segunda-feira, setembro 13, 2021

O templo de Jerusalém (1/3)

      “E sucedeu que no ano de quatrocentos e oitenta, depois de saírem os filhos de Israel do Egito, no ano quarto do reinado de Salomão sobre Israel, no mês de Zive (este é o mês segundo), começou a edificar a casa do Senhor.” “Assim se acabou toda a obra que fez o rei Salomão para a casa do Senhor; então trouxe Salomão as coisas que seu pai Davi havia consagrado; a prata, e o ouro, e os objetos pós entre os tesouros da casa do Senhor.
 I Reis 6.1. 7.51

      “De acordo com a Torá (a Bíblia hebraica), o Primeiro Templo foi construído no local onde Abraão (Avraham) havia oferecido Isaque como sacrifício. O templo foi construído durante o reinado de Salomão, utilizando o material que havia sido acumulado em grande abundância por seu pai e antecessor, o Rei Davi.” “Pelos cálculos de James Ussher, a ordem para a construção do Primeiro Templo foi dada pelo Rei Davi em 1015 a.C. As fundações do templo foram lançadas em 21 de maio de 1012 a.C., no segundo dia do segundo mês (Zif), quatrocentos e oitenta anos depois da saída de Israel do Egito. A construção terminou em 1005 a.C., mas sua dedicação foi adiada até o ano seguinte, por este ser um ano de jubileu (o nono jubileu), e, segundo Ussher, exatamente três mil anos (*) desde a criação do mundo.” Fonte 

* A contagem de Ussher usada no texto necessariamente 
não reflete a opinião do “Como o ar que respiro” assim 
como pode não ser avalizada por referências científicas.

      Uma das coisas mais maravilhosas da Bíblia diz respeito ao templo dos israelitas, sua planta é ao mesmo tempo forma e conteúdo, não é só administração arquitetônica de espaço para servir a fins religiosos, é uma metáfora da relação do homem com o divino. Grosso modo existe uma divisão de espaços onde a permissão de ocupação vai se limitando, de todos para o sumo-sacerdote, indicando a existência de diferenças de privilégios espirituais de acordo com a espiritualidade, santidade e chamada do ser humano. 
      Átrio ou Pátio era a primeira parte do templo, era exterior e iluminado pela luz solar, todos tinham acesso por três diferentes áreas: área dos homens israelitas, das mulheres hebreias e dos gentios. Lugar Santo era a segunda parte, só os sacerdotes tinham acesso aos sábados, era iluminado pelo candelabro, uma candeia de sete chamas. O Santuário, Lugar Santíssimo ou Santo dos Santos, era o terceiro lugar, só os sumos sacerdotes tinham acesso a ele uma vez ao ano, é dito que era iluminado pela própria glória de Deus.
      A nova aliança não anula as restrições dos lugares que metaforicamente são ensinados pelo templo de Jerusalém (Hebreus 9), mas permite que qualquer ser humano tenha acesso ao “santo dos santos” desde que siga os “protocolos”, algo que não podia haver na velha aliança. Agora não são locais físicos, mas posições espirituais, “vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz” (I Pedro 2.9).
      Que “protocolos” são esses? São os trabalhos de fé, busca e santificação para se obter autorização de Deus. Os vários locais do templo de Jerusalém são símbolos dos vários níveis de espiritualidade que todos os seres humanos podem alcançar através de Jesus Cristo. Um detalhe está no tipo de iluminação de cada parte, numa é a luz solar, na outra a do candelabro e na terceira a “glória de Deus”, aí pode estar o maior mistério revelado no templo de Jerusalém, que ensina espiritualidade a homens de todos os tempos. 
      A luz do Sol é natural, não é preciso muito trabalho para tê-la, basta ser dia, à noite não há Sol, assim ao primeiro nível de espiritualidade cabe ao menos discernir dia de noite. Nesse primeiro nível estão os religiosos de maneira geral, nas religiões o minimamente ensinado é discernir o bem do mal, isso é o que crianças morais precisam saber. Nos últimos milênios, ainda que passando da religiosidade física de obras e sacrifícios para a espiritual de fé e amor, a maioria dos cristãos ainda restringe-se ao “átrio”.
      A luz da “candeia de sete chamas” anuncia uma desconexão entre matéria e espírito, para esse nível cabe desligar-se das forças naturais do mundo e o próprio ser construir uma ferramenta para iluminar. O candelabro é o símbolo do espírito humano iluminado, que já não depende do tradicionalismo de religiões para ter comunhão com o plano espiritual, mas de uma busca pessoal. Mas se é ferramenta humana não tem que ser igual para todos, cada homem pode construir a sua, ainda que a chama seja uma, o Esprito Santo.
      No “lugar santo” a forma varia, não o conteúdo, Jesus permite, mesmo dentro de religiões, que os seres humanos sejam sacerdotes. Jesus é maior que as religiões que o usam, por isso o cristianismo, mesmo corrompido e manipulado, persiste tão forte e abençoando vidas, não nos enganamos com relação a isso. Contudo, Deus atrai os homens para uma terceira parte, o “santo dos santos”, esse lugar, apesar de tantos cantores evangélicos cantarem emocionados e convictos que o adentram, poucos de fato o conhecem. 
      “Luz da glória de Deus”, quantos verdadeiramente a contemplam? Não confundamos posição espiritual com o êxtase emocional, que podemos sentir entrando nas duas primeiras partes do “templo”, no “lugar santo” e mesmo no “átrio”, não confundamos efeito com causa. Muitos caem ao chão falando em línguas estranhas e se acham no “santo dos santos”, mas a glória de Deus se prova com lucidez, sem escândalos, sem infantilidades, mais ouvindo que falando, e exige abrir mão de exibicionismos espirituais e religiosos. 

Leia nas próximas postagens
as outras partes desta reflexão.
José Osório de Souza, 23/08/2021

Nenhum comentário:

Postar um comentário