sábado, maio 07, 2011

Seguindo o Deus que me seguiu

      Lembro-me do início da minha caminhada com Deus, quanta sinceridade, quanta vontade de servi-lo, quanto evangelismo a tempo e fora de tempo. Havia tanta busca de santidade, dos dons espirituais, de ser parecido com Deus. Eu tinha dezesseis anos, tanta culpa no coração, tantas feridas para serem, antes de curadas, conhecidas. Quanta ilusão, tanta ingenuidade.
      Eu e minha irmã nos convertemos juntos, e, no início, como buscávamos por reuniões de oração, mais avivadas que aquela que ocorria na igreja protestante tradicional da qual éramos membros, queríamos a unção que os apóstolos receberam no livro de Atos. Que anseio por falar em línguas, por ter visões, por ouvir profecias. Toda essa vontade se traduziu num ingresso imediato em um seminário teológico, queríamos ser pastor e missionária, separados para a obra.
      Muita coisa aconteceu depois, não, nós não estávamos preparados para servir no ministério da igreja em tempo integral. Uma grande prova de amor de Deus por nós, de que ele conhecia a nossa sinceridade, foi que ele não permitiu que tivéssemos ministérios superficiais, que acobertassem vidas hipócritas, repletas de pecados secretos. Contudo, Deus seguiu conosco. Digo que Deus me seguiu, não eu que o segui, foi ele quem se pôs atrás de mim, por meus caminhos estranhos.
      Um dia eu parei, parei de fugir, parei de me procurar, então vi que Deus não estava longe, não, estava do meu lado, me esperando. Quando parei, ele se pôs a falar comigo, e eu, enfim, consegui ouvi-lo. Ele limpou minhas mãos, meus pés, meu coração. Ele me ajudou a encarar toda a frustração que eu acumulei, à medida que fui verificando que não conseguia obedecê-lo, não com as minhas forças, não do meu jeito.
      Então o Senhor começou a me curar, primeiro foram as feridas da infância e da adolescência, aquelas que os outros me fizeram, aquelas feridas que deveriam ter sido tratadas lá no início de minha conversão. Depois ele curou as feridas que eu mesmo me tinha infligido, porque na caminhada sem rumo que eu me coloquei, eu cometi meus erros, me machuquei e machuquei muita gente. Percebi então que eu já não era um adolescente perdido, mas um adulto responsável pelos meus próprios pecados.
        Hoje me vejo cansado, quebrado, mas com os olhos abertos, vendo tudo o que eu sempre fui, um cara limitado, mas com muita vontade de conhecer a Deus. Ainda existe em mim o desejo de andar com o Senhor, como havia a trinta e cinco anos atrás. Minha irmã também teve o seu percurso, diferente do meu, se expôs menos, se guardou mais, mas eu a vejo como a via quando ela tinha quinze anos, uma garota com muita vontade de servir a Deus.
      Ainda espero muitas coisas do Deus que me seguiu, antes que eu o seguisse, e que permaneceu do meu lado com um copo de água e um pedaço de pão. Espero muito do Deus que me esperou, que saciou minha sede e matou minha fome, que aguardou que eu me fortalecesse, e então continuasse a caminhar, agora não mais na frente, tomando direções erradas, mas atrás dele, deixando-o me guiar no caminho melhor.
      Deus é o mesmo dos meus dezesseis anos, o mesmo que perguntou para mim e para minha querida irmã, se tínhamos certeza de salvação. Eu tinha entrado, naquela reunião, tão cheio de religiosidade, entupido de respostas para as questões espirituais, e absolutamente contra o que eu achava que era o povo evangélico. Para a pergunta que me foi feita, eu respondi não, então eu orei para ter a certeza. Isso foi o suficiente, foi tão simples, todas as dúvidas existenciais desapareceram e eu comecei, a partir daquele momento, a caminhar com Deus.
      Quanto tempo foi necessário para que eu fosse liberto, por um lado, do meu desejo de me sujar com prazeres errados, tentando preencher o vazio da minha alma, por outro lado, do superego forjado em minha cabeça a fogo pela criação que tive, superego esse que cobrava de mim muito mais do que Deus me cobrava, que me escravizava. Parei de ficar trocando de senhorios e estou buscando me deixar levar pelo único senhor que realmente liberta, seguindo o Deus que me seguiu durante tanto tempo.

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