quarta-feira, novembro 30, 2022

Aprendemos com o tempo? (3/3)

       “E aquele dia era sábado. 
      Então os judeus disseram àquele que tinha sido curado: É sábado, não te é lícito levar o leito. Ele respondeu-lhes: Aquele que me curou, ele próprio disse: Toma o teu leito, e anda. Perguntaram-lhe, pois: Quem é o homem que te disse: Toma o teu leito, e anda? E o que fora curado não sabia quem era; porque Jesus se havia retirado, em razão de naquele lugar haver grande multidão. 
      Depois Jesus encontrou-o no templo, e disse-lhe: Eis que já estás são; não peques mais, para que não te suceda alguma coisa pior. E aquele homem foi, e anunciou aos judeus que Jesus era o que o curara. E por esta causa os judeus perseguiram a Jesus, e procuravam matá-lo, porque fazia estas coisas no sábado.” 
João 5.9b-16

      A estupidez humana procura desculpas estúpidas para exercer inveja, insegurança e ódio. Isso, contudo, toma proporções ainda mais estúpidas, quando envolve o meio social religioso, um ambiente que deveria ter como fundamento amor e verdade, principalmente em se tratando de religiões cristãs. Uma orientação de Moisés que tinha como objetivo permitir um dia diferente na semana, onde se pudesse descansar fisicamente assim como se dedicar mais à religião, se transformou nas cabeças de homens hipócritas, arrogantes e vaidosos, numa proibição ao amor e ao poder de Deus. 
      Como assim, porque era sábado, alguém que sofria há trinta e oito anos não poderia receber uma cura de Deus? Mas talvez o caso nem fosse impedir Deus de abençoar alguém, mas impedir Jesus de aparecer na sociedade como praticante de uma religião muito mais verdadeira que a de muitos líderes religiosos judeus. A inveja é astuta, usa de todos os sortilégios para agir e não se revelar, nas trevas, com falsidades e manipulações. Mas o que nos chama a atenção no texto bíblico inicial não é só o orgulho ferido dos líderes religiosos, mas uma atitude um pouco sem noção do homem curado. 
      O homem nem sabia quem o havia curado, por um lado isso é  explicável. Jesus, em sua espiritualidade elegante e discreta sabedoria, evitava a fama que seus milagres lhe davam, e que tantos hoje procuram ter para encherem templos e terem igrejas financeiramente ricas. Jesus sabia que sua missão principal se realizava em duas partes, dando o exemplo da vida santa e humilde no mundo que Deus pede de todos nós, e se oferecendo em sacrifício de morte. Uma coisa não poderia limitar ou adiantar a outra, assim, ainda que por amor fosse levado a ajudar a muitos, não podia se arriscar demais. 
      Jesus teve outro encontro com o homem, onde o exortou, eis que já estás são, não peques mais, agora o homem sabia quem o tinha curado, não mais podia alegar ignorância. Interessante a frase para que não te suceda alguma coisa pior, ensina que libertação não é para sempre, se não tomarmos jeito na área moral e espiritual o corpo pode voltar a sofrer. Ainda assim após exortado o homem foi e anunciou aos judeus que Jesus era o que o curara, por esta causa os judeus perseguiram a Jesus. Não podemos culpar o homem pela perseguição a Jesus, mas podemos aprender com essa possibilidade. 
      A impressão que nos dá é que ainda que o homem tenha tido fé em Jesus para ser curado, não se livrou da visão equivocada inicial, aquela que procurava poder de cura na água, no anjo e no homem. Será que o homem entendeu quem era Jesus? Ou só o viu como alguém poderoso neste mundo? Não teve sensibilidade espiritual para respeitar a missão do Cristo, não teve forças para vencer a vaidade de divulgar seu milagre, seguiu sem noção. Será que esse homem, que já tinha passado trinta e oito anos sofrendo, não voltou a sofrer com o mesmo mal? Nisso podemos entender porque sofreu tanto.  
      Deus é justo, sabe de tudo, não nos apressemos em julgar o sofrimento, o tratamento, a provação aos nossos olhos tão demorada de alguém. Muitos, em cadeiras de rodas, são seres humanos melhores que se não fossem cadeirantes, muitos com um olho só, são mais espirituais que se tivessem dois olhos sãos. Trinta e oito anos de sofrimento parece muito tempo? Mas Deus trabalha o tempo todo, inclusive aos sábados, nada acontece sem propósito, enquanto neste mundo nossas vidas são canteiro de obra aberto vinte e quatro horas para trabalho, de nós em nós mesmos e de Deus em todos. 

Leia nas postagens anteriores as
outras duas partes desta reflexão
José Osório de Souza, 25/11/2021

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