sexta-feira, novembro 26, 2021

A beleza é reta

      Dois pontos de vista sobre estética, um alia beleza ao reto, outro ao curvo, um moral, outro poético, um sobre o Espírito, outro sobre a matéria, um sobre Deus, outro sobre homens. Qual o correto? Depende, mas leia o texto até o final para um entendimento adequado da reflexão. 

      “Bom e reto é o Senhor; por isso ensinará o caminho aos pecadores. Guiará os mansos em justiça e aos mansos ensinará o seu caminho.” Salmos 25.8-9
      “Não é o ângulo reto que me atrai, nem a linha reta, dura, inflexível criada pelo homem. O que me atrai é a curva livre e sensual, a curva que encontro no curso sinuoso dos nossos rios, nas nuvens do céu, no corpo da mulher preferida. De curvas é feito todo o universo, o universo curvo de Einstein.” Oscar Niemeyer

      Poeticamente diz-se que a beleza da vida é como a beleza da natureza, não existem nela retas, só curvas e irregularidades, e que quando as coisas ficam muito retas perdem a graça porque sabe-se onde vão dar, ficam previsíveis. Há também outra frase que diz “Deus não escreve com linhas retas”, novamente porque a natureza é desenhada em curvas e irregularidades, já construções dos homens, em centros urbanos, prédios e ruas, há retas. A ciência é reta, explica diretamente as coisas, sem ambiguidades, ainda que humana. 
      Um arquiteto brasileiro, famoso em todo o mundo, Oscar Niemeyer, tinha como marca em seus projetos as linhas curvas, lembrando as ondas do mar, a natureza do Rio de Janeiro, o Corcovado, assim ele e Lúcio Costa projetaram Brasília, e nas construções no Eixo Monumental vemos isso, muitas curvas, os pilares do Palácio  da Alvorada são famosos. Os caminhos curvos respeitam os contornos da geografia física, não violenta-os, mas em termos espirituais, será que é isso, no reto não há beleza? Deus é curvo ou reto? 
      Na espiritualidade ocorre justamente o contrário, é no caminho reto onde há os maiores mistérios, as maiores belezas da existência, esse caminho nos conduz ao Altíssimo Deus. Contudo, se você diz que está caminhando em direção a Deus, mas o caminho ficou previsível, sem graça, sem desafios, talvez seja porque você na verdade está caminhando num caminho de homem, de religião, e não no caminho que realmente conduz a Deus. Novamente é o reto do homem que é tedioso e sem graça, não o de Deus. 
      O caminho de Deus é revelado por ele e é ele, não religiões, quem nos fortalece para nos movermos em seu caminho, reto e renovado a cada dia, seguro, mas sempre prazeroso, claro, mas experimentado de forma gradativa e empolgante. Assim podemos provar nesse reto caminho as belezas mais esplêndidas da existência, um conhecimento espiritual que nos dá esperança e vigor, e nos faz ver além das referências materiais da vida neste mundo, da injustiça do homem e de nossos próprios limites como encarnados. 
      O homem gosta das linhas curvas porque elas iludem, como a fumaça que se desprende de um cigarro e sobe, desaparecendo aos poucos. Uma curva não leva diretamente a um lugar, e neste mundo o último lugar que chegaremos nós sabemos bem qual é, é a morte. Assim, na embriaguês de uma bebida alcoólica, numa relação sexual, num prazer do corpo físico entortamos as coisas, numa tentativa de fazer as coisas durarem mais, e isso para que não enfrentemos o fim, não depressa, e neste mundo tudo passa rapidamente. 
      A natureza é curva porque é expressão artística de Deus que usa matéria como substância de criação. Deus criou o mundo para seres encarnados, para que num curto período de tempo, vivendo numa ilusão, eles possam evoluir espiritualmente, conhecerem a Jesus. Contudo, mesmo que estejamos no mundo, podemos conhecer a Deus como ele realmente é, em sua natureza espiritual, e nessa experiência sentimos que o caminho que leva a ele, o Espírito Santo, é reto, nisso não há fim, não há morte, só vida e eterna.
       Vida espiritual é o contrário da morte, se morte é fim, vida é sem fim, se morte dói, vida dá prazer, se morte ilude, vida ilumina, se morte precisa de artimanhas para ser driblada e aceita, vida pode ser encarada em verdade, não como obrigação, mas como escolha, e só escolhe vida quem já se libertou das ilusões curvas da morte. Estando no mundo podemos usufruir das belas e poéticas curvas, mas com equilíbrio, harmonizando-as com a retidão de uma vida espiritual que conheceremos sem véu só na eternidade. 

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