sábado, novembro 27, 2021

Sei que preciso amar mais…

      “Pois, quem sabe o que é bom nesta vida para o homem, por todos os dias da sua vida de vaidade, os quais gasta como sombra? Quem declarará ao homem o que será depois dele debaixo do sol?” “Não sejas demasiadamente justo, nem demasiadamente sábio; por que te destruirias a ti mesmo? Não sejas demasiadamente ímpio, nem sejas louco; por que morrerias fora de teu tempo? Bom é que retenhas isto, e também daquilo não retires a tua mão; porque quem teme a Deus escapa de tudo isso.” 
Eclesiastes 6.12, 7.16-18

      O que preocupa não é ver jovens achando que sabem tudo, mas velhos com a certeza que já aprenderam tudo. Os jovens ainda não tiveram tempo de confrontar teoria com prática e a si mesmos com tudo o mais, são egocêntricos e com direito temporário a isso. Mas os velhos, que já viram invernos se transformarem em primaveras por inúmeras vezes, que já testemunharam altos caírem e baixos serem elevados, que já viram famosos tornarem-se anônimos e desconhecidos apareceram como novas celebridades, os velhos têm a obrigação de saberem que nada sabem. 
      A vida, sob o ponto de vista espiritual, tem um significado oposto ao que o senso comum diz, quando esse entende a existência só pelo que se passa no mundo, só sob o ponto de vista físico, desconsiderando espírito e eternidade. Nascemos velhos e temos a oportunidade de rejuvenescer à medida que o tempo passa, por outro lado é na infância que estamos mais próximos da eternidade, não na velhice, e nos afastamos dela à medida que envelhecemos. Entretanto, ainda assim, temos a missão de nos prepararmos para a morte, nosso nascimento no plano espiritual. 
      Se escolhemos conhecer a Deus e persistimos em agradá-lo, praticando obras de amor e justiça, crescemos, a evolução do espírito o torna mais vivo porque o afasta da morte. Morte é um lugar de trevas dentro dos seres humanos onde não existe Deus. Se há Deus, há luz, se há luz, há vida, se há vida somos rejuvenescidos no espírito, ainda que o invólucro exterior de carne envelheça, se corrompa, como diz Paulo (II Coríntios 4.16). O que sabe uma criança? Intelectualmente ainda não está formada e moralmente não foi provada, ainda que próxima da eternidade. 
      Um jovem já tem faculdades físicas, intelectuais e boa parte das emocionais formadas, e dessas últimas ao menos as bases já que só o tempo lhe mostrará o que realmente importa. O jovem deverá usar seu livre arbítrio para escolher o caminho da vida e não o da morte. O que se aprende no caminho da vida? Que nada somos, que o caminho é infinito, que a existência não acaba na morte física, que Deus é o início, o processo e o fim, assim como o veículo para nos movermos nesse caminho, mas principalmente, que nos aproximarmos de Deus é aceitarmos seu amor e amarmos. 
      É justamente o confronto com a urgência de amar que nos faz humildes, que nos leva a assumirmos nossa dívida de amor e de serviço, que tudo que sabemos e adquirimos nesse mundo nada vale se não amarmos. Aqueles que se dão importância demais, que se consideram superiores aos outros, mesmo com sinceridade, mesmo baseados em formação intelectual e experiência profissional, que determinam suas vidas pela fria lucidez científica, carregam, ainda que escondido dentro deles, o desejo de serem servidos e não de darem amor sem pedirem nada em troca. 
      Eclesiastes 6.12 é a conclusão do escritor de que nada sabemos, seja desta vida, seja da próxima, mas Eclesiastes 7.16-18 orientam-nos a conduzirmos nossas vidas aqui com sabedoria. Esses versículos falam sobre equilíbrio, que sabedoria não está em saber tudo, nem em ignorar tudo, não está em provar tudo, nem em se privar de tudo, mas eles ensinam mais. Neste mundo o melhor caminho não está na matéria, naquilo que homem pode comprovar e comprar, mas também não está só no espírito, pelo qual só se pode crer, assim não está nem na ciência, nem na religião.
      O que sabe mais é justamente o que se libertou dos extremos, que temeu a Deus e achou o equilíbrio, harmonizando as coisas, e, portanto, não sendo inimigo de ninguém nem desejando ser superior a ninguém. Afinal o que se esmera na ciência o faz pela vaidade, tanto quanto o que se aprofunda na religião, o que acumula bens é tão vaidoso quanto o que acumula experiências de fé. Jesus homem viveu como quem não tinha que provar nada a ninguém, mas focado em sua missão, não se sentindo melhor que ninguém, ainda que soubesse que salvaria toda a humanidade. 

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