sábado, maio 07, 2011

Ser

Quando eu era jovem, tinha todas as respostas, hoje só tenho algumas perguntas”. No caminho da vida, começa-se dando respostas para tudo. Contudo a maturidade é achada quando se descobre quais são as perguntas que realmente importam.
      Queremos conter a existência em nossa mente, contudo as dimensões do viver podem apenas ser sentidas, não compreendidas.
      Temos o dever de questionar, sempre, mas não temos o privilégio de receber respostas, na maioria das vezes. As perguntas certas são aquelas para quais os seres humanos nunca encontrarão respostas. Então por que fazê-las? Para se libertar.
      O coração, não o órgão de carne, propulsor do nosso sistema sanguíneo, mas o abstrato, centro de nossas emoções, deve ser a caneta que registre nossos dias. Ele está sempre em expansão, sempre atento. A mente não, ela se apaga como uma vela, ensimesma-se. Mas quem pode maquetear o infinito intangível?
     Responder é encerrar, cortar, mutilar. Perguntar é lançar-se no caos de todos os mundos, natural e sobrenatural. Todavia não existe sobrenaturalidade, tudo é natural para quem é livre, e o caos existe apenas do lado de dentro do espelho, já que esse é limitado para refletir o todo.
      Somos espelhos oblíquos e franzinos, refletindo o contínuo com incapacidade intrínseca. Nessa limitação, nos pomos no direito de nos achar deuses. Enganamo-nos, crianças que somos, brincando de construir castelos de areia com poeira de estrelas, fina e delicada como os sonhos do homem.
      Quando amamos, somos espelhos refletindo outros espelhos. Impossível é para um espelho reconhecer seu semelhante. O engano se multiplica em proporções geométricas, um refletindo no outro aquilo que o outro reflete de si mesmo. Somente a eternidade, que está do lado de fora, é quem pode abraçar todos esses refletores, sujos, medíocres e insanos.
      Ao homem não foi dado o direito de desconstruir a decadência da existência, decadência que ele mesmo escolheu. Contudo, a curiosidade desmesurada, o efeito colateral dessa escolha, é quem o lança em uma aventura incrivelmente prazerosa pela interior de seu próprio coração.
      Doce equívoco é pensar que queremos viajar pelo espaço, dentro de uma espaçonave. Queremos apenas respostas para a dor latente de nossas almas. O Sol está no nosso peito, não no meio do dia, a Lua, nos nossos olhos, e as estrelas? Slides antigos, ilusões do passado projetadas num futuro que talvez nunca venha a existir.
      “Eu pensei e pensei, filosofei, me enganei, parei, me calei, tornei então a refletir. Busquei palavras sofisticadas, que dissessem mais que aquilo que eu podia dizer, que convencessem os vaidosos, os que buscam apenas sons que agradam seus ouvidos, os incrédulos, que se perdem nas elucubrações, que se viciam nelas, buscando uma viagem impossível dentro do entendimento humano, buscando o saber. Então concluí que o que não se sabe, não é para se saber, mas apenas para se perguntar, esperando que um dia seja respondido por Deus”.   

2 comentários:

  1. Responder é encerrar, cortar, mutilar. Perguntar é lançar-se no caos de todos os mundos, natural e sobrenatural. Todavia não existe sobrenaturalidade, tudo é natural para quem é livre, e o caos existe apenas do lado de dentro do espelho, já que esse é limitado para refletir o todo....
    É assim que penso e vivo questionando como ser livre para refletir o todo? É oq ue todos buscam!

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