Não
sei como você vai entender o que eu vou falar, se vai dar menos crédito a este
blog por causa das palavras que seguirão, eu não sei, contudo, em nome da
coerência, uma quimera, já que ninguém consegue vivê-la totalmente, eu preciso
dizer algumas coisas. Em primeiro lugar você precisa saber que aceito e creio
nas referências absolutas de Deus: sei que Deus pode fazer o impossível, sei
que ele pode nos perdoar de todo o pecado e que de maneira equivalente, depois
de perdoados, nos podemos perdoar as pessoas e amar a todos.
Contudo,
mas, porém, todavia, entretanto, não obstante e todas as demais conjunções
adversativas existentes em nossa língua, eu tenho dificuldades de amar muitas
pessoas, de aceitá-las como elas são, mesmo de perdoar algumas. Por isso levo
alguma amargura em meu coração? Sim, levo. Me considero incoerente por causa
disso? Perco o direito de ensinar a palavra de Deus por causa disso? Não me
acho cristão por causa disso? Não, não mesmo, ao contrário, sob o meu ponto de
vista, me vejo ainda mais crente, visto que experimento o sobrenatural numa
natureza fraca, limitada, humana.
Os
que se colocam como críticos de tudo e de todos, que buscam álibis para não
fazerem parte dessa igreja ou daquele grupo, que se postam arrogantemente como
coerentes, desconstruirão a humanidade de um verdadeiro cristão para construir
super homens, na presunção de serem mais honestos, se colocam como falsos
mestres. Então, aonde está a coerência, a coerência tão sonhada? Está em
admitir a incoerência, a impossibilidade de falar e viver a mesma coisa.
Todavia,
o verdadeiro cristão fundamenta-se no sangue de Jesus, nele pode se achar coerência,
já que nele há perdão, purificação, restabelecimento de referência, não a do
homem, mas a de Deus. É o perdão no sangue do cordeiro que nos permite renascer
a cada dia, a partir do zero, como bebês espirituais. A partir desse nascimento
temos novas oportunidades, outras chances, para colocar em prática o que
ouvimos nos púlpitos, das bocas dos pastores, professores e profetas, de nossas
próprias bocas. A experiência diária de se analisar no Espírito Santo, de achar
erros e pecados, e então de se apossar do perdão de Jesus, nos torna mais sábios,
aprendemos a prometer menos, a gritar menos, a falar menos, mas a viver mais.
Não,
estou longe do alvo, e fico mais, a cada dia que passa, não a cada dia de vida,
mas a cada dia de vida com Deus. Fico cada dia mais incoerente, contudo, na
honestidade, na humildade, e acima de tudo, na confiança de que há remissão no
sangue de Cristo, renasço, me purifico, refaço as referências, e encontro coerência,
na misericórdia, na graça e no amor de Deus. Adorando a Deus no Espírito, e não
somente em minha mente e em meu coração, rendendo-me aos pés do Senhor,
esforçando-me para entender as coisas espirituais, clamando e gemendo, vejo
minha amargura ficar mais doce, aos poucos, pois experimento a presença de Deus
caindo no mar de dúvidas e de dores de minha alma, e fazendo-me um ser humano
melhor, mais coerente, para a glória do pai.