domingo, outubro 02, 2022

Muito para crescer (63/92)

      “Por isso, deixando os rudimentos da doutrina de Cristo, prossigamos até à perfeiçãoHebreus 6.1a 

      Por que queremos ser santos? Como evangélicos entendemos que termos virtudes morais é melhor, principalmente porque nos livra de encrencas, de adultério, de gastar dinheiro com bebidas alcoólicas e cigarro. Mas na prática santidade para muitos é só isso, não adulterar, não beber e não fumar, se conseguem fazer isso já se sentem satisfeitos, enquanto isso outros pecados, principalmente aqueles pessoais que ninguém sabe, correm soltos. Muitos cristãos não entendem santidade como condição fundamental para se ter comunhão com um Deus santíssimo, para, então, receber dele ensinamentos. 
      Para muitos santidade é obedecer leis, e aí está novamente o uso errado da Bíblia, como só uma lista de sins e nãos. Ver a religião cristã assim facilita a vida, de ovelhas e de pastores, de quem obedece e de quem manda, não há necessidade de pensar, de refletir, de questionar, e assim, possivelmente, de discordar. Mas é importante entendermos que questionamento religioso não é algo só intelectual, e por achar que é, que muitos discordam do cristianismo, ainda que baseados na prática de cristãos equivocados, e até chegando a conclusões legítimas, todavia, deixando isso só em suas mentes.
      O questionamento, depois de refletido, deve ser levado a Deus, isso é o que nos faz ver a imperfeição da religião, mas humildemente crendo na perfeição de Deus, isso é entender que o cristianismo no mundo foi por caminhos sombrios, mas que Jesus sempre será a luz mais alta. Crítica pela crítica, só para achar álibis para não se aproximar de Deus e odiar homens, para nada vale. Mas de novo nos vemos diante de trabalho que muitos não querem fazer, orar a Deus, e não só pedindo algo material e agradecendo por algo material recebido, mas para vivenciar intimidade espiritual com Deus. 
      A doutrina que diz, que basta fé para se ter perdão, e perfeição moral que dá direito a um céu eterno, e que diz que todos que creem assim, indiferente do pecado, também terão o mesmo direito, acaba amarrando os cristãos. Na verdade, grande parte de evangélicos não tem ideia do que seja santidade e de porque ela é exigida, não existe um esforço diário para se alcançar santidade e aperfeiçoá-la, porque não se entende que isso tenha implicação direta no nível de existência espiritual na eternidade. Por isso tantos focam em fé e não em obras, e fé para terem coisas no mundo, não na eternidade.
      Se acreditamos que o céu está garantido, para que ser mais ou menos santos? Por outro lado, se acreditamos que o inferno é o destino dos que não são cristãos, nos moldes do que achamos que é ser cristão, para que nos importarmos em ajudar as pessoas materialmente? Basta que conheçam o evangelho e o aceitem ou não como única salvação. Há um antagonismo estranho que a crença na perfeição imediata pela fé leva, que beneficia, equivocadamente, só os que se acham salvos. Eles não precisam se esforçar, tanto para serem melhores no céu, quanto para ajudar materialmente os que não irão ao céu.
      Sob esse ponto de vista, conseguimos entender porque muitos protestantes e evangélicos estão tão presos aos templos, ao que se faz dentro deles, como se fossem castelos que os protegessem do inferno. Por isso chamam de irmãos os pares, aos outros não, no pouco que ajudam materialmente o fazem a esses “irmãos”, e se fazem aos outros é antes para tentar convertê-los à sua religião. Muitos cristãos não fazem caridade, mas só proselitismo, por acharem que exercem fé, não exercem amor, e justamente por quem, sob o ponto de vista deles mesmos, mais precisa, os que estão fora das igrejas.
      Jesus homem não teve castelo, era do mundo, daqueles que muitos religiosos judeus de seu tempo não consideravam merecedores da melhor eternidade. Hoje muitos cristãos amam criticar os fariseus, se acham melhores que eles, mas será que se estivessem no contexto religioso e histórico do primeiro século não agiriam da mesma maneira que os fariseus? Jesus trabalhou o tempo todo, não para arregimentar adeptos para uma religião, mas para servir em amor, a israelitas e gentios, ajudava neste mundo a todos, com isso com certeza fazia por merecer o melhor lugar na eternidade espiritual. 
      Mas não pensemos que Jesus fazia algo só pensando na eternidade, praticar boas obras aqui por achar que teria pagamento lá, até isso é vaidade. Jesus tinha uma urgência sem segundas intenções, uma voluntariedade pura, fazia o bem porque é o que se deve fazer, como recompensa em si mesmo, assim se é aperfeiçoado espiritualmente. Se salvação é paz com Deus, e isso se ganha sendo perdoado por Deus através da posição espiritual de Jesus, ela é só o início da caminhada, não o fim, sim, é o melhor início, mas ainda assim, só o isso. É preciso trabalhar depois em santidade e por amor para crescer. 
      “Crescer”, como assim? Talvez seja esse um dos pontos mais importantes no equívoco de muitos cristãos, eles não acham que necessitem crescer. Para eles basta crer, obedecer algumas leis morais, frequentar cultos, dar o dízimo, ler um pouco a Bíblia, orar pelo básico, e pronto. Isso, sim, é diminuir Deus, achar que a altura espiritual do Senhor é tão baixa e tão fácil de ser acessada. “Por isso, deixando os rudimentos da doutrina de Cristo, prossigamos até à perfeição” (Hebreus 6.1a), ah, meus queridos, a eternidade é bem mais eterna que muitos acham que é, e Deus, bem mais alto.

Leia na postagem de ontem
a 1ª parte desta reflexão

Nenhum comentário:

Postar um comentário