quarta-feira, setembro 14, 2022

Israel não aprendeu a lição (45/92)

      “Porém o Senhor lhe disse: Paz seja contigo; não temas; não morrerás.” Juízes 6.23

(Para melhor entendimento leia passagens bíblicas no final)
 
      Nesta postagem a parte final da reflexão sobre Gideão, leia na postagem anterior a 1ª parte. Chega a ser engraçado, primeiro Gideão duvida, depois teme, mas novamente há algo que pode comprovar que o “anjo do Senhor” não era um mero anjo, tal o estarrecimento de Gideão quando entende isso. Deus conforta Gideão de novo com a linda palavra do versículo inicial, que respeito o todo-poderoso mostra por nós, seres frágeis e orgulhosos. A paciência de Deus é infinita, nosso bom ânimo, não, devido à nossa incredulidade. 
      Essa história parece cumprida até aqui, e deveria bastar para Gideão aprender a lição, mas não bastou, ainda mais dois eventos mostram seu persistente ceticismo. Gideão pede mais sinais, dois com o velo de lã, para que Deus prove que daria a ele vitória conduzindo Israel contra seus inimigos. Finalmente Deus prova ainda mais a fé de Gideão, diminuindo ao máximo o tamanho do exército que Gideão lideraria, chegando ao número de apenas trezentos. O homem tem que ser enfraquecido para se fortalecer em Deus. 
      Por que isso? O incrédulo, ainda que obtenha vitória, poderá não crer que ela foi conquistada por intermédio de Deus, mas por ele, dessa forma um exército mínimo seria mais argumento para convencer Gideão a crer no poder de Deus, não na capacidade sua ou do exército de Israel. Por que isso era importante? Porque Deus não queria simplesmente dar a Israel uma vitória sobre um inimigo do momento, mas queria curar o problema inicial, que levou Israel a se afastar de Deus e ser oprimido por inimigos. 
      Se Gideão e Israel não aprendessem isso, poderiam até ter vitória naquela situação, mas passaria um tempo, eles se afastariam novamente de Deus e seriam oprimidos por um novo inimigo. Deus não quer só resolver um problema imediato, externo e passageiro, mas nos dar uma cura interna e duradoura. Quanto trabalho damos a Deus e consequentemente a nós mesmos por causa de nossa incredulidade, se simplesmente crêssemos seria muito mais fácil e rápido, pouparíamos tempo e muito sofrimento. 
      Desculpe-me, mas essa história não tem final feliz, e eis outro motivo que faz da Bíblia um livro único. Se fossem só registros de escritores contando sua própria história, talvez muitos fatos fossem deixados fora, como ocorre com auto-biografias, onde o que escreve sobre si mesmo só fala das coisas boas. Mas nas crônicas de Israel as coisas ruins são registradas sem receio, e em se tratando de Israel, sua história não tem um final feliz neste mundo até hoje, muitos ainda não entenderam que a vitória é individual e por Jesus.
      Parece que bastou o juiz Gideão falecer para que a nação de Israel voltasse a se afastar do Senhor e sofrer as terríveis consequências disso. Como um povo que provou tantos milagres de Deus pôde negá-lo tantas vezes? Mas será que somos diferentes, melhores que os israelitas? Isso é prova que experimentar milagres não é demonstração de espiritualidade, não nos faz mais ungidos, como tantos evangélicos acham hoje. Gideão pediu um, dois, três sinais, Deus deu provas, fez o milagre, ainda assim não foi suficiente. 
      Vejo nos personagens do velho testamento Deus lançando em nosso rosto, ainda que com amor, uma verdade: não mudamos facilmente, é preciso trabalho para pararmos de errar, pagarmos os preços pelo que erramos, então, fazermos coisas certas e colhermos bons frutos disso. Só mudamos com muita dor e muito tempo, tenhamos humildade para admitir isso. Talvez a eternidade dê continuidade à nossa evolução, talvez necessitemos de mais, talvez o trabalho para melhorarmos possa ser maior que esta vida, só talvez…

—————#—————

      “Então viu Gideão que era o anjo do Senhor e disse: Ah, Senhor Deus, pois vi o anjo do Senhor face a face. Porém o Senhor lhe disse: Paz seja contigo; não temas; não morrerás.
      “E disse Gideão a Deus: Se hás de livrar a Israel por minha mão, como disseste, eis que eu porei um velo de lã na eira; se o orvalho estiver somente no velo, e toda a terra ficar seca, então conhecerei que hás de livrar a Israel por minha mão, como disseste. E assim sucedeu; porque no outro dia se levantou de madrugada, e apertou o velo; e do orvalho que espremeu do velo, encheu uma taça de água. 
      E disse Gideão a Deus: Não se acenda contra mim a tua ira, se ainda falar só esta vez; rogo-te que só esta vez faça a prova com o velo; rogo-te que só o velo fique seco, e em toda a terra haja o orvalho. E Deus assim fez naquela noite; pois só o velo ficou seco, e sobre toda a terra havia orvalho.
      “E disse o Senhor a Gideão: Com estes trezentos homens que lamberam as águas vos livrarei, e darei os midianitas na tua mão; portanto, todos os demais se retirem, cada um ao seu lugar.
      “E sucedeu que, como Gideão faleceu, os filhos de Israel tornaram a se prostituir após os baalins; e puseram a Baal-Berite por deus. E assim os filhos de Israel não se lembraram do Senhor seu Deus, que os livrara da mão de todos os seus inimigos ao redor. Nem usaram de beneficência com a casa de Jerubaal, a saber, de Gideão, conforme a todo o bem que ele havia feito a Israel.

Juízes 6.22-23, 36-40, 7.7, 8.33-35
José Osório de Souza, 28/11/2021

terça-feira, setembro 13, 2022

Gideão e sua incredulidade (44/92)

      “Então o anjo do Senhor lhe apareceu, e lhe disse: O Senhor é contigo, homem valoroso.Juízes 6.12

(Para melhor entendimento leia passagens bíblicas no final)

      Gideão, talvez, seja o homem mais incrédulo que a Bíblia relata, mais que Tomé? Talvez. Ainda assim Deus o escolheu para livrar a nação de Israel. Isso nos ensina que não é o homem para uma ação de Deus, que beneficiará outros homens, mas a ação de Deus para ensinar um indivíduo, que depois pode ser usado para abençoar outros indivíduos. O Senhor tem sempre interesse específico em nós, assim não chama preparados, mas prepara chamados, ainda que chamados tenham sempre potencial para serem usados. 
      Deus não chama qualquer um para qualquer coisa, o Senhor sabe o que podemos vir a ser, ainda que não sejamos no presente. Gideão não era qualquer um, mas o homem certo para uma missão. Na passagem de Juízes 6-8, a história de Israel é reincidente, o povo se afastou de Deus e foi entregue nas mãos de seus inimigos, esses impediam Israel de plantar e criar animais, com isso Israel empobreceu, perdeu sua autonomia de nação. Onde estavam os falsos deuses em que confiou Israel para ajudá-lo nesse momento? 
      Deus toma a iniciativa para ajudar um povo que se afastou dele, o “anjo do Senhor” veio e assentou-se sob uma árvore. Gideão, trabalhando, mas mais ocupado em ludibriar o inimigo, que mudar a condição que tinha levado Israel a sucumbir diante do inimigo, não viu o “anjo do Senhor”, assim o anjo “apareceu” a Gideão para que ele o reconhecesse. Imediatamente Deus deixou bem claro o que pensava de Gideão, “o Senhor é contigo, homem valoroso”, a palavra de Deus é sempre de incentivo, nunca de acusação. 
      Deus é maravilhoso, acredita em nós quando nós não cremos nem nele, nem em nós mesmos. “Se o Senhor é conosco, por que tudo isto nos sobreveio?”, disse o incrédulo Gideão, ele duvidou da afirmação do “anjo”, não teve a noção ou a humildade para assumir que Israel sofria porque estava em pecado, antes jogou a culpa em Deus pelo sofrimento. O “anjo” respondeu mostrando novamente a fé que Deus tem em nós, que não exige de nós mais que o que somos e podemos fazer, “vai nesta tua força e livrarás a Israel”.
      Quantas vezes temos que ouvir de Deus que se crermos e obedecermos tudo vai dar certo, até que mudemos de atitude e deixemos de ser rebeldes e incrédulos? Gideão insistiu em sua narrativa de vítima e fraco, como se Deus dependesse de suas forças e capacidades para fazer algo. “Porquanto eu hei de ser contigo, tu ferirás aos midianitas como se fossem um só homem”, insistiu Deus em sua paciente tarefa de conduzir o homem incrédulo e orgulhoso à vitória. Ah, se de fato crêssemos no amor de Deus. 
      Gideão não se convenceu, após duvidar das palavras, duvidou da legitimidade do mensageiro, ele queria um sinal. Se tem uma coisa que aprendemos com a história de Gideão é que um sinal nunca basta, quem pede um, pede dois, três e por aí vai, por isso ou cremos sem ver imediatamente, ou não fiquemos arrumando desculpas por sermos incrédulos. Quem pede sinal joga em Deus a responsabilidade de provar que é Deus, e tira de si a responsabilidade de crer em Deus, que petulância a nossa tantas vezes. 
      Deus acrescentou algo ao sinal, pediu a Gideão que derramasse o caldo sobre a carne e os pães, para que ficassem mais úmidos, então, fez subir fogo que os consumiu, após isso o “anjo” se foi. Coloquei “anjo do Senhor” entre aspas, esse ser, citado algumas vezes na Bíblia, é um mistério, alguns dizem que não é um simples anjo, mas um enviado especial, que fala por Deus em primeira pessoa, seria Gabriel? Parece que ele se apresenta inicialmente em forma humana. Leia na postagem de amanhã a parte final desta reflexão. 

—————#—————

      “Porém os filhos de Israel fizeram o que era mau aos olhos do Senhor; e o Senhor os deu nas mãos dos midianitas por sete anos.” “Assim Israel empobreceu muito pela presença dos midianitas; então os filhos de Israel clamaram ao Senhor.” 
      “Então o anjo do Senhor veio, e assentou-se debaixo do carvalho que está em Ofra, que pertencia a Joás, abiezrita; e Gideão, seu filho, estava malhando o trigo no lagar, para o salvar dos midianitas. Então o anjo do Senhor lhe apareceu, e lhe disse: O Senhor é contigo, homem valoroso. 
      Mas Gideão lhe respondeu: Ai, Senhor meu, se o Senhor é conosco, por que tudo isto nos sobreveio? E que é feito de todas as suas maravilhas que nossos pais nos contaram, dizendo: Não nos fez o Senhor subir do Egito? Porém agora o Senhor nos desamparou, e nos deu nas mãos dos midianitas. 
      Então o Senhor olhou para ele, e disse: Vai nesta tua força, e livrarás a Israel das mãos dos midianitas; porventura não te enviei eu? E ele lhe disse: Ai, Senhor meu, com que livrarei a Israel? Eis que a minha família é a mais pobre em Manassés, e eu o menor na casa de meu pai. E o Senhor lhe disse: Porquanto eu hei de ser contigo, tu ferirás aos midianitas como se fossem um só homem.
     “E ele disse: Se agora tenho achado graça aos teus olhos, dá-me um sinal de que és tu que falas comigo. Rogo-te que daqui não te apartes, até que eu volte e traga o meu presente, e o ponha perante ti. E disse: Eu esperarei até que voltes. E entrou Gideão e preparou um cabrito e pães ázimos de um efa de farinha; a carne pós num cesto e o caldo pós numa panela; e trouxe-lho até debaixo do carvalho, e lho ofereceu. 
      Porém o anjo de Deus lhe disse: Toma a carne e os pães ázimos, e põe-nos sobre esta penha e derrama-lhe o caldo. E assim fez. E o anjo do Senhor estendeu a ponta do cajado, que estava na sua mão, e tocou a carne e os pães ázimos; então subiu o fogo da penha, e consumiu a carne e os pães ázimos; e o anjo do Senhor desapareceu de seus olhos.
 Juízes 6.1, 6, 11-21
José Osório de Souza, 28/11/2021

segunda-feira, setembro 12, 2022

A quem queremos convencer? (43/92)

      “E Jesus, movido de grande compaixão, estendeu a mão, e tocou-o, e disse-lhe: Quero, sê limpo. E, tendo ele dito isto, logo a lepra desapareceu, e ficou limpo. E, advertindo-o severamente, logo o despediu. E disse-lhe: Olha, não digas nada a ninguém; porém vai, mostra-te ao sacerdote, e oferece pela tua purificação o que Moisés determinou, para lhes servir de testemunho. Mas, tendo ele saído, começou a apregoar muitas coisas, e a divulgar o que acontecera; de sorte que Jesus já não podia entrar publicamente na cidade, mas conservava-se fora em lugares desertos; e de todas as partes iam ter com ele.Marcos 1.41-45

      Ouvimos com frequência pregadores dizendo que nossas ações devem corresponder às nossas palavras. Não ser hipócrita é praticar o que se fala, mas quem consegue isso? Na maioria das vezes os que mais falam são os que mais têm boas coisas a dizer, portanto com mais coisas a viver. Isso não é sempre, há alguns que falam sempre e sem medo, mas só falam bobagens, portanto, o que falam condiz com o que vivem, esses acham que gostar de falar dá legitimidade para se dizer qualquer coisa. Contudo, um modo de atenuar a hipocrisia é falar menos, assim seremos menos cobrados, isso pode ser mais fácil que não praticar tudo que falamos. Quem fala se compromete, quem pouco fala, pouco se compromete (Provérbios 17.28). 
      Os outros precisam saber de tudo que pensamos? Não. Principalmente em termos de espiritualidade é melhor calar que falar. Muitos cristãos creem o contrário, principalmente evangélicos, por se verem como donos da verdade que livra todos do inferno, acham que devem tentar convencer as pessoas a acreditarem como eles acreditam. Não acham que estão importunando ninguém com isso, mas ajudando, mas na verdade estão importunando, e muito a muitas pessoas, eles mesmos, estão dando a juízes mais argumentos para que esses lhes cobrem em algum momento. Esses juízes estão neste mundo, também estarão no outro, mas mais que isso, estão dentro de nós. Falar demais pode ser uma tentativa de convencer juízes interiores. 
      No mundo atual as pessoas estão obcecadas para compartilhar suas vidas, a facilidade de acesso e de compartilhamento e a beleza das molduras entregues pelos filtros das redes sociais, levam muitos a crer que os quadros são maravilhosos e importantes. As pessoas estão sendo enganadas, manipuladas para que gerem espaços onde elas, de graça, ajudam a vender produtos. As pessoas trocam suas privacidades por fama, mas não percebem que são só marionetes nas mãos dos poderosos donos de Facebook, Instagram, Youtube, Twitter etc, e esses só querem lucros financeiros. Algo perigoso nesses negócios é que eles não respeitam limites nacionais, são globais, se acham acima do bem e do mal, de governos e de autoridades. 
      Quem resiste à fama, ao prazer de saber que é visto e admirado por muitos, de ter reconhecimento no mundo? Jesus resistiu, ele sabia os perigos de certas coisas serem conhecidas. O primeiro perigo foi o mais óbvio, sua missão despertaria a inveja de líderes religiosos judeus que poderiam lhe fazer mal por isso. Cristo sabia que não poderia ser livrado de seu fim, não se pode esconder a luz para sempre, mas o segredo deveria ser mantido para que o tempo de Deus se cumprisse. Enquanto isso Jesus ensinava os discípulos, cujas memórias construiriam o que mudou a humanidade depois, os textos bíblicos. Jesus era um homem de ação, suas palavras eram efeito disso, mas elas teriam uma missão no futuro por isso precisou de tempo. 
      Outro perigo de deixar público certos conhecimentos é jogar pérolas aos porcos, deixar saber quem não está preparado para saber que portanto entenderá errado e contribuirá mais para à incredulidade que para a fé. No texto bíblico inicial o homem relatou uma cura física, quem não fica feliz com uma cura assim? Mas ele não foi sábio, em primeiro lugar porque desobedeceu uma orientação de Jesus. Quando Deus fala, ainda que não entendamos, mesmo que discordemos com boa argumentação, devemos obedecer. Deus não vê só o aqui e agora, mas todos, tudo e sempre, o Senhor sabe as consequências de uma informação nos complicados sistemas do universo, das relações humanas, dos poderes e escolhas de homens e outros seres. 
      Não falar algumas coisas porque as pessoas não estão preparadas para certas coisas é ato de amor. Podemos estar protegendo as pessoas delas mesmas, de pecarem, caso recebam certas informações, e não me refiro só a mistérios espirituais, falo de coisas triviais de nossas vidas materiais. Sejamos responsáveis, não só alertando os outros de perigos caso não façam as coisas certas, mas também impedindo-os de cometerem erros de julgamento sabendo de coisas que não podem administrar de maneira sadia, moral e espiritualmente. O silêncio protege, não só a nós como aos outros. Se muitos acham que falar é melhor que fazer e outros pensam que fazer é melhor que falar, orar a Deus deve preceder tudo, ações e palavras. 
      Falar demais encurta o tempo, impede Deus de agir com paciência, quando falamos demais ocupamos tempo e atenção que alguém deveria estar dando a Deus. Sem paciência com os outros ou com o que achamos que precisamos receber dos outros, queremos resultados rápidos. Mas Deus trabalha no silêncio, e de maneiras que não podemos sequer imaginar. Deus é espírito, o Espírito é intraduzível pela matéria, essa só pode fazer esboços grosseiros dele. Oração vale mais que discursos, se feita com intenção correta, amor e iluminação, porque ela se coloca no mundo espiritual, com ferramenta espiritual atuando nas pessoas de maneira espiritual. Orar não apressa nada, e se fazemos isso em espírito, o pouco valerá por muito. 
      Quando oramos, em todos os níveis, emocional, racional e espiritual, saímos convencidos do que somos, do que queremos, do que temos que receber e do que Deus quer nos dar. Essa satisfação anula toda carência e insegurança que nos levam a querer convencer os outros de algo que nada tem a ver com os outros. A oração emocional pode desaguar em choro, e podemos estar precisando muito chorar. A oração racional nos faz verbalizar as questões, entendermos intelectualmente nossa vida no que é possível, é exercer inteligência e ver soluções. Mas é na oração plenamente espiritual, onde o Espírito Santo não é só meio passivo, mas participante ativo, quando exercemos os dons espirituais, onde recebemos a paz maior. 

domingo, setembro 11, 2022

Espírito progride sempre (42/92)

      “Dize-nos, pois, que te parece? É lícito pagar o tributo a César, ou não? Jesus, porém, conhecendo a sua malícia, disse: Por que me experimentais, hipócritas? Mostrai-me a moeda do tributo. E eles lhe apresentaram um dinheiro. E ele diz-lhes: De quem é esta efígie e esta inscrição? Dizem-lhe eles: De César. Então ele lhes disse: Dai pois a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus.” Mateus 22.17-21

      O texto inicial é uma daquelas passagens inesquecíveis do evangelho, onde tentando deixar Jesus sem resposta, os enviados dos líderes religiosos judeus recebem aquela palavra simples e profunda que só Deus tem, “dai pois a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus”. A matéria não precisa negar o espírito, nem o espírito negar a matéria, existe equilíbrio possível. O que não se pode é inverter as coisas, tentar espiritualizar a matéria ou materializar o espírito. Homens “espiritualizam” a matéria quando pela ciência tentam explicar coisas espirituais com conceitos físicos, substituem Deus pelo ego humano, sua providência pela inteligência do homem, seus ideais de moral por ideologias terrenas. 
      Os homens tentam “materializar” o espírito quando creem que prosperidade no mundo é o mais alto reflexo de vida com Deus. “César” merece nossos impostos, não nossas almas, o dinheiro merece nossa administração sensata, não nossa adoração. O mundo físico precisa ser progressista, incluindo vida social que administra diferenças com igualdade, contudo, o plano espiritual pode ser conservador se estiver ligado de fato ao Deus verdadeiro. Mas quem conhece plenamente o Deus verdadeiro para se colocar como um conservador das verdades mais altas e imutáveis? Ninguém, assim temos que ser progressistas também para Deus, isso é focarmos no Espírito Santo, não nas tradição, e seguirmos aprendendo. 
      O cristão deve ser conservador ou progressista? Como em outros assuntos, as pessoas têm dificuldades para serem equilibradas, não acham um meio termo entre uma coisa e outra, ou tomam tudo de um lado ou tudo do outro, assim é mais fácil, não é preciso avaliar, escolher e arcar com consequências. Muitos simplesmente dizem, “sigo a orientação da minha religião, do papa, do padre, do pastor, do missionário, do apóstolo, não me importa o que os outros dizem”. Quem delega deveres delega direitos, o que deixa os outros pensarem por si será escravo dos outros, quem segue a homem não conhece a Deus. Deus pode ser conservador, nós não, ainda teremos que ser progressistas por muito tempo. 
      Deus conserva eternamente suas virtudes no mesmo nível de excelência, mas a humanidade ainda está longe de entender essas virtudes. Jesus veio como homem justamente para ensinar como a mais alta espiritualidade pode se manifestar no plano físico. Contudo, ainda assim, os homens engessaram os ensinos do Cristo, o dogmatizaram para dominarem outros homens, calando a voz do vivo Espírito Santo. O que muitos dizem ser o conservador ensino divino é só conveniente conservadorismo humano, para conhecermos a Deus precisamos nos libertar disso. Só nas asas do Espírito Santo progrediremos às regiões espirituais mais altas em Cristo, só assim teremos um conhecimento pleno para poder conservar.
      Sob um certo ponto de vista, podemos até dizer que o homem ou uma religião que se coloca como conservador é um grande arrogante. É achar que já sabe tudo de Deus, de maneira que aquilo que sabe deva ser guardado e lacrado, achando-se, assim, guardião exclusivo de verdades absolutas, que nunca mudarão e portanto devem ser conservadas. A igreja católica é o maior exemplo dessa arrogância, com isso ela trancou a civilização ocidental por séculos no que é denominado “idade das trevas”, negando ciência, perseguindo e matando quem pensasse diferentemente dela. Mas protestantes e evangélicos atuais também se perdem nesse engano, a arrogância, contudo, sempre precede uma vergonhosa queda.  
      Deus é liberdade para se progredir. Muitos religiosos não entendem essa afirmação, pois na verdade eles não querem ser livres, assim é mais fácil construírem um “Deus” que limita e prende para estão ser cegamente obedecido. Por outro lado, aqueles que negam religião, acham que são livres por não crerem em Deus, não entendem que também têm uma visão equivocada do Deus verdadeiro, aliás, a mesma visão que muitos crentes têm. Ocorre que enquanto muitos religiosos escolhem obedecer esse “Deus” equivocado, os não religiosos escolhem não obedecer a esse mesmo “Deus” equivocado, ainda que se tornem crentes equivocados de outra coisa, a ciência, eficiente para a matéria, mas não para o espírito. 
      “Sou progressista mas não sou comunista, sou conservador mas não sou cristão, sou liberal mas não sou materialista, sou crente mas não nego a ciência”, você consegue fazer essas afirmações? Não precisa fazer todas elas, pode até fazer outras mais arrojadas e mais antagônicas, mas o que importa é não se amarrar a definições absolutas e extremas, é usar a razão para encontrar equilíbrios. Isso é conhecer o Deus mais alto, um Espírito superior e livre que nos chama para sermos espíritos elevados e libertos. O mundo está mudando e há algum tempo, e mudará ainda mais, o Senhor nunca muda. Nós, contudo, precisamos humildemente assumir nossas mudanças para progredirmos em direção ao Deus Altíssimo. 

Leia na postagem de ontem
a 1ª parte desta reflexão

sábado, setembro 10, 2022

Conservador ou progressista? (41/92)

      “O sábio ouvirá e crescerá em conhecimento, e o entendido adquirirá sábios conselhos; para entender os provérbios e sua interpretação; as palavras dos sábios e as suas proposições. O temor do Senhor é o princípio do conhecimento; os loucos desprezam a sabedoria e a instrução.” Provérbios 1.5-7

      Cristianismo: conservador ou progressista? Os termos progressismo e conservadorismo são bem amplos, surgiram com o iluminismo na Europa no século XVIII e depois como uma resposta a esse no século XIX. Eles podem se referir às áreas social, econômica, política, moral, ética e mesmo religiosa. Enquanto o progressista prega uma evolução constante em muitas áreas, baseada na ciência, o conservador ensina a manutenção de valores tradicionais, que na origem incluíam poder do monarca, por ter recebido esse direito pelo sangue, e submissão à igreja católica. Ele está ligado à direita política, e em seus princípios iniciais até o protestantismo era antagonizado.
      O progressismo é ligado à esquerda política, sendo base para o positivismo, o liberalismo econômico, o darwinismo social e o marxismo, que inicialmente lutava mais no ativismo trabalhista, mas que depois deu origem à nova esquerda. É importante entendermos essa mudança da esquerda, que passou a lutar no ativismo social, em questões como direitos civis e políticos, feminismo, direitos homossexuais, pacifismo, questionamento dos papéis de gênero, aborto e reformas de políticas de drogas. Esse papel social anteriormente era mais ligado à religião, o catolicismo que tinha predominância no ensino, por exemplo, perdeu lugar para ensinadores e pedagogos dessa nova esquerda. 
      Muitos cristãos não percebem, mesmo em seu modo de ver as coisas, que na obsessão de conservarem tradições ultrapassavas, perdem a corrida por representarem as necessidades mais relevantes da humanidade, e não me refiro às materiais, essas a ciência deve resolver. Essas causas da nova esquerda, e mesmo do velho marxismo, buscando igualmente e vida digna para todos, deveriam ser do evangelho, não de ideologias ateias. Mas com medo de se opor ao conservadorismo religioso, muitos cristãos fazem parte do problema, não da solução. Por que muitas das pessoas interessadas em mudar o mundo preferiram as propostas da nova esquerda e não do evangelho? Jesus ficou mais fraco?
      De maneira alguma. O argumento que muitos cristãos usam para ficarem do lado do conservadorismo é que esse defende valores da tradição judaica-cristã, principalmente de família e sexualidade, assim acham que estão do lado de Deus, enquanto que o outro lado, o lado progressista, da esquerda, dos comunistas, para eles é o lado do diabo. Mas que diabo é esse que defende minorias e é contra preconceitos? Não estou dizendo que todas as causas da nova esquerda estão de acordo com a vontade mais alta de Deus, como por exemplo não está a luta por direito indiscriminado ao aborto. Contudo, na falta de sabedoria, muitos cristãos se põem num extremo e não veem que Deus está no equilíbrio. 
      Não nos percamos nos extremos, em poucas palavras: progressismo é evolução, conservadorismo é estagnação. O Deus verdadeiro, é estagnado ou evolutivo? O espiritismo de Allan Kardec é claramente progressista, ainda que seja algo espiritual propõe um espiritualismo científico, assim mais caracterizado ainda como progressista. O catolicismo é início e fim do conservadorismo, não só religioso, mas social, moral e mesmo político, ele sobrevive disso. O protestantismo, ainda que visto inicialmente como progressista, não só na religião mas também na política e na economia, se põe hoje como conservador, principalmente na área social. Hoje o termo conservadorismo liberal está em voga.
      O conservador liberal faz uma diferenciação, mesmo que se seja conservador nas outras áreas, na econômica é liberal. Vemos isso claramente no atual governo brasileiro, conservador nas tradições de família e gênero, portanto na religião, mas liberal na economia. Mas isso não é tentar o melhor de dois muitos? Em se tratando de cristãos, conveniente para preconceituosos e materialistas não assumidos. Preconceituosos porque acham que a Bíblia proíbe certas coisas e desobedecer isso é ir contra Deus, conservadorismo é pai do preconceito. Materialistas não assumidos porque apesar de se dizerem espirituais, estão mais interessados, ainda que pela religião, em riquezas e poderes deste mundo. 
      Desculpe-me se não fui preciso em alguns termos citados, não sou especialista no assunto, se possível, entre nos links deixados e informe-se mais, contudo, esses temas estão presentes no mundo atual, é interessante entendermos alguma coisa sobre eles. “O sábio ouvirá e crescerá em conhecimento”, diz o texto bíblico inicial, assim estar bem informado sobre economia, política, mesmo antropologia, é importante para aquele que teme a Deus e o segue de perto. Nossa sabedoria não está só relacionada com religião e Bíblia, a vida moderna pede muito mais dos que querem andar na luz. As trevas, por sua vez, são astutas, se o que caminha com Deus não estiver atento poderá ser presa delas. 

Leia na postagem de amanhã
a 2ª parte desta reflexão

sexta-feira, setembro 09, 2022

Oremos pelos governantes (40/92)

      “Admoesto-te, pois, antes de tudo, que se façam deprecações, orações, intercessões, e ações de graças, por todos os homens; pelos reis, e por todos os que estão em eminência, para que tenhamos uma vida quieta e sossegada, em toda a piedade e honestidade; porque isto é bom e agradável diante de Deus nosso Salvador, que quer que todos os homens se salvem, e venham ao conhecimento da verdade.” I Timóteo 2.1-4

      Ouvi um grande líder evangélico dizer, “dízimos e ofertas das igrejas são necessários pois sem eles não consigo manter programa de TV que faz trabalho evangelístico”, mas quem disse que Deus precisa de um serviço tão caro para propagar o evangelho? Não seria melhor usar esse recurso para ajudar pobres e outros necessitados, mesmo que não se tornem membros oficiais de igrejas? Contudo, testemunho pessoal não aparece para os homens, não conquista poder político, eleitorado, não sacia vaidade de pastor que só quer poder neste mundo. 
      Os que são sábios, humildes e tementes a Deus, cumprirão seus deveres como cidadãos em eleições, e se manterão longe tanto quanto possível de política. Queremos mudar o Brasil? Ajudemos os indivíduos. Evangélicos, ao invés de se envolverem com política, tornem suas igrejas locais de auxílio a pobres e viciados, distribuam alimentos, roupas, criem cursos para ajuda social e profissional. Façam isso não para aumentarem os dizimistas, mas como caridade desinteressada, respeitando livre arbítrios, visando a pátria celeste, não a brasileira. 
      A afirmação que segue poderá chocar alguns: Deus não é Senhor do Brasil! Deus é criador do universo e nada ocorre sem que ele permita, mas neste mundo ele é Senhor só daqueles que deixam que ele seja. Depois que Jesus cumpriu sua obra de redenção, Deus não usou mais uma nação para testemunhar dele, como usou Israel nos tempos do antigo testamento. Israel podia dizer, “Deus é Senhor dessa nação”, ainda que passasse muito tempo rebelde a Deus e em cativeiro. Hoje Deus é Senhor de indivíduos, indiferente da nação que façam parte. 
      Isso não significa que Deus não atenda clamores apaixonados e sinceros do bem, que pedem que Deus salve o Brasil, que Deus cure o Brasil, que Deus traga prosperidade ao Brasil. Mas esses sinceros precisam aceitar que nem no céu haverá humanidade unânime, mas várias, e aqui no mundo as secções são ainda mais numerosas. O Brasil não é um povo, mas vários, especialmente o nosso país, formado por imigrantes de tantos locais do mundo, junto com os povos originais que já estavam nas Américas. Existir só uma crença no Brasil é difícil. 
      Por várias vezes tenho levantado aqui o posicionamento que o reino de Deus é no céu, não no mundo. Isso é argumento para invalidar intenção de cristão envolver-se com política, elegendo candidato que o represente religiosamente, crendo que isso é vontade de Deus. Um bom político precisa nos representar em muitas áreas, materiais, culturais, até morais, mas não religiosa. Talvez seja aí que muitos cristãos tenham uma dificuldade séria, não conseguem separar área moral da religiosa, acham que por alguém não ser cristão não tem moral.
      “Pelos seus frutos os conhecereis” (Mateus 7.20), quando, como cristãos, daremos importância a isso ao invés de crermos que alguém é evangélico só porque diz que tem em fé em Cristo e é membro de igreja? Assim engaiolamos os pardais e deixamos correr soltos, no meio das cidades, os hipopótamos. Quantos homens no mundo, assumindo-se como não evangélicos, e mesmo como ateus, estão fazendo pela humanidade o que muitos cristãos não estão fazendo, defendendo o planeta, fazendo caridade, lutando pelas minorias, eu conheço muitos. 
      Enquanto isso muitos evangélicos acham que estão no centro da vontade de Deus porque participam de cultos em templos lotados, cantando louvores e ouvindo pregadores carismáticos. Eu não entendo pelo texto bíblico inicial, que devemos orar pelos governantes necessariamente esperando que eles se convertam à religião cristã. A passagem diz “para que tenhamos uma vida quieta e sossegada, em toda a piedade e honestidade”, entendo que devemos pedir que eles tenham vidas dignas para desempenharem bem suas funções públicas.
      Depois diz “porque isto é agradável diante de Deus que quer que todos os homens se salvem e venham ao conhecimento da verdade”, assim podemos e devemos até desejar que eles se salvem, mas salvação, seja lá como isso for interpretado, não é pré-requisito para que exerçam bem cargos políticos que envolvem vidas de muitos, incluindo dos que se pretendem salvos. Não se enganem, isso não diminui Jesus, ao contrário, o coloca no lugar certo, o espiritual, e nos leva a tratar todos como Deus trata, respeitando escolhas religiosas pessoais. 

Leia na postagem de ontem
a 1ª parte desta reflexão

quinta-feira, setembro 08, 2022

Do Senhor é o Brasil (39/92)

      “Do Senhor é a terra e a sua plenitude, o mundo e aqueles que nele habitam. Porque ele a fundou sobre os mares, e a firmou sobre os rios. Quem subirá ao monte do Senhor, ou quem estará no seu lugar santo? Aquele que é limpo de mãos e puro de coração, que não entrega a sua alma à vaidade, nem jura enganosamente. Este receberá a bênção do Senhor e a justiça do Deus da sua salvação.Salmos 24.1-5

      O Brasil NÃO é do presidente, dos políticos, das forças armadas, nem da ciência, das empresas ou das mídias, e muitos menos dos cristãos, sejam católicos, protestantes, evangélicos, ou de qualquer outros religiosos ou não religiosos. Brasil é de Deus! Sendo assim, antes de quererem fazer isso ou aquilo com o país, deveriam perguntar primeiro a Deus o que ele quer fazer, principalmente muitos protestantes e evangélicos, já que são esses os que se acham ter exclusividade sobre direitos que dizem que receberam diretamente do Senhor. 
      Em primeiro lugar temos que dizer que ninguém, nos dias atuais, tem qualquer direito diferenciado ou privilégio sobre um território geográfico ou político, a não ser aqueles direitos que as leis locais dão a qualquer ser humano sobre a terra, indiferentemente de religião ou ausência de uma. Muitos evangélicos, contudo, pensam de outra forma, querem o reino de Deus no mundo e acham que agem de acordo com a vontade de Deus quando lutam para que sua religião prevaleça na condução política, educacional ou de outra área do país.
      A direita cristã tem predileção pela educação, pois acha que essa tem sido controlada pela esquerda. Primeiro é preciso entender que a nova esquerda não tem só bandeiras trabalhistas, como no início do comunismo, mas bandeiras sociais, pelas minorias, afrodescendentes e indígenas, contra sexismo, preconceitos, a favor da causa LBGTQIA+, da liberação de certas drogas etc. Em grande parte isso vai contra a tradição judaica-cristã, mas não era justamente a igreja católica quem dominava a educação antes? Parece que não deu conta.
      Não existe nenhuma teoria de conspiração na esquerda ter conquistado certas áreas de atuação. O cristianismo falso do mundo, não o de Cristo, teve sua oportunidade e só conduziu a humanidade a um conservadorismo que gerou preconceitos, tentou anular a ciência, e principalmente, negou o evangelho original de Jesus. Pois bem, o progressismo tem agora sua oportunidade, aceitem isso ou não os cristãos, se tivessem administrado certo os ensinos do mestre poderiam estar liderando a humanidade pelo Espírito Santo, ao invés do materialismo ateu.
      Se o Brasil é de Deus, quem tem direito a esse Brasil? O texto bíblico inicial pergunta isso e responde com outras palavras: “quem subirá ao monte do Senhor, quem estará no seu lugar santo? Aquele que é limpo de mãos e puro de coração, que não entrega a sua alma à vaidade, nem jura enganosamente”. Primeiro o texto não se refere a um monte físico, mas a uma posição espiritual. Monte do Senhor ou lugar santo é a presença mais elevada de Deus, não na Terra, mas no plano espiritual. O evangelho não promete reino de Deus no mundo.
      Seja como for o privilégio espiritual que é possível ao ser humano exige certas virtudes, mãos e coração limpos, ausência de vaidades e palavra de verdade. Será que vemos isso, principalmente em políticos de direita e em muitos cristãos que se dizem militantes pelo Brasil em nome de Deus? Penso que não, mãos e coração limpos é santidade na ação e na intenção, na prática e no coração. Como podemos dizer que isso existe em vidas que claramente estão envolvidas com corrupção e práticas ilegais usando suas influências como líderes políticos?
      Vaidade na política é querer se manter num cargo, não porque a maioria democrática deseja ou porque se quer o melhor para o país, mas só para ter exaltado o ego, sua visão de mundo sobre as outras, visão baseada em preconceitos e violência. Não há humildade em muitos que se consideram donos legítimos do Brasil, incluindo líderes evangélicos, há nesses egocentrismo e desejo de vingança. Por último, os que merecem a presença mais santa de Deus não devem jurar enganosamente, serem mentirosos. Quem nega a ciência não é mentiroso? 
      Quem insiste em administrar o Brasil de uma maneira, ainda que sacrificando vidas, influenciando milhares que creem em suas palavras com fake new, dizendo que essa é a melhor forma de fazer as coisas, porque é a que protege o país, não é mentiroso? O pior tipo de mentiroso é o que usa até textos bíblicos para justificar suas mentiras, aliando a Deus coisas que Jesus nunca disse, baseado em interpretações preconceituosas e equivocadas da Bíblia. Esse mentiroso é pior que o que se diz ateu e materialista e que mente só em seu nome. 
      Do Senhor é o Brasil e a vontade de Deus para o nosso país pouco tem a ver com aquilo que muitos líderes evangélicos e um grupo político que se diz representante desse cristianismo enganado e herege, dizem ter. A vontade do Senhor é mudar o indivíduo que permite ser mudado, nada mais, a ação divina não é coletiva, é pessoal, não é política, é moral. Não tem legitimidade espiritual apoiarmos, como igrejas cristãs deste mundo, esse ou aquele político, essa ou aquela ideologia. Mudemos o Brasil, mas de dentro para fora do indivíduo.

Leia na postagem de amanhã
a 2ª parte desta reflexão

quarta-feira, setembro 07, 2022

Quando Deus usa o errado (38/92)

Introdução

      “Quem é aquele que diz, e assim acontece, quando o Senhor o não mande? Porventura da boca do Altíssimo não sai tanto o mal como o bem?Lamentações 3.37-38

      Muitos aliam o bem a Deus e o mal ao diabo, assim criam um embate maniqueísta que na verdade não existe. Deus administra tudo, ainda que para alguns trabalhos use seres espirituais de luz e homens de bem, e para outros use seres espirituais das trevas e homens estúpidos e sem sabedoria. ”Diabo” não é um poder equivalente a Deus só que do outro lado, é apenas uma criatura não querendo fazer o bem, ainda que só aja com autorização do Senhor. 
      Esta reflexão pode receber vários nomes, um deles é uma afirmação, “A coisa não é tão simples assim”, outro nome é “Palavras imediatas, palavras eternas”, visto que palavras proféticas diferentes podem ser entregues pelo Espírito Santo, sejam para resolver questões imediatas, sejam para questões mais duradouras. O texto a seguir cita dois governantes, o persa Ciro, que libertou Israel do cativeiro babilônico, e Saul, primeiro monarca de Israel.
      Nenhum desses homens foram, como pessoas, exemplos de homem de Deus, mas ambos foram usados por Deus para esse cumprir seus propósitos. Podemos encontrar nessas crônicas israelitas antigas similaridades com a história política recente do Brasil? Talvez. Mas com certeza eu achei uma lição importante no posicionamento do profeta Samuel e na maneira como Deus age no mundo, usando o bem e o mal para conduzir a humanidade. 

1. A coisa não é tão simples assim

      “Eu sou o Senhor, e não há outro; fora de mim não há Deus; eu te cingirei, ainda que tu não me conheças; para que se saiba desde o nascente do sol, e desde o poente, que fora de mim não há outro; eu sou o Senhor, e não há outro. Eu formo a luz, e crio as trevas; eu faço a paz, e crio o mal; eu, o Senhor, faço todas estas coisas.Isaías 45.5-7

      Assisti um vídeo que me deixou estarrecido, políticos e apoiadores importantes do governo do presidente do Brasil entre 2019 e 2022, comemorando em 2021 a aprovação de um evangélico ao S.T.F. (refletimos sobre isso nas duas postagens anteriores). O que me estarreceu foi uma mulher, importante nesse contexto, se levantar louvando a Deus e falando em línguas espirituais estranhas, visto o êxtase que ela sentia pelo ocorrido. Podemos analisar esse evento, que na minha opinião é mais importante que muitos cristãos acham que é, sob vários aspectos, mas o mais importante é entendermos que as coisas não são tão simples assim como avaliações rasas e tendenciosas podem achar que são, a vida nunca é simples. 
      A primeira coisa que preciso dizer é que sou cristão que acredita em dons espirituais para os dias de hoje, ainda que reconheça que eles sejam usados muitas vezes com boa intenção, mas de maneira infantil, e às vezes até encenados e forçados com más intenções. Mas a existência do falso não inviabiliza o verdadeiro, e mais, acredito que experiências com os dons espirituais descritos no novo testamento sejam caminho imprescindível para a espiritualidade mais elevada, que pode dar acesso a muitos mistérios da existência humana no universo. Exatamente por levar esse assunto tão a sério é que tenho dificuldade para aceitar que sua manifestação possa ocorrer em vidas em pecado ou equivocadas de alguma maneira. 
      Quem acompanha este espaço sabe do posicionamento deste que vos escreve sobre cristãos apoiando extrema direita política, principalmente um presidente negacionista da ciência e a favor de legalização mais ampla de armas, dentre outras coisas, assim, não considero que cristãos lúcidos estavam naquele grupo que vi no vídeo comemorando a aprovação do evangélico ao S.T.F.. Isso é o que eu penso, mas o que Deus pensa? Deus ama igualmente a todos e dá do seu Espírito a todos que buscam, assim, julgar que algo não é de Deus por ocorrer numa pessoa que em minha opinião não age corretamente em alguns assuntos não é sábio. Se fosse assim Deus não teria usado o catolicismo por séculos para abençoar a humanidade. 
      “Te cingirei ainda que tu não me conheças”, diz o texto de Isaías 45.5-7, tomo para mim essa palavra, eu não conheço a Deus como acho. “Faço a paz e crio o mal, eu, o Senhor, faço todas estas coisas”, o que dizer de uma declaração assim? Deus faz tudo, até usa o malvado para cumprir um propósito benigno neste mundo, e o contexto histórico desse texto se refere exatamente a isso, o rei persa Ciro, seguidor de outros “deuses”, sendo usado para livrar Israel, povo do Deus mais alto, de Nabucodonosor. A verdade é que não sabemos e não entendemos os caminhos do Senhor, eles muitas vezes são complicados, não por causa de Deus, esse é essencialmente reto, mas por causa dos homens e seus sistemas num mundo em confusão.
      Se Deus usou Ciro em seus propósitos, por que não pode usar um político de extrema direita? Isso é possível, apesar de muitos acharem que não é, dentre esses uns que idolatram outro mito, e na opinião desses, um mártire que foi preso injustamente como resultado de um golpe arquitetado por juízes do Paraná na operação Lava-a-jato. Como seres humanos, que buscam a luz mais alta de Deus, não podemos nos deixar ser enganados nem por um, nem por outro, ainda que um deles tenha apoio de lideranças cristãs, contudo, temos que aceitar que Deus usa quem quer. Nossos sentidos presos à matéria, ao tempo e ao espaço, não fazem ideia do que algo pode desencadear, do que deve ocorrer para que o fim melhor ocorra. 

2. Palavras imediatas, palavras eternas

      “Então todos os anciãos de Israel se congregaram, e vieram a Samuel, a Ramá, e disseram-lhe: Eis que já estás velho, e teus filhos não andam pelos teus caminhos; constitui-nos, pois, agora um rei sobre nós, para que ele nos julgue, como o têm todas as nações. Porém esta palavra pareceu mal aos olhos de Samuel, quando disseram: Dá-nos um rei, para que nos julgue. E Samuel orou ao Senhor. E disse o Senhor a Samuel: Ouve a voz do povo em tudo quanto te dizem, pois não te têm rejeitado a ti, antes a mim me têm rejeitado, para eu não reinar sobre eles.”  I Samuel 8.4-8

      Palavras imediatas e palavras eternas, o Espírito de Deus nos dá esses dois tipos de palavras, ambas verdadeiras, ambas acontecerão de um jeito ou outro. As imediatas refletem a misericórdia do Senhor, que precisa ajudar alguém em curto prazo, de qualquer jeito, principalmente se esse alguém, ainda que equivocado em muitas questões, o buscou com sinceridade. Eu vejo um cristianismo evangélico equivocado no Brasil, mas ainda assim sincero, que pai não se toca com um filho, que ainda que teimoso para cumprir sua vocação maior, procura sua ajuda aos prantos? Eu não sou Deus, mas sou pai, e como pai posso entender, pelo menos um pouco, a misericórdia do Senhor com o Brasil, ninguém duvide dela. 
      Os que não temem a Deus não podem entender a Deus, e muitos que se dizem cristãos agem assim, julgam e condenam muitos cristãos, mas não percebem a extensão da misericórdia do Senhor. Sim, penso que um momento espiritualmente tão íntimo como o registrado no vídeo que citei inicialmente, não deveria vir a público. Teve um propósito político para os que aparecem, agradando um eleitorado que acha o que é mostrado relevante, mas quando conveniência humana usa o nome de Deus comete sério pecado, em minha opinião, advertido nos mandamentos de Moisés (Êxodo 20.7). Exibir publicamente, algo que creio ser tão especial, vulgariza o dom do Espírito Santo, mas Deus tem paciência com isso, mais que eu tenho.
      Existe, contudo, uma palavra eterna de Deus que deve ser entregue, de um jeito ou de outro, essa é a que este espaço procura entregar, não com arrogância, mas como missão. Essa palavra revela uma vontade de Deus que vai além do momento atual do Brasil, e que conduz o homem a uma espiritualidade muito mais alta, que o cristianismo do mundo, que as igrejas protestantes e evangélicas, que o catolicismo e outras religiões, podem entender neste início do século XXI no planeta Terra. Nessa vontade mais alta, estupidez e infantilidade em nome do evangelho não cabem, mesmo com intenção sincera, e eu penso que o momento para que Deus cobre essa vontade mais alta já está chegando, ao Brasil e à toda a humanidade. 
      Quando Israel pediu um rei (I Samuel 8.4-8), Deus disse que não precisavam de um rei como as outras nações, ele era seu rei. Ainda assim, na insistência, Deus deu um rei conforme o coração de Israel, Saul, uma intenção sincera, mas errada, alcançou um objetivo vão que deu no que deu. Então, Deus levantou Davi, você acha que Davi era a vontade eterna de Deus para Israel? Também não era, mas era o melhor que Deus podia fazer com a realidade, e de fato Davi era um homem com um coração especial, que realizou grandes coisas, ainda que tenha cometido sérios pecados (II Samuel 11-12). A vontade maior do Senhor para Israel e para toda a humanidade sempre foi Jesus, um rei espiritual que conduz a um reino espiritual. 
      Você acha que durante o reinado de Saul, Israel não cultuava a Deus? Não oferecia sacrifícios, não adorava ao Senhor, não era cuidado pelo Altíssimo? Claro que tudo isso acontecia, e a religiosidade de Israel era sincera, assim como autêntica a atuação de Deus em suas vidas. O que um homem como o profeta Samuel devia pensar quando via tudo isso? Agia com temor a Deus, sabia que aquilo não era o melhor para Israel, mas que ele devia respeitar a escolha do povo e a vontade do Senhor, que tinha dado ao povo aquilo que o povo desejou. Situação semelhante ocorre com muitos cristãos com o governante eleito em 2018 no Brasil, nunca foi e nunca será o melhor, mas foi o que muitos quiseram, que “Samuel” respeite isso. 

Conclusão

      “Porque o Filho do homem virá na glória de seu Pai, com os seus anjos; e então dará a cada um segundo as suas obras.” Mateus 16.27
 
      Este texto representa algo muito especial para mim, uma palavra do Espírito Santo que mudou meu posicionamento diante de posicionamentos que muitos protestantes e evangélicos têm tomado diante da política, principalmente nos últimos quatro anos. Uma parte desses cristãos apoia envolvimento cristão com política no Brasil há algum tempo, pentecostais fazem isso há décadas, colocando membros de suas igrejas nas várias esferas da administração pública, mas o que temos visto, depois que o governante de extrema direita venceu a eleição de 2018, é mais significativo.
      Eu estou entendendo em Deus que não posso julgar, ainda que tenha entendimento de Deus que a igreja cristã precisa sair da infância e que o mais correto seria nenhum envolvimento de pessoas realmente espirituais com as coisas deste mundo, a não ser no mínimo exigido pela lei ao cidadão (Lucas 20.25). Contudo, aprendi muito com o procedimento do profeta Samuel, ele não abriu mão de sua chamada, da iluminação que tinha recebido, mas ainda assim respeitou as escolhas do povo de Israel, e principalmente, acatou o respeito de Deus diante das escolhas não tão adequadas do povo. 
      Assim, de fato, a coisa não é tão simples assim, aquele que quer viver com lucidez deve ter paciência, não se vender a lados, ainda que possa ser julgado como “isentão” ou “em cima do muro”, mas vigiar em Deus, esperando novos céus e nova Terra onde haverá justiça. Deus por sua vez abençoa mesmo o imperfeito, dá do seu Espírito mesmo ao infantil, ouve as orações mesmo do que pede algo que a longo prazo não será o melhor para ele, mas quem não é imperfeito, infantil ou que não pede insistentemente algo que poderá lhe prejudicar depois? A eternidade revelará a verdade.
      O título desta reflexão é “Quando Deus usa o errado”, mas muitos poderão dizer, “Deus usou para que esse governante de extrema direita, ele fez tudo errado?”, também tenho essa opinião, mas esse era o “Saul” que o povo cristão pediu, o “Ciro” que o povo cristão precisava no seu ponto de vista. Mas eu creio que Deus usou, sim, para mostrar que aquilo que o homem acha ser bom, mesmo bem intencionado, pode não ser. Muitos cristãos entendem isso hoje, após quatro anos? Não, na verdade muitos acham que o tal presidente fez tudo certo. Mas de novo digo, a eternidade os fará entender. 

      “Respondeu Jesus, e disse-lhe: O que eu faço não o sabes tu agora, mas tu o saberás depois.João 13.7

José Osório de Souza, 13/12/2021

terça-feira, setembro 06, 2022

Política não precisa do cristão (37/92)

      “Porque tu és grande e fazes maravilhas; só tu és Deus.” Salmos 86.10

      Desculpem-me evangélicos que creem que podem e devem estabelecer um reino de Deus no Brasil, mas isso não é reino de Deus, além de ser inviável e desnecessário, é o reino de um outro ser, aquele que se opõe ao que representa o Cristo. Pergunto a esses, qual o tamanho do Deus de vocês? Quem acha que um Deus poderoso só se realiza plenamente com hegemonia visível de seu poder no mundo físico quer retrocesso, pensa um Deus pequeno, material, não espiritual, Deus é muito mais que isso. Deus é tão grande que não cabe em trono ou cargo, mas só no coração do humilde, eis o mistério, e isso através de seu Santo Espírito, não por qualquer imposição, mesmo que democrática, e muitos menos militar ou econômica. 
      Muitos evangélicos que acham que cristãos devem ser envolver com política podem contra-argumentar assim à consideração que fiz sobre o tamanho de Deus, “justamente por eu crer num Deus todo-poderoso é que creio que ele pode colocar cristãos em posições altas para comandarem o Brasil”. Novamente peço desculpas a quem pensa assim, mas isso é entender errado o evangelho puro e original de Jesus, principalmente os ensinos do Sermão da Montanha em Mateus 5-7. O ensino de Jesus é justamente o contrário, sua vida prática como homem mostrou isso, vida está na morte, poder está em amar e dar a outra face, coragem é para ser pacificador e humilde, não vitorioso numa guerra física na Terra contra inimigos.
      Aliás, no evangelho não existem inimigos, e eis outro equívoco terrível que cristãos que apoiam a direita política cometem, acham que existem inimigos e se põem a lutar contra quem pensa diferentemente deles, acreditando que Deus os apoia. Não, Deus não está nesta luta, e quem for para ela achando que terá vitória sairá derrotado, talvez assim entendam o que realmente é o evangelho e o que Deus tem para eles, planos de paz, não de guerra. Eu acredito que o mundo chegará num tempo onde a salvação de Jesus será entendida por uma grande maioria, nesse momento fé e ciência não se oporão mais, não haverá diferenças e injustiças, mas será um tempo onde o Espírito Santo liderará os indivíduos, não políticos ou religiões. 
      “Buscai primeiro o reino de Deus e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas” (Mateus 6.33), usamos tanto esse versículo e ainda assim não o entendemos, não temos que ficar perdendo tempo com ideologias políticas, cumpramos nossas obrigações básicas como cidadãos e nos coloquemos a conhecer e praticar as virtudes morais. Isso é buscar o reino de Deus, não é lutar para que cristãos tenham cargos nos poderes da república, e me refiro mais ao judiciário, onde é preciso ao menos alguma competência e experiência profissionais. Mas no que envolve articulações políticas, fiquemos fora, é coisa deste mundo, usando armas deste mundo para beneficiar a poderes deste mundo, isso não nos diz respeito. 
      “Portanto, eu vos digo que o reino de Deus vos será tirado, e será dado a uma nação que dê os seus frutos” (Mateus 21.43), se de Israel, a nação escolhida a princípio para testemunhar Deus no mundo, foram retirados privilégios, que diria de nós? Deus não procura cristãos em cargos políticos, não é glorificado com governos deste mundo identificados como cristãos, se fosse assim haveria só duas posições religiosas no mundo, cristãos e ateus. Mas não é assim, além de cristãos existem muitas outras religiões, muitas outras escolhas para se conhecer o divino, muitas outras experiências, e acreditem, cristãos, muitas são legítimas e entregam paz e significado a muitas vidas, permitem frutos do bem que permanecem. 
      “E esta palavra: ainda uma vez, mostra a mudança das coisas móveis, como coisas feitas, para que as imóveis permaneçam; por isso, tendo recebido um reino que não pode ser abalado, retenhamos a graça, pela qual sirvamos a Deus agradavelmente, com reverência e piedade; porque o nosso Deus é um fogo consumidor” (Hebreus 12.27-29). O reino que não pode ser abalado não é o que depende de votos, de revolução, de golpe ou de guerra, é o espiritual, inabalável e eterno, existia no tempo de Israel do antigo testamento, nos primeiros séculos com a igreja primitiva na Terra, e depois, com a igreja católica e a reforma protestante neste mundo. Deus nunca precisou ser visto e reconhecido aqui para ter um reino lá.
      Se querem saber, está tudo na Bíblia, entenderá quem interpretá-la com oração e liberdade no Espírito, indo além de tradições, preconceitos e vaidades, discernindo contextos culturais e históricos pertinentes a todos os seus escritores, incluindo Daniel, os evangelistas registrando as palavras de Cristo, Paulo e João, codificador de Apocalipse. Um erro que muitos cometem é a pressa, achar que o tempo atual é especial quando não é, ainda que as coisas estejam acontecendo mais depressa. Muitas pestes, fomes, eventos violentos da natureza e guerras, acontecem como sempre aconteceram e sempre acontecerão. Ainda há muito para ocorrer, mas o final não é de derrota, é de vitória e para todos, no final a luz mais alta triunfará. 
      Na verdade a humanidade vive, sim, um momento especial, mas esse representa justamente relevâncias, que a extrema direita do Brasil, que muitos cristãos apoiam, diz não serem coisas importantes. São causas que justamente a esquerda tomou como agenda, quando homens se calam as pedras falam, direitos das minorias, cuidado com conservação de rios, mares, terras, ar, florestas e animais. Vendo a coisa por esse prisma quem está adiantando o fim do mundo não são os não cristãos, mas muitos que se autodenominam cristãos. Se o juízo moral ocorrerá na eternidade, o juízo material ocorre neste mundo, cobrando da humanidade seu desrespeito pelo planeta. Será que muitos evangélicos estão preparados para esse juízo? 

Leia na postagem de ontem
a 1ª parte desta reflexão

segunda-feira, setembro 05, 2022

Deus não precisa da política (36/92)

      “Mas nós, segundo a sua promessa, aguardamos novos céus e nova terra, em que habita a justiça. Por isso, amados, aguardando estas coisas, procurai que dele sejais achados imaculados e irrepreensíveis em paz.” II Pedro 3.13-14

      Ouvi de um evangélico as seguintes palavras: “eu sei que o presidente do Brasil, entre 2019 e 2022, não foi o melhor exemplo de cristão, mas com que presidente teríamos um pastor presbiteriano no S.T.F.?”. Em primeiro lugar o S.T.F. é do Brasil, não de uma religião, ele precisa não de sacerdotes, médiuns ou de qualquer outro tipo de religioso ou de ateu, mas de profissionais competentes e experientes que façam cumprir a Constituição Brasileira para todos os brasileiros, esses também, indiferente das religiões ou não que professem. Se não há mais protestantes ou evangélicos no S.T.F. é porque até agora não apareceu nenhum com competência e experiência profissional suficiente para preencher os requisitos necessários. 
      Por outro lado, não podemos garantir que o pastor presbiteriano que foi aceito no S.T.F. em 2021, tenha competência e experiência profissional para tal, já que o que o colocou lá foi uma bancada evangélica politicamente forte que fez as devidas articulações. Assim, eis outro equívoco de evangélicos que comemoram como vitória divina essa nomeação, confiarem e se apoiarem em políticos, que mesmo que sejam honestos cuidam das coisas deste mundo, não do reino de Deus. Mas por que muitos evangélicos, incluindo fortes lideranças, acham tão importante terem representantes de suas igrejas em cargos políticos nacionais? Seria por pensarem que só assim evangélicos têm seus direitos garantidos? 
      Isso não é verdade, todo cidadão brasileiro tem direitos garantidos pela Constituição, então, a resposta só pode ser para estabelecer no Brasil, assim como no que o meio cristão chama de “mundo”, um reino político baseado em princípios cristãos, ou seja, na tradição judaica-cristã. A pergunta final que podemos fazer é: isso é vontade de Deus? Muitos evangélicos vão dizer que é, talvez baseados no ide de Jesus, dizendo que o evangelho será pregado a toda criatura. Mas penso que achar apologia no novo testamento para isso é difícil, a história narrada por ele se encerra com profecias, ditas por Cristo e por João em Apocalipse, que falam que haverá uma grande perseguição aos justos, não um fortalecimento de cristãos.
      Penso que os evangélicos brasileiros, que desejam poder político no Brasil, se baseiam mais no poder que tinha a nação de Israel nos tempos do antigo testamento, assim como na hegemonia protestante que sempre houve nos E.U.A.. Isso explicaria a relevância que o governante do Brasil entre 2019 e 2022 deu ao Israel moderno e ao governante norte-americano Donald Trump. A verdade é que Deus não tem nenhum interesse em que cristãos tenham poder político no mundo, simplesmente porque o reino de Deus não é aqui, é no plano espiritual, isso Jesus deixou bem claro em João 18.36: “meu reino não é deste mundo, se o meu reino fosse deste mundo, pelejariam os meus servos, para que eu não fosse entregue aos judeus”.
      Mas se nem os cristãos primitivos compreenderam, quando formaram uma comunidade no estilo hippie-marxista, como entendemos em Atos 2.42-47, e depois apoiando a criação da Igreja Católica, por que acharmos que evangélicos atuais entendem? Mas o que penso que muitos evangélicos não entendem, e se entendem aí então é que estão mais equivocados que eu penso que estão, é que o que eles querem fazer a Igreja Católica fez por quase 1.700 anos e deu no que deu. Só se for isso que pretendam, como parece que denominações como a I.U.R.D. e a Renascer em Cristo claramente têm tentado fazer no Brasil e fora dele, serem uma nova igreja católica, para depois mandarem na religião, na política, na cultura e na ciência. 
      Se fosse plano de Deus para os dias atuais haver uma ou mais nações escolhidas, como era Israel nos tempos do antigo testamento, ele já teria feito isso, mas Deus não age assim há milênios, não é mais assim que ele trabalha para conduzir o homem à sua luz. Crer que evangélicos devam ter poder político no Brasil hoje é querer a aliança de Moisés e o reino de Davi de volta, mas é pior que isso, é negar a missão de Jesus, é negar uma iluminação superior que Deus permitiu à espiritualidade humana através de Cristo. Muitos evangélicos não aceitam isso porque se desviaram há algum tempo de Deus, são bons religiosos, mas muitos católicos também são, e ainda assim aceitam e respeitam uma igreja poderosa, mas corrompida. 
      Vou dizer algo que muitos poderão discordar: a política não precisa de evangélicos tanto quanto os evangélicos não necessitam de política, mas todos precisam de justiça. Mas se Deus usou a meretriz Raabe para dar continuidade à genealogia de Davi e de Jesus (Mateus 1.5-6 e Hebreus 11.31), se usou um Sansão, cego e humilhado, para destruir filisteus inimigos de Israel (Juízes 16), se usou o monarca Ciro que confiava em “outros” deuses para livrar seu povo do cativeiro babilônico (Esdras 1), Deus não precisa de homens que obedeçam-lhe em tudo, só homens que obedeçam-lhe no lugar e no momento necessário. É assim que Deus age com as nações neste mundo, na política, na economia, nas guerras, independe do livre arbítrio moral. 
      Quanto à escolha individual que cada ser humano faz para se preparar para a eternidade, isso é outro assunto, e para isso pode ser necessário o contrário, que o homem se distancie dos poderes deste mundo, seguindo o exemplo de Jesus. Se Jesus tivesse vindo para estabelecer um reino neste mundo, pouco tempo depois de sua ascensão, descida do Espírito Santo e fundação da igreja, o povo judeu não teria vivido o cerco de Jerusalém no ano de 70 d.C., onde seu Templo foi destruído e suas intenções de se libertar do império romano foram sufocadas. Israel nunca mais teve a glória que teve com Davi e Salomão, e nunca mais terá, depois de Cristo o que Deus faz na sociedade e nos indivíduos são coisas que independem-se.

Leia na postagem de amanhã
a 2ª parte desta reflexão

domingo, setembro 04, 2022

O poder da grana (35/92)

       “Assim diz o Senhor: Maldito o homem que confia no homem, e faz da carne o seu braço, e aparta o seu coração do Senhor! Porque será como a tamargueira no deserto, e não verá quando vem o bem; antes morará nos lugares secos do deserto, na terra salgada e inabitável.” Jeremias 17.5-6

     Não se engane achando que a mídia, jornais, redes de televisão e páginas na internet, dão espaço para afrodescendentes porque reconhecem que a civilização tem uma dívida histórica com esses por causa da escravidão. Os poderosos não desprezam mudanças, as usam a seu favor, assim, ainda que haja noção que a mudança é implacável, não há pureza de intenções. Empresas de comunicações dão lugar de fala em programas, matérias e sites, para quem se torna uma maioria utilizável. 
      Isso significa que um direito é adquirido quando se é maioria? Sim, mas não maioria como ser humano, mas maioria como consumidor, como comprador de fast-food, cervejas, celulares, eletrodomésticos, roupas, carros, escolas, serviços bancários etc. A mídia não é nem de direita, nem de esquerda, nem de centro, ela é pela grana, por indústrias, bancos e outras corporações que vendem produtos e usam o marketing divulgado na mídia para promoverem seus produtos. 
      Quando a agenda afrodescendente era “vendida” (desculpe-me o termo) como minoria ainda que não fosse, a mídia pouco se manifestava a respeito. Acreditem, quando lutas por direitos de afrodescendentes deixarem de ser moda, quando a miscigenação estiver tão generalizada que não se identificará mais branco, negro, amarelo, europeu, africano ou asiático, a mídia mudará o foco, de olho não em direitos humanos iguais, mas em consumidores para os produtos dos que pagam a ela por publicidade.  
      A mídia apoiará os donos da grana e esses apoiarão políticos que lhes deem liberdade para ganharem mais grana, independente de serem políticos de direita, de esquerda ou de centro, ninguém também se engane sobre isso. Em nome disso políticos farão qualquer negócio, mesmo dizerem-se a favor dessa ou daquela ideologia. A mídia, orientada por quem a paga, sabe o que será lançado e dará lucro, assim preparará o consumidor, primeiro cria a necessidade para depois vender a solução. 
      Ingênuo quem se envolve com esse sistema só vendo a ponta do iceberg, mas irresponsável o cristão que se põe como militante de político. Também existem muitos administradores de O.N.G.s (eis nessa sigla um mundo tenebroso que não é bem o que parece ser) que são enganados, assim como existem outros administradores de O.N.G.s que se escondem atrás de bandeiras de direitos humanos para promoverem ou destruírem o que interessa aos donos da grana que os pagam. 
      Não há nenhuma novidade nisso, o mundo sempre funcionou assim, ainda que nos tempos antigos as pessoas ligassem poder a direitos recebidos legitimamente dos deuses. Mas será que o Deus verdadeiro tem interesse em grana e poder neste mundo? Não. Assim é lógico concluir que poder neste mundo, de um jeito ou outro, está ligando a “falsos deuses”, seres espirituais malignos. A prova disso é que poder e grana sempre foram para beneficiar alguns, não a maioria mais necessitada. 
      Quem detém a grana não está interessado em teus direitos, mas em teu dinheiro. Deus está interessado em teus direitos, entende isso quem para de olhar para os homens e olha para ele. “Bendito o homem que confia no Senhor, e cuja confiança é o Senhor, porque será como a árvore plantada junto às águas, que estende as suas raízes para o ribeiro, e não receia quando vem o calor, mas a sua folha fica verde, e no ano de sequidão não se afadiga, nem deixa de dar fruto” (Jeremias 17.7-8). 
      Perdoem-me a visão pessimista, ela não significa que não haja evolução moral no planeta. Sim, há, como sempre houve e haverá, mas lentamente, sempre opondo matéria a espírito. As trevas persistirão até que a luz se manifeste totalmente, com o bem vencendo o mal, numa humanidade onde as pessoas não serão percebidas por aparência externa, origem geográfica, nível financeiro ou intelectual, sexualidade e mesmo por religião, mas pelo amor que serve a todos equitativamente.

sábado, setembro 03, 2022

Não sabemos tudo! (34/92)

      “Porque, assim como desce a chuva e a neve dos céus, e para lá não tornam, mas regam a terra, e a fazem produzir, e brotar, e dar semente ao semeador, e pão ao que come, assim será a minha palavra, que sair da minha boca; ela não voltará para mim vazia, antes fará o que me apraz, e prosperará naquilo para que a enviei.” Isaías 55.10-11

      Sei que tua vida deve ser corrida, no mundo atual, no Brasil de hoje, todos temos que trabalhar e muito para termos o mínimo de dignidade em nossas vidas e de nossas famílias. Mas você deve ter um tempo de lazer, talvez para ver um filme, uma série, uma novela, talvez até para ler um livro. Que tipo de livro você lê? Só a Bíblia, livros cristãos, romances, ou então, sites da internet, de fofoca, de política? Talvez o máximo que faça é ver vídeos no Youtube e passar o dedo na tela do celular para se atualizar com as bobagens do dia, bem, todos fazemos isso. Aqui vai uma dica, caso tenha algum tempo livre e já tiver lido a Bíblia, conheça um pouco sobre outras religiões.
      Muitos de nós cristãos, e eu me incluo entre esses, ou pelo menos me incluía, têm impressões fechadas sobre outras religiões, e na maioria das vezes opiniões negativas. Acontece conosco aquilo que se tornou ditado, “não li e não gostei”, assim demonizamos muitas religiões, muitos fundadores de religiões, muitos palestrantes e representantes de religiões não cristãs, sem nunca termos procurado saber mais sobre esses. Se sabemos é geralmente a opinião de um dos lados, de teólogos e estudiosos protestantes, que obviamente vão deslegitimar quem não é evangélico, principalmente se esse acredita em princípios que vão contra a doutrina cristã protestante tradicional. 
      Já tive oportunidade de saber mais sobre a vida de muitos que o catolicismo elegeu como santos, sim, há muitos que o são só baseados em crendices populares, superstições, que a liderança católica deu o título mais para agradar o povo e segurar adeptos que realmente por terem algo especial em suas vidas. Contudo, há outros que foram verdadeiros cristãos, e não me refiro só àqueles citados em textos do novo testamento, apóstolos e discípulos do primeiro século, mas em verdadeiros homens de Deus que viveram depois. Como evangélico ou protestante você vai se surpreender com o testemunho real de muitos chamados santos católicos, será edificado com suas vidas. 
      Isso não significa que evangélicos usarão o nome e a posição espiritual dos chamados santos para pedir algo a Deus (ou diretamente a eles), sei que a doutrina protestante só aceita Jesus como intercessor entre Deus e os homens. O posicionamento católico de permitir que homens mortos específicos sejam intermediários é semelhante ao ensino do espiritismo kardecista, que ensina que espíritos superiores (guias) podem abençoar os homens no plano físico. Há mais em comum entre o catolicismo e o espiritismo que entre o protestantismo e o espiritismo. A teologia dos santos abre várias possibilidades, incluindo o procedimento inverso, onde vivos podem interceder por mortos. 
      Falando em kardecismo, eis uma religião que protestantes e evangélicos se mantêm absolutamente distantes, o fato de crerem que não existe reencarnação, comunicação entre vivos e mortos e que tudo que é escrito em nome de espíritos de falecidos pelos espíritas é só mentira de demônios que enganam os homens, faz com que muitos julguem sem ter nenhum conhecimento. Se você se der ao trabalho de ler, não só Allan Kardec, mas Léon Denis e Chico Xavier, verá em primeiro lugar entendimentos históricos sobre muitas religiões e depois orientações morais, com tal profundidade e lucidez, que terá dificuldades para afirmar que tudo foi inspirado pelo diabo. 
      Mas não são só os livros de outras religiões que contêm sabedoria, e em muitos casos muito mais esclarecida que a que achamos em muitos textos bíblicos. As vidas de escritores como Hippolyte Léon Denizard RivailLéon Denis e Francisco Cândido Xavier podem ensinar muito sobre vocação missionária e prática do bem. Todas elas contêm polêmicas, aliás, como há nas vidas dos personagens bíblicos Moisés, Davi, Pedro e Paulo, dentre outros, e na trajetória do reformador protestante Martinho Lutero. Sobre esse, procure uma biografia dele escrita por protestantes e outra escrita por católicos, em ambas achará enganos, então tire a média e se aproximará da verdade. 
      Só na vida de Jesus não há polêmicas, mas havemos de concordar que pouco sabemos sobre ele, e historicamente no que sabemos pela Bíblia também há divergências. Contudo, a fatos históricos resistiu de Cristo seus ensinos únicos (fundamentados no Sermão da MontanhaMateus 5-7) e sua morte sacrificial por toda a humanidade, isso basta. Deixo claro que apesar de afirmar que pouco sabemos e assim não podemos como protestantes e evangélicos afirmar muitas coisas, sobre Jesus podemos afirmar que ele é único e suficiente. Existem outros caminhos, e creia, não são do mal, mas o caminho Jesus Cristo é o mais alto, quem busca a Deus por ele acha a verdade. 
      Neste início de século XXI, com tanta informação disponível por fácil acesso pela internet, com a ciência desenvolvendo-se mais e mais, e com os frutos ruins do falso cristianismo escancarados para quem tiver olhos para ver, não podemos mais simplesmente dizer, “isso é do diabo porque não está na Bíblia”. Meus queridos e minhas queridas, repetirei isso aqui tantas vezes quantas sentir do Espírito Santo, e me perdoe se isso te escandaliza, mas os “últimos tempos”, ainda que não sejam o que muitos creem que são, ocorrerão e exigirão de todos posicionamentos sérios com Deus e seus destinos eternos. É tempo de acordar, de tirar o véu da religião e confiar no Espírito Santo. 
      Compartilho aqui não teoria, mas prática, minhas experiências de cura emocional são reais, meus consolos diários de Deus são verdadeiros, as ações, que aos meus olhos são extraordinárias do Senhor a meu favor, são autênticas. Não me calarei sobre o quanto Deus tem me amado, com paciência e sempre acreditando no meu melhor, se isso te abençoa, siga comigo aqui até onde Deus quiser. Mas o “Como o ar que respiro” tem uma chamada profética, a essa não renunciarei, não por buscar aprovação de homem, por querer polemizar ou como coisa da minha cabeça, mas por temor à palavra de Deus. Não temos todo o tempo do mundo, não mais, apressemo-nos. 
      O caminho da sabedoria é o caminho de Deus e esse nunca tende para homens, ele leva à verdade mais alta. Homens falando de homens sempre enaltecerão a si e menosprezarão o outro, é assim desde que o mundo existe, por isso história, jornalismo e mesmo textos sagrados não merecem confiança de fatos, são narrativas relativas. Fique com a narrativa de Deus, para achá-la é preciso coragem e trabalho, coragem para não depender de aprovação humana, trabalho para crer e ser santo, assim se conhece a sabedoria de Deus sobre tudo. Palavra de Deus não é como palavra de homem, ela traz vida, faz diferença para melhor que permanece, a essa tem direito os humildes. 

sexta-feira, setembro 02, 2022

Fé: cega ou inteligente? (33/92)

      “Não erreis: Deus não se deixa escarnecer; porque tudo o que o homem semear, isso também ceifará. Porque o que semeia na sua carne, da carne ceifará a corrupção; mas o que semeia no Espírito, do Espírito ceifará a vida eterna.Gálatas 6.7-8

      Fé não é problema, se for fé inteligente, é caminho de solução para a área espiritual da existência, mas se for fé cega pode trazer mais problemas, e não solução. Crer sem ver e sem que nenhum dos sentidos físicos sejam impressionados por manifestação material, isso é exercer fé. Contudo, não significa que não vejamos, ouçamos ou sintamos quando cremos, esses sentidos podem ser impressionados e de formas bem claras. A diferença está na origem, enquanto experiências puramente físicas independem de fé, de qualidade moral ou de espiritualidade, as espirituais originam-se da fé. 
      A fé funciona como chave para portas que dão entradas a salas, mas mesmo as salas não são as mesmas para todos e nem sempre as mesmas para alguém, variam de acordo com preparo do ser humano e a providência do Altíssimo. Algo muito importante sobre o mundo espiritual deve ser entendido por todos, seja sob a ótica religiosa que for: ele requer respeito porque é constituído em primeiro lugar do criador e Senhor de tudo, santíssimo e todo-poderoso, e depois de criaturas (anjos), que desejam respeito tanto quanto nós queremos. Fé é a chave, mas deve haver respeito para abrir a porta.  
      Fé cega não discerne as coisas, até abre portas, mas não desfruta das salas, acredita no que os outros dizem sobre as salas. Fé cega pode ser usada por tipos diferentes de pessoas, por superficiais que querem qualquer coisa pela fê, e por profundos estudantes do mundo espiritual, mas que só desejam satisfazer curiosidades intelectuais, não querem se expor moralmente, assim todos esses abrem portas, mas não entram nas salas. Salas espirituais contêm tanto o bem quanto o mal, assim fé cega pode enganar as pessoas, levando-as a achar que estão se relacionando com Deus quando não estão. 
      Muitos acreditam na existência de coisas espirituais, convivem no meio de homens e mulheres que exercem fé genuína, mas eles mesmos nunca têm experiências de fé. Para esses o mundo espiritual é só fantasia, às vezes interpretações imaginárias que lhes dão o mesmo prazer que se tem lendo livros, ou assistindo peças e filmes ficcionais. Outros, ainda que nunca se aprofundem na fé, ainda que não tenham fé inteligente, mas crendo nas experiências dos outros, principalmente nas experiências dogmatizadas das religiões, têm experiência reais com fé, afinal, Deus ama a todos.
      Mas o que seria fé inteligente? Fé e inteligência podem parecer conceitos antagônicos, materialistas dizem que o inteligente não precisa crer. Em termos materiais, a ferramenta ciência examina meticulosamente, experimenta em laboratório, faz e repete processos para então estabelecer princípios e fórmulas. É nesse conhecimento aprovado e conhecido que pode-se crer no plano físico, e a ciência tem a missão de nos dar esse conhecimento para que dominemos o planeta, respeitemo-lo e o utilizemos para termos vidas físicas de qualidade para todos, de forma equilibrada e renovável.
      O que materialistas e ateus não entendem é que pode-se usar metodologia científica em experiências espirituais, obviamente desde que elas sejam legítimas e inicialmente experimentadas do jeito certo. Depois que a “porta” é aberta, pela fé e com respeito, a “sala” pode ser conhecida com inteligência, para saber o que é verdade, o que é mentira, o que é bom, o que é mal, e o que é passageiro e o que é perene. O princípio bíblico que melhor define a principal ferramenta para se verificar a qualidade de uma experiência espiritual está em Mateus 7.20, “portanto, pelos seus frutos os conhecereis”.
      Contudo, enquanto uns extremistas adoram a ciência e desprezam religiões e outros adoram religiões e desprezam ciência, muitos não podem provar o melhor da ciência e da religião. O melhor, além do fato de ambas serem instrumentos para campos diferentes, um físico e o outro espiritual, é que cada uma pode auxiliar a outra, completar a outra, e não negar ou anular a outra. Se a fé inteligente pode dar à ciência horizontes ainda não provados fisicamente e ainda assim reais, a ciência pode ajudar os que têm fé cega a avaliar melhor suas experiências para conhecerem o verdadeiro Deus. 
      Eu não estou dizendo aqui que deve-se provar cientificamente as coisas espirituais, ainda que muitas manifestações espíritas já tenham tido certas comprovações, a verdade é que só poderemos ter provas científicas de Deus e dos espíritos no futuro, eu penso assim. Mas talvez no futuro é que provas serão menos necessárias, um ser humano moralmente elevado não exigirá provas para crer, crerá e as provas naturalmente acontecerão, numa interação perfeita entre matéria e espírito. Estou dizendo que fé inteligente é crer e seguir crendo em algo que foi causa de efeito bom e duradouro.
      Por ter fé cega, e não inteligente, é que a humanidade foi e segue enganada por tantos homens maus, seja no catolicismo, no protestantismo ou em outras religiões, e consequentemente foi por isso que a ciência foi e é tão perseguida e negada, ainda hoje em pleno século XXI. O simples fato de acreditarmos em coisas espirituais não nos faz espirituais, o diabo é espiritual e confiar nele é algo carnal, a fé só é espiritual, isso é, só conduz à espiritualidade mais alta, quando é inteligente pois nela inteligência não é limitador mas purificador, separa misticismos e superstições da verdade. 
      Fé inteligente não nos desvia de Jesus, mas nos permite conhecê-lo mais de perto, sem os filtros das religiões, usando-se, sim, Bíblia e a tradição religiosa, mas como base e início, não fim. Uma experiência plena com o verdadeiro Espírito de Deus nos ensinará em todos os níveis, moral, intelectual e espiritual, e nos deixará mais abertos e respeitosos com a ciência. Deus é luz e nele não há treva alguma, se há treva, ainda que tenha nos permitido receber bênçãos do amor de Deus, nos limitará no conhecimento da luz. Deus é inteligente e chama suas criaturas para serem inteligentes. 

Leia nas postagens anteriores
as outras partes desta reflexão
José Osório de Souza, 8/10/2021

quinta-feira, setembro 01, 2022

Acreditar é confiar (32/92)

      “Ora, sem fé é impossível agradar-lhe; porque é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe, e que é galardoador dos que o buscam.Hebreus 11.6

      Como você se sentiria, se teu filho viesse te pedir uma coisa e você lhe dissesse que daria, mas teria que esperar um tempo? Passada só uma hora teu filho voltasse e te dissesse que você tinha dito que daria a ele uma coisa, mas que você não tinha cumprido tua palavra? Então, você novamente diria que daria, mas ele teria que esperar um tempo, contudo, passada só mais meia hora ele voltasse, muito triste, dizendo que você não tinha dado o que prometeu, alegando que sabia porque você não tinha atendido seu pedido, que era porque ele tinha te desobedecido no dia anterior? Então, novamente você teria lhe dito que ele deveria ter paciência, que não havia dado ainda, não por estar triste com ele, mas por motivos pessoais teus? 
      Depois de tudo isso, você poderia até pensar que teu filho não confia em você, que não acredita no teu perdão, que não crê que você pode dar a ele o que ele te pede, que acha que você não o ama de fato. Como homens podemos pensar algumas coisas de quem não acredita em nós, mas Deus não é homem, ainda que ajamos como o filho da estória, ansiosos, descrentes e cheios de culpas. Crer é confiar que uma vez que pedimos algo a Deus, e ele nos diz que dará, ele dará. Quando? Não sabemos. Por que ele pode demorar? Podemos também não saber, mas devemos confiar e esperar em paz. Agir assim é a mais pura e sincera forma de adoração, do filho que acredita sem ter recebido, só por confiar que seu Deus o ama e é fiel. 
      Se Deus mandou, confie e obedeça, e entenda, obedecer ordem de Deus não é igual a soldado obedecer seu oficial, nisso pode haver posicionamento sem sentimento, sem afeição, mesmo sem concordância, se obedece friamente, porque o soldado tem patente inferior ao oficial. Com Deus não é assim, obedecer é se colocar em íntima comunhão com ele, estar plenamente conectado a ele, assim, compartilhando de seu amor, de sua paz, de sua luz, o que nos fortalece para obedecer uma orientação sua. Deus é paciente, mas se insistirmos em desobedecer, mesmo que seja a ordem para esperar que ele atenda um pedido que já disse que atenderia, poderá nos disciplinar para que aprendamos a obedecer, nisso podemos ter que esperar mais. 
      Na verdade Deus não muda seus planos, seu tempo, somos nós que podemos mudar, se esperamos em paz muito tempo parece pouco, mas se esperamos na desconfiança uma hora pode parecer dias. Só a vida para nos ensinar a esperar do jeito certo, assim amadurecermos na fé que crê sem ver, mas que não demoremos muito para aprender a viver pela fé, nem fujamos de oportunidades que Deus nos dá para isso. Muitos, sem paciência para crer, lançam sobre seus ombros cargas pesadas demais, usando para coisas desnecessárias tempo que poderia usar para crescer espiritualmente. Esses, ainda que digam que confiam em Deus, só confiam em si mesmos, esperar em Deus pode ser trabalho difícil, mas é o mais útil que há. 
      O Senhor se agrada muito dos que creem do jeito certo e no momento certo, esses experimentam a eternidade ainda no mundo, conhecem mistérios que de muitos são escondidos, recebe antes de outros o início da iluminação que terá plenamente quando deixar a matéria. Deus não nos impõe fé como castigo, para dificultar nossas vidas, ele nos desafia por ela, quem a prova sentir-se-á depois muito satisfeito. Esse galardão, conhecimento científico não pode dar, e ainda que conquistarmos bens pelo nosso trabalho nos faça felizes, não se compara a vivenciar a fé. Confie no teu Deus, se ele disse para você esperar que dará tudo certo, fique em paz, Deus se agrada daqueles que creem nele e esperam dele o melhor para suas vidas. 

Leia nas postagens anteriores e na
próxima as outras partes desta reflexão
José Osório de Souza, 8/10/2021