terça-feira, dezembro 14, 2021

Se há urubus há carniça

      “Disse-lhe Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá; e todo aquele que vive, e crê em mim, nunca morrerá. Crês tu isto?João 11.25-26

      A natureza, ar, terra, rios, mares, flora e fauna, é simbologia para muitas coisas, que se prestássemos mais atenção e entendêssemos sua simplicidade, compreenderíamos muitas coisas de nossas vidas, não só físicas, mas também espirituais. Leões matam e comem a carne ainda viva, ou quase viva, eles são carnívoros, já nós, seres humanos, apesar de na maior parte das vezes cozinharmos e assarmos as carnes, comemos a carne de animais bem morta, como os urubus, assim não somos carnívoros, somos carniceiros, parece nojento mas é isso. 
      A lei da matéria é essa, morte, e precisa de mais morte para se manter viva, ainda que numa existência passageira neste mundo. A lei do espírito é oposta a essa, vida, e vive à medida que entra em sintonia com a vida eterna do Deus Altíssimo, mesmo preso a um corpo mortal o espírito precisa do Espírito de Deus para viver. Ocorre que muitos seres humanos estão com “urubus” circulando sobre suas cabeças, e ainda assim não assumem que estão espiritualmente mortos, e possivelmente com mortes físicas próximas que os pegarão de surpresa. 
      Os urubus, nessa simbologia, são avisos, mas no mundo material nem precisamos ver urubus ou outros carniceiros, para sabermos que o cadáver de um homem ou bicho está próximo, sentimos o fedor, e como é forte e desagradável o cheiro de corpo em decomposição. É para ser assim, para que identifiquemos um cadáver e o enterremos, a sete palmos de terra. No caso de morte espiritual há uma opção, a ressurreição do espírito, Jesus tem o poder de ressuscitar mortos espirituais, ninguém precisa ser enterrado ainda com o corpo físico vivo. 
      O fedor moral se nota na soberba, na impaciência, na malícia, no engano que faz o ser humano ser presa de mentirosos, egoístas, sensualistas, desejosos de satisfazerem apetites do corpo, ainda que usando os outros. Mortos morais podem estar bem banhados, vestidos com marcas luxuosas, aromatizados com perfumes caros, sentados às mesas dos restaurantes sofisticados, tomando vinhos raros, e ainda assim federem. Já os vivos no espírito, ainda que com vidas simples, exalarão cheiro agradável que sobe até o trono do Altíssimo. 
      “Pobre mais limpinho”, se diz por aí, quem já não percebeu isso, ainda que não conseguisse entender bem, estar diante de alguém bem aparentado, mas sentir algo desagradável, e estar com alguém pobre no exterior, mas perceber algo nobre? Vida espiritual não se compra, se ganha gratuitamente de Deus quando a ele se busca com humildade. Estejamos atentos aos sinais, “urubus” não voam sobre vivos, se eles estão presentes algo está morrendo ou morto, sejamos sábios e busquemos a única vida que é eterna, comunhão íntima com Deus. 

segunda-feira, dezembro 13, 2021

Justos diante da injustiça

      “Olhando para Jesus, autor e consumador da fé, o qual, pelo gozo que lhe estava proposto, suportou a cruz, desprezando a afronta, e assentou-se à destra do trono de Deus. Considerai, pois, aquele que suportou tais contradições dos pecadores contra si mesmo, para que não enfraqueçais, desfalecendo em vossos ânimos.Hebreus 12.2-3

      Somos fracos para suportar as afrontas, as injustiças, as críticas, as calúnias, as mentiras, os sarcasmos, basta uma palavra maliciosa e queremos reagir na mesma altura, dar a resposta, nos defendermos. Se Jesus, que andava na humildade, com sabedoria, se falava o necessário e só agia por amor, se Cristo que orava muito, se santificava em tudo e vivia no centro da vontade de Deus, se nosso mestre mais alto foi afrontado, injustiçado, criticado, caluniado, traído e castigado, quanto mais nós, pecadores, que muitas vezes até fazemos por merecer, não seremos maltratados. 
      Passemos pelas provações em paz, só assim seremos aprovados, deixemos que Deus faça justiça do seu jeito e no seu tempo, quanto aos injustos, não são problemas nossos. Sejamos diferentes, só assim valerá a pena o sofrimento, e teremos recompensa na eternidade e também no mundo, se tivermos paciência para esperar em Deus, senão, o que nos faria melhores que os que nos injuriam? Olhemos para Jesus, nele há forças para sermos espirituais e darmos testemunho de luz num mundo em trevas, resistindo às injustiças, às críticas, às calúnias, às mentiras e aos sarcasmos. 

domingo, dezembro 12, 2021

Que palavra preciso ouvir?

      “E, orando, disseram: Tu, Senhor, conhecedor dos corações de todos, mostra qual destes dois tens escolhido, para que tome parte neste ministério e apostolado, de que Judas se desviou, para ir para o seu próprio lugar. E, lançando-lhes sortes, caiu a sorte sobre Matias. E por voto comum foi contado com os onze apóstolos.Atos 1.24-26

      Que palavra quero ouvir, só a que me aprova? O “Como o ar que respiro” é hospedado no Blogspot, essa ferramenta me permite ver estatísticas de acessos ao espaço, nessas vejo coisas interessantes. Penso que uma parte significativa dos que acessam este blog querem apenas ler o texto bíblico inicial, assim, ainda que muitas vezes eu faça estudos bíblicos em passagens mais longas, entendi que disponibilizar um texto curto e direto no início chama mais a atenção das pessoas. Muitos nem leem a reflexão, mas só o versículo inicial, para mim tudo bem, se Deus abençoa alguém é o que importa. 
      Quem nunca? Quem muitas vezes não quer só um versículo simples e positivo, que dê uma resposta rápida, um consolo imediato para uma dor do momento? Sou como todo mundo, uso várias “ferramentas” para receber um palavra de alívio de Deus, e muitas vezes recorro às caixinhas de promessas, analógica ou virtuais, Deus me fala muitas vezes dessa maneira. Não sei se cristãos mais jovens conhecem essas caixinhas, eu tenho uma antiga, comigo deste os anos 1970 quando me converti, com a internet qualquer site cristão com versículos diários para reflexão pode servir, se usado com sabedoria.
      Contudo, aprendi que mesmo que faça uso dessa ferramenta, o Senhor autoriza isso e muitos se surpreenderiam com os meios que Deus usa para falar às pessoas, devo usá-la com temor a Deus, com muito cuidado. Não fico tirando versículo a torto e à direita, usando textos bíblicos como predições do zodíaco, quando uso desse meio oro antes, e se não sentir não o faço. Não banalize a palavra de Deus, seja qual for o meio pelo qual tua fé te permite ouvi-la, quem a Deus respeita será atendido por ele sempre que precisar, da maneira peculiar que for necessária. Vida com Deus é algo muito pessoal. 
      Ultimamente tenho usado menos esse recurso, a voz viva do Espírito Santo falando diretamente ao meu coração tem sido mais sensível para mim. Penso que todos devem aprender a discernir a voz do consolador e mestre, entendendo isso crescemos espiritualmente e não somos presas fáceis de homens. Mas se quer base bíblica para se saber a vontade de Deus usando um meio aleatório, por exemplo, abrindo a Bíblia em qualquer página e pondo o dedo num versículo, veja texto bíblico inicial e a maneira como o décimo segundo apóstolo foi escolhido, oração, votos e jogo de sorte foram usados. 
      Outra coisa entendo pelas estatísticas do blog, palavras de disciplina são menos aceitas, eu as evito, mas algumas vezes o Espírito Santo me orienta a entregá-las. Ninguém gosta de palavras que digam que Deus não aceita o pecado e está longe dos que se afastam dele, mas isso é uma realidade que ocorre com todos nós e que precisamos encarar com humildade. Que palavra quero ouvir? A melhor resposta seria a palavra que Deus quer me falar, ainda que seja palavra dura, mas essa é sempre só a exortação inicial, logo em seguida Deus nos leva ao arrependimento e à paz do perdão que só ele dá.

      “Todavia a terra se repartirá por sortes; segundo os nomes das tribos de seus pais a herdarão. Segundo sair a sorte, se repartirá a herança deles entre as tribos de muitos e as de poucos.Números 26.55-56

sábado, dezembro 11, 2021

Empatia, unanimidade, humildade

      “Alegrai-vos com os que se alegram e chorai com os que choram, sede unânimes entre vós,
      não ambicioneis coisas altas, mas acomodai-vos às humildes, não sejais sábios em vós mesmos” 
Romanos 12.15-16

      Uma religião que divide a humanidade entre condenados e salvos pode amar? Pode, mas com dificuldades, que surgem como consequências do equívoco que divide e não une. Muitos podem pensar assim: “alguém que já sabemos antecipadamente que está condenado, não temos a obrigação de amar, se esse vai para o inferno deve ter feito muita coisa errada, e não deve merecer nosso afeto, por outro lado, alguém que cumpre os protocolos para ser salvo, deve merecer nosso crédito, inclusive apoio se estiver na política, meio onde protestantes e evangélicos precisam ser mais representados”. 
      Assim, evangélicos amam evangélicos, mas não precisam amar espíritas ou católicos, ainda que não os odeie, o conceito “céu e inferno” já possui inerente separação, portanto, o preconceito e a não obrigação de gostar do que é religiosamente diferente. Isso podia não ter piores consequências quando o evangélico era mais humilde, mas atualmente, com o ser humano cada vez mais egoísta, pensando muito em seus direitos e pouco nos direitos dos outros, com um humanismo conveniente que exalta o homem e nega Deus, o cristianismo que já era polarizado na teoria, é afetado na prática social. 
      Atualmente, evangélicos querem ir à forra, vingarem-se da perseguição que sofreram, e que nem foi tão grande assim, terem influência nos governos, consequentemente, dividirem ainda mais a sociedade, e não estou exagerando, esse é posicionamento de muitos líderes. Mesmo no texto bíblico inicial unanimidade se refere à relação de cristão com cristão, não de cristão com o mundo, ele diz, “sede unânimes entre vós”, referindo-se à comunhão dentro de igreja. Mas será que era a isso que Jesus se referia ao ensinar sobre amor? Mas o autor de Romanos fala de outra faceta do amor, a empatia. 
      “Alegrai-vos com os que se alegram, e chorai com os que choram”, só amamos quando provamos essas interações, e quando são vivenciadas muros são destruídos. Empatia é a “capacidade de se identificar com outra pessoa, de sentir o que ela sente, de querer o que ela quer, de apreender do modo como ela apreende”. Quando há essa identificação, que na verdade é onde reside o conceito de irmandade, há uma ligação mais íntima que a de laços de sangue, de família, há laços espirituais, de alma, aí há amor que une e não separa. Há cumplicidade de quem se põe no mesmo nível emocional do outro. 
      A pandemia da covid 19 deveria dar ao ser humano a oportunidade de ser empático, já que ela atinge a todos, tem feito pessoas diferentes sofrerem, mas infelizmente, ainda assim, muitos têm usado essa tragédia para separar e odiar. Polarização burra, extremismos inúteis, diferenças que na verdade não existem já que na essência espiritual somos todos iguais, e o pior de tudo é que muitos cristãos estão se colocando num dos polos, mitificando um e demonizando o outro, eis céu e inferno novamente creditados. Que o falso cristianismo seja humilhado para que Cristo seja exaltado. 
      Não vou negar a doutrina de penas eternas e extremas descrita na Bíblia, não quero escandalizar ninguém, mas o mínimo que a sabedoria pede, que o bom senso cristão orienta, é que deixemos para identificar quem vai para o céu e quem vai para o inferno na eternidade. Cristãos, esqueçam disso no mundo, mas amem, sejam empáticos, principalmente com os diferentes. Que espiritualidade há em sofrer com quem concorda com nosso posicionamento político, ou se alegrar com quem vota no mesmo candidato para presidente que nós? Em Cristo somos chamados para mais que isso. 
      Nos alegrarmos com a alegria do outro e não invejá-la, principalmente se o outro for alguém diferente de nós, assim como chorar com a tristeza daquele que discorda de nós, e não sorrir por dentro, numa vingança sutil, satisfeito pelo sofrimento de quem quer dar a última palavra em polêmicas tolas, isso é amor. Quem ama assim não manda para as “chamas eternas”, antes luta pela pessoa em oração, dispõe-se a ajudá-la se Deus permitir e na sabedoria de Deus, se todos amássemos assim esvaziaria-se o inferno. O que desejamos como cristãos, salvar ou condenar? Salvar é unir, não é dividir. 
      Interessante a segunda parte do texto bíblico inicial, à exortação sobre unanimidade segue orientação sobre humildade, o que têm a ver as duas coisas? Unanimidade pressupõe todos na mesma altura, um não dominar sobre o outro por se achar com entendimento superior, por isso tendo os outros a obrigação de pensarem como ele pensa. A arrogância divide pois leva um a se achar no direito de convencer o outro sobre seu ponto de vista, por isso só se chega à unanimidade com humildade, onde ninguém se acha dono de verdade exclusiva, mas todos harmonizam as verdades dos outros às suas. 

sexta-feira, dezembro 10, 2021

Fama não é chamada de Deus (2/2)

      “Nada façais por contenda ou por vanglória, mas por humildade; cada um considere os outros superiores a si mesmo.” Filipenses 2.3
 
      Pode-se até provar aventura romântica em caminhos legítimos do bem, mas isso é só no início, depois trabalho e fé persistentes deverão superar ausência de prazer fácil e de resultados imediatos e visíveis. Aprovação das massas é algo que motiva muitos por parecer solução rápida para recalques não resolvidos, mas com o tempo não bastará mais. Fama é vício, quem tem um milhão de seguidores quer ter dez milhões, depois cem e não tem fim. Um único seguidor basta para que vaidades sejam anuladas, Jesus, que caminha com o humilde, cura-o, faz com que se sinta útil em uma chamada genuína, que glorifica só a Deus e não é falsificada por vangloria humana. 
      Ninguém é chamado por Deus para ser famoso, e penso que com quem é famoso no meio cristão temos que ter sempre um pé atrás, isso mesmo que alguns fazendo um trabalho verdadeiro em Deus sejam famosos, principalmente no mundo atual onde fama é algo tão fácil quanto efêmero. Mas se o melhor ser humano que já pisou este mundo foi perseguido em vida e teve um fim terrível, fica difícil achar que um pastor, pregador ou músico, é ferramenta eficiente de Deus pelo fato de ser famoso. Talvez a pergunta maior seja: o ser humano está preparado para ser famoso, e ainda assim continuar humilde, desempenhando diligentemente chamada de Deus?
      Uma conhecida minha, boa protestante há décadas, com graduação superior, profissional reconhecida, pregadora por anos, me mostrou projeto de um livro e o desejo de ver o trabalho publicado, bem escrito apesar de sobre tema polêmico. Isso já faz uns anos e até onde sei o trabalho não foi publicado, além do tema complicado, o mercado de livros atualmente mudou, como todo tipo de mídia em papel, os sites e outras páginas na internet tomaram esse lugar. A pergunta que faço a essa pessoa e a outras assim é: você quer ser bênção ou quer ter fama? Quer compartilhar algo como vontade de Deus para abençoar as pessoas ou só quer aclamação pública? 
      Quem quer ser bênção acha depressa um meio, não espera, ainda que não lhe traga fama. Vejo isso em muitos pastores, e muitos demonizam a internet ou invés de usa-la como ferramenta do evangelho. Penso que pastores devam ter muito cuidado para participarem de redes sociais, e acho que o mais indicado é não participarem, mas creio que todos deveriam ter espaços virtuais com reflexões cristãs diárias. Pastor é um homem que Deus chama para alimentar um rebanho específico, que só pode ser alimentado pelo alimento que esse pastor oferece, por isso não existe pastor sem rebanho, ainda que existam rebanhos sem pastores, pela negligência de pastores. 
      Todos nós temos bênçãos diárias para compartilharmos, quem anda com Deus anda em novidade de vida todo dia, se é assim com todos deveria ser muito mais com pastores e pregadores, que não só devem ter experiências diárias como devem ter mais facilidade de escrever e falar, como líderes que são, para compartilharem isso. Contudo, escrever um texto diário numa página da internet não dá a popularidade visível e imediata que muitos buscam, querem mais templos cheios com pessoas aplaudindo. Isso é um engano, uma página na internet pode ter muito mais alcance que uma palavra num púlpito físico, esse é o meio que as pessoas mais visitam hoje. 
      É claro que não podemos generalizar as coisas, e em se tratando de chamada de Deus, Deus chama a todos, tem chamadas diferentes para pessoas diferentes e não chama ninguém para a inutilidade. Mas o que é mais inútil que fazer a coisa certa no lugar errado e para as pessoas erradas? É pior que não fazer nada, já que além de não sermos úteis vulgarizamos algo que pode ser útil pelas vidas de outros. O cristianismo tem sido vulgarizado e por isso desprezado porque muitos têm utilizado dele para fins egoístas. Por outro lado, falta a muitos confiança em Deus para fazerem e crerem que se obedecem a Deus podem ser úteis e de fato felizes, mesmo não sendo famosos. 
      As pessoas fazem o “diabo” para serem famosas, para serem vistas no que consideram ser o topo do mundo, ainda que o topo do mundo seja aos olhos de Deus o fundo do inferno. Elas usam até Deus e o cristianismo nesse engano, e isso é pecado pior que usar o “diabo”, já que ser louvado no mundo não é tão incoerente para quem é o rei só do mundo. Mas Deus é espiritual, age espiritualmente, atrai os seres humanos para o melhor do plano espiritual, é a antítese de valores de glória no mundo, ainda que sejam em púlpitos de igrejas. Sejamos humildes e façamos a vontade de Deus para nossas vidas, não por vangloria, mas por amor, Deus sempre honra os humildes. 

Leia na postagem de ontem
a 1ª parte desta reflexão.

quinta-feira, dezembro 09, 2021

Chamada para ser humilde (1/2)

      “Aquele que furtava, não furte mais; antes trabalhe, fazendo com as mãos o que é bom, para que tenha o que repartir com o que tiver necessidade.Efésios 4.28

      Qual é a sua verdadeira chamada? Você pode achar que é ser pregador quando é ser vendedor, você pode achar que é ser cantor quando é ser professor, você pode achar que é ser médico quando é ser engenheiro, enfim, não saber e não assumir nossa verdadeira chamada pode nos envergonhar assim como fazer as pessoas próximas a nós infelizes. A vida não é fácil e muitas vezes não fazemos o que queremos fazer, mas o que podemos, ou mais, o que temos que fazer para sobreviver, contudo, uma coisa é não estar cem por cento satisfeito com o que se faz por ter que lutar por uma vida digna, outra coisa é fazer infelizes os outros para estarmos satisfeitos conosco. 
      Na área musical das igrejas existe muita gente querendo ter “ministério itinerante” experimentando atraso de vida. Chega a ser difícil falar com muitos desses, pois eles se sentem legitimamente chamados por Deus, e ir contra seus sonhos nos coloca, aos olhos deles, como instrumentos do mal contra uma vontade de Deus. Mas pelos frutos vemos a realidade dessas vidas, que muitas delas definham, não conseguem independência econômica, perdem tempo e fazem outros sofrerem. Enquanto solteiros e sem filhos as ilusões ainda agradam alguns, principalmente pais, também equivocados, ávidos por verem filhos sob holofotes em palcos, mas depois o drama aumenta.  
      “Ministério itinerante”, coisa que não existia há um tempo atrás, e que se tornou muito comum no meio pentecostal, não só para cantores, como para pregadores. Mas nas “casas de espetáculos” na quais muitas igrejas se tornaram, isso é só mais uma parte do sistema que quer produzir shows, não cultos, para muita gente assistir e depois ”pagar”. Outro lado negativo desse grave desvio de muitas igrejas evangélicas é que os pastores oficiais pouco pregam, delegam o trabalho para esses “artistas”, hábeis em dizerem e cantarem o que as pessoas gostam de ouvir, e que sempre incentivam ofertas, que depois serão colhidas para pagarem seus “cachês”, que não são pequenos. 
      Ainda se houvesse um desejo sincero de compartilhar suas crenças, mas não, muitos querem sucesso e fama, não trabalham nas igrejas de origem pois se acham importantes demais para isso, e com uma sincera arrogância mascarada de visão superior de ministério, o que falo digo como testemunha. Houve quem fosse bem sucedido nesse intento? Houve, e são esses que servem de motivação para tantos cantores e cantoras, mas até que ponto, mesmo esses que servem de exemplos, desempenham a melhor vontade de Deus? Desculpe-me tocar nesse assunto, mas esse é mais um aspecto do enorme desvio que igrejas evangélicas têm incorrido nos últimos tempos. 
      O caminho da humildade é temido mais que o próprio “diabo” por muitos crentes, com carências mal resolvidas e obcecados por aprovação humana. A vaidade conduz à arrogância e à servidão a outros arrogantes, Deus fica longe disso, usado e vendido, mas não servido. Não escondo meu pensamento que deveria haver menos igrejas, bastaria às pessoas terem uma experiência com Deus e compartilharem isso em seus cotidianos no mundo, enquanto são seres humanos produtivos, que trabalham para se sustentarem e ajudarem os necessitados. Para reuniões cristãs bastariam os lares, com menos pessoas, onde todos se conhecem e se ajudam, sem vaidades, só com verdade. 
      Não estou dizendo que é errado visitarmos irmãos em outras cidades, compartilharmos as bênçãos e até ganharmos deles alguma oferta, isso em si nada tem de errado, mas o erro é fazer disso uma profissão material, não uma missão espiritual. Muitos nem têm palavras dadas por Deus para dizer, mas são só oradores carismáticos que usam repetidamente as mesmas passagens bíblicas, de preferência aquelas sobre fé e milagres físicos, para emocionarem as pessoas. Incontáveis foram as vezes que assisti pregadores usando as passagens da cura da mulher com o fluxo de sangue (Mateus 9.20) e a da ressurreição de Lázaro (João 11.43), que ótica limitada da Bíblia têm esses.
      Pastores, cumpram vossas chamadas, se é que de fato são legítimas, o alimento que receberam de Deus pode ser para um rebanho de cem almas como pode ser para um rebanho de cinco mil almas, isso não importa, como não importa a fama que pode ser só consequência de um ministério, mas que não deve ser critério para que um ministério seja avaliado como agradável a Deus. Saibam que a visão que vocês têm não precisa agradar a homens, nem ser igual a outras visões para que receba aprovação, basta que seja de fato visão de Deus e em Deus. Se Deus lhes dá uma visão é porque existem pessoas que precisam se abrigar nela, assim, sejam fontes de vida, não de vaidades. 

Leia na postagem de amanhã
a 2ª parte desta reflexão.

quarta-feira, dezembro 08, 2021

Na humildade não há humilhação

      “Porque assim diz o Senhor: Não entres na casa do luto, nem vás a lamentar, nem te compadeças deles; porque deste povo, diz o Senhor, retirei a minha paz, benignidade e misericórdia.Jeremias 16.5
Duríssima essa palavra, Senhor, tem misericórdia de nós.

      Havendo humildade não há humilhação, assim caminhemos sempre. O ser humano, em sua caminhada com Deus, pode ter vários momentos, o momento de alegria é o primeiro e deveria ser o único momento, nele provas são apresentadas e após um tempo, que Deus tem paciência em esperar por ser sempre amoroso, o ser humano é aprovado. Sim, existem quedas ocasionais, mas nada que desvie o homem do caminho melhor, machuque as pessoas de forma irremediável ou escandalize a fé que é professada. Feliz o homem que é maduro com o que recebe e grato pelo que não recebe, que não se aprofunda só no conhecimento do Deus que cuida na área material, mas no Deus que é Deus e a todos atrai às regiões espirituais mais altas. 
      O segundo momento é o momento de choro, e por esse passam os que teimam em desobedecer a Deus e por isso são exortados por ele. Veja que nesse momento já existe alguma disciplina, mas é quebrantamento para levar à humildade, e como pai, o Senhor é discreto para disciplinar seus amados filhos, procura fazer isso de maneira privada, sem expor alguém publicamente à vergonha. Discernir esse momento é primordial para seguirmos na bênção de Deus. Sim, meus queridos e minhas queridas, muitas vezes o Espírito Santo nos leva ao choro, e nesse momento o som do louvor, a alegria de cultos e celebrações, a confraternização gostosa das festas, isso deve parar e dar lugar à contrição, numa experiência individual e muitas vezes solitária. 
      O momento do choro passou, agora é momento de disciplina. O terceiro momento encontra o ser humano, que até pode ter sorrido quando podia, mas que não soube chorar quando devia. Precisamos constatar aqui um fato, não saber chorar não é só uma característica de muitos cristãos, mas do ser humano de nosso tempo de maneira geral. Esse quer comemorar, festejar, usufruir, aparentar sempre satisfação para sair-se bem nas fotos na internet, mas não quer se quebrantar, não quer chorar. Me refiro aqui a um choro que purifica, que quebra o errado para refazer o certo, que se coloca como barro nas mãos do oleiro, se esse choro é profundamente vivido o pior não acontece, que é a disciplina mais dura da vida real nas mãos do Deus todo-poderoso. 
      Temo que seja por esse terceiro momento que o Brasil esteja passando, e que muitos evangélicos brasileiros, não todos, estão começando a vivenciar, e creiam, o pior ainda não chegou. Não choraram quando deviam, ao contrário, cantaram e encheram templos, idolatraram aqueles que os alegrava em cultos, cantores e pregadores que disseram o que eles queriam ouvir. Finalmente uma grande maioria de evangélicos apoiou um governante, mitificou-o, colocou-o no lugar de Deus, enquanto a lucidez da ciência e o respeito às diferenças foram desprezados. Mas “eis que a mão do Senhor não está encolhida, para que não possa salvar, nem agravado o seu ouvido, para não poder ouvir” (Isaías 59.1), se houver humildade há saída, mas não sem dor.  

José Osório de Souza 
3/08/2021

terça-feira, dezembro 07, 2021

Confie no Deus que te trouxe até aqui

      “Eis que eu envio um anjo diante de ti, para que te guarde pelo caminho, e te leve ao lugar que te tenho preparado. Guarda-te diante dele, e ouve a sua voz, e não o provoques à ira; porque não perdoará a vossa rebeldia; porque o meu nome está nele. Mas se diligentemente ouvires a sua voz, e fizeres tudo o que eu disser, então serei inimigo dos teus inimigos, e adversário dos teus adversários.Êxodo 23.20-22

      Não desista, se Deus, não uma religião, não tua imaginação, não uma escolha egoísta tua, te trouxe até aqui, esse mesmo Deus te conduzirá até o final do caminho. Deus é fiel, não chama sem propósito ou para desistir no meio, nem prepara para não fazer bom uso, Deus é inteligente e econômico. Se você entregou tua vida e de teus próximos nas mãos do Senhor, se está obedecendo a ele, afastando-se do pecado e sendo misericordioso até com teus inimigos, Deus se agrada de ti. Assim, siga em frente, mantenha firme a fé, reta a confiança, pura a mente no Senhor, a obra que começou ele terminará. 
      Lembre-se, você é mais que uma pessoa com uma família buscando a proteção de Deus, é um instrumento da luz e da paz do Altíssimo no mundo. O que Deus faz em tua vida e por ela é para abençoar também a outras pessoas, de uma maneira que você não tem noção, e que só terá conhecimento pleno a respeito na eternidade. Dessa forma, não esmoreça, não duvide, não baseie-se no que teus olhos veem, mesmo nas condições externas do Brasil e do mundo. Deus é Senhor de tudo, nada escapa a seu controle, nada acontece sem que ele permita, e para os que o temem ele sempre tem o melhor. 
      Tua luta não é para tua vergonha ou por causa de tua fraqueza, aos que se aproximam do Senhor com humildade ele perdoa, o que espera pacientemente durante a disciplina do pai tem a sorte mudada. Deus não se vinga nem castiga os que o ouvem, assim, tua luta é para que você seja mais forte, mais livre, mais feliz e mais bênção. Dos fracos Deus não pede grandes provas, são os fortes que recebem dele grandes missões. Você é forte, não por confiar em si mesmo, mas por confiar só em Deus e na força do seu poder. Só obedeça e siga, tua vitória está próxima para a glória do Senhor! 
      A promessa que Deus fez à nação de Israel no texto bíblico inicial ele também faz a nós como indivíduos, ele nos dá um ou até mais anjos que nos conduzem e nos guardam, nossas existências não são dados jogados à sorte no universo, elas têm objetivo. Os humildes, que querem agradar a Deus, não aos homens, que querem valores interiores, não aparências vãs, entenderão o plano de Deus para suas vidas, o farão e estarão felizes com isso. Só tenha os cuidados melhores, os elevados e eternos, olhe para as coisas certas, invisíveis e espirituais, e confie no Deus que te trouxe até aqui são e salvo. 

segunda-feira, dezembro 06, 2021

Quando o espírito chora

      “Bem-aventurados os que choram, porque eles serão consoladosMateus 5.4

      Muitos dizem, “chorar faz bem”, mas não sei até que ponto isso é certo. Você já deve ter tido a experiência de chorar profundamente sobre alguma coisa e no final se sentir machucado, como se um pedaço teu fosse arrancado. Penso que uma coisa é o corpo chorar, outra coisa é o espírito chorar, obviamente havendo choro do espírito também pode chorar o corpo, mas como consequência de um choro espiritual. O espírito não chora lágrimas líquidas, chora a si mesmo, quando ele chora não é a face que é molhada, mas é ele mesmo que se solta, aquela parte sua que precisava sair. Por isso o choro mais profundo e verdadeiro nos deixa menores, mais humildes, mais espirituais, no final nos faz muito bem. 
      O corpo pode chorar sem que o espírito queira, isso coloca o corpo numa dura tarefa de tentar convencer o espírito que há uma necessidade urgente de quebrantamento. É por causa dessa resistência que sentimos dor, quanto mais resistente for o espírito, mais o corpo sofre, daí instalarem-se doenças, tanto físicas quanto emocionais. Mas também pode ocorrer o contrário, o espírito chorar, ainda que o corpo não expresse isso, contudo, como sempre ocorre com iniciativas espirituais, elas são mais educadas, principalmente se é choro de arrependimento que deseja mudança para melhor. Nesse choro, que não carece de exibição, o espírito é purgado, o mal sai, fica só o bem, há leveza, cura, e alegria no final. 
      Você já chorou tudo o que precisa chorar? Num processo de auto-conhecimento resultado das nossas verdades serem confrontadas com a verdade mais alta de Deus, quebrantamento é uma etapa muito importante, revelarmos a nós mesmos toda a fragilidade que contemos. Nisso culpas são administradas do jeito certo, com responsabilidade pessoal e sem vitimização. O choro dessa assunção agrada profundamente o coração de Deus, que como recompensa abre-nos muitas portas. Esse momento é o que mais define o novo nascimento espiritual mencionado em João 3.5, não tem jeito, a todo nascimento sucede o choro, onde nossas vias respiratórias são limpas para que respirem adequadamente, nesse caso, espiritualmente. 
      Não represe lágrimas, que elas subam do coração e deságuem nos olhos, mas que o coração seja impulsionado pelo espírito, numa comunhão íntima e positiva com Deus. Quando o espírito chora há vida, a morte se vai e não fica retida em nós para a eternidade, no céu não haverá lágrimas nem choro, mas no inferno haverá. Todo lágrima retida por orgulho será chorada em infernos, como lá não haverá corpo físico para converter tristeza em lágrimas, será o próprio espírito que será chorado, aos poucos, desaguando não líquidos, mas arrogância e incredulidade. Choremos aqui, onde há novas oportunidades para mudanças, para não termos que chorar lá, onde os juízos de Deus serão executados por muito tempo. 

domingo, dezembro 05, 2021

Amor escandaliza os falsos

      “E disse o Senhor: A quem, pois, compararei os homens desta geração, e a quem são semelhantes? São semelhantes aos meninos que, assentados nas praças, clamam uns aos outros, e dizem: Tocamo-vos flauta, e não dançastes; cantamo-vos lamentações, e não chorastes. Porque veio João o Batista, que não comia pão nem bebia vinho, e dizeis: Tem demônio; Veio o Filho do homem, que come e bebe, e dizeis: Eis aí um homem comilão e bebedor de vinho, amigo dos publicanos e pecadores. Mas a sabedoria é justificada por todos os seus filhos. Lucas 7.31-35

      O que mais escandalizava os líderes judeus do primeiro século era o amor de Jesus, diferente do conceito de amor que eles tinham, se é que eles de fato tinham algum amor. Será que há lugar para o amor quando a vaidade religiosa impera? Quando mostrar para os homens que se obedece a protocolos detalhados de costumes, regras e liturgias, é mais importante que exercer misericórdia com o pobre e amar o pecador? Muitos líderes judeus da época de Jesus eram só homens vaidosos, vaidade sempre nasce na insegurança de quem confia nas coisas erradas, no caso deles, em si mesmos e nas tradições, não em Deus e em seu maior representante, o Cristo. 
      Sempre me surpreende o fato da liderança religiosa judaica não ter reconhecido em Jesus o messias prometido, mas será que ela não reconheceu mesmo? Penso que reconheceu, só não teve coragem de assumir, e não teve coragem porque era arrogante demais, vaidosa demais, afinal, tudo que Jesus ensinava, vivia e representava punha em xeque o estilo de vida religioso dela, seu status quo, seu poder na sociedade. A mesmíssima coisa ocorre com a Igreja Católica e isso desde o seu nascimento no século IV, creio que sempre houve homens que perceberam a grande mentira que o catolicismo é, mas não tiveram coragem, até hoje, para desmascarar a farsa. 
      Mas no antigo testamento, parte da Bíblia judaica, não havia profecias sobre o Cristo? Sim. Por elas não se poderia reconhecer o filho do carpinteiro nazareno como o salvador prometido? Sim. Então, porque muitos líderes judeus não reconheceram? Respondo essa pergunta com outra pergunta: não existem na Bíblia, que os cristãos veneram tanto, indicações de que a espiritualidade vai além dos dogmas católicos e da doutrina da reforma? Sim. Mas os cristãos entendem, aceitam, praticam isso? Não. Preferem a comodidade da interpretação tradicional que seus teólogos e líderes fazem da Bíblia, afinal, nisso eles têm a proteção das instituições contra superstições. 
      No texto inicial o escritor alia a Jesus uma fala poética, “tocamo-vos flauta e não dançastes, cantamo-vos lamentações e não chorastes”. Esse ditado, que devia ser popular naquela época, fala sobre insatisfação, de quem não se agrada com quem faz rir nem com quem faz chorar, ou que não crê nem em boas e nem em más notícias. João Batista e Jesus, apesar de serem mensageiros da mesma mensagem vinda da mesma origem, tinham estilos diferentes porque vinham em momentos distintos. Um profetizava e preparava, o outro entregava e ensinava a cumprir, o que João predisse ocorreu em Jesus, um era profeta, o outro a própria profecia encarnada no mundo.  
      O arrogante não admite verdade que não seja a sua, e que verdade é mais contundente que o amor? “sabedoria é justificada por todos os seus filhos”, em outras palavras, pelos frutos se é reconhecido, talvez não importe ter o estilo de João ou o de Jesus, mas haver verdade de Deus e essa sempre cumpre seu objetivo de dar bons frutos. Se o fruto de João nos corações dos homens era o quebrantamento que vinha pela aceitação da justiça de Deus, o de Jesus era esse coração quebrantado experimentar o amor de Deus. Muitos não aceitavam o ministério de Jesus porque não admitiam a simplicidade e a eficiência do amor que vai além de aparências religiosas. 
      Deus nunca tem o objetivo de fundar uma religião, não como instituição poderosa e material no mundo. Um Deus espiritual tem no Espírito Santo seu representante, bastaria o homem com essa experiência espiritual compartilhá-la, com obras e palavras, Deus é vivo e não precisa do auxílio de aparências para agir. Contudo, Deus é principalmente amor e Jesus foi e sempre será a encarnação mais perfeita desse amor, estudando seu exemplo de vida e seus ensinos, conhecemos esse amor, praticando-o conhecemos a Deus. Mas que homem resiste à vaidade? A Lei de Moisés não resistiu, foi assim com o cristianismo da igreja primitiva, só o Espírito Santo resiste à vaidade. 
      O falso sempre verá uns como endemoniados, outros como loucos e outros como devassos. Muitas religiões são tidas por muitos cristãos como crenças em demônios, outras como ideias de malucos e ainda outras como antros para esconder devassidões, só veem santidade é verdade em seus próprios umbigos. Meus queridos e minhas queridas, a eternidade surpreenderá a muitos, e muito mais a quem viveu, ainda que com aparência religiosa, sem amor, o que torna o homem sábio não é conhecimento intelectual ou teológico, mas amor. O amor não tem medo de dizer verdades, como dizia João Batista, mas também não teme ser amigo de pecadores, como foi Jesus.  
      Não é que não existam endemoniados, loucos e devassos, existem, e às pencas, mas a eles não nos cabe julgar, só ajudar. Infelizmente, como fizeram os líderes judeus da época de Jesus, muitos cristãos estão mais ocupados em mandar alguns para o inferno e eles para céu, que em viver o amor. Pode-se argumentar, “se não falarmos sobre inferno as pessoas não saberão que suas escolhas têm consequências”, mas será que no século XXI medo do inferno e do diabo são argumentos eficientes para convencer as pessoas? Não são, a maioria ri dessas crenças, mas poucos desdenharão do amor, principalmente num momento quando injustiças e preconceitos têm sido trazidos à luz. 

sábado, dezembro 04, 2021

Se não é bom pra você, não dê aos outros

       “Portanto, tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-lho também vós, porque esta é a lei e os profetas.” Mateus 7.12

     “Ouvistes que foi dito: Olho por olho, e dente por dente. Eu, porém, vos digo que não resistais ao mal; mas, se qualquer te bater na face direita, oferece-lhe também a outra; e, ao que quiser pleitear contigo, e tirar-te a túnica, larga-lhe também a capa; e, se qualquer te obrigar a caminhar uma milha, vai com ele duas.Mateus 5.38-41

      Muitas religiões e textos sagrados orientam o homem sobre santidade e busca do divino, muitos religiosos não cristãos têm uma vida de privações de prazeres do corpo e dedicação a uma existência isolada da sociedade e focada na espiritualidade, que muitos cristãos não só não têm noção que existe, como demonizam por acharem que esses creem num Deus diferente do deles. Contudo, o evangelho de Jesus é único em orientar o homem a viver com o homem com amor e justiça, não isolando o homem do mundo, nem incentivando-o a mudar o mundo, mas só a ter uma vida pessoal realmente humilde e espiritual, interagindo com a realidade. 
      O evangelho é basicamente um protocolo de vida social, mais que de consagração pessoal, isso diz muito sobre a vontade mais alta de Deus para o homem. Contudo, isso não significa que prioriza vida social sobre vida privada, mas que ensina que só existe vida pessoal espiritual quando se vive para servir os outros. Se santidade é ênfase no hinduísmo, se serenidade é ênfase no budismo, amor é a bandeira mais alta do verdadeiro cristianismo. Para aprender sobre o amor e praticá-lo é preciso estar perto das pessoas, não longe, interagir com elas, ser cúmplice delas, mas tem mais, o principal desafio do amor não é amar quem nos ama, mas quem não nos ama.
      Amor, um tema que nunca é demais refletir a respeito, não pense que Deus nos fortalece, nos supre seja física, emocional ou espiritualmente, para que tenhamos dinheiro para comprar casa, carro, celular, boa comida e boas roupas. Isso tudo Deus dá, mas como consequência. Deus nos capacita para amarmos os outros, essa é a missão principal de todos os seres humanos, não só no plano físico como também no espiritual. Por outro lado, se você tiver tudo na vida, mas não amar, será inútil, por isso tantos procurando sentido em sonhos pessoais e aprovação dos outros não são felizes e nunca têm prazer suficiente, ainda que achem justas e legítimas suas causas. 

      Como sempre alerto aqui quando falo sobre amor e pagar preços, Deus não quer que ninguém suporte relação abusiva principalmente em casamento e em relacionamentos afetivo mais próximos. Algumas pessoas não devemos nem tentar amar, e muitos menos perder tempo odiando, dessas devemos só nos distanciarmos o máximo que pudermos. O amor que paga preços que me refiro, está dentro de limites, e principalmente tem autorização de Deus, que sempre nos protege do mal e não nos chama para missões impossíveis. Se sentir que uma pessoa estão te desafiando a amá-la, ore antes a Deus e pergunte qual a sua vontade, mas nada é desculpa para sofrermos violência, tenhamos cuidado. 

      Se a vontade do Senhor for você amar alguém de maneira diferenciada, alguém que deixou claro que não quer te amar, poderá não ser fácil, nem rápido, mas Deus te capacitará para isso, e creia, você será feliz e forte nessa missão. O grande desafio que temos nessa situação é não darmos ao outro aquilo que ele nos dá, mas se aquilo que ele nos dá não é bom para nós, não devemos querer dar a mesma coisa para ele. Se não é bom para mim, não devo dar aos outros. Se a lei da antiga aliança for seguida, quem não ama tem o direito de não receber amor, mas o evangelho diz o contrário, dar a alguém o que esse não merece quando é o melhor que nós merecemos. 
      Temos duas bênçãos nessa situação, uma é beneficiar alguém, já que quando amamos oramos por alguém, desejamos tudo de bom para ele, a outra é vitória sobre sentimentos nossos de rancor e de revolta. Esses sentimentos devem ser vencidos porque apesar de serem legítimos, refletem a injustiça de alguém não gostar de nós sem motivo, e podem ser usados para nos prender ao mal. O que vence o mal? O amor, outra coisa não pode nos dar forças para convivermos com a escolha de alguém não nos amar, amar é dar ao outro até o direito de não nos amar. Essa missão pode parecer difícil, mas no momento que você vencer sua dor Deus poderá dispensá-lo dela. 
      Não que Deus te exima de amar alguém, mas quando amar não for peso evidenciará que você aprendeu a amar, e amar não pesa, não amarra, não oprime, mas nos torna leves para subirmos para o Altíssimo. Algumas pessoas nos fazem mal e nem têm noção disso, e podem ainda achar que dão para nós mais até que o que damos a elas, essas são as que mais necessitam de amor paciente e silencioso, um amor espiritual, muito mais que emocional. Aprendamos a dar aos outros o que mais queremos receber, respeito, paciência, oração, ouvidos, perdão, novas chances, enfim, todas as maravilhosas facetas da mais poderosa e mais eterna das virtudes, o amor. 

sexta-feira, dezembro 03, 2021

A verdade é linda

      “Examina-me, Senhor, e prova-me; esquadrinha os meus rins e o meu coração. Porque a tua benignidade está diante dos meus olhos; e tenho andado na tua verdade.Salmos 26.2-3

     Cabelos brancos são consequências naturais da idade, assim como cicatrizes são feridas fechadas e curadas. Esteticamente, cabelos brancos e cicatrizes podem não representar perfeição física, mas representam as verdades de nossas jornadas no mundo, negar os efeitos esconderá as causas, assim como o processo entre eles. O processo entre a causa e o efeito, entre a ferida e a cicatriz, entre os cabelos de cores originais e os alvos, são nossos tempos de vida aqui, aquisições de experiências e de curas no mundo. Num momento de nossas existências eternas onde estamos presos a tempo, espaço e matéria, marcas e envelhecimentos são inexoráveis, nossos corpos físicos são nossos históricos, nossos curriculum vitae.
      Contudo, cabelos brancos e cicatrizes são mais que defeitos adquiridos, são heranças que levaremos de coisas que nos transformaram, seja para melhor, seja para pior. Podíamos até ser mais perfeitos antes dos cabelos brancos, das cicatrizes, das rugas, do olhar contemplativo que procura dentro de si pelo que viveu antes de falar e agir, mas com certeza éramos inferiores. Viver tem um preço, sempre chegamos ao final diferentes, não tão perfeitinhos, mas verdadeiros. Verdade é refletir em nossos corpos físicos o que são nossos espíritos, nem todas as verdade são boas, nem todo espírito, escondido lá dentro de nós, consegue evoluir neste mundo, ser curado, amadurecer, mas só levaremos à eternidade as verdades.
      O ser humano sempre gostou da mentira, ninguém se iluda sobre isso, ele sempre gostou de esconder pecados em aparências moralistas, de sepultar grandes erros com semblantes tranquilos que dizem, “está tudo bem, nada aconteceu, não me arrendo”,  de compensar inseguranças e carências com perfis públicos de prosperidade e segurança. Mas no tempo atual de internet, dispositivos móveis e redes sociais, a mentira se sofisticou e virou estilo de vida da grande maioria. Somos de fato o que postamos no Instagram, o que comentamos no Facebook, o que curtimos no Youtube, o que seguimos no Twitter, o que compartilhamos no Whatsapp? Ou tudo isso é só o que queremos que as pessoas pensem que somos, portanto, mentiras?  
      As pessoas não entendem que há beleza na verdade, ela reflete nossa permissão para que a luz mais alta nos atravesse. Existe verdade ruim? Sim, mas é mais difícil, só os loucos e criminosos têm essa verdade, os sãos sentem culpa e vergonha, assim, se não permitirem que a luz de Deus brilhe neles e revele suas verdades, eles usarão de mentiras para tentar esconder suas verdades. No mundo podemos fazer isso, mas na eternidade, não, lá seremos expostos à luz do Altíssimo, todas as nossos intenções serão exibidas e assim seremos avaliados. A luz de Deus emana sobre o homem que se permitir que ela o tome por inteiro terá as mentiras purgadas e as verdades mostradas, verdadeiro ele será atraído para a melhor eternidade de Deus. 
      Muitas pessoas estão feias atualmente, ainda que através de filtros nas fotos, que debaixo de regimes alimentares, exercícios físicos, cirurgias plásticas e embelezamento em clínicas e salões de beleza. Elas tentam negar as marcas do tempo no que mostram em redes sociais, escondem suas limitações emocionais, todas querem ser jovens e super heróis sempre, seus corpos não refletem seus espíritos, seus corpos mentem. A beleza maior é moral, a verdade mais linda é eterna, a luz mais alta é de Deus, não dos iluminadores de led para selfies e vídeos, ter vergonha da própria verdade ou é falta de cura ou de confiança em Deus, que nos trata e nos dá a alegria de sermos verdadeiros, ainda que com cicatrizes e cabelos alvos. 

quinta-feira, dezembro 02, 2021

Vitória até o fim

      “Porque necessitais de paciência, para que, depois de haverdes feito a vontade de Deus, possais alcançar a promessa. Porque ainda um pouquinho de tempo, e o que há de vir virá, e não tardará. Mas o justo viverá da fé; e, se ele recuar, a minha alma não tem prazer nele.Hebreus 10.36-38

      Na ginástica olímpica duas coisas são importantes em várias provas, os movimentos que são feitos no ar e a chegada ao chão. Muitos se lançam bem ao ar, fazem peripécias extraordinárias por lá, mas quando tocam o chão perdem o controle e colocam tudo a perder. Vemos nas olimpíadas vários atletas cometerem esse erro, muitos, por serem suas últimas oportunidades de vitória, arriscam movimentos aéreos mais ousados, mas por não estarem totalmente preparados, ou focados naquele momento, encerraram a prova derrotados. Podemos tirar lições espirituais dessas provas atléticas. 
      A primeira lição é que nossa avaliação só ocorrerá no final, na eternidade, assim por mais que façamos aqui se não persistirmos no bem até o final não obteremos vitória. As provações que temos no mundo existem para que possamos anexar virtudes ao nosso espírito, e esse, enquanto encarnado, só retém virtudes após persistente trabalho moral aqui. As fraquezas do corpo, as limitações que temos para segurar as virtudes mais altas, são permitidas por Deus para que nosso espírito cresça e amadureça, mas o que de fato crescemos e amadurecemos só saberemos com toda certeza na eternidade. 
      A segunda lição é um alerta, tomemos cuidado, não façamos o que não estamos preparados para fazer, e os que mais podem incorrer nesse erro, não são os principiantes, mas os experientes. Esses, por excesso de confiança, podem tentar fazer “peripécias” para as quais não estão preparados e nem lhes são pedidas por Deus, essas “peripécias” ocorrem bastante em empreendimentos arriscados no mundo. Muitos pastores, depois de trabalharem por anos com sinceridade na obra, se acham no direito de colher aqui prosperidade material, isso pode levá-los a envolverem-se em negócios escusos. 
      Todos somos tentados pela vaidade, e há vaidade até no desejo de ser espiritual e no querer fazer o bem, ainda que a princípio não haja nisso segundas intenções. Às vezes pode ser melhor fazermos menos, mesmo coisas boas, o bem só é bem quando for obediência à palavra de Deus, e essa palavra até pode ser “não faça nada nessa situação, não se envolva nisso”. “Melhor é o pouco com justiça, do que a abundância de bens com injustiça” (Provérbios 16.8), entenda como bens qualquer coisa aparentemente benigna. Sigamos corretos até o fim, não sucumbamos às várias facetas da vaidade. 

quarta-feira, dezembro 01, 2021

Um passo por vez

      “Rogamo-vos, também, irmãos, que admoesteis os desordeiros, consoleis os de pouco ânimo, sustenteis os fracos, e sejais pacientes para com todos.I Tessalonicenses 5.14

      Sabe como chegamos a pé a um lugar distante? Dando um passo de cada vez, se cada passo for dado de maneira adequada teremos forças para chegar ao final, ainda que demorando algum tempo. Contudo, se formos dominados pela ansiedade, poderemos correr demais ou perder o foco e desistirmos no meio, ou até, achando a jornada difícil demais, nem iniciando-a. Viver a vida um passo de cada vez permite que nos conheçamos aos poucos, firmando os pés e só então dando a próxima passada. Se pensarmos no tamanho do caminho e nos homens, e não em Deus, nos acharemos fracos. 
      Interessante que o que faz com que nos sintamos menos capazes não é a consciência real que temos de nós, mas a equivocada que temos dos outros, o problema está na comparação que considera os homens como referências. Olhar para os homens e não para Deus são coisas relacionadas, se uma ocorre a outra também ocorre, quando olhamos para os homens os colocamos no lugar de Deus. Se isso acontece passamos a “caminhar” para agradar a eles, não para alcançar o final que nos é proposto por Deus. Só o Deus do caminho pode capacitar o homem para caminhar e até o fim.
      Quando oramos a Deus com todo o coração, o Senhor nos mostra o que devemos fazer de forma clara, contudo, pior que não saber é saber e não administrar isso corretamente. Se Deus pede ele capacita, mas façamos o que ele pede com calma, nem o propósito sério e maior legitimiza pressa, estupidez, falta de amor, destrato, doenças emocionais e físicas que podemos nos infringir pela ansiedade. Um passo de cada vez, devagar e sempre, a vida não é numa prova de velocidade, mas de resistência, e o que deve resistir são os valores morais mais altos que glorificam ao Altíssimo Deus em nós.