sábado, junho 20, 2020

“Não oferecerei ao Senhor sacrifícios que não me custem nada”

      “E disse Araúna: Por que vem o rei meu Senhor ao seu servo? E disse Davi: Para comprar de ti esta eira, a fim de edificar nela um altar ao Senhor, para que este castigo cesse de sobre o povo. Então disse Araúna a Davi: Tome, e ofereça o rei meu senhor o que bem parecer aos seus olhos; eis aí bois para o holocausto, e os trilhos, e o aparelho dos bois para a lenha. Tudo isto deu Araúna ao rei; disse mais Araúna ao rei: O Senhor teu Deus tome prazer em ti. Porém o rei disse a Araúna: Não, mas por preço justo to comprarei, porque não oferecerei ao Senhor meu Deus holocaustos que não me custem nada. Assim Davi comprou a eira e os bois por cinqüenta siclos de prata.II Samuel 24.1, 21-24

      “E disse Davi a Ornã: Dá-me este lugar da eira, para edificar nele um altar ao Senhor; dá-mo pelo seu valor, para que cesse este castigo sobre o povo. Então disse Ornã a Davi: Toma-o para ti, e faça o rei meu senhor dele o que parecer bem aos seus olhos; eis que dou os bois para holocaustos, e os trilhos para lenha, e o trigo para oferta de alimentos; tudo dou. E disse o rei Davi a Ornã: Não, antes, pelo seu valor, a quero comprar; porque não tomarei o que é teu, para o Senhor, para que não ofereça holocausto sem custo. E Davi deu a Ornã, por aquele lugar, o peso de seiscentos siclos de ouro.I Crônicas 21.22-25

      Os dois textos acima se referem ao mesmo episódio, resumindo: Davi desobedece a Deus decretando um recenseamento (contagem da população), Deus diz que punirá a Davi, mas dá a ele a opção de escolha do castigo, Davi escolhe a peste, o anjo começa a executar a punição, mas Davi pede que ela seja  interrompida, para que isso aconteça o profeta orienta Davi a fazer um sacrifício a Deus, é aí que entram as passagens iniciais, Davi faz o sacrifício e a punição é encerrada. Os textos têm várias aparentes discrepâncias, desde o questionamento se Davi foi tentado pela ira do Senhor ou por Satanás (mas não são a mesma coisa?), até o número certo obtido no recenseamento, apesar de referirem-se ao mesmo episódio. A proposta desta postagem, contudo, não é um estudo completo neles, apenas uma reflexão sobre o tema “sacrifício com um preço”, se quiser pode ler um estudo bem abrangente sobre os textos no link do site Raciocínio Cristão.
      No nome de Jesus temos direito às bênçãos de Deus de forma gratuita, como diz Romanos 3.23-24, “porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus, sendo justificados gratuitamente pela sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus”, e como diz Salmos 51.17, “os sacrifícios para Deus são o espírito quebrantado, a um coração quebrantado e contrito não desprezarás, ó Deus“, assim Deus não pede de ninguém sacrifício em troca de algo que ele dá além de um coração humilde. Contudo, ainda que o “caixa do banco” de Deus esteja sempre disponível para “saques de cheques” que ele mesmo assina e dá gratuitamente a seus filhos, existe um preço que se paga, não pelo “cheque”, mas para se chegar ao “banco”. Usando a metáfora, é preciso sair de casa, pegar uma condução, ir até o centro, entrar no banco, enfrentar a fila e então descontar o cheque. No “banco” de Deus não existe transações facilitadas em aplicativos de celulares, que podem ser feitas no conforto de nossos lares. 
      Davi sabia bem disso quanto não aceitou de graça um lugar onde iria edificar um altar para oferecer um sacrifício a Deus, ainda que isso fosse não só vantajoso para ele como um direito que ele como rei tinha, Davi quis pagar e pagou um preço pelo lugar. Que diferença de muitos hoje em dia, que sempre querem levar vantagens, mesmo em suas vidas religiosas. Muitas vezes dar uma oferta em dinheiro é muito mais fácil que viver uma vida que agrada ao Senhor, hoje em dia dar uma grana na igreja pode nos fazer achar que estamos isentos de ser santos. O sacrifício que agrada a Deus e que Deus pede é algo muito pessoal, diferente para cada um de nós, para muitos dar dinheiro na igreja não constitui sacrifício, mas para outros constitui, assim, cada um de nós deve buscar o Senhor para saber o que ele pede. Contudo, o mistério está no fato que a busca a Deus, quando sincera, profunda, espiritual, já é o sacrifício maior, e muito melhor que dar um dízimo em igrejas.
      Deus não faz as coisas funcionarem assim para dificultar sua bênção, pagar o preço na verdade é outra bênção que Deus dá ao homem. Quando buscamos a Deus para clamar por algo, recebemos do Senhor duas bençãos, a que pedimos e outra, que recebemos enquanto estamos pedindo. O pedido, por si só já é uma benção. Por quê? Porque gastamos uma “energia” humana para um bom fim, “energia” que se mantivesse acumulada em nós e nós estivéssemos numa situação de conforto sem necessidades para clamar a Deus, seria usada para fins errados. Entendeu? Se pedir algo a Deus não nos custasse nada, seríamos filhos mimados e ociosos, com tempo e forças sobrando para pecarmos, e o ser humano é, sim, sempre disponível para o mal, se não estiver ocupado com o bem, isso é fato. Digo mais, talvez a bênção que recebemos enquanto pedimos seja até melhor que aquela que pedimos, pois podemos estar pedindo algo que satisfaça só a uma necessidade física, enquanto que a que recebemos enquanto pedimos transforma nosso caráter, é amadurecimento espiritual.
      Seja sincero, quando em sua vida com Deus foi fácil orar, mais ainda jejuar ou fazer uma consagração maior? Nunca foi e nunca é, para ninguém, não se for de fato uma busca espiritual e profunda, não só um ritual religioso. “Rezas” custam muito pouco, repetir palavras decoradas, mas intimidade com Deus custa muito, é algo difícil, trabalhoso, envolve todo o nosso ser. O que se põe a caminho de um encontro poderoso com Deus se vê a princípio escalando um monte, dói tudo, faltam forças, contudo, à medida que sobe tudo vai mudando de maneira fantástica, a luz de Deus vai alcançando-o, a unção do Espírito Santo vai enchendo-o, e se acha uma força renovadora. É nesse momento que nossa boca se enche de línguas espirituais estranhas, e que todo o nosso ser se alimenta com as águas vivas do santíssimo e altíssimo Deus. Mas só experimenta isso quem persiste na busca, com fé que aquele que chama também recompensa, com uma revelação exclusiva da vontade de Deus, daquelas que fazem valer a pena o preço que se pagou. 
      Outra coisa que precisamos entender é que à medida que amadurecemos, essa busca fica ainda mais difícil, o monte fica mais alto, o que bastou na última vez para alcançarmos o pico, agora na basta mais. Por quê? Porque o conhecimento de Deus é gradativo, o que alcançou o nível primário não alcançará o nível superior numa próxima busca, é preciso passar antes pelo nível secundário. Mas depois tem as pós-graduações, e essas não têm fim, quem graduou-se e acha que sabe tudo engana-se, a graduação superior inicial só nos deixa cientes de quem não sabemos nada e que teremos que aprender sempre e sempre. Isso é ruim? Não, isso é maravilhoso, uma aventura eterna em conhecer e ser conhecido por Deus, vencendo as comodidades da carne, as vaidades do intelecto e os mistérios do espírito. Pague o preço, o preço de querer com todo o coração e de abrir mão de tudo para saber, para depois então viver, por em prática as virtudes da luz de Deus. 

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