O tempo é uma referência
que existe por causa do pecado. (Pecado é um termo meio complexo para se
definir, mas entenda-se como sendo qualquer erro de percurso que o homem comete,
que lhe causa culpa, seja um erro consequente de uma fraqueza da carne ou de
qualquer outra opção que ele fizer, que o desvia, de alguma maneira, do ideal de
vida que Deus tem pra ele. Qual o nosso ideal de vida? Jesus Cristo, esse é o
ideal.)
O homem passou a envelhecer porque passou a morrer, e passou a
morrer porque pecou. Consequentemente com o pecado, passou-se a sentir o tempo passar,
passou-se a contá-lo. Com o tempo inventamos a comparação e a valoração das
coisas, em muitos sentidos e é claro, de forma equivocada: “os mais jovens têm
mais saúde, já que viveram menos”, “os mais velhos são mais sábios, porque viveram
mais tempo”, “eu vivi com aquela pessoa há alguns anos, eu a conheço bem”,
“acabei de conhecer tal pessoa, acho que ela sempre foi assim”. Como nos
equivocamos com o tempo quando nossas emoções estão excitadas, na angústia, o
tempo parece não passar, é assim na saudade, na espera. Quando estamos vivendo
uma experiência prazerosa, pra nós, o tempo parece parar, mas quando olhamos o
relógio, vimos que o tempo passou rapidinho. Quem já não experimentou um
momento único no tempo, quando tudo parece ficar congelado, eternizar-se? Momentos
assim ficam marcados em nossas memórias para sempre. Na infância o tempo parece
passar lentamente, mas à medida que envelhecemos, o tempo corre.
Como não existe tempo para Deus, os conceitos que o Espírito Santo
compartilha com o nosso espírito muitas vezes não são entendidos por nós. Nós,
seres humanos encarnados, estamos intrinsecamente amarrados ao tempo (e ao
pecado). Mas é preciso buscar em Deus um esclarecimento para que entendamos as
coisas espirituais, ensinadas a nós por um criador eterno, atemporal e que é
sempre o mesmo.
A primeira coisa que muda em nós, quando entendemos isso, e a
interpretação que fazemos dos textos bíblicos. É óbvio que registrada por
homens, mesmo que inspirada pelo Espírito Santo, a Bíblia relata eventos históricos,
ligados à moral e aos costumes de tempos diferentes, relativos aos fatos. Mas
se olharmos com os olhos espirituais, veremos que isso não é relevante. Percebemos
isso quando a Bíblia fala, por exemplo, do papel da mulher nas sociedades,
assim como dos escravos, assuntos tão temporais. Não, os textos bíblicos não
orientam qualquer tipo de revolução contra essas arbitrariedades (nem orienta
que não se faça tais revoluções, a Bíblia na verdade não trata de política, de
sociologia ou de qualquer outra ciência). A Bíblia ensina, porém, que em
qualquer sociedade, mesmo que pareçam injustos aos nossos olhos modernos, os
costumes podem ser vividos e ainda assim termos uma experiência com Deus, sermos
abençoados por ele, protegidos contra qualquer espécie de injustiça. É
indiferente, Deus que sempre tem um conhecimento de tudo de cima, além do
presente, além do pecado, além do tempo, sempre sabe o que importa, e também o
que não importa. A rebeldia, a incredulidade, o pecado, depois da queda do
homem, sempre existiu, e existirá até o momento final dessa criação. O remédio
para tudo isso é o nome de Jesus, o cordeiro de Deus que foi sacrificado por
toda a humanidade.
Mas essa referência temporal confunde muitos fundamentos
importantes para a nossa saúde espiritual, vou citar alguns exemplos. Pecado não
tem tamanho e nem duração, ele pode ser perdoado de maneira que as consequências
emocionais e espirituais dele sejam apagadas, não sendo mais empecilho para
qualquer atitude positiva de Deus em nossas vidas. Contudo, isso não significa
que não haverá consequências no mundo material, parece óbvio, um erro que diz
respeito à matéria só pode mesmo causar problemas à própria matéria. Mas Deus,
em sua graça, ameniza mesmo as consequências ruins de nossos erros nesse mundo
material.
Se não errar é um dever, também temos o direito às bênçãos de
Deus, quando agimos de maneira correta (mesmo quando erramos, as misericórdias
de Deus nos guardam até o ponto que isso não nos torna irresponsáveis). Esse
direito também não é relativo à extensão do tempo que andamos corretamente. Lembremos-nos
da parábola do filho pródigo, o filho que se rebelou e passou algum tempo
gastando-se nas fraquezas e sujeiras da carne, mereceu tanta alegria do pai, é
claro que depois dele se arrepender e voltar para a casa, quanto o filho que
nunca tinha deixado o lar. Ao contrário, nesse exemplo, o tempo revelou aquilo
que estava no coração do filho que aparentemente era obediente, ele era
vaidoso, fez o que fez, no tempo que fez, com as intenções erradas, e teve
muita inveja do irmão que voltou arrependido. É triste quando uma pessoa está
cega de uma maneira, que não consegue se alegrar com a alegria de quem se
arrepende e volta à casa do pai, é triste quando a inveja escraviza o coração
do homem com rancor, que só faz mal a quem sente, e que acaba anulando toda uma
vida de suposta fidelidade.
O tempo também pode ser usado para acorrentar o homem,
encarcerando-o a uma disposição do passado, a alguém que ele foi e não é mais. Quantas
vezes nós encontramos alguém, que conhecemos há muito tempo e que cometeu um
erro em sua vida. Nós não queremos saber se esse alguém mudou, como está a vida
dele agora, no presente, mas olhamos essa pessoa com olhos do passado. Vemos tal
pessoa da maneira como ela era há tantos anos atrás, nós a condenamos a uma
eterna disposição de erro (o que é mais próximo ao inferno que ser condenado
por toda a vida por um erro que já reconhecemos e deixamos de cometer?). Essa
pessoa pode estar mudada, ter se arrependido, pago um preço alto pelo erro que
cometeu, e depois disso tudo ser, agora, outra pessoa, diferente, melhor. Mas
os nossos olhos, como são olhos do passado, como são olhos injustos, como
padecem da ótica espiritual, da ótica de Deus, da misericórdia, da esperança de
que algo pode mudar com o tempo, e para melhor.
Acredito que o melhor que se tem a dizer sobre o tempo, para quem
se posiciona como cristão, é: não dê atenção a ele, enxergue a vida com os
olhos espirituais, disponha-se em Deus, através do Espírito Santo, e esteja
sempre pronto para entender e receber as coisas e as pessoas com benignidade,
com misericórdia, com fé, esperando sempre o melhor, desejando a paz. Passe o
sangue de Jesus no tempo e apague os erros, seus e dos outros.
As pessoas estão tão ocupadas, nos dias atuais, com estética, com
beleza, do corpo, dos cabelos, com saúde, pagam altos preços nas cirurgias plásticas,
nas academias e nos salões de beleza, mas mesmo assim envelhecerão e ficarão
menos belas. Quer ser jovem para sempre, belo para sempre? Não deixe que o
tempo passe, mas isso não pode acontecer no corpo, somente no espírito. Tenha
certeza, porém, de que seu espírito for jovem, for gracioso, estiver limpo pelo
sangue de Jesus, e se ele enxergar as pessoas com a mesma graça, sua alma e seu
corpo receberão as bênçãos decorrentes, o tempo não parará, isso é impossível
de acontecer, mas ele será mais lento, você começará a viver a eternidade aqui,
nesse mundo material.
"E a vida eterna é
esta: que conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, que
enviaste." João 17.3
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