sábado, novembro 12, 2022

Me tem feito muito bem

      “Até quando te esquecerás de mim, Senhor? Para sempre? Até quando esconderás de mim o teu rosto? Até quando consultarei com a minha alma, tendo tristeza no meu coração cada dia? Até quando se exaltará sobre mim o meu inimigo?
      Atende-me, ouve-me, ó Senhor meu Deus; ilumina os meus olhos para que eu não adormeça na morte; para que o meu inimigo não diga: Prevaleci contra ele; e os meus adversários não se alegrem, vindo eu a vacilar.
      Mas eu confio na tua benignidade; na tua salvação se alegrará o meu coração. Cantarei ao Senhor, porquanto me tem feito muito bem.
Salmos 13

      Quem procurar em muitos dos salmos por ensinos claramente positivos e de incentivo emocional, terá dificuldades, achará em alguns versículos declarações pessimistas e incrédulas, só em outros achará o que a maioria espera da Bíblia, testemunhos otimistas e crentes. Isso ocorre porque uma das principais características dos salmos, muitos deles composições de Davi, e o termo composição aplica-se porque originalmente são poesia, não prosa, letras para músicas, é serem desabafos intensos. As emoções do escritor vão sendo expressadas aos poucos e com muita honestidade. 
      Quem de nós não inicia muitas vezes uma oração totalmente desorientado, agoniado, amedrontado, descrente mesmo de Deus, achando que o Senhor nos deixou sozinhos, à própria sorte diante de tantos que se colocam como nossos inimigos? Não era diferente com Davi, que como o artista do quilate que era, tinha a sinceridade corajosa de dizer o que sentia a Deus e de compartilhar isso com outras pessoas, em composições que fazia para uso público. Que diferença da atitude de muitos de nós, que hipocritamente só queremos mostrar em público imagens satisfeitas e resolvidas. 
      Muitos cristãos fazem hoje a distinção, ao meu ver desnecessária, entre música secular e música religiosa. É certo que muito do que se autodenomina música hoje em dia não é arte, nem expressão emocional honesta, é só “canto de acasalamento” grosseiro e vulgar. Mas existe muita música, chamada secular, boa, com uso correto da língua, com harmonias e melodias ricas, mas principalmente, descrevendo experiências emocionais, sociais, afetivas, sinceras e reais. Pois bem, essa boa música secular pode se encaixar em muitos salmos, pelo menos nas primeiras partes deles. 
      O salmo 13 é um bom exemplo da oração gradativa tão presente em Salmos, que parece que começa com alguém no fundo de um escuro poço e depois encerra no mais alto céu. Nos versículos 1 e 2 Davi declara medo por achar que Deus se esqueceu e fugiu dele, e por isso não consegue mais achá-lo, Davi diz que está muito triste e que está derrotado e humilhado por seus inimigos. Essa é a descrição de alguém sendo disciplinado por Deus, não porque o Senhor o puna, mas porque Deus se afasta dele. Mas será que Deus se afasta de alguém em algum momento?
      Não, somos nós, homens, que nos afastamos do Senhor. Contudo, a declaração de Davi assumindo sua dor, sua verdade interior, abrindo suas entranhas e expondo a Deus, sem meias palavras, é só o primeiro passo de sua busca ao Altíssimo. Nos versículos 3 e 4 Davi já começa a se levantar, depois de se mostrar ele pede a Deus que se mostre a ele, agora a incredulidade começa dar lugar à fé. Atende-me, ilumina meus olhos para que eu não adormeça na morte, para que meus adversários não se alegrem, vindo eu a vacilar, nisso Davi reconhece sua situação, mas clama que Deus o ajude. 
      Nos versículos 5 e 6 um Davi diferente, daquele do início do salmo, se apresenta, ele diz confio na tua benignidade, na tua salvação se alegrará meu coração, ele já contempla a alegria rertornando. Meus queridos, as palavras são limitadas, lentas, não acompanham a ação do Espírito Santo, e creia, enquanto Davi fala Deus age. O que permitiu isso não foram as palavras em si, mas a atitude interior de Davi, de humildade e fé. Cantarei ao Senhor, porquanto me tem feito muito bem, encerra assim o compositor seu salmo, como se a felicidade fosse coisa que já acontecesse há tempos.
      A oração verdadeira transporta-nos no tempo, do passado de morte sem fim para um presente eterno de vitória, quando o Espírito Santo nos eleva, o pior pesadelo parece nada, a luz do Senhor nos acorda para as maravilhas do plano espiritual. Inimigos? Não temos inimigos, só opositores tolos, perdidos em seus próprios pesadelos, batendo cabeças, nada poderão fazer contra nós porque estamos na luz de Deus e eles não se sentem confortáveis na luz. Mas a frase final nos revela outro segredo da vitória espiritual, o louvor, quem adora se protege de medos e de tentações, santifica-se e cresce. 

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