quinta-feira, novembro 25, 2021

Contar ou guardar?

      “O homem prudente oculta o conhecimento, mas o coração dos insensatos proclama a estultícia.A.R.A.
      “O homem prudente não alardeia o seu conhecimento, mas o coração dos tolos derrama insensatez.N.V.I.
Provérbios 12.23

      Eis um texto bíblico, principalmente a primeira frase, cujas versões mais antigas de tradução do original, deixam seu entendimento meio difícil, e até oposto ao ensino que ele de fato pode nos dar. Compartilhei acima duas traduções, a primeira (Almeida Revista e Atualizada) é semelhante às mais antigas, e por ela podemos até entender que é melhor não compartilhar coisas boas, que a sabedoria deve ser escondida. Mas como assim, não foi o próprio Cristo que disse que a lâmpada não deve ser escondida debaixo da cama, mas exibida para que todos a vejam? Entendemos isso em Lucas 8.16, e ninguém, acendendo uma candeia, a cobre com algum vaso, ou a põe debaixo da cama, mas põe-na no velador, para que os que entram vejam a luz”.
      Já a segunda tradução, de uma versão (Nova Versão Internacional) que não é uma das que pessoalmente mais gosto, oferece, contudo, um texto mais adequado ao melhor ensino que o autor bíblico possa ter desejado nos passar. A diferença ocorre na troca da palavra “oculta” pelos termos “não alardeia”, assim entendemos que a lição principal não tem a ver com dizer ou não algo, mas com vencer a vaidade guardando algumas coisas, ao invés de sair contando para todo mundo, mesmo que seja algo benigno e elevado. O texto de Provérbios 17.28, até o tolo, quando se cala, é reputado por sábio, e o que cerra os seus lábios é tido por entendido”, explica de outra maneira o mesmo ensino, a importância de sermos discretos mesmo na sabedoria. 
      Seja como for, a segunda frase do texto não deixa dúvidas sobre o ensino, usando uma ferramenta comum na literatura do livro de Provérbios, entre outros livros bíblicos, que é colocar duas afirmações opondo uma a outra, dando orientações opostas para atitudes opostas. Se numa o sábio é exaltado, na outra o tolo é repreendido, e se tem uma característica marcante nos tolos é a vaidade, eles não resistem a ela, eles têm sempre línguas soltas. Mesmo que tenhamos adquirido sabedoria, verdadeira e baseada em prática de vida não só em teorias, se nós a usarmos como moeda de vaidade, em jogo de poder para nos sobressairmos sobre os outros, colocaremos tudo a perder, seremos tão tolos quanto aqueles que não entendem os caminhos da luz.
      Todos somos tentados pela vaidade, principalmente para contarmos algo que sabemos e que outros não sabem, estamos mais frágeis a ela quando somos apresentados pela primeira vez a conhecimentos mais profundos, e podemos abrir a boca na hora errada só pelo encantamento ingênuo. Contudo, se persistirmos não será mais por inocência, assim só nos livraremos da vaidade quando entendermos a última lição da verdadeira sabedoria: quem a acha a guarda, não conta, mas vive, silenciosamente. Engana-se quem pensa que o conhecimento mais profundo de Deus tem a ver com informações espirituais privilegiadas que a poucos são reveladas, não, tem a ver com amor exercido com humildade, para servir, e principalmente aos mais vulneráveis. 

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