terça-feira, outubro 04, 2022

“Porque está na Bíblia”, é resposta? (65/92)

      “Porque todos os que são guiados pelo Espírito de Deus, esses são filhos de Deus. Porque não recebestes o espírito de escravidão, para outra vez estardes em temor, mas recebestes o Espírito de adoção de filhos, pelo qual clamamos: Aba, Pai. O mesmo Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus.Romanos 8.14-16

      Um argumento usado por grande parte de cristãos para acreditar cegamente em algo é, “porque está na Bíblia”. Será que isso basta? Vou responder a esses de maneira semelhante a que respondemos a crianças em muitos casos, porque está na Bíblia não é resposta. Por quê? Porque podemos achar aprovação para as coisas mais absurdas possíveis na Bíblia, se não a interpretarmos de maneira correta. A Bíblia pode ser só um texto qualquer, sem a unção do Espírito Santo. Quem tem essa unção? Os humildes e crentes. É preciso humildade e fé para entendermos a vontade de Deus, mesmo na Bíblia.
      Isso não é exclusividade de cristãos e a Bíblia, também ocorre com muçulmanos e o Alcorão, com hinduístas e budistas e o Bhagavad-Guita, o Mahabharata e outros textos, com os espíritas e os livros de Allan Kardec e Chico Xavier, dentre outros exemplos. O problema aqui é um já comum na religiosidade, idolatria, e livros sagrados também podem virar ídolos. Entre os evangélicos existe “bibliolatria”, chega ao extremo de se achar que o livro feito de papel e outros materiais, pode ter poder para expulsar demônios. Quem já não viu “pastores” dando com a Bíblia na cabeça de endemoniado? 
      Mas o que mais se vê é a idolatria do texto, é certo que também pode chegar ao ponto de certas versões terem predileção, como a Revista e Corrigida para algumas denominações pentecostais. Interpretação ao pé da letra e a atemporalidade que desconsidera contexto histórico são os equívocos mais comuns. Se houvesse inteligência religiosa, aqueles que se colocam como líderes, deveriam ensinar a Bíblia de maneira diferente hoje em dia, essa é a verdade, não como uma lista de regras, como um livro de leis, mas como textos históricos que relatam experiência de antigos com Deus, simples assim. 
      Você sabe que está idolatrando a Bíblia quando acha que só o fato de discordar de alguma passagem dela já o põe em pecado. Muitos quando leem que Deus não criou o mundo em seis dias já demonizam o que fez tal afirmação, nem param para entender que esse pode não estar negando a Bíblia, mas só uma forma de interpreta-la. Mas quem está preparado para ensinar Bíblia corretamente? Muitos têm capacidade intelectual, até discernimento espiritual, mas não têm coragem, esses não querem contrariar pessoas que querem pastor que lhes diga o que querem ouvir, pessoas que pagam o pastor. 
      É isso que queremos dizer quando falamos que o protestantismo saiu do catolicismo, mas o catolicismo não saiu do protestantismo, a civilização ocidental acostumou-se com um cristianismo, até aceita certas reformas protestantes, mas com limites. Uma das coisas católicas que está marcada a ferro nas mentes das pessoas é a ideia de verdades dogmáticas, e isso pode ser ainda mais extremo nos protestantes, que desconsideraram outros textos, outros ensinos, outros sacramentos, e focaram exclusivamente num cânone de sessenta e seis livros. Para esses a Bíblia é a verdade, eternamente incontestável.
      O dogma é bisavô do conservadorismo, que é avô do preconceito, que é pai da ignorância. O ignorante nega a ciência, a razão, a possibilidade de pensar por si mesmo, de questionar e de poder chegar a conclusões próprias. Quem pensa por si não pode ser controlado, sem controle não pode ser manipulado e não manipulado não pode ser usado para dar alguma espécie de lucro ou de poder para os outros, aqueles que criaram o dogma. É assim que sempre funcionou o mundo, na economia, na política, na religião, na ciência, nas artes etc. A libertação disso está no vivo Espírito Santo de Deus. 
      “Porque o Espírito Santo me disse”, isso é resposta! Mas isso criaria o caos? Permitiria que qualquer um dissesse que faz, fala ou crê pois o Espírito Santo o mandou? Sim, a princípio poderia até ser. Mas a paz e os bons frutos que permanecem confirmariam se o que alguém fez, falou ou creu foi autorizado pelo Espírito Santo. E as religiões, o que seria delas? Pessoas com entendimentos mais ou menos em comum se agrupariam naturalmente, mas se houvesse humildade, mesmo pessoas com pontos de vista muito diferentes, viveriam em paz, e umas acrescentariam às outras seus entendimentos. 
      Você pode achar isso uma utopia, mas a humanidade está caminhando para isso, infelizmente, por causa do orgulho, do egoísmo e do materialismo, depois de perder muito tempo, separando ou invés de unindo, odiando ao invés de amando, condenando ou invés de salvando. As pessoas despertaram para ir atrás de seus direitos, sim, ainda há muitos equívocos, vingança de um lado, prepotência do outro, mas logo a dor será de todos, se a humanidade não foi unida pela amor, será pela dor, como diz o ditado. Não existem melhores e piores, somos todos irmãos, espíritos de um pai espiritual. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário