domingo, outubro 09, 2022

Questionar não é pecado (70/92)

      “Eis que dias vêm, diz o Senhor, em que farei uma aliança nova com a casa de Israel e com a casa de Judá. Não conforme a aliança que fiz com seus pais, no dia em que os tomei pela mão, para os tirar da terra do Egito; porque eles invalidaram a minha aliança apesar de eu os haver desposado, diz o Senhor. Mas esta é a aliança que farei com a casa de Israel depois daqueles dias, diz o Senhor: Porei a minha lei no seu interior, e a escreverei no seu coração; e eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo. E não ensinará mais cada um a seu próximo, nem cada um a seu irmão, dizendo: Conhecei ao Senhor; porque todos me conhecerão, desde o menor até ao maior deles, diz o Senhor; porque lhes perdoarei a sua maldade, e nunca mais me lembrarei dos seus pecados.” Jeremias 31.31-34

      A passagem do capítulo trinta e um de Jeremias nos revela que a segunda aliança que Deus faria com o homem seria diferente da primeira, a primeira foi baseada em sacrifícios de animais e numa lei registrada num livro, a segunda seria baseada no Espírito de Deus “escrevendo” diretamente nos corações dos homens. O próprio Deus ensinaria cada ser humano de maneira direta, isso tiraria da religião oficial o papel de ser instrumento oficial de Deus, o próprio Deus seria seu instrumento, por Jesus através do Espírito Santo. Contudo, ainda assim, pouco tempo depois da partida de Jesus e da fundação das primeiras igrejas, o homem voltou a se abrigar em uma religião institucional no mundo, não no Deus espiritual. Não que não fossem ou não sejam necessárias igrejas, elas são bênçãos, tanto espiritual quanto socialmente, mas se elas se tornam ferramentas de homens para dominar sobre homens o vivo Espírito de Deus se afasta e uma palavra morta ganha espaço.           
      Por isso a importância (equivocada) que muitos cristãos dão à Bíblia, principalmente os evangélicos, acham que com ela podem ter um pocket deus, um “deus portátil de bolso”, onde as regras estão claras e não há risco de errar sem que haja necessidade de busca por oração. Sempre que o homem se poupa de pensar abrirá mão para que outros pensem por ele, isso o fará depender dos outros. Não existe ociosidade religiosa maior que assistir um culto construído sobre liturgias e ritos, onde tudo já está bem mastigado para que nos alimentemos do deus dos outros de acordo com os protocolos dos outros. Se esses protocolos ainda fossem baseados na palavra original e genuína de Deus, seria menos ruim, mas não são, são baseados num cânone bíblico modificado no decorrer dos séculos pelos homens, os mesmos que ensinam que questionar a legitimidade divina desse cânone é pecado. Esse é o ponto desta reflexão, chamar a atenção sobre a verdade da Bíblia, que muitos fecham os olhos para não ver.             
      Se dermos uma passeada pelo Google acharemos vários espaços virtuais, sites, redes sociais, blogs, vídeos, com propostas de revelar heresias, a maioria defendendo a Bíblia como um livro que deve ser interpretado ao pé da letra, qualquer interpretação que contenha subjetividade é considerada heresia. Muitos não percebem que as maiores heresias são baseadas justamente em interpretações ao pé da letra da Bíblia, e seguindo nesse raciocínio, a afirmação que acabei de fazer, sobre não interpretar a Bíblia ao pé da letra, para muitos já é uma heresia. A conclusão que chegamos é que toda denominação ou seita cristã tem, em alguma instância, uma heresia em relação a outra denominação ou seita cristã, sendo assim, se todas são, nenhuma é, já que nenhuma pode ser usada como referência para as outras. Interessante que as religiões cristãs são as que possuem mais seitas e heresias. 
      Por esse motivo consolo-me, não me acho dono da verdade ou algum tipo de profeta especial, mas só mais um homem com direito a pensar, avaliar e compartilhar isso, e mesmo que essa visão seja considerada heresia para alguém, aceito isso em paz, pronto para dar satisfação ao Senhor por ela, seja aqui ou na eternidade. Não tenho nenhuma pretenção de convencer ninguém sobre meu ponto de vista, só o compartilho na esperança que outros mesclem seus pontos com o meu e talvez, através dessa mistura, cheguem mais perto do conhecimento mais puro de Deus. Não tenha, contudo, ninguém, ainda que apoiado por tradições, instituições, denominações, grandes pregadores, doutores em teologia, dogmas milenares, a presunção de se achar proprietário ou sócio da verdade maior. Nenhum homem no mundo teve ou tem essa posse e na verdade ninguém precisa ter. 
      Muitos, só por levantarmos certas questões, podem nos considerar heréticos, mas fazer esse tipo de avaliação é direito de todo ser humano, não representa um sacrilégio, principalmente se temos uma experiência genuína com o único Deus através do Espírito Santo. Contudo, se você se sentir desconfortável com isso, se o que for refletido for além de sua porção de fé, não considere as palavras deste texto, fique firme nas convicções que te trouxeram até aqui em paz. Ao que muito sabe muito é cobrado, e para muitos é melhor saber menos. Eu não quero desviar ninguém do amor de Jesus por causa de especificações técnicas sobre teologia e doutrina, que na verdade não fazem diferença para que o ser humano tenha uma comunhão real com Deus e o mundo espiritual.

Leia na postagem anterior
e nas duas próximas postagens 
as outras partes da reflexão 
 “Verdades sobre a Bíblia”
José Osório de Souza, 18/02/21

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