terça-feira, setembro 26, 2023

Cristo não veio trazer paz (3/7)

      “Não cuideis que vim trazer a paz à terra; não vim trazer paz, mas espada; porque eu vim pôr em dissensão o homem contra seu pai, e a filha contra sua mãe, e a nora contra sua sogra” Mateus 10.34-35 

      Seguindo na série de reflexões “Provocações do Cristo”, mais um texto bíblico que precisa ser entendido certo. Jesus não veio unir, veio separar. Esse ensino completa o ensino de Mateus 8.21-22, e de uma forma mais abrangente, aqui o Cristo revela que a diferença entre os seres humanos que o seguem em relação a outros, não só mudaria as prioridades do homem, pondo em segundo lugar mesmo pais e família, mas colocaria o homem em situação de confronto. Citando espada, Jesus fala de guerra física, obviamente esse é mais um daqueles textos bíblicos que temos que reinterpretar as palavras que foram usadas originalmente para falar ao homem do passado. Nesse caso é preciso fazer isso com muita ênfase, já que o ser humano, naturalmente propenso a embates violentos, pode se achar ainda com direitos mais legítimos a isso se acreditar que está lutando numa guerra santa em nome de Deus. 
      A Igreja Católica fez isso por séculos, perseguiu e matou em nome da religião, o pior pecado dessa religião, que ao meu ver inviabiliza qualquer possibilidade de vê-la como representante oficial e exclusiva do Cristo na Terra. Como sempre digo aqui, ainda que Deus tenha usado e use o catolicismo para entregar Jesus à humanidade, violência, de qualquer espécie, e evangelho, não se casam. Mas, então, por que Jesus usou palavras tão extremas no texto acima? Porque a diferença entre trevas e luz é extrema, para ser treva basta um por cento de escuridão, já a luz é sempre cem por cento clara. Novamente o ensino de Jesus é: conhecer a fazer a vontade de Deus é prioridade para qualquer ser na Terra, acima de qualquer outra aliança, ainda que a prática disso seja em amor, humildade, santidade e paz. 
      Se o texto bíblico inicial não nos autoriza de forma alguma a exercer qualquer espécie de violência em nome do Cristo, ele nos alerta que não existe forma de vivermos na prática o evangelho sem termos desafetos, e muitas vezes dentro de nossos círculos familiares mais próximos. O cristão não é inimigo de ninguém, ama a todos, ora por todos, abençoa a todos, mas os outros podem, ainda que às vezes de maneiras bem sutis, se colocarem na posição de inimigos dele. Desanimarmos, querermos desistir da fé, acharmos que é injustiça de Deus, é entendermos a coisa erradamente, provar certas injustiças e reagirmos a elas com espiritualidade é prova que estamos no caminho certo em direção a Deus. Preocupados devem ficar os que têm no mundo só amigos e quem aprove seu estilo de vida plenamente.
      Ser diferente sem ser alienado, eis o desafio. Ser conhecedor de mistérios sem ser arrogante, eis a vocação dos amigos de Deus. Ter entendimento para ser mestre, maturidade para ser ouvido, experiência para curar, mas ainda assim ser sempre aluno, ouvinte e submeter-se humildemente à cura, como irmão de todos, não como patrão ou juiz, eis a experiência que Jesus viveu e nos chama a viver. O mais importante é entendermos que luz e trevas, reino de Deus e reino do mundo, glória do céu e glória do homem, são incompatíveis. Isso pode legitimar ataques de imaturos, alimentar guerras religiosas e moralistas, incentivar agenda de costumes na política, mas fortalecerá no espiritual o foco em Deus. Cristão de verdade não entra em conflitos e dá ao ser humano direito ao livre arbítrio, como Deus dá, respeitando diferenças em paz. A guerra existe, mas está fora, não dentro do amigo de Deus. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário