduzir a uma valorização exagerada da fé. Os judeus precisavam de uma ideologia que lhes permitisse a passagem de sua religião para uma religião mais espiritual, que permite a religação com Deus entregue à humanidade por Jesus, assim o sacrifício de Jesus foi ensinado como substituto para sacrifícios de animais.
      Em Cristo, neste mundo, não somos chamados à vida, mas à morte, para que tenhamos direito à vida eterna no outro mundo. Por não aceitar essa vocação é que muitos evangélicos, amando mais a si que a Deus, querendo a glória do mundo e não a do céu, não aceitam a missão de pacificador. “Se Cristo morreu por mim eu posso viver”, pensam muitos, “se ele venceu o mal eu posso vencer as batalhas”, esbravejam tantos, “se Jesus é o caminho, a verdade e a vida eu não preciso me curvar a homens de religiões idólatras e satanistas”, creem tantos evangélicos. Vendo as coisas assim não se sentem na obrigação de serem pacificadores, mas “exército de Deus marchando para a batalha”, eis o entendimento equivocado que muitos fazem do evangelho de Cristo.
      Fé em Jesus não substitui obras, somente dá ao homem a paz do perdão de Deus que fortalece o homem para trabalhar e ter direito à vida eterna. Qual foi a principal missão de Jesus? Foi morrer ou foi viver? Foi substituir ou mostrar como ser? A trajetória de Cristo teve vários significados, e um ser humano acostumado, pela sua infantilidade intelectual, moral e espiritual, a mistificações e superstições, a rituais de sacrifícios de sangue, precisava de algo que impressionasse fortemente a ideia que ele tinha (e que muitos ainda têm) sobre religião que aplaca a ira dos deuses e paga o preço dos pecados. Mas Jesus foi muito mais que isso, foi o modelo de ser humano espiritual que todos devem almejar, e isso inclui dar a própria vida por amor, para ser pacificador, não soldado.

07/01/22

Não há paz mundo (7/9)

      “Porque desde o menor deles até ao maior, cada um se dá à avareza; e desde o profeta até ao sacerdote, cada um usa de falsidade. E curam superficialmente a ferida da filha do meu povo, dizendo: Paz, paz; quando não há paz. Porventura envergonham-se de cometer abominação? Pelo contrário, de maneira nenhuma se envergonham, nem tampouco sabem que coisa é envergonhar-se; portanto cairão entre os que caem; no tempo em que eu os visitar, tropeçarão, diz o Senhor.Jeremias 6.13-15

      Só há paz quando há luz e verdade, nas trevas e na mentira não há paz. Só Deus tem luz moral e verdade espiritual, sem Deus há sujeira moral e engano espiritual. Se há mentira, há “diabo”, a Bíblia diz que ele é o “pai da mentira” (João 8.44). Quem vive na mentira não consegue ter vitória moral, assim há trevas, e também há “diabos”, a Bíblia diz que eles são os “príncipes das trevas” (Efésios 6.12). O que evidencia ausência de Deus e consequente presença do “diabo” é trevas e mentira, sujeira moral e engano espiritual, ainda que existam religião e ensinos bíblicos envolvidos. 
      “Eu sou a porta; se alguém entrar por mim, salvar-se-á, e entrará, e sairá, e achará pastagens. O ladrão não vem senão a roubar, a matar, e a destruir; eu vim para que tenham vida, e a tenham com abundância. Eu sou o bom Pastor; o bom Pastor dá a sua vida pelas ovelhas.” (João 10.9-11). Eis uma definição detalhada do mal, mas será que ela se aplica só ao conceito tradicional cristão sobre o “diabo”? Se alguém se coloca em nome de Deus, pregando a Bíblia, mas roubando, matando e destruindo, também está na papel de “diabo”, ainda que diga ser sacerdote cristão. 
      Pelos frutos alguém é reconhecido, não pelas palavras ou pelo marketing. Alguém pode dizer, “as igrejas estão cheias de gente com fé, sentindo-se fortalecida com o que ouve e pratica, há frutos e portanto há Deus”. Mas isso é muito relativo, o ser humano se adapta a qualquer coisa para sobreviver e adapta qualquer coisa para crer e achar respostas sobre o mundo espiritual, para o qual a ciência não tem respostas. O ponto desta reflexão é: não pode haver paz, seja num mundo sem Deus, seja em igrejas, que ainda que falem de Deus são desvios do verdadeiro caminho de Deus.
      A colheita é relativa ao plantio e plantio de mentiras tem colheita rápida. Já plantação de meias verdades, principalmente quando o nome de Deus é envolvido, demora mais tempo para ser colhida. Deus tem misericórdia de todos, se o nome dele é dito, ainda que por bocas mentirosa e para fins materialistas e egoístas, ele abençoa os que ouvem. Muitos, mesmo dentro de igrejas hereges, como foi no catolicismo e como é hoje em muitas igrejas evangélicas, querem o Deus verdadeiro, precisam dele, ainda que não saibam como buscá-lo ou não tenham lugares melhores para isso. 
      Contudo, sempre há colheita, toda mentira e trevas colherão seus justos frutos, ainda que sob o poderio de um Vaticano controlando riquíssimas catedrais em todo o mundo, ou de falsos “Templo de Salomão” que recebem milhares de pessoas em seus cultos. Infelizmente antes da disciplina, e como gatilho para ela, vem uma falsa elevação, Deus permite essa elevação para que depois, na disciplina, a maior parte possível de pessoas possa ver a queda em vergonha. Esse é o fim de um cristianismo desviado apoiando líderes políticos no mundo e desejando o conflito e não a paz. 
      Não há paz no Terra, não pode haver, lutar por ela mesmo em nome de religião é tão inútil quanto tendência à violência, foi assim no catolicismo, é assim em religiões do mundo árabe, onde se tenta criar uma sociedade conforme utopia doentia de homens e impô-la ao mundo. Brasil evangélico, volte à humildade, seja espiritual, não carnal se achando exército divino sob ordens divinas, isso é uma mentira que conduz às trevas e que num determinado momento deixará muitos envergonhados, não sem paz do mundo, mas sem paz de espírito, e essa é possível aos humildes. 

06/01/22

Paz de espírito (6/9)

      “Tenho-vos dito isto, para que em mim tenhais paz; no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo.” João 16.33

      Se um não quer, dois não brigam, diz o ditado, só há guerra quando há dois lados se opondo, basta alguém estar com paz de espírito para não existir conflito! Ocorre que dois lados opositores se levantaram no Brasil, e ambos sem paz de espírito, e o pior é que em um dos lados se posicionam um grande número de cristãos evangélicos, os que mais deveriam praticar a paz. Se uma guerra política ideológica ocorrer em nosso país será por culpa dos últimos que entraram no embate, e infelizmente esses são muitos cristãos evangélicos fomentados por líderes evangélicos carnais.
      “Cuidais vós que vim trazer paz à terra? Não, vos digo, mas antes dissensão; porque daqui em diante estarão cinco divididos numa casa: três contra dois, e dois contra três.” (Lucas 12.51-52), amo textos bíblicos assim, que entregam superficialmente uma contradição, e eu disse superficialmente pois só é contradição aos que entendem Bíblia ao pé da letra, sem se darem ao trabalho de buscar orientação de Deus. Esse texto não apoia qualquer espécie de “guerra santa”, mas deixa claro que quem segue verdadeiramente a Deus poderá ser visto como inimigo por outros, ainda que não seja.
      Trevas naturalmente se opõem à luz, mas a luz vence só por existir, sem que precise fazer mais nada, muito menos exercer violência. Só a luz traz paz de espírito, em paz ninguém sente necessidade de entrar em conflitos. Desejo de fazer guerra é necessidade de impor um ponto de vista, tem essa necessidade quem não tem certeza sobre o que é e pensa, por isso tentando convencer a si mesmo tenta convencer os outros. A luz não argumenta, simplesmente existe e ilumina, Jesus homem vivia assim, como luz, por isso convencia por amar, não por dizer a última palavra ou se impor por força.
      “Sendo os caminhos do homem agradáveis ao Senhor, até a seus inimigos faz que tenham paz com ele” (Provérbios 16.7), muitos evangélicos deveriam prestar atenção a esse versículo. Se nada justifica violência, pelo menos não numa sociedade civilizada, muito menos é justificável aos que se denominam cristãos entrarem em guerras, mesmo que sejam só manifestações políticas por ideologias. Se agradamos a Deus a luz vence e a paz é possível, não militando por política, mas dando testemunho de amor como indivíduos com paz de espírito, ainda que num país sem paz.

05/01/22

Oremos pela paz do Brasil (5/9)

      “Orai pela paz de Jerusalém; prosperarão aqueles que te amam. Haja paz dentro de teus muros, e prosperidade dentro dos teus palácios. Por causa dos meus irmãos e amigos, direi: Paz esteja em ti. Por causa da casa do Senhor nosso Deus, buscarei o teu bem.Salmos 5.6-9

      Oremos pelo Brasil! Isso é dito em muitas igrejas evangélicas por pastores, com a intenção sincera de que haja paz e prosperidade no país. Mas será que esses entendem de fato o que estão dizendo? O Brasil tem uma população atual de quase 214 milhões de habitantes, apesar das estatísticas dizerem que a maioria é de católicos penso que seja de evangélicos e praticantes, mas existe muitos espíritas (se diz a nação mais espírita do mundo), incluindo afroespíritas, além de porcentagens menores de outros religiosos. O que se pretende para todos esses orando genericamente pelo Brasil?
      A resposta do evangelista é clara, que todos sejam evangélicos, mas será que é para ser assim? E ainda que haja um grande número de evangélicos oficialmente em igrejas, isso representaria (ou representa) um cristianismo de qualidade no país? Penso que não, e o catolicismo já provou isso, se o homem é corruptível, o poder é mais e o poder religioso é mais danosamente corruptível. O texto inicial diz “orai pela paz de Jerusalém”, num tempo em que guerras era estilo de vida e ferramenta para conquista e manutenção de poderes, paz era um bem precioso.
      O homem sempre foi beligerante, ainda é hoje e mesmo sendo cristão, mas o que de fato é querer e estabelecer hoje a paz no Brasil? Em primeiro lugar é abrir mão de tomar partido de um lado, posicionar-se no mundo é opor-se aos que se posicionam contrariamente. Mas cristãos não podem se posicionar? Podem e devem, mas não por partidos humanos, por Deus, e de maneira alguma achar que neste mundo possa existir um partido de Deus. Deus não precisa de partido no mundo, nem de representantes oficiais, seu único representante é o Espírito Santo. 
      O cristão não deve envolver-se com política? Como cidadão, sim, não como cristão. Isso é possível? É, mas é difícil e não é para todos, não querer impor o que sabe que é o melhor para o homem, respeitando livre arbítrio e administrando política para todos e não somente para cristãos, é missão que não sei se Deus dá a alguém. Por isso o melhor é exercer cidadania votando certo, não exercendo cargo político e nem fazendo campanha para políticos, principalmente em templos, ou pior, de púlpitos. Cristão genuíno tem bandeira melhor por que lutar, de paz, não de guerra. 

04/01/22

O Espírito conduz à paz (4/9)

      “Porque os que são segundo a carne inclinam-se para as coisas da carne; mas os que são segundo o Espírito para as coisas do Espírito. Porque a inclinação da carne é morte; mas a inclinação do Espírito é vida e paz.Romanos 8.5-6

      O ensino do texto bíblico inicial é simples, paz é inclinação do Espírito Santo, Deus nos atrai à paz, quem está em comunhão com Deus deseja e vive a paz. Por isso uma pergunta se levanta: como podem muitos evangélicos, e alguns sendo líderes desses, acharem em vida política beligerante algo agradável a Deus? Algumas respostas podem ser dadas, tentando ser justo com todas as pessoas e compreensivo com o amor irrestrito de Deus. 
      As pessoas não estão no mesmo nível espiritual no mundo, e muitas ainda creem num Deus que tem como prioridade dar a elas recursos materiais para sobrevivência. Isso é justo, por exemplo, num país onde falta emprego, infraestrutura de água e esgoto, sistemas de ensino e saúde, não podemos ser extremistas achando que os que vão a cultos pedir milagres físicos são menos espirituais, eles só são o que podem ser, e nisso não há nada de errado.
      Deus ama a todos, e os “pequeninos” (Mateus 18.6) que entendo ser os espiritualmente infantis, Deus cuida respeitando suas limitações. O problema não são esses, mas líderes, que ao invés de servirem respeitando as limitações dos liderados, usam as limitações para manipular e obterem poder no mundo. É claro que muitos líderes estão no mesmo nível espiritual dos liderados, assim não se pode exigir desses mais do que eles são, Deus não exige. 
      Essa reflexão pode explicar como se levanta um líder político estúpido, se dizendo cristão e tendo apoio de tantos evangélicos e líderes cristãos. Talvez o papel de quem vê em tudo isso infantilidade espiritual seja ser maduro espiritual, aceitar essa situação e orar por todos, buscando a paciência que Deus tem com todos nesse momento, e não ser mais um sem paz, alimentando conflitos, em nada contribuindo para que o melhor de Deus prevaleça. 
      O Espírito Santo que inclina para a paz não vive só nos que passaram do nível de ver a existência humana sobre o ponto de vista do antigo testamento, também habita nos “pequeninos” e os inclina à paz, ainda que esses entendam conquista de paz de maneira diferente. Não reajamos àquilo que não concordamos, nem para dizer que não deve haver conflitos, só isso já gera conflito, mas oremos pela paz do Brasil, o momento urge por isso. 

03/01/22

Jesus, pacificador (3/9)

      “Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu, e o principado está sobre os seus ombros, e se chamará o seu nome: Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz.Isaías 9.6

      No início de um ano em que haverá eleições presidenciais, sabendo que esse processo não será fácil, já vivendo desde a última eleição um momento de ânimos acirrados, com polaridades definidas e ambas se achando donas da verdade, algumas reflexões sobre “pacificador”. A passagem bíblica inicial é uma profecia sobre Jesus feita pelo profeta Isaías, nela várias características do messias são citadas, a última é “Príncipe da Paz”. 
      Quem segue Jesus deve ser um pacificador, a missão do Cristo foi trazer paz aos seres humanos, não ao mundo, pois enquanto houver os que pelo livre arbítrio não querem essa paz não haverá paz no planeta como um todo. Nós cristãos temos vocação para a paz, nisso achamos felicidade, nisso agradamos a Deus, nisso cumprimos nossa missão, administrarmos em paz a escolha de muitos em não quererem a paz é uma de nossas missões.
      Pergunte a si mesmo, minhas palavras e atitudes, na internet e no mundo, têm sido de pacificador? Ou tenho usado minha posição de filho de Deus para promover polêmicas e gerar conflitos, principalmente hoje no Brasil? Se até aos que recebem a paz do “Príncipe da Paz” falta equilíbrio, guerras têm liberdade para existir, deixando o mundo em trevas. Sejamos pacificadores, isso é missão dos verdadeiramente da luz, não dos outros. 

02/01/22

Para sermos achados em paz (2/9)

      “Mas nós, segundo a sua promessa, aguardamos novos céus e nova terra, em que habita a justiça. Por isso, amados, aguardando estas coisas, procurai que dele sejais achados imaculados e irrepreensíveis em paz. II Pedro 3.13-14

      Ainda que num mundo injusto, onde a paz é difícil, com homens dominando sobre homens para terem lucro, temos uma certeza. Aguardamos novos céus e nova terra na eternidade, quando seremos avaliados e honrados com justiça e com amor, um mediando o outro. Esse é o motivo de podermos ter paz, a força para aperfeiçoarmos nossos caminhos. O objetivo é alto, chegarmos ao final sem máculas e necessidade de repreensão, mas Jesus é luz que vai conosco. 
      Com os pés firmes na terra andemos entre os homens com sensatez e lucidez, com humildade e temor a Deus, mas com os olhos espirituais firmes no Altíssimo, buscando as virtudes eternas mais que as riquezas e os bens materiais. Com as mãos no trabalho, servindo e não buscando ser servidos, ouvindo e não querendo só sermos ouvidos, mas com o coração no Santo Espírito do Deus que tudo vê, avalia e a todos permite colheitas justas no tempo adequado.

01/01/22

Paz na Terra (1/9)

      “Glória a Deus nas alturas, Paz na terra, boa vontade para com os homens.Lucas 2.14

      Glória ao Deus único e verdadeiro que emana sua luz sobre nós neste mundo, dando-nos paz e inteligência para conhecermos sua vontade, nos acolhendo com seus braços de amor para nos perdoar, consolar e libertar. Esse Deus é o Altíssimo, cuja mente está nas maiores alturas espirituais, as elevadas regiões celestes das quais só Jesus Cristo é a porta, e pela qual somos todos chamados a entrar no mover do Espírito Santo, que nos conduz em santidade e glória.
      Paz na terra, paz no mundo, paz no Brasil, paz a todos os homens, para que possam ser livres para fazerem suas escolhas, respeitando os direitos dos outros, mas sendo o que desejarem ser, como indivíduos, como profissionais, como famílias. Boa vontade em todos para que se respeite a todos assim como ao planeta, suas águas, suas terras, seus vales, seus montes, seu ar, sua natureza, seus animais, boa vontade para que se busque entendimento, justiça e harmonia.

31/12/21

Fim de ano

      “Mas a terra que passais a possuir é terra de montes e de vales; da chuva dos céus beberá as águas; terra de que o Senhor teu Deus tem cuidado; os olhos do Senhor teu Deus estão sobre ela continuamente, desde o princípio até ao fim do ano.Deuteronômio 11.11-12

      Terra de montes e de vales, nessas especificações a descrição das terras físicas que Israel possuiria no antigo testamento lembra nossas vidas no mundo sob o ponto de vista emocional. Não experimentamos uma vivência equânime, em maiores ou menores dimensões provamos variações de humor, intercalando prazer e dor, medo e coragem, paz e tristeza. Aceitemos isso com humildade, todos provam isso. 
      Da chuva dos céus beberá águas, novamente podemos ver algo físico como metáfora, agora de nossa vida espiritual. Nosso alimento melhor, para nossos espíritos eternos, não vem da água dos rios ou do pão feito com o trigo, mas diretamente de Deus. Esse não podemos produzir ao nosso bel-prazer, a única fonte é o Altíssimo, a ele temos que buscar para receber. Não confiemos em águas estranhas de poços de homens. 
      Terra de que o Senhor teu Deus tem cuidado, o que Deus nos dá hoje ele pode ter estado preparando para nós há muito tempo, aguardando só o momento adequado para nos entregar. Quando conseguimos entender isso entendemos que Deus nunca para de trabalhar, não desperdiça tempo nem se apressa, faz tudo no tempo certo, assim esperar seu tempo é o melhor. Confiar nisso é crescer e ter paz mesmo na espera.
      Os olhos do Senhor teu Deus estão sobre ela continuamente, desde o princípio até ao fim do ano. Nada anula promessas de Deus, nem os homens, nem o mundo, nem o findar de um ano. Agradeça ao Deus que cuidou de você e de sua família por todo um ano e que continuará cuidando. A obra que Deus começa ele termina, para quem o teme é obra de vida eterna, não é uma Canaã visível neste mundo de homens. 

30/12/21

Fim da construção

      “O teu coração não inveje os pecadores; antes permanece no temor do Senhor todo dia. Porque certamente acabará bem; não será malograda a tua esperança.Provérbios 23.17-18

      Olhos no presente, isso é bom, permite que vivamos o momento e não nos culpemos pelo passado ou ansiemos o futuro. Contudo, quem anda com Deus está num trabalho de construção, assim sabe que no presente está aquém do seu melhor. Para ser construído antes precisa ser desconstruído, você já foi desconstruído pela vida? Ou sempre se viu tão suficiente e competente que até acha que precisa melhorar, mas sobre uma base indestrutível? 
      Por outro lado, ter consciência da construção que é a vida, não pode nos levar à tristeza de nos acharmos perdedores que nunca terão jeito, vendo os outros em condições melhores, sendo mais felizes e podendo zombar de nós por isso, o que nos leva a inveja-los. Reforma tem um custo, quem já passou por ela morando na casa sabe disso, mas nessas situações não nos prendemos ao presente, olhamos para o futuro, para o que a casa será após a reforma. 
      A construção que Deus nos chama a fazer tem essa peculiaridade, não podemos nos ausentar de nós mesmos enquanto é feita, ela ocorre enquanto vivemos no mundo, convivemos com as pessoas, tendo que ser produtivos para sobreviver na Terra. Se pudéssemos simplesmente colocar uma placa, “fechado para reformas”, seria mais fácil, mas não pode ser assim, e na verdade é isso que confere qualidade à construção, pois exige de nós paciência. 
      O que nos leva a cometer muitos pecados é a pressa, a falta de paciência, assim, muitas vezes Deus permite que o recebimento de algo demore, não só para aprendermos a usufruir o que receberemos, mas para que aprendamos a ser pacientes. Deus não tem nenhum interesse em que não tenhamos uma boa casa para morar, mas não poderemos levar uma casa para céu, o que levaremos são virtudes morais, dentre elas, a paciência que gera esperança. 
      “Nos gloriamos nas tribulações, sabendo que a tribulação produz a paciência, e a paciência a experiência, e a experiência a esperança” (Romanos 5.3-4), não será malograda a tua esperança, que promessa maravilhosa essa. Malograr significa desperdiçar ou fracassar, esperar em Deus não frustra, não é trabalho inútil, mas tem recompensa, se é que permitimos que Deus nos desconstrua para depois nos construir melhor, conforme sua vontade. 

29/12/21

Fim da opressão

      “Habitem contigo os meus desterrados, ó Moabe; serve-lhes de refúgio perante a face do destruidor; porque o homem violento terá fim; a destruição é desfeita, e os opressores são consumidos sobre a terra.Isaías 16.4

      O homem é o único ser na Terra que oprime semelhantes e não para fins de sobrevivência básica. Ele não o faz só por necessidade de obter alimento, mas por vaidade, querendo ter mais que necessita, de forma criminosa tomando o que não é seu, por crueldade, só pelo simples prazer de oprimir. Opressão, uma das piores faces da inferioridade espiritual do homem no mundo, e em alguma instância todos a praticam.
      Lutas por causas sociais neste mundo são importantes, fim da opressão sobre as crianças, sobre as mulheres, sobre os homoafetivos, sobre os africanos e descendentes, mas a opressão na alma do opressor só pode ser curada com o amor de Jesus. Assim, enquanto a humanidade luta por isso, os que conhecem a Deus devem testemunhar da importância de todos crerem no Altíssimo, buscarem sua vontade e fazerem.
      Isso deve ser testemunhado não como algo aliado a instituições e de direito exclusivo de determinadas igrejas e denominações, mas como prática de vida eterna, exercendo justiça, amor e paz. Se for buscado só como uma religião pode também ser instrumento de opressão, de imposição da crença de um grupo sobre os outros grupos. Só se consegue isso livrando-se da pior das vaidades, a vaidade religiosa. 
      O Espirito de amor de Cristo repudia toda espécie de violência, mesmo que seja só palavra exaltada usando Bíblia e o nome de Deus, isso não é manifestação de fé e unção, mas de opressão. Jesus homem não agia assim e quando agiu de maneira mais enfática (João 2.13-17) foi colocando ordem em sua religião, não destruindo templos de outras religiões, exemplo também visto no antigo testamento (Ezequiel 8.6). 
      O ser humano em Deus é sempre manso com todos, aberto a todos, humilde em tudo, e nele não existe qualquer forma de opressão. A voz do Espírito Santo é sempre calma, ainda que segura, poderosa e terrível. Deus, pela luz de sua santidade, afasta o mal, não os malvados, ele não destrói por imposição de poder, seu amor está sempre atraindo os seres, e se esses deixarem o mal e a opressão serão abraçados por Deus. 

28/12/21

Fim do choro

      “Porque a sua ira dura só um momento; no seu favor está a vida. O choro pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã.Salmos 30.5

      “Bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados” (Mateus 5.4), quando o choro é a tempo, é de arrependimento e conduz à presença do Senhor. “E ninguém seja devasso, ou profano, como Esaú, que por uma refeição vendeu o seu direito de primogenitura. Porque bem sabeis que, querendo ele ainda depois herdar a bênção, foi rejeitado, porque não achou lugar de arrependimento, ainda que com lágrimas o buscou” (Hebreus 12.16-17), mas ainda que seja choro, se feito no tempo errado, não achará cura, não porque Deus não perdoe, mas porque o homem não se perdoa e assim não acha arrependimento. 
      A alegria que vem pela manhã é fruto de uma noite de choro, ela não vem sem um trabalho, e o melhor trabalho do homem é buscar a humildade do fundo de seu coração. Agora, não queira quem passou a noite em festa achar paz com Deus pela manhã, e muitos fazem festas dentro de templos cristãos, cantando e celebrando quando é tempo de arrependimento e choro. Num determinado momento não é mais tempo de choro, mas de disciplina, aí o choro não adiantará mais, só restará ao duro de coração sofrer a ordem de Deus. Choremos enquanto há tempo, na presença do Senhor ele não é inútil, nem fraqueza, mas sabedoria. 
      “Os que semeiam em lágrimas segarão com alegria. Aquele que leva a preciosa semente, andando e chorando, voltará, sem dúvida, com alegria, trazendo consigo os seus molhos” (Salmos 126.5-6), ah, como o ser humano, principalmente o atual criado no triunfalismo, tem dificuldade para pagar o preço do choro, da humildade, do calar-se e não se defender, deixando que Deus o defenda e faça sua vontade. Mas no mundo uma coisa não ocorre sem a outra, choro é provação que todos têm que passar para sorrirem depois, negar-se a isso é perder tempo, ainda que se faça todos os sacrifícios para ser exaltado entre os homens. 

27/12/21

Fim da morte

      Ele põe fim às trevas, e toda a extremidade ele esquadrinha, a pedra da escuridão e a da sombra da morte.Jó 28.3

      A dor não tem fim, a solidão não tem fim, a ilusão não tem fim, o prazer tem fim. O mistério sobre o universo não tem fim, a vaidade do homem não tem fim, o egoísmo humano não tem fim, o mundo tem fim. O que vemos, tocamos, ouvimos e levamos, tem fim, o que imaginamos não tem fim. A matéria tem fim, o espírito não tem fim, o homem tem fim, Deus não tem fim, a morte tem fim, a vida não tem fim.
      Deus é Deus porque vai além dos fins, chega à beira do precipício, segue e não se perde. Deus constrói e desconstrói o abismo. A luz do corpo tem fim, a escuridão da alma não tem fim, Deus é luz sem fim na escuridão. Deus é espírito, Deus é o pai de todos os espíritos, Deus está além da vida e da morte, da luz e das trevas. Deus é vida eterna e essa não tem fim, Deus é amor e seu amor não tem começo nem fim. 
      Não tema a morte, tema a vida, depois da morte há outra vida para se viver e não se morrer mais. Enquanto há morte, há vida, mas sem morte há algo que vai além da vida, a vida eterna. Nós, seres humanos neste mundo, somos incapazes de entender o que é vida eterna, por isso veio Jesus. Jesus não foi só um santo encarnado, um organismo materialmente vivo, ainda que saudável por dentro e por fora. 
      Cristo homem foi a manifestação das virtudes eternas de Deus, verdade, amor e luz, o tanto quanto um espírito elevado pode se expressar encarnado. Ele não se sentia desconfortável por isso, amarrado, limitado, mas sereno, sob controle, satisfeito, ciente de tudo e ainda assim como se nada soubesse, esperasse ou quisesse, só ser, a verdade, o amor, a luz, e não falar, impossível verbalizar no mundo tais virtudes. 

26/12/21

Luz de Jesus

      “E a luz resplandece nas trevas, e as trevas não a compreenderam. Houve um homem enviado de Deus, cujo nome era João. Este veio para testemunho, para que testificasse da luz, para que todos cressem por ele. Não era ele a luz, mas para que testificasse da luz. Ali estava a luz verdadeira, que ilumina a todo o homem que vem ao mundo.João 1.5-9

      Jesus, a luz que muitos não compreendem. Como pode a luz não ser entendida? É luz, mostra a verdade, revela os erros, ilumina o caminho. Mas muitos não querem saber da verdade, até gostam de jogar “verdades” nas caras dos outros, mas fogem, quando a verdade lhes é dirigida. Muitos não querem admitir seus erros, isso os fragilizaria e fracos não conseguiriam enfrentar a vida, confiam só em si mesmos. 
      Muitos não querem seguir no caminho iluminado, reto e estreito, mas difícil, porque ele exige preços. Muitos preferem as margens escuras, morada do homem mal e de espíritos enganadores, saem para elas e nelas ficam, constróem lá fortalezas, para serem vistas pelos homens, torres de Babel, tentando ser mais altos que o que está no final do caminho iluminado, a morada do Santíssimo e Altíssimo Deus. 
      Jesus é a luz mais alta e verdadeira de pureza moral, fora dele há trevas, ainda que fora estejam seres humanos que lutam por causas humanitárias e pela preservação do planeta, que buscam qualidade de vida e respeito à diversidades e à ciência. Não basta ser bom, tem que sê-lo em Deus e para Deus, só aí haverá a luz espiritual mais alta, que chega até nós por Jesus, a manifestação mais perfeita da espiritualidade. 
     Ainda que os tempos atuais pareçam confusos, onde muitos que dizem serem da luz façam escolhas das trevas, ainda que o cristianismo no mundo esteja tão corrompido, ainda que a direita política ache em evangélicos eleitores para mantê-la no poder, ainda assim Jesus é a luz mais linda, mais poderosa. Ainda que eu tenha que abrir mão de tudo até de religião, Jesus sempre será a luz da minha vida. 

25/12/21

Luz conosco

      “E dará à luz um filho e chamarás o seu nome Jesus; porque ele salvará o seu povo dos seus pecados. Tudo isto aconteceu para que se cumprisse o que foi dito da parte do Senhor, pelo profeta, que diz; eis que a virgem conceberá, e dará à luz um filho, e chama-lo-ão pelo nome de Emanuel, que traduzido é: Deus conosco.Mateus 1.21-23

      Faça uma oração, simples, não precisa ser longa, mas feita com o coração, com todo o sentimento, com a mente cheia de fé, e ainda que dando um passo no desconhecido, certo que Deus ouvirá, pois é uma oração feita no nome de Jesus Cristo, o Emanuel, o Deus conosco, que está perto de nós, nos entendendo, nos amando e nos auxiliando. Isso é o que temos que fazer para acharmos paz e esperança na vida. Depois glorifique a Deus, por ser Deus, por ter enviado seu filho, e siga perseverando no caminho da virtude, trabalhando honestamente, sendo fiel com tuas alianças, deixando o mal e buscando o bem. A luz de Deus é contigo, entre e permaneça nela, nela não há confusão nem armadilhas, só o Senhor, sorrindo para você e te mostrando como ser humilde e feliz. Deixemos Jesus nascer em nós todos os dias! 

24/12/21

Luz do mundo

      “Vocês são a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade situada no alto de um monte. Nem se acende uma lamparina para colocá-la debaixo de um cesto, mas num lugar adequado onde ilumina bem todos os que estão na casa. Assim brilhe também a luz de vocês diante dos outros, para que vejam as boas obras que vocês fazem e glorifiquem o Pai de vocês, que está nos céus.” 
Mateus 5.14-16 (v. Nova Almeida Atualizada)

      Quem tem comunhão com Deus, conhecendo-o e fazendo sua vontade, é luz espiritual, não se esconde uma cidade sobre o alto de um monte, mas o que fazer com essa luz? Como fazê-la brilhar para iluminar toda a casa? O texto diz que é por obras objetivas no dia a dia de nossas vidas, sendo exemplos morais, justos nos negócios, misericordiosos nas relações, amando e fazendo tudo com amor, e sendo assim para a glória de Deus, não para a nossa, para que reflitamos a luz que recebemos de Deus, não a nossa. Nossa luz pode até ser honesta, de boas obras, mas nós, mesmo sendo seres humanos exemplares, não poderemos de fato abençoar as pessoas sempre e em tudo, principalmente no plano espiritual, isso só Deus pode fazer. 
      Existe, contudo, uma outra maneira pela qual podemos brilhar nossas luzes para abençoar as pessoas, é intercedendo espiritualmente por elas. Parece simples, sabido pelos cristãos, mas muitos cristãos não têm noção da utilidade da oração, assim como de sua necessidade, principalmente aquela oração feita em segredo, que as pessoas não precisam saber que fazemos, e mais ainda aquelas pessoas pelas quais oramos. Somos vaidosos, se não temos mais dinheiro, queremos pelo menos ser mais “espirituais”, mas onde existe vaidade não há espiritualidade, assim a virtude que unge todas as outras é a humildade. O humilde ama em silêncio, espera o tempo que for para colher o fruto, e só pretende honra quando e se Deus quiser lhe dar. 
      Eis agora um mistério, a única coisa que “dribla” o livre arbítrio é o amor, e o que ora por quem fechou o coração para Deus reflete nesse a luz do Altíssimo de forma indireta, ainda que igualmente eficiente. Nem Deus vai contra a vontade do homem e se esse decide se afastar dele, o Senhor respeita isso. Deus, contudo, pode tocar outras vidas, que também por livre arbítrio podem interceder pelo que se afastou. A obra de Deus pode ser executada tendo-nos como colaboradores, e quando é para abençoar alguém que não quer ser abençoado, essa pode ser a única maneira dela ser feita. De alguma forma o amor de Deus chega aos homens, mesmo aos mais teimosos e orgulhosos, no final o nome do Senhor é sempre glorificado. 
      Quando estabelecemos comunhão com Deus, esse, a partir da porta que é Jesus, emana sua luz sobre nós pelo Espírito Santo, assim uma linha reta e direta de poder nos toca. Esse poder nos dá vida, nos cura, nos protege, nos fortalece para seguirmos com esperança e santidade. Quem diz não a Deus não recebe esse toque de poder na vertical, mas pode recebê-lo horizontalmente, nossa oração consegue “driblar” o livre arbítrio contrário e abrir passagem para que alguém tenha ao menos um momento de iluminação e pense na possibilidade de ter novamente comunhão com o Altíssimo. Não podemos mudar a vontade de alguém, mas podemos refletir sobre uma pessoa uma iluminação que recebemos de Deus, suficiente para que ela ore. 
      Fazer isso é entrar em “guerra espiritual”, quem fecha a porta para Deus abre para espíritos malignos, esses sentem quando a luz de Deus toca aquele que eles torturam, e sabem de onde ela veio. Assim, pode ocorrer uma “retaliação”, o mal de quem oramos vir sobre nós, esse mal não tem sobre nós o mesmo poder que tem sobre o outro, mas pode nos oprimir, por isso antes de orarmos por alguém assumidamente distante de Deus, tomemos alguns cuidados. Coloquemos nossas vidas em ordem e peçamos a Deus proteção por nossos próximos, que pertencem à nossa “cobertura espiritual”, cônjuges e filhos, se formos casados, parentes e outros, dependendo de por quem diariamente intercedemos de forma mais diferenciada. 
      Deus chama a todos que têm comunhão com ele para orar, mas alguns levam isso mais a sério, esses podem ser usados como luzeiros no mundo. A luz de Deus não é só claridade para melhorar a visão, ainda que também faça isso espiritualmente, mas ela é mais, é poder ativo de santidade e bem, e isso basta para que o mal espiritual, que influencia tanto o mundo, parta em retirada. Deus é Senhor dos exércitos e tem legiões de anjos de luz que lutam sob sua ordem, mas a vitória não consiste em destruição, Deus não destrói ninguém, ele afasta daqueles que confiam nele aqueles que praticam o mal. O mal é trevas e trevas fogem para a escuridão quando a luz de Deus, seja pelos anjos, seja pela oração dos santos, é emanada. 
      Existe um ensino importante logo no começo do texto bíblico inicial, “vocês são a luz do mundo, não se pode esconder uma cidade situada no alto de um monte”. Quando Deus nos chama nos coloca espiritualmente numa posição distinta e que não pode ser mudada, uma posição alta e iluminada. Quer aceitemos ou não somos diferentes e os que estão em trevas percebem isso, assim como os espíritos malignos. Infelizmente muitos evangélicos tomam posicionamentos errados, ou tentam se esconder ou aparecer egoisticamente. Luz de Deus não se esconde e nem se manipula, ela existe para brilhar e abençoar os homens. Não podemos ser covardes, nem vaidosos, mas o que somos chamados para ser, luz do mundo.