sábado, maio 07, 2011

Respiração espiritual

          Não fazemos força para respirar, não quando gozamos de plena saúde. É algo natural, inspiramos e expiramos o ar quase que sem que os nossos sentidos percebam. Nos acostumamos também a tratar autoridades e pessoas idosas com respeito, fazemos isso normalmente, pelo menos quando possuímos alguma educação. Quando existe amor verdadeiro, também é corriqueiro sentirmos saudades da pessoa amada, se estamos longe, assim como darmos um beijo em sua face quando a encontramos e quando nos despedimos dela. Ninguém precisa lembrar-nos disso, fazemos porque a pessoa é importante pra gente. Bem, Deus é mais importante para nós que o ar, que uma autoridade, que os próprios pais ou que nosso namorado ou esposa. Nossa relação com ele, mais do que qualquer outra coisa, definirá a nossa eternidade.
          É certo, que quando começamos a caminhar com Deus, certos hábitos feitos com disciplina, podem ser eficazes para que aprendamos a conviver com ele. Ter um momento para orar, para ler a Bíblia, irmos à igreja regularmente, etc. No andar com Deus, nós passamos por fases, da infância à maturidade, atravessando a juventude, como no processo de crescimento de qualquer vida ou relação. Contudo, quando alcançamos a maturidade, e isso deve ser alcançado em algum momento, relacionar-se com Deus deve se tornar algo natural, como respirar. Eu disse que deve ser alcançado porque é impossível para alguém que diz conhecer a Deus, agir como criança espiritual para sempre.

          Às vezes é preciso esquecer para aprender a lembrar, isso quando lembrar for apenas um hábito religioso, uma obrigação, que se faz como trabalho. Esse tipo de trabalho é o que honra apenas ao trabalhador e não a aquele para quem o trabalho é feito. Em se tratando de relação com Deus, os meios não justificam o fim, talvez os meios não justifiquem o fim em nenhuma circunstância. Contudo, pode ser que o que mais impeça o homem de conhecer a Deus sejam as instituições religiosas. Elas são um mal necessário, usadas para compartilhar Deus com o homem, mas somente porque não existem outras maneiras, se não melhores, mais acessíveis. Igreja cristã, atualmente, existe uma em cada esquina.
          Eu disse que é preciso esquecer para aprender a lembrar no sentido que é preciso se libertar de vez da religião, de toda a implicação que esse conceito tem em nossa vida, isso para entendermos o que é realmente se relacionar com Deus. Não existe uma religião cristã melhor que outra, todas elas, seja católica, protestante, evangélica, pentecostal, neopentecostal, considerada ou não seita, todas, no atual momento da história, são igualmente males necessários. Não se julgue ninguém melhor que ninguém, pentecostal melhor que protestante, protestante melhor que católico, católico melhor que todo o resto. Se alguma incoerência ou hipocrisia não foi cometida por um cristão institucionalizado é apenas uma questão de tempo. Instituições são obras humanas e como todas as obras humanas têm começo, meio e fim, não podem ser eternas, não conseguem. Religiões são frágeis vasos de barro que tentam, na inocência ou na arrogância, reter a essência de Deus, mas isso é impossível.

          O único lugar que pode conter Deus é o coração humano, e mesmo esse precisa ser reenchido da presença dele durante todo o tempo. A presença de Deus no coração humano gera vida e vida eterna, vida eterna é conhecimento de Deus e de Jesus, como o enviado por Deus. “E a vida eterna é esta: que te conheçam a ti, como o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, aquele que tu enviaste”, versículo três do capítulo dezessete do evangelho de João. Vida não é religião, igreja, mas amizade com Deus, andar com ele, conversar com ele, discutir com ele, sim, no sentido de fazer questionamentos e de aceitar respostas quando elas realmente convencerem o coração. As respostas de Deus para a vida, seja a natural ou a eterna, sempre convencem o coração sincero e disposto a encontrar o melhor para si.
          Contudo, a maioria das pessoas não querem conhecer a Deus, consequentemente não têm vida. Elas desejam religião, seja de que nome for. Religião é bem mais fácil de se ter do que conhecimento de Deus. Religião se vende em livrarias, se barganha nos púlpitos, se experimenta debaixo da proteção da coletividade. Não há necessidade de se questionar nada, todas as respostas já são dadas pelos profetas das religiões, respostas prontas. Também não há necessidade de se ficar numa posição desconfortável, pois buscar a Deus de verdade nos deixa muitas vezes sozinhos, contra a maioria. É preciso coragem para se conhecer a Deus e trabalho, um trabalho solitário e constante. Mas isso, o conhecimento de Deus, é que é vida eterna.

          Não, não estou dizendo que as igrejas cristãs estão cem por cento erradas, em todo o tempo, que são totalmente desnecessárias, que elas devem acabar de vez. Contudo, não é isso que estamos vendo quando o número de igrejas se multiplica tanto? Grandiosas e poucas instituições, ditando o que todos devem seguir para alcançarem a vida eterna, está dando lugar a uma diversidade de igrejas cristãs, cada uma com suas peculiaridades, procurando agradar especificamente a mais indivíduos? Ao invés de algumas igrejas para milhares, milhares de igrejas para algumas pessoas, mas pessoas essas que tenham o maior número de coisas em comum. Todavia, a verdade é uma só, somos totalmente satisfeitos apenas por aquele Deus que buscamos individualmente, na escuridão de nossos quartos, sem testemunhas, buscando a aprovação dele e de mais ninguém.
          Mas não é somente luta solitária, ter um relacionamento verdadeiro com Deus traz conhecimentos bem exclusivos, pois a intimidade do Senhor é para aqueles que o buscam e o Senhor não nega nenhum conhecimento aos seus verdadeiros profetas, a esses os mistérios da vida eterna são revelados. Contudo, mesmo esse precioso conhecimento deve ser guardado no coração, muitas vezes mantido em segredo para sempre, não deve ser usado para fazer jogo de poder, engrandecimento de si mesmo, humilhar àqueles que não buscam tal privilégio. O verdadeiro conhecimento de Deus gera humildade e nos faz mais parecidos com Jesus.

          Quanto a mim, aonde eu cheguei nessa história toda? Bem, estou bem longe do objetivo, e a cada dia parece que eu entendo que fico mais longe ainda. Ainda luto com fraquezas que fazem com que eu me sinta mal e que existem desde o começo de minha juventude. Eu sinto que não estou enchendo o buraco de coisas boas, mas que ainda estou tirando os entulhos. Acontece que no buraco da nossa alma, aquele vazio que dói e que tem perguntas que parece que nada responde, está cheio não somente de entulhos que os outros jogam. Nós também, como velhos compulsivos colecionistas, gostamos de ajuntar lixo, de encher o coração com novos entulhos. Cada dia vejo mais entulhos e  parece que o buraco fica mais fundo. O que são os entulhos? Nada mais que mentiras.
          Contudo a vida não acaba aos cinquenta anos, que é a faixa de idade que eu me encontro, não pra mim, assim como não acabou aos quarenta, aos trinta e nem aos vinte, mesmo que eu tivesse em todas essas fases ideias de um final de tempos catastrófico para a minha existência. Todavia eu sinto que minha relação com Deus fica mais natural, não porque eu esteja ficando um cara melhor, ao contrário, às vezes acho que a situação até piora. Contudo, falar com Deus e procurar agradá-lo fica mais tranquilo, afinal eu já tirei muito entulho do buraco do meu coração. Quanto mais eu tiro mais de Deus cabe nele.  
          Como o ar que respiro, todos os dias até o final da vida natural, conhecer a Deus assim, só desse jeito vivemos a vida eterna que se inicia não após a morte do corpo, mas no momento que começamos a nos relacionar com Deus, essa é a verdadeira religião.

"E a vida eterna é esta: 
que conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, 
e a Jesus Cristo, que enviaste."
João 17:3

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