sexta-feira, maio 27, 2022

Se não for algo espiritual, não diga

      “E procurai a paz da cidade, para onde vos fiz transportar em cativeiro, e orai por ela ao Senhor; porque na sua paz vós tereis paz. Porque assim diz o Senhor dos Exércitos, o Deus de Israel: Não vos enganem os vossos profetas que estão no meio de vós, nem os vossos adivinhos, nem deis ouvidos aos vossos sonhos, que sonhais; Porque eles vos profetizam falsamente em meu nome; não os enviei, diz o Senhor. Porque assim diz o Senhor: certamente que passados setenta anos em Babilônia, vos visitarei, e cumprirei sobre vós a minha boa palavra, tornando a trazer-vos a este lugar.Jeremias 29.7-10

      Se não há um jeito espiritual de se dizer algo é porque não é para ser dito. Para ser espiritual não basta ser verdade ou dizer com convicção, deve ser manifestado com amor e em santidade. Muitas vezes não conseguimos achar amor para dizer algo, ou não mantemos a santidade quando dizemos, e pode nem ser por estarmos em pecado, mas por estarmos ultrapassando limites e desobedecendo a Deus, ainda que tenhamos algo útil a dizer. Pode ser melhor só orarmos a Deus e intercedermos por alguém, vigiando em amor e santidade, que fazer justiça com as próprias mãos sem amor e perdendo a paz. 
     Antes de tentarmos acertar os outros devemos nos acertar, quando estamos certos diante de Deus somos espirituais e na verdadeira espiritualidade há amor e santidade reais. Contudo, alguns de nós têm chamadas específicas ou são confrontados com pessoas específicas, e nisso não somos chamados para sair atirando verdades nas caras dos outros, mas para orarmos pelos outros, em contrição, humildade e muito amor. Essa é uma chamada poderosa e necessária, ainda que invisível aos olhos de homens, que só honram aquilo que veem. O que trabalha com discrição é abençoado pelo Deus invisível.
      A passagem inicial de Jeremias é uma orientação que Deus dá a um povo que terá que passar por setenta anos de disciplina, situação que não será mudada por nada. Contudo, ainda nessa situação inexorável o povo podia ser feliz e devia orar, ao invés de cair numa disposição depressiva que desiste da vida diante do opressor implacável. Por quem deveria interceder? Pelo opressor. Num mundo atual onde as pessoas não querem pagar preços, não querem sofrer e acham que fé em heresias pode livra-las de toda dor, essa orientação pode não ser entendida por muitos que se dizem cristãos. 
      Eis uma situação onde a verdade não pode ser dita porque quem pode dizê-la está numa posição ilegítima, o povo de Deus sendo escravo de um povo que não teme a Deus. Ainda que seja nação escolhida, Israel não deveria ter qualquer disposição altiva, deveria aprender, agora a duras penas, o caminho da humildade. É mais útil para nós hoje tirarmos uma lição dessa passagem interpretando o cativeiro não como uma fase da vida, mas como toda nossa existência neste mundo, vendo assim entendemos que nascemos em cativeiro e seguiremos cativos até a morte. Cativos de homens? Não, de nós mesmos.
      Se vermos a vida assim entenderemos como podemos ser espirituais, desfrutar de amor e santidade, e como devemos manifestar essa espiritualidade, com humildade e esperando aprovação só de Deus. Se não for espiritual, não diga, o silêncio cabe aos cativos, não do pecado e dos vícios, mas do corpo material, os que assim se colocam são libertos no espírito e como tais têm privilégios espirituais. Não tentemos ganhar e manter glórias neste mundo, isso é uma ilusão, não queiramos dar a última palavra nem prevalecermos sobre os homens de alguma maneira, vivamos para Deus, calando e orando. 
      Quem tiver alguma lucidez perceberá que a orientação desta reflexão vai contra a ordem que impera no mundo atual, que é: diga o que pensa, sem medo e a todos, imponha seus direitos, “conhecereis a verdade e a verdade vos libertará e neste mundo” (dói meu coração ver essa palavra de Jesus sendo tão mal usada). Ah, meus queridos, este mundo sempre será um cativeiro e só conquista a liberdade maior quem entende e assume isso, quem se prepara para a existência na melhor eternidade com Deus, onde poderemos ser espirituais e dizer, com todo amor e na mais alta santidade, coisas hoje inefáveis.

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