segunda-feira, outubro 31, 2022

Espírito e espíritos (92/92)

      “Porque já é manifesto que vós sois a carta de Cristo, ministrada por nós, e escrita, não com tinta, mas com o Espírito do Deus vivo, não em tábuas de pedra, mas nas tábuas de carne do coração.” II Coríntios 3.3  

      “A palavra espírito apresenta diferentes significados e conotações diferentes, a maioria deles relativos a energia vital que se manifesta no corpo físico. A palavra espírito é muitas vezes usada metafisicamente para se referir à consciência e a personalidade. As noções de espírito e alma de uma pessoa muitas vezes também se sobrepõem, como tanto contraste com o corpo e ambos são entendidos como sobreviver à morte do corpo na religião e pensamentos espiritualistas, e "espírito" também pode ter o sentido de "fantasma", ou seja, uma manifestação do espírito de uma pessoa falecida. Na filosofia, aparece como sinônimo do termo mente (intercambiável como esprit, no francês, e Geist, em alemão), principalmente em questões como o racionalismo de Descartes, no dualismo mente-corpo, e o idealismo (por exemplo, o Espírito (Geist) Absoluto de Hegel no idealismo alemão). O termo também pode se referir a qualquer entidade incorpórea ou ser imaterial, tais como demônios ou divindades, no cristianismo especificamente do Espírito Santo.” 

      Uma lei ditando um não extremo podia ser mais prática para livrar os homens de encrencas e os levar a confiarem diretamente em Deus. O caminho que a Bíblia apresenta para Deus é simples e seguro, no antigo testamento direto ao Altíssimo, e no novo, por Jesus e pelo Espírito Santo. Ainda assim I João 4.1-3 (compartilhada no final deste texto) nos chama a atenção por citar o termo “espíritos”, no plural. É preciso lembrar que o adjetivo “santo” foi acrescentado pelos primeiros que juntaram textos para comporem o novo testamento, originalmente em muitas passagens só havia o termo “espírito”.
      I João 4.1-3 diz “provai se os espíritos são de Deus”, assim a questão não é se havia mais de um espírito, mas se eram de Deus. A passagem diz mais, “nisto conhecereis o Espírito de Deus, todo o espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus”. Se muitos evangélicos acham que podem entrar num centro kardecista, pedirem a qualquer “espírito” que está usando um médium para confessar que Jesus veio em carne, e que esse se negará a confessar, enganam-se. Aliás, João se refere nessa passagem a uma seita de seu tempo, que negava que Jesus tinha vivido na Terra com corpo físico.
      Da mesma forma nada ocorrerá se tentarmos expulsar pelo nome de Jesus muitos dos espíritos que influenciam médiuns, muitos evangélicos falam do que não sabem. Será que o que sabem não foi concluído sobre uma mediunidade errada, aquela em que os homens se deixam possuir por espíritos inferiores, os chamados demônios? Talvez espíritas que se convertem em igrejas evangélicas na verdade nunca tenham sido bons espíritas, só tiveram experiências erradas, talvez esses de fato necessitem de exorcismos, já os genuínos talvez sigam fazendo o bem, convictos de suas crenças, só talvez…
      Evangélicos identificam como médiuns pessoas possuídas pelo que eles chamam de demônios, assim, violentas, descontroladas, escravas de vícios, com identidades transtornadas, moralmente sujas, que são libertadas por autoridade no nome de Cristo. Por outro lado, no meio evangélico, há pessoas que perdem controle físico e emocional dizendo-se em transe do Espírito Santo, nesses casos não há violência ou sujeira moral, mas só inconveniência social, que no mínimo é demonstração infantil de efeito emocional de experiência espiritual. Precisamos avaliar sempre o que dizem os dois lados.
      Espíritas também não aceitam, principalmente kardecistas, transe que gere violência ou sujeira moral, que prejudique o médium, e em seu meio há transes que elevam as pessoas, compartilham sabedoria e produzem virtudes que dão bons frutos. Vou dizer algo que talvez escandalize, pode ser que muitos médiuns sejam usados pelo mesmo Espírito Santo que exerce dons espirituais nos crentes. Qual a experiência mais espiritual? A de pentecostais em igrejas cristãs, que muitas vezes não passa de manifestações exibicionistas, ou de médiuns, que mostram em frutos práticos santidade e caridade? 
      Em várias passagens da Bíblia verificamos Deus se revelando aos homens, não diretamente, nem genericamente pelo que o cristianismo padronizou chamar de Espírito Santo. Seres espirituais de luz são usados de formas diferentes, alguns como anjos (Gênesis 19), outros como serafins (Isaías 6), outros como querubins (Ezequiel 10), outros como arcanjos (Daniel 10). Por que acharmos que hoje, quando pedimos a Deus uma palavra e ele nos fala de maneira espiritual e direta, que é um Espírito Santo genérico que responde? Deus usa anjos e outros seres espirituais o tempo todo para nos falar e nos iluminar.
      Quem disse que não são esses seres, mais específicos, que falam aos homens em outras religiões, ainda que chamados por outros nomes? Muitos dizem, “não, é o diabo se fazendo passar por Deus”. Quando líderes religiosos judeus disseram que Jesus fazia o que fazia pelo diabo, ele respondeu que uma árvore se reconhece pelos frutos (Mateus 12.24-33). Talvez, antes de nos acharmos donos da verdade, e no direito de julgarmos, principalmente espíritas kardecistas (mas também a outros) como diabólicos, deveríamos conhecer melhor os frutos desses, anos de vidas dedicadas à caridade e ao bem. 
      Sinceramente eu não sei se o mundo já está preparado para conhecimentos espirituais mais profundos. Não estou fazendo aqui qualquer juízo de valor, defendendo ou condenando, e cito o kardecismo pois o conheço mais, distinguindo-o de outros espiritismos, mágicos e mais antigos, presentes em religiões de povos tradicionais, como na Umbanda e no Candomblé existentes no Brasil, baseados em tradições africanas. O que eu sei é que o mundo ainda precisa e muito da simplicidade de Jesus, que leva os homens diretamente a Deus e permite-lhes acesso ao professor e consolador Espírito Santo. 
      II Coríntios 3.3 ensina que Deus se relaciona com as pessoas pelo seu Espírito, sois a carta de Cristo escrita não com tinta, mas com o Espírito do Deus vivo nas tábuas de carne do coração. Salvação de Deus, evolução do ser, comunhão do homem com o divino, tudo isso é feito com um Deus Espírito compartilhando sua eterna essência com suas criaturas. Religião, no melhor sentido da palavra, funciona espiritualmente, o termo espírito não é força de retórica, algo abstrato ou opcional, é uma presença viva e ativa. Relegar a segundo plano experiências espirituais na religião é negar sua razão de ser. 

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      “Amados, não creiais a todo o espírito, mas provai se os espíritos são de Deus, porque já muitos falsos profetas se têm levantado no mundo. Nisto conhecereis o Espírito de Deus: Todo o espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus; e todo o espírito que não confessa que Jesus Cristo veio em carne não é de Deus; mas este é o espírito do anticristo, do qual já ouvistes que há de vir, e eis que já está no mundo.” I João 4.1-3

      “Mas os fariseus, ouvindo isto, diziam: Este não expulsa os demônios senão por Belzebu, príncipe dos demônios. Jesus, porém, conhecendo os seus pensamentos, disse-lhes: Todo o reino dividido contra si mesmo é devastado; e toda a cidade, ou casa, dividida contra si mesma não subsistirá. E, se Satanás expulsa a Satanás, está dividido contra si mesmo; como subsistirá, pois, o seu reino?” “Mas, se eu expulso os demônios pelo Espírito de Deus, logo é chegado a vós o reino de Deus.” “Ou fazei a árvore boa, e o seu fruto bom, ou fazei a árvore má, e o seu fruto mau; porque pelo fruto se conhece a árvore” Mateus 12.24-26, 28, 33

Leia na postagem de ontem
a 1ª parte desta reflexão

domingo, outubro 30, 2022

Adivinho, profeta, médium (91/92)

      “O espírito do Senhor Deus está sobre mim; porque o Senhor me ungiu, para pregar boas novas aos mansos; enviou-me a restaurar os contritos de coração, a proclamar liberdade aos cativos, e a abertura de prisão aos presos” Isaías 61.1   

      “A palavra adivinhar vem do latim divinare, que significa prever o futuro. Em latim, divinare tem o sentido de conseguir predizer o que vai acontecer. Essa previsão podia ser feita à sorte ou pela dedução, mas normalmente era uma previsão feita com ajuda sobrenatural. A palavra divinare vem de divinus, que significa divino, pertencente ou relativo a um deus. Também podia significar algo sagrado, com caraterísticas dos deuses (como ser maravilhoso) ou alguém inspirado por um deus, como um adivinho ou um profeta. Os adivinhos afirmam conseguir fazer previsões e descobrir coisas ocultas porque recebem mensagens de seres sobrenaturais, como deuses. Divinus vem da raiz divus, que significa deus ou divindade, um ser sobrenatural com poderes especiais. Divus também podia significar divino.”

      Comunicação com Deus, com deuses, com anjos, com demônios e com espíritos, nunca foi só intelectual, onde se lê algo e se obedece. Essa relação implica numa presença sobrenatural inteligente no ser humano, que abre os sentidos espirituais, para que uma informação seja levada ao plano espiritual e outra seja recebida desse plano. Isso é ponto passivo, as perguntas são: o que é essa presença, uma só, várias, são boas, são más? O que é permitido e o que não é? Sendo proibido, por que é? Levantarei alguns questionamentos nesta reflexão sobre experiências com “espíritos”. 
      Na Bíblia, o termo adivinho tem vários sentidos, referindo-se às práticas de profecia ou mesmo de lançar sorte. Entendemos como adivinho o que recebe uma informação desconhecida por meios místicos ou aleatórios. No antigo testamento homens como Daniel, decifradores de sonhos e visões, eram adivinhos legitimados pela Bíblia como do Deus verdadeiro. Esses recebiam informações, principalmente sobre o futuro de Israel e das nações vizinhas, por contatos com Deus, com tipos diferentes de anjos e com aquele ser especial, “o anjo do Senhor”, que fala por Deus em primeira pessoa.
      O termo também é usado para quem tinha acesso a informações por espíritos de mortos, ou espíritos de adivinhação, oráculos ou deuses, esse último termo usado para espécies variadas de seres espirituais. Essa prática, a necromancia, pode incluir também o termo médium, surgido no século XIX no espiritismo kardecista, substituindo o termo deuses por espíritos de mortos. O afroespiritismo também pratica adivinhação, seja pelo jogo de búzios no Candomblé, seja pelo transe mediúnico por pães e mães de santo na Umbanda, nessas práticas se diz receber informações de entidades espirituais.
      Um cristão mais conservador pode dizer que em igrejas carismáticas há o Espírito Santo e esse não adivinha, fala a verdade por meio de servos de Deus, assim o oposto para ele também é válido, que toda manifestação espiritual que ocorre em outros lugares são do diabo, e essas, sim, adivinhações. Além dos búzios, outros meios podem ser usados para revelarem a vida das pessoas, como a astrologia, que faz a adivinhação estudando a posição de planetas e astros em datas de nascimentos, e como o Tarô (ou cartomancia), que faz adivinhações por meio de cartas aleatórias de um baralho especial.
      Ainda que cristãos, de maneira geral, generalizem as coisas, aqueles que conhecem as práticas não cristãs, diferenciam adivinhadores sérios de meros oportunistas, interessados em ganhar dinheiro explorando a curiosidade das pessoas e o encantamento humano pelo místico. Mas não é assim também nas igrejas cristãs, onde há profetas sérios e oportunistas? Muitas vezes uso aqui textos bíblicos como palavra indubitável de Deus para nossas vidas, mas outras vezes, como nessa, cito as posições doutrinárias de cristãos sobre um assunto, para depois reavalia-las, entenda essa reflexão como suposições. 
      As citações bíblicas compartilhadas no final deste texto são quatro referências diferentes sobre os termos adivinhação e adivinho. Levítico 20.27 é a Lei de Moisés, proibindo veementemente prática de comunicação com espíritos por meio de médiuns, e condenando esses a uma morte terrível. Ezequiel 13.6-8 fala da má prática de adivinhação feita por israelitas e em nome de Deus. Reconhecemos que é adivinhação humana e não palavra de Deus porque o texto diz que tais adivinhos dizem coisas que não acontecerão, que Deus não os mandou dizer, e que portanto são vaidades e mentiras.
      Já I Coríntios 12.3-4, 8-10 ensina sobre dons espirituais no novo testamento, e nesse caso precisamos entender algo importante. A simples forma não confere legitimidade para que o conteúdo seja de Deus. É preciso haver verdadeira palavra do Senhor compartilhada por seres humanos em comunhão com Deus. Falar alguns termos conhecidos em línguas espirituais estranhas, e quem é do meio sabe a que me refiro, iniciar uma profecia com “assim diz o Senhor”, ou encerrá-la com “fiquem em paz”, dizer que teve um sonho ou uma visão “diferente”, nãos basta para que sejam palavras de Deus.
      O texto de Isaías 3.1-5, contudo, é interessante, nele o termo adivinho é citado junto de outros, que definem diferentes posições sociais, militares, religiosas em Israel, incluindo a de profeta, sem que haja distinção ou recriminação. Ele diz que todos serão igualmente tratados por Deus com falta de sustento e de liderança. Isso nos passa a ideia que adivinhação era algo comum naquele tempo. Será que a criminalização da prática era geral, ou só para a errada? Seja como for, contato com mundo espiritual é algo complexo, pode ser perigoso e muitas vezes é ineficiente para conduzir a virtudes morais. 
      Veja que não estou sendo extremista, dizendo que toda manifestação espiritual que não ocorre em igreja cristã não é do Espírito Santo e é do diabo, usando como álibi a passagem de Levítico 20.27, dentre outras, que proíbe de forma extrema a prática do que a Bíblia chama de adivinhação, e que inclui a moderna mediunidade. Contudo, afirmo que por Jesus as coisas são menos complicadas e menos arriscadas, assim, acredito que muitos espíritas deveriam simplificar suas crenças e se converterem ao cristianismo primitivo, mas também creio que muitos evangélicos deveriam abrir suas mentes.

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      “Quando, pois, algum homem ou mulher em si tiver um espírito de necromancia ou espírito de adivinhação, certamente morrerá; serão apedrejados; o seu sangue será sobre eles.” Levítico 20.27

      “Viram vaidade e adivinhação mentirosa os que dizem: O Senhor disse; quando o Senhor não os enviou; e fazem que se espere o cumprimento da palavra. Porventura não tivestes visão de vaidade, e não falastes adivinhação mentirosa, quando dissestes: O Senhor diz, sendo que eu tal não falei? Portanto assim diz o Senhor Deus: Como tendes falado vaidade, e visto a mentira, portanto eis que eu sou contra vós, diz o Senhor Deus.” Ezequiel 13.6-8

      “Portanto, vos quero fazer compreender que ninguém que fala pelo Espírito de Deus diz: Jesus é anátema, e ninguém pode dizer que Jesus é o Senhor, senão pelo Espírito Santo. Ora, há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo.” “Porque a um pelo Espírito é dada a palavra da sabedoria; e a outro, pelo mesmo Espírito, a palavra da ciência; e a outro, pelo mesmo Espírito, a fé; e a outro, pelo mesmo Espírito, os dons de curar; e a outro a operação de maravilhas; e a outro a profecia; e a outro o dom de discernir os espíritos; e a outro a variedade de línguas; e a outro a interpretação das línguas.” I Coríntios 12.3-4, 8-10

      “Porque, eis que o Senhor, o Senhor dos Exércitos, tirará de Jerusalém e de Judá o sustento e o apoio; a todo o sustento de pão e a todo o sustento de água; o poderoso, e o homem de guerra, o juiz, e o profeta, e o adivinho, e o ancião, o capitão de cinquenta, e o homem respeitável, e o conselheiro, e o sábio entre os artífices, e o eloqüente orador. E dar-lhes-ei meninos por príncipes, e crianças governarão sobre eles. E o povo será oprimido; um será contra o outro, e cada um contra o seu próximo; o menino se atreverá contra o ancião, e o vil contra o nobre.” Isaías 3.1-5

Leia na postagem de amanhã
a 2ª parte desta reflexão

sábado, outubro 29, 2022

Só outra teoria de conspiração (90/92)

      “Suave é ao homem o pão da mentira, mas depois a sua boca se encherá de cascalho. Cada pensamento se confirma com conselho e com bons conselhos se faz a guerra.Provérbios 20.17-18

      Os de direita veem teoria de conspiração na esquerda, os de esquerda veem teoria de conspiração na direita, os cristãos veem teoria de conspiração na mídia, os não cristãos veem teoria de conspiração nos cristãos, religiosos veem teoria de conspiração na ciência, ateus veem teoria de conspiração nos religiosos. A conclusão que chegamos é que ou existem muitas conspirações secretas sendo armadas ou não existe nenhuma, são os seres humanos que são propensos a imaginarem teorias conspiratórias, eu fico com a segunda opção, com convicção.
      Não nego que até existam propósitos secretos, mas muito mais ligados a empresas, para conquistarem consumidores e terem mais lucro econômico, que para propósitos religiosos, espirituais e mesmo políticos, para se dominar o mundo e se fazer papel de deus. Pessoalmente tenho uma regra inicial, não acredito em teorias conspiratórias, elas dariam um trabalho desnecessário para existir, há meios mais práticos de se obter objetivos neste mundo, e repito, a prioridade dos maus é grana. Teoria de conspiração é mentira e é concebida por mentirosos com propósitos.
      Pode existir só uma teoria, a mais eficiente, fazer as pessoas crerem em teorias conspiratórias. Apesar de haver probabilidade de existir vida inteligente em outros planetas, ela pode estar muito longe daqui, e se alguém conseguir chegar até aqui poderá estar moralmente avançado, tanto quanto cientificamente, e não se deixará ser percebido, respeitando nosso nível inferior de evolução. Mas isso também é uma teoria. Por outro lado, dizer que coisas acontecem por causa de extraterrestres é conveniente para quem não quer revelar a verdade, e eis outra teoria.
      O que leva a essa tendência é a ignorância, quem não sabe e muitas vezes não quer saber, cria fantasias na cabeça. Quanto mais o ser humano se informar com a verdadeira ciência e com o verdadeiro conhecimento do mundo espiritual, menos teorias serão inventadas. Infelizmente, imaginar pode ser mais prazeroso para os ociosos, não entendem que a realidade é muito mais fantástica e muito mais prazerosa que a ilusão. Depois de vida inteligente fora da Terra, religião e política são as áreas preferidas para teóricos de conspirações imaginarem coisas.
      Um mecanismo de teoria conspiratória é a necessidade de se achar opositores, isso conforta quem não quer aceitar que a verdade não está lá fora, mas dentro dele, o diabo não são os outros, mas ele próprio. O exagero em ver teorias de conspiração pode ser efeito de ou conduzir a transtornos psiquiátricos, mas em qualquer nível não é sadio. É diferente de apreciar ficção, em livros e filmes, por exemplo, nesse caso é até salutar, exercício de imaginação, vislumbrar de possibilidades, mas sempre com limites para que não se torne escapismo doentio. 
      Outra satisfação que pode ser achada em teorias conspiratórias é a existência de seres poderosos, no plano espiritual ou no físico, aos quais podemos aliar coisas que não entendemos, mas que gostaríamos que fossem explicadas do nosso jeito. Por isso algumas teorias agradam a alguns e outras a outros, se vê o que se quer ver, a realidade criada pela teoria não está na realidade do mundo ou do plano espiritual, mas dentro da cabeça do que nela acredita. Por isso quem acha uma teoria para chamar de sua se sente tão confortável com ela e até ajuda a inventá-la.
      Contudo, temos que entender que teorias de conspiração são instrumentos úteis nas mãos de quem quer controlar as pessoas para poder usá-las, principalmente dando a elas motivos para terem medo. Depois que o falso medo é implantando, quem o disseminou se coloca como o que vai combater o medo. Teoria de conspiração pode ser arma de líderes políticos e religiosos inescrupulosos, que não querendo resolver problemas reais, porque são difíceis ou porque não valem a pena resolver, criam falsos problemas e se colocam como solução para esses. 
      Uma característica da teoria conspiratória é que possui explicações complexas, de modo que quem por ela é enredado sente-se apropriando de um conhecimento profundo sobre algo, que outros não viram a relevância, mas que ele viu. Dessa forma teoria de conspiração apela para a vaidade das pessoas que se acham sinceramente mais lúcidas que os que não creem na teoria. Quem crê em teoria conspiratória se vê como paladino da verdade, quase que numa missão profética de levar luz a aprisionados pelas trevas, por isso religião é terra fértil para teorias. 
      Creio que os que mais têm interesse em teorias conspiratórias são os seres espirituais das trevas, e isso também pode ser uma teoria. Eles não têm corpos físicos, não podem se satisfazer pelos apetites e capacidades da matéria, assim satisfazem-se inventando mentiras e torturando o que nelas crê. Na maior parte das vezes a própria figura de um anjo caído controlando o mal é teoria da conspiração, que originou-se no início da humanidade no planeta, quanto o ser humano ainda não tinha conhecimento científico e discernimento moral e espiritual.
      Como diz o texto bíblico inicial, teoria de conspiração pode ser agradável no começo, se mostra iluminadora de mistérios, de coisas que não se tem controle, cria inimigos para se odiar, deuses para se adorar, mas depois deixa desgosto. O sábio ouve outras opiniões, pesquisa o assunto sabendo o que é dito contra e por quem é dito, não por especuladores maliciosos, mas por cientistas ou espiritualistas idôneos, conforme a área. Cai fácil em mentira quem se fecha em bolha, ouve só o que gosta de ouvir de quem pensa como ele, e que não busca a Deus. 
      Você pode ler esta reflexão, reavaliar muitas de suas crenças, orar e quem sabe, até mudar de opinião em alguns assuntos. Contudo, você também pode fazer a leitura e considerar este texto só mais uma teoria de conspiração, a escolha é tua. Não tenho a pretenção de me colocar como dono de alguma verdade, só compartilho minhas opiniões e conclusões, sempre baseado em vida prática com Deus e com a vida no tempo. “Ninguém se engane a si mesmo, se alguém dentre vós se tem por sábio neste mundo, faça-se louco para ser sábio” (I Coríntios 3.18). 

sexta-feira, outubro 28, 2022

Conhecemos a luz verdadeira? (89/92)

      Por favor, leia este texto até o fim para poder entender corretamente a reflexão, obrigado. 

      “Ali estava a luz verdadeira, que ilumina a todo o homem que vem ao mundo. Estava no mundo, e o mundo foi feito por ele, e o mundo não o conheceu. Veio para o que era seu, e os seus não o receberam.João 1.9-11

      “Se Deus não existe, tudo é permitido” (frase do livro “Irmãos Karamazov" de Fiódor Dostoiévski), mas quem disse que não se deve fazer algo porque Deus existindo condenará quem fez? Na verdade Deus existe, tudo pode ser feito, e cada um colherá os frutos do que plantou, como causa e efeito do universo, não como ação de um Deus prepotente condenando quem plantou mal ou recompensando quem plantou bem. A frase do clássico russo parece “avançada”, mas baseia-se num entendimento retrógrado. Quem acha que pode fazer tudo porque Deus não existe, equivoca-se tanto quanto quem acha que só pode fazer algumas coisas porque são as autorizadas pelo Deus em que crê, ambos não conhecem o verdadeiro Deus. 
      O falso cristianismo do mundo pregado pelo catolicismo e também pelo protestantismo, criou duas espécies de seres humanos aparentemente opostos de pessoas, mas com uma mesma característica. Uns obedecem cegamente a um falso “Deus”, outros desacreditam cegamente desse mesmo falso “Deus”, mas ambos acham que se relacionam, por veneração ou por oposição, com o Deus verdadeiro. Um pecado será cobrado de muitos líderes religiosos, falsidade ideológica, a venda de algo como sendo Deus sendo que não é Deus, mas também será cobrado de muitos, religiosos e ateus, a falsa ingenuidade que os levou a aceitar as coisas sem questionar, sem avaliar, sem casar teoria com prática, tanto para obedecer, quanto para não. 
      Grande parte de ateus, que chamam religiosos de ignorantes, é tão desinformada quanto os religiosos que critica, e foi doutrinada pela mesma religião equivocada dos religiosos. A única diferença é que uns escolheram aceitar o equívoco que lhes ensinaram e outros não. Se ambos conhecessem o Deus verdadeiro talvez muitos mudariam de lado, alguns religiosos se tornariam céticos, pois não achariam a verdade agradável a seus ouvidos, e alguns ateus creriam em Deus. Os religiosos judeus do primeiro século agiram assim, veio a luz verdadeira de Deus encarnada em Jesus Cristo e eles não a aceitaram, antes odiaram, perseguiram, torturam e crucificaram essa luz. Quem não pensa é enganado, de um jeito ou de outro. 
      Quem criou as leis do universo foi Deus, elas deixam sozinhos os que plantam errado e aproxima das virtudes do Senhor os que plantam certo. Quem se afasta de Deus colhe mentira e desgraças, físicas, morais e espirituais, que existem nas trevas longe da luz de Deus. Quem se aproxima de Deus autoriza o Senhor a abençoá-lo, sincroniza-se com a boa vontade do Altíssimo que perdoa, protege e supre. Lista de leis morais não aproximam o homem de Deus, talvez de religiões, o que nos aproxima de Deus é amá-lo, correspondendo a seu amor primeiro e maior por nós. Nenhuma causa ficará sem efeito justo, mas todos os seres humanos, ainda que em tempos diferentes, poderão chegar a Deus e às suas riquezas e glórias eternas.
      Jesus não foi compreendido por muitos líderes religiosos judeus do primeiro século, tão entendidos nos textos sagrados, João registra isso claramente nos primeiros versos de seu evangelho. Contudo, até hoje, parece que muitos não entendem o Cristo, e o pior muitos que se põem como líderes e guardiões de tradições cristãs. “Mas a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos que crêem no seu nome, os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus; e o Verbo se fez carne e habitou entre nós e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade” (João 1.12-14). Muitos precisam nascer pelo Santo Espírito.

quinta-feira, outubro 27, 2022

Quem é Deus senão o Senhor? (88/92)

      “Porque quem é Deus senão o Senhor? E quem é rochedo senão o nosso Deus? Deus é o que me cinge de força e aperfeiçoa o meu caminho.Salmos 18.31-32

      Um texto nem sempre nos ensina só pelo que diz, pode dizer-nos muito nas entrelinhas e ensinar mesmo pelo que não diz. A Bíblia é coletânea de registros históricos, assim, um entendimento mais abrangente dela se faz verificando vários aspectos, língua original, história, geografia, respeitando contextos, então, transferindo, se possível, para a realidade do leitor. Entender que a pergunta de Salmos 18.31 é só a declaração do “rochedo” que nosso Senhor é, é útil, mas a pergunta pode nos dizer mais, se nos aprofundarmos na sociedade do escritor e do antigo testamento de maneira geral. Por que o salmista faz a pergunta? Ele busca algum reforço na resposta? Qual?
      Quem é Deus senão o Senhor? Hoje em dia, após quase dois mil anos de doutrinação cristã, isso é questionamento que não fazemos, temos gravado na mente que só existe um Deus e ele é todo-poderoso. No tempo do antigo testamento isso não era bem assim, cada nação tinha seu “deus” e mesmo mais de um, politeísmo era comum. Em Salmos 86.12a há uma citação interessante, “entre os deuses não há semelhante a ti, Senhor”. Os “outros deuses” não são negados, só são colocados numa posição abaixo de Deus, assim, mesmo entre os israelitas é discutível afirmarmos que eles criam na existência de um único deus, ainda que convictos que seu Deus era o mais poderoso de todos.
      Em muitos textos bíblicos o registro dos escritores sobre deuses é feito de maneira exotérica, não esotérica, assim referem-se a estátuas e imagens, aos símbolos materiais usados para foco mental e emocional, portanto, de conhecimento popular e exotérico, não ao que era invocado no plano espiritual através desses ícones físicos, os espíritos malignos ou “deuses”, de conhecimento muitas vezes só de “iniciados”, o esotérico. Talvez hoje, com o neo-politeísmo que anda surgindo, principalmente pela promoção, por exemplo, de religiões afros e de povos originais (e aqui não exerço qualquer juízo de valor, só faço constatação “técnica”), Salmos 18.31 tenha relevância. 
      A verdade é que Deus ocupa uma posição espiritual única e eterna, nele está Jesus, com ele o Espírito Santo conecta todos os que o buscam. É assim ainda que abaixo dele principados e potestades de toda sorte de seres espirituais, da mais alta luz às trevas mais intensas, existam e possam ser acessados. Esse acesso a outros seres é prudente de ser feito? Não. Mas é possível? É. O termo falso deus é inapropriado em muitos casos, Deus só existe um, mas abaixo dele seres espirituais podem se colocar como deuses, também são verdadeiros, mesmo que não sejam Deus. Com verdadeiros não dizemos que sejam bons, podem ser maus, mas são reais. Falso deus mesmo é o homem arrogante. 
      Enganam-se muitos cristãos que pensam que pessoas de outras religiões são enganadas por deuses que se dizem algo quando são outra coisa, assim, como falsos deuses. Quem busca outros deuses sabe muito bem quem está buscando, sabe que não são Deus, e os espíritos desligados da luz mais alta de Deus, enquanto guias de religiosidades oficiais e provadas no tempo, também se identificam corretamente. Espíritos enganadores, que podem se passar por outros, inclusive, numa presunção muito grande até por Deus, são menores, geralmente são os que se apossam de indivíduos, esses são repelidos até em meios espíritas, não sendo “expulsos” só em igrejas evangélicas. 
      Muitos evangélicos e mais ainda protestantes tradicionais, mais próximos às doutrinas da reforma, têm um conhecimento superficial e às vezes enganoso do mundo espiritual, de demônios, diabos e outros. Pessoas que se relacionam com o mundo espiritual de maneira mais séria e profunda, ainda que não com Deus por Cristo e no Espírito Santo, não ficam necessariamente possuídas violentamente, perdendo controle de mentes e corpos. Se um evangélico acha que pode entrar numa sessão espírita kardecista, por exemplo, e expulsar demônios, se equivoca, a coisa é um pouco mais complexa. Mas sim, quem se envolve com algo que é proibido na Bíblia pode correr riscos sérios. 
      Não é adequado usar Efésios 6.12-13, “porque não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais, portanto, tomai toda a armadura de Deus, para que possais resistir no dia mau e, havendo feito tudo, ficar firmes”, para jogar responsabilidade no diabo por algo que é livre arbítrio humano. Contudo, esse texto se aplica corretamente à batalha espiritual, necessária quando alguém está intensamente amarrado a um problema e a espíritos maus. Mesmo dores que a medicina não acha a causa, podem ser efeito de opressão espiritual prolongada. 
      Seres espirituais, que acham harmonia em modos de vida errados, ligados a vícios, a culpas e a outras dores não resolvidas em Deus, podem torturar pessoas. Nesse caso nossa luta é conversar com a pessoa para que ela escolha um modo de vida diferente, mas também é orar para que espíritos maus, que entraram em sintonia com ela, não a atormentem mais, nem tentem nos revidar por estarmos ajudando-a. Cuidado, ao se envolver com problemas sérios, o mal pode se voltar contra você, por isso é necessário convicção de que Deus nos autorizou a nos envolvermos, e firmeza para depois permanecermos protegidos com a armadura de Deus, senão tentativa de cura pode até piorar a doença.
      Outra lição que aprendemos no salmo 18 é a resposta dada no versículo 32 à pergunta do versículo 31: “Deus é o que me cinge de força e aperfeiçoa o meu caminho”. É impossível existirmos sem comunhão com Deus, pobres dos ateus e materialistas que tentam viver sem crer no espiritual, ou que só confiam na ciência. Se Deus não te fortalecer, não saia para a batalha, poderá até ter vitória, mas ficará ainda mais fraco e susceptível às retaliações de espíritos maus, e não duvide, eles contra-atacam, esperam o momento melhor e jogam sujo. Peçamos a Deus que aperfeiçoe nosso caminho, de maneira que possamos fazer as melhores escolhas, sem ingenuidade ou irresponsabilidade, fortalecidos nele.

      “Ao único Deus, sábio, seja dada glória por Jesus Cristo para todo o sempre. Amém.Romanos 16.27 

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quarta-feira, outubro 26, 2022

Acima dos símbolos (87/92)

      “Porque eu conheço que o Senhor é grande e que o nosso Senhor está acima de todos os deuses.” Salmos 135.5

      Existe outro aspecto importante sobre símbolos, verificado com representações de seres híbridos, parte homem, parte animal. Também se referem a seres espirituais, mas cada parte tem um significado, e assim podem conter vários significados espirituais. A esfinge, parte humana, parte leão, parte pássaro, conforme o ocultismo é mais que um animal mítico, é um conjunto de símbolos esotéricos. Quem foca em uma imagem de animal, não está adorando um animal, mas evocando significados espirituais. 
      Povos originais (indígenas) da América do norte têm ligações espirituais com animais, um urso, uma águia, uma cobra, sendo que cada animal representa um espírito ou um significado espiritual específico. Por outro lado religiões hinduístas já consideram certos animais como possuidores de espíritos especiais, por isso, por exemplo, os bovinos são respeitados, mas nesse caso não é simbolismo. Assim, a conexão espiritual que não com Deus por Jesus, pode ser bem variada e complicada. 
      Toda a velha aliança de Israel, recebida e codificada por Moisés, é um grande simbolismo da nova aliança que seria entregue por Jesus (refletimos a respeito em “Os templos de Jerusalém“). Não que os judeus adorassem a construção do templo, ou os objetos usados nas festas e cerimônias, mas Deus ensinava ao homem sobre a obra redentora do Cristo através dos protocolos da religião israelita. Isso construiu um símbolo mental muito poderoso usado pelo catolicismo e pelo protestantismo.
      Por que nos sentimos tão eficientemente purificados quando pedimos que Deus nos lave com o “sangue” de Cristo? Não sei quanto a você, mas eu me sinto, me pego usando esse simbolismo muitas vezes. Ainda que mental, é um símbolo porque o sangue físico e real de Cristo não vem nos limpar quando oramos assim. Jesus hoje é espiritual e numa posição espiritual elevadíssima, acima de toda sorte de seres espirituais e físicos. Mas essa figura funciona, como funcionam outras figuras.
      Baseada em Lucas 22.19-20 a Igreja Católica tem, talvez, o simbolismo mais forte de todos, que mais que um símbolo, creem eles, é uma manifestação física. No sacramento da Eucaristia a hóstia se transforma, dentro do corpo do crente, em corpo e sangue do Cristo (“transubstanciação”). No meio protestante e evangélico a interpretação da ceia varia muito, não é consenso, para uns aproxima-se bastante da doutrina católica, para outros a ceia é só um culto de memória e de confirmação de fé. 
      Pessoalmente acredito que não devemos julgar mal ninguém por usar símbolos materiais para focar ou reforçar sua comunicação com Deus e o mundo espiritual. Deus ouve e atende a todos, indiferente de símbolos, religiões e mesmo de intenções. Contudo, como alguém que tem certeza de suas convicções e acredita que conhece certas verdades, humildemente posso aconselhar. Busquemos a Deus, focando mentalmente nele, e através da verbalização do nome de Jesus Cristo, isso basta.  
      Concluo lembrando algo já dito aqui, nossa comunicação com o plano espiritual é mental, assim imagens, vistas ou imaginadas, não são só percepções e invenções de nossas cabeças, podem ser usadas para interagirmos com Deus e com outros seres. Não faço aqui qualquer juízo de valor, dizendo o que é certo e o que é errado, mas posso dar um testemunho. Buscarmos ao Deus Altíssimo, e não outro “deus”, nos cura, nos limpa, nos protege e nos conduz sem confusão sempre em vitória. 

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terça-feira, outubro 25, 2022

O poder dos símbolos (86/92)

      “Mas, se andarmos na luz, como ele na luz está, temos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus Cristo, seu Filho, nos purifica de todo o pecado.I João 1.7

      A reforma protestante negou o poder dos símbolos, e em última instância, para aqueles que atingem espiritualidade mais iluminada e madura, não há necessidade de símbolos materiais para se ter uma experiência com Deus, digo isso com o respeito que tenho com todos que pensam diferente. Não estou dizendo com isso que protestantes e evangélicos tenham maturidade ou que desfrutem de toda iluminação, que sejam por isso melhores que católicos ou outros religiosos. 
      Mesmo que seja só por ideias, símbolos ainda podem ser usados, amarrando o ser humano na infantilidade espiritual que não vê muito mais que quem usa símbolos materiais. A diferença é que a reforma protestante colocou o homem num contato mais direto e reto com o Altíssimo, pela fé exclusiva em Jesus, ainda que negue a maior parte das capacidades que o Espírito Santo pode dar aos seres humanos para conhecerem mais profundamente o mundo espiritual.
      É inegável que os seres humanos precisam de símbolos materiais para concentrarem sua fé, para focarem pensamentos e sentimentos, ainda que muitos não tenham exatamente a noção de com quem estão se comunicando de fato. Assim, imagens em figuras e estátuas de homens e mulheres que já morreram e foram proeminentes em suas crenças, mesmo de arcanjos, de entidades e de outros seres espirituais, ajudam os seres humanos a terem a atenção de seres no plano espiritual. 
      Sim, nenhuma fé fica impune, nenhum intenção mental e emocional direcionada ao plano espiritual é em vão, acreditem nisso protestantes e evangélicos. Há poder nos símbolos desde muito tempo, como o antigo testamento tão bem nos descreve quando fala de “falsos deuses”, ainda que venham à mente de muitos evangélicos mal informados, quando leem sobre idolatria, só estátuas de pedra, madeira ou outro material, vazias, que não podem interagir com os seres humanos. 
      O ser humano precisou, e vejam que usei o verbo no passado, de símbolos nos tempos antigos, ainda que num estado de excessão. A história de Israel no antigo testamento é a de um Deus espiritual tentando convencer a humanidade que símbolos materiais são desnecessários. Mas o motivo de vermos isso com tanta ênfase em tantas passagens, seja pelos registros de Moisés, dos juízes, dos reis ou dos profetas, não era para ensinar que outros deuses não existem, mas que não são confiáveis.
      Não vou entrar em detalhes, mas a coisa funciona mais ou menos assim. Se você moldar uma estátua, ou desenhar uma imagem, de um ornitorrinco, por exemplo, então, invocar o mundo espiritual focado nisso, achará algum “ser espiritual” que se identifique como tal. Seres espirituais ”inferiores” são vaidosos, carentes por interação e adoração, como não querem se render a Deus querem ser deuses e encontram em seres humanos, assim como em outros espíritos ”inferiores”, atenção. 
      Por isso construção física de símbolos espirituais é tão perigosa, não fazemos ideia de quem responderá se chamarmos por eles. O mundo espiritual é complexo, usando um termo cristão, existem toda espécie de “demônios” e “diabos”, seres das trevas em vários níveis de hierarquia. Se são das trevas não são da luz, assim não são da verdade, mas da mentira. Qualquer ser espiritual é espírito, espírito não tem corpo, mas os ”mais baixos” são ligados à matéria, por isso tem predileção por símbolos.

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segunda-feira, outubro 24, 2022

Todos responsáveis por todos (85/92)

      “Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus; sendo justificados gratuitamente pela sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus.Romanos 3.23-24

      Quando vejo um grupo de jovens, na média com menos de vinte anos, passando a pé em frente de minha residência, nos finais de semana, muitas vezes após às vinte e duas horas, indo para algum lugar, uma praça, um posto de gasolina, com pouco dinheiro no bolso e muitas vezes com nenhum, me vêm alguns pensamentos à mente. Minha tendência é comparar com minhas filhas, que tiveram um ensino particular com mais qualidade, novas ainda, mas focadas nos estudos, no estágio profissional, que também se divertem, mas de forma mais protegida, mais próximas a mim e à mãe.
      Fico triste, tantos jovens achando razão de viver, alegria, em coisas tão fúteis, em música ruim, em bebidas alcoólicas, em cigarro, quando não em coisa pior. Eles não são tão diferentes de filhas por quem tanto amo e zelo em oração, mas por algum motivo, que só Deus sabe, nasceram em lares com menor poder aquisitivo, e às vezes nem com falta de dinheiro, mas de pais mais próximos, de referências mais altas de cultura, de moral, de Deus. Nesses momentos Deus me fala, “esses jovens têm importância para mim, tanto quanto tuas filhas, como têm os pais deles tanto quanto têm você e tua esposa”.
      Todos somos responsáveis por todos. Parece uma afirmação óbvia, principalmente para cristãos, que participam de igrejas que dizem que têm a missão de salvar o mundo, mas na prática não é bem assim que funciona. Muitas igrejas evangélicas funcionam hoje mais como lojas rápidas de conveniências ou prontos socorros. As pessoas entram em templos quando estão com necessidades iminentes, não querem profundidade espiritual, relação social, só querem soluções, simples e rápidas, de igrejas de alta rotatividade, fáceis de se entrar, fáceis de se sair, sem que haja muita cobrança. 
      Que solução é mais simples e rápida que a que se compra com fé genérica e ofertas de alguma grana? Ninguém precisa conhecer a Deus mais seriamente, experimentar melhorias morais, mesmo acreditar em verdades como únicas, não importa, pode até ser só mais uma verdade, importa é um tratamento célere para uma dor. Isso é o que ocorre em muitas igrejas cujo público são pessoas de poder aquisitivo mais baixo e com menor formação intelectual. Sim, não sejamos injustos, há alguma mudança de vida, libertação de vícios, casamentos arrumados, mas muitas vezes só superficialmente. 
      Já em igrejas protestantes tradicionais, não em todas, mas em muitas, apesar de serem procuradas por motivos menos materialistas e com referências intelectuais mais altas, os templos funcionam mais como clubes fechados. Essas não estão muito cheias atualmente, os frequentadores não são de alta rotatividade como nas outras, mas a maioria as frequenta há anos, muitos desde crianças. Contudo, há algo em comum com as pentecostais e neopentecostais, pouca responsabilidade com os outros, não é qualquer pessoa que entra, assiste um culto, é bem tratada e fica como membro oficial. 
      Perdoe-me se estou sendo injusto com a tua igreja, a crítica que levanto aqui não deve ser generalizada, mas só responda uma coisa, com que frequência você vê batismos em tua igreja, que não sejam de filhos ou mesmo de parentes de membros antigos? O número reduzido de batizados reflete a prioridade que muitas igrejas evangélicas e protestantes dão para aqueles, como os jovens que citei acima, do mundo. Muitos de nós acostumamo-nos a olhar muitos como os outros, não sentindo qualquer responsabilidade por eles. Não os julgamos mal, mas também não os amamos como devíamos amar. 
      Se muitas igrejas protestantes não abraçam os do “mundo” e se as outras igrejas veem os do “mundo” como produtos descartáveis, outros abraçam. Ideologias de esquerda, materialistas, traficantes de drogas assim como vendedores de cigarro e bebidas alcoólicas abraçam os do “mundo”. Enquanto isso muitos cristãos demonizam a orientação de manter templos com menos gente para evitar aglomeração perigosa em pandemia, acham que são servos de Deus preparados para o Apocalipse quanto só querem permanecer em suas zonas de conforto, protegidos do mundo, mas não salvando o mundo. 
      Muitos protestantes e evangélicos terão grandes surpresas quando despertarem na eternidade após a morte de seus corpos físicos, muitos, com certeza do direito ao céu, ficarão torturados por muito tempo em “infernos”, confusos, procurando o que nunca existiu. Muitos, que se achavam donos da verdade, melhores que os outros por crerem na Bíblia interpretada ao pé da letra, que condenaram homoafetivos, afroespíritas, mesmo católicos e outros religiosos, verão que muitos receberam na eternidade o amor do Cristo e eles não, porque não exerceram amor como deviam estando no mundo. 
      Não tenhamos tanta certeza de nossas salvações eternas, mas também não temamos infernos sem fim, confiemos no amor de Deus e amemos. Todos nós somos responsáveis por todos, se não entendermos isso aqui entenderemos lá, se não amarmos aqui teremos que amar lá. Em Jesus há um privilégio diferenciado, não é nossa carteirinha de evangélico, nem nosso nome em rol de membros que importa, usemos esse privilégio para darmos frutos de amor que permaneçam, senão só fé não bastará. “Porque, assim como o corpo sem o espírito está morto, assim também a fé sem obras é morta” (Tiago 2.26).

domingo, outubro 23, 2022

Responsabilidades com quem sofre (84/92)

      “Sujeitai-vos, pois, a Deus, resisti ao diabo, e ele fugirá de vós. Chegai-vos a Deus, e ele se chegará a vós. Alimpai as mãos, pecadores; e, vós de duplo ânimo, purificai os corações. Senti as vossas misérias, e lamentai e chorai; converta-se o vosso riso em pranto, e o vosso gozo em tristeza. Humilhai-vos perante o Senhor, e ele vos exaltará.Tiago 4.7-10

     Muitos sofrem ao nosso redor e necessitam urgentemente de ajuda, suas religiões não estão bastando para eles, mesmo o amor verdadeiro de parentes e amigos não estão resolvendo suas questões. Até que ponto o problema alheio nos toca? Sentimo-nos responsáveis pelos outros? E nesta reflexão, o ponto nem é responsabilidade material, mas espiritual. Enquanto alguns sofrem bem ao nosso lado, nós estamos olhando só para nossos próprios umbigos, até tratamos com educação os sofredores, temos noção de suas dificuldades, podemos até orar por eles. Mas será que só isso resolve? Será que só isso nos permite cumprir nossa vocação de luzeiros de Deus no mundo?
      Muitos de nós só entendem o poder da oração quando têm problemas pessoais, e principalmente nas áreas financeira e de saúde, quando a dificuldade nos atinge diretamente, ou no máximo a nossos cônjuges e filhos. Em situações assim, conseguimos elevar ao Senhor um clamor diferenciado, totalmente conectado ao Espírito Santo, que toca o coração do Altíssimo por Jesus e recebe uma resposta poderosa, completa, que resolve de maneira milagrosa um problema. Infelizmente, para fazermos essa oração temos que ser confrontados por uma dor ou a uma vergonha muito grande, senão nem por nós e por nossas famílias nos consagraremos e faremos um clamor diferente. 
      Em algumas situações exercemos fé especial? Sim. Nos apossamos de toda a espiritualidade para nos ligar a Deus? Sim. Provamos milagres? Sim, incontestáveis. Mas exercemos amor? Não, não precisamos necessariamente de amor para clamar ao Senhor por nós, por cônjuges e filhos, só precisamos de alguma vergonha na cara, e perdoem-se o termo. Pedimos porque não queremos ser envergonhados na sociedade e porque é nossa obrigação ajuda-los. Exercer amor é fazer algo ainda que não estejamos sofrendo, ainda que um problema não tenha a ver conosco, ainda que estejamos bem com Deus e a vida. Contudo, queremos ajudar porque amamos quem sofre.
      Amar não é fácil, dá trabalho, leva-nos a sair de zonas de conforto, da segurança de nossos castelos, bem construídos e protegidos, para entrarmos na choupana do necessitado, sentir sua dor, chorar com ele e por ele clamar a Deus. Como eu disse antes, o ponto desta reflexão não é auxílio material, mas emocional, moral e espiritual, assim a choupana não é o imóvel que muitos residem ou sua condição financeira, mas uma condição de sofrimento interno. Essa condição pode fazer adoecer mente e corpo mesmo dos ricos, de maneira que médicos de várias especialidades são consultados sem que se ache solução. Dor de alma só Deus cura, para essa a medicina é o amor. 
      Não faça porque religião manda, faça e deixe para lá necessidade de reconhecimento, conheça em detalhes a razão da dor, sinta profundamente a dor e chore com quem chora. Isso é viver o evangelho, isso é seguir a Jesus, isso é ser cristão. Se a pessoa não for da mesma religião que você não seja preconceituoso, não ataque suas crenças, nas palavras seja o mais genérico e resumido possível. Ore, contudo, diretamente a Deus pedindo solução, se achar liberdade da pessoa em Deus, imponha suas mãos na cabeça dela, e faça a melhor oração de tua vida, com convicção, de todo o coração. Feche os olhos e visualize a pessoa ligada ao Deus Altíssimo por uma feixe de luz. 
      O ensino bíblico que define esta reflexão é “chorai com os que choram”, mas se você ler o texto bíblico inicial e senti-lo, não por você, mas pelo outro, praticará Romanos 12.15b. Não, não estou dizendo que o texto inicial não seja para nós, mas não adianta o usarmos para colocarmos nossas vidas em ordem e desprezarmos o que sofre. Amar é sofrer pelo outro, ainda que não se precise ou que não se tenha pelo que sofrer. Assim, quando ler sujeitai-vos a Deus, resisti ao diabo, achegue-se a Deus, limpe as mãos, purifique o coração, quando ler essas palavras sinta as misérias do outro, lamente e chore, convertendo teu riso em pranto, como se o sofrimento fosse teu.
      Isso não é exercício de encenação, teatro, é empatia, trabalho espiritual que Deus nos chama a fazer. Se temos vidas com Deus só por nós e pelos mais próximos a nós, só chegamos ao primeiro nível de espiritualidade e estacionamos nele. Muitos se acham bastante espirituais, por terem vidas pessoais vitoriosas, quando são só crianças mimadas abençoadas pelo pai. Somos chamados à maturidade exercendo amor empático, sofrendo com os que sofrem, servindo ao próximo, oração com a pessoa em sofrimento é ferramenta poderosa nesse serviço. Ajudemos materialmente com urgência, ouçamos os problemas com paciência, mas oremos com quem sofre.

sábado, outubro 22, 2022

O fim revela o que sou (83/92)

      “ E, assentando-se ele no Monte das Oliveiras, defronte do templo, Pedro, e Tiago, e João e André lhe perguntaram em particular: dize-nos, quando serão essas coisas, e que sinal haverá quando todas elas estiverem para se cumprir. 
      E Jesus, respondendo-lhes, começou a dizer: Olhai que ninguém vos engane; Porque muitos virão em meu nome, dizendo: Eu sou o Cristo; e enganarão a muitos. 
      “Mas olhai por vós mesmos, porque vos entregarão aos concílios e às sinagogas; e sereis açoitados, e sereis apresentados perante presidentes e reis, por amor de mim, para lhes servir de testemunho.
      “Na verdade vos digo que não passará esta geração, sem que todas estas coisas aconteçam.” 
Marcos 13.3-6, 9, 30

      O conceito do fim do mundo, ainda que baseado em palavras puras de Deus, foi construído e mantido por homens e pelos frutos que esses homens deram e dão. Nas religiões que esses homens criaram, podemos saber que eles não tinham e não têm as intenções mais puras de quem de fato anda em comunhão com Deus. Como podemos aceitar que a igreja católica, com todo seu histórico de aliança com paganismo, inquisição, amor às riquezas e idolatria, pode nos dizer o que é a palavra de Deus?
      Com relação a muitos protestantes e evangélicos um axioma interessante é usado. Eles creem num fim do mundo literal e se acham mais espirituais por isso, porque pensam que creem na Bíblia sem duvidarem dela, não duvidam porque acham que obedecendo a Bíblia obedecem a Deus, visto que creem que a Bíblia é a palavra de Deus. Mas o que esses não aceitam é que o que acham ser a palavra de Deus é só o que eles pensam ser, e uma palavra sustentada por religiões humanas e imperfeitas.
      Conhecemos alguém não pela teoria, mas pela prática, nessa três frutos são fundamentais: santidade, humildade e amor. O santo o é dentro de si, não só na aparência farisaica, no legalismo que só “não bebe, não fuma e não fala palavrões” e que defende falso moralismo por vaidade. O humilde não entra em discussões, principalmente se têm melhores argumentos, quem sabe, cala, não joga pérolas aos porcos. Mas quem ama não considera ninguém porco ou inimigo, tem paciência com todos. 
      Por mais que eu veja sinceridade e fé em muitos evangélicos que creem em fim do mundo equivocado, não acredito que isso seja só um engano menos importante. Ainda que eu creia que Deus abençoe a todos, até heréticos e desviados dentro de igrejas, penso que a um posicionamento errado sobre algo tão importante como fim do mundo, juntam-se dificuldades em outras áreas da vida, que se ainda não vieram à tona, virão. Deus não pode ajudar e proteger quem teima na mentira, não sempre.
      Deus tem tido muita paciência com os seres humanos, e sempre terá principalmente com os cristãos, mas esses têm teimado em permanecerem como crianças, sabendo o mínimo e interpretando a palavra de Deus como quem lê estórias da carochinha, e não verdades divinas eternas, ainda que se achem teólogos. Nessa infantilidade estão também doutores de teologia diplomados, que apesar dos estudos que têm, olham com microscópio a superfície, não cavam fundo com pás, assim só sabem mais do mesmo.
      A luz é o Espírito Santo, não nossos intelectos, nossos achismos, nossas opiniões pessoais, entende isso os amorosos, santos e humildes. Mas mais algum tempo e muitos serão acordados, ou não, visto que o ser humano é hábil para achar mesmo na palavra de Deus aprovação para entendimentos que sejam agradáveis aos seus ouvidos. Seja como for, quem não entender isso aqui, entenderá na eternidade, ainda que os frutos ruins dos anti-cristos estejam aí para serem vistos por quem tiver olhos espirituais.
      Nem sempre a Bíblia nos ensina por interpretação literal que fazemos dela, mas sempre nos ensina pelos princípios. “Que ninguém vos engane porque muitos virão em meu nome e enganarão a muitos”, quem vem em nome de Cristo vem dentro de igrejas cristãs, não no mundo, contudo, muitos evangélicos fazem guerras com inimigos de fora, enquanto deixam passar os inimigos de dentro, como católicos têm aceitado por séculos um catolicismo pagão que quer um reino de Deus no mundo. 
      “Vos entregarão às sinagogas”, Jesus se refere a inimigos dentro de sua religião, e como esses inimigos queriam um messias como o rei Davi, que os livrasse do império romano no mundo, querem religiosos atuais um fim do mundo literal. Percebem como o princípio é o mesmo? Literalmente Jesus podia se referir à destruição do Templo de Jerusalém, que ocorreu em 70 d.C., já que disse que não se passaria uma “geração”, e às perseguições que cristãos teriam até o estabelecimento do catolicismo. 
      Como outras profecias, a da passagem bíblica inicial é uma que já pode ter se cumprido, não se referindo a algo que ocorrerá só no fim do mundo. É claro que os que querem um fim de mundo à sua maneira, vão dizer que a palavra “geração” pode ser interpretada de outra forma, mas sendo assim podemos interpretar a Bíblia de formas diferentes, e todos poderemos dizer que estamos obedecendo uma palavra de Deus. Mas qual é de fato a palavra de Deus sobre o fim do mundo? É mistério. 
      Não estou dizendo que o que muitos pensam do fim do mundo está totalmente errado, que evangélicos, aos quais falo em primeiro lugar porque são os da minha “casa”, devem crer diferentemente. Não, esteja em paz naquilo que crê e que te trouxe até aqui com Jesus, contudo, tenha cuidado, religiões e teólogos não sabem tudo. Deus pode só ter permitido a você saber o que você pode saber para estar perto dele, nem sempre convicção é sinal de espiritualidade, pode ser só falta de humildade.

Leia na postagem de ontem
a 1ª parte desta reflexão

sexta-feira, outubro 21, 2022

Que fim do mundo eu quero? (82/92)

      “Mas vós vede; eis que de antemão vos tenho dito tudo. Ora, naqueles dias, depois daquela aflição, o sol se escurecerá, e a lua não dará a sua luz. E as estrelas cairão do céu, e as forças que estão nos céus serão abaladas. E então verão vir o Filho do homem nas nuvens, com grande poder e glória. E ele enviará os seus anjos, e ajuntará os seus escolhidos, desde os quatro ventos, da extremidade da terra até a extremidade do céu.Marcos 13.23-27

      O mundo vai acabar? A ciência diz que sim, quando o Sol consumir todo o hidrogênio, o combustível que ele usa para queimar e manter sua coesão, se expandirá e queimará principalmente os planetas mais próximos, incluindo a Terra, mas calma, isso acontecerá só daqui a mais ou menos cinco bilhões de anos, pois é, demora um pouco. Podemos achar apologia para esse fim do mundo na Bíblia? Sim, até para esse, no texto bíblico inicial e em outros, que falam de caos cósmico.
      Contudo, será que é esse fim científico do mundo que esperamos, ou melhor, que queremos? Não é o que querem muitos protestantes e evangélicos, esses aguardam um fim do mundo que justifique a história do mundo conforme o que entendem ter sido relevante nessa história. Esses cristãos veem o mundo como um ringue de luta entre Deus e o diabo, assim, o fim de mundo que desejam é o que derrota o diabo e os que o seguem, aprisiona esses no inferno, e aloja os outros no céu com Deus. 
      Muitos cristãos protestantes e evangélicos, e veja que não são todos já que católicos e cristãos de algumas denominações não têm a mesma interpretação literal do Apocalipse, mas muitos dizem que não são eles que desejam esse fim do mundo, mas é esse fim do mundo que Deus disse a eles que ocorrerá. Baseados em que afirmam isso? Na interpretação que fazem da Bíblia. Essa é a verdade de Deus? Não necessariamente, interpretações diferentes podem ser feitas dos mesmos textos bíblicos. 
      Já refletimos aqui sobre como a Bíblia, apesar de conter registros verdadeiros de experiências de homens antigos com Deus, foi construída por interesses de homens, judeus, católicos e protestantes. Não penso que Deus escolha homens (ainda que Marcos 13.27 use o termo), ele ama a todos e quer que todos se salvem, seria melhor dizer que ele seleciona os preparados. Mas creio no livre arbítrio humano, que o homem escolha não a Deus, mas aquilo que quer acreditar sobre Deus.
      Nunca abrirei mão de Jesus, como ser espiritual que me conduz de forma exclusiva a Deus, e como modelo de vida neste mundo pelo homem que foi no passado, o evangelho são os ensinos espirituais mais elevados que a humanidade já recebeu, e digo isso respeitando todos os líderes e fundadores de outras religiões, assim como os adeptos de outras religiões. Também não nego a relevância do livro de Apocalipse e de outros textos que falam do fim do mundo na Bíblia, há verdades neles.  
      A pergunta não é o que Deus diz, mas o que queremos acreditar que Deus diz, e talvez mais, por que queremos acreditar de um jeito e não de outro? O que isso revela, não sobre Deus, mas sobre nós mesmos? Fins do mundo diferentes revelam coisas diferentes sobre pessoas diferentes, e muito mais que só sobre suas interpretações escatológicas, mas sobre como interagem com outras pessoas, principalmente com aquelas que pensam de maneira diferente delas sobre Deus e espiritualidade. 
      Seres humanos que tiveram pais prepotentes e até violentos, enquanto não forem curados, poderão querer se relacionar com seres humanos com as mesmas características, querendo receber desses o que não receberam dos pais. Assim se submeterão a patrões estúpidos, a maridos e esposas possessivos, mesmo a pastores dominadores, da mesma forma, buscarão religiões moralistas, que pedem sacrifícios e fé cega. Não é a religião que define o homem, mas o homem que define a religião.
      O que é mais extremo que o fim do mundo? Pessoas extremas creem em coisas extremas, onde não há meio termo, mas só sim e não. Mas será que nós seres humanos somos isso, branco e preto, sem nuanças de variação? Podemos nos acomodar em polos porque é mais fácil, principalmente se não queremos pensar, ter trabalho intelectual e espiritual de entender as coisas, mas se buscarmos no Espírito Santo, com perseverança e santidade, veremos que a existência é muito mais complexa.
      Não posso convencer ninguém, mas posso contar minha experiência, eu também já fui extremista, via na Bíblia e no cristianismo aquilo que era mais fácil para mim ver, de acordo com minha formação familiar. Mas ouvi a voz de Deus e busquei a verdade, não, isso não foi para achar desculpas para desobedecer os preceitos de Deus e viver uma vida em pecado, e portanto infeliz, ao contrário. Minha busca me fez valorizar mais a santidade, assim como o preço que o pecado mais sutil cobra. 
      Entendermos que a humanidade tem uma história e que nela o ser humano evolui, adquire ciência, perde medos e aprende a ver as coisas por dentro, não só na aparência, é o começo. Mas o mais importante é entendermos que Deus fala a homens e são esses quem registram e tornam em religiões suas palavras, assim, nas crenças, no cristianismo e mesmo na Bíblia, há mão do homem, interpretando e usando conforme, não a imutabilidade atemporal de Deus, mas as limitações humanas. 

Leia na postagem de amanhã
a 2ª parte desta reflexão

quinta-feira, outubro 20, 2022

Penitência, indulgência, purgatório (81/92)

      “Assim também a fé, se não tiver as obras, é morta em si mesma. Mas dirá alguém: Tu tens a fé, e eu tenho as obras; mostra-me a tua fé sem as tuas obras, e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras. Tu crês que há um só Deus; fazes bem. Também os demônios o crêem, e estremecem.Tiago 2.17-19

      Fé e obras, como equilibrá-las de modo a alcançarmos a melhor eternidade de Deus. Reflitamos a respeito comparando doutrinas católicas com outras. 
      Perdão pela fé no nome de Jesus é ponto passivo, agora se obras são para completar o pagamento desse perdão, para evoluir o espírito, para dar direito ao céu e consequentemente livrar do inferno, ou para retirar de um meio termo, o purgatório, são pontos que variam em diferentes teologias cristãs. Vejamos três conceitos importantes no catolicismo, indulgência, penitência e purgatório, que envolvem perdão e penas eternas (para mais detalhes clique nos links).
      Penitência são jejuns, orações, esmolas, vigílias e peregrinações, que fiéis oferecem a Deus como provas de que estão arrependidos dos seus pecadospagando um pecado cometido ou agradecendo uma graça recebida.
      Indulgência é a remissão total ou parcial da pena temporal devida para a justiça de Deus, pelos pecados que foram perdoados, ou seja, do mal causado como consequência do pecado já perdoado através da confissão sacramental. Embora no sacramento da Penitência a culpa do pecado é removida, e com ele o castigo eterno devido aos pecados mortais, ainda permanece a pena temporal exigida pela Justiça Divina, e essa exigência deve ser cumprida na vida presente ou na depois da morte, isto é, no purgatório. Uma indulgência oferece ao pecador penitente meios para cumprir esta dívida durante sua vida na terra, reparando o mal que teria sido cometido pelo pecado.
      A tradição do Purgatório tem uma história que remonta antes de Jesus, à crença encontrada no judaísmo de rezar pelos mortos, especula-se que o cristianismo pode ter tomado a sua prática similar. Desde os primeiros tempos, a Igreja honrou a memória dos defuntos e ofereceu sufrágios em seu favor, em especial o sacrifício eucarístico, a fim de que purificados, eles possam chegar à visão beatífica de Deus. Os católicos consideram que o ensino sobre o purgatório faz parte integrante da fé derivada da revelação de Jesus Cristo que foi pregada pelos apóstolos.

      No catolicismo, a penitência paga perdão por pecado neste mundo, a indulgência adianta no mundo, o pagamento por consequência do pecado, que teria que ser feito no purgatório, no outro mundo. Interessante que os mesmos que acreditavam no que a igreja católica dizia que condenava ao inferno, não praticavam o que a mesma igreja dizia dar direito ao céu, preferiam pagar o céu com bens materiais. É claro que a igreja incentivava isso porque era útil para ela. A reforma protestante aboliu essas doutrinas, assim aos evangélicos basta fé no nome de Jesus para terem perdão dos pecados, sem necessidade de qualquer pagamento adicional, seja aqui ou na eternidade (João 3.18). Também não há purgatório para protestantes, ou é céu ou é inferno, e eternos. 
      Indulgência e purgatório colocam o catolicismo mais próximo do espiritismo kardecista, já que essas doutrinas consideram a possibilidade de interferência de seres humanos do plano físico, na qualidade de vida dos seres desencarnados no plano espiritual. Quando se reza pelos mortos para tirá-los do purgatório e liberá-los para o céu, usa-se uma capacidade que protestantes não admitem que seja possível, para esses é impossível qualquer comunicação ou influência de vivos com mortos. O católico também se aproxima do kardecismo quando admite a intermediação dele com Deus por santos, portanto comunicação com espíritos de mortos, assim quando um santo lhe fala podemos dizer que uma espécie de mediunidade seja exercida. 
      Sobre muitos aspectos o catolicismo, talvez porque tenha refletido em concílios por séculos sobre tantas questões espirituais e filosóficas, é muito mais aberto que o protestantismo. Muitos evangélicos não sabem disso, aliás, sabem pouco sobre as doutrinas de suas igrejas, quanto mais das doutrinas das outras religiões. Aos que têm tanta certeza de penas extremas e eternas, será que de fato céu e inferno são para sempre? Purgatório parece um conceito mais justo e de acordo com o amor Deus, podendo depender de nossa intercessão aqui e de um arrependimento lá. Eis novamente o catolicismo se aproximando das doutrinas espíritas, para o kardecismo sempre há oportunidade para se livrar de uma condenação mais duradoura. 
      Como protestante reconheço benefício na doutrina da penitência, que se aproxima do ensino em Tiago 2.17-19, ela não facilita demais o perdão, não limita o acerto de contas à assunção do pecado e posse de paz com Deus pela fé. É preciso algo mais, mostrar por obras que custem um preço ao pecador o arrependimento. Penso que os evangélicos “vendem” o perdão de Deus barato demais, isso pode conduzir as pessoas a uma ociosidade moral, a acharem que entrada no céu e livramento do inferno é fácil. O lado negativo da penitência, que alcança o extremo na indulgência paga com dinheiro, é que confere ao homem a capacidade de ter perdão e entrar no céu, relegando a graça e a misericórdia de Deus a segundo plano. 
      Na verdade existe indulgência, mas não legislada, aplicada e cobrada pela religião ou pelos homens, mas por Deus, é a lei universal de “causa e efeito”, ou de se colher o que se plantou, usando termos mais bíblicos (Gálatas 6.7). Que arrogância da Igreja Católica achar que pode verificar, medir e fazer cumprir essa lei, com certeza só para obter algum lucro material com isso, por outro lado achou entre os homens seres tolos o suficiente para “comprarem” tal coisa. A Igreja Católica tenta materializar com todos os detalhes um reino de Deus no mundo, e ainda que isso não tenha dado certo, que só tenha atrasado a civilização ocidental, muitos protestantes e evangélicos tentam repetir isso atualmente, ao se envolverem com política. 
      É por esse motivo que leis são inviáveis para conduzirem o ser humano a uma espiritualidade madura, obedecer cegamente uma lei impede a reflexão, conduz a um extremo ou a outro, por isso uma velha aliança foi substituída por uma nova, por isso a Lei de Moisés deu lugar ao evangelho do Cristo. Só uma relação íntima com o vivo Espírito Santo, onde há a necessidade de uma interação inteligente com Deus, onde se fala e se ouve, onde se pensa e se sente, pode mostrar qual é a parte do homem e qual é a parte de Deus com equilíbrio, enfatizando a importância da coerência entre o que se crê e o que se pratica. Quando entenderemos que na eternidade não haverá religião? Só nós, confrontados diretamente com a luz de Deus. 

quarta-feira, outubro 19, 2022

Salvação se perde? (80/92)

      “Porque é impossível que os que já uma vez foram iluminados, e provaram o dom celestial, e se tornaram participantes do Espírito Santo. E provaram a boa palavra de Deus, e as virtudes do século futuro, e recaíram, sejam outra vez renovados para arrependimento.” “Porque a terra que embebe a chuva, que muitas vezes cai sobre ela, e produz erva proveitosa para aqueles por quem é lavrada, recebe a bênção de Deus; mas a que produz espinhos e abrolhos, é reprovada, e perto está da maldição; o seu fim é ser queimada.Hebreus 6.4-6a, 7-8

      Meus queridos, é de suma importância que vençamos fraquezas morais neste mundo. Não basta assumirmos erros, pedirmos perdão por eles a Deus em nome de Jesus, e ficarmos em paz, para depois repetirmos e repetirmos o processo ad infinitum. Isso não basta para termos a melhor eternidade com Deus, o céu. Não serei irresponsável com vocês, dizendo que as coisas são assim tão simples e fáceis, porque não são. Temos que lutar e vencer, vence-se mantendo-se numa nova condição de vitória sobre fraquezas morais no tempo. Responda a você mesmo com sinceridade: pode dizer que já deixou de praticar certas condutas, de dizer certas coisas, de pensar tantas coisas, testificando que de fato venceu certas fraquezas? 
      O texto bíblico inicial entrega um ensino bem sério, que deixa claro que uma decisão de fé tornando-se membro de uma igreja e mesmo tendo algum tempo de vida de acordo com a vontade de Deus, não bastam, caso depois se volte à prática de velhos pecados. Veja que na parábola do texto, a mesma água cai sobre sobre terras que dão frutos diferentes, uma dá erva proveitosa e outra dá espinhos e abrolhos, a água é simbologia do Espírito Santo. Se ambas recebem a mesma água, simbolizam seres humanos diferentes recebendo o mesmo Espírito Santo, portanto, sendo ambos “convertidos” ao evangelho, estando em igrejas e tendo vidas religiosas semelhantes, o que dá “espinhos” e “abrolhos” não é um ímpio ou incrédulo.
      O ponto aqui não é se opor ao entendimento que seres humanos não erram depois que conhecem o cristianismo, isso é o óbvio, mas é enfatizar que fé e perdão não bastam. Se não houver trabalho constante, o fim de quem começou certo pode ser até pior que o daqueles que nunca foram certos. “Se depois de terem escapado das corrupções do mundo forem outra vez envolvidos nelas e vencidos, tornou-se-lhes o último estado pior do que o primeiro, melhor lhes fora não conhecerem o caminho da justiça, do que, conhecendo-o, desviarem-se” (extraído de II Pedro 2.20-21). De quem mais sabe mais é cobrado, contudo, não sou extremista como parece ser o autor da carta aos Hebreus, acredito que sempre há novas oportunidades.
      Contudo, teimosia no erro aumenta o preço do arrependimento, não porque Deus negue perdão, mas porque podemos chegar num ponto que temos muita dificuldade de nos perdoar, assim, podemos nos afastar muito de Deus. Dificuldade para vencer fraquezas todos temos e sempre, muitas coisas só vencemos no final da vida, simplesmente por enjoarmos de fazer a coisa errada e ela não nos trazer mais prazer. Deus ama quem quer fazer a coisa certa porque é o certo a se fazer e agradável a ele, permitindo assim ao homem aperfeiçoamento moral e crescimento espiritual. Só isso nos faz cidadãos do céu, carimbar o passaporte para a melhor eternidade de Deus é algo feito aqui, com mudança real de vida que permanece. 
      Se você tiver mais fé que eu, pode aceitar o texto bíblico inicial na íntegra e ao pé da letra, mas isso implica em alguns posicionamentos extremados. O texto pode apoiar a crença que salvação se perde, a isso podemos contra-argumentar que só “perde” quem nunca teve, mas veja que ambas as terras receberam a mesma água, assim, tanto salvos como perdidos receberam o Espírito Santo, mas se salvação se perde o selo do Espírito é retirado. Por outro lado se salvação não se perde, muitos salvos que se desviaram podem estar vivendo vidas desalinhadas com o evangelho e ainda assim serem salvos, a isso podemos contra-argumentar que não sabemos o fim desses, quem sabe se não voltarão ao evangelho antes de morrerem? 
      Penso que salvação se perde e pode ser novamente adquirida, mas também creio que quem foi selado de maneira diferenciada com o Santo Espírito, pode até se afastar do convívio de igrejas cristãs, mas nunca perderá uma conexão espiritual especial e verdadeira com Deus. Quem é amigo de Deus sempre será, isso é mais forte que o mundo, que a vida, e a providência divina sempre conduzirá os amigos do Senhor a sua intimidade, a tempo de se prepararem o melhor possível para a eternidade. O problema é que amamos julgar mal as pessoas, condená-las neste mundo, se relativo ao direito que achamos ter de sermos juízes, tivéssemos o dever de sermos amigos, poderíamos ser instrumentos de salvação em muitas vidas. 

terça-feira, outubro 18, 2022

A vida é espiritual (79/92)

      “Então os justos resplandecerão como o sol, no reino de seu Pai. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça. Também o reino dos céus é semelhante a um tesouro escondido num campo, que um homem achou e escondeu; e, pelo gozo dele, vai, vende tudo quanto tem, e compra aquele campo.Mateus 13.43-44

      Em 2018, no dia 10 de abril, meu pai faleceu. À noite, quando cheguei de viagem a Ribeirão Preto, fui até o velório, e vi pela primeira vez o corpo no caixão, uma percepção muito interessante me veio. Era noite, o local estava vazio, à meia luz, o enterro seria só na manhã seguinte, mas o responsável abriu o lugar para nós. Não me aproximei do caixão, olhei de longe, então, um sentimento forte me veio sem ao menos eu pensar no assunto, sem nenhuma racionalização, emoção expressa numa frase: “ele não está aí”. 
      Devemos respeito a todos, sempre, a quem perde entes queridos, mais ainda, a maneira como as pessoas expressam sentimentos pode variar, ninguém se ache melhor ou pior por se expressar de um jeito. Contudo, em nenhum momento senti vontade de correr ao caixão e interagir emocionalmente com o que restava de meu pai, confesso, e repetindo, com o maior respeito com todos, naquele momento não entendi quem desesperadamente abraça caixões. Talvez porque minha relação com meu pai não tenha sido tão próxima…
      Por favor, me entendam corretamente, não estou fazendo julgamento de valor, dizendo que isso é errado e aquilo é certo, mas eu senti um discernimento espiritual muito forte e claro, que me dizia que aquilo que eu conhecia como meu pai não estava naquela sala, não estava naquele lugar, não estava mais no mundo material, mas no plano espiritual. O consolo que isso me trouxe foi não mentalizar e registrar como memória um ser em decomposição, com a carne sem cor, os olhos sem brilho, enfim, matéria descartada. 
      A “imagem” que me veio depois, e que permanece em mim até hoje de meu pai, é a de um ser espiritual vivo e eterno. No texto bíblico inicial, de novo com a frase que enuncia mistérios, quem tem ouvidos, ouça, uma revelação, a última imagem que temos de quem parte, não representa o que podemos nos tornar, espíritos que brilharão como o Sol. Muitos, ainda que religiosos, têm visões materialistas da vida, passam anos em templos, mas não creem na eternidade, não a ponto de serem consolados por ela quando precisam. 
      Infelizmente muito do falso cristianismo leva os homens a celebrarem mais a morte que a vida, por isso um ícone tão usado é o de um “Cristo” ainda na cruz. Mesmo a visão de santidade é equivocada, privações e proibições que tentam mortificar o corpo ainda em vida, menosprezando o Espírito Santo. Só se aprende os mistérios da vida eterna dando liberdade ao vivo Espírito Santo, só ele pode dominar a matéria. Só quem tem essa experiência enfrentará a morte de maneira correta, ainda que com dor, mas com paz e certeza.
      A experiência que tive não é mera imaginação ou privilégio de alguns, é o discernimento que o Espírito Santo dá a todos que o buscam. A vida é espiritual, não material, a realidade é espiritual, a matéria que é uma ilusão passageira. Adquire-se esse entendimento e o retém quem pratica vida de íntima comunhão espiritual com Deus por Jesus e no Espírito Santo. Aos que sofrem com a partida de entes queridos, Deus vos ama e pode consolar-vos, se o buscarem com todo o coração. A morte não tem que ser dor sem fim.