Em
minha opinião, no temor que eu tenho de Deus, na proporção de minha fé e na
experiência que tenho em minha caminhada com Jesus, acredito que a Bíblia deva
ser interpretada, sim, considerando-se muitas orientações em relação ao tempo, à
cultura, ao contexto histórico que foram registradas. Obedecer a Bíblia de
maneira cega, sem levar tudo isso em consideração, e principalmente sem buscar
em oração a vontade de Deus, é afastar-se da comunhão do pai e colocar-se debaixo
de legalismos heréticos. Pensando assim quando lemos o texto como o abaixo,
entendemos que para uma sociedade como a de Israel, que tinha sua prosperidade
baseada em conquistas militares, em guerras, e tinha sua integridade religiosa
mantida através de uma total separação dos costumes dos outros povos, era
relevante que os inimigos e rebeldes fossem mortos no fio da espada.
“Moisés indignou-se contra os oficiais do
exército, chefes dos milhares e chefes das centenas, que vinham da guerra, e
lhes disse: Deixastes viver todas as mulheres? Estas mulheres foram as que, por
conselho de Balaão, fizeram que os israelitas pecassem contra o SENHOR no caso
de Peor, o que causou a praga na comunidade do SENHOR. Agora matai todos os
meninos entre as crianças e também todas as mulheres que conheceram um homem na
intimidade, deitando-se com ele. Mas preservareis vivas para vós todas as
meninas que não conheceram homem, deitando-se com ele.”
Números 31.14-18
Isso
não é a vontade de Deus para seus filhos, debaixo do novo testamento, ligados a
ele através de Jesus. Hoje a separação não é física, não em primeira instância,
mas espiritual e emocional. É claro que como consequência, os filhos de Deus
procuram fazer suas alianças, de negócio e de afeto, com semelhantes. Por
favor, entenda que o amor e o respeito devem ser compartilhado com todos,
principalmente com os diferentes, mas nas alianças feitas com pares existe a
sabedoria e proteção de Deus (II Coríntios 6.11-18).
Para
uma sociedade que matava literalmente seus inimigos, uma sociedade que convivia
com a violência física de forma tão próxima, talvez fosse útil a disciplina dos
filhos através de vara, como orienta o texto abaixo.
“Não retires a disciplina da criança, pois,
se a castigares com a vara, ela não morrerá. Castigando-a com a vara tu a
livrarás da sepultura.”
Provérbios 23.13-14
Mas
na sociedade atual, isso não é mais necessário. A autoridade verbal de um pai,
se feita de maneira correta, basta. Um não firme vale muito mais que a aplicação
de dor física, às vezes feita com ira e sem qualquer explicação dada para
aquele que está sendo punido. Hoje vivemos numa sociedade que busca o diálogo, essa
é a ferramenta de gente civilizada, e principalmente, de verdadeiros filhos de
Deus.
Se
esse exemplo do Antigo Testamento não bastou, veja o texto abaixo, registrado
no Novo Testamento:
“as mulheres devem permanecer caladas nas
igrejas. Porque não lhes é permitido falar. Mas estejam submissas como também a
lei ordena. Se quiserem aprender alguma coisa, perguntem em casa ao marido,
porque para a mulher é vergonhoso falar na igreja.”
I Coríntios 14.34-35
Alguém
acha que esse costume deva ser seguido nas igrejas cristãs atuais? Não deve e
nem é, não na maioria, pelo menos. Mas é uma orientação do apóstolo Paulo,
semelhante a tantas outras que obedecemos dogmaticamente. A verdade é que o
povo de Deus, infelizmente e deste os primeiros séculos, usa a Bíblia de maneira conveniente. Seguem
o que interessante seguir, exigem dos outros, aquilo que lhes convêm. Mas Deus
nem leva isso em consideração, se fosse levar não existiria uma igreja ou um
filho de Deus com a presença do Espírito Santo. O que é sensato, contudo, deve
entender essas coisas e agir com sabedoria.
Tendo
em vista tudo isso, muita coisa precisa ser repensada na Igreja Cristã do século
XXI, mas para isso é preciso coragem, primeiramente dos líderes, aqueles que se
preocupam com o que Deus pensa deles, a pagam o preço de perderem apoio de
muitos, apoio intelectual, emocional e financeiro. Louvado seja o nosso Deus,
que tem tanta misericórdia, e nos abençoa e nos guarda mesmo sendo nós, tão
duros de coração, tão preguiçosos para crer, pensar e viver o evangelho
verdadeiro, louvado seja Deus por sua graça infinita e pelo seu maravilhoso
amor.