sexta-feira, junho 03, 2022

Cura constante de Deus

      “Vede entre os gentios e olhai, e maravilhai-vos, e admirai-vos; porque realizarei em vossos dias uma obra que vós não crereis, quando for contada. Porque eis que suscito os caldeus, nação amarga e impetuosa, que marcha sobre a largura da terra, para apoderar-se de moradas que não são suas.Habacuque 1.5-6

      Na maior parte das vezes andamos espiritualmente cegos, não vemos o que Deus está realizando, e Deus trabalha o tempo todo em nossas vidas. Não se assuste, mas o instrumento principal de trabalho de Deus é o sofrimento, assim, os que de alguma forma não se permitem sofrer, negam o trabalho de Deus. Sem Deus trabalhar não há cura, portanto permanecemos doentes e assim com mais sofrimento, não o útil e que leva à cura, mas o inútil e vazio. Não vou me aprofundar no contexto histórico do texto bíblico inicial, mas resumindo, Deus diz que a nação de Israel, que no momento era cativa pela Assíria, seria livrada por uma terceira nação, a Babilônia dos caldeus, mais forte e que libertaria Israel por ordem de Deus. 
      O ponto é a afirmação, “realizarei em vossos dias uma obra que vós não crereis quando for contada”, portanto o fato de Deus agir de maneiras que nos são desconhecidas. Uma forma mais óbvia de interpretar o texto como lição para nós hoje é em áreas materiais. Se estamos andando com sabedoria, mas ainda assim falta a nós e a nossa família o mínimo para termos vidas materiais dignas, sigamos vigilantes, mas crentes. Não nos fiemos no que os olhos veem, nas possibilidades conhecidas, mas confiemos que Deus pode nos abençoar de maneiras que achamos extraordinárias, que denominamos milagres. Isso pode ser um aumento de salário, um novo emprego, enfim, algo que não sabemos e que já pode estar sendo providenciado. 
      Contudo, nossas jornadas no mundo, nossa convivência com necessidades e surpresas, nossas relações com outras pessoas, nossas escolhas afetivas e profissionais, tudo isso pode ser instrumento de Deus. Para quê? Para aperfeiçoar nosso caráter, nosso homem interior, nosso espírito. Se não doer não funciona, assim um trabalho novo do Senhor em nossas almas sempre causará, a princípio, sofrimento. Não confunda essa dor com culpa por pecado, mesmo com tratamentos injustos dos homens, com as aflições do mundo, isso pode ser usado. Mas Deus trabalhando em nós dói porque é sua mão extraindo algo ruim que está profundamente encravado em nós, tanto que achamos que faz parte de nós e que não podemos existir sem. 
      Interessante como nos apossamos de coisas ruins achando que são coisas boas, imprescindíveis, de muletas, achando que são pés, de óculos, jurando que são olhos, o espírito não precisa de artifícios. A questão é que não sabemos o que é necessário no tratamento, do gosto amargo que o remédio poderá ter, mesmo de efeitos colaterais, ainda que passageiros, mas desagradáveis. Enquanto você espera a resposta de emprego, achando que uma necessidade material tua precisa e será satisfeita pela mão de Deus no universo, o Senhor pode estar trabalhando para que você aprenda a ser paciente. O paciente não sofrerá com a ansiedade, e não buscará fuga nos vícios para dar prazer ao corpo que dói porque a alma não sabe esperar. 
      O que é mais importante, o emprego ou a paciência? Ambos, e viver neste mundo é achar o equilíbrio entre a matéria e o espírito, entre a sobrevivência diária no plano físico com honestidade e trabalho, e o aperfeiçoamento moral de nossos espíritos. Mas não nos esqueçamos, na eternidade não seremos julgados pelas nossas posições profissionais, mas pelo nosso nível moral. Melhorar dói, e dói o tempo todo, assim temos que buscar o Senhor o tempo todo. Aquela oração especial que fazemos no final do dia é de suma importância para aceitarmos e assentarmos o trabalho do Senhor dentro de nós, e quando estamos no ápice de um trabalho interior de Deus pode não ser fácil sairmos dessa oração em paz e confiantes. 
      Fé ajuda a abrir a porta, mas são as obras que nos fazem passar pela porta e conhecermos o que há dentro da sala. Não basta crer e estacionar, ficar contemplando o conhecimento de Deus, precisamos interagir com ele, colocá-lo em prática, ter coragem para vivenciar novos entendimentos, nos livrar de hábitos antigos que ficaram na sala anterior. Muitos param na porta porque ela mostra o desconhecido, assim até olham a próxima sala, mas com medo voltam atrás, afinal já estavam bem acostumados e confortáveis com o que havia na sala anterior. Mas a cura pede que sigamos em frente, com fé e trabalho que persistem em entrar ainda que o local seja desconhecido, só crescemos desafiando o desconhecido. 

quinta-feira, junho 02, 2022

Sofrimento como correção

      “Porque o Senhor corrige o que ama, E açoita a qualquer que recebe por filho. Se suportais a correção, Deus vos trata como filhos; porque, que filho há a quem o pai não corrija? Mas, se estais sem disciplina, da qual todos são feitos participantes, sois então bastardos, e não filhos.Hebreus 12.6-8

      Estarmos tristes pode ser por causas até patológicas, que necessitam de tratamento psicoterápico ou até de medicação, mas ainda que isso seja feito (e deva ser), Deus tem sempre um propósito em nos dar especificações de fábrica, principalmente aquelas que nos impedem de fazer certas coisas. São maneiras de nos colocar no caminho certo, de nos impedir de pecarmos, de buscarmos elevação moral e santidade espiritual. O humilde e temente a Deus verá as coisas sob esse prisma, e ainda que não se acomode, saberá que se respeitar certos limites e responder corretamente a alguns sofrimentos crescerá e terá aprovação de Deus. 
      Muitos limites existem para serem superados, eles nos impulsionam a trabalhar para que alcancemos a vontade melhor de Deus, nos permitem conquistas no mundo, mas também vitórias sobre passado, culpas, mágoas, vícios e ansiedades. Contudo, depois de buscarmos a Deus com todo o nosso coração, de nos avaliarmos e reavaliarmos, de nos reconhecermos e nos esforçarmos muito, entenderemos que certos limites que temos, em nossas facilidades ou dificuldades para fazer certas coisas e viver com certas pessoas e em certos lugares, não podemos e não devemos ultrapassar. Eles não existem para o nosso mal, mas para o nosso bem. 
      Se insistirmos perderemos mais que ganharemos, e então, não só nós mesmos, mas a própria vida e os homens nos resistirão com autorização de Deus. Deus usa nossos limites para nos orientar quando nos dá características físicas e emocionais, mesmo enfermidades. Sabe quando você se sente mal por ter feito algo e desconta na comida, mesmo sabendo que isso o engordará? Eis um limite teu, mas Deus também coloca perto de nós, principalmente na família, duros sentinelas, que a qualquer erro nosso nos cobrará. Alguns podemos evitar, mas com outros temos que conviver sempre, esses também são delimitadores permitidos pelo Altíssimo.
      Limites certos não nos impedem de fazer o bem, mas de fazer o mal, ainda que a princípio nos pareçam coisas boas, esses limites nos fazem sofrer e é importante que entendamos que nem todo sofrimento é negativo. Vivemos especialmente um tempo onde as pessoas não querem sofrer, muitos coaches, palestrantes motivacionais, livros de autoajuda e mesmo pregadores cristãos, têm exagerado na orientação dada a coachees mimados, burgueses e orgulhosos, que todos podem ter uma vida onde os sonhos podem ser realizados (frase tão presente em filmes da Disney), assim muitos fogem do lado positivo do sofrimento. 
      Todos não podem tudo e sempre, só Deus pode tudo e sempre. Mas como sistema de alerta para o mal, Deus pode nos permitir sofrer diretamente por ações espirituais. Sim, Deus pode usar anjos e demônios, uns para nos consolar e os outros para nos atormentar, e nesse último caso temos que buscar o Senhor urgentemente e colocar nossas vidas em ordem. O mundo espiritual tem grande influência sobre nós, principalmente sobre nossas mentes e sentimentos, isso é algo que a maioria dos evangélicos não liga muito, crê que o diabo impede-os de ganhar dinheiro, não de usufruir paz, não entende que o mal pode ser mental. 
      Obviamente é preciso sabedoria nessa percepção, se não poderemos ser levados a colocar a culpa do nosso sofrimento em algo externo, não assumindo nós mesmos responsabilidade por eles, e Deus só autoriza opressão em nossas vidas quando nós legalizamos essa ação antes, fugindo para as trevas. Quem anda na luz o mal não toca, seus sentimentos são tranquilos e felizes. O importante é sofrermos como filhos de um pai que nos ama, que é impedido de nos abençoar por nós mesmos, que não tem prazer nisso, mas que precisa autorizar isso para que aprendamos o melhor caminho para sermos vitoriosos, felizes e crescermos. 
      Alguns sofrem com qualquer coisa que lhes digam, mas eles não se poupam de jogar seus pontos de vista na cara dos outros, querem falar, mas não sabem ouvir. Se não sabe ouvir, não fale, sentir-se ofendido por muitas coisas não é fraqueza tua, mas limite permitido por Deus para que você não fale demais. Muitas vezes isso pode ser nem porque o que você tem a dizer seja algo errado, mas simplesmente porque não é para ser dito. Termos algo a dizer não nos confere legitimidade para dizer, não se quisermos andar na vontade de Deus, pode ser só para que oremos pelos que sentimos em Deus que estão enganados sobre algumas coisas.

      “Nos muitos cuidados que dentro de mim se multiplicam, as tuas consolações me alegram a alma.” Salmos 94.19

quarta-feira, junho 01, 2022

Para que vingança se há culpa?

      “Não vos vingueis a vós mesmos, amados, mas dai lugar à ira, porque está escrito: Minha é a vingança; eu recompensarei, diz o Senhor.Romanos 12.19

      Para que se vingarem de nós, quando temos que viver com culpa por nosso erros? Perdemos tempo e energia tentando destruir quem nos machuca, seja a ferida por causa de injustiça alheia ou devido a nossos melindres. Vingança é homicídio, ainda que fique só dentro de nós, é mais que dar o troco, é querer aniquilar quem nos feriu, a desejamos quando só achamos que ela pode aplacar nossas dores. Contudo, ainda que ela anule quem nos atacou, não anulará nossa tendência de vingança, essa seguirá conosco, tornando-nos violentos, rancorosos, instrumentos destrutivos.
      Quem acha na vingança um meio de resolver problemas não se atenta a algo básico, a culpa, que fica na alma de quem comete violência e injustiça, ela é a vingança natural que o universo usa. Culpa independe do outro, mesmo de dor que se causou a outro, pode nem depender de um mal real feito, visto que muitos se sentem culpados sem terem feito algo numa determinada situação, podem só terem culpas acumuladas. Mas mesmo na intenção da vingança, que quer que o outro sofra como fez sofrer, que dor é maior: a de um momento de vingança ou a de alguém ter que viver com culpa? 
      Pode-se argumentar, “quem me magoou nem se deu conta disso, não sofre pelo que me fez, vive como se nada tivesse feito, merece sofrer e já”. Engana-se quem pensa assim, muitos podem até não aparentar a dor da culpa, mas colherão o fruto do que fizeram, e quando isso acontecer a cobrança será muito mais adequada que qualquer vingança. Mas desejo de vingança revela dois problemas, o problema do outro, que pode ter feito algo errado contra nós, e o problema nosso, que temos uma mágoa não curada. A cobrança, por vingança ou não, resolve o problema do outro, não o nosso. 
      O nosso problema só é resolvido com perdão em amor, e isso não é passar a mão na cabeça do errado, não é não ser justo, é “anular” de fato o outro, não sua pessoa, mas o mal que ele criou e manifestou contra nós. Nossa “vingança”, e desculpe-me por usar esse termo, deve ser contra o mal, não contra o malvado. Quem mata o malvado deixa viver o mal dentro de si, e na verdade não resolve problema algum. Mesmo morto o outro, o mal ainda terá prevalecido, então, de vítima o vingador passará a agressor, suscitando vingança de terceiros e mantendo vivo o mal em seu interior. 
      Anular o desejo de vingança também nos livra do equívoco de estarmos feridos por vitimismo nosso, não porque de fato alguém fez um mal contra nós. Muitas vezes ficamos magoados com pessoas que nem sabem que existimos, que nem tiveram intenção de nos fazer mal, e podemos estar feridos só por nos sentirmos desprezados. Contudo, que culpa tem alguém de não nos conhecer? Que culpa tem alguém de sermos recalcados e inseguros? Querermos nos vingar de alguém por simplesmente ser quem é e por isso nos causar inveja, é um mal dobrado que causamos a nós mesmos. 
      Nos curemos antes de querermos curar os outros, nos resolvamos antes de tentarmos achar no outro a culpa de problema que é só nosso, anulemos o mal dentro de nós e não seremos feridos por qualquer coisa e nem desejaremos vingança. O problema do outro é do outro, não nosso, mas se mantemos desejo de vingança o problema do outro passa a ser nosso, e o mal consegue seu intento, continuar vivo e ativo. O mal é como vírus, existe dentro de hospedeiro, Deus não produz o mal, esse foi gerado por seres, humanos e espirituais, acabar com ele depende do livre arbítrio nosso.
      Jesus foi o exemplo de quem de fato merecia vingança, porque ele sofreu sem ter merecido, mas nesse caso não só seu sofrimento como homem teve uma utilização alta e poderosa nas mãos de Deus, a salvação de todos nós, como mereceu reação de Deus, não contra Iscariotes ou os líderes religiosos judeus, mas contra o mal em si, geral e presente em toda a humanidade. A lei colhe-se o que se planta foi exercida em toda a sua abrangência, de maneira singular para todos os seres humanos, mas só porque Cristo não se vingou e agiu do jeito certo, amou, perdoou e esperou Deus reagir. 

terça-feira, maio 31, 2022

Vinte anos de ensaio, vinte minutos de show (2/2)

      “Sendo, pois, Abrão da idade de noventa e nove anos, apareceu o Senhor a Abrão, e disse-lhe: Eu sou o Deus Todo-Poderoso, anda em minha presença e sê perfeito. E porei a minha aliança entre mim e ti, e te multiplicarei grandissimamente. Então caiu Abrão sobre o seu rosto, e falou Deus com ele, dizendo: Quanto a mim, eis a minha aliança contigo: serás o pai de muitas nações; e não se chamará mais o teu nome Abrão, mas Abraão será o teu nome; porque por pai de muitas nações te tenho posto; e te farei frutificar grandissimamente, e de ti farei nações, e reis sairão de ti” Gênesis 17.1-6

      Algo que me chama a atenção nas vidas de Abraão e Moisés (Êxodo 7.7) é a idade na qual eles, enfim, estavam preparados para servirem aos propósitos da providência divina, não eram nem um pouco novos, aliás, para os padrões atuais, eram bem idosos. Isso antagoniza com a ideia que equivocadamente temos de achar que a vida tem que se resolver rapidamente, se isso não acontece nos frustramos, desistimos e ficamos, qual crianças mimadas, desejando a morte. A morte chega para dois tipos de pessoas, para as que a merecem e para as que já gastaram todas as oportunidades que podiam ter para cumprirem suas missões. Não entendemos que muitas vezes o que chamamos de fim é só o novo e talvez o mais importante começo. 
      Não desista, talvez você esteja precisando só de um upgrade para cumprir tua missão, crer sem ver, receber novo nome e entender que ser amigo de Deus é melhor que ser amigo do mundo, como Abraão. Há um símbolo importante em receber novo nome, isso é uma das promessas aos salvos descrita no livro de Apocalipse (2.17). Espiritualmente nome é posição espiritual cuja mudança implica em aquisição de novos direitos espirituais, quando Abrão teve o nome mudado para Abraão foi colocado como “pai de muitas nações”. Só pela fé um homem de quase cem anos, sem filhos e com uma esposa de noventa anos (Gênesis 17.17), podia receber de Deus tal posição, mas ele creu e isso valeu para que nações e reis viessem a existir. 
      Não somos máquinas com datas de validade, somos filhos de Deus, se um celular a partir de um modelo não pode mais receber atualizações de sistema operacional, para nós não há limites se Deus quiser e puder agir. Deus sempre quer, mas nós precisamos autorizar, nem Deus vai contra nosso livre arbítrio, e muitos de nós só escolhem obedecer já envelhecidos. Contudo, bem-aventurados os que ainda que idosos, podem ser instrumentos do plano divino, para cumprirem suas missões de servir os homens. Por outro lado, tempo nada significa para Deus, ele nos usa com vinte anos ou com sessenta. Não faz diferença ele ter que esperar quarenta anos para estarmos prontos para uma missão, Deus não se cansa de esperar por nós, nunca. 
      Neste mundo, presos a corpo físicos, sofremos justamente por nos importarmos demais com o tempo, é claro que parte desse sofrimento é legítima, envelhecemos, adoecemos, ficamos mais frágeis e nossos corpos doem e nos limitam. Mas grande parte do nosso sofrimento, e que pode ser responsável por fragilizar nossos corpos, é sofrimento pelo orgulho, nos comparamos com outras pessoas e achamos que elas aproveitaram o tempo melhor que nós. Nos esquecemos do fato das pessoas virem a esse mundo com especificações diferentes dadas por Deus, portanto com provações diferentes, e consequentemente com oportunidades de configurações, updates e upgrades diferentes, assim sendo, tendo missões distintas. 
      Aceitarmos que não somos e não precisamos ser iguais a outras pessoas é vital para termos paz, assim, não precisamos nos sentir cobrados por ninguém, não se estivermos em comunhão com Deus. Se um parente é financeiramente mais bem sucedido que nós, que importa, se um colega tem mais facilidade para estudar e por isso é mais promovido profissionalmente que nós, que importa, se um irmão prega ou canta melhor que nós, que importa. Importa é descobrirmos em Deus quem somos, trabalharmos, com coragem e fé, para sermos melhores e melhores principalmente moral e espiritualmente, mais amorosos, mais justos, mais santos. Importa obedecermos e agradarmos a Deus, que nos fez e sabe o que temos que fazer e ser.
      Se puder leia os textos bíblicos com as histórias de Abraão e de Moisés, mas as histórias de Jó, José, Rute e Davi também são interessantes para entendermos quantas coisas e por quanto tempo o ser humano precisa passar para ser burilado pela vida e pelo mundo para estar pronto para uma missão. A regra é que a vida é longa e desconhecida, por tentar abreviá-la ou achar que pode ser previsível, é que muitos vivem sem nunca viverem, e permanecem só como figurantes da própria história, nunca experimentando o próprio protagonismo. Mas sempre há tempo, enquanto estamos por aqui, e muitas vezes só depois de vinte anos de ensaio, é que o palco se ilumina para que façamos vinte minutos de um show que mudará muitas vidas.

Leia na postagem de ontem
a 1ª parte desta reflexão
José Osório de Souza

segunda-feira, maio 30, 2022

Especificações, configurações, updates e upgrades (1/2)

      “E cumpriu-se a Escritura, que diz: E creu Abraão em Deus, e foi-lhe isso imputado como justiça, e foi chamado o amigo de Deus.” Tiago 2.23

      Updates e upgrades aperfeiçoam o processamento e disponibilizam novos recursos nas configurações, corrigindo e otimizando o funcionamento de softwares, sem que mudem as especificações originais do hardware, procedimentos que aprendemos a administrar para usar com eficiência computadores, tabletes e celulares. Eles também se aplicam às nossas jornadas neste mundo, ainda que sejamos superiores a máquinas, um exemplo disso foi a vida do patriarca Abrão. Era um bom homem, rico, casado, mas que fez uma aliança com Deus, teve o nome mudado para Abraão, entendeu o que é acreditar sem ver, e foi chamado amigo de Deus, eis alguém que passou por um processo de mudanças para cumprir um objetivo. 
      Devemos reconhecer e aceitar nossas especificações, elas nos acompanham por toda a vida, são nossa identidade, diferencia-las de configurações e melhorias é imprescindível para exercermos o que podemos fazer de melhor e sermos felizes com isso. Especificações tem a ver com vocações, dons, talentos naturais, que nascem conosco, facilidades que temos no desempenho de muitas coisas que independem de fatores externos ou do tempo. É claro que educação, formação e experiência aperfeiçoam nossas especificações de fábrica, mas não as modificam radicalmente. Muito de nossa felicidade está relacionado a gostar do que somos e sermos o que gostamos, numa sinceridade que é humilde e não é negligente ou invejosa. 
      Temos que conhecer nossas configurações e ajustá-las para que sejamos mais eficientes. Quando compramos um celular, lá naquele ícone com uma circunferência dentada, parecendo uma engrenagem, acessamos diversos parâmetros, eles nos permitem customizar o aparelho, deixá-lo mais confortável a nossas necessidades e preferências. Como seres humanos também podemos fazer escolhas, de atividades, de companhias sociais e de lugares, onde podemos ser mais eficientes. Todos não podem fazer tudo e bem, assim temos que aceitar especificações, mas podemos ajustar nossas vidas para que elas funcionem melhor, configurando nossas interações com nós mesmos, com as pessoas, com o espaço e com o tempo.
      Especificações não podem ser mudadas, mesmo com as melhores configurações, mas podermos fazer escolhas nos melhoram, ainda serão ajustes ao que sempre fomos, mas podem trazer à tona recursos que nem sabíamos que tínhamos. Essas escolhas podem ser pequenas ou grandes alterações, simples atualizações (updates) para nos adaptar a mudanças, ou extensas aquisições de recursos (upgrades), que utilizarão com mais eficiência nossas características originais. É preciso coragem, trabalho e fé para fazermos, não só ajustes de configurações, mas updates e upgrades, e só em Deus nos é possível entender e pôr em prática características importantes, que muitos passam a vida sem saber que as possuem. 
      Nascemos com especificações, na infância e juventude recebemos criação familiar e estudos que fazem updates nelas, mas é só na maturidade que aprendemos a ajustar nossas configurações para sermos mais eficientes. Contudo, com coragem, trabalho e fé, podemos receber em Deus grandes upgrades, que nos farão achar até que somos equipamentos diferentes dos originais, mas são só aquisições de conhecimentos que farão emergir aquilo que somos de melhor. As escolhas durante todas essas fases são provações, que nos melhoram como seres humanos, mas usar tudo isso para servir os outros são nossas missões. Só teremos jornadas completas se formos aprovados nas provações e cumprirmos nossas missões. 
      Todas essas simbologias usadas aqui significam que estamos presos a limites e destinos? Sim, mas isso não torna a vida menos surpreendente e instigante, pelo simples fato que não sabemos, pelos menos a princípio, quais são nossos limites e destinos. A aventura de viver é justamente testar, descobrir e vivenciar esses parâmetros, e muitos passam toda uma existência e nunca entendem isso. O desconhecimento de limites e destinos é propósito de Deus que nos leva a trabalhar, com coragem e fé, para que descubramos como ser felizes como seres humanos e úteis nas vidas de outros seres humanos. Não somos máquinas insensíveis, sofremos e nos alegramos, nos entediamos e nos apaixonamos, assim nos definimos.
 
Leia na postagem de amanhã
a 2ª parte desta reflexão
José Osório de Souza

domingo, maio 29, 2022

Forte é quem pode dar vida

      “Mas contigo está o perdão, para que sejas temido.Salmos 130.4

      Quem é mais forte, quem dá a morte ou quem dá a vida? Quem faz morrer vence o outro, anula de vez um opositor, mas quem vence pelo ódio sempre terá novas pessoas para odiar. Quem faz viver, mesmo o que merece morrer, vence o outro e a si mesmo, e fechará a porta para ter novos opositores, pelo menos de sua parte. Vence a si mesmo porque supera sua vontade de matar, seu ódio, a insegurança de achar que só a morte de um opositor dará cabo a riscos para sua vida. Mas quem dá a vida vence também o outro, porque dá a oportunidade de um inimigo se tornar um amigo, grato por ter recebido misericórdia, não condenação, a vida, não a morte.
      Tantas vezes somos fortes para matar, mas não para dar vida, matamos não só corpos com tiros e facadas, mas também almas com palavras, e mesmo com sentimentos silenciosos, sem que ninguém saiba, podemos matar as pessoas dentro de nós. Mas essa é a maior mentira da violência, da vingança, do desabafo que achamos que temos direito de fazer verbalmente contra alguém que achamos que nos prejudicou, vencer o mal com o mal. Mal não anula mal, só o multiplica, só o bem anula o mal e cria mais bem, na exteriorização do mal não existe força, mas fraqueza, só o bem nos torna mais fortes, ser forte pode ser não fazer nada. 
      “O que despreza o seu próximo carece de entendimento, mas o homem entendido se mantém calado” (Provérbios 11.12), não fazer nada não é desprezar alguém, aí ainda que pareça reação de alguém superior é só arrogância, arrogância é se achar tão melhor que não precisa reagir a pessoas que considera inferiores. Mas o arrogante não aparentará superioridade para sempre, em algum momento será traído pelo ódio e pela insegurança que tentou esconder dentro de si e será revelado. Só o amor cala em paz a vingança, dando a vida, não a morte, Jesus não suportou injustiça por arrogância, mas por amor, ainda que soubesse que era filho de Deus
      Quem dá vida quando podia dar a morte, ainda que não seja amado será temido, e um temor muito mais legítimo que o que se tem pelo que mata, pois é temor da luz, não das trevas. As trevas amedrontam mas atraem os que querem permanecer nelas para um confronto ainda mais violento, já a luz causa temor e afasta os que querem continuar nas trevas. A luz vence silenciosamente e sem agredir pois ela dá liberdade para a presença de Deus, o Senhor da luz, que luta pelos que amam a vida, não a morte, pelos que perdoam e não respondem mal com mal. Vencer a morte é vencer primeiro a nós mesmos, para depois podermos dar ao outro a vida. 

sábado, maio 28, 2022

Não brinque com pecado

      “Depois Jesus encontrou-o no templo, e disse-lhe: Eis que já estás são; não peques mais, para que não te suceda alguma coisa pior.João 5.14

      Brincar com o “pecado” é reincidir nele depois de ter noção que ele é errado e prejudica a nós e aos outros. Coloquei entre aspas porque nesta reflexão “pecado” pode representar vários tipos de erros que seres humanos, cristãos ou não, cometem. Alguns sabem que jogar lixo na rua é errado, mais ainda estando próximos a lixeiras, mas fazem, outros sabem que comer demais prejudica sua saúde, mas continuam comendo sem controle, outros já entenderam que trair o cônjuge machuca a si e ao outro, mas não cessam as traições. Citei três tipos distintos de “pecados”, um social, um físico e outro moral, qual é o meu?
      O pior tipo de irresponsabilidade é ter uma vida de pecado, principalmente na área sexual e conjugal, e usar o púlpito, e nem digo ir de vez em quando à frente do templo para falar alguma coisa, mas para pregar, tendo título oficial de pastor, pregador ou outro. Que escândalo, esses que não abrem mão da vaidade de serem vistos e aplaudidos por muitos, causarão quando seu pecado vier a público, que vergonha para o evangelho, mas também que preço caro pagarão. Brincar com o pecado, não levá-lo a sério e ainda posar de cristão, de “ungido”, de celebridade gospel seja na palavra ou na música, tem preço alto e doloroso.
      Com 62 anos de vida (45 de convertido) já vi muitos pagarem preços amargos por terem brincado com pecado, principalmente por terem sido irresponsáveis com chamadas ministeriais. De vergonha pública e destruição de famílias, a doenças terríveis, mortes por acidentes estúpidos e mesmo suicídios, isso porque muitos que passaram a vida como pastores não conhecem outro meio de sobrevivência, não só social como profissional, perder tudo isso pode ser algo que não dá para ser encarado. Não foi Deus que se vingou, Deus não se vinga, foram as leis divinas do universo cobrando efeitos ruins de causas ruins. 
      É preciso repetir aqui algo: as pessoas, principalmente protestantes, não entendem como Deus trabalha nas vidas dos seres humanos. Muitos cristãos acham que quando alguém vem para uma igreja, se batiza, tem seu nome no rol, e mais ainda, quando faz seminário e se torna pastor ou reverendo, a vida dessa pessoa é transformada como que num passe de mágica. Acham que essa pessoa já está pronta e nunca mais pecará, pelo menos aqueles pecados que tais consideram os maiores (como se pecado tivesse tamanho). Deus pode até trabalhar assim em algumas vidas, mas não em todas, cada pessoa tem história exclusiva. 
      O que Deus tem para as pessoas só saberemos quando elas partirem deste mundo, até lá a “temporada” de reformas, desconstruções e reconstruções, está aberta. Infelizmente, por não entenderem isso é que muitos pastores persistem em esconder assuntos que sabem que destruirão suas carreiras, persistindo na hipocrisia, consequentemente dando um alimento contaminado às ovelhas, mas principalmente, não resolvendo-se. Penso que o pecado pior nem é o pecado em si, e pecado todos nós cometemos, mas é esconder o pecado, isso impede Deus de trabalhar, aumenta o pecado pela mentira e perde-se tempo. 
      Divórcio? Às vezes causado porque o homem ou a mulher nem heterossexuais são? É algo muito triste, dolorido para as famílias envolvidas e mais ainda para filhos se houver, mas é melhor que a hipocrisia. A verdade é sempre melhor, nela Deus pode agir, reconstruir, mas para enfrentá-la há de se ter humildade e coragem. Grandes erros ocorrem por causa de grandes teimosias que existem por causa de grandes orgulhos, a revelação desses implicará em enormes humilhações, que desencadearão mudanças extremas. Mas ninguém se sinta só nisso, muitos precisam disso, mais gente que achamos, ainda que não assuma.
      O que leva à hipocrisia é achar que a vida tem que se resolver depressa, que tem que dar certo de cara, que não se pode errar. Muitos protestantes veem a vida assim, como veem de forma errada suas denominações e suas igrejas, considerando-as pedaços do céu, onde os que pisam não podem mais cometer grandes pecados, isso é arrogância. Isso é menos comum em igrejas pentecostais, que por receberem público com menor poder aquisitivo e pior formação cultural e estrutura familiar, em outras palavras, gente com perfil da maioria dos brasileiros atuais, são mais complacentes com quedas e reerguidas humanas. 
      Mas nas chamadas igrejas protestantes tradicionais, sem generalizar, o falso moralismo pode ser maior, por isso doenças psicológicas e até suicídios de líderes podem ocorrer. Novamente nos deparamos com o questionamento alarmante: que evangelho está sendo pregado nas igrejas cristãs? Aquele que dá novas oportunidades em amor aos humildes, ou o falso, que exige vida religiosa de aparências? Pecado é pecado em qualquer lugar e para todos, não deve ser suportado, mas cura para ele nem sempre é rápida e milagrosa, pode ser um longo processo no tempo, realizado no amor de Deus, e se possível, dos homens. 

sexta-feira, maio 27, 2022

Se não for algo espiritual, não diga

      “E procurai a paz da cidade, para onde vos fiz transportar em cativeiro, e orai por ela ao Senhor; porque na sua paz vós tereis paz. Porque assim diz o Senhor dos Exércitos, o Deus de Israel: Não vos enganem os vossos profetas que estão no meio de vós, nem os vossos adivinhos, nem deis ouvidos aos vossos sonhos, que sonhais; Porque eles vos profetizam falsamente em meu nome; não os enviei, diz o Senhor. Porque assim diz o Senhor: certamente que passados setenta anos em Babilônia, vos visitarei, e cumprirei sobre vós a minha boa palavra, tornando a trazer-vos a este lugar.Jeremias 29.7-10

      Se não há um jeito espiritual de se dizer algo é porque não é para ser dito. Para ser espiritual não basta ser verdade ou dizer com convicção, deve ser manifestado com amor e em santidade. Muitas vezes não conseguimos achar amor para dizer algo, ou não mantemos a santidade quando dizemos, e pode nem ser por estarmos em pecado, mas por estarmos ultrapassando limites e desobedecendo a Deus, ainda que tenhamos algo útil a dizer. Pode ser melhor só orarmos a Deus e intercedermos por alguém, vigiando em amor e santidade, que fazer justiça com as próprias mãos sem amor e perdendo a paz. 
     Antes de tentarmos acertar os outros devemos nos acertar, quando estamos certos diante de Deus somos espirituais e na verdadeira espiritualidade há amor e santidade reais. Contudo, alguns de nós têm chamadas específicas ou são confrontados com pessoas específicas, e nisso não somos chamados para sair atirando verdades nas caras dos outros, mas para orarmos pelos outros, em contrição, humildade e muito amor. Essa é uma chamada poderosa e necessária, ainda que invisível aos olhos de homens, que só honram aquilo que veem. O que trabalha com discrição é abençoado pelo Deus invisível.
      A passagem inicial de Jeremias é uma orientação que Deus dá a um povo que terá que passar por setenta anos de disciplina, situação que não será mudada por nada. Contudo, ainda nessa situação inexorável o povo podia ser feliz e devia orar, ao invés de cair numa disposição depressiva que desiste da vida diante do opressor implacável. Por quem deveria interceder? Pelo opressor. Num mundo atual onde as pessoas não querem pagar preços, não querem sofrer e acham que fé em heresias pode livra-las de toda dor, essa orientação pode não ser entendida por muitos que se dizem cristãos. 
      Eis uma situação onde a verdade não pode ser dita porque quem pode dizê-la está numa posição ilegítima, o povo de Deus sendo escravo de um povo que não teme a Deus. Ainda que seja nação escolhida, Israel não deveria ter qualquer disposição altiva, deveria aprender, agora a duras penas, o caminho da humildade. É mais útil para nós hoje tirarmos uma lição dessa passagem interpretando o cativeiro não como uma fase da vida, mas como toda nossa existência neste mundo, vendo assim entendemos que nascemos em cativeiro e seguiremos cativos até a morte. Cativos de homens? Não, de nós mesmos.
      Se vermos a vida assim entenderemos como podemos ser espirituais, desfrutar de amor e santidade, e como devemos manifestar essa espiritualidade, com humildade e esperando aprovação só de Deus. Se não for espiritual, não diga, o silêncio cabe aos cativos, não do pecado e dos vícios, mas do corpo material, os que assim se colocam são libertos no espírito e como tais têm privilégios espirituais. Não tentemos ganhar e manter glórias neste mundo, isso é uma ilusão, não queiramos dar a última palavra nem prevalecermos sobre os homens de alguma maneira, vivamos para Deus, calando e orando. 
      Quem tiver alguma lucidez perceberá que a orientação desta reflexão vai contra a ordem que impera no mundo atual, que é: diga o que pensa, sem medo e a todos, imponha seus direitos, “conhecereis a verdade e a verdade vos libertará e neste mundo” (dói meu coração ver essa palavra de Jesus sendo tão mal usada). Ah, meus queridos, este mundo sempre será um cativeiro e só conquista a liberdade maior quem entende e assume isso, quem se prepara para a existência na melhor eternidade com Deus, onde poderemos ser espirituais e dizer, com todo amor e na mais alta santidade, coisas hoje inefáveis.

quinta-feira, maio 26, 2022

Livrando-nos do medo (2/2)

      “Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo.II Coríntios 5.17

      Alguns podem dizer que o que estamos falando aqui é inútil, só “frescura”, esses até têm experiências semelhantes, mas as ignoram. Contudo, precisamos entender que traumas podem nos impedir de conhecer muitas verdades, nos tornam medrosos, limitam nossas jornadas e nos fazem infelizes. Uma das melhores definições de nossas existências neste mundo, é que elas são passageiras estadias num hospital para se experimentar cura, não só do corpo e da mente, mas antes disso do espírito. Negar doença, busca por cura e oportunidade de ser curado é negar a vida, é fugir da razão de ser.
      Muitos fazem isso, são orgulhosos, se acham sãos e fortes, mas são só covardes negando a vida, por isso tantos acham que chorar é sinal de fraqueza, outros choram por qualquer coisa, alguns não acham graça em coisas simples e boas, outros riem de desgraças. Isso tudo são sentimentos viciados precisando de resgate, espíritos doentes necessitando de tratamento. Não podemos ver ou tocar nossos espíritos, mas podemos notar mentes transtornadas, percepções distorcidas e órgãos e membros doentes em nossos corpos, a qualidade de nossos espíritos se reflete nisso tudo.
      Medo é sistema de alerta contra perigo, assim não é errado por si só, mas nem sempre ele nos alerta contra perigos reais, muitas vezes é medo de riscos imaginários, justamente por causa de lembranças onde experiências ruins foram aliadas a sons, imagens, cheiros etc. Vencemos o medo errado com fé em Deus, não somente sozinhos, sim, é preciso determinação pessoal, mas não é só isso que resolve, como diz a psicologia materialista. Fé no Deus verdadeiro nos dá não só proteção contra males, que não temos nem noção que existem, também nos dá conhecimento de verdades espirituais.
      Essas verdades podem nos mostrar aquilo que de fato temos que nos manter longe, e do que podemos nos aproximar sem receio, ainda que a princípio sintamos medo. O desconhecido sempre nos causa temor, mesmo o desconhecido benigno de Deus, e nesse caso o medo não é para nos afastar de algo para sempre, mas só aviso que temos que nos preparar melhor, respeitando nossas limitações assim como os misteriosos caminhos de Deus. Na Bíblia muitos sentiram um temor terrível quando confrontados com seres espirituais do bem (leia mais post “Cegos sob o Sol”).
      É quase normal, para a maioria de nós, ter medo do mundo espiritual, afinal, a tradição judaica-cristã nos criou para ter esse medo. É mais fácil para quem quer controlar as pessoas e impedi-las de saber certas coisas, aliar perigo a essas coisas, assim, por medo, ninguém se aproxima delas. Mas será que temos de fato que temer certas coisas? Elas realmente implicam em perigos? É verdade que coisas podem nos pôr em risco, se não soubermos tratá-las, crianças podem ser criadas com medo já que elas ainda não estão prontas para separar o que é e o que não é perigoso. 
      Mas se nem crianças hoje são criadas pelo medo, por que religiões querem criar homens medrosos? Não podemos voltar no tempo, mas podemos resgatar nossos sentimentos, sabermos quando algo é bom e com o qual podemos nos alegrar, assim como discernirmos quando algo é ruim, não para nos sentirmos apavorados, mas só para nos afastarmos dele. O mais importante é nos libertarmos das mentiras que nossos próprios sentimentos podem nos contar, conseguimos isso reeducando nossos sentimentos à medida que caminhamos com Deus, só sua luz pode nos iluminar e nos curar. 
      Quando algo me amedronta eu pergunto objetivamente a Deus se devo parar ou seguir, muitas vezes não é um “diabo” me afrontando, mas apenas um “anjo” guardando uma porta. Nesse caso se eu pedir com cuidado Deus me preparará, isso pode demorar algum tempo, mas depois Deus abrirá a porta, então, serei libertado do medo. Tenho essa experiência principalmente em áreas de conhecimento do mundo espiritual. Mas mesmo em áreas morais precisamos de resgate, já que nela somos criados no meio cristão com falsos moralismos e muitos preconceitos, que nos causam falsos medos. 
      Como sentimentos podem ser resgatados? Substituindo lembranças de experiências ruins por novas e boas experiências, cujas lembranças falarão mais alto que as antigas. A melhor experiência é conhecer a Deus, depois a nós mesmos, então amarmos os outros e sermos amados do jeito certo, sem violências e egoísmos. Resgate de sentimentos é trabalho de uma vida, ainda que na “conversão” entendamos o que Deus quer de nós, não mudamos num instante. Devemos nos lembrar que em Jesus somos novas criaturas todos os dias, porque nos esquecemos disso todos os dias. 

Leia na postagem de ontem
a 1ª parte desta reflexão
José Osório de Souza 

quarta-feira, maio 25, 2022

Resgate de sentimentos (1/2)

      “Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso; quem o conhecerá? Eu, o Senhor, esquadrinho o coração e provo os rins; e isto para dar a cada um segundo os seus caminhos e segundo o fruto das suas ações.Jeremias 17.9-10

      Tem algo em nós que precisa de redenção, nossos sentimentos. Sensações, sons, cheiros, imagens e demais percepções de nossos sentidos, que para alguns podem trazer sentimentos agradáveis, porque de fato são coisas boas, para outros podem trazer sensações ruins. Isso acontece porque em algum momento de nossas vidas, mais provavelmente em nossas infâncias, quando nossas identidades foram formadas, coisas ruins ocorreram enquanto percebíamos essas coisas, dessa forma tal percepção ficou ligada dentro de nós a coisas que fazem com que nos sintamos mal. 
      Vamos supor que na infância uma pessoa tenha recebido a informação que morte e enterro são coisas ruins. Essa pessoa pode até ter experimentado algum tipo de violência em um evento envolvendo morte ou enterro, violência verbal, física, psicológica, ou ter tido uma morte específica que a traumatizou, enfim, em sua cabeça ficou gravado que morte e enterro não são coisas agradáveis. Não que essas coisas sejam agradáveis, mas podemos educar as crianças com sabedoria, de modo que mesmo coisas difíceis e dolorosas elas possam enfrentar com calma.
      Junto disso, que pode ser no momento do trauma ou num momento posterior, a pessoa foi levada a um enterro e percebeu no local um determinado cheiro, pode ser cheiro de comida de um restaurante próximo, de tinta fresca de um lugar acabado de ser pintado, pode mesmo ser o aroma de flores. A mente humana é especialista em conectar pontos, memorizar para depois ser mais fácil achar significado. O que importa no exemplo é que morte e enterro ficaram marcados na cabeça da pessoa como coisas ruins, assim um tal cheiro fará com que ela se lembre disso e sinta-se mal. 
      Pois bem, anos depois, mesmo num ambiente alegre, de festa, se a pessoa perceber o mesmo cheiro se sentirá mal, sua memória se lembrará daquele ambiente de enterro, do lugar onde um morto foi velado. Veja que o problema não é o enterro ou a morte, por mais tristes que sejam essas coisas, também não está no cheiro, poderia ser até o aroma de um suave perfume. O problema foi a informação que registrou-se na cabeça da pessoa, que morte e enterro são coisas ruins, a mente aliará morte e enterro a um cheiro e esse cheiro não será agradável e a fará sentir-se mal.
      Usei o exemplo de coisas que não são as normalmente mais alegres do mundo, mas poderia até ser algo bom, você poderia ter sofrido algum tipo de violência numa festa de casamento, ou ter sido convencido de alguma maneira que festa de casamento é algo ruim. Pois bem, se anos depois, num lugar totalmente diferente, ouvir uma música que ouviu na festa de casamento, você poderia se sentir mal, além de não se sentir bem em qualquer festa de casamento, com ou sem a música, e aí mesmo que não se toque a música você poderá até imaginá-la e ouvi-la. 
      Traumas ficam especificados em nós, um determinado evento será a memória registrada, ainda que tenhamos ido a outros eventos semelhantes, dessa forma além do cheiro, do som, as imagens desse evento virão à nossa mente, juntos do mal estar. Isso não é uma regra, pessoas diferentes podem ser traumatizadas por coisas diferentes, algo que para um poderá gerar um trauma, para outro não fará diferença, e até poderá gerar um sentimento oposto. O ser humano é complexo, e Deus permite provas diversas para que pessoas distintas sejam aprovadas diferentemente. 
      Resgate de sentimentos, eis o ponto desta reflexão, isso é necessário e possível, Deus pode nos ajudar nessa redenção, mas isso não é algo fácil e rápido. O assunto deste texto não é teórico para mim, é experiência prática, e penso que ele pode ajudar as pessoas, contudo, é minha responsabilidade dizer que não sou psicólogo, assim, se tiver um problema sério relacionado ao que refletimos aqui ou se conhecer alguém que tenha, procure um profissional da área médica. Sejamos humildes, alguns problemas não podemos e nem precisamos resolver sozinhos. 
      Esta é a primeira parte da reflexão, a pergunta foi feita, na segunda parte seguirá uma possível resposta. Mas para você não encerrar a leitura sem um ensino, reflita no texto bíblico inicial, enganoso é o coração, diz ele. Não podemos confiar cegamente nas emoções, precisamos confirma-las através de oração persistente, permitindo que o Senhor esquadrinhe nosso coração e prove nossos rins, e coração e rins referem-se aos sentimentos. O que busca a Deus sentirá paz, conhecerá a vontade do Senhor, não só as imaginações de sua alma, e não se sentirá confuso. 

Leia na postagem de amanhã
a 2ª parte desta reflexão
José Osório de Souza

terça-feira, maio 24, 2022

Agrade-se Deus conosco

      “O Senhor teu Deus está no meio de ti, poderoso para te salvar; ele se deleitará em ti com alegria; renovar-te-á no seu amor, regozijar-se-á em ti com júbilo.Sofonias 3:17 

      Não existe coisa mais agradável de ouvir que Deus falando que está feliz com nossas vidas, que se agrada dos nossos caminhos. Talvez seja porque não ouvimos isso de homens, e muitas vezes daqueles cuja opinião é mais importante para nós. Penso que é impossível saber dessa aprovação de Deus e não ficar satisfeito, de maneira tal que toda mágoa, toda cobrança, toda inveja e toda insegurança apequenem-se. Estarmos satisfeitos com Deus resolve as outras insatisfações, e com efeito cura todo desamor, sabermos que Deus está feliz com nossas vidas nos deixa livres para amar a todos com pureza e com a paciência, algo que tantos necessitam com muita urgência. 
      Por outro lado, o motivo de muitos cobrarem tanto de homens, de parentes, de irmãos, de amigos, é achar que suas vidas não agradam ao Pai maior, muitas vezes de maneira inconsciente. Contudo, muitos conscientemente não acham que a opinião de Deus sobre eles realmente importa, ainda que se digam cristãos, se importam mais com o que os homens pensam. Homens, incluindo muitos religiosos, julgam pela aparência e pelos títulos, se valores materiais não são exibidos as pessoas são menosprezadas. Deus nos avalia pela espiritualidade, pelas virtudes morais que praticamos, tanto faz para ele dinheiro, bens e posições que mostramos aos homens neste mundo.
      Quando Deus se alegra ele sorri e seu sorriso é a luz espiritual mais alta sendo intensamente emanada sobre nossas vidas e daqueles debaixo de nossa cobertura de oração. A luz de Deus nos salva, nos arrebata das intenções e planos dos maus, mas ela também nos renova em amor. Ser renovado é ser refeito e enquanto no mundo e em corpos físicos nós precisamos de reconstruções constantes, visto que facilmente, e muitas vezes sem motivo aparente, nos entristecemos e nos vemos caídos. A alegria do Senhor é nossa força, nossa vida, nossa esperança, a certeza que Deus não está distante e indiferente, mas perto, atento e ativo, agradando-se dos humildes que o temem. 
      “Quando te sentires totalmente satisfeito só por saber que Deus te conhece e agrada-se de ti, estão serás realmente feliz, pois tua felicidade não dependerá do mundo, mas só de Deus. Quando te satisfazeres com essa felicidade, então, mistérios encobertos a muitos te serão revelados, conhecimentos que materialistas e ocultistas desejam, mas não acham, porque os querem só para se exibirem diante de homens. A palavra de Deus é vida, quem a acha a guarda, como ao tesouro mais caro e raro, e cala, não tem mais necessidade de aparentar, pois já conseguiu ser e ser para Deus, para mais ninguém. Ninguém saberá disso, só Deus, e isso não importará.

segunda-feira, maio 23, 2022

Não desista!

      “E não nos cansemos de fazer o bem, porque no tempo certo faremos a colheita, se não desanimarmos.Gálatas 6.9

      Não desista de fazer o bem.
      Não desista de ser a paz.
      Não desista de clamar por justiça.
      Não desista de chamar pecado pelo nome.
      Não desista de pedir perdão.
      Não desista de dar novas oportunidades. 
      Não desista de crer que alguém pode melhorar.
      Não desista de amar.
      Não desista de ser paciente.
      Não desista de ser simples.
      Não desista de não ser malicioso.
      Não desista de não julgar.
      Não desista de orar.
      Não desista de crer.
      Não desista de viver. 
      Não desista de trabalhar.
      Não desista de olhar o Sol.
      Não desista de ver a Lua.
      Não desista de esperar pela chuva.
      Não desista de apreciar as flores.
      Não desista de ensinar as crianças.
      Não desista de seus filhos.
      Não desista de seu cônjuge.
      Não desista de seus pais.
      Não desista de seus irmãos.
      Não desista de você. 
      Não desista de não mudar.
      Não desista de mudar se preciso. 
      Não desista de questionar.
      Não desista de buscar respostas.
      Não desista de querer o que parece impossível.
      Não desista de se contentar com o mínimo.
      Não desista de ser feliz.
      Não desista do céu. 
      Não desista de Deus. 

domingo, maio 22, 2022

Rodas quadradas?

      “Uns confiam em carros e outros em cavalos, mas nós faremos menção do nome do Senhor nosso Deus.Salmos 20.7

      Vou iniciar esta reflexão contando uma estória, nem é uma parábola, e mais uma fábula, digamos assim, e bem hipotética. Há muito tempo atrás, numa terra imaginária, quando as primeiras carroças foram utilizadas e camelos, jumentos, cavalos, bois e outros animais eram força motriz para elas, usava-se rodas, mas não eram redondas, eram quadradas. Parece engraçado? Você já vai entender. Essas rodas tinham utilidade, ajudavam os veículos a se movimentarem, mas eram duras, lentas, giravam aos solavancos. 
      Com o tempo, pelo desgaste, as rodas quadradas perdiam os ângulos e ficavam arredondadas, contudo, quando isso acontecia as rodas eram descartadas e por novas rodas, quadradas, eram trocadas. Usar rodas quadradas nem era escolha do povo, era obedecer ordem do rei, e quem usasse rodas de outros formatos era punido, afinal, só havia uma fábrica de rodas e essa pertencia ao rei. Essa fábula parece inverossímil, ridícula, impossível? Pois é, mas é assim que a humanidade se comporta com muitas religiões. 
      O ser humano, usando mal a característica de adaptabilidade, facilmente se acomoda, assim se alguém que ele considera importante diz algo, ele obedece, nem se importa se as rodas da carroça são quadradas. Se artistas, ricos, políticos e reis são formadores de opinião, mais peso tem a palavra de líderes religiosos, afinal ensinam sobre uma maneira de se ter provisão, proteção e aprovação de uma divindade, assim como um jeito de passar a eternidade no paraíso. Para não precisar pensar, o homem paga outros para isso. 
      Aprofundado-se mais na estória inicial, o problema não estava só nas rodas quadradas serem o tipo de roda que as pessoas tinham que usar no início, se fosse isso com o tempo elas perceberiam que tal formato não era eficiente e procurariam usar formatos melhores. Poderiam mudar para pentagonais, depois hexagonais, só nessas mudanças os solavancos já seriam menos acentuados. Contudo, o rei era dono da fábrica de rodas quadradas, lucrava com elas, e não queria ninguém tendo ideias melhores que a sua. 
      O cristianismo estabelecido no mundo não só dogmatizou entendimentos sobre Deus, o diabo, Jesus, salvação e a eternidade, que ainda que fossem ideias superficiais poderiam ser o início necessário para que depois o homem seguisse sozinho e conhecesse mais das verdades que esses princípios contêm. Esse falso cristianismo proibiu o crescimento, e mais, se alguém pensasse diferente seria excomungado, expulso do rol ou pior. Deve-se usar rodas quadradas sempre, afinal, instituições religiosas lucram com elas.
      Andar com Deus é algo tão poderoso que ainda que comece restrito, se há vontade do ser humano, conduz a conhecimentos espirituais profundos, e isso de maneira natural, como as rodas quadradas que com o tempo, pelo desgaste, se arredondam. Mas nesse momento o homem deve ter coragem para assumir que o que começou limitado tornou-se melhor e não deve ser descartado, mas usado para seguir em frente. Ele não precisa comprar novas rodas quadradas, nem temer o rei, pode usar as mais eficientes rodas redondas.
      Ainda que religiões queiram nos obrigar a comprar rodas quadradas, nosso trabalho de vida com Deus arredondará as rodas, não são líderes religiosos que fazem isso, somos nós e Deus. Mas tem mais, depois que as rodas arredondadas se desgastarem muito, nós mesmos podemos fabricar novas rodas, agora redondas, não quadradas. Trabalho gera conhecimento e conhecimento propicia liberdade (Gálatas 5.1). Qual a melhor religião? A tua para você, a minha para mim, a do outro para o outro, todos conectados a Deus. 
      O melhor é que muitos conheçam o Cristo real, só ele pode nos dar gratuitamente rodas de fogo que se movem em todas as direções e dimensões, que nunca se desgastam e que se renovam eternamente. Contudo, é preciso coragem para nos libertarmos da posição cômoda de religiões, da prepotência de papas, bispos, padres, pastores, apóstolos e outros tantos. Todos esses devem ser respeitados e podem nos ensinar muito, mas não para sempre, assim como não devem ser de forma alguma temidos, temer, só a Deus. 

sábado, maio 21, 2022

Movendo-se pelo Espírito

      “E Jesus, cheio do Espírito Santo, voltou do Jordão e foi levado pelo Espírito ao deserto; e quarenta dias foi tentado pelo diabo, e naqueles dias não comeu coisa alguma; e, terminados eles, teve fome.
      “E, acabando o diabo toda a tentação, ausentou-se dele por algum tempo. Então, pela virtude do Espírito, voltou Jesus para a Galiléia, e a sua fama correu por todas as terras em derredor. E ensinava nas suas sinagogas, e por todos era louvado.” 
      “E, chegando a Nazaré, onde fora criado, entrou num dia de sábado, segundo o seu costume, na sinagoga, e levantou-se para ler. E foi-lhe dado o livro do profeta Isaías; e, quando abriu o livro, achou o lugar em que estava escrito: 
      “O Espírito do Senhor é sobre mim pois que me ungiu para evangelizar os pobres, enviou-me a curar os quebrantados do coração, a pregar liberdade aos cativos e restauração da vista aos cegos, a pôr em liberdade os oprimidos, a anunciar o ano aceitável do Senhor”. 
      E, cerrando o livro, e tornando-o a dar ao ministro, assentou-se; e os olhos de todos na sinagoga estavam fitos nele. Então começou a dizer-lhes: “Hoje se cumpriu esta Escritura em vossos ouvidos”.”
Lucas 4.1-2,13-21

      Os primeiros quinze versículos do capítulo quatro do evangelho de Lucas (assim como Mateus 4.1-11) descrevem a tentação que Jesus sofreu antes de iniciar seu ministério, já refletimos várias vezes sobre as três tentações finais que o Diabo fez a Jesus (em especial cito a postagem “Três testes para a espiritualidade”). Desta vez não me atentarei aos três testes, que ao contrário do que muitos pensam não foi a tentação, mas só o final dela, feitos pelo diabo após quarenta dias de outros testes que a Bíblia não descreve o que foram exatamente. Depois disso, quando Jesus já estava fisicamente fragilizado, é que as três tentações finais foram feitas, o uso de textos bíblicos mostra como o diabo pode ser ardiloso. 
      O ponto desta vez são os registros feitos no capítulo quatro do evangelho de Lucas sobre o Espírito Santo. Jesus foi batizado por João Batista, esse exercia seu ministério próximo ao rio Jordão (Lucas 3.3), por isso o texto diz que Jesus voltou do Jordão, quando isso aconteceu já estava “cheio” do Espírito Santo, que desceu sobre ele em forma de pomba durante o batismo (Lucas 3.22). Depois pelo Espírito foi conduzido ao deserto para ser tentado e pelo mesmo Espírito voltou à Galiléia onde efetivamente iniciou seu ministério. Jesus era judeu, sua profissão era professor das escrituras religiosas judaicas, uma atividade desenvolvida nas “igrejas” judaicas (sinagogas), nisso vemos que a obra do Cristo iniciou focada nos judeus. 
      “Veio para o que era seu e os seus não o receberam, mas a todos quantos o receberam deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos que crêem no seu nome” (João 1.11-12). Por esse texto do evangelho de João entendemos que o plano original era um redentor para os judeus, não que Deus não quisesse salvar os gentios, mas talvez, depois de salvos, caberia aos judeus a obra de evangelização das outras nações. Contudo, os judeus no papel de sua liderança religiosa, não aceitaram a Jesus, o perseguiram e o crucificaram, ainda que muitos tenham sido abençoados pelo Cristo. Quando negamos um favor de Deus o favor passa para outro, Deus não desperdiça dádivas, a chuva que ele lança sempre alcança a terra certa.
      Pergunto até que ponto os cristãos, tanto católicos quanto protestantes, entendem de fato a ação e a relevância do Espírito Santo. Mesmo carismáticos e pentecostais, que provam a liberação dos dons espirituais em seu emocional, será que sabem de fato como funciona a obra do Espírito Santo e a provam de forma realmente plena? Os textos bíblicos não deixam de testificar sobre a importância do Espírito Santo na vida de Jesus homem, e isso segue no livro de Atos, nas cartas e em Apocalipse, ele não é um conceito subjetivo, só um estado emocional, mas um ser ativo e decisivo. Sendo uma “pessoa” podemos dialogar com ele, falarmos e sermos ouvidos, assim como ouvirmos quando ele fala, de forma objetiva.
      O meio que essa comunicação se estabelece é mental, não é fisico, se vemos ou ouvimos é em nossa mente, que depois pode refletir nos outros sentidos. Mas apesar de ser mental não é mera imaginação humana, isso precisa ficar claro, senão podemos confundir qualquer delírio ou alucinação com experiência espiritual. Eis-me aqui de novo tentando explicar o inexplicável, que só entende quem experimenta em primeira mão, mas que as palavras sirvam para despertarem alguns, na dúvida nasce a curiosidade e essa pode levar a novas descobertas. Em se tratando do Espírito Santo o provam os que Deus permite e que estão preparados, à vontade de Deus que acha a vontade do homem em sintonia muita coisa é possível. 
      Jesus tinha uma relação íntima com o Espírito Santo, e como homem precisou ter, senão não teria forças para desempenhar sua missão. Nossa missão não é tão grande, é mais pessoal, apesar de todos sermos chamados para servir a todos, mas precisamos do Espírito Santo igualmente, contudo, existem falsificadores do poder espiritual de Deus. Muitos pregam e constróem ministérios gigantescos só com a “unção do mundo”, a mesma energia que artistas, músicos e cantores usam para encantarem estádios cheios de fãs e outros locais de espetáculos. Essa tal “unção do mundo” é o emocional humano apaixonado e focado, o Espírito Santo também mexe e muito com nossos sentimentos, mas isso é efeito de sua ação. 
      Os falsificadores da unção do Espírito Santo insuflam o emocional pela carne, não com uma comunhão santa com Deus, por isso tantos pregadores famosos acabam sendo descobertos como viciados principalmente em sexo. Severa é a mão da justiça sobre os que colocam palavras santas em livros sujos, com os que usam o nome de Jesus em templos impuros, que se dizem servos de Deus quando só servem a si próprios, grande é o pecado desses. Jesus teve a unção mais poderosa que esse planeta já viu porque servia a Deus o pai, não a si mesmo, e isso para salvar os outros, mesmo tendo que pagar com a própria vida. Por isso ele se movia perfeitamente no Espírito Santo e o Espírito Santo se movia livremente por ele. 
      Se a velha aliança é a Lei de Deus no mundo recebida por Moisés, a nova aliança é o Espírito de Deus no mundo autorizado pela obra de Jesus. E quanto a nós, até que ponto temos com o Espírito Santo a interação que podemos ter? Ele tem liberdade em nós ou limita-se a agir quando deixamos, quando não estamos agindo em prol de nossos interesses, de nossos prazeres egoistas, de nossas vaidades e maldades? Jesus não foi só um exemplo, um ideal distante e impossível de ser vivido, Jesus foi o inaugurador de uma era, a era do Espírito Santo na Terra nos corações dos homens. A promessa a seguir, feita no antigo testamento (Jeremias 31.34) e dita como cumprida no novo testamento, só é possível pelo Espírito Santo:

      “Porque esta é a aliança que depois daqueles dias farei com a casa de Israel, diz o Senhor; porei as minhas leis no seu entendimento, e em seu coração as escreverei; e eu lhes serei por Deus, e eles me serão por povo; e não ensinará cada um a seu próximo, nem cada um ao seu irmão, dizendo: Conhece o Senhor; porque todos me conhecerão, desde o menor deles até ao maior.” Hebreus 8.10-11