terça-feira, outubro 11, 2022

Verdades sobre a Bíblia (72/92)

      “Por isso não desfalecemos; mas, ainda que o nosso homem exterior se corrompa, o interior, contudo, se renova de dia em dia.” II Coríntios 4.16

      A solução para se ter uma Bíblia mais autêntica, não está no uso de fontes mais antigas, ainda que tivéssemos em mãos o primeiro texto do evangelho escrito por Mateus (considerado por muitos o evangelho mais antigo), ou uma versão do evangelho de João (considerado o último evangelho escrito) de acordo com as relevâncias dadas por Jesus, e não pela subjetividade alterada pelo tempo do apóstolo do amor, ainda assim o homem poderia, tempos depois, lendo os textos, subverter a palavra original do Cristo, interpretando diferentemente. Isso pode não ter alterado um texto de forma mais extrema, mas subtraído algumas partes ou mesmo escolhido palavras, para traduzir o original, não erradas, mas que levassem a um entendimento um pouco diferente do original, e de acordo com a doutrina vigente da igreja que o estivesse traduzindo. O importante é entendermos que a tal providência divina não pôde interferir no livre arbítrio dos homens, e mesmos papas, teólogos e outros líderes, responsáveis pela construção do cânone bíblico, também são homens, limitados, com defeitos, vaidades e conveniências, e com direito ao uso do livre arbítrio. Deus permite a confusão para que trabalhando o homem exerça seu livre arbítrio, assim, cabe a cada um de nós por mãos à obra e achar o conhecimento de Deus na fonte, Deus. 
      Se alguém, que até agora acreditou que a Bíblia foi escrita por homens, mas sob inspiração divina e que por isso não contém erros, se essa pessoa ler este texto, entendê-lo, aceitar o que foi dito, então, ficar angustiada, sentir-se desestabilizada em sua fé, essa é a reação mais honesta que penso que possa haver, talvez seja a mais sincera. Infelizmente, não é isso que acontece com muitos, esses simplesmente vão chamar essas críticas a uma interpretação da Bíblia ao pé da letra e de forma atemporal, menosprezando contextos e livre arbítrio dos escritores, de heresias. Chamarão esse que vos escreve de herege, de desviado, mesmo de instrumento do diabo. É mais fácil demonizar o opositor, jogando-o num extremo, que aceitar o próprio extremismo, ou ainda melhor, que achar um meio termo equilibrado. Outros, contudo, até crerão nas críticas levantadas, gente mais acostumada a pensar, mas não darão a elas a devida importância, esses são os que mais me intrigam. Eles conseguem seguir vivendo como religiosos, fazendo em suas vidas uma separação entre aquilo que ouvem na igreja e o que ouvem nas universidades e nas empresas, dizendo que os dois lados falam a verdade. Entretanto, verdade dividida não é verdade, não existem duas verdades, mas uma mentira e uma só verdade.
      Aqui no “Como o ar que respiro” costumo não entrar em muitos detalhes sobre questões consideradas polêmicas, informo alguns links, enfim, está tudo na internet para quem quiser se aprofundar. Se muitas pessoas estudassem mais entenderiam o nível de consciência moral e intelectual que a humanidade se encontra hoje, e que se não foi atingido por muitos é só por preguiça ou covardia. Nesse nível estamos capacitados para buscar a verdade, além do autoritarismo religioso de homens, sem medo do papa, do vaticano, de qualquer presidência nacional de denominação religiosa protestante ou de doutor em teologia. Contudo, as pessoas temem sair de zonas de conforto, e a religião talvez seja a zona mais confortável que existe no mundo. Muitos pensam, “por que teria eu que duvidar de uma igreja de dois mil anos, poderosa, presente em todo o mundo?”, e mesmo os protestantes, que são só católicos desviados, ainda que achem em suas denominações abrigo contra o inferno, sentimento de pertencimento e algum refrigério para culpas, não entendem e não acreditam em muitas coisas, mas fazem de conta que está tudo certo. Quando compreenderemos, principalmente em se tratando de vida espiritual, que nosso compromisso é conosco e com Deus, não com homens? Não há igrejas no céu, mas existem muitas no inferno. 
      O ser humano só começa a viver de lembranças quando envelhece, quando não tem mais juventude para ter novas e melhores experiências, assim passa a achar satisfação nas memórias. O jovem por sua vez, quando tem uma experiência feliz, nem se lembra da experiência anterior, mesmo que tenha sido boa, a última lembrança é a mais forte e ele segue vivendo para isso, para ter boas, novas e melhores experiências. A humanidade começou a usar o recurso do álbum de velhas fotografias quando envelheceu, e na religiosidade cristã quando parou de ter novas experiências com Deus, assim os ícones do cristianismo, a cruz, a figura de Cristo, os dias santos, as imagens e as esculturas, supriram a falta de uma nova e viva experiência espiritual. Mas a humanidade não teve esse envelhecimento de maneira sadia, ela envelheceu ainda jovem, quando ainda tinha muito a vivenciar da espiritualidade cristã. Deixou que o Espírito Santo se afastasse e tentou dar continuidade à sua experiência adorando ídolos, e a Bíblia também pode ser uma espécie de ídolo. Contudo, a verdadeira espiritualidade não envelhece nunca, porque não baseia-se no corpo, no mundo, nos homens, mas no espírito, e esse caminhando para o Altíssimo, em constantes e melhores novidades de vida. 

Leia nas três postagens anteriores
as outras partes da reflexão 
 “Verdades sobre a Bíblia”
José Osório de Souza, 18/02/21

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