quarta-feira, junho 01, 2022

Para que vingança se há culpa?

      “Não vos vingueis a vós mesmos, amados, mas dai lugar à ira, porque está escrito: Minha é a vingança; eu recompensarei, diz o Senhor.Romanos 12.19

      Para que se vingarem de nós, quando temos que viver com culpa por nosso erros? Perdemos tempo e energia tentando destruir quem nos machuca, seja a ferida por causa de injustiça alheia ou devido a nossos melindres. Vingança é homicídio, ainda que fique só dentro de nós, é mais que dar o troco, é querer aniquilar quem nos feriu, a desejamos quando só achamos que ela pode aplacar nossas dores. Contudo, ainda que ela anule quem nos atacou, não anulará nossa tendência de vingança, essa seguirá conosco, tornando-nos violentos, rancorosos, instrumentos destrutivos.
      Quem acha na vingança um meio de resolver problemas não se atenta a algo básico, a culpa, que fica na alma de quem comete violência e injustiça, ela é a vingança natural que o universo usa. Culpa independe do outro, mesmo de dor que se causou a outro, pode nem depender de um mal real feito, visto que muitos se sentem culpados sem terem feito algo numa determinada situação, podem só terem culpas acumuladas. Mas mesmo na intenção da vingança, que quer que o outro sofra como fez sofrer, que dor é maior: a de um momento de vingança ou a de alguém ter que viver com culpa? 
      Pode-se argumentar, “quem me magoou nem se deu conta disso, não sofre pelo que me fez, vive como se nada tivesse feito, merece sofrer e já”. Engana-se quem pensa assim, muitos podem até não aparentar a dor da culpa, mas colherão o fruto do que fizeram, e quando isso acontecer a cobrança será muito mais adequada que qualquer vingança. Mas desejo de vingança revela dois problemas, o problema do outro, que pode ter feito algo errado contra nós, e o problema nosso, que temos uma mágoa não curada. A cobrança, por vingança ou não, resolve o problema do outro, não o nosso. 
      O nosso problema só é resolvido com perdão em amor, e isso não é passar a mão na cabeça do errado, não é não ser justo, é “anular” de fato o outro, não sua pessoa, mas o mal que ele criou e manifestou contra nós. Nossa “vingança”, e desculpe-me por usar esse termo, deve ser contra o mal, não contra o malvado. Quem mata o malvado deixa viver o mal dentro de si, e na verdade não resolve problema algum. Mesmo morto o outro, o mal ainda terá prevalecido, então, de vítima o vingador passará a agressor, suscitando vingança de terceiros e mantendo vivo o mal em seu interior. 
      Anular o desejo de vingança também nos livra do equívoco de estarmos feridos por vitimismo nosso, não porque de fato alguém fez um mal contra nós. Muitas vezes ficamos magoados com pessoas que nem sabem que existimos, que nem tiveram intenção de nos fazer mal, e podemos estar feridos só por nos sentirmos desprezados. Contudo, que culpa tem alguém de não nos conhecer? Que culpa tem alguém de sermos recalcados e inseguros? Querermos nos vingar de alguém por simplesmente ser quem é e por isso nos causar inveja, é um mal dobrado que causamos a nós mesmos. 
      Nos curemos antes de querermos curar os outros, nos resolvamos antes de tentarmos achar no outro a culpa de problema que é só nosso, anulemos o mal dentro de nós e não seremos feridos por qualquer coisa e nem desejaremos vingança. O problema do outro é do outro, não nosso, mas se mantemos desejo de vingança o problema do outro passa a ser nosso, e o mal consegue seu intento, continuar vivo e ativo. O mal é como vírus, existe dentro de hospedeiro, Deus não produz o mal, esse foi gerado por seres, humanos e espirituais, acabar com ele depende do livre arbítrio nosso.
      Jesus foi o exemplo de quem de fato merecia vingança, porque ele sofreu sem ter merecido, mas nesse caso não só seu sofrimento como homem teve uma utilização alta e poderosa nas mãos de Deus, a salvação de todos nós, como mereceu reação de Deus, não contra Iscariotes ou os líderes religiosos judeus, mas contra o mal em si, geral e presente em toda a humanidade. A lei colhe-se o que se planta foi exercida em toda a sua abrangência, de maneira singular para todos os seres humanos, mas só porque Cristo não se vingou e agiu do jeito certo, amou, perdoou e esperou Deus reagir. 

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