terça-feira, setembro 14, 2021

Desconstruindo templos (2/3)

      “E no segundo ano da sua vinda à casa de Deus em Jerusalém, no segundo mês, Zorobabel, filho de Sealtiel, e Jesuá, filho de Jozadaque, e os outros seus irmãos, os sacerdotes e os levitas, e todos os que vieram do cativeiro a Jerusalém, começaram a obra da casa do Senhor, e constituíram os levitas da idade de vinte anos para cima, para que a dirigissem. Então se levantou Jesuá, seus filhos, e seus irmãos, Cadmiel e seus filhos, os filhos de Judá, como um só homem, para dirigirem os que faziam a obra na casa de Deus, bem como os filhos de Henadade, seus filhos e seus irmãos, os levitas.
  Esdras 3.8-9
 
      O Segundo Templo foi reconstruído após o retorno do cativeiro na Babilônia, sob orientação de Zorobabel. O templo começou com um altar, feito no local onde havia o antigo templo, e suas fundações foram lançadas em 535 a.C. Sua construção foi interrompida durante o reinado de Ciro, e retomada em 521 a.C., no segundo ano de Dario I. O templo foi consagrado em 516 a.C. Diferentemente do Primeiro Templo, este templo não tinha a Arca da Aliança, o Urim e Tumim, o óleo sagrado, o fogo sagrado, as tábuas dos Dez Mandamentos, os vasos com Maná nem o cajado de Aarão. A novidade deste templo é que havia, na sua corte exterior, uma área para prosélitos que eram adoradores de Deus, mas sem se submeter às leis do Judaísmo.” Fonte

      Se o templo de Jerusalém é uma metáfora da evolução espiritual que o ser humano pode vivenciar, a história de Israel é metáfora da jornada da humanidade e de nossas vidas individualmente, à medida que crescemos para conhecer a Deus em verdade e com profundidade. Não é uma história com final feliz pois no mundo a matéria tem só um fim, a morte, mas é uma trajetória de construções e desconstruções para que uma reconstrução produza algo melhor. Assim, é uma história de muitas mortes em uma só vida, para que se caminhe para a vida eterna onde não há mais nenhuma morte. 
      O templo original foi o Tabernáculo de Moisés, uma construção desmontável em forma de tenda, usado principalmente enquanto Israel seguia para Canaã. O primeiro templo fixo construído foi elaborado por Davi e erguido por Salomão, o segundo templo é o relatado em Esdras, muitos consideram o templo de Herodes o terceiro, mas foi mais uma reforma. O terceiro de fato muitos creem que ainda será reerguido, sobre as ruínas do primeiro e só no final dos tempos. Mas o que fez do templo o que era, centro da religião israelita, lugar legítimo para sacrifícios e ofertas, seria só sua construção física? 
      O homem antigo precisava de forma, talvez até mais que de conteúdo, uma humanidade materialista cria no que via, não tinha ainda desenvolvidas as subjetividades emocional, intelectual e religiosa para que pudesse entender o mundo espiritual. A química, a física e a psicologia, deram ferramentas para que o homem se atentasse mais ao que não podia ver, a prova da existência de átomos, da energia elétrica, de vírus, ensinaram ao ser humano que o universo não é só o que os olhos físicos enxergam. A psicologia mapeou a mente humana, tudo isso preparou o homem para a espiritualidade de fato. 
      Cristãos e espiritualistas devem à ciência o auxílio para que o ser humano abrisse sua cabeça para o mundo espiritual, não porque a ciência tenha provado que o mundo espiritual exista, mas porque o ser humano passou a entender que o universo é mais que forma material e visível. Ainda que pudesse abrigar um conteúdo magnífico, a “glória de Deus”, arquitetura e logística do templo de Jerusalém eram só formas físicas, metáforas de valores espirituais. Deus usou recursos adequados para ensinar e se relacionar com o homem de um tempo que entendia as coisas espirituais limitadamente.
      A Bíblia, com “estórias” e personagens simbólicos e também com histórias e indivíduos reais, é uma maravilhosa metáfora. Textos sagrados e mitologias de outras nações também podem ser, como dos hindus, egípcios e gregos, mas a jornada do povo judeu, de Adão a Cristo, é única e especial. Jesus veio no tempo exato quando o ser humano já estava preparado para entender melhor sua relação com o mundo espiritual, a velha aliança dá lugar à nova, ambas não podem existir juntas. Os que tiverem olhos espirituais entenderão isso e serão abençoados mais rapidamente no conhecimento de Deus.
      A verdade é que a glória de Israel no antigo testamento foi passageira, durou no máximo os reinados de Davi e Salomão, depois a nação já entrou em guerras internas. Historiadores dizem que o templo de Salomão deve ter ficado de pé, antes de ser destruído pela primeira vez, entre quatrocentos e dez e quatrocentos e setenta anos (veja link). Mas mesmo nesse tempo Israel se afastou de Deus várias vezes, adorando falsos deuses e sofrendo consequentes cativeiros, das doze tribos só Judá, Benjamim e Levi não se perderam. Será que Deus ainda tem algum plano para usar Israel para mostrá-lo ao mundo?
      Deus não precisa de um templo físico, não precisa de igrejas, de nações e também não precisa de Israel, pelo menos não mais. Deus precisa de você e de mim para ter templos para habitar e mostrar sua glória. Se a vontade final de Deus fosse o plano que ele realizou em Israel no antigo testamento ela teria prevalecido até hoje, o que prevalece é Jesus, Jesus é o final feliz para Israel e para toda a humanidade. Deus é fiel e misterioso, não porque queira esconder coisas de nós, mas porque nós não estamos preparados para muitas coisas, assim o objetivo final que ele tem para os judeus só ele conhece. 
      Quem sabe como de fato será o cumprimento de tantas profecias bíblicas? Só Deus. Tenho aprendido a ter muito respeito por todos os seres humanos, independente de raça, sexualidade, religião, nível financeiro ou erudição, mas confesso que tenho um afeto especial pelo povo judeu e por tudo que ele ensinou ao mundo, principalmente pela Bíblia. Também penso que Deus tem um olhar diferenciado nesse povo, por mistérios que a eternidade revelará, ninguém duvide disso. Todavia, esse povo precisa humildemente aceitar que Jesus está acima de todos, inclusive dele, de sua história e de seu templo. 

Leia nas postagens de ontem e de
amanhã as outras partes desta reflexão.
José Osório de Souza, 23/08/2021

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