sábado, junho 27, 2020

“Ficai parados e vede a salvação do Senhor”

      “E disse: Dai ouvidos todo o Judá, e vós, moradores de Jerusalém, e tu, ó rei Jeosafá; assim o Senhor vos diz: Não temais, nem vos assusteis por causa desta grande multidão; pois a peleja não é vossa, mas de Deus. Amanhã descereis contra eles; eis que sobem pela ladeira de Ziz, e os achareis no fim do vale, diante do deserto de Jeruel. Nesta batalha não tereis que pelejar; postai-vos, ficai parados, e vede a salvação do Senhor para convosco, ó Judá e Jerusalém. Não temais, nem vos assusteis; amanhã saí-lhes ao encontro, porque o Senhor será convosco.II Crônicas 20.15-17

      Eis uma daquelas passagens que mais nos consolam na Bíblia, que mais definem a espera em Deus, a confiança de que quem ora e entrega algo nas mãos do Senhor pode ficar tranquilo que ele recebe o que lhe foi entregue e cuida, dando no momento certo a melhor resposta, construindo a solução sozinho, sem que precisemos fazer nada além de entregar, crer e esperar. Se possível leia todo o capítulo de II Crônicas 20, segue um pequeno estudo bíblico sobre ele. 

      “Agora, pois, eis que os filhos de Amom, e de Moabe e os das montanhas de Seir, pelos quais não permitiste passar a Israel, quando vinham da terra do Egito, mas deles se desviaram e não os destruíram, Eis que nos dão o pago, vindo para lançar-nos fora da tua herança, que nos fizeste herdar. Ah! nosso Deus, porventura não os julgarás? Porque em nós não há força perante esta grande multidão que vem contra nós, e não sabemos o que faremos; porém os nossos olhos estão postos em ti. E todo o Judá estava em pé perante o Senhor, como também as suas crianças, as suas mulheres, e os seus filhos. Então veio o Espírito do Senhor, no meio da congregação, sobre Jaaziel, filho de Zacarias, filho de Benaia, filho de Jeiel, filho de Matanias, levita, dos filhos de AsafeII Crônicas 20.12-14

      Interessante que o problema que atingia Judá, pelo qual o rei Jeosafá orou a Deus, era o ataque iminente de povos pelos quais Israel tinha tido misericórdia, Deus não autorizou Israel a conquistar as terras dos povos de Amom, Moabe e das montanhas de Seir quando Israel vinha do Egito para Canaã, assim esses puderam continuar em suas terras, que não foram tiradas deles por Deus para dar a Israel. Mas novamente Deus pede de Israel, agora numa atitude defensiva e não ofensiva, visto que quando vinham do Egito poderiam ter tomado a iniciativa de lutar contra os povos, e agora tinha que estar pronto para se defender de uma iniciativa dos povos, Deus pede que Israela nada faça. 
      Deus não queria que Israel se envolvesse com aqueles três povos, um motivo poderia ser o fato desses povos serem também descendentes de Abrão, assim o Senhor não queria “briga” entre irmãos de sangue. Amonitas e Moabitas eram descendentes das relações incestuosas entre Ló, sobrinho de Abraão, e suas filhas, já os das montanhas de Seir eram descendentes de Esaú, irmão de Jacó (Israel), assim em alguma instância esses três povos poderiam ainda ter direito à promessa feita por Deus a Abraão. Um outro motivo, ou afirmando o primeiro, é que eram povos poderosos, que Israel temia, seja como for família, irmãos, cunhados, sempre nos parecem inimigos grandes demais.
      Se tivesse que haver uma guerra, que fosse como defesa e ainda assim Israel deveria se envolver o menos possível, isso nos ensina que certas guerras não devemos fazer, porque Deus tem pelos nossos inimigos o mesmo respeito e a mesma misericórdia que tem por nós. Se alguém que se posta contra nós tiver que perder, que seja porque se postou antes contra Deus, e se postou-se contra Deus a “briga” é com Deus, não conosco. A palavra de livramento, na passagem inicial desta reflexão, veio pela boca de um profeta, levita e responsável pela música, da família de Asafe, após um grande problema e um grande clamor, vem uma resposta poderosa do Senhor, que nos consola e nos resolve. 

      “E, quando começaram a cantar e a dar louvores, o Senhor pós emboscadas contra os filhos de Amom e de Moabe e os das montanhas de Seir, que vieram contra Judá, e foram desbaratados. Porque os filhos de Amom e de Moabe se levantaram contra os moradores das montanhas de Seir, para os destruir e exterminar; e, acabando eles com os moradores de Seir, ajudaram uns aos outros a destruir-se. Nisso chegou Judá à atalaia do deserto; e olharam para a multidão, e eis que eram corpos mortos, que jaziam em terra, e nenhum escapou.” “E vieram Jeosafá e o seu povo para saquear os seus despojos, e acharam entre eles riquezas e cadáveres em abundância, assim como objetos preciosos; e tomaram para si tanto, que não podiam levar; e três dias saquearam o despojo, porque era muito.” “E veio o temor de Deus sobre todos os reinos daquelas terras, ouvindo eles que o Senhor havia pelejado contra os inimigos de Israel. E o reino de Jeosafá ficou quieto; e o seu Deus lhe deu repouso ao redor.” II Crônicas 20.22-25, 29-30

      Agora o mais incrível foi como se operou a salvação de Deus, diga-se de passagem uma salvação difícil da gente provar, não é fácil não fazer nada e esperar parado, mas Israel que obedeceu, que começou a adorar ao Senhor pelo livramento, pela fé, sem ver e sem saber, provou. Por algum motivo amonitas e moabitas brigaram contra os das montanhas de Seir e depois que os de Seir foram destruídos brigaram amonitas contra moabitas até se destruírem mutuamente, assim quando Judá chegou todos os seus inimigos tinham sido destruídos sem que ele precisassem lutar. Fantástico esse texto, claro e com tantas lições, aplicações, são passagens assim que confere à Bíblia qualidades únicas entre livros sagrados religiosos.
      Contudo, a história não termina aí, ainda teve bônus para aqueles que esperaram quietos e confiantes em Deus. Israel enriqueceu-se com os despojos dos inimigos mortos e teve das nações vizinhas respeito, isso lhes deu repouso por um período (que teria sido maior se Jeosafá tivesse permanecido fiel a Deus, mas isso já é uma outra história...). O que dizer sobre essa experiência metafórica da nação de Israel para as vidas de todos nós, hoje e sempre, a não ser que Deus é maravilhoso, perfeito, poderoso? Glória ao Senhor que sempre, sempre é fiel com aqueles que o buscam e o obedecem, não existe situação sem solução, o que existe é oração não realizada ou não obedecida, da forma correta. 
      Mas será que foi um milagre, como muitos aparentemente podem achar que foi, uma ação extraordinária de Deus? Deus só começa a trabalhar na resposta depois que nós fazemos a pergunta? Não, não foi um milagre na maneira como tantos pensam, foi só o cumprimento da vontade de Deus no tempo certo, com Israel, por estar conectado a Deus em oração, temor e obediência, podendo provar o que mais precisava no momento exato que precisava da única maneira que podia provar. Deus “trabalha” o tempo todo, algo que precisaremos daqui a um ano, Deus pode estar começando a construir hoje, se um ano for necessário para isso, algo que nós talvez não tenhamos nem ideia que precisaremos.
      Deus poderia estar trabalhando nos inimigos de Israel há algum tempo, permitindo coisas que levariam os três povos a se desentenderem no exato momento que Jeosafá fizesse a oração. Há coisas que Deus precisa de alguns anos para construir, mas há coisas que ele precisa só de um instante como há outras coisas que ele constrói em milhões de anos, ao homem basta estar em comunhão com Deus, assim saberá quando e sobre o que orar, a tempo de provar a eterna obra do Senhor no universo. Deus é muito mais poderoso que imaginamos, não age extraordinariamente só quando oramos, ele tudo sabe e pode o tempo todo, felizes os que sincronizados com o Altíssimo provam naturalmente de ações que muitos até chamam de milagres.

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