quarta-feira, junho 21, 2023

Merecemos o que temos

       “Então Jesus, olhando em redor, disse aos seus discípulos: Quão dificilmente entrarão no reino de Deus os que têm riquezas! E os discípulos se admiraram destas suas palavras; mas Jesus, tornando a falar, disse-lhes: Filhos, quão difícil é, para os que confiam nas riquezas, entrar no reino de Deus!Mateus 10.23-24

     A palavra que segue não será bem aceita por todos, mas precisa ser dita, esteja à vontade para concordar. Sei que é não é fácil aceitar, e em muitos casos humanamente impossível, mas todos merecem o que passam na vida. Se alguém recebeu, por mais injusto que pareça e ainda que não tenha feito muito para receber, é porque mereceu receber, se alguém perdeu, ainda que tenha sido algo legítimo conquistado por anos de trabalho honesto, também é porque mereceu perder. Se quem recebeu e quem perdeu administrar isso com humildade e temor a Deus crescerá espiritualmente e receberá muito mais que o que recebeu ou perdeu. Agora, se quem recebeu não administrar isso com temor, nem o que recebeu lhe satisfará, e se o que perdeu não administrar isso com humildade, perderá bem mais que o perdido inicialmente.
      Mas e os pobres que sofrem tanto no mundo, nasceram de um jeito e estão condenados a morrerem, e mais cedo que outros, do mesmo jeito, é justo isso, eles merecem isso? Darei três respostas para essa questão. A primeira é a mais prática: quem pode mais, eu, você e tantos ricos deste mundo, deveriam ajudar esses pobres, assim ajudariam quem é provado na pobreza e cumpririam com justiça suas provas de terem vindo ao mundo fora da pobreza. A segunda é, e apesar de parecer cínica, é a realidade: Deus dá o frio conforme o cobertor, muitos que olhamos como pobres dividem o pouco que têm com semelhantes, não, não têm uma vida melhor como a tua e a minha, mas conseguem viver, e muitos, com certa alegria.
      A terceira resposta é teológica. Pela doutrina cristã tradicional não importa se as pessoas são pobres ou ricas, importa fazerem uma decisão por Cristo como salvador, para terem céu eterno após a morte e cuidado de Deus aqui. Essa doutrina também baseia-se num ensino legítimo do evangelho, em muitas passagens Jesus exorta que ao pobre e ao que não tem amor ao dinheiro é mais fácil ser salvo, assim entendemos sob esse ponto de vista que a pobreza, apesar de ser terrível na Terra, favorece uma eternidade melhor. Isso serve de consolo para todos os pobres? Não. Mas adicionada a esse entendimento temos a teologia neopentecostal da prosperidade, que ensina que os que se convertem podem ser prósperos materialmente. 
      Entretanto, há outra resposta, também teológica, mas não do cristianismo tradicional. Essa contempla mais de uma existência na Terra, assim quem veio pobre numa vida, pode ter vindo rico na anterior e não sabido administrar a riqueza. Por outro lado quem veio rico nesta vida pode ter vindo pobre na outra e ter administrado corretamente a pobreza. Sob esse ponto de vista a vida no mundo nunca é injusta, ainda que tenhamos que superar doutrinas cristãs tradicionais para aceitá-lo. Mas algo é certo, em uma vida ou em várias, o que fazemos certo hoje com o que temos, definirá nosso futuro, assim, temamos a Deus, sejamos humildes e nos esforcemos para melhorarmos moralmente, seja qual for nossa condição material. 

terça-feira, junho 20, 2023

Desensine o algoritmo

      “Não peço que os tires do mundo, mas que os livres do mal. Não são do mundo, como eu do mundo não sou. Santifica-os na tua verdade; a tua palavra é a verdade.João 17.15-17

      Nem todo costume é vício, mas todo vício é ídolo, a internet hoje conhece nossos ídolos e os usa para nos viciar. Você já deve ter passado pela experiência de uma vez ter procurado no Google por venda de parafusadora sem fio e depois, procurando qualquer outra coisa, parafusadoras sem fim aparecerem de tudo quanto é jeito e em todo lugar, pois bem, isso são os algoritmos da internet trabalhando. Já é de conhecimento geral que páginas da internet armazenam nossas pesquisas e alimentam algoritmos, que depois serão usados para gerarem automaticamente pop-ups, banners, abas e anúncios com publicidade de produtos e outras informações selecionados que possam nos interessar. 
      Obviamente o propósito número um disso é vender e nos fazer comprar, para dar lucros a alguns, assim a internet conhece nossos vícios e os usa a favor de outros. Cada vez que você disponibiliza um dado seu na web, algoritmos são alimentados e você é mas conhecido em milhares de espaços, para ser reconhecido depois com mais facilidade. Pois é, penso que no mundo atual, depois de Deus, websites são quem mais nos conhecem, talvez mais até que nossas famílias, cônjuges, filhos e pais, também pudera, nos abrimos para a internet, compartilhamos intimidades com ela, mais que com qualquer outra pessoa. Talvez seja hora de desensinarmos os algoritmos do mundo moderno e sermos libertos.
      O quanto somos previsíveis? As pessoas sabem o que esperar de nós? Estão certas que repetiremos os mesmos erros? Sempre esperam que nos irritemos demais, que falemos demais, que nos iremos facilmente, que não tenhamos paciência, que reajamos sem pensar através de palavras e atitudes inconvenientes? Se as pessoas nos julgam mal isso é maldade delas, mas nós facilitamos o trabalho dos maus quando os programamos com nossas maldades. Jesus sempre surpreendia, não porque desejasse isso, mas simplesmente porque sempre tinha uma reação de vida, de amor, de pureza, que se opunha à maldade dos homens. O mundo estava tão despreparado para Cristo que o matou.
      Não se pode sair do mundo, muito menos fora do melhor tempo de Deus, mas pode-se ser livrado do mal. Os que são da luz a trazem em si, ainda que se percam por um tempo e na visão de homens, sabem onde querem chegar, não têm medo de chocarem o mundo com suas escolhas pela luz. Ainda que outros tenham até conseguido programar algoritmos sobre nós, em nossas lares, no mundo e mesmo em igrejas, quem conhece e ama a palavra de Deus não teme a verdade, a luz de Deus nos expõe a toda verdade. Quem não foge da verdade é limpo e curado, não agrada algoritmos da matéria, mas é livre no espírito, e o que é espiritual discerne bem tudo e de ninguém é discernido (I Coríntios 2.15). 

segunda-feira, junho 19, 2023

Estejamos preparados

      “Sejam também vocês pacientes e fortaleçam o seu coração, pois a vinda do Senhor está próxima.Tiago 5:8 

      A vinda do Senhor está próxima, exorta-nos a palavra em várias passagens, devemos acatar essa exortação, mas eu faço uma pergunta: aproxima-se para quem, para o coletivo ou para o indivíduo? O fim está perto da humanidade ou de você? E se está próximo, o que é? Interessante que o versículo acima não diz, "relaxa, agora falta pouco, o pior já passou", mas ele diz, sejam vocês pacientes e fortaleçam o seu coração, no final devemos estar ainda mais espertos e vigilantes. Se tem algo que nos enfraquece é perda de paciência, acharmos que já fizemos tudo o que podíamos e não precisamos nem podemos fazer mais. Deus é justo, fiel e muito amoroso, se ele pede que aguardemos mais um pouco, ele nos capacita para isso. 
      Já refletimos aqui sobre fim dos tempos e as óticas diferentes que podemos ter desse evento. Resumindo, muita coisa que a Bíblia profetiza pode já ter acontecido e a ótica sobre esse evento, descrita na Bíblia, é a interpretação de homens de Deus sobre experiências com o Deus verdadeiro, isso é certo, mas homens de contextos sociais, religiosos, históricos antigos, com níveis intelectuais e mesmo psicológicos diferentes dos homens de hoje. Mas nesta reflexão o ponto não é fim dos tempos, mas fins de tempos de nossas vidas. Todos nós experimentamos uma vida em fases, acaba uma para iniciar-se outra. A vinda do Senhor está próxima, pode ser uma vinda para encerrar fases de nossas vidas, sendo a morte o fim da última fase. 
      Nunca estamos preparados para fins, fugimos deles, é nosso instinto de sobrevivência falando mais alto, negamos a morte até o último suspiro, e nesse caso é assim que tem que ser. Mas a morte chega, com ela o juízo, confrontando-nos com tudo que somos de fato, que os homens podem não ter visto, que nós tentamos negar a nós mesmos, mas que Deus sabe. Morrer bem é morrer antes, para o orgulho, para prazeres egoístas, para a vingança, para a altivez, já quem vive para tudo isso, morrerá mal. Quem morre mal enfrentará envergonhado a presença do Senhor, desejará fugir da luz. A luz fere os olhos do que fugiu dela durante a vida no mundo, e na eternidade não haverá trevas, só luz, negá-la lá é o que se chama inferno. 
      Não deixe o egoísmo ser abatido só com o corpo, aí será tarde, mas também não mate tua alma de tristeza ainda vivo. Seja feliz em Deus, sendo humilde no trato, amoroso na ação e pacificador na reação. Repita todo dia a si mesmo, quero em mim paz, não guerra, quero para os outros misericórdia, não julgamento, quero para Deus minha persistente santidade, não entregar-me aos vícios. A vinda do Senhor está próxima? Será no mundo como diz a teologia protestante tradicional? Não sabemos. Será no plano espiritual como creem outros religiosos? Não sabemos. Mas nem importa sabermos, importa estarmos preparados, fazendo tudo que nos é possível para perdoarmos e recebermos perdão, pacientes e com o coração fortalecido. Jesus não tarda em vir. 

domingo, junho 18, 2023

Enviado, convicto, iluminado (2/2)

      “Eu vim em nome de meu Pai, e não me aceitais; se outro vier em seu próprio nome, a esse aceitareis.” João 5.43

      Interessante que Jesus, apesar de seu nome ter sido usado para fundar uma das religiões (se não a religião) mais importante, poderosa e duradoura do mundo, teve poucos seguidores mais próximos durante sua vida como homem. Mesmo seus apóstolos não o ajudaram em seus últimos dias antes de sua morte. Uma pergunta precisa ser feita: será que Cristo tinha alguma intenção de fundar uma instituição religiosa? Sendo mais específico: Jesus foi o fundador da igreja católica? Hoje, como espírito, ele aprova o que ela faz? Não, não e não, ainda que ame muito os católicos e os abençoe sempre.
      Em muitas passagens bíblicas lemos registros de Jesus dizendo que não veio em seu nome, que não fazia as coisas para sua glória, que queria mostrar o caminho para outro ser, o nome, a glória e o caminho são os de Deus. Eis um critério de avaliação para separarmos egocêntrico de iluminado. O egocêntrico, mesmo que use o nome de Deus, fundamenta-se em si mesmo, se usa como modelo, se dá exclusividade da verdade, mas talvez até pior que isso, ele anatemiza os outros, demoniza-os. O discurso do egocêntrico nunca contém perdão, amor e misericórdia, só condenação, guerra e destruição. 
      Sim, o nome de Jesus tem poder e ele deixou bem claro isso, contudo, tem poder porque ele abdicou do poder, se anulou, se humilhou, se ofereceu como sacrifício de morte. O poder que o nome de Cristo tem foi adquirido depois de sua vida como homem, não nela. Eis outro critério para separar egocêntrico de iluminado, egocêntrico quer glórias de homens, poder em vida e sem fazer sacrifícios, a não ser dos que considera seus opositores. O louco, convencido e egocêntrico quer a posição, mas não paga os preços por ela, simplesmente porque não tem chamada legítima para ser o que diz ser.
      Jesus, como homem, teve missão legítima e exclusiva de enviado de Deus, tinha uma convicção baseada na verdade e que não se apoiava em aprovação de homens. Ele foi um homem iluminado, e atualmente e para sempre, é um espírito superior, posicionado nas regiões espirituais mais altas da luz do Altíssimo. Quem o tem como amigo não precisa de salvador no mundo, de líder na política, de lugar de fala entre homens. O poder que damos a seres humanos é inversamente proporcional ao poder que damos a Jesus. Para quem Jesus basta, homem egocêntrico não pode enganar.
      O que leva algumas pessoas a desejarem poder? É isso que vemos em muitos que se levantaram na internet e redes sociais, principalmente a favor da direita extremista e equivocada nos últimos anos no Brasil. Alegando liberdade de opinião, de expressão, fake news têm sido criadas para darem palco a troco de ódio, e ódio é argumento de quem quer poder ilegítimo. Pessoas que deveriam ter a humildade de se aceitarem como são e como lhes foi permitidas ser por Deus, negam a si mesmas, negam a Deus, negam o amor, negam o direito, só para aparecerem e terem poder, isso é doentio. 
      É muito triste ver católicos, protestantes, evangélicos, e dando nomes, assembleianos, adventistas, batistas, querendo poder e fama, por serem pessoas psicologicamente doentes, auto-convencidas e egoístas, justamente pessoas que podem ter passado a vida ouvindo de púlpitos palavras bíblicas. Ou são surdas ou são mudas, e digo isso espiritualmente, ou não ouviram o que lhes ensinaram ou não foram ensinadas, ainda que dentro de igrejas. A atual situação política do Brasil e o apoio que muitos cristãos estão dando a um egocêntrico é preocupante, não entenderam ainda o que Cristo ensinou. 
      Sejamos enviados de Deus para testemunhar do amor e da paz por obras e como simples seres humanos, não como políticos ou celebridades em redes sociais. Tenhamos nossa convicção para nós, não precisamos entrar em polêmicas para jogar nossas verdades na cara dos outros, aliás muitos nem precisam saber o que cremos, só precisam de nosso amor e nossa misericórdia. Alcancemos a iluminação espiritual mais alta, essa não está nas religiões exotéricas, mas no lado esotérico delas, que Deus revela aos humildes, santos, preparados e chamados para serem discretamente luzeiros no universo.

Leia na postagem de ontem
a 1ª parte desta reflexão

sábado, junho 17, 2023

Louco, convencido, egocêntrico (1/2)

      “Levanta-te, ó Deus, pleiteia a tua própria causa; lembra-te da afronta que o louco te faz cada dia.” Salmos 74.22

      Uma linha tênue separa o louco do enviado, o convencido do convicto, o egocêntrico do iluminado. É tênue porque ao olhar do desatento, que avalia só pela forma, não pelo conteúdo, o maluco parece dizer coisas novas, o convencido parece ter certeza de que o que diz funciona e o egocêntrico mostra segurança, ainda que seja porque não olha para mais nada, a não ser para o próprio umbigo. Por isso muitos consideram fundadores de religiões, mesmo Jesus, não como pessoas especiais que desejaram melhorar a humanidade, mas como homens que só quiseram dominar outros homens.
      A dificuldade está no meio do processo, onde egocêntricos e iluminados parecem iguais, contudo, no início e no fim são bem diferentes. O que motiva o egocêntrico a querer mudar a sociedade são seus recalques e vaidades, seu objetivo final é satisfazer anseios pessoais, ele não quer dar aos outros um mundo melhor, mas satisfazer interesses egoístas e baixos, o que nasce pequeno será assim até o fim. Mas que fique claro, ainda que homens mal intencionados usem iluminações legítimas para fundarem religiões e explorarem homens, há pureza e legitimidade em muitos iluminados.
      Isso não significa que algo que começou certo fique errado no final, não, o que inicia-se corretamente seguirá eternamente assim. Não foi Jesus quem mudou, foi a igreja católica que usou indevidamente seu nome para fins errados. O que Cristo praticou e ensinou segue mudando a humanidade até hoje, através da ação do Espírito Santo, que abençoa os seres humanos apesar do catolicismo e do protestantismo. Quanta humildade mostra-nos Deus, ainda que sua palavra seja corrompida nas vidas de líderes egocêntricos, convencidos e loucos, ele ama e cura mesmo pelas bocas desses. 
      A palavra de Deus é viva e poderosa, pode ser escrita em folhas de papel reciclado como em películas de ouro, não importa, e ainda que a preguem homens com intenções erradas ela agirá benignamente (Filipenses 1.15-18). É claro que os hipócritas serão punidos por isso, muito mais os que se dizendo homens de Deus escandalizarem os mais fracos na fé, contudo, o que pratica a palavra de Deus permitirá que ela transforme as pessoas silenciosamente. Esses são os realmente iluminados, que entenderam a ação espiritual da palavra de Deus, que glorificam a Deus, não a seus egos. 
      Se em religião a princípio pode ser difícil distinguir as intenções de líderes, na política pode ser mais fácil identificarmos loucos, convencidos e egocêntricos, que querem dominar com prepotência e violência, e não administrar a sociedade para o bem da sociedade. Ainda que inicialmente usem artimanhas para ludibriar eleitores, o tempo revela a verdadeira intenção dos egocêntricos. Um ponto é importante ser analisado nesse estabelecimento de critérios para separar joio de trigo, a sedutora mistura de política com religião, algo tão antigo quanto a história da humanidade.
      Política trata da vida do homem neste mundo, religião trata da existência eterna do ser, tanto aqui quanto na eternidade, teocracia até poderia ter alguma legitimidade nos tempos antigos quando sacerdote tinha até mais poder que monarca. Atualmente, contudo, misturar religião com política pode ser só uma estratégia para dominar mundo material em nome de algo espiritual, o que é uma covardia e uma blasfêmia. Nas sociedades de hoje pessoas têm crenças diferentes, assim é injusto líder político ser também representante religioso e querer impor sua ótica religiosa a todos.
      Líder político deve governar para todos, não só para os de uma religião, se seres humanos com o mínimo de lucidez entendem isso, Deus muitíssimo mais elevado também sabe disso, e dá livre arbítrio aos homens. Com certeza, e estou certo disso, Deus não apoia mistura de religião com política nem tem preferidos, no que se refere a administrações das coisas deste mundo. Levantar-se, principalmente no Brasil, uma nação tão plural, se dizendo enviado de Deus de uma visão religiosa, é coisa de louco egocêntrico, convencido por suas psicoses e por líderes cristãos hereges. 

Leia na postagem de amanhã
a 2ª parte desta reflexão

sexta-feira, junho 16, 2023

Só alguém para odiar?

      “Mas a vós, que isto ouvis, digo: Amai a vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam; bendizei os que vos maldizem, e orai pelos que vos caluniam.” Lucas 6.27-28

      Todos nós já tivemos essa experiência, assim como também a vimos em outras pessoas, o quanto nos enchemos de razão, de palavras, de energia quando sabemos ou vemos alguém cometendo um delito grave, e se for uma injustiça direta contra nós, então, nos achamos com todos os direitos de erguermos a voz, e se não nos controlarmos, até de usar palavras de baixo calão. A crítica sempre revela mais sobre o crítico que sobre o criticado, isso é certo. Mas o que mais nos dá motivos para viver, o que nos enche de forças, o que entrega-nos propósito de vida? É o amor ou é termos alguém para odiar, alguém em quem possamos jogar a culpa por nossos sofrimentos, alguém que vemos como pior que nós e não digno de ser respeitado? 
      Talvez você diga que isso não é sobre você, que você a ninguém odeia, que é um ser humano de bem, um cristão. Mas muitos de nós, e eu me incluo nesses, temos lá no fundo uma revolta muito grande contra algumas pessoas, às vezes especificamente contra uma pessoa. Triste o homem que tem como Sol o ódio, não o amor, Sol negro é esse, não ilumina, só cega e conduz ao erro. Ódio pode ser tão forte que acaba definindo nossa identidade, reforça nossas escolhas, é álibi para que sejamos de um jeito, não de outro, nos dá referência, não do que devemos ser, mas do que não queremos ser. Ainda que isso possa parecer positivo, é idolatria, pois considera referência para a vida o homem, não Jesus, e alguém que se odeia. 
      Avalie-se com honestidade, até que ponto o ódio é mais forte que o amor em você? Até que ponto não pensamos, ainda que sem verbalizar para ninguém, “não sou perfeito, mas não sou tão ruim e fraco como aquela pessoa”, ou, “essa pessoa só me faz mal, quanta injustiça tenho que suportar por causa dela, mas a hora dela vai chegar”? Sob crítica obsessiva mantém-se ódio velado, que instala vingança, ainda que sutil. Se criticamos demais alguém é porque esse alguém nos incomoda, nos incomoda quem achamos que se coloca como melhor que nós, ainda que achemos que não é, assim procuramos defeitos na pessoa para anular o incômodo que ela nos causa, tentando convencer a nós mesmos que somos melhores que ela.
      Muitos vivem para terem alguém para odiar, é o pai, o irmão, o cunhado, o chefe, o patrão, o pastor, o prefeito, o presidente, se não tiverem alguém com quem se revoltarem suas vidas ficam vazias. Eles amam, mas friamente, enquanto que o ódio ferve seus corações, sendo assim também não acreditam no amor dos outros por eles. Contudo, a lição do evangelho é uma só, amai mesmo os que vos odeiam, e muitos nos incomodam por causa de coisas que existem só em nossas cabeças, já que muitos nem fazem ideia que existimos, até convivem conosco, mas não dão a nós a importância que damos a eles, principalmente para nos odiarem. Cuidado, ódio é fácil e forte, pode ser muleta para nossas existências por anos e anos a fio. 
      Assumo que tenho que vigiar sobre isso, mesmo que Deus já tenha curado ódios que levei por anos e que construíram doenças em mim, cura que me fez assumir responsabilidade por meus erros e não achar desculpas nos erros dos outros para continuar errando. Só a humildade nos livra de termos o ódio como deus, e muitos falsos moralistas adoram esse deus, não dando novas oportunidades aos que erraram, condenando vidas inteiras por erros do passado. Só os humildes, que se conhecem e ao amor de Deus, podem amar mesmo ao que lhes é mais odiável. “Vós, que amais ao Senhor, odiai o mal” (Salmos 97.10a), não aos seres humanos, e se eles são maus conosco os entreguemos nas mãos de Deus e fiquemos em paz. 

quinta-feira, junho 15, 2023

Comunhão, não só palavras

      “Porque em tudo vocês foram enriquecidos nele, em toda a palavra e em todo o conhecimento, assim como o testemunho de Cristo tem sido confirmado em vocês, de maneira que não lhes falta nenhum dom, enquanto aguardam a revelação de nosso Senhor Jesus Cristo. Ele também os confirmará até o fim, para que vocês sejam irrepreensíveis no Dia de nosso Senhor Jesus Cristo. Fiel é Deus, pelo qual vocês foram chamados à comunhão de seu Filho Jesus Cristo, nosso Senhor.I Coríntios 1.5-9

      Deus não nos atende só porque pedimos ou só porque agradecemos, mas essencialmente porque estamos em comunhão com ele. Quando oramos, pedindo e agradecendo, nossa vontade de estarmos conectados com ele e de o agradarmos, obedecendo-lhe, nos coloca numa íntima ligação com ele. Nessa comunhão conhecemos sua vontade e temos forças para fazê-la, conexão com Deus é mais que diálogo, palavras em nossas mentes ou verbalizadas pelas nossas bocas, e palavras que lemos na Bíblia ou ouvimos do Espírito Santo. Podemos estar em comunhão íntima com o Senhor mesmo sem pedirmos ou agradecermos, mas também podemos pedir e agradecer sem estarmos conectados com Deus. 
      O mistério a ser entendido aqui é que ligação com um Deus espiritual se faz de maneira espiritual pelo Espírito Santo com o nosso espírito. Palavras ouvidas no plano físico, ou mesmo só pensadas em nossas cabeças, têm um valor secundário, tanto as que pedem quanto as que agradecem. Isso eleva nossa comunhão com Deus ao patamar certo, algo além de liturgias, ritos e religiões. Ainda que seja importante vivenciarmos uma ligação social com o divino, como testemunho e ensino, essa não é mais importante que nossa ligação pessoal, muitas vezes estabelecida na solidão e mesmo em lugares os mais diversos possíveis neste mundo. Na eternidade espiritual nossa ligação será somente espiritual, assim, plena. 
      Procuro repetir esse assunto porque tem bastante relevância para termos períodos de oração realmente satisfatórios e eficientes. Você já deve ter experimentado um tempo de oração onde falou e falou, até chorou, mas no final ainda se sentia sem paz, insatisfeito, parece que tuas palavras não passaram do teto. Isso acontece quando pedimos e agradecemos, mas só com nossas bocas e mentes, não com nossos espíritos no Espírito de Deus. Quem nos move ao Altíssimo é o amor de Deus, disponibilizado por Jesus, através do Espírito Santo, a avenida espiritual que nos liga a Deus. Em Jesus temos perdão, que libera o amor que nos atrai a Deus, tudo pelo Espírito Santo, sem ele não há comunhão com Deus. 
      O texto bíblico inicial é o início de uma epístola de Paulo aos cristãos de Corinto, nessa carta um tema importante são os dons espirituais. Diferente do que muitos que não querem os dons espirituais hoje pensam, procurando mesmo usar os textos dessa carta como álibi para isso, Paulo não proíbe os dons, muito menos o tão útil dom de línguas espirituais estranhas. Paulo dá orientações para organizar o uso dos dons, de modo que esses atinjam o propósito maior de Deus com eles, permitir que os homens conheçam e façam sua vontade. Nossa vocação maior é estarmos em comunhão com Deus por Jesus, a porta para o Altíssimo, essa vocação é desempenhada no Espírito Santo e pelo uso dos dons espirituais. 
      Comunhão com Deus pelo Espírito Santo é um maravilhoso mistério. Muitas vezes Deus pede que falemos, que nos abramos, mesmo que choremos, outras vezes somos levados a adorar a Deus, e quando isso vem pelo Espírito é tão forte e sincero, que achamos não haver palavras para expressarem nossa adoração. Contudo, algumas vezes o Espírito Santo pedirá de nós silêncio profundo, para pararmos de falar, de nos preocuparmos, mesmo de chorarmos, e em serenidade de alma ouvirmos o que Deus tem a nos dizer. Ore sempre, ore mais, seja amigo de Deus, creia em sua existência, em sua santidade e em sua ação por amor, mas acima de tudo, tenha comunhão íntima com Deus, ainda que sem palavras.

quarta-feira, junho 14, 2023

Prazer na justiça de Deus

      “Justo és, ó Senhor, e retos são os teus juízos. Os teus testemunhos que ordenaste são retos e muito fiéis. O meu zelo me consumiu, porque os meus inimigos se esqueceram da tua palavra. A tua palavra é muito pura; portanto, o teu servo a ama. Pequeno sou e desprezado, porém não me esqueço dos teus mandamentos. A tua justiça é uma justiça eterna, e a tua lei é a verdade. Aflição e angústia se apoderam de mim; contudo os teus mandamentos são o meu prazer. A justiça dos teus testemunhos é eterna; dá-me inteligência, e viverei.Salmos 119.137-144

      Este trecho do salmo 119 mostra o sofrimento do justo diante da injustiça dos homens, o justo não convive com a injustiça com indiferença, ainda que cuide de sua vida e não da vida dos outros sente a opressão que existe no universo por causa da injustiça, que muitos fazem e deixam que os outros façam. Isso não significa ser xerife do mundo, querer fazer justiça com as próprias mãos, se achar melhor por ser justo, não, a reação correta à injustiça é calada porque é um efeito espiritual de uma causa espiritual. 
      Não são só os homens no mundo sendo injustos, desobedecendo leis, zombando do que é certo, fazendo outros sofrerem para que usufruam de prazeres egoístas, essa disposição acha empatia em seres espirituais invisíveis do mal, que incitam a injustiça e se comprazem nela. O justo percebe esse clima espiritual pesado e sofre, mas sendo espiritual busca solução para esse desconforto em Deus, o Senhor do universo, tanto do físico quanto do espiritual, Deus pode emanar sua luz mais alta e destruir a ação da injustiça no justo. 
      “O meu zelo me consumiu, porque os meus inimigos se esqueceram da tua palavra”, quem é sensível sente e quem sente sofre, o que aprova o mal ou o despreza não sofre, mas nisso mata sua sensibilidade espiritual e morre por dentro. Não tenhamos inveja do que parece estar inabalável diante do mal, esse pode ser, não um forte, mas um morto, que às vezes se matou porque não teve forças para resistir diante de tanta dor que sentia. Aceitemos uma verdade, viver num mundo injusto dói, refrigério para isso só em Deus.
      “Pequeno sou e desprezado”, ser espiritualmente sensível e sofrer por isso não faz do justo alguém popular no mundo, aprovado, mesmo dentro de igrejas cristãs, mas um marginal, às vezes um pária. Mas nesse caso não devemos sofrer como pecadores e errados, nem com auto-comiseração ou vitimismo, mas como justo que tem ao seu lado Jesus, o justo dos justos. Jesus, que tendo ele mesmo como homem sofrido as maiores injustiças, entende os que sofrem diante da injustiça e os ajuda com carinho especial. 
      “Aflição e angústia se apoderam de mim, contudo os teus mandamentos são o meu prazer”, acharmos em Deus o prazer maior e melhor, eis a única coisa que soluciona a dor de termos os olhos abertos para ver a injustiça, de termos almas sensíveis e vivas, de sermos luz num mundo em trevas. Se não acharmos esse prazer seremos piores que os das trevas, seremos oprimidos por esses, os veremos fazer e acontecer enquanto nós permaneceremos amarrados, ainda que vendo a Deus não conseguiremos testemunhar dele. 
      Achar o prazer maior e melhor e pô-lo em prática implica numa experiência espiritual de duas partes, só a primeira, a sensibilidade viva para o mal, não basta, é preciso que o bem impressione nossas almas, sentimentos e pensamentos, nos eleve e nos liberte. Assim, além de vigiarmos dia a dia para não sermos mortificados pela injustiça do mundo, temos que ter experiências de profunda comunhão com o Altíssimo, pelo mover do Espírito Santo até a porta Jesus que nos dá acesso às regiões espirituais mais altas de Deus. 
      Sempre que buscamos a Deus ele nos fala e ainda que não o busquemos ele nos atrai, nada é desculpa para andarmos sem paz. Se em nós há humilde diligência não existe contingência do impossível fora de nós, o Senhor, de alguma forma, sempre atende ao que depende dele e o consola, de uma maneira tão simples quanto poderosa, de forma que tenhamos forças para seguirmos em paz. O mundo é injusto e o justo sofre com isso, mas esse sofrer aperfeiçoa-o para a eternidade, é propósito dos desígnios de Deus.

terça-feira, junho 13, 2023

Problemas ou oportunidades?

     “No coração dos que maquinam o mal há engano, mas os que aconselham a paz têm alegria. Nenhum agravo sobrevirá ao justo, mas os ímpios ficam cheios de problemas.Provérbios 12.20-21

      Reclamamos de certos problemas, de certas pessoas, de certos esforços, mas será que nossas vidas teriam sentido ou utilidade se tudo isso não existisse? Vivemos para resolver problemas ou será que os problemas existem só para que nós os resolvamos? Será que se os problemas não existissem nós existiríamos, teríamos identidade, mudaríamos o mundo? Problemas realmente existem, são invenções nossas ou são só oportunidades?
      Sei que muitos vão dizer, meus problemas existem, são bem reais, se eu não resolvê-los não sobrevivo, não me alimento, não tenho roupas para vestir nem um lugar para morar, entretanto eu não me refiro a isso. Isso são necessidades, não problemas, são irremediáveis, sempre existirão para quem vive neste mundo, e quem vê essas coisas como problemas pode estar com algum problema emocional, que precisa ser tratado antes de outros problemas.
      Ocorre que justamente na solução dessas coisas inevitáveis é que podemos achar a alegria mais fácil, feliz o homem que tem prazer no trabalho e na convivência diária com colegas de trabalho. Nessa alegria mais simples podemos encontrar forças para não sermos presas de tristezas mais profundas, essas advindas dos verdadeiros problemas existenciais. Alguns problemas mais sérios podem nascer da má administração dos problemas inevitáveis. 
      Outros podem dizer que se não tivessem problemas teriam mais tempo para divertirem-se, descansarem, viajarem, dedicarem-se à arte, à leitura, para cuidarem de si mesmos. Contudo, muitos estão bem financeiramente, têm tempo, e ainda assim não são felizes, são seres estagnados, sem desafios, instalando problemas emocionais e sendo cidadãos inúteis. Ausência de problemas só cria mais problemas, e problemas que para nada servem. 
      Mas existem outros problemas, esses vêm ao mundo conosco, não são gerados pelo meio ou por escolhas ruins, estão latentes dentro de nós durante a infância e início da adolescência e vêm à tona quando adquirimos consciência de nossa existência. Isso normalmente ocorre no início da juventude, mas algumas pessoas, com almas doentes, adquirem essa consciência mais tarde, postergando também a ciência de certos problemas e respectivas soluções. 
      Problemas que vêm “de fábrica” conosco são específicos, cada ser humano tem o seu, são as provações que temos que superar para sermos aquilo que Deus quer que sejamos. Um dos segredos de felicidade na vida é identificar esses problemas e focar neles, obviamente, na escola da vida, só faz curso superior quem é aprovado no fundamental e no médio, assim se não conseguimos nem sobreviver, como venceremos problemas mais profundos? 
      Todavia, pode-se não querer resolver um problema para se achar nele uma conveniente identidade, a de vítima. Há vantagens em estar vítima, nela o agressor é o outro, o problema é causado pelo outro, e a vítima tem o álibi de não ter que resolver o problema porque não foi ela quem o causou. Quando resolvemos o problema que os outros causaram somos confrontados com o problema que causamos, mudamos de personagem, de vítima para agressor.
      Nos encararmos como agressores pode ser muito difícil, assim é melhor seguirmos como vítimas sem resolver o problema, mas também podemos projetar essa disposição equivocada nos outros, muitos gostam de se relacionar com pessoas problemáticas, como amigos, namorados ou até como cônjuges. Será que são almas caridosas querendo ajudar gente com problemas, ou será que só tentam suportar o insuportável para se sentirem especiais? 
      Não há nada de errado em ajudar os outros, como cristãos somos vocacionadas para isso, mas existem limites, principalmente com pessoas que não querem solução, mas só sócios para manterem problemas que lhes dão identidade. Assim, volto às questões iniciais, vivemos para resolver problemas ou são os problemas que existem para os resolvermos? Problemas inevitáveis, problemas ”de fábrica” ou simplesmente oportunidades para sermos úteis?
      Copo pela metade, é meio vazio ou meio cheio? O que vê problemas como oportunidades verá sempre o copo meio cheio, ele não vê barreiras, mas desafios, não vê dificuldades, mas degraus, trabalhando para superar problemas reais, não inventados, e na força sua e de Deus em conjunto. A vida encarnada no mundo é manutenção de uma existência defeituosa, a perfeita só existirá na melhor eternidade de Deus, assim viver é resolver problemas.
      Encarar a vida e seus inerentes problemas assim, só o humilde e temente a Deus consegue, e dessa forma só ele pode achar de fato a felicidade. Os outros, ainda que resolvam grandes problemas, se sentirão injustiçados, achando que fazem o que não era para eles fazerem, serão cobradores e juízes dos mais fracos, não entendem que seus problemas são oportunidades que Deus lhes dá para serem úteis, para crescerem, para serem felizes. 

segunda-feira, junho 12, 2023

Você sabe qual é tua prova?

      “E tudo quanto fizerdes, fazei-o de todo o coração, como ao Senhor, e não aos homens. Sabendo que recebereis do Senhor o galardão da herança, porque a Cristo, o Senhor, servis.Colossenses 3.23-24

      Julgar que uma pessoa está sendo ociosa ou que faz mais que precisa, implica, não em saber se alguém é ou não produtivo e próspero neste mundo, mas em saber por qual prova moral essa pessoa precisa passar para ser aprovada no outro mundo. Entretanto, se muitas vezes não sabemos nem qual é a prova na qual temos que ser aprovados, como podemos saber qual é a prova do outro? Vê as pessoas assim, sob o ponto de vista espiritual, quem já se olhou certo, só se olha certo quem olha diretamente para o Deus Altíssimo, com fé, humildade e santidade.
      Tem gente se esforçando para passar em vestibular de medicina, repetindo e repetindo a prova por anos a fio, quando se fizesse vestibular para matemática passaria com mais facilidade. Mas fazem para medicina porque ser médico dá mais aparência que professor de matemática para os homens. Isso é só um exemplo, usando de metáforas, a prova não está em fazer algo mais difícil ou algo mais fácil, mas em fazer a coisa certa. O maior esforço que temos que executar muitas vezes não é exercendo um trabalho, mas descobrindo que trabalho temos que fazer. 
      Muitos passam a vida fazendo coisas erradas, mas no final, já cansados, quando entendem o que de fato têm que fazer, descobrem felicidade fácil em algo simples, tão leve quanto é o fardo que Jesus nos chama a carregar com ele, e não os pesados fardos que os homens e nós mesmos colocam sobre nós (Mateus 11.29-20). A vitória está na obediência, não no sacrifício, está na virtude interior, não na aparência externa, está em Deus, não no mundo. Você sabe qual é a tua prova? Ore mais a Deus e não pare de buscá-lo até ter certeza qual é, depois submeta-se a ela. 
      A prova de Jesus foi uma morte injusta e cruel, e ele sabia disso desde o início. Podemos até achar que temos que pagar preços no mundo, mas sempre para termos um final feliz, principalmente por acharmos que nossa fé nos dá direito à honra. Não digo que podemos ter a mesma prova de Cristo, ninguém neste mundo está preparado para isso, mas pode ser semelhante, ainda que só um pouco. Pode ser que tenhamos que encerrar nossas jornadas com menos que começamos em termos materiais, para levarmos mais em termos espirituais à eternidade. 
      Muitos trabalham bastante, têm retorno financeiro para uma vida digna, mas ainda assim são infelizes, esses não se satisfazem só com trabalho e dinheiro, querem prestígio no mundo. Para esses a prova pode não ser o trabalho físico em si, nem terem que viver nos limites dos salários que recebem, mas em não dependerem de aprovação humana, aliás, essa é prova que a maioria de nós precisa ter aprovação. Quem busca glória humana não está satisfeito com a glória divina, e essa, independente de dinheiro ou erudição, todos nós podemos experimentar. 
      Se as pessoas buscassem mais que religião, se esforçassem-se além de assistir cultos, cantar louvores e fazer orações rápidas, se de fato se alimentassem espiritualmente com o vivo pão e as vivas águas do Santo Espírito, elas sofreriam menos com as ilusões e injustiças deste mundo. Assim entenderiam em que provas precisam ser aprovadas para construírem o céu dentro delas, e terem a melhor eternidade de Deus, ao invés de se gastarem em tolos e inúteis trabalhos, que precisam ser feitos de um jeito ou outro, mas que são menores que a glória de Deus. 

domingo, junho 11, 2023

Implacável solidão do ser

      “Porque o Senhor consolará a Sião; consolará a todos os seus lugares assolados, e fará o seu deserto como o Éden, e a sua solidão como o jardim do Senhor; gozo e alegria se achará nela, ação de graças, e voz de melodia.Isaías 51.3

      Na vida, solidão se impõe. Os que ainda não sentiram ou ainda não aceitaram isso, aceitem, muitas vezes somos só nós e Deus, mais ninguém. Não adianta nos iludirmos, por mais amigos que tenhamos, por mais estável e correto que seja nosso casamento, apoiarmos nossa paz e nossa segurança em Deus é a única coisa que pode nos manter de pé. Sozinhos viemos, sozinhos sairemos, na eternidade espíritos não tem sexo, nem se casam, ainda que anjos de luz do Altíssimo possam nos ajudar sempre. Graças a Deus que temos o amigo Espírito Santo, sempre nos ouve, sempre nos responde, sempre com uma palavra simples, mas objetiva, exatamente o que precisamos ouvir para sermos consolados em nossas solidões. 
      “Maldito o homem que confia no homem e aparta o seu coração do Senhor” (Jeremias 17.5), sim, essa é uma sábia orientação da Bíblia. Mas calma, não confiar não significa que o outro seja alguém mal, pode só não ser o que realmente precisamos numa determinada situação, nem por não gostar de nós, só por ser limitado. Sentir-se sozinho e confiar em Deus, mas não guardar rancor contra as pessoas, é o jeito que agrada a Deus, e em muitos momentos Deus faz com que muitos corações se fechem para nós só para confiarmos nele da maneira especial que uma situação especial exige. Muitos têm casamentos bons, mas colocam seus cônjuges em posições de deuses, assim exigem de seres humanos favores que só Deus dá.
      Se não formos completos em Deus, não poderemos ser metade de ninguém, e às vezes até menos, dependendo do respeito próprio que tenhamos. Queira, se esforce e viva um casamento duradouro e feliz, mas não coloque todas as fichas, todos os sonhos de realização, numa aliança com seres humanos, não estou incentivando separação, mas relações afetivas mais leves, com Deus à frente. Mesmo o marido mais apaixonado e a mulher mais carinhosa não ajudarão num momento de solidão, que nos faz avaliar nossas vidas, quem fomos, quem somos, quem seremos. Teu marido, às vezes precisa mais de você como amiga, que como amante, e tua mulher pode necessitar às vezes mais de você como confidente, que como marido.
      É interessante como muitos estão em igrejas pedindo casamento, fazem um monte de sacrifício para acharem seus prometidos, quando no fundo querem um deus para adorar ou um brinquedo para controlar. Muitos acham que se casarem-se resolverão todos os seus problemas, enquanto que a realidade é que casamento não resolve problema, aumenta-o. É isso mesmo, viver a dois, numa relação madura onde dois são dois e não duas metades de um, como alguns dizem, dá trabalho. Há maravilhosas compensações, mas os que não forem tementes a Deus e perseverantes não ficarão muito tempo casados. Como as pessoas têm se separado hoje, ou porque querem beijar muitas bocas, e não só uma, ou por não aceitarem a realidade. 
      A verdade é que todos precisamos de um tempo para nos rever, há quanto tempo você não para e se olha no espelho? Separação em uma última instância pode ser a única solução, mas na maioria das vezes precisamos só nos amarmos mais para podermos amar mais os outros, e quem mais precisa de nosso melhor amor são nossos cônjuges. Precisamos ter um tempo só para nós, para pararmos, nos cuidarmos por dentro e por fora, respeitando a solidão implícita em todo ser. Essa solidão não deve ser a carne pedindo prazeres egoístas, mas o espírito sedento de Deus, e eu disse Deus, não igreja, essa às vezes mais atrapalha que ajuda. Não sofra mais que o necessário na solidão, mas use-a a teu favor, para ser alguém mais forte. 

sábado, junho 10, 2023

Tristeza mata aos poucos

      “Compadece-te de mim, Senhor, porque estou angustiado; de tristeza se consomem os meus olhos, a minha alma e o meu corpo. Gasta-se a minha vida na tristeza, e os meus anos, em gemidos; debilita-se a minha força, por causa da minha iniquidade, e os meus ossos se consomem.
      Tornei-me objeto de deboche para todos os meus adversários, de espanto para os meus vizinhos e de horror para os meus conhecidos; os que me veem na rua fogem de mim. Estou esquecido no coração deles, como morto; sou como vaso quebrado. Pois tenho ouvido a murmuração de muitos, terror por todos os lados; conspirando contra mim, tramam tirar-me a vida.
      Quanto a mim, confio em ti, Senhor. Eu disse: "Tu és o meu Deus." Nas tuas mãos estão os meus dias; livra-me das mãos dos meus inimigos e dos meus perseguidores. Faze resplandecer o teu rosto sobre o teu servo; salva-me por tua misericórdia. Não seja eu envergonhado, Senhor, pois te invoquei; envergonhados sejam os perversos, emudecidos na morte.” 
Salmos 31.9-17

      Um dos maiores males que pode acometer-nos é a tristeza, tristeza profunda é doença, a depressão, e essa é danosa tanto para a mente quanto para o corpo. O que nos deixa profundamente tristes? Decepção nos entristece, esperarmos uma atitude, uma palavra, uma atenção das pessoas e essas não darem o que esperamos. Primeiras decepções podem ser justificadas, afinal, acontecem quando ainda não conhecemos certas pessoas, contudo, uma decepção reincidente pode revelar muito mais sobre o decepcionado que sobre o que causa a decepção. Nos mantermos amigos, empregados, membros de igreja, namorados, em alianças que trazem decepções constantes não é saudável, mas são situações das quais podemos sair. 
      Casamento, contudo, é aliança onde deve, ou onde deveria, haver mais responsabilidade. Ainda que passemos anos namorando, conhecendo o companheiro, outros anos de casados mudam as pessoas, assim quem não nos decepcionava no início pode mudar e nos decepcionar depois. Mas nesse caso, amor maduro pode ajudar a adequar as mudanças, de modo que o casamento siga satisfatório e respeitoso a todos. Esposos e esposas nos decepcionam? Sim, assim como nós a eles. O tempo implacável traz à tona o que de fato somos, que pode ter ficado submerso por anos. Decepção em casamento pode nos entristecer bastante, pois sabemos que estamos numa aliança que se quebrada trará sérias consequências a nós e a outros. 
      Nos sentirmos impotentes para resolvermos problemas entristece-nos. Até que ponto devemos lutar? Até nossas últimas forças, isso é o que Deus espera dos que o temem, por isso permite lutas e dores para que sejamos desafiados a sermos melhores, mais santos, humildes e amorosos. Contudo, às vezes temos que parar, pensar e encerrar a luta, não para entregarmos a vitória a quem nos entristece, mas para sairmos de algo que a nada está levando. Mas que fique bem claro, aliança de casados, principalmente com filhos envolvidos, deve ser muito pensada para ser encerrada. Muitos hoje se separam por qualquer coisa, às vezes mais para seguirem solteiros e com liberdades que essa condição lhes permite. Deus sempre honra o fiel. 
      Como em tantas outras questões da vida, tristeza tem mais a ver com nós conosco, que com nós com os outros. Por outro lado, Deus sabe tudo e sempre, assim, o que orar e obedecer, não será presa de relação que no futuro pode decepcioná-lo além do que possa suportar. Aos sessenta e uns anos entendi que se tivesse tido mais paciência, se os outros tivessem tido mais paciência comigo, se tivesse havido perdão, ainda que para situações graves, eu e quem estava comigo teríamos amadurecido mais e depressa, perdido menos tempo e menos dinheiro. Mas quem escolhe certo quando é jovem? Quem sabe dar a volta em situações que o egoísmo o meteu? Sempre parece mais fácil quebrar alianças, que enfrentar decepção. 
      No texto bíblico inicial o salmista descreve em detalhes seu mundo emocional pesado pela tristeza. “Estou angustiado, de tristeza se consomem os meus olhos, a minha alma e o meu corpo, gasta-se a minha vida na tristeza, os meus anos, em gemidos, debilita-se a minha força, meus ossos se consomem”, são fortes as palavras. Tristeza mata aos poucos, o corpo, mas mais, mata a alma com corpo ainda vivo. Tristeza enfraquece nosso sistema imunológico, deixa-nos suscetíveis a doenças, simples resfriado torna-se pneumonia. Mas pior que a tristeza interior, que muitas vezes só nós sabemos, há a humilhação pública, que nos rouba qualquer direito a um sofrimento minimamente digno e a uma sobrevivência mais privada. 
      “Tornei-me objeto de deboche para todos os meus adversários, de espanto para os meus vizinhos e de horror para os meus conhecidos, os que me veem na rua fogem de mim, estou esquecido no coração deles, como morto, sou como vaso quebrado, pois tenho ouvido a murmuração de muitos, conspirando contra mim, tramam tirar-me a vida”. Deus é amor, seu amor só é limitado pela verdade, só a verdade pode curar e permitir que nos movimentemos no amor de Deus para sua luz santa. Humilhações extremas são medidas extremas que Deus toma em uma situação extrema, a dureza persistente de coração. Tristeza sempre é provocada por nós, seja por errarmos, seja por permitirmos que os outros errem insistentemente conosco. 
      Entretanto, ainda que o salmista indigne-se diante de homens maus, que o fazem sofrer, ele não se vitimiza, reconhece sua parte de responsabilidade na situação, “por causa da minha iniquidade”, por isso pode fazer a última parte da oração. “Quanto a mim, confio em ti, Senhor. Eu disse: "Tu és o meu Deus." Nas tuas mãos estão os meus dias; livra-me das mãos dos meus inimigos e dos meus perseguidores. Faze resplandecer o teu rosto sobre o teu servo; salva-me por tua misericórdia. Não seja eu envergonhado, Senhor, pois te invoquei; envergonhados sejam os perversos, emudecidos na morte.” A tristeza pode ser enorme, mas Deus é maior. Olhemos para Deus e ele nos tirará do fundo poço em que a tristeza nos lança. 

sexta-feira, junho 09, 2023

Calai-vos com os que se calam

      “Alegrai-vos com os que se alegram; e chorai com os que choramRomanos 12.15

      Já refletimos aqui na passagem bíblica acima, mas desta vez gostaria de pensar nela de uma forma mais abrangente, que vai além da empatia que nosso amor cristão precisa ter com todos. Se a alegria de alguns e a tristeza de outros podem ser compartilhadas com pessoas generosas e amigas, que são empáticas com os sofrimentos alheios e não sentem inveja da alegria dos outros, outras disposições também podem pedir igual reação para que amor verdadeiro, não rancor, seja exercido. Calai-vos com os que se calam! Isso é respeitar, não sentimentos extremos e opostos que gritam por atenção, mas o direito que discretamente alguns pedem por silêncio e certo distanciamento, mas repito, é útil se feito por amor, não por rancor. 
      Alguns choram e não querem que você chore com eles, são tímidos demais para compartilharem fraquezas, para serem vistos fragilizados. Outros se alegram e não expressam isso facilmente, são reservados, não mostram a qualquer um aquilo que lhes faz felizes. Isso também é o orgulho protegendo algo importante para o orgulhoso, orgulhoso é sempre medroso. Algumas pessoas parecem simples, mas no fundo são complexas, nos mostram só a superfície, escondem com fortes mecanismos de defesa suas dores e suas alegrias mais fortes. Ainda que tenham muitos amigos e admiradores, porque não são egoístas, nunca levam o jogo para que seja sobre elas, pode não ser fácil ter acesso ao amor maior de gente reservada.
      Apaixonar-se por pessoa reservada não é fácil. Por orgulho, por timidez, por medo ou por insegurança, pessoa assim se esconde e se sentir-se ferida, não reagirá, se fechará mais, ainda que mantendo calma no rosto. Mas se apaixonar por gente que fala demais também não é fácil, contudo, pessoas extrovertidas, com temperamento oposto ao das reservadas, que dizem com facilidade o que pensam, podem atrair as reservadas. Opostos se complementam, entretanto haverá necessidade de amor paciente de ambos os lados para que a relação seja feliz. O reservado deve confiar no extrovertido e se abrir, mas o extrovertido deve ter cuidado com o que diz, e estar pronto para ouvir mesmo o que não é dito, não por palavras audíveis
      Se houver maturidade, relação afetiva entre opostos será satisfatória e eficiente, como aliança um terá uma capacidade que o outro não tem, o outro um entendimento que o primeiro não possui. Mas achar equilíbrio entre dois extremos não é fácil. Minha experiência como o lado falante é ter muito cuidado com o que digo, e principalmente, aprender a ouvir, contudo, se for necessário calar-me diante de alguém que se cala. Palavras dizem muito, mas o silêncio pode dizer mais, palavras externas só surtem efeito quando palavras internas foram ouvidas antes. Muitos não precisam ouvir, só de tempo para se ouvirem, ninguém convence ninguém, pode ajudar, mas não mudar, as palavras que nos transformam estão dentro de nós. 
      Há outro tipo de pessoa, que muitas vezes necessita de nosso silêncio, não são pessoas ligadas a nós em relações mais íntimas, como em namoro e casamento. Depois de nossa aliança com o Senhor, que é eterna, nossa aliança de casamento é a que mais deve ser duradoura, e o ideal seria durar enquanto estivermos neste mundo, contudo, outras alianças não precisam ser duradouras. Nessas não são compartilhadas tanta proximidade, tanto tempo, outras vidas, como filhos, assim, com certas pessoas, apesar de termos responsabilidade de amor como cristãos e de respeito como seres humanos, não temos responsabilidade de amizade. A muitos podemos amar, todos devemos respeitar, mas só será nosso amigo quem de fato desejar. 
      Realidade que muitos conhecem, a de parentes próximos, dos quais não conseguimos ser amigos, muitas vezes até irmãos de sangue. Temos que amá-los, orar por eles, tratá-los com o respeito que todo ser humano merece, mas por aquilo que eles mesmos permitem não devemos sofrer se não forem nossos amigos. Essas são relações que muitas vezes só podem existir se nos calarmos e nos distanciarmos, caso contrário não teremos disposição nem para irmos a festas e reuniões de pessoas que gostamos muito, e que esses parentes também gostam e frequentam. Calemo-nos com os que se calam, empatia sem rancor, sem o mais sutil desejo de vingança, só para não perdermos a paz com quem não nos quer assim tão próximos. 

quinta-feira, junho 08, 2023

O dia do Senhor será contra o soberbo

      “Porque o dia do Senhor dos Exércitos será contra todo o soberbo e altivo, e contra todo o que se exalta, para que seja abatido, e contra todos os cedros do Líbano, altos e sublimes; e contra todos os carvalhos de Basã; e contra todos os montes altos, e contra todos os outeiros elevados; e contra toda a torre alta, e contra todo o muro fortificado; e contra todos os navios de Társis, e contra todas as pinturas desejáveis. E a arrogância do homem será humilhada, e a sua altivez se abaterá, e só o Senhor será exaltado naquele dia. E todos os ídolos desaparecerão totalmente.Isaías 2.12-18

      Não é fácil sermos humildes, mantermo-nos humildes é o trabalho mais difícil de se fazer, somos tentados o tempo todo pela arrogância, que flerta conosco tentando nos seduzir. Exaltar-se é achar que só oprimindo os outros pode-se ser feliz, ainda que seja uma opressão educada. Que valor usamos em jogo de poder para tentarmos nos exaltar sobre as pessoas? É o fato de sermos mais ricos materialmente, mais estudados e mais cultos, mais morais e religiosos, mais espirituais? Que poder as nações usam para prevalecerem no mundo, mesmo para que justifique invadirem outras nações? 
      O Líbano era rico por seus cedros, Basã por seus carvalhos, essas nações tinham riquezas naturais diferenciadas no passado. Outros se achavam melhores religiosos porque faziam sacrifícios em montes mais altos, como tantos que celebram missas e cultos em catedrais e templos antigos e luxuosos hoje. Outros tinham poder de defesa porque possuíam cidades fortificadas e muradas, com altas torres de vigia, como nações atualmente com frotas navais e aéreas, grande quantidade de armas, ogivas atômicas, vastos exércitos. Todo poder em que se confia, mais que em Deus, torna-se ídolo. 
      O profeta Isaías diz que a arrogância do homem será humilhada, só o Senhor será exaltado naquele dia. Quando será esse dia? Acontecerá em tempos diferentes, para pessoas diferentes e para propósitos diferentes de Deus. Em primeiro lugar Deus nos trata como indivíduos, no mundo Deus pode nos quebrar para que nos separemos da arrogância e nos casemos com ele. Esse quebrantamento é constante, interior e discreto para o humilde, mas pode ser extremo, exterior e público para o que insiste na altivez. Quem anda humilde nunca é humilhado, quem permanece de joelhos não é derrubado. 
      Mas todos serão quebrados na eternidade, quando a luz de Deus confrontar as pessoas, isso é o que podemos chamar de juízo. Quantidade de inferno está diretamente relacionada à quantidade de orgulho, e muitos estão orgulhosos mesmo como religiosos fiéis. O humilde tem certezas, mas em Deus e para Deus, não para se prevalecer sobre os outros, assim olha todos com paciência e misericórdia, não julgando nada. Quantidade de inferno está diretamente relacionada à quantidade de julgamento, de pré-conceitos, de certezas que arrogamos ter ou usar sem terem sido dadas e aprovadas por Deus. 
      Contudo, existirá um juízo cósmico, a Bíblia fala sobre ele, ainda que sob compreensões de homens antigos. Para esses homens, vulcões, tsunâmis, queda de meteoros, tempestades, furacões, não eram eventos explicados ou previsíveis, eram interpretados como ações poderosas de Deus para quebrar a arrogância dos inimigos. Mas haverá um quebrantamento planetário, digamos assim, sobre toda a matéria, contudo, esse demorará ainda um bom tempo para ocorrer, talvez nem devamos nos preocupar com ele. A nós importa mais um andar humilde hoje, para não termos surpresas depois. 
      Vigiemos, arrogância, mesmo a mais discreta e não verbalizada, é porta para outros males, discussões inúteis, ira, que nos conduzem para o modo inverso ao do servo amoroso. Vigiemos em primeiro lugar dentro de nós, em nossos pensamentos e sentimentos, não sejamos presunçosos, cobradores e condenadores. O altivo cega-se, assim não sabe por onde anda, perde direito à luz de Deus, e pode cair em armadilha sem saber. Humildade é ter os olhos espirituais sempre abertos, vendo em primeiro lugar Deus, o Altíssimo, depois a si mesmo como um igual aos outros, não como superior.