Levemos a sério o Espírito Santo

      “Vós sereis meus amigos, se fizerdes o que eu vos mando. Já vos não chamarei servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; mas tenho-vos chamado amigos, porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos tenho feito conhecer.” João 15.14-15

      Esta palavra não é para qualquer um, é para os amigos de Deus. Certas cobranças Deus não faz a todos, muitos dizem e pensam um monte de coisa sobre Deus e nem têm noção da seriedade que há no assunto, esses são avaliados simplesmente como distantes de Deus, filhos, mas não amigos. Já de início faço uma categorização diferente dos seres humanos, daquela que tradicionalmente cristãos fazem, não classifico os homens entre criaturas e filhos de Deus, mas entre filhos e amigos. Todos são criaturas e filhos, todos possuem um espírito que se originou no Deus espiritual e para ele quer retornar, mas amigos são aqueles que se aproximam de Deus, o conhecem, o agradam e por ele são ensinados de forma especial.

      João 15.15 é um dos meus versículos favoritos, faz parte da base da nova teologia do evangelho de Cristo. O antigo testamento considerava filho de Deus o israelita, circuncidado e obediente à lei mosaica, o novo testamento abre esse entendimento. Pessoas de povos, raças e nações diferentes podem ser, mais que filhos, amigos de Deus, se fizerem opção por isso por fé e por obras. Nisso experimentamos o Espírito Santo, isso é algo sério, maravilhoso é ser “boca” para as palavras de Deus, mas há responsabilidade grande nisso. Cuidado para ouvir o Espírito Santo, prepare-se bem antes e depois creia, mas muito mais cuidado para assumir que o que ouviu é de Deus, na dúvida, melhor dizer que é só coisa da tua cabeça.

Nem antes, nem depois

      “O Senhor não retarda a sua promessa, ainda que alguns a têm por tardia; mas é longânimo para conosco, não querendo que alguns se percam, senão que todos venham a arrepender-se.” II Pedro 3.9

      Com Deus as coisas boas não ocorrem nem um segundo antes, nem um segundo depois, acontecem no momento exato. Se achamos que demora é porque não conhecemos o tempo, coisas que ainda precisam acontecer e coisas que ocorrerão quando o que queremos que aconteça se realize. Quem já teve essa experiência entendeu e exclamou, “poxa, então foi por causa disso que o que eu pedi a Deus parecia demorar tanto? agora vejo que aconteceu na hora certinha”. Já tive essa experiência, mas ainda sou tentado a achar que algo que preciso que aconteça demora. Não desista de orar, algumas coisas não acontecem porque ainda não as entregou nas mãos de Deus e confiou, mas após isso sossegue e agradeça.

      Na verdade Deus só precisa ouvir de nós uma oração, desde que ela seja certa, e muitas vezes oramos várias vezes porque demoramos para orar corretamente. A insistência não convence Deus, convence a nós, num processo que nos muda por dentro e que pode nos abençoar ainda mais, que a recepção daquilo que estamos pedindo em oração. Oração cura, não pelo que pede, mas pela conexão que estabelece com Deus, se o pedido é de algo material e exterior, o trabalho de orar é espiritual e interior, nos faz mais santos, humildes e gratos. Mas após entendermos o que Deus quer que oremos, e após verbalizarmos isso a ele, cabe-nos esperar, em paz e convicção, vivendo antecipadamente pela fé a bênção aguardada. 

Tirar do outro tira de nós

      “Sede, pois, misericordiosos, como também vosso Pai é misericordioso. Não julgueis, e não sereis julgados; não condeneis, e não sereis condenados; soltai, e soltar-vos-ão. Dai, e ser-vos-á dado; boa medida, recalcada, sacudida e transbordando, vos deitarão no vosso regaço; porque com a mesma medida com que medirdes também vos medirão de novo.” Lucas 6.36-38

      Dizem antropólogos que uma das coisas que incentivou a evolução da humanidade, na formação de grupos sociais e na linguagem, foi a fofoca. No final do dia, depois de caçar e colher para comer, quando a humanidade ainda era extrativista e nômade, antes de se fixar em vilas e cidades, criar animais e cultivar a terra, o homem se reunia para falar da vida alheia. Ainda não havia livro para ler, rádio para escutar, TV para assistir, rede social para interagir, mas o ser já era tão humano quanto é hoje. Mudaram os meios, as ferramentas, não as necessidades e intenções. O homem sempre gostou de saber da vida alheia e critica-la, isso é um vício, se é vício é porque acha-se algum prazer ou lucro nisso, pelo menos a princípio, qual?

      Enaltecer o defeito do outro parece tornar nosso defeito menor, mas falar mal de quem tem vida mais próspera que a nossa parece-nos ainda melhor. Deslegitimar o valor do outro por ser ou ter algo a mais que nós, ameniza nossa culpa e nossa ociosidade por não ser ou ter o que o outro é ou tem. Gostamos de falar mal dos outros, principalmente dos que invejamos, eis a verdade. Não vou dizer que isso é errado, todos sabem, só vou dizer uma coisa: cada vez que divulgamos erro ou defeito de alguém adicionamos a nós o mesmo erro ou defeito. Zombar da dívida alheia aumenta a nossa dívida. Quando difamamos a reputação do outro difamamos a nossa, mas sendo misericordiosos com o outro somos misericordiosos conosco. 

Além de binário

      “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.” João 3.16

     “E criou Deus o homem à sua imagem: à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou.” Gênesis 1.27

      Para a interpretação que muitos fazem de Gênesis 1.27 respondo, não! Assumo esse posicionamento em bom som, diante dos seres humanos e de Deus. Assim, os que dizem que aqueles de sexualidade não binária (homem e mulher héteros) são aberrações geradas pelo pecado, podem até se basear num texto bíblico, mas não se baseiam nos ensinos de Jesus e muito menos nos propósitos e amor de Deus. Vou além, se alguns são considerados por muitos cristãos aberrações, todos nós, de alguma maneira, somos, assim o que muitos chamam de normal é uma utopia, a normalidade real é ser anormal. Fechar sexualidade em homem e mulher héteros é ver a humanidade com olhos limitados do passado, para dizer o mínimo. 

      Se alguém nega isso não se conhece nem a Deus, diferenças existem, não só na sexualidade, mas nas áreas afetivas e intelectuais, assim somos diferenciados também por problemas, transtornos, enfermidades psiquiátricas, que uma vida de amizade com Deus ajuda a administrar em paz, mas não cura totalmente. Deus conta com nossas limitações, com nossas especificidades, para que sejamos humildes para nos aceitar e amorosos para respeitar os outros dependendo dele. Não, a visão de Gênesis que Deus só criou homem, mulher e brancos, é uma visão judaica e antiga, que na melhor das circunstâncias explica a criação mítica da nação de Israel, não da humanidade. Hoje o Espírito Santo mostra-nos mais, quem quer ver, vê.

Para que a carne não se glorie

      “Porque, vede, irmãos, a vossa vocação, que não são muitos os sábios segundo a carne, nem muitos os poderosos, nem muitos os nobres que são chamados. Mas Deus escolheu as coisas loucas deste mundo para confundir as sábias; e Deus escolheu as coisas fracas deste mundo para confundir as fortes; e Deus escolheu as coisas vis deste mundo, e as desprezíveis, e as que não são, para aniquilar as que são; para que nenhuma carne se glorie perante ele.” I Coríntios 1.26-29

      Entendamos certo o ensino do texto inicial, o propósito principal de Deus não é incentivar ignorância, pobreza, mediocridade, limitações de alguma forma, fraqueza, seja na área que for. A vontade maior de Deus é que todos sejam completos em tudo, na matéria, na intelectualidade, na afetividade, na moralidade, na espiritualidade. Mas seu propósito principal, enquanto os seres humanos experimentam suas jornadas temporárias aqui, é que entendam a prioridade da existência, nela todos precisam buscar, achar e praticar as referências espirituais de Deus para suas vidas, não as do mundo, do homem, da ciência, da carne. Nisso, infelizmente, a maioria de nós tem que ser restringida, perder para ganhar, por causa de nossa rebeldia. 

      Quem não aceita isso vê aqueles que abrem mão dos valores do plano material para anexar valores espirituais eternos a seus homens interiores, como perdedores, derrotados, mesmo ignorantes e loucos, como os religiosos judeus do primeiro século viam Jesus. Mas quem aceita as referências de Deus não deve se sentir perdedor, derrotado, ignorante ou louco, mas um pequenino que o Senhor cuida e guia. Não tem como se ter as duas coisas, não no atual nível de espiritualidade do homem, por isso os ensinos do evangelho seguem relevantes, morrer para viver, dar para receber, humilhar-se para ser honrado. A glória é antes de Deus porque ele é nosso princípio, meio e fim, existimos para viver eternamente por ele e nele. 

Não seja lerdo para amar

      “Um novo mandamento vos dou: Que vos ameis uns aos outros; como eu vos amei a vós, que também vós uns aos outros vos ameis. Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros.” João 13.34-35

      Não demore demais para expressar amor por alguém, amanhã pode ser tarde. Podemos dizer, “é tão difícil gostar dessa pessoa, mesmo porque ela não está nem aí comigo”. Você não precisa gostar das escolhas de alguém, aprovar seu estilo de vida, pode até te faltar forças emocionais para sentir afeto. Amar, contudo, é mais que isso, é vocação dos santos, é ferramenta de Deus para abençoar os seres humanos, é o modo espiritual de se viver. Se buscarmos a Deus, com empenho e boa sinceridade, o Senhor nos dará forças para amar. Aquele que é espiritual escolherá amar, ainda que tenha dificuldades para isso, porque sabe que é o melhor a fazer, assim achará forças em Deus para amar a tempo de ser útil para alguém.

      A dificuldade que temos para amar é desvincular amor do conceito mundano, onde se ama quem se gosta e que pode retornar algum tipo de prazer, mas isso não é amor verdadeiro. O maior amor custa um preço, a Cristo custou a vida, esse amor dá trabalho e pode não retornar prazer imediato. Como sempre alerto quando falando nesse assunto, não estou aqui defendendo relação abusiva, onde uma pessoa insiste em permanecer afetivamente ligada a alguém que a trata mal, que a agride. Por outro lado, não podemos alegar não amar por ser difícil, alguns parentes, colegas de trabalho, mesmo irmãos de igreja, temos que nos esforçar e amar, para isso às vezes basta um contato telefônico perguntando como estão as coisas.

Segurar e largar

      “Eis que vos envio como ovelhas ao meio de lobos; portanto, sede prudentes como as serpentes e inofensivos como as pombas.” Mateus 10.16

      A vida é um alternar entre segurar e largar, como os movimentos das ondas, trazem águas à praia, depositando na areia muitos elementos, depois retornam ao mar fazendo perder os elementos na imensidão das águas. Em si nada de errado há em segurar ou em largar, são momentos diferentes e necessários para aprendermos e melhorarmos nesta vida, a sabedoria está, como sempre, no equilíbrio, nos extremos pode haver vício e cárcere. Quem a nada se prende e nunca, perde uma das melhores oportunidades que temos no mundo para evoluir, fazer e manter alianças de afeto e responsabilidade. Casamento e vínculo profissional implicam em segurarmos alianças, aprendemos muito na restrição, além de sermos protegidos dentro delas.

      No casamento aprendemos porque assumimos a obrigação de sermos fiéis em nossa intimidade com uma pessoa, isso gera virtudes em nós, virtudes que não são necessárias na liberdade promíscua de não se ter aliança com alguém. Mas restritos em aliança afetiva somos protegidos do desconhecido, conhecemos melhor com quem vivemos por mais tempo, assim somos menos surpreendidos por decepções. O mundo atual celebra a liberdade, mas quem é livre demais está preso a tudo achando que não é preso a um só. Contudo, largar também é necessário, não de quem amamos e nos ama, mas de quem não nos respeita, assim como de ilusões do mundo que nenhum valor têm na eternidade e que não levaremos daqui para lá.

No que mais pensamos?

      “Mas a sabedoria que do alto vem é, primeiramente pura, depois pacífica, moderada, tratável, cheia de misericórdia e de bons frutos, sem parcialidade, e sem hipocrisia.” Tiago 3.17

      A existência é mental, já dissemos isso aqui, vivemos muitos mais no que pensamos e sentimos que no que de fato fazemos de forma física. Ainda que não nos locomovamos, falemos, ajamos e reajamos com as pessoas, mesmo que não olhemos e ouçamos, nós pensamos, e como pensamos. Não podemos parar de pensar, mesmo quando dormimos nossa mente trabalha e sonha. Nossa relação com o plano espiritual é pela mente, indiferente do espaço e do tempo em que estamos, falamos com Deus e espíritos e os ouvimos. A existência mental nos dá a noção de como será a existência espiritual na eternidade, nosso corpo físico morrerá, mas nossa identidade mental é eterna e terá liberdade na potência e dimensões do pensamento. 

      Entretanto, como pensamos bobagens. Adiantamos na nossa cabeça coisas que ainda não existem e que muitas vezes nunca existirão, sonhamos com o que queremos ter, mas mantemos vivas por anos memórias que nos machucam ou nos acusam. Fazemos sofrer não só a nós, mas também aos outros, já que podemos criar pessoas em nossas mentes, assim julgá-las, condená-las mesmo idolatra-las ou nos apaixonar por elas, pessoas que na verdade não existem, ou pelo menos, não mais. Penso como devia ser a mente do Cristo homem, como ele interagia com seu universo mental, ainda que de fato soubesse a verdade sobre tudo, tinha uma mente leve, em paz, dava atenção só ao que valia a pena, não armazenava bobagens e morte. 

Aprendendo a viver certo

      “Rogamo-vos, também, irmãos, que admoesteis os desordeiros, consoleis os de pouco ânimo, sustenteis os fracos, e sejais pacientes para com todos. Vede que ninguém dê a outrem mal por mal, mas segui sempre o bem, tanto uns para com os outros, como para com todos.” I Tessalonicenses 5.14-15

      Algo que aprendemos quando amadurecemos certo e no Senhor é discernir as pessoas, o que elas falam e mostram e o que de fato elas desejam e precisam. Isso não nos faz frios e displicentes, mas nos leva a ser diretos, sofrendo menos e sendo mais úteis. Algumas pessoas são cobradoras obsessivas, o são quando mais jovens e não conseguem se curar disso quando envelhecem, ao contrário, podem se achar ainda mais no direito de cobrar os outros. Todos temos carências, ninguém recebe criação familiar equilibrada, e mesmo que receba cai na tentação de cobrar dos outros mais do que dá aos outros. Ninguém está no mundo por ser perfeito, estamos por ter defeitos, o quanto antes os admitirmos e buscarmos solução para eles, melhor.

      Importante assumirmos responsabilidade por erros, fazermos nossa parte e não cobrarmos, ainda que os outros estejam em falta legítima conosco. Quando paramos de cobrar entendemos o verdadeiro equilíbrio do universo, a vitória não está em suportar a fraqueza presente do outro, mas em aceitar a fraqueza passada nossa que leva o outro a nos cobrar. A dívida é nossa, não do outro, quem vê a vida assim sempre fará mais, não menos, assim estará com crédito, não em débito. O maduro ama, no amor administra cobrança dos outros com paciência, sem tomar o problema para si. Ele discerne de forma clara a cobrança injusta de gente imatura e não se sente cobrado e acusado por ela, mas faz sua parte quando pode e segue em paz.

Para morrer basta estar vivo

      “Porque aquele que está morto está justificado do pecado. Ora, se já morremos com Cristo, cremos que também com ele viveremos; sabendo que, tendo sido Cristo ressuscitado dentre os mortos, já não morre; a morte não mais tem domínio sobre ele. Pois, quanto a ter morrido, de uma vez morreu para o pecado; mas, quanto a viver, vive para Deus. Assim também vós considerai-vos como mortos para o pecado, mas vivos para Deus em Cristo Jesus nosso Senhor.” Romanos 6.7-11

      Só há um pré-requisito para morrer, estar vivo, nisso temos duas lições. A primeira é que ninguém escapa da morte, pobres ou ricos, graduados ou analfabetos, pretos, brancos, amarelos, de todas as cores, brasileiros ou estrangeiros, católicos ou evangélicos, crentes ou ateus. Se todos passarão por ela também todos enfrentarão o além, seja o que entendem que será esse além ou não, mas o certo é que levaremos o que somos, não o que temos. Na “mala” que o espírito carrega para a eternidade só cabem valores morais, não materiais, sejam vícios ou virtudes, maldades ou bondades, já aprovação e glória humanas ficam aqui. Mesmo assim muitos vivem como se não fossem morrer, negam a morte em suas paixões e escolhas. 

      A segunda lição é a ensinada pelo evangelho. Se vivos nós morrermos, estando mortos escapamos da morte, não da morte do corpo, mas da morte do espírito. O evangelho propõe espiritualidade diferente das propostas por muitas religiosidades, a troca de morte por vida. O exemplo maior é dado por Cristo, que não teve existência de vitória e honra no mundo, mas de morte, do início ao fim, durante sua vida como homem na matéria. Suas ideias morreram porque não foram aceitas e compreendidas, seus laços afetivos morreram porque o deixaram só no final, seu corpo morreu com requintes de crueldade, mas seu espírito vive para sempre numa posição espiritual elevada e exclusiva. Quer viver para sempre? Deixe teu ego morrer.

Divina simplicidade

      “Mas temo que, assim como a serpente enganou Eva com a sua astúcia, assim também sejam de alguma sorte corrompidos os vossos sentidos, e se apartem da simplicidade que há em Cristo.” II Coríntios 11.3

      No mundo atual, principalmente no Brasil, onde há uma parcela muito grande de identificados como evangélicos, muitos “usam” o nome do Senhor com facilidade, talvez com facilidade até demais. Outros, contudo, têm dificuldade para dizer o nome de Deus, ainda que o respeitem, seja por não se sentirem dignos dele ou simplesmente por serem céticos. Deus ama a todos, e atenta-se de forma especial àqueles que o buscam, que o autorizam a envolver-se com mais proximidade em suas vidas, dessa forma citar Deus com respeito nunca é algo ruim, nunca é demais. Mas muitos, ainda que se identifiquem como cristãos, parecem ter receio de se aproximarem mais de Deus, talvez porque tenham se decepcionado de alguma forma. 

      A verdade é que muitos complicam Deus, ele é simples, as religiões é que são, cada uma a sua maneira, complicadas, são elas que decepcionam, não Deus. Não há necessidade de ritos, sacramentos, “iniciações” ou qualquer espécie de regra para conversar com Deus. Se para muitos Deus parece complicado é porque o Senhor, em seu amor, se comunica com as pessoas conforme elas podem e querem, se usam religiosidades, ele respeita isso e se manifesta conforme esses protocolos. Quem cria e usa véus são os homens, não Deus, ele é espírito e conecta-se diretamente às mentes humanas, desde que ache nas almas fé, humildade e temor. Quem tem essa experiência aprende a amar e deseja ser santo, assim funciona a simplicidade divina. 

Deus, maior que tudo

      “Por isso, todo aquele que é santo orará a ti, a tempo de te poder achar; até no transbordar de muitas águas, estas não lhe chegarão. Tu és o lugar em que me escondo; tu me preservas da angústia; tu me cinges de alegres cantos de livramento.” Salmos 32.6-7

      Aceite a disciplina de Deus, passe por ela com humildade, digira certo os tempos de falta e limitação, mas Deus é maior que a dor e a prova. Sonhe em Deus, depois seja feliz com o sonho realizado, mas Deus é maior que o sonho. Se esforce neste mundo, estude e trabalhe muito, compre, pague e usufrua, bens materiais e reconhecimento humano, mas Deus é maior que o mundo e os homens, que a prosperidade e os prazeres. Envelheça e aceite as inferências desse momento, busque qualidade de vida, mas não negue o novo tempo que também traz novas experiências, novos desafios e novos crescimentos, contudo, Deus é maior que as restrições da velhice e a iminência da morte. Deus é maior que a vida, que a morte, que tudo entre isso.

      A vida é sequência de momentos distintos, nos quais nosso emocional é balançado para todos os lados e somos jogados em situações extremas, desse modo dor e prazer se revezam até o enfado se impor. Assim é a existência encarnada, fortes emoções e finalmente o vazio, não faria sentido, não valeria a pena se nós, seres humanos fôssemos só corpos físicos administrados por cérebros, há mais que isso. Há o espírito, eterno, em grande parte desconhecido, esse é que clama dentro de nós pelas necessidades mais importantes, e elas são morais e espirituais, não materiais. Quem mais precisa de esconderijo é nosso espírito, e não é só contra a dor, mas também contra o prazer, que engana mais que a dor. Que nada seja maior que Deus. 

A alegria da fé

      “Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não vêem. Porque por ela os antigos alcançaram testemunho.” Hebreus 11.1-2

      Amadurecer espiritualmente não é achar a maior alegria na concretização da fé, quando o que se creu se manifesta no plano material. Amadurecer é alegrar-se enquanto ainda o sonho é só uma esperança em Deus, ainda invisível e não materializado. Nisso achamos a alegria maior na fé, na experiência espiritual, não no objeto material que nos fez exercer fé. Mesmo porque somos seres vãos e limitados, quando nos satisfazemos com algo já queremos outra coisa para nos alegrar. Quando aprendemos a ver a existência no mundo assim, entendemos nossas jornadas neste planeta, que as necessidades que temos e o trabalho que fazemos para satisfazê-las são só ferramentas nas mãos de Deus para aprimorar nossos eternos espíritos. 

      Mais importante que o que a fé obtém neste mundo é a própria fé, ela é fim em si mesma, aperfeiçoa nosso homem interior, nos faz compreender o plano espiritual ainda no plano físico. Na eternidade seremos o que construímos aqui, aprouve a Deus que virtudes eternas e caras fossem anexadas a nós enquanto vivendo em corpos corruptíveis e fracos. Outra coisa que aprendemos quando vemos a existência assim, é não sermos ansiosos, já que o que importa não é onde chegaremos, mas enquanto chegamos, como diz o ditado, importa a caminhada, não o destino. Assim, nos alegremos enquanto esperamos, enquanto a fé ainda não se realizou, esse é o momento especial, isso é o que levaremos ao céu de mais precioso.

Busquemos ao Senhor

      “Quanto a mim, eu buscaria a Deus e a ele entregaria a minha causa. Deus faz coisas grandes e insondáveis, maravilhas que não se podem enumerar. Faz chover sobre a terra e envia águas sobre os campos. Põe os abatidos num lugar alto e conduz os enlutados a um lugar seguro.” Jó 5.8-11

      Quando estiver aflito, busque a Deus, quando estiver ansioso, busque a Deus, quando estiver vazio, busque a Deus, quando estiver feliz, busque a Deus. Depois de buscar a Deus e de achá-lo, torne a buscá-lo, buscar a Deus é o trabalho mais nobre que existe, e o faremos sempre. Glória ao Senhor que nos atrai para buscá-lo. Que nos falte tudo, menos vontade de buscar o Senhor, ninguém que busca volta triste, Deus nunca nega-se a atender com o bem. Busquemos com fé e com humildade, prontos para acatar a vontade de Deus seja ela qual for, sem fazermos exigências ou cobranças. Melhor o não de Deus que o sim dos homens, melhor a disciplina do Senhor que a honra do mundo, melhor buscar a Deus que confiar no dinheiro. 

       Se a resposta do homem demora, não tema, Deus tem as decisões dos seres humanos nas mãos. Se os dias pesam a passar e a solução parece impossível, não tema, Deus é o Senhor do tempo, o todo-poderoso que tem o universo sob controle. Ele dará paciência aos que aprendem a depender do invisível, não do que olhos podem ver. Cada instante neste mundo não é pena para se sofrer, mas oportunidade para se olhar para o Altíssimo e aprender que a vida verdadeira e eterna está nele, acima das aflições passageiras e ilusórias desde mundo. Assim, se a espera parece não ter fim, glorifique a Deus, santifique-se e ame mais, anexe ao teu espírito os valores morais eternos, muito mais importantes que aquilo que esperamos nesta terra. 

Deus não decepciona-nos (3/3)

      “Em tudo isto Jó não pecou, nem atribuiu a Deus falta alguma.” Jó 1.22

      Deus não engana ninguém, são nossas ilusões que nos enganam. Ainda assim somos tentados, quando nos desapontamos com algo, após termos orado e crido, a jogar a culpa em Deus, ainda que de forma velada. Não deu certo? Caminhe mais um pouco, não desista, não é a falsidade do outro que você deve superar, mas tua imaturidade, que pode levá-lo a confiar em coisas erradas, a se apressar e não aguardar o melhor momento. Nós não vemos, mas Deus vê, tanto o que está lá no fundo de nossos corações e que tentamos esconder, como o tempo, algo que está escondido e que por isso pode dar no presente uma falsa sensação de solução satisfatória, mas que se manifestará no futuro e trará amargas consequências.

      Triste a jornada dos que, ainda que se esforçando muito e honestamente, tomam decisões e fazem escolhas sem consultar a Deus, quanto tempo é perdido, quanto dinheiro é mal usado, decepções acumuladas esfriam a alma e tornam as pessoas mais céticas e materialistas. Mas não é assim com quem anda com Deus, esse também sofre decepções e que a princípio entristecem, mas onde há luz, há humildade e o humilde sempre volta para Deus e busca consolo no conhecimento da vontade do Senhor. Na decepção o humilde cresce, se torna melhor, mais próximo de Deus. Encerro aqui três reflexões rápidas sobre desapontamento, experiência que no momento vivo na pele, mas que está me amadurecendo em Deus.

José Osório de Souza, 18/08/2022

Deus nos desafia (2/3)

      “Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas.” Mateus 11.29

      O que precisaremos passar para alcançar os propósitos de Deus para nós? Deus sabe, se formos sensatos também saberemos e se formos humildes não serão coisas que nos desanimam, mas que nos mantêm num nível de serenidade e santidade que nos permitem alcançar os propósitos. Prova é desafio para subirmos um degrau, sem provas podemos até achar descanso, mas estamos num nível aquém daquele que Deus sabe que podemos estar. Portanto não reclamemos de surpresas que desapontam, mas entendamos que podemos ser melhores, assim, o suprimento material que Deus nos dá neste mundo também pode ser melhor. O humilde obedece, o obediente está satisfeito, o satisfeito não se decepcioma e está pronto a ser ainda mais humilde.

      Humildade, eis o maior propósito de Deus para todos. O humilde tem paciência para amar, temor para se santificar, fé para esperar, assim tem leve o espírito para se elevar ao Altíssimo e se desligar das ilusões e maldades deste mundo. O humilde, depois de ter feito tudo que achou que podia e confiado em Deus, se ainda assim receber um não da vida, será mais humilde, se esforçará mais e mais confiará em Deus. O que se decepciona quando não recebe o que achou que Deus lhe tinha prometido, desiste pois ainda não aprendeu a ser humilde. O humilde não vende sua amizade com Deus por nenhum prazer, nem a troca por alguma dor, mas aperta firme a mão do Senhor e segue, crente que no tempo melhor Deus fará acontecer. 

Deus não desaponta-nos (1/3)

      “Bem-aventurado o homem a quem o Senhor não imputa maldade, e em cujo espírito não há engano.” Salmos 32.2

      Desapontamento, quem não o sofre? E quando ocorre nos entristecemos muito, beiramos à depressão, se não nos deprimimos de fato. Em determinadas situações estamos tentando fazer tudo certo, crentes que Deus vai à frente e que o melhor vai acontecer, contudo, de repente, tudo parece cair por terra e o empreendimento não dá certo. Por mais que vivamos, por mais que soframos, por mais que sejamos tratados por Deus, ainda podemos estar susceptíveis à tristeza do desapontamento. Mas o Senhor permite isso para nos fazer crescer ainda mais, mesmos que já nos achemos crescidos e sofridos o suficiente. Tenha humildade, a solução para tudo, se não deu certo, prossiga andando com Deus, tente de novo, o melhor virá. 

      Nos desapontamos se nos achamos num direito e esse direito parece-nos ser desrespeitado. O errado consciente não se desaponta, sabe que nada merece, que pode esperar qualquer coisa neste mundo, acredita na sorte, não em Deus. Andando com Deus podemos nos desapontar quando achamos que Deus é menor que a pessoa que nos enganou ou o negócio que nos desapontou, como se Deus não fosse criador e mantenedor de todos e tudo. Se não estamos andando em pecado e se empreendemos algo autorizado por Deus, vencemos o desapontamento colocando Deus em seu devido lugar dentro de nós, mas sempre agindo e reagindo com a humildade que sabe que só com Deus recebemos bem que traz a paz que permanece.

Sonho realizado

      “Quando o Senhor trouxe do cativeiro os que voltaram a Sião, estávamos como os que sonham. Então a nossa boca se encheu de riso e a nossa língua de cântico; então se dizia entre os gentios: Grandes coisas fez o Senhor a estes. Grandes coisas fez o Senhor por nós, pelas quais estamos alegres.” Salmos 126.1-3

      Quem foi refinado na fornalha da aflição, que aprendeu a se manter fiel a Deus e a seus princípios morais mesmo na falta e na humilhação, quem abriu mão de toda aprovação humana para achar coerência e felicidade, esse sabe o que é enfrentar sua verdade mais profunda e a pior realidade deste mundo. Deus olha do alto e procura o sincero do bem, esse poderá não estar sendo seu melhor, estar preso a vícios e culpas, mas se há dentro de seu coração um desejo verdadeiro, puro e resistente de conhecer e viver o melhor de Deus, o Senhor o separará com os olhos. Deus acompanha o sincero do bem, por muito tempo à distância, o Senhor sabe que o ser quer, mas não está preparado, assim autoriza sobre o ser toda sorte de provas.

      Pouco a pouco a pedra dura e sem forma vai sendo desbastada, depois de muito tempo ganha um formato limpo e liso, e ainda que num tamanho muito menor que o da pedra original, se transforma numa ferramenta útil para os propósitos do Senhor. Depois de anos sendo quebrado e polido, humilhado e refinado, o ser quase que não se reconhece, é tão pequeno agora, não faz mais exigências ou cobranças, está pronto para obedecer a Deus. Então, o Senhor começa a usar o ser e à medida que usa, supre, protege e cuida, agora ele pode receber honras nesse mundo, já aprendeu a não dar valor a elas, mas só à honra que Deus lhe dá. O ser então parece sonhar, o que era impossível acontece, a noite passou, o dia chegou. 

José Osório de Souza, 13/08/2022

“Dia de gratidão!”

Só em Deus há vantagens

      “A soberba precede a ruína, e a altivez do espírito precede a queda. Melhor é ser humilde de espírito com os mansos, do que repartir o despojo com os soberbos.” Provérbios 16.18-19

      Com Deus, até desvantagens tornam-se vantagens com o tempo, mas sem ele vantagens tornam-se desvantagens, assim, andemos por fé, Deus é bom e sabe o melhor para nós. Com humildade e sabedoria sempre podemos buscar o Senhor e conhecer sua melhor vontade, que nos ajudará a fazer a melhor escolha, se for um negócio material, será um caminho que não roubará nossa paz. O ganancioso pode até tentar pôr o Senhor em seu caminho torto, dizer que tem um “deus” grande e possui muita fé, assim tentará sempre ter as melhores vantagens materiais. Mas sem humildade e sabedoria plantará mal e no futuro colherá pior, o mundo é cruel com os que são seduzidos por ele, atrai com ilusões para escravizar com dores.

      Melhor crer muito, mas se satisfazer com menos, então receber de Deus bastante, que ser insaciável ainda que tendo muito. Quem anda nas pisaduras de Cristo trilhará o caminho estreito, mas reto. O que sai correndo sem olhar o caminho, tropeçará nas próprias pernas mesmo que o caminho seja direito. Não andemos um único passo sem termos a certeza que Deus está à frente, para isso temos que orar ao Senhor com toda a nossa convicção mental e com todo o sentimento de nosso coração. O Espírito Santo nos “puxa” com sua unção poderosa e nos ilumina, dando-nos a segurança que estamos fazendo a coisa certa, quando não queremos tirar vantagens rápidas, mas só fazer a melhor vontade de Deus para nossas vidas. 

Em paz com Deus é melhor

      “Porque faz que o seu sol se levante sobre maus e bons, e a chuva desça sobre justos e injustos.” Mateus 5.45

      Se alguém quiser fechar um negócio, dependendo de uma resposta adequada da outra parte, esse negócio poderá acontecer? Sim. Poderá ser favorável ao que quer fechar o negócio? Sim. O sucesso depende da pessoa ter “amizade” com Deus e orar a ele pedindo para que o negócio seja bem sucedido? Não. Mas o negócio poderá também revelar, um tempo depois, que foi mau, para aquele que o fez sem consultar a Deus. E se uma pessoa consultar e obedecer a Deus? Poderá fechar o negócio só se sentir paz, se isso ocorrer o negócio será bênção. Se o que anda com Deus tentar fechar o negócio sem convicção da vontade do Senhor, terá paz? Não, tanto quanto o que não anda com Deus, o negócio não terá sucesso. 

      Entretanto, só o que anda com Deus aprende a discernir a voz do Senhor e a valorizar a paz que existe em levar a vida com autorização do Altíssimo. Mas se o negócio pode dar certo para todo mundo, qual a vantagem de se buscar a Deus? Não é ter um negócio na área material bem sucedido, é estar em paz com Deus e nessa disposição estar conectado com o Altíssimo, fazendo sua vontade e experimentando o melhor propósito da existência, a vida eterna. Não, o propósito do Senhor nunca é termos prosperidade no mundo, fazermos bons negócios materiais, mas é estarmos ligados espiritualmente a ele, nos aperfeiçoando moralmente. Negócios aqui são apenas meios que Deus usa para aprendermos a ter comunhão com ele. 

Ao humilde e sábio Deus atende

      “O Senhor já ouviu a minha súplica; o Senhor aceitará a minha oração.” Salmos 6.9

      Termos o coração quebrantado, mas pedirmos algo insano, não é suficiente, sermos inteligentes, mas sermos soberbos, também não basta. É preciso humildade e sabedoria para sermos atendidos por Deus, pois desse jeito pediremos algo que pode nos ser dado porque nos fará o bem maior. O bem maior não satisfaz só nossas necessidades materiais, mas conduz nosso espírito a valores morais altos e eternos. Aprendemos a ser humildes no tempo, administrando corretamente os nãos da vida, numa perseverança que nos ensina sobre nós, sobre Deus, sobre os seres humanos, sobre a vida, sobre o mundo. Aprendemos a ser sábios no tempo, recebendo os sins e compreendendo com sensatez porque e quando nos foram autorizados. 

      Deus anseia por nos atender, não tem prazer em nos ver com necessidades, se há alguma boa sinceridade em nós, que anseia por agradar-lhe, ele é paciente, aguarda em amor que estejamos preparados para o conforto e a tranquilidade no corpo, de forma que isso não deixe ocioso nosso espírito. Quem está preparado não precisa de muito para estar satisfeito, assim pede o correto e minimamente necessário para seguir tendo as prioridades melhores neste mundo. Quem está preparado aprendeu o caminho da humildade e da sabedoria, não pede algo grande demais, que o fará se perder moralmente, mas também não se acomoda com menos por falta de fé ou falsa espiritualidade. A quem sabe pedir, nada nega o Senhor.

As primeiras coisas são passadas

      “E Deus limpará de seus olhos toda a lágrima; e não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor; porque já as primeiras coisas são passadas.” Apocalipse 21.4 

      A história teológica bíblica da nação de Israel é dividida em fases, a fase dos patriarcas, da entrada e saída do Egito, dos juízes em Canaã, dos reis Saul, Davi e Salomão, da divisão de Israel, do cativeiro babilônico e outros, até a fase do novo testamento sob o domínio romano. O cristianismo também tem fases em sua história, a fase da igreja primitiva, da igreja católica, da reforma protestante e consequências disso no catolicismo, a atual dos crentes evangélicos e pentecostais. É tolice aliar verdade e legitimidade exclusiva a uma fase, o ser humano muda, instituições religiosas mudam, política e economia mudam, a ciência tem mudado muito e com ela a humanidade. Deus nada impõe, mas em seu amor usa mudanças e fases para atrair o ser humano a si.

      Nossa jornada individual é coleção de fases, infância, adolescência, juventude, maturidade, velhice, mas não é só o corpo que muda, muda também nossa alma, nossa ótica do mundo, nossas prioridades, nossos sonhos, nossas dores, nossas paixões. Bom é quando podemos conhecer a Deus em cada fase, crescer espiritualmente, melhorarmos moralmente, à medida que social e materialmente conquistamos vidas dignas. Na eternidade provaremos uma nova fase, alguns serão atormentados por ainda teimarem em ver a existência só pelos próprios olhos, desprezando a luz mais alta de Deus, outros terão o descanso merecido após terem aberto mão da arrogância e do egoísmo e perseverarem na humildade e no amor. 

A noite passou

      “E isto digo, conhecendo o tempo, que já é hora de despertarmos do sono; porque a nossa salvação está agora mais perto de nós do que quando aceitamos a fé. A noite é passada, e o dia é chegado. Rejeitemos, pois, as obras das trevas, e vistamo-nos das armas da luz. 

     Andemos honestamente, como de dia; não em glutonarias, nem em bebedeiras, nem em desonestidades, nem em dissoluções, nem em contendas e inveja. Mas revesti-vos do Senhor Jesus Cristo, e não tenhais cuidado da carne em suas concupiscências.”

  Romanos 13.11-14

      Santidade e fé são os meios para acharmos Deus, humildade e amor são os frutos de quem acha o Senhor. Sem desejarmos persistentemente limpeza moral e libertação de vícios, não sentiremos necessidade de Deus para vivermos isso, quem atrai à santidade é o Santíssimo. Sem fé não acessamos a palavra de vida do Espírito Santo que capacita-nos para santidade ser praticada. Só quem tem pela fé uma vida de santidade em Deus, entende e exerce humildade, que respeita as pessoas, teme a Deus, busca o temor do Senhor nele e para ele, não para si mesmo. Só colocados e focados no Altíssimo por Cristo Jesus podemos “amar com amor”, não em egoísmo e com segundas intenções, mas amor que serve e que não busca ser servido. 

      “A noite é passada, e o dia é chegado, rejeitemos, pois, as obras das trevas e vistamo-nos das armas da luz”. As obras da carne, por mais satisfatórias que possam parecer, só agradam ao ego no corpo e deixa o ser humano sozinho e desconectado de Deus. Só experimentamos nosso melhor eterno e espiritual em comunhão com Deus, nisso temos acesso às armas da luz, e quão poderosas são essas armas. Elas destroem o mal que existe dentro de nós, do mal que está fora ela nos protege, e se houver livre arbítrio dos outros seres, ela transforma o mal alheio em bem. As armas da luz não destroem os seres, Deus nunca destrói um ser, mas liberta-o, limpa-o, usa-o e o enche de paz, para que faça parte de algo maior no universo. 

Não olhe para trás

      “E a mulher de Ló olhou para trás e ficou convertida numa estátua de sal.” Gênesis 19.26

      “Olhando para Jesus, autor e consumador da fé, o qual, pelo gozo que lhe estava proposto, suportou a cruz, desprezando a afronta, e assentou-se à destra do trono de Deus.” Hebreus 12.2

      Talvez a maior tentação que enfrentamos neste mundo seja de olharmos para trás, e tanto coisas más quanto boas podem tirar nossos olhos do que há de melhor à frente. A história de Ló é conhecida, ele vivia numa cidade que desagradava a Deus e Deus resolveu destruir a cidade por causa disso, mas vendo em Ló alguma boa sinceridade permitiu que ele e sua família fugissem antes da destruição. Só havia uma condição, seguirem em frente e não olharem para trás, a esposa de Ló não obedeceu a orientação, olhou para trás e se transformou em estátua de sal. A lição mais importante dessa passagem é uma metáfora que se aplica a muitas experiências e escolhas que os seres humanos vivenciaram, vivenciam e vivenciarão.

      A primeira coisa é entender que nossa maior vocação é espiritual, seguirmos em direção ao Altíssimo, nisso nos libertamos da carne e nos tornamos espirituais, deixando a matéria e elevando-nos moralmente. O Espírito de Deus sempre nos atrai para cima e para frente, o mal, o erro, a culpa, o medo, que experimentamos devem ser deixados no passado, mas a última bênção também não pode nos prender ao hoje. Nem mágoa, nem saudosismo, mas vida eterna em Deus, ainda que tenhamos que sobreviver num mundo físico, preso a referências de tempo e morte. Olhar para frente é contemplar a morte do jeito certo, olhar para trás é tentar parar o tempo, impedir o espírito de evoluir e prendê-lo a um presente ilusório. 

De fé em fé, de glória em glória

      “Porque nele se descobre a justiça de Deus de fé em fé, como está escrito: Mas o justo viverá da fé.” Romanos 1.17

      “Mas todos nós, com rosto descoberto, refletindo como um espelho a glória do Senhor, somos transformados de glória em glória na mesma imagem, como pelo Espírito do Senhor.” II Coríntios 3.18

      Usufrua, cresça e fortaleça-se com a última bênção, mas não se acomode nela. Nossa vocação maior nos leva sempre a buscar a próxima bênção, deve ser assim para que nosso tempo neste mundo seja bem usado, para crescermos e nos purificarmos. A próxima bênção começa num sonho sincero do bem do ser humano, na fé pura e inteligente também do ser humano, que se deixar ser iluminado pela emanação do Altíssimo. Na luz sabemos quem somos, de onde viemos e para onde devemos ir, isso nos dá noção da escada espiritual em que nos achamos, na qual devemos procurar o próximo degrau até nosso último instante no plano material. Com o sonho entregue nas mãos de Deus cabe-nos trabalhar e esperar. 

      Não podemos cair no pecado de Davi, o rei que após ter vitórias legítimas se acomodou, ficou no palácio ao invés de liderar seu exército e acabou cometendo seus piores erros, adultério e assassinato. Nesse mundo tudo é tentação e prova para que vençamos a matéria que nos puxa para baixo e tenta nos impedir de nos elevarmos a Deus, inclusive bênçãos com data vencida. Nosso vaso é de barro, pequeno e frágil, inviável para receber e segurar capacitação espiritual por muito tempo, assim devemos enchê-lo todos os dias, essa é a maior aventura que o ser humano experimenta no mundo. Por isso, após ter crido e feito tua parte, alegre-se com a glória recebida, mas siga em frente, de fé em fé, de glória em glória. 

Não foi, não é, nunca será fácil

      “Entrai pela porta estreita; porque larga é a porta, e espaçoso o caminho que conduz à perdição, e muitos são os que entram por ela; e porque estreita é a porta, e apertado o caminho que leva à vida, e poucos há que a encontrem.” Mateus 7.13-14

      Nossa luta contra nosso mal interior não foi, não é, nunca será fácil. Até o fim nosso desconforto com certas pessoas, nossos desejos descontrolados por certas coisas, nossa violência querendo deixar o plano mental e se realizar no plano físico, contra tudo isso teremos que lutar. Esses conflitos nos fazem sofrer, roubam nossa paz, mas também revelam nossa fragilidade como seres solitários e nos fazem buscar a algo maior e fora de nós, Deus. Estamos no mundo porque somos imperfeitos e como tais precisamos sofrer com fraquezas para aprendermos a ser humildes. Infelizmente, muitos desistem, cansam-se de sofrer, de mostrar aos outros suas fraquezas, e principalmente, não querem buscar em Deus capacitação e sentido.

      Para poderem sobreviver inventam desculpas, mentiras que dizem a si mesmos. Se alguém deixa-os desconfortáveis e são tentados a reagirem de forma violenta, dão a desculpa que a culpa é do outro e que sua reação de ódio é justa. Se o desejo leva-os a vícios, dizem que não são perfeitos, não precisam ser e têm direito a prazeres, ainda que secretos. Enfim, muitos preferem o caminho largo e fácil, porque querem vencer o mundo com as forças do mundo, não entendem que não fomos postos aqui para vencer os homens, mas para vencermos a nós mesmos. Nessa prova não seremos respeitados por todos, não ganharemos todas as guerras, não seremos ricos e famosos, mas seremos espirituais, santos, humildes e amorosos. 

Gratidão pela misericórdia

      “Bondoso e compassivo é o Senhor , tardio em irar-se e grande em misericórdia. O Senhor é bom para todos, e as suas misericórdias permeiam todas as suas obras.” Salmos 145.8-9

      Todos precisam da misericórdia de Deus e por ela são alcançados, mas os que têm consciência disso e por isso são gratos, lhes basta a justiça do universo, essa sempre dá aos gratos mais do bem que acham merecer. Já os que não se acham necessitados da misericórdia do Senhor, que dizem que já fazem a sua parte e essa é suficiente para que sejam supridos em tudo, um dia a justiça do universo lhes cobrará, e eles não terão como pagar, visto sua enorme dívida. A bênção não é fazer e ter, mas saber e crer para então fazer e ter, a bênção é ser em Deus e para ele, a bênção é espiritual, depois material. A bênção é vertical, não horizontal, é seguir para o alto eterno, não só conquistar o que está abaixo no plano material. 

      Se não fosse isso não haveria necessidade de crer em Deus, de cultivar valores para o plano espiritual, bastaria crer em si mesmo e se contentar com as honras que o mundo e os homens dão. O universo é justo, dá a cada um o que cada um merece, nem mais nem menos, mas depender disso não é só trabalhar para manter o corpo físico, também é anexar virtudes ao espírito. Sem Deus, não existe relevância de misericórdia, receber por misericórdia é receber sem merecer, assim sem misericórdia não há humildade, sem humildade não há virtudes, pois não há dependência de Deus. Depender de Deus não é ociosidade e ignorância, mas humildade, que sabe, que ainda faça tudo o que pode, nada é sem a misericórdia do Senhor. 

Ministério do amor

      “Mas tu, sê sóbrio em tudo, sofre as aflições, faze a obra de um evangelista, cumpre o teu ministério.” II Timóteo 4.5

     

      Amor que espera, mesmo uma vida inteira, mas que não desiste de abençoar, de iluminar, isso é evangelho. Os que menos gostam de nós são os que mais precisam de nós e que exigirão de nós um amor mais puro e persistente, ainda que com a discrição que respeita a escolha de alguns para não gostar de nós. Muitos acham que não têm ministério, pois entendem ministério equivocadamente, para esses, pastores têm ministérios, médicos têm, mas eles não. Mas todos temos um ministério, e o mais importante de todos, amar as pessoas sem exigir algo em troca. Amar quem gosta de nós é fácil, mas amar quem nos fere sempre que pode é ministério, ainda que à distância segura, aguardando a eternidade onde tudo será entendido. 

Palavra e poder de Deus

      “Jesus, porém, respondendo, disse-lhes: errais, não conhecendo as Escrituras, nem o poder de Deus.” Mateus 22.29

      Duvidamos de Deus quando fechamos os olhos para a Bíblia e para o Espírito Santo. Na Bíblia está registrado o testemunho do que Deus fez no passado, pelo Espírito Santo podemos saber o que Deus pode fazer em nossas vidas pessoais hoje. Por ambos sabemos que Deus tem poder, isso é, que ele é vivo e ativo em seu melhor em prol dos que o buscam, o obedecem e confiam nele. Deus não deixa o ser humano sozinho e ignorante no mundo, para que se aperfeiçoe e aprenda sobre a relevância da virtudes morais sobre os valores materiais pela própria conta, Deus envia profetas. O antigo testamento foi escrito por profetas da nação de Israel que prepararam o mundo para Jesus, o mais elevado de todos que já nasceram na Terra.

      Mas não temos só as escrituras, que ainda que legítimas são presas a contextos históricos antigos, temos o vivo Espírito de Deus, esse é o poder presente de Deus, que não só nos ensina como sermos melhores, como nos capacita para praticarmos a vontade do Altíssimo. Erramos e consequentemente nos entristecemos, fugindo para vícios e perdendo tempo, não conhecendo a Deus, e conhecer a Deus é mais que achar explicações intelectuais para a vida aqui, é usufruir vida eterna. Se erramos morremos, ainda que temporariamente, pois deixamos de olhar para o alto e olhamos para baixo. Ânimo, pequeninos do Senhor, Deus dá gratuitamente de seu poder aos que o buscam com humildade, somos limitados, mas Deus é poderoso e conosco está!

Recebemos o que buscamos

      “Não erreis: Deus não se deixa escarnecer; porque tudo o que o homem semear, isso também ceifará. Porque o que semeia na sua carne, da carne ceifará a corrupção; mas o que semeia no Espírito, do Espírito ceifará a vida eterna.” Gálatas 6.7-8

      Certa vez senti dar a seguinte palavra para alguém, “você receberá da vida exatamente o que mais tem buscado nela”. A pessoa até agradeceu, de fato ela passava por um momento de prosperidade material, estava se esforçando muito para alcançar uma condição, aliás, por toda sua vida até então era o que ela mais queria, riqueza. Só senti do Senhor de dar a palavra acima, mas Deus tinha me dito mais, o restante da profecia, e o final da história não era tão bom como a pessoa que recebeu a palavra estava querendo crer que era. De fato, na nossa insistência, ainda que queiramos algo que não é o melhor de Deus para nossa vida, o universo acaba dando o que merecemos, afinal todo trabalho tem sua recompensa. 

      Mas será que prosperidade material é o melhor do Senhor para nós? É necessária e Deus permite que tenhamos como bênção, mas desde que tenhamos as prioridades certas, humildade, santidade e amor. Contudo, quem põe riqueza em primeiro lugar, pode até crer em Deus, aliás, quase todo mundo crê em Deus e se diz aprovado por ele, mas não se consegue ser santo, humilde e amoroso com prioridades erradas. Arrogância sempre nos tenta, o que acha que conquista riquezas neste mundo por causa de seu esforço pessoal não preocupa-se com temor a Deus. Mas longe de Deus nossa força é mentira, já o fraco é fortalecido, não confia em si mesmo e anda bem perto do Senhor, ainda que isso seja mais trabalhoso.