sexta-feira, março 08, 2019

Soberbos e mentirosos: deixe-os pra lá

      “Bem-aventurado o homem que põe no Senhor a sua confiança, e que não respeita os soberbos nem os que se desviam para a mentira.Salmos 40.4

      Tenho receio de compartilhar textos assim, penso que na maioria das vezes não estamos preparados para seguir uma orientação sobre não respeitar algumas pessoas, mesmo que o salmista as chame de soberbos e mentirosos. Contudo, se houver de nossa parte temor a Deus, um coração humilde e que sabe amar, podemos discernir quem é quem e entender a vontade de Deus quando ele nos diz para não perdermos tempo com algumas pessoas. 
      Sob à luz do evangelho “não respeitar” não significa odiar, querer o mal ou fazer algum tipo de violência, mas simplesmente deixar pra lá. O que algumas pessoas dizem ou como elas nos tratam não merece que guardemos em nosso coração algum peso ou que mantenhamos em nossa mente qualquer preocupação. Dar retorno ao errado, seja por palavras, atitudes ou sentimentos e pensamentos mesmo que privados, é alimentar um mal que não nos pertence.
      Quem merece isso? Os de fato soberbos e mentirosos. Aqueles que desprezam o cristianismo, que nos consideram menores por vivermos uma vida de fé em Jesus, não merecem que percamos com eles nosso tempo, a pior soberba é a soberba espiritual. Precisam de nosso testemunho de vida na luz, mas não merecem que soframos com suas atitudes orgulhosas e preconceituosas que muitas vezes tentam nos atingir e magoar. 
      O texto também fala dos que se desviam para a mentira, também podemos aplicar a orientação com relação aos que se colocando como cristãos acabam se desviando para a heresia ou para o pecado, e não assumindo isso. Aqueles que assumem um posicionamento longe de Deus de forma clara, merecem mais a nossa atenção que aqueles que se dizem cristãos, mas na verdade não são e ainda querem ser honrados como se fossem. 
      A verdade é que aquele que é íntimo do Senhor discerne corações e espíritos, contudo, não devemos usar isso num jogo de poder para nos vangloriarmos ou humilhar os outros, mesmo que sejam soberbos e mentirosos. Devemos apenas não perder tempo, deixar pra lá e entregá-los nas mãos de Deus, o Senhor em quem confiamos e em que achamos felicidade. Forte é quem resiste ao ataque injusto, não quem o disfere ou reage a ele. 

      “Mas nós, que somos fortes, devemos suportar as fraquezas dos fracos, e não agradar a nós mesmos. Portanto cada um de nós agrade ao seu próximo no que é bom para edificação.” Romanos 15.1-2

quinta-feira, março 07, 2019

Não permita que te roubem

      “Eis que venho sem demora; guarda o que tens, para que ninguém tome a tua coroa.” Apocalipse 3.11
 
      A palavra aqui não tem a ver com a parábola dos talentos (Mateus 25.14-30) onde o servo só guardou seu talento e não o fez render, mas diz respeito a quem já trabalhou com seu talento em tudo o que podia. Assim, depois de ter feito o possível, o máximo e o melhor, o mais sábio é se guardar, ter a humildade de não exigir de si mesmo mais do que pode, proteger o conquistado em paz, achando na felicidade de saber ter cumprido a missão uma coroa digna, dada não por homens, mas por Deus. A coroa estabelece uma graduação, assim quem a usa deve andar com dignidade, com a nobreza de coroado, isso não é arrogância, nem orgulho, mas idoneidade, numa certeza silenciosa de quem não precisa convencer ninguém, mas apenas confiar em Deus. 
      Por outro lado não se proteger, não se conhecer e não assumir o que se é e fez, gera uma insegurança que pode nos levar a uma exposição desnecessária, nisso podemos nos enfraquecer e mesmo depois de ter feito tanto acabarmos tristes e sem vazios. Assim, tenhamos cuidado, saibamos o momento de fazer e o momento de esperar, o momento de falar, de mostrar nossas habilidades para sermos útil, e o momento de nos calarmos. De um jeito ou de outro, não nos apressemos e esperemos pelo Senhor que sempre conhece nossos limites e abre a porta certa, nela temos refúgio, mesmo em tempos difíceis como os atuais, onde toda a Terra será tentada.

quarta-feira, março 06, 2019

Em paz

      “Humilhai-vos, pois, debaixo da potente mão de Deus, para que a seu tempo vos exalte; Lançando sobre ele toda a vossa ansiedade, porque ele tem cuidado de vós.I Pedro 5.6-7

      Paz, aquele sentimento gostoso que cala toda voz de dor, todo sussurro de culpa, que nos faz sentir bem, satisfeitos, no lugar certo, fazendo a coisa certa, mesmo que estejamos fazendo nada. Mas paz é isso, achar-se absolutamente desobrigado a pagar qualquer preço, desinteressado em comprar qualquer coisa, sentindo que tudo o que somos e temos no exato momento presente basta, é suficiente para sermos felizes, vendo-nos tranquilos, resolvidos, com relação a tudo e a todos. O humilde encontra em Deus a paz pelo pior dos passados, e a certeza de justiça mesmo no futuro mais distante e desconhecido, para assim achar forças para continuar vivendo o presente sem medo. 

      “E Deus limpará de seus olhos toda a lágrima; e não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor; porque já as primeiras coisas são passadas. E o que estava assentado sobre o trono disse: Eis que faço novas todas as coisas. E disse-me: Escreve; porque estas palavras são verdadeiras e fiéis.” Apocalipse 21.4-5

terça-feira, março 05, 2019

Sincero, falso, louco ou mal

      Ser sincero é acreditar naquilo que se faz, isso não significa que se esteja fazendo algo legítimo, certo ou mesmo bom. Quando fazemos algo certo com sinceridade, obedecendo a Deus, estamos exercitando virtude. Contudo, quando fazemos algo errado, sem noção real do que somos e do que Deus quer de nós, mesmo com sinceridade, estamos só sendo insanos, sinceridade por si só não confere legitimidade às coisas. Por outro lado, mesmo fazendo algo bom, mesmo tendo capacidade para fazer, se fizermos sem convicção, sem profundidade, estamos sendo falsos. Já o que faz algo errado, sem chamado de Deus, mesmo com sincera consciência disso, não estará se enganando, nem sendo falso, mas será alguém sem virtude, mal intencionado, apenas com o desejo de tirar vantagem dos outros. Sincero, falso, louco ou mal? O que eu sou na maior parte das vezes? O que é aquele que permito que seja meu companheiro, minha companheira, meu cônjuge? O que é aquele que deixo ser meu pastor, meu líder? 
      Além de me avaliar, avaliar aqueles que escolho para andarem comigo revela muito sobre mim, podemos nos colocar em alguns grupos de pessoas, de acordo com nossas carências e como as administramos e tentamos resolvê-las. Existe o grupo dos dominadores, esses só se sentem satisfeitos quando têm controle sobre as pessoas, querem ditar as regras e controlar tudo que os outros, companheiros, filhos, amigos, ovelhas, funcionários etc, fazem. Se forem violentos podem ser do pior grupo, pois não terão escrúpulos nem limites para alcançarem seus objetivos, mesmo que isso machuque muito os outros. Mas não nos enganemos, dominadores também podem ser ardilosos, hábeis em manipular só com palavras, convencendo de forma psicológica aqueles que querem controlar para que satisfaçam seus objetivos sempre egoistas.
      Existe o grupo dos “enfermeiros”, também exercem uma espécie de dominação, mas as pessoas desse grupo amam gente com problemas, mais que isso, com sérios problemas, procuram os mais fragilizados e deles se tornam escravos. Uma relação assim faz a pessoa se sentir útil, um filantropo virtuoso, um paladino que só quer ajudar os menos favorecidos. Entendamos que não existe nada errado em querer ajudar os enfraquecidos, e se tivermos limites e sensatez, ter essa tendência pode ser só uma característica mais predominante de nossa personalidade que pode nos fazer felizes com alguém que esteja justamente precisando de alguém exatamente como nós para ser feliz. Mas como foi dito, é preciso limite e sensatez, para quê? Para saber até que ponto alguém precisa e deseja ser ajudado, alguns são simplesmente causas perdidas, que fazem de problemas, de passado, de dor, vícios dos quais não querem sair. Dessa forma, embarcar numa nau assim é entrar em barco furado. Quem entra, na paixão, por amor, precisa saber quando não vale mais a pena permanecer e cair fora antes que fique maluco. Os “enfermeiros” não machucam os outros, mas se machucam à medida que não se respeitam e se sacrificam para satisfazer os outros. 
      Se existem grupos dos dominadores e dos “enfermeiros”, existem também os grupos, já citados e quase consequências dos primeiros, dos que gostam de serem manipulados e dos que seduzem por suas fragilidades doentias, assim, na atividade e na passividade, sejam elas mais sutis ou mais extremas, a maioria de nós se encaixa em um desses grupos. Ninguém escapa totalmente disso, e nunca escapará, mas é preciso achar o tal do equilíbrio, isso só numa vida em Jesus é possível. Toda mudança, todavia, dói, se você já percebeu que tem alguma tendência doentia para se relacionar, entenda que nossos desequilíbrios nascem am nossas infâncias e adolescências, em nossos convívios familiares, com nossos pais (ou com a ausência deles). Assim, sermos homens e mulheres mais equilibrados tem relação direta com resolver carências e inseguranças adquiridas no passado. Nos relacionarmos bem com namorados, esposas, esposos, filhos, amigos, chefes, pastores, é perdoarmos pais e quem nos criou, vendo com clareza o que foi feito de errado e desejando de coração não repetir os erros que cometeram conosco. 

segunda-feira, março 04, 2019

Mentira para todos os gostos

Por favor, leia este texto, a princípio e pelo menos os cinco primeiros parágrafos, como uma crônica, e leia até o final, se possível, para entendê-lo. 

      “Vós tendes por pai ao diabo, e quereis satisfazer os desejos de vosso pai. Ele foi homicida desde o princípio, e não se firmou na verdade, porque não há verdade nele. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso, e pai da mentira. Mas, porque vos digo a verdade, não me credes.” João 8.44-45

      O diabo inventa mentiras simples para os simples, inventa mentiras complexas para os complicados, inventa mentiras eruditas para os cultos, inventa mentiras práticas para os práticos, inventa mentiras lascivas para os lascivos, inventa mentiras castas para os castos, inventa mentiras céticas para os desconfiados, inventa mentiras preguiçosas para os ociosos, inventa mentiras altruístas para os caridosos, inventa mentiras prazeirosas para os hedonistas, inventa mentiras espiritualistas para os espirituais, inventa mentiras bíblicas para os bíblicos, inventa mentiras filosóficas para os filósofos, inventa mentiras científicas para os materialistas, inventa mentiras ecológicas para os ecológicos, inventa mentiras teológicas para os teólogos, inventa mentiras tradicionais para os tradicionais, inventa mentiras pentecostais para os pentecostais, inventa mentiras esotéricas para os esotéricos, inventas mentiras católicas para os católicos, inventa mentiras cristãs para os cristãos e inventa mentiras diabólicas para os que creem nele. 
      Para quem quer acreditar em mentiras, seja quem for e de qual mentira se agrade, o diabo tem uma mentira adequada, quem procura uma mentira, sempre a acha. Nem é a mentira que é boa ou o diabo que é competente para criá-la, é o ser humano que é enganável, que é buscador de mentiras para crer, e pode acreditar mesmo nas mentiras mais toscas e ridículas. Dessa forma, não nos achemos mais legítimos, mais originais, mais verdadeiros que os outros, por termos uma opinião pessoal, uma crença diferente, um posicionamento específico, baseados num direito intocável, numa liberdade de pensamento e de atitudes que não pode ser restringida por ninguém, ainda assim podemos estar vivendo somente uma mentira, e nem nossa, autêntica, antes inventada por alguém, com o objetivo de nos controlar e enganar. A grande maioria de nós, em alguma instância, em algum momento, depositamos toda a nossa fé numa mentira do diabo ou do homem, achando, contudo, que é uma verdade de Deus ou da ciência, incontestável e maior. 
      Será que talvez a solução seja não procurar uma verdade? Não confiar em verdades? Não as defender? O ser humano é incapaz de entender, guardar e compartilhar verdades, somos seres relativos, relativizados e relativistas, somos indivíduos, não Deus ou deuses, não coletivos nem legiões, e somos humanos, limitados e limitadores. Se nos dermos ao trabalho de entender com profundidade aquilo que acreditamos e que defendemos, veremos que pouco sabemos das coisas, e o que achamos que sabemos são enganos, baseados em informações infundadas, em fatos que na verdade não aconteceram, não exatamente do jeito que achamos que aconteceram. Somos impuros demais para receber verdades, fúteis demais para levarmos verdades dentro de nós, vaidosos demais para sermos dignos de verdades. É mais correto assim, estarmos sempre cercados de névoas que nos impeçam de ver com clareza as coisas, embriagados com meias verdades, o reverso de meias mentiras, mas nada é 99% verdade, 1% de mentira já torna tudo mentira.
      Por que gostamos tanto da mentira? Porque somos a mentira, todos nós, e o mundo moderno com a internet e celulares deixa escancarada essa verdade maior sobre nós. Fazemos tanta questão de parecermos maravilhosos nas selfies, de estarmos felizes e nos divertindo sempre quando tudo é fotografado e compartilhado em redes sociais, ninguém está entediado ou insatisfeito no Instagram, ninguém é vazio no Facebook, os filtros nos mostram sempre jovens e perfeitos, as frases de efeito, copiadas de autores que muitas vezes nem sabemos quem é, nos exibem como sábios, profundos e focados, tudo mentira. O culto à aparência física, o vício nos modismos de roupas, sapatos etc, a obsessão por academias, regimes alimentares e cirurgias plásticas, a valorização do exterior, naquilo que os outros veem, no carro que se tem, nos restaurantes que se vai, mais importantes que a cultura, o estudo, o conhecimento, o caráter, vivemos num mundo que celebra o falso, o passageiro, a carne, tudo mentira.
      Então uma violência horrorosa é mostrada na TV, muito sangue, rostos desfigurados, um homem espanca uma mulher por horas. Quando vemos as imagens que o telejornalismo divulga dos dois são registros de redes sociais, gente jovem, bonita, bem vestida com taças de espumante nas mãos, como se a vida fosse perfeita, de maneira alguma explica porque a relação acabou num crime. Impossível entender como gente que parecia tão feliz ser de fato gente desequilibrada emocionalmente, carente, mimada, insana, por dentro monstros feios e cruéis que viviam vidas de mentira. Não é só uma ilusão, algo que alimentamos para nos consolar, nos fazer fugir um pouco da crua realidade, mas que sabemos que não é vida de verdade, como um livro que lemos, uma canção que ouvimos ou um filme que assistimos. Não, a pessoa acredita mesmo que aquilo é verdade, que não é mentira, que é a sua vida, assim o véu do engano é tirado da pior forma possível, com estupidez, com dor, com vergonha pública.

      Como iremos encerrar está reflexão que é feita num espaço que se autodenomina cristão? Concluiremos de um modo cristão, mas não de acordo com muitos púlpitos que existem por aí, púlpitos onde mentiras são ditas. É mentira quando se diz que com fé tudo é possível, é mentira quando se prega que somos vítimas e que Deus destruirá todos os nossos inimigos, é mentira quando se exorta que se não dizimarmos o inimigo nos devorará, é mentira quando se profetiza que unção é manifestar dons de línguas estranhas e louvar até que se perca o sentido e se caia ao chão, é mentira quando se ensina que conhecimento bíblico e cultos silenciosos são mais espirituais que cultos barulhentos e sem liturgia tradicional, é mentira porque é vaidade, é vaidade porque é do homem, e se é do homem não é de Deus, não glorifica a Deus, mas honra o diabo, mesmo indiretamente, o pai da mentira. Não é porque é dito em púlpito, que é verdade, e infelizmente é no cristianismo onde existe o maior número de seitas, de heresias, de mentiras.
      Não preciso citar João 14.6, o objetivo deste texto não é contra-argumentar com textos bíblicos, provar por a + b que o cristianismo é mais verdade que as outras religiões, a verdade não precisa de advogado, principalmente a do Espírito Santo. O ponto é justamente esse, o mundo atual está inundado de pregadores de verdades, e pregadores evangélicos têm vulgarizado a verdade do Espírito Santo porque sabem argumentar e contra-argumentar, mas não vivem a verdade, são só bons vendedores, como se a verdade de Jesus fosse só uma mercadoria, por melhor que seja. Mas muitos não vivem exatamente por não conhecerem a verdade, apesar de acharem que conhecem, outros até conhecem, mas entraram na ilusão do prazer intelectual e filosófico da teoria, se esquecendo da prática. A verdade é que quem prova a verdade a vive e nunca mais a deixa (João 8.32), a verdade é boa demais, singular demais, libertadora demais, abre nossos olhos para ver Deus de um jeito que nunca mais achamos prazer na mentira. 
      Mas a verdade vai além disso, ela amadurece o cristão de um jeito que ele entende que conhecê-la não lhe dá direito de jogá-la na cara dos outros, por isso foi questionado no 3º parágrafo deste texto se talvez a solução seja, pelo menos nestes dias atuais, tão saturados de verdades, não procurar uma verdade, não confiar em verdades, não as defender. Concluindo, contudo, procure Jesus, confie em Jesus e deixe que Jesus o defenda. Como os outros vão conhecer a verdade? Vendo tua vida, teu dia a dia, tuas obras de justiça e misericórdia, o momento de pregar com palavras acabou, é tempo de viver. Tem igreja demais, tem Bíblias demais, tem crentes demais, tem cultura gospel demais, muito cristianismo e pouco Cristo. O pior é que tem muita gente assistindo a cultos, cantando louvores, postando-se em redes sociais, sem nenhuma vergonha, como cristãos, mas será que são mesmo? Com tanto cristão em nosso país, o Brasil não deveria estar mais livre de corrupção, crime, violência e mentiras? Urge que sigamos a Jesus em verdade.

      “Nós somos de Deus; aquele que conhece a Deus ouve-nos; aquele que não é de Deus não nos ouve. Nisto conhecemos nós o espírito da verdade e o espírito do erro.” I João 4.6

domingo, março 03, 2019

A existência é mental

      “Não julgueis, para que não sejais julgados.” 
Mateus 7.1

      “Portanto, nada julgueis antes de tempo, até que o Senhor venha, o qual também trará à luz as coisas ocultas das trevas, e manifestará os desígnios dos corações; e então cada um receberá de Deus o louvor.” 
I Coríntios 4.5

      “Ora, o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente. Mas o que é espiritual discerne bem tudo, e ele de ninguém é discernido. Porque, quem conheceu a mente do Senhor, para que possa instruí-lo? Mas nós temos a mente de Cristo.
I Coríntios 2.14-16

      Não existe realidade de fato, a maior parte daquilo com que interagimos na vida, das coisas que entendemos, sentimos e com que reagimos, se passa em nossas cabeças, assim nunca é real de fato, não inteiramente, não para o “homem natural”. Agora imagine a quantidade de variedades de irrealidades que existe quando mundos subjetivos interagem com mundos subjetivos, que ocorre quando simples e comuns seres humanos tentam viver em sociedade. Nós não temos problemas com as pessoas, mas com aquilo que as pessoas são em nossas cabeças, dessa forma convivemos com a mentira muito mais que achamos. Todo o nosso mundo é baseado em mentiras, que muitas vezes nem temos consciência que é falso, que não é real, que é apenas aquilo que inventamos, por um motivo ou por, sobre nós e sobre os outros dentro de nós. Assim, tenhamos a mínima clareza de saber que muitas pessoas não são tão más quanto pensamos, não nos odeiam tanto quanto sentimos, e principalmente, não são tão diferentes de nós como tentamos nos convencer que são, ao contrário, os que mais nos incomodam são sempre aqueles que mais se assemelham a nós, que mais coisas em comum têm conosco. 
      Nos incomodam justamente por tentarem ser a mesma coisa que nos tentamos ser, por desejarem a mesma atenção e valorização que nós queremos, por que então nos incomodam? Talvez por serem nossos concorrentes, ou por acharmos que eles acham que têm mais direitos que nós, sendo que são iguais a nós. O ponto, todavia, é: a vida é mental, a “realidade” é a mental! Se não fosse assim seríamos só animais irracionais, é assim e sempre será, mas repito, precisamos ter cuidado com nossas interpretações, elas são sempre irreais (ou surreais). Dessa forma, se temos dificuldades para lidar com alguém, não é necessariamente com a pessoa “real”, física, mas com aquela ideação que fazemos dela em nossos pensamentos e sentimentos, eu eu disse ideação não idealização, já que nesse caso não criamos um ser mental igual ou melhor, mas pior, e é agora que chego aos textos postados inicialmente.
      Confesso que durante muito tempo não entendi a promessa que advém de não julgarmos os outros, “não julgueis, para que não sejais julgados”, que se assim agirmos em resposta não seremos julgados pelos mesmos. Sim, sempre aceitei a sabedoria de não condenar os outros, e disse condenar porque julgar mal é condenar, sem conhecer a pessoa de fato, esse mal julgamento, essa condenação é mais uma adivinhação diabólica, uma concepção preconceituosa e incrédula que interpreta o outro como algo sempre pior do que é (ou poderia ser). Mas a princípio eu achava que deveria haver algum mistério que nos fazia réu de julgamento alheio ruim, caso agíssemos da mesma forma, mas isso não é verdade, podemos julgar mal sem recebermos do outro a mesma injustiça. Então o Espírito Santo me ensinou: quando vivemos com uma disposição obsessiva de condenar os outros, de depreciar as pessoas mesmo antes de conhecê-las de fato, mantemos em nós mesmos uma alma doente que se sentirá igualmente julgada, assim, quando julgamos os outros nós nos enfraquecemos e também nos sentimos julgados, condenados, culpados. Mas o que é causa e o que é efeito?
      Quando entendemos que a batalha se passa em nossas mentes e não no mundo físico, sabemos que nossa luta pode não ser contra as pessoas, mas contra as concepções que fazemos das pessoas em nossas cabeças, assim a luta maior é contra nós mesmos, não contra os outros. Esse entendimento traz consolo porque nos mostra um inimigo menor, que é uma ideia pessoal, subjetiva, não um ser objetivo, com corpo, alma e espírito. Por outro lado, pessoas podem ser anuladas mais facilmente, ideias são mais difíceis, assim mesmo que nos afastemos de quem nos incomoda, a ideia que temos sobre a pessoa levamos conosco, para todos os lugares e tempos. Contudo, o mal original não vem dos outros, não necessariamente, mas de nós mesmos, nós somos nossos principais inimigos e nossa atitude errada com os outros é só reflexo da atitude errada que temos com nós mesmos. O mal julgamento que fazemos de nós mesmos é a causa do julgamento errado que fazemos dos outros. Assim se nos compreendemos melhor e nos respeitarmos mais, isso mudará a maneira como nos relacionamos com os outros, só um bem mental pode anular um mal mental. Se nos curarmos, curaremos a maneira doentia de nossos relacionamentos com os outros. 
      O texto de Paulo em I Coríntios 4.5 traz mais luz aos registros do evangelho com relação a julgar os outros, acrescenta “nada julgueis antes do tempo”, entendemos que podemos, sim, ter opiniões sobre as pessoas, depois de conhecê-las, mas mesmo assim não devemos condenar ninguém a ser alguém errado, a fazer coisas erradas, só porque tal pessoa foi e fez errado em determinado momento de sua vida. As pessoas mudam, podem mudar, e os cristãos devem mudar, para melhor, dessa forma só no final saberemos de fato quem é quem. A tal subjetividade que refleti no início, é humana e pessoal, contudo, o cristão deve aprender a deixar que a subjetividade de Deus tenha prioridade em seu homem interior, essa subjetividade tem os novos nascidos em Cristo através do Espírito Santo, que é a mente de Deus. Essa conclusão está em I Coríntios 2.16, “mas nós temos a mente de Cristo”, isso nos torna espirituais e capacitados a olharmos e interpretarmos a nós mesmos e aos outros de maneira mais justa, misericordiosa, generosa, sem mal julgamento, antes esperando sempre o melhor dos outros. 

sábado, março 02, 2019

Divórcio, adultério e cristianismo

      “E os escribas e fariseus trouxeram-lhe uma mulher apanhada em adultério; E, pondo-a no meio, disseram-lhe: Mestre, esta mulher foi apanhada, no próprio ato, adulterando. E na lei nos mandou Moisés que as tais sejam apedrejadas. Tu, pois, que dizes? Isto diziam eles, tentando-o, para que tivessem de que o acusar. Mas Jesus, inclinando-se, escrevia com o dedo na terra. E, como insistissem, perguntando-lhe, endireitou-se, e disse-lhes: Aquele que de entre vós está sem pecado seja o primeiro que atire pedra contra ela. E, tornando a inclinar-se, escrevia na terra. Quando ouviram isto, redargüidos da consciência, saíram um a um, a começar pelos mais velhos até aos últimos; ficou só Jesus e a mulher que estava no meio. E, endireitando-se Jesus, e não vendo ninguém mais do que a mulher, disse-lhe: Mulher, onde estão aqueles teus acusadores? Ninguém te condenou? E ela disse: Ninguém, Senhor. E disse-lhe Jesus: Nem eu também te condeno; vai-te, e não peques mais.” 
João 8.3-11

      Esse é um dos textos mais belos e reveladores do evangelho, relatado pela sensibilidade de João o evangelista, seguem alguns pontos relevantes sobre ele:

- os fariseus não queriam disciplinar a mulher, para que ela assumisse seu erro e mudasse de vida; os fariseus, sabedores da sabedoria e do amor de Jesus, armaram uma armadilha para ele, confrontando-o com a lei mosaica, tentando fazer com que Jesus negasse a lei e fosse pego, por eles, em pecado;

- a mulher, humilhada, era só um joguete nas mãos de religiosos hipócritas, e é a isso que a tentativa de ver a vontade de Deus como obedecimento cego e ao pé da letra de leis faz, não nos fortalece para agradar a Deus e nos leva a exigir dos outros o que nem nós vivemos;

- qual foi a resposta que Jesus deu aos fariseu? nenhuma, Jesus não respondeu nada, foi só depois de insistência dos mesmos que Jesus respondeu, mas não à mulher, nem para humilha-la, mas aos verdadeiros pecadores da história, os fariseus, “aquele que estiver sem pecado que a pedreje”;

- sempre com o olhar abaixado, escrevendo na areia, colocando-se numa posição de empatia com a mulher, Jesus assistiu à saída dos fariseus, dos mais velhos aos mais novos, foi só então que Jesus falou com a mulher;

- o texto é claro em mostrar que Jesus só falou com a mulher quando ela estava só, sempre protegendo-a, do quê? dos homens maus? sim, mas muito mais dela mesma, de seu pecado, de sua vergonha pública, e ele nem a questionou sobre seu pecado, perguntou-lhe sobre seus acusadores;

- a palavra final de Jesus é objetiva, prática, eficiente, abençoadora, misericordiosa, repleta de amor, uma palavra que vale para todos nós quando nos sentimos envergonhados por algum pecado, sem esperança, sem forças para seguir em frente, “não te acuso, só segue em frente e não repita o erro”.

      Pontos que precisam ser citados sobre o mundo atual, as igrejas, divórcio e adultério:

- casamento tem sido pouco valorizado, muitos vivem maritalmente sem assumir casamento diante de lei e religião e não se consideram adúlteros, ou casados; a verdade é que casamento é uma aliança entre seres humanos diante de Deus, indiferente de legalização civil ou religiosa, assim quem vive com alguém por um tempo, mesmo sem ser casado no cartório ou/e na igreja, desmancha e depois vive com outra pessoa no mesmo esquema, não trocou de namoro, mas encerrou uma relação estável (que mesmo a lei reconhece como casamento) e pode ter iniciado outra, assim separou-se e pode ter cometido traição

- muitos pastores atualmente tomam uma de duas atitudes com relação a um casal, membros de suas igrejas que se separaram: ou passam a mão na cabeça do que trai, não tomando nenhum posicionamento, ou exclui do rol de membros e afasta aquele que traiu de forma definitiva; poucos pastores tomam uma atitude sábia e de fato espiritual que é displinar, mas tratar com amor e proximidade não só o membro traído do casal, mas também (e principalmente) o traidor;

- separação precisa ser punida, sim, principalmente a parte que quebra a aliança, as pessoas precisam aprender que escolhas têm preços e aliança de matrimônio é coisa muito, mas muito séria, como é ter relações sexuais com alguém e principalmente colocar filhos no mundo; disciplinar de maneira clara e rápida é testemunho do evangelho na sociedade, lição para os membros da igreja, além de marcar o coração do que errou não só com uma vexação pública, mas com a consequência dolorosa do erro, que será lembrada caso ele seja tentado a cometer o mesmo erro futuramente;

- contudo, pastor e igreja precisam manterem-se como mãos de cura emocional de Deus nas vidas das pessoas; uma opção, que pode ser sábia após o casal dar um tempo separado, por mais dolorosa que seja a princípio, é dar uma segunda chance para que haja um restabelecimento do casamento; muitos pecam por simples imaturidade, assim uma volta é benção principalmente para filhos que precisam de pai e mãe juntos para serem melhores criados;

- mas há sim, separações irreconciliáveis, porque na verdade nunca foi casamento de verdade, ainda que tenha havido vida íntima, e ouso dizer, ainda que tenham oficializado o casamento legal e/ou religiosamente, nesses casos separação pode ser a única solução viável; mais ainda assim a igreja precisa disciplinar, sempre, contudo, mantendo uma porta aberta para o evangelho, e nunca condenando ninguém ao “inferno”; 

- todo ser humano, seja quem for, tem até seu último instante de vida neste mundo oportunidade para se acertar com Deus e ter direito a viver com ele na eternidade, contudo, precisamos entender que certas escolhas têm preços, se não diante de Deus, diante dos homens, sejamos pois humildes e aceitemos essa verdade, o que se deixa ser disciplinado por Deus, não por homens, e que não se esconde atrás de um personagem de vítima, não repete os erros e alcança misericórdia do Senhor para ser feliz, inclusive num casamento verdadeiro, santo e duradouro.

      Todavia, a melhor solução de todas é ensinar melhor nossas crianças e jovens, principalmente sobre sexo, já que é ele o motivo que leva tanto a casamentos errados como a separações sofridas. Pessoalmente acho que as pessoas dão importância sempre errada para sexo, ou o valorizam demais, ou o valorizam de menos, ou o veem só como satisfação prazerosa fácil, ou como referência suprema de santidade. O correto é mostrar que vida a dois tem o preço da independência econômica e da responsabilidade de assumir filhos, que casamento é algo bonito, bom, bênção, e por isso deve-se pensar bastante, orar muito, antes de assumi-lo. Temos que entender também que muitas pessoas simplesmente não estão preparadas para casamento, e muito menos para ter e criar filhos, ainda que fisiologicamente estejam prontas para relações sexuais. Assim, são os outros que têm que ajudar, aconselhar, tomando a iniciativa para orientar, como amigos, país, professores e pastores. 
      É preciso, principalmente, que as famílias conversem mais sobre sexo e casamento corretos, e não fazer, como muitas famílias de cristãos fazem, só incentivar casamento de jovens despreparados para que que não caiam na tentação de perderem a virgindade. Sim, por incrível que pareça isso atualmente ainda acontece, e muitos pais evangélicos se orgulham de entregarem ao matrimônio jovens de dezoito anos, talvez até seja interessante em alguns casos, mas não deve ser usado como regra para esconder falso moralismo e medo de enfrentar a realidade. Isso apressa a criação de famílias, a vinda de crianças ao mundo, dificulta o melhor preparo das pessoas na área profissional, já que casados e com filhos se tem o tempo para estudos mais restrito, ainda que com compromissos financeiros para serem cumpridos.
      Também é importante chamar a atenção para o que pensa o mundo e a mídia atuais sobre sexo. Na TV e na internet prega-se, por músicas, filmes, novelas etc, a liberdade de todos e para tudo, e que prevenção de gravidez e DSTs com camisinha e anticoncepcional basta para autorizar alguém para ter relações sexuais. Isso protege o corpo, mas não a alma e o espírito, sexo errado traz sempre, pelo menos a princípio, culpa, e não é só porque temos uma educação repressora, como pregam os sacerdotes da nova era, é porque é errado mesmo. Antes do tempo certo, sem ser com a pessoa certa e com a responsabilidade certa, sexo é ruim, contudo, na insistência o ser humano se acostuma, anestesia a alma e mata o espírito, tornando-se prostituto e adúltero, ainda que achando que isso é normal.
      Mas enquanto de um lado temos a liberalidade total, no outro temos a falsa moralidade, assim pastores precisam ser mais realistas e menos legalistas, mais amorosos e menos hipócritas, mais santos, sim, sempre, mas menos preconceituosos e diligentes para trazer de volta, não para afastar. Casamento não é para ser muitos, e sim, o ideal de Deus de ser só um é o melhor e pode ser uma realidade. Quem se resolve em Deus se casa e pode manter para sempre um casamento, por outro lado, quem não quer amadurecer, antes, só viver como criança provando um novo prazer sempre que enjoa do último, nunca achará felicidade em nenhum casamento e muito menos na solidão. 
      Creio, todavia, que na eternidade nos surpreenderemos ao saber sobre o verdadeiro valor que Deus dá a casamento e sexo, e seremos julgados pelo tempo que perdemos com certas coisas externas e materiais em detrimento de outras, de fato espirituais e muito mais prioritárias. Quer um conselho prático? Estude mais, leia mais, pratique esportes, conheça arte, aprenda a tocar um instrumento, viaje mais, tenha um animal de estimação, e sim, estude a Bíblia, adore a Deus, ore muito mais, vá a uma boa igrega, conheça outras igrejas, tenha amigos, seja feliz, se conheça mais e principalmente, conheça mais a Deus. Com certeza depois de fazer tudo isso terá menos tempo para usar sexo de maneira equivocada e apressar relacionamentos que são alianças de fato mais perenes. 

sexta-feira, março 01, 2019

Um pastor de verdade

      “Os sinais do meu apostolado foram manifestados entre vós com toda a paciência, por sinais, prodígios e maravilhas. Pois, em que tendes vós sido inferiores às outras igrejas, a não ser que eu mesmo vos não fui pesado? Perdoai-me este agravo. Eis aqui estou pronto para pela terceira vez ir ter convosco, e não vos serei pesado, pois que não busco o que é vosso, mas sim a vós: porque não devem os filhos entesourar para os pais, mas os pais para os filhos. 
      Eu de muito boa vontade gastarei, e me deixarei gastar pelas vossas almas, ainda que, amando-vos cada vez mais, seja menos amado.” Porque receio que, quando chegar, não vos ache como eu quereria, e eu seja achado de vós como não quereríeis; que de alguma maneira haja pendências, invejas, iras, porfias, detrações, mexericos, orgulhos, tumultos; Que, quando for outra vez, o meu Deus me humilhe para convosco, e chore por muitos daqueles que dantes pecaram, e não se arrependeram da imundícia, e prostituição, e desonestidade que cometeram.” 
II Coríntios 12.12-15, 20-21

      O texto acima é do final da segunda carta de Paulo à igreja de Corinto, logo após os primeiros versículos do capítulo doze onde ele, de forma legítima, revela a autoridade de seu ministério. Tal revelação mostra que Paulo tinha intimidade espiritual com Deus, mesmo que consciente de um não que o próprio Deus tinha dado à sua oração pedindo que lhe fosse retirado o tal espinho na carne, espinho, que seja ele o que era, era usado pelo inimigo para humilhá-lo. Não, Paulo não reclama do espinho na carne, assume-o com honestidade, com humildade, com clareza e maturidade.
      Nos versos doze ao quatorze, Paulo abre o coração e mostra mais que um fundador de igrejas e consolidador da teologia eclesiástica fundamental, mas um ser humano na pessoa, não de um líder, mais que isso, de um pai. Um pai, contudo, desapontado com seus filhos, filhos espirituais de uma igreja que estava se desviando da vontade de Deus, razão que levou Paulo a listar várias exortações nas epístolas. Mas o uso da frase “não sou pesado a vós” revela a honestidade de um genuíno servo de Deus, que cumpre seu ministério para servir, não para ser servido, verdade escancarada em “não busco o que é vosso, mas a vós”. 
      A verdade tem seu preço e um homem espiritual do calibre de Paulo podia usar com autoridade a verdade de Deus ainda que se mostrando humano, magoado, sentindo-se rejeitado, vendo seus filhos desobedecerem suas orientações e que mesmo depois de novas exortações continuaram em desobediência. Uma desobediência reincidente é o que se entende nos versículos quinze, vinte e vinte e um, quando Paulo diz que numa nova visita aos coríntios ele poderia achá-los ainda com “pendências”, pecados pessoais e sociais, de cristãos imaturos ou absolutamente desviados.
      A lista de pecados é grave, Paulo fala de forma clara, “invejas, iras, porfias, detrações, mexericos, orgulhos, tumultos... imundícia, prostituição e desonestidade”. Um homem que não queria lucros materiais, que não desejava uma grande igreja para dominar e enriquecer-se, e que fazia isso avalizado por Deus, podia falar de pecado abertamente e cobrar santidade sem papas na língua. É impossível ler esse texto e não enchergar a diferença que existe em muitos líderes cristãos atuais, que para não perderem membros e respectivos dízimos não dizem às ovelhas o que elas realmente precisam ouvir para agradarem a Deus.
      “Amando-vos cada vez mais, seja menos amado”, quem tem coragem de fazer essa constatação, que líder, desses muitos atuais, egocêntricos e vaidosos, pode viver esse amor realmente de Deus pelos liderados? Que disciplina porque ama correndo o risco de não ser amado por quem é disciplinado? É preciso muito desprendimento em Deus, muita convicção de chamado, muita confiança na honra do Altíssimo e não na de homens, para ser um Paulo, muitos até desejam isso, nos dias de hoje, mas não querem pagar o preço. Apóstolo Paulo, um exemplo realmente a ser seguido, por pastores, por todos nós.

      “Porque não devem os filhos entesourar para os pais, mas os pais para os filhos.”

quinta-feira, fevereiro 28, 2019

A Lei

      “Não erreis: Deus não se deixa escarnecer; porque tudo o que o homem semear, isso também ceifará. Porque o que semeia na sua carne, da carne ceifará a corrupção; mas o que semeia no Espírito, do Espírito ceifará a vida eterna. E não nos cansemos de fazer bem, porque a seu tempo ceifaremos, se não houvermos desfalecido.” Gálatas 6.7-9

      Religiões orientais, como o hinduísmo e o budismo, assim como esotéricas, como ordens iniciáticas baseadas no hermetismo, têm na “lei da causalidade” um de seus princípios fundamentais. Também chamada de carma (ou karma, ou a 7ª lei hermética, a de causa e efeito) diz que nenhuma causa ficará sem efeito, assim tudo o que o ser humano faz deve colher uma consequência, boa ou ruim de acordo com a qualidade da causa. Paulo cita esse princípio na carta aos Gálatas, e aqui não estamos fazendo qualquer apologia a quem usou isso primeiro, textos bíblicos ou outros textos religiosos, mas o apósotolo-teólogo relaciona tal princípio não a uma lei do universo ou da natureza, de forma cósmica impessoal, mas a Deus, e é bem duro em relação a isso, “não erreis, Deus não se deixa escarnecer”. Na ótica de Paulo (e do Espírito Santo) a obediência da “lei da causalidade” é algo pessoal para o Altíssimo, não é possível zombarmos dele ou despreza-lo de alguma maneira achando que podemos fazer algumas coisas que nada voltará como retorno, repito, de bom ou de ruim. Injustiças não ficarão sem juízo, nem boas obras sem honra, eis uma lei de Deus, imutável e para todos, sempre.
      Paulo abrange e detalha a tal “lei”, “Porque o que semeia na sua carne, da carne ceifará a corrupção; mas o que semeia no Espírito, do Espírito ceifará a vida eterna”, e a exortação inicial dele de que Deus não se deixa escarnecer (zombar, ridicularizar...) se refere também a isso, o efeito não só volta ao que o causou como é justo, adequado, na carne para a carne e no Espírito para o Espírito. É preciso ficar claro que na carne não significa só o óbvio, plantar pelos vícios, pelos erros, por uma busca de prazeres egoistas. De acordo com o evangelho fins não justificam os meios, assim como existe uma diferença entre colher neste mundo e colher na eternidade. A “lei” sempre é válida neste mundo, quem faz boas obras, colherá prosperidade, contudo, se não for salvo por Cristo, mesmo colhendo bem neste mundo, não mudará seu destino na eternidade. Deus não se deixa escarnecer também em relação à obra de redenção exclusiva feita por Jesus, boas obras não compram salvação, caridade feita pelo ateu, adorador de ídolos ou praticante de necromancia e culto a entidades espirituais, pode até ter bons frutos na existência material, mas não terá numa vida espiritual após a morte.
      O último versículo do texto de Paulo é um alerta aos que fazem boas obras no Espírito Santo e em Deus, não desista, infelizmente muitas coisas podem tentar nos fazer desistir nesta vida. Fraquezas reincidentes e não vencidas, cujas culpas que não acham no nome de Jesus paz através de seu perdão exclusivo e eficaz, podem nos enfraquecer ao ponto de perdermos a vontade de continuar fazendo (ou tentando fazer) as coisas certas. Injustiças do mundo, e o mundo é injusto mesmo, jaz no maligno (I João 5.19) que é cruel e mentiroso, injustiças administradas por prioridades equivocadas de vida e que não deveriam ser de quem é cristão, prioridades que podem nos levar a confiar mais no mundo que em Deus, desejar mais o mundo que seguir a Jesus, isso pode nos desanimar. Decepções com os homens, mesmo com cristãos, que apesar de estarem dentro do reino de Deus não são Deus e muitas vezes não vivem como homens de Deus, mesmo pastores, podem enfraquecer boas intenções. Eis três coisas que podem nos cansar de fazer o bem, nossas fraquezas, injustiças do mundo e decepções com tudo, mas Paulo nos exorta a não esmorecermos, seguirmos olhando para Jesus, fazendo tudo para ele e confiando em sua justiça, que no tempo certo colheremos.

quarta-feira, fevereiro 27, 2019

Não fique perdido

      “Falou-lhes, pois, Jesus outra vez, dizendo: Eu sou a luz do mundo; quem me segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida.” João 8.12

      Quando não sabemos onde estamos e nem para onde devemos ir, estamos perdidos, o salvo em Cristo e filho de Deus também pode achar-se nessa condição, mesmo tendo certeza de salvação e segurança da eternidade. Perdição não é trágico e certo destino só do que não autoriza que Deus se aproxime dele e lhe mostre a luz da vida que existe em Jesus, onde a existência é entendida com novos olhos, onde há libertação e paz. Nós cristãos, somos sempre levados pelo Espírito Santo a fazer escolhas, se demorarmos muito para fazer a escolha certa também poderemos nos achar perdidos. Repito, não é a perdição eterna, mas é um estado temporário de confusão que nos impede de ver a luz e nos deixa réus de “demônios”, veja que usei o termo entre aspas.
      Não me refiro aos seres espirituais do mal, pelo menos não só a eles, eles na maioria das vezes só usam nossos “demônios” internos para nos torturar, usam porque permitimos, o que são esses “demônios” internos? São nossos medos, nossas inseguranças, nossos erros passados, que nos enganam dizendo que nosso futuro está predestinado a repetí-los. Esse inferno ocorre dentro de nós, em nossas mentes e corações, centros figurados de nossos pensamentos e emoções, aquela relação estreita que ocorre entre corpo e alma, invisível, mas que nos domina mais que algemas em nossos punhos e cordas em nossos tornozelos. Esses “demônios” nos aprisionam e nos machucam, criam um loop infinito de efeito e causa que nos parece impossível de acabar, “demônios” são pessoais e intransferíveis, tão exclusivos a nós quanto nossos talentos, aptidões, paixões e ódios.
      Meu amigo e minha amiga, como você sabe que está perdido? Quando percebe que está sendo controlado por problemas que pareciam já terem sido resolvidos, quando sente que sua vida parece ter retrocedido, quando vê que opiniões, situações e pessoas, que antes não te incomodavam, passam a te deixar extremamente desconfortável. Penso, contudo, que o que marca um momento de perdição é uma guerra interior, que muitas vezes nem verbalizamos para os que estão próximos de nós, e não fazemos isso simplesmente porque não conseguimos entender o que está acontecendo. O que mais nos tortura nesse momento é que tentamos resolver um monte de problemas e não conseguimos, e não conseguimos porque na verdade esses não representam o problema principal, são apenas efeitos, não a causa. 
      O problema principal, e que acaba abrindo uma brecha em nós para todos esses outros problemas entrarem e nos dominarem, pode ser só uma decisão que temos que tomar e não estamos tomando, antes estamos fugindo de enfrentar a questão. Quando essa decisão for tomada todos os “demônios” desaparecerão, ficarão pequenos, fracos até que irão embora, do mesmo jeito que vieram. O que nos deixa perdidos é fugir de ter que fazer uma escolha, mas por que fugimos de certas escolhas? Por vários motivos, um deles pode ser porque fazer a escolha implica em abrir mão de uma posição cômoda, de algo que já nos acostumamos a fazer por anos, que nunca nos atrapalhou, mas que agora, a luz de Deus mostra que é algo que temos que deixar, de uma vez por todas. 
      Uma dificuldade deixa de ser dificuldade quando fica fácil de ser ultrapassada, assim Deus nos leva a enfrentar uma mais difícil, para que possamos crescer. A vida não fica mais fácil, mas mais difícil à medida que ficamos mais fortes. Isso, contudo, só acontece para que saibamos sempre que somos fracos e quem é forte é Deus, nessa consciência adquirimos humildade e continuamos a depender sempre do Senhor. Podemos, depois de anos tendo vitória e conseguindo ser produtivos, acabar achando que já crescemos tudo o que poderíamos, então Deus nos confronta com uma situação em que nos sentimos perdidos, por quê? Porque Deus coloca diante de nós uma dificuldade diferente, maior, e aquilo que parecia fácil fica difícil, aquilo que ultrapassávamos de um jeito que já tínhamos nos acostumado, não funciona mais. 
      Isso não é para que desistamos, para que concluámos, “bem, acho que já fiz tudo o que devia, agora é hora de parar”. Isso até pode ser verdade, esse momento pode até ter chegado, contudo, se você está sem paz e se sentido perdido, retrocedendo em teu padrão de vida espiritual, então não é momento de parar, mas de fazer uma nova escolha e enfrentar de frente um novo desafio. Grandes dificuldades são sempre grandes degraus para alcançarmos grandes conquistas, mas por outro lado, a negação de seguir em frente numa situação dessas traz grandes dores, um sentimento de perdição sem tamanho. Isso não é para que soframos indefinidamente, mas para nos empurrar para frente e para cima, para fazermos a vontade de Deus e crescermos. 
      O Deus que nos chama nos guiará até o fim de nossas vidas terrenas para novas, boas e melhores coisas. Em meu caminhar com Deus, todo início de ano é momento de saber e fazer uma nova escolha, você já sabe o que Deus tem pra você neste ano, já buscou, conheceu e obedeceu à vontade do Senhor para você e sua família em 2019? A vida com Deus se renova sempre, e o Senhor faz as coisas assim para o nosso bem, ele sabe como nos entediamos facilmente, como nossa alma é limitada para reter as riquezas do Espírito, dessa forma ele sempre nos toma pela mão e nos leva a provar novas facetas de uma vida abundante. A perdição não é para sempre, a confusão não é impossível de ser desfeita, os “demônios” não são invencíveis, se você parar e obedecer aquilo que Deus tem pra você hoje. 

      “Porque tu acenderás a minha candeia; o Senhor meu Deus iluminará as minhas trevas.Salmos 18.28

terça-feira, fevereiro 26, 2019

Preconceito X Humildade

      Confesso, ainda sou preconceituoso, julgo pela aparência, por um estereótipo que gravei na minha cabeça, sem conhecer de fato a pessoa. Preciso deixar aqui esse depoimento, e como músico, convivendo com músicos, e já com algum tempo de vida, às vezes ainda tiro conclusões precipitadas sobre as pessoas, talvez justamente por achar que já sei alguma coisa. Na música, uma coisa é o diferencial para quem quer exercer o ofício, talento natural, esse quesito não é adquirido com o tempo, não pode ser comprado com dinheiro nem com a maior força de vontade do mundo, ou a pessoas nasce com talento, ou não. Pode acontecer do talento aflorar mais à medida que a pessoa amadurece como ser humano, arte é virtude da alma, e fica melhor à medida que a alma ganha liberdade, mas ainda assim o potencial já estava com a pessoa desde seu nascimento.
      Assim, não julgue um músico pela aparência, mesmo pela cultura ou formação acadêmica. Existe gente que teve acesso a muito estudo, incluindo o musical, como à escola de piano erudito, cujo currículo passa de dez anos de estudo pesado, mas ainda assim gente com pouco talento mesmo que com muita técnica. Músico com talento não precisa de estudo, pode nem ler partitura, mas tem o que chamamos de “ouvidos”, ouve e sabe o que está acontecendo e executa no instrumento, discerne notas, escalas, acordes, encadeamentos, ritmo, arranjo etc. Ouve e sai tocando, sem precisar decodificar partitura, e além de reproduzir o que outros criaram, compõe obras originais e rearranja. É claro que quando o talento encontra o estudo, quando além de ouvidos o músico tem conhecimento da teoria musical, de harmonia, de partitura, o músico atinge seu apogeu. 
      Contudo, já encontrei gente simples, e mais que simples, humilde de fato, a qual eu não dei a princípio muito valor como músico, sim, devido a simples preconceito, por achar que pessoa com este estereótipo não deve ser bom músico e com aquele, deve, nesse julgamento pra pior já me dei mal e passei vergonha. Ocorre também que pessoas realmente geniais podem ser verdadeiramente humildes, não se impõem por aparência nem por palavras, você só vai saber que elas têm muito talento quando as vir atuando, tocando o instrumento. A verdadeira e melhor humildade não se nasce com ela, e ter um jeito tímido e discreto não significa de fato ser humilde, mas o músico em especial é de uma classe bem humilhada, principalmente em nosso país (e em nossas igrejas), tem que ser humilde para sobreviver. 
      Não me refiro a esse músico que vemos na mídia, na TV, na internet, esse pode ser celebridade, mas não ser artista (e uso o termo artista na melhor das óticas, referindo-me a alguém que de fato produz arte), muitos podem ser famosos, mas nem terem talento musical, assim pode até parecerem humildes, mas não serem. Não estou generalizando, mas infelizmente atualmente existe uma obsessão muito grande para ser celebridade (e muito nas igrejas evangélicas), e muitos fazem qualquer negócio, “vendem a alma”, para terem fama (ou se vendem e perdem a pureza do evangelho como “artistas” gospel). 
      O músico da noite, contudo, como chamamos esse profissional marginal que não aparece na mídia, aprende que precisa sobreviver de seu trabalho, que a competição é desleal, e que humildade é preciso para seguir de cabeça erguida e com portas abertas. É nesse tipo sofrido de profissional onde achamos gente muito talentosa, com uma aparência bem diferente das celebridades midiáticas, e que se não estivermos com a mente e o coração abertos podemos interagir com preconceito, com julgamento ruim, e sermos envergonhados. A lição é, cuidado, não defina alguém sem conhecê-lo profundamente, ainda que para quem tem sabedoria de vida em Deus, bastem alguns instantes para ver a qualidade do caráter de uma pessoa.

      “Os propósitos do coração do homem são águas profundas, mas quem tem discernimento os traz à tona.” Provérbios 20:5

segunda-feira, fevereiro 25, 2019

Deus é contigo

      “Não to mandei eu? Esforça-te, e tem bom ânimo; não temas, nem te espantes; porque o Senhor teu Deus é contigo, por onde quer que andares.Josué 1.9

      O versículo inicial nos consola sobremaneira, a todos nós que um dia nos colocamos nas mãos de Deus, indiferentes às posições dos homens, às oposições dos homens, às opiniões dos homens, querendo achar a felicidade que só Deus pode nos dar e que queremos tanto encontrar, após muito sofrimento e solidão. Pois é essa a palavra que sinto de compartilhar contigo, meu amigo e minha amiga que hoje lê um post do “Como o ar que respiro”, Deus é contigo, confia teu caminho nas mãos do Senhor, limpe seu coração, seja fiel com as alianças que realmente importam, se desvencilhie das outras, para não pecar, e anime-se. Deus te acompanhará até o fim, não te deixará, nunca te faltará esperança, saúde, trabalho honesto e companhia de homens e mulheres de bem que te façam companhia, de forma que tenha sempre teu coração cheio de paz e tua boca cheia de louvor ao Altíssimo.

domingo, fevereiro 24, 2019

A que se compara o Senhor?

      “E apascentava Moisés o rebanho de Jetro, seu sogro, sacerdote em Midiã; e levou o rebanho atrás do deserto, e chegou ao monte de Deus, a Horebe. E apareceu-lhe o anjo do Senhor em uma chama de fogo do meio duma sarça; e olhou, e eis que a sarça ardia no fogo, e a sarça não se consumia. E Moisés disse: Agora me virarei para là, e verei esta grande visão, porque a sarça não se queima. E vendo o Senhor que se virava para ver, bradou Deus a ele do meio da sarça, e disse: Moisés, Moisés. Respondeu ele: Eis-me aqui.” 
Êxodo 3.1-4


      “Vive o Senhor, e bendito seja o meu rochedo; e exaltado seja Deus, a rocha da minha salvação” 

II Samuel 22.47


      “E de repente veio do céu um som, como de um vento veemente e impetuoso, e encheu toda a casa em que estavam assentados. E foram vistas por eles línguas repartidas, como que de fogo, as quais pousaram sobre cada um deles. E todos foram cheios do Espírito Santo, e começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem.” 

Atos 2.2-4


     “E no último dia, o grande dia da festa, Jesus pôs-se em pé, e clamou, dizendo: Se alguém tem sede, venha a mim, e beba. Quem crê em mim, como diz a Escritura, rios de água viva correrão do seu ventre. E isto disse ele do Espírito que haviam de receber os que nele cressem; porque o Espírito Santo ainda não fora dado, por ainda Jesus não ter sido glorificado.” 

João 7.37-39


      O fogo que não queima, a terra, endurecida na rocha, que não se move, o vento que não destrói e a água que não afoga, não são os quatro elementos materiais, mas metáforas espirituais, que tentam definir importantes experiências que homens tiveram e têm com Deus pai, filho e Espírito Santo. Não estou sendo panteísta aqui, vendo Deus nos elementos, ainda que como descrito no Salmo 18, o Senhor tem controle sobre eles e eles se manifestam como efeito de seu poder. 


      “Na angústia invoquei ao Senhor, e clamei ao meu Deus; desde o seu templo ouviu a minha voz, aos seus ouvidos chegou o meu clamor perante a sua face. Então a terra se abalou e tremeu; e os fundamentos dos montes também se moveram e se abalaram, porquanto se indignou. Das suas narinas subiu fumaça, e da sua boca saiu fogo que consumia; carvões se acenderam dele. Abaixou os céus, e desceu, e a escuridão estava debaixo de seus pés. E montou num querubim, e voou; sim, voou sobre as asas do ventoFez das trevas o seu lugar oculto; o pavilhão que o cercava era a escuridão das águas e as nuvens dos céus. Ao resplendor da sua presença as nuvens se espalharam, e a saraiva e as brasas de fogo. E o Senhor trovejou nos céus, o Altíssimo levantou a sua voz; e houve saraiva e brasas de fogo. Mandou as suas setas, e as espalhou; multiplicou raios, e os desbaratou. Então foram vistas as profundezas das águas, e foram descobertos os fundamentos do mundo, pela tua repreensão, Senhor, ao sopro das tuas narinas. Enviou desde o alto, e me tomou; tirou-me das muitas águas.” 

Salmos 18.6-16


      Que texto maravilhoso esse Salmo, seja interpretado ao pé da letra, seja visto como metáforas das potestades espirituais, é poético, e mesmo um ser humano não dado à filosofia ou sem conhecimento profundo do mundo invisível pode entender e se sentir ouvido e protegido por um Deus alto e poderoso. Os quatro textos iniciais descrevem a subjetividade humana experimentando o Senhor, já que foram escritos por homens e para homens, ou podem ser a maneira como Deus se apresenta para que essa subjetividade possa entender melhor sua manifestação, contudo, esses textos contém mistérios que pouco compreendemos, do mundo invisível, da eternidade, que vão muito além de fogo, terra (rocha), ar (vento) e água. 

      Esta reflexão não contém nenhuma revelação, doutrinária ou filosófica, é apenas a expressão do meu encantamento com Deus, suas criações (de todos os universos), suas manifestações e como tudo isso simplesmente alimenta nosso ser, corpo, alma e espírito, de maneira completa. Triste o homem que acha fraqueza adorar a Deus, que considera ignorância confiar num Deus pessoal, invisível e todo-poderoso, não é só a Deus que tal homem nega, mas a si mesmo, sua essência. Nossa essência precisa do Senhor, o deseja com todo seu sentimento e pensamento, suspira por ele, tem sede dele, precisa dele como ar que mantém a vida, como água que sacia a sede, como rocha que dá firmeza e como fogo, que aquece e transforma os materiais para bem servir ao homem.


      “E Deus lhe disse: Sai para fora, e põe-te neste monte perante o Senhor. E eis que passava o Senhor, como também um grande e forte vento que fendia os montes e quebrava as penhas diante do Senhor; porém o Senhor não estava no vento; e depois do vento um terremoto; também o Senhor não estava no terremoto; E depois do terremoto um fogo; porém também o Senhor não estava no fogo; e depois do fogo uma voz mansa e delicada.

 I Reis 19.11-12


      Não posso encerrar está reflexão sem citar o texto acima, um dos textos mais poéticos da Bíblia. Um vento forte nos aterroriza quando olhamos pelas janelas e vemos tudo se abalar quando ele passa? Um terremoto lança em nossos rostos nossa fragilidade diante da força da natureza que faz tremer nosso chão? Um fogo terrível e consumidor devasta tudo o que tem pela frente? Pois saiba que Deus pode usar tudo isso e ser maravilhoso, contudo, seu maior poder, o único de fato que pode mudar o coração do homem, é o perdão pelo nome de Jesus. Esse perdão Deus revela com a voz mansa e delicada do Espírito Santo, que nos fala com amor e com graça, e que transforma nossas vidas de maneira extrema e para sempre. 

sábado, fevereiro 23, 2019

“Vira essa boca pra lá”?

      É cultural no Brasil, faz parte da tradição popular do brasileiro ser supersticioso, uma dessas superstições diz que falar do problema atrai o problema, pode fazê-lo acontecer, assim quando alguém diz sobre o risco de um perigo se responde, “vira essa boca pra lá”. Quem responde assim acha, mesmo inconscientemente, que essas palavras têm certo poder mágico, e que elas bastam para anular perigo, bem, como dito no início, isso é só uma superstição, não interfere na realidade. 
      Obviamente não só o brasileiro é assim, gente de todo o mundo é supersticiosa, mas no Brasil, essa tal superstição aliada ao tal “jeitinho brasileiro”, que não busca soluções sérias e eficientes para os problemas, mas apenas paliativos, gambiarras, leva muita gente a fugir de ter que enfrentar de frente coisas não resolvidas e que podem ser solucionadas, se houver coragem e boa vontade para exercer solução. O parábola dos talentos de Mateus 25 pode ser aplicada para muitas lições, vejamos parte dela para o tema desta reflexão.

      “Mas, chegando também o que recebera um talento, disse: Senhor, eu conhecia-te, que és um homem duro, que ceifas onde não semeaste e ajuntas onde não espalhaste; E, atemorizado, escondi na terra o teu talento; aqui tens o que é teu. Respondendo, porém, o seu senhor, disse-lhe: Mau e negligente servo; sabias que ceifo onde não semeei e ajunto onde não espalhei? Devias então ter dado o meu dinheiro aos banqueiros e, quando eu viesse, receberia o meu com os juros.Mateus 25.24-27

      O texto dá um bom exemplo de quem recebe algo e não reage de maneira correta, não enfrenta de frente o desafio, que no caso era aumentar o valor que tinha recebido originalmente. Interessante que a solução que o senhor do servo dá não violenta a vontade inicial do servo que era trabalhar minimamente, o senhor nem o repreende dizendo que ele deveria ter trabalhado mais para fazer render o talento. O senhor mostra uma solução que era possível ao servo, colocar o talento num banco para render, pelo menos para ter atualização monetária mensal ou aumentar com uma pequena taxa de poupança, lendo num ponto de vista atual.
      Deus não exige de um o que exige do outro, ele conhece os limites de cada um e julgará cada um conforme suas forças, seu potencial. Mas nem isso o servo negligente e bajulador fez, ele que menos recebeu para fazer render e sobre o qual menos responsabilidade foi lançada. Talvez alguém tivesse chegado a ele e dito, “você vai deixar esse talento parado? aí em casa, debaixo do colchão, enterrado na terra? não é seguro, e se um ladrão vier e roubar?”, talvez o negligente tivesse respondido, “vira essa boca pra lá, não vai acontecer nada, deixa quieto aí que quando o senhor voltar eu devolvo”. Como diz o ditado, quem pouco faz, menos tempo tem para fazer, quem muito faz sempre acha tempo para fazer mais.
      Enfrentemos nosso problema de frente, o verbalizemos em oração, de forma consciente, entendamos seu começo, seu meio e seu fim e então, lúcidos e diante de Deus, achemos solução e coloquemos mãos à obra para resolvê-los, isso é andar na luz de Cristo. Otimismo que foge da realidade não é otimismo, é insanidade irresponsável, enchergar problemas não é pessimismo, é maturidade, não inventa-los ou aumentá-los, mas os olharmos por completo, nos planejar, com paciência, trabalho e esperança, focados na solução. Infelizmente, essa cultura ruim do brasileiro tem levado nosso país a tantos acidentes, a tantas tragédias, isso tem relação direta com a falta de fiscalização. 
      Obras, rodovias, viadutos, prédios, barragens etc, que um dia foram construídos, não sofrem vistoria e se sofrem, são feitas por corruptos que ganham para darem autos mentirosos, não cobrando reformas ou em muitos casos reconstrução completa para se adequar a norma atuais. É o tal jeitinho brasileiro, não uma qualidade do nosso povo, mas um mal terrível, enquanto o povo, que deveria cobrar das autoridades fiscalização honesta e devida punição dos que não estiverem dando manutenção adequada, simplesmente diz, “vira essa boca pra lá, isso atrai coisa ruim, não vai acontecer nada, não”.