sábado, maio 30, 2020

Reavaliemos nossas crenças (Conclusão) (30/30)

30. Reavaliemos nossas crenças (Conclusão)

      “Examinai tudo. Retende o bem.” I Tessalonicenses 5.21

      Serei bem sincero nesta reflexão, se você chegou até aqui e leu todo o estudo “Reavaliemos nossas crenças”, você não merece menos que a minha verdade. Eu sei que toquei em pontos bem polêmicos neste estudo, evolucionismo e não criacionismo, homoafetividade não é condenada por Deus, comunicação com mortos é possível, a Bíblia contém a palavra de Deus e muita coisa nela registrada é mitologia hebréia, não verdade histórica ao pé da letra, não tenho dúvida que a grande maioria de cristãos não concordará com os pontos de vista do “Como o ar que respiro”, e muitos talvez não voltem mais ao blog depois de ler o estudo.
      Nasci em 1959, me converti ao evangelho em 1976, aos dezesseis anos, me batizei numa igreja batista (CBB), fui para o seminário teológico em 1978, junto da faculdade de análise de sistemas na PUCC, trabalhei em igrejas na área musical por muitos anos, mas também atuei como músico profissional, dono de estúdio, de escola de música e entre 2006 e 2009 trabalhei na Roland Brasil como suporte técnico de todas as linhas de produtos. Atualmente promovo musical apps para iOS (iPad e iPhone), o futuro dos instrumentos musicais, para isso tenho um blog, o “Músicos que usam iPad”, um grupo no Facebook, com o mesmo nome, e um canal no Youtube, com videos de demonstração e tutoriais de apps e teclados. 
      Esse é o resumo de minha biografia autorizada, com as melhores partes, no meio de tudo isso houve muitas lutas e buscas, erros e acertos, mas sempre em meu coração o desejo de agradar a Deus e de ter uma vida coerente, uma vida só, não duas com uma falsa para mostrar aos outros e outra derrotada para esconder. Quando entendi que o que Deus mais quer de mim é coerência, pode chamar isso de verdade pessoal, eu comecei de fato a viver, não para os homens, mas para Deus. Esse entendimento, contudo, não aconteceu depressa, e durante o tempo que demorei para tê-lo foi o tempo em que mais machuquei as pessoas, muitas até hoje não me perdoam por muitas coisas, mas Jesus morreu por mim na cruz por isso.
      Mas para que eu estou compartilhando com você minha vida? Bem, para dizer que algo que eu nunca busco no cristianismo é religião, isso nunca me bastou, e teria sido bem mais conveniente para mim, socialmente, em termos de ministério, de status religioso, se religião bastasse, principalmente trabalhando eu com música, ferramenta tão útil para pastores que querem manter igrejas cheias. Mas eu tentei, praticar o que me ensinavam, mas isso não me dava paz nem libertação, nesse ponto você é que decide, se eu desisti porque sou fraco e incrédulo, por isso me desviei, ou se desisti porque reavaliei minhas crenças e entendi que algo estava errado com elas, bem, cheguei ao assunto do estudo que estou concluindo agora.
      Um dos meus versículos bíblicos favoritos diz, “pelos frutos vos reconhecereis”, se você me acompanha aqui no blog sabe que desde maio de 2011 compartilho reflexões diárias (pelo menos até fevereiro de 2020 foram diárias), assim de duas uma, ou sou um escritor de ficção bem criativo ou de fato tenho tido experiências com Deus que me inspiram a escrever aqui no blog, e creia, o que compartilho aqui é prática de vida, não é teoria ou fantasia. As reavaliações que fiz neste estudo não são frutos de alguém que se afastou de Deus, é bem o contrário, tenho me aproximado mais e mais de Deus a cada dia, em oração, em consagração, e tenho muitos frutos disso em minha vida e na de minha esposa e minhas filhas.
      Se me desviei foi da religião, da tradição humana, da igreja cristã que já deixou bem claro que não tem vivido, não em sua maioria, uma vida agradável a Deus, ainda que templos estejam cheios, que novos ministérios apareçam a cada dia, em cada esquina das cidades, tornando o cristianismo tão popular quanto ineficiente, eficiente só para criar novos religiosos, cegos guiando cegos. Não, não compartilhei aqui todas as reavaliações que o Espírito Santo tem me levado a fazer sobre as crenças das igrejas protestantes e evangélicas, foram são as mais óbvias, vocês ainda não estão preparados para isso, talvez nunca estejam, não nesta vida, talvez sejam coisas só para mim saber, talvez. 
      Contudo, um conselho, aproximem-se mais de Deus, com todo o coração e não dependam de pastores e religião, mesmo que igrejas cristãs ainda sejam os melhores lugares para compartilharmos Jesus com o mundo. Mas “não deis aos cães as coisas santas, nem deiteis aos porcos as vossas pérolas, não aconteça que as pisem com os pés e, voltando-se, vos despedacem”, antes, “pedi e dar-se-vos-á, buscai e encontrareis, batei e abrir-se-vos-á, porque, aquele que pede, recebe, e, o que busca, encontra, e, ao que bate, abrir-se-lhe-á” (Mateus 7.6-8). Sabe quem quer saber, ainda que quem não saiba Deus ame e abençoe do mesmo jeito, afinal, Deus nunca precisa ser reavaliado. 

Esta é a 30ª de 30 partes do estudo
“Reavaliemos nossas crenças”,
se possível leia todo o estudo
para ter o entendimento correto
do “Como o ar que respiro”
sobre o assunto, obrigado.

José Osório de Souza, 13/04/2020

sexta-feira, maio 29, 2020

Reavaliemos Jesus reavaliou! (29/30)

29. Jesus reavaliou todas as religiões

      “Raça de víboras, como podeis vós dizer boas coisas, sendo maus? Pois do que há em abundância no coração, disso fala a boca. O homem bom tira boas coisas do bom tesouro do seu coração, e o homem mau do mau tesouro tira coisas más. Mas eu vos digo que de toda a palavra ociosa que os homens disserem hão de dar conta no dia do juízo. Porque por tuas palavras serás justificado, e por tuas palavras serás condenado.” Mateus 12.34-37

       Em Mateus 12 Jesus confronta a hipocrisia dos religiosos judeus, como eles podiam dizer que falavam coisas boas quando possuíam corações maus? Jesus não se deixou enganar pelas palavras, ele conhecia os corações. Mas ainda que as palavras sejam boas elas não são desconsideradas pelo juízo de Deus, caso sejam falsas. Não basta parecer, tem que ser, não basta falar, tem que viver. Muitas igrejas e pastores atuais teimam em afirmar que pregam o evangelho, que possuem autoridade legítima para isso, mas como podem pregar o bem se possuem corações maus, que agem com preconceito, superficialidade, imaturidade espiritual? Cuidado, seria melhor a esses nem pregar o evangelho, ou só pregar aquilo que de fato vivem. O correto, contudo, seria que eles reavaliassem suas crenças à luz do Espírito Santo.
      Jesus, encarnado como homem, era um questionador, por isso era odiado, avaliou a religião de seu povo, por isso foi perseguido, mostrou sem medo, ainda que com sabedoria, a incoerência, a hipocrisia, a ineficiência das crenças de judeus, gregos e romanos, por isso foi morto. A encarnação de Jesus foi uma reavaliação de todas as religiões feita por Deus. Não podemos ser como Jesus, mas fomos chamados para segui-lo, temos o Espírito Santo que continua em nós a obra do Cristo homem, agora na autoridade do Cristo Deus, temos por isso direito à comunhão com Deus, mas também responsabilidades sobre deveres. O principal dever que temos é o de suportar as perseguições em paz, se alguém não quer perseguição que se acomode às crenças dos outros, esses, contudo, nunca terão paz verdadeira. 
      Jesus não tinha um lugar fixo, confortável, oficial, para receber donativos que sustentassem sua obra, ele ensinava onde dava, nas montanhas, nas praias, nos campos, em barcos, nas casas de amigos. Jesus sabia que para poder reavaliar as interpretações humanas sobre religião precisava ser livre, de tudo e de todos, isso lhe dava autoridade para pregar a verdade, ele não tinha “rabo preso com ninguém” (desculpem-me o termo). Quanto falamos, ouvimos, pregamos e cantamos que somos cristãos, que seguimos a Jesus, que somos diferentes do mundo, que acreditamos na religião verdadeira e que as outras são mentiras, mas na realidade tudo o que queremos é uma tradição religiosa que nos proteja de remorsos, do nosso passado, do diabo, e de tantas coisas que por não podermos ter ou ser, demonizamos.
      Isso nos leva a aceitar tradições sem questionar, a respeitar igrejas e pastores, calados e temerosos, faço uma pergunta, se Jesus se encarnasse hoje, de que igreja, de que denominação cristã faria parte? Da Congregação Cristã? Da Assembleia de Deus? Da Universal? Da Renascer? Da Lagoinha? Da Presbiteriana? Da Batista? Da Católica? Ou de uma desconhecida, essas pequenas e pobres e com poucos membros? Quer a verdade? De nenhuma e de todas, mas não por ser essa melhor que aquela (nem pior), por ter uma doutrina mais próxima aos seus verdadeiros ensinos, por ser mais pura e menos herética, não por nada disso. A Igreja de Jesus, a genuína, na verdade é o coração do homem que o busca com sinceridade e em verdade, a esse ele se apresenta, vive nele e lhe mostra o caminho (João 14.20-23).
      Na verdade, Deus não está nem aí com igrejas e religiões. Para entender isso temos que perguntar a ele, não a pastores, padres, teólogos, e muito menos a mim, enquanto isso Deus continua nos abençoando, do jeito que estamos, onde estamos, indiferente do nosso nível de fé e de intimidade com ele. Se achamos que só o agradamos vestidos de ternos, os homens, e de saias e com longos cabelos, as mulheres, Jesus assim nos salva. Se acharmos que só o agradamos conhecendo a Bíblia com profundidade teológica, ele nos salva assim. Se acharmos que só o agradamos falando em línguas espirituais estranhas e experimentando vários dons espirituais, ele nos salva dessa maneira. Mas não se iluda, se acharmos que podemos confiar em santos e em Maria, ele também pode nos salvar, não se engane quanto a isso.
      Mas isso é o ideal de Deus? Não. A pergunta é: até quando viveremos na exceção de Deus, por sua misericórdia, fazendo muito menos que podemos para experimentar muito menos que Deus pode nos dar? Isso não depende de Deus, mas de nós. Uma qualidade de Deus que provamos muito mais que percebemos é a educação, ele não se mostra a quem não o quer, e se mostra em parte a quem o quer em parte. Ocorre que muitos que só o desejam em parte e o buscam em parte, querem exigir que Deus dê a eles o que recebem os que buscam de forma mais completa. Contudo, o mistério é que no plano espiritual as coisas acontecem de forma inversa, é o próprio evangelho que diz que só nascemos quando morremos, que é dando que se recebe, que os últimos serão os primeiros, e os primeiros serão os últimos.
      Quanto mais se busca a Deus, quanto mais intimidade se tem com ele, menos se exigi, pelo menos no que se refere ao plano físico. Os que querem mais de Deus querem o conhecimento das verdades espirituais para serem mais espirituais. Só entenderemos de fato a vida plena e eterna que Deus quer nos dar em Jesus, quando reavaliarmos nossas crenças. Fazer as mesmas coisas só nos levarão aos mesmos lugares, assim, se já entendemos que não fomos muito longe agindo como agimos, então é sinal que temos que fazer coisas diferentes, reavaliar nossas crenças em muitos aspectos, em várias áreas de nossas vidas. Não nos enganemos, o grande número de denominamos cristãos no mundo não reflete uma presença atuante de Cristo na realidade, e isso acontece porque a grande maioria é só religiosa, não de fato seguidora de Cristo. 

Esta é a 29ª de 30 partes do estudo
“Reavaliemos nossas crenças”,
se possível leia todo o estudo
para ter o entendimento correto
do “Como o ar que respiro”
sobre o assunto, obrigado.

José Osório de Souza, 13/04/2020

quinta-feira, maio 28, 2020

Reavaliemos Sofrimento Humano (28/30)

28. Sofrimento humano

      “E à mulher disse: Multiplicarei grandemente a tua dor, e a tua conceição; com dor darás à luz filhos; e o teu desejo será para o teu marido, e ele te dominará. E a Adão disse: Porquanto deste ouvidos à voz de tua mulher, e comeste da árvore de que te ordenei, dizendo: Não comerás dela, maldita é a terra por causa de ti; com dor comerás dela todos os dias da tua vida. Espinhos, e cardos também, te produzirá; e comerás a erva do campo. No suor do teu rosto comerás o teu pão, até que te tornes à terra; porque dela foste tomado; porquanto és pó e em pó te tornarás. E chamou Adão o nome de sua mulher Eva; porquanto era a mãe de todos os viventes. E fez o Senhor Deus a Adão e à sua mulher túnicas de peles, e os vestiu. Então disse o Senhor Deus: Eis que o homem é como um de nós, sabendo o bem e o mal; ora, para que não estenda a sua mão, e tome também da árvore da vida, e coma e viva eternamente, O Senhor Deus, pois, o lançou fora do jardim do Éden, para lavrar a terra de que fora tomado. E havendo lançado fora o homem, pós querubins ao oriente do jardim do Éden, e uma espada inflamada que andava ao redor, para guardar o caminho da árvore da vida.” Gênesis 3.16-24

      “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele. Quem crê nele não é condenado; mas quem não crê já está condenado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus.” João 3.16-18

      “E vi um novo céu, e uma nova terra. Porque já o primeiro céu e a primeira terra passaram, e o mar já não existe. E eu, João, vi a santa cidade, a nova Jerusalém, que de Deus descia do céu, adereçada como uma esposa ataviada para o seu marido. E ouvi uma grande voz do céu, que dizia: Eis aqui o tabernáculo de Deus com os homens, pois com eles habitará, e eles serão o seu povo, e o mesmo Deus estará com eles, e será o seu Deus. E Deus limpará de seus olhos toda a lágrima; e não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor; porque já as primeiras coisas são passadas. E o que estava assentado sobre o trono disse: Eis que faço novas todas as coisas. E disse-me: Escreve; porque estas palavras são verdadeiras e fiéis. E disse-me mais: Está cumprido. Eu sou o Alfa e o Omega, o princípio e o fim. A quem quer que tiver sede, de graça lhe darei da fonte da água da vida. Quem vencer, herdará todas as coisas; e eu serei seu Deus, e ele será meu filho. Mas, quanto aos tímidos, e aos incrédulos, e aos abomináveis, e aos homicidas, e aos fornicadores, e aos feiticeiros, e aos idólatras e a todos os mentirosos, a sua parte será no lago que arde com fogo e enxofre; o que é a segunda morte.Apocalipse 21.1-8

      No meio a essa crise mundial de saúde, com o Corona vírus e a Covid 19, vi uma entrevista na TV, de um homem, com um bebê no colo, desses que moram com mais “seis” pessoas numa casa de um cômodo numa favela, ao lado de um rio imundo, sem saneamento ou qualquer infraestrutura básica de sobrevivência. O homem dizia ao entrevistador, “sou diabético, sou do grupo de risco, mas estou tomando cuidado, não saio de casa e limpo minhas mãos com álcool em gel o tempo todo”, eu pergunto, que proteção álcool em gel pode dar para esse homem, que parece querer fazer a sua parte e seguir as orientações de médicos? 
      Quanto sofrimento, isso me cortou o coração e me levou a pensar, que culpa tem esse cara de ter nascido no meio social que nasceu, pobre, sem o mínimo de condições para ter uma vida minimamente digna? Ele sofre porque está em pecado, a culpa é dele? Essa explicação que muitos evangélicos dão é a mais correta? Verdadeiramente precisamos reavaliar nossas crenças, principalmente sobre salvos e perdidos, sobre quem são e porque são protegidos por Deus ou abandonados no sofrimento, precisamos entender de fato porque o mundo funciona como funciona e porque tanta gente sofre, aparentemente, sem ter feito nada de errado para isso nessa vida. 
      Os três textos iniciais resumem a história da humanidade, o início e o pecado original, causa de todo sofrimento humano, o meio e a obra redentora de Cristo, que restaura os direitos espirituais do homem com Deus, e o final e os novos céus e a nova terra, numa eternidade junto do melhor de Deus onde habitarão os salvos em Cristo. Isso representa a teologia tradicional protestante, isso deve bastar aos cristãos para explicar sofrimento e livramento do sofrimento para todos os seres humanos de todos os tempos e lugares. Bem, eu poderia encerrar a reflexão aqui, e para a maioria de cristãos, pelo menos na teoria, isso é o suficiente.
      Muitos, querendo diminuir o sofrimento, dizem que ele é relativo, para um ter só um carro é sofrimento, enquanto que para outro, não ter nem uma motocicleta é sofrimento, que para alguns não poder comer carne de primeira é sofrimento, enquanto que para muitos não comer nada é sofrimento, sim, esse relativismo é real, pode ser usado como argumento para explicar que cada um recebe o frio conforme o cobertor, e que ninguém sofre mais que ninguém. Mas porque um teve direito de nascer num lar onde se pode adquirir um automóvel e outro a obrigação de nascer num lugar onde não se tem nem comida para comer todos os dias? 
      Isso não importa? São questionamentos que não devemos fazer? Temos que aceitar certas coisas como são? Explicações simplistas consolam os que não querem pensar muito por acharem que se pensarem poderão ter suas zonas de conforto abaladas, poderão trincar bases de convicções, que boas ou não, sustentaram suas existências até então. Mas mais que isso, poderão distancia-los do “Deus” que creem, e que acham que se não crerem, do jeito que creem, lhes dará vidas ruins neste mundo e eternidades terríveis. Reavaliar o que pensamos sobre sofrimento talvez seja o tema mais sensível dessa série de reflexões.
      A verdade é que muitos elegem essa ou aquela crença por medo, e, egoisticamente, para se livrarem de seus medos pessoais, não se importam de condenar os outros aos piores medos possíveis. Será que não é fácil demais, resolver a questão do sofrimento humano simplesmente com a explicação de que desde que Adão e Eva pecaram no Éden a vida é sofrimento, e como cristãos temos que aceitar isso? Essa é a verdade ou é a verdade que Moisés conseguia entender da verdade que foi passada a seu povo de geração para geração, e que dava a eles algum consolo moral? Isso também pode ter sido uma escolha conveniente, que consola alguns, ainda que deixem no sofrimento a outros.
      Eu não tenho uma conclusão para esta reflexão, não uma que esteja preparado para compartilhar aqui, ainda a guardarei em meu coração, mas eu gostaria que você que lê pensasse sobre uma coisa. Não me refiro aqui a qualquer sofrimento, àquele que nós, pessoas de classe média passam, que são legítimos, às vezes bem difíceis, mas não terríveis, não letais. Penso em crianças em zonas de guerra, em mulheres sendo sequestradas para “servirem” a terroristas, em inocentes, e creia, existem, sim, inocentes que sofrem injustamente. Quem ora para que esses sejam livrados do sofrimento? Se são inocentes bastaria a oração de um justificado em Cristo para que Deus respondesse e agisse. Mas isso acontece? 
      Quem ajuda esses inocentes que sofrem? Bem, deveria ser nós, que temos alguma condição financeira e entendimento moral e religioso de caridade. Mas isso é feito? Não, não é feito, o sofrimento no mundo é grande e continua existindo enquanto nós nos vestimos e vamos a cultos cantar louvores. Sou levado a crer que a existência vai além do que entendemos como evangélicos e protestantes, que existem causas que levam muitos a sofrer que vão além do que vemos nesse mundo, e que a eternidade é mais que branco e preto, sem matizes de graduações de outras cores. Ainda creio num Deus justo e na salvação única de Cristo, mas parece que para muitos, em uma vida neste plano, isso não basta...

Esta é a 28ª de 30 partes do estudo
“Reavaliemos nossas crenças”,
se possível leia todo o estudo
para ter o entendimento correto
do “Como o ar que respiro”
sobre o assunto, obrigado.

José Osório de Souza, 13/04/2020

quarta-feira, maio 27, 2020

Reavaliemos Sabedoria (parte 2) (27/30)

27. Sabedoria (parte 2)

      Segue a segunda parte da reflexão sobre sabedoria, o valor do estudo, da formação acadêmica, do conhecimento científico e da intelectualidade, na vida não só do homem em geral, mas também do cristão.

      “Ninguém se engane a si mesmo. Se alguém dentre vós se tem por sábio neste mundo, faça-se louco para ser sábio. Porque a sabedoria deste mundo é loucura diante de Deus; pois está escrito: Ele apanha os sábios na sua própria astúcia. E outra vez: O Senhor conhece os pensamentos dos sábios, que são vãos.” (I Coríntios 3.18-20). 

      “Ouvi, meus amados irmãos: Porventura não escolheu Deus aos pobres deste mundo para serem ricos na fé, e herdeiros do reino que prometeu aos que o amam?” (Tiago 2.5). 

      Uma das diferenças importantes do novo testamento é que ele alia valor espiritual ao desprendimento de valores materiais feito por pessoas comuns, diferente do antigo testamento que alia proteção divina à prosperidade material de patriarcas e reis. O antigo testamento são crônicas das vidas de homens poderosos, o novo é a história da morte de um simples homem. Pensamos sobre isso na reflexão “Israel”, neste estudo “Reavaliemos nossas crenças”, mas a verdade é que esse desprendimento não significa pobreza ou falta de estudo. Os textos iniciais, todavia, exortam sobre o erro que se comete quando se acha que só porque se tem sabedoria ou riqueza se tem superioridade social, pode até ser neste mundo, mas não é assim no outro. 
      Os pregadores que demonizam intelectuais, filósofos e ricos, acham em textos neo-testamentários álibis para pregarem o que pregam, e sim, a Bíblia diz isso, contudo, eis aí outro ensino que temos que reavaliar, para entender a sua essência, não interpreta-lo ao pé da letra de maneira preguiçosa, o que pode conduzir a preconceitos e a fazer acepção de pessoas, “E, se invocais por Pai aquele que, sem acepção de pessoas, julga segundo a obra de cada um, andai em temor, durante o tempo da vossa peregrinação“ (I Pedro 1.17). Deus não faz distinção pelo exterior ou mesmo pela intelectualidade, mas julga a prática daquilo que de fato está no coração, veja que o texto diz “julga segundo a obra”, e não só segundo a intenção.
      Voltando a I Reis 3.11-13, “E disse-lhe Deus: Porquanto pediste isso, e não pediste para ti muitos dias, nem pediste para ti riquezas, nem pediste a vida de teus inimigos; mas pediste para ti entendimento, para discernires o que é justo; Eis que fiz segundo as tuas palavras; eis que te dei um coração tão sábio e entendido, que antes de ti igual não houve, e depois de ti igual não se levantará. E também até o que não pediste te dei, assim riquezas como glória; de modo que não haverá um igual entre os reis, por todos os teus dias.”, interessante que Deus deu a Salomão riquezas justamente porque ele não as pediu, antes pediu sabedoria, assim entendemos que o sábio naturalmente alcança prosperidade material, porque não tem o coração nela.
      Se em Cristo somos novas criaturas, se somos salvos e libertos do velho homem, que ainda que lute com o novo homem pode ser vencido por quem tem o selo do Espírito Santo em seu interior, se iluminados pelo nome de Jesus temos acesso ao Deus altíssimo, às suas virtudes, às suas prioridades, nós também não precisamos temer a tentação da arrogância que pode haver no conhecimento intelectual. Ao contrário, os novos nascidos em Cristo são os mais aptos espiritualmente para amadurecerem intelectualmente, para se aproximarem do Adão original sem pecado, “Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo.“ (II Coríntios 5.17)
      O que vemos em muitas igrejas atuais, contudo, é o oposto, gente achando que por ser crente, não precisa estudar tanto, basta crer, e pior, os mais estudados chegam mesmo a sofrer olhares desconfiados quando se convertem, não são valorizados pela formação intelectual que possuem. Não, isso não é atitude de todos os cristãos, mas é a de muitos, mas, sim, intelectualidade é demonizada, começando de muitos púlpitos. Contudo, como seria agradável a Deus ver pastores focando menos em fé para dar dízimo, em falsa moralidade para jovens serem diferentes externamente, mas incentivando ovelhas a estudarem mais, fazerem boas faculdades, terem empregos melhores, serem cidadãos mais civilizados. 
      Sim, muitos pregam esse texto, “e o Senhor te porá por cabeça, e não por cauda; e só estarás em cima, e não debaixo, se obedeceres aos mandamentos do Senhor teu Deus, que hoje te ordeno, para os guardar e cumprir“ (Deuteronômio 28.13), contudo, querem o efeito e desprezam a causa, e a causa não é só religiosidade, assiduidade em cultos, fé, mas é trabalho no mundo, nas escolas, nas universidades, nas empresas. Uma igreja que se acha cheia de fé, de adoração, de unção, está fadada a ser cauda, não cabeça, porque se nega a fazer a sua parte, uma parte que nem a maior fé do mundo poderá fazer, uma parte que Deus não fará por ela, que é crescer não só no espírito, mas na mente. 
      Não, intelectualidade não é pecado, e não basta fazer qualquer faculdade, tem que se preparar para fazer a melhor, isso é urgência num mundo onde a vida fica cada vez mais difícil, mais competitiva. Com bom estudo poderemos escolher e não sermos escolhidos, ter um emprego melhor que nos dará condição de abençoar mais a sociedade, não só com dinheiro, mas com informação. Evangélicos, criemos melhor nossos filhos, com amor e proximidade, mas também incentivando o estudo e investindo em boas escolas, se o mundo se perde em vaidades querendo só roupas e carros caros, nós temos o dever de escolher melhor, usar nossas rendas para dar aos jovens bons estudos, isso é andar na luz, é sabedoria de Deus. 

Esta é a 27ª de 30 partes do estudo
“Reavaliemos nossas crenças”,
se possível leia todo o estudo
para ter o entendimento correto
do “Como o ar que respiro”
sobre o assunto, obrigado.

José Osório de Souza, 13/04/2020

terça-feira, maio 26, 2020

Reavaliemos Sabedoria (parte 1) (26/30)

26. Sabedoria (parte 1)
 
      “A sabedoria clama lá fora; pelas ruas levanta a sua voz. Nas esquinas movimentadas ela brada; nas entradas das portas e nas cidades profere as suas palavras: Até quando, ó simples, amareis a simplicidade? E vós escarnecedores, desejareis o escárnio? E vós insensatos, odiareis o conhecimento? Atentai para a minha repreensão; pois eis que vos derramarei abundantemente do meu espírito e vos farei saber as minhas palavras. 
      Entretanto, porque eu clamei e recusastes; e estendi a minha mão e não houve quem desse atenção, Antes rejeitastes todo o meu conselho, e não quisestes a minha repreensão, Também de minha parte eu me rirei na vossa perdição e zombarei, em vindo o vosso temor. Vindo o vosso temor como a assolação, e vindo a vossa perdição como uma tormenta, sobrevirá a vós aperto e angústia. 
      Então clamarão a mim, mas eu não responderei; de madrugada me buscarão, porém não me acharão. Porquanto odiaram o conhecimento; e não preferiram o temor do Senhor: Não aceitaram o meu conselho, e desprezaram toda a minha repreensão. Portanto comerão do fruto do seu caminho, e fartar-se-ão dos seus próprios conselhos. Porque o erro dos simples os matará, e o desvario dos insensatos os destruirá. Mas o que me der ouvidos habitará em segurança, e estará livre do temor do mal.”
Provérbios 1.20-33

      Muitos interpretam o termo sabedoria que aparece no livro de Provérbios, como algo só espiritual, mas será que o pleno temor de Deus contempla só a comunhão direta entre o Senhor e o homem através do Santo Espírito? Não, temer a Deus abrange todas as esferas da vida humana, em todos os planos, no corpo, na alma, no espírito, na interação entre homens, com a natureza, além de com o mundo espiritual. A apologia que Salomão (e possivelmente outros escritores que também escreveram o livro de Provérbios) faz da sabedoria não se refere só à sabedoria moral, social e religiosa. 
      Salomão é célebre por ter tido um entendimento singular da existência humana, sabedoria que recebeu de Deus (I Reis 3.1-15), ele também se refere à ciência, à medicina, à química, à física, à matemática e a tudo o mais que permite ao homem dominar este planeta e seguir civilizado e evoluindo. Nesta reflexão, dividida em duas partes, pensemos sobre o valor do estudo, da formação acadêmica, do conhecimento científico e da intelectualidade, na vida não só do homem em geral, mas também do cristão, tudo incluído, como entendemos, na sabedoria orientada na Bíblia, segue a primeira parte.

      Bom estudo, melhor oportunidade de trabalho, maior influência no mundo, testemunho mais abrangente, essa é uma cadeia natural de coisas conquistadas neste planeta do jeito correto, com esforço, com melhores escolhas, com status quo mais alto e com sabedoria para usufruir isso tudo com justiça social e respeito com a natureza. Uso da ciência com inteligência e boa formação acadêmica é o que faz o homem um verdadeiro rei neste mundo, conquistando e dominando da maneira certa, não com violência ou egoísmo, mas com lucidez e conhecimento (já refletimos um pouco sobre o tema desta reflexão em “Intelectualidade não é pecado...”). 
      Você já pensou se o homem não tivesse pecado originalmente (seja lá o que isso signifique de verdade, além dos mitos), como seria este mundo? Em que nível científico estaríamos, o quanto de outros planetas e sistemas solares já teríamos visitado? Muitos acham que um homem sem pecado viveria o céu na terra, mas não é assim que funciona, o céu é puramente espiritual. A criação material foi algo muito especial de Deus, se o mundo espiritual fosse suficiente Deus não precisaria criar o plano físico, a Terra, o Sol, a Lua, as estrelas, a natureza, os animais, o ser humano. Sem o pecado a vida no mundo seria algo único, nunca provado pelos anjos. O que Deus tinha em mente para um plano físico sem pecado?
      Será que haveria morte física? Lembre-se que pelo livro de Gênesis os homens viviam muito tempo antes do dilúvio, dilúvio que também foi outra consequência do pecado do homem. Por outro lado, entendemos pela Bíblia que originalmente era proibido ao homem comer só da árvore do conhecimento do bem e do mal, já o fruto da árvore da vida só foi proibido depois que o homem comeu o fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal (Gênesis 2.9,16-17), assim talvez, sem pecado, o homem pudesse viver eternamente encarnado. Quanto desenvolvimento a humanidade não alcançaria em pouco tempo, e tudo com temor a Deus, com justiça social e respeitando a natureza.
      O que de fato são as árvores de Gênesis? O que representam? Se referem a dois poderes que os humanos almejam muito, conhecimento e longevidade. Mas que conhecimento é esse, moral, espiritual, científico? “Então disse o Senhor Deus: Eis que o homem é como um de nós, sabendo o bem e o mal; ora, para que não estenda a sua mão, e tome também da árvore da vida, e coma e viva eternamente, O Senhor Deus, pois, o lançou fora do jardim do Éden, para lavrar a terra de que fora tomado.” (Gênesis 3.22-23). Como tudo nos capítulos iniciais de Gênesis, essa passagem tem vários mistérios, Deus referindo-se a si mesmo na primeira pessoa do plural e a única informação bíblica sobre o que é a árvore da vida.
      Uma coisa é certa, num plano físico sem pecado não haveria qualquer embate entre fé e ciência, entre matéria e espírito, nessa realidade a evolução intelectual do ser humano não o levaria a uma arrogante posição de duvidar de Deus, antes permitiria que ele conhecesse as verdades de Deus encarnado. Os mistérios do universo seriam mostrados sem véus, entenderíamos a mente de Deus neste mundo, ainda que com trabalho e com tempo, mas seria uma experiência diferente, que sequer podemos imaginar hoje. Mas por que ciência tornou-se sinônimo de oposição a Deus? Por causa do pecado dos ateus, sim, mas também por causa da ganância de líderes evangélicos que para manterem o controle escravizam ovelhas à ignorância. 

Esta é a 26ª de 30 partes do estudo
“Reavaliemos nossas crenças”,
se possível leia todo o estudo
para ter o entendimento correto
do “Como o ar que respiro”
sobre o assunto, obrigado.

José Osório de Souza, 13/04/2020

segunda-feira, maio 25, 2020

Reavaliemos Política e Evangelho (25/30)

25. Política e Evangelho

O que o velho testamento fala do povo de Israel e seu governo político?

      “Então todos os anciãos de Israel se congregaram, e vieram a Samuel, a Ramá, E disseram-lhe: Eis que já estás velho, e teus filhos não andam pelos teus caminhos; constitui-nos, pois, agora um rei sobre nós, para que ele nos julgue, como o têm todas as nações. Porém esta palavra pareceu mal aos olhos de Samuel, quando disseram: Dá-nos um rei, para que nos julgue. E Samuel orou ao Senhor. E disse o Senhor a Samuel: Ouve a voz do povo em tudo quanto te dizem, pois não te têm rejeitado a ti, antes a mim me têm rejeitado, para eu não reinar sobre eles. Conforme a todas as obras que fizeram desde o dia em que os tirei do Egito até ao dia de hoje, a mim me deixaram, e a outros deuses serviram, assim também fazem a ti. Agora, pois, ouve à sua voz, porém protesta-lhes solenemente, e declara-lhes qual será o costume do rei que houver de reinar sobre eles.” I Samuel 8.4-9

      A vontade de Deus é clara no antigo testamento, teocracia, o próprio Deus governaria Israel, obviamente através de homens, esse foi o papel dos juízes durante um período aproximado de 410 anos. Além de Moisés e Josué fazem parte da lista de juízes, Otniel, Eúde, Sangar, Débora, Gideão, Tola, Jair, Jefté, Ibsã, Elom, Abdom e Sansão, registrados no livro de Juízes, e Samuel, registrado nos livros de I e II Samuel e I e II Crônicas. Samuel foi um juiz especial, o maior profeta depois de Moisés, um homem importantíssimo na história de Israel, desempenhou tanto as funções de profeta e sacerdote, quanto de líder político.
      Após isso, Israel pede um rei, conforme o sistema político de outras nações, e Deus dá, um rei conforme seus corações rebeldes, Saul. Mas depois Deus dá um novo rei, agora conforme o coração de Deus, Davi da tribo de Judá da qual nasceria o Cristo. Depois de Davi reina seu filho Salomão, que levaria Israel ao seu tempo áureo como nação, contudo, depois dele reinam seus filhos e uma infinidade de reis inconstantes que se afastam e se aproximam de Deus, ora servindo a Deus, ora aos falsos deuses, dividindo as tribos da nação de Israel que nunca mais provaria a grandeza que teve na época de Davi e Salomão. 
      É claro que teocracia era a vontade de Deus para um povo seu debaixo da velha aliança, a Lei de Moisés e o sistema de ofertas e sacrifícios no Templo de Jerusalém, onde tudo era relacionado, religião, política e mesmo orientações de saúde, de higiene, alimentação etc, eram tempos de um homem ainda em desenvolvimento social e espiritual. Para a nação Israel debaixo desse sistema havia deveres, mas também havia direitos, o ser humano, contudo, de qualquer maneira sempre se mostra inviável para ser feliz em harmonia com Deus neste mundo, por isso Jesus foi enviado, o rei eterno, de Israel e da Igreja. 

O que o novo testamento diz sobre a relação de cristãos, convertidos, novos nascidos em Cristo, com a política?

      “É-nos lícito dar tributo a César ou não? E, entendendo ele a sua astúcia, disse-lhes: Por que me tentais? Mostrai-me uma moeda. De quem tem a imagem e a inscrição? E, respondendo eles, disseram: De César. Disse-lhes então: Dai, pois, a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus.” Lucas 20.22-25

      “Admoesto-te, pois, antes de tudo, que se façam deprecações, orações, intercessões, e ações de graças, por todos os homens; Pelos reis, e por todos os que estão em eminência, para que tenhamos uma vida quieta e sossegada, em toda a piedade e honestidade; Porque isto é bom e agradável diante de Deus nosso Salvador, Que quer que todos os homens se salvem, e venham ao conhecimento da verdade.” I Timóteo 2.1-4

      “Ousa algum de vós, tendo algum negócio contra outro, ir a juízo perante os injustos, e não perante os santos? Não sabeis vós que os santos hão de julgar o mundo? Ora, se o mundo deve ser julgado por vós, sois porventura indignos de julgar as coisas mínimas? Não sabeis vós que havemos de julgar os anjos? Quanto mais as coisas pertencentes a esta vida? Então, se tiverdes negócios em juízo, pertencentes a esta vida, pondes para julgá-los os que são de menos estima na igreja?” I Coríntios 6.1-4

      “Não vos prendais a um jugo desigual com os infiéis; porque, que sociedade tem a justiça com a injustiça? E que comunhão tem a luz com as trevas? E que concórdia há entre Cristo e Belial? Ou que parte tem o fiel com o infiel? E que consenso tem o templo de Deus com os ídolos? Porque vós sois o templo do Deus vivente, como Deus disse: Neles habitarei, e entre eles andarei; e eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo. Por isso saí do meio deles, e apartai-vos, diz o Senhor; E não toqueis nada imundo, E eu vos receberei; E eu serei para vós Pai, E vós sereis para mim filhos e filhas, Diz o Senhor Todo-Poderoso.” II Coríntios 6.14-18

      O texto de Lucas se refere diretamente a pagamento de impostos, mas podemos usá-lo para entender com clareza as diferenças das relações e compromissos que podemos ter neste mundo, físicos ou espirituais, políticos ou religiosos, com os homens ou com Deus, e Deus não exime seus filhos de viverem neste mundo debaixo de leis físicas, políticas e humanas. O texto de I Timóteo nos orienta sobre o respeito que devemos ter com lideranças deste mundo, sejam na área profissional ou política, elas não devem ser desprezadas, mas protegidas por nós em oração, ainda que não sejam cristãs. Se todos os seres humanos precisam ser salvos, muitos mais os líderes, cujas diretrizes influenciam um número muito maior de pessoas, sejam ou não cristãs.
      As duas passagens de Paulo escrevendo aos coríntios precisam de um pouco mais de reflexão, mas penso que elas são importantes para entendemos as orientações bíblicas sobre a relação de cristãos com o mundo no tocante às leis e mesmo à política. Em primeiro lugar, usando ainda o texto de Lucas, “dai a César o que é de César”, desobediências às leis de homens, sejam civis, criminais, fiscais, devem ser tratadas com os homens. Nenhum cristão queira se esconder atrás de sua fé para fugir às consequências de seus atos, ainda que Deus o perdoe e lhe dê paz, cristão não é isento de pagar suas dívidas com as leis, ainda que em paz com Deus e que isso não o prejudique na eternidade.
      Contudo, Paulo se refere a outra coisa em I Coríntios 6, ele fala de problemas entre irmãos em Cristo e que, porventura, ainda não tenham ido para os tribunais humanos. Se esses problemas forem resolvidos só entre irmãos, e o mais rapidamente possível, escandalizará menos o evangelho, mas isso, repito, se a justiça dos homens ainda não tiver sido acionada. Isso é possível, “roupa suja ser lavada em casa”, se for uma questão entre cristãos, possível e recomendado. Essa passagem mostra o nível moral e ético que um cristão deve ter, que o coloca numa posição espiritual superior a de não cristãos, nível que lhe confere direitos? Sim, mas também deveres. 
      É baseado nessa qualidade moral, ética, social e espiritual, que um cristão genuíno tem (ou deveria ter), que podemos interpretar a Bíblia como orientando que o cristão não precisa se envolver com política, além do dever cívico de ir à sua zona eleitoral e votar, fazendo a melhor e mais consciente escolha. O texto de II Coríntios 6 vai mais a fundo sobre essa diferença quando questiona, “que comunhão tem a luz com as trevas?”. Se o sistema político, câmaras de vereadores, de deputados, de senadores, se cargos de prefeitos, governadores e presidentes, fossem de fato limpos, talvez o cristão pudesse se envolver sem se sujar, mas isso é impossível, não num mundo físico onde o próprio Deus dá livre arbítrio aos homens e onde os sistemas políticos existem para administrar esses homens, que fizeram escolhas morais, espirituais e sociais diferentes. 

O que muitos cristãos hoje em dia dizem sobre política?

      Não, cristão não deve se envolver com cargos políticos, principalmente se forem cristãos com cargos e funções dentro de igrejas. Se forem cristãos sem envolvimentos em ministérios, é menos ruim, pois escandalizam o evangelho em menor instância, contudo, o que ocorre é justamente o contrário. Ditos “evangélicos” com cargos, pastores, missionários, bispos, presbíteros, diáconos, pregadores (e como tem “evangélico” que adora título), são os que mais participam de eleições e mantém cargos políticos, usando justamente seus títulos para se elegerem, para convencerem uma grande maioria de crentes mal informados e imaturos, que eles têm legitimidade espiritual para exercerem tais cargos, quanto equívoco. Pior que isso, acumulam cargos, muitas vezes de pastores e de vereadores, por exemplo, para ganharem salário dobrado.
      Será que um pastor vereador merece ganhar como pastor em tempo integral, ou será que tem tempo para trabalhar como pastor sendo também vereador? Reavaliemos isso, nos revoltemos com isso, digamos não a isso, isso não é correto nem bonito, ainda que ter um cargo político possa acariciar o ego de muitos líderes evangélicos que querem ser, sem estudar e trabalhar por isso do jeito certo. Pastores e outros líderes, querem influenciar mais e melhor a sociedade? Preparem-se, façam uma boa faculdade (não qualquer uma, dessa “pagou passou”), adquiram conhecimento intelectual sério, sejam bons professores de Bíblia e de muito mais, revolucionem pela educação, imaginem só se a educação fosse ocupada por cristãos genuínos, fariam muito mais diferença no mundo que políticos.
      Um argumento muito usado por muitos cristãos que almejam cargos políticos, e concordo que muitos usam esse argumento até com boa sinceridade, ainda que com imaturidade, é que se os cristãos não ocuparem os cargos a política não melhorará, nunca será purificada. O primeiro engano que esses cometem é achar que é possível o céu, com luz moral e espiritual, no mundo, isso vai contra muitos ensinos bíblicos. “Sabemos que somos de Deus, e que todo o mundo está no maligno.”, ou o mundo jaz no maligno (I João 5.19), ponto! E a política jaz no íntimo do pior do maligno, porque ela mexe com o poder que domina o mundo, maior ainda que o dinheiro ou prazeres carnais, as pessoas fazem tudo para terem poder político e muito mais para se manterem nesse poder.

      “Não erreis: Deus não se deixa escarnecer; porque tudo o que o homem semear, isso também ceifará.” Gálatas 6.7

      Não posso deixar de falar sobre o fato de termos no momento um presidente da república apoiado por uma grande maioria de evangélicos, incluindo altas lideranças cristãs. Em primeiro lugar nem sabemos ao certo se a pessoa é de fato evangélica (talvez isso seja até melhor), esse presidente escolheu um bom ministério e está tentando fazer um governo sem “rabo preso” com “toma lá dá cá”, sem corrupção e venda de cargos? Aparentemente sim, e grande parte de seus ministros é de técnicos e pessoas idôneas. Mas tenhamos cuidado, não nos iludamos, não façamos com ele o que a ideologia política oposta e opositora a esse governo faz com seu maior líder, adorar homem. Esse presidente é honesto e o líder opositor é desonesto? Parece que sim, mas ainda assim, irmãos e irmãs, tenhamos cautela.
      O tal homem ocupa uma posição que não pode agradar só a cristãos, uma posição que precisa governar para todos, não para uma parte, ainda que ele esteja sendo fiel com suas promessas eleitorais e esteja tentando agradar ao seu eleitorado, ao meu ver de forma exagerada visto que não está mais em palanque eleitoral, está incentivando, dia a dia, uma situação beligerante e perigosa. Ele e seus filhos dizem coisas erradas todo o dia, ofendendo, provocando, enfim, agindo de uma maneira tanto desnecessária pela qualidade do governo que faz com seus ministros, quando inadequada pelo perfil que ele diz ter como alguém que respeita a tradição judaica-cristã, a família etc. Eu temo por esse presidente, pela vida dele, mas temo muito mais por uma igreja cristã evangélica que está colocando sua confiança em homem, e num homem estúpido e amargo. 

Esta é a 25ª de 30 partes do estudo
“Reavaliemos nossas crenças”,
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José Osório de Souza, 13/04/2020

domingo, maio 24, 2020

Reavaliemos Chamadas (parte 2) (24/30)

24. Chamadas (parte 2)

      Segue a segunda e última parte da reflexão “Chamadas”, para melhor entendimento leia a primeira parte na postagem anterior.

     “Não extingais o Espírito. Não desprezeis as profecias. Examinai tudo. Retende o bem. Abstende-vos de toda a aparência do mal. E o mesmo Deus de paz vos santifique em tudo; e todo o vosso espírito, e alma, e corpo, sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo. Fiel é o que vos chama, o qual também o fará.” I Tessalonicenses 5.19-24

      Há riscos em liderança solitária, que se autodenomina pastor, sem que tenha certificado de meios legítimos, que se levanta contra tudo, alegando chamada “especial”, isso até pode ser de Deus, mas via de regra não é o que vemos atualmente. Vemos é rebelde usando sua não aceitação por outros como álibi para criar igreja mal estruturada, baseada em heresias, e no final, tornando-se pior que aqueles que ele “robinwoodiando” combatia no início de seu “ministério”. Maluco atrai maluco, assim muitos que começam errados terminam errados e grandes, multiplicando um mal pelo qual um dia terão que dar contas. “Muitos me dirão naquele dia: Senhor... em teu nome não fizemos muitas maravilhas? E então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci, apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade.” (Mateus 7.22-23).
     Por outro lado, não devemos ser inocentes (ou puristas) a ponto de crermos que existam homens no mundo, suficientemente desapegados de outras ambições, que só queiram obedecer a Deus e honrar seu nome, sem qualquer outra intenção egoísta até o final de seus ministérios. Todos nós, todos, mesmo Paulo e Pedro, temos nossas vaidades e inseguranças, Deus não trabalha sem isso, mas apesar disso e com isso, contudo, as coisas têm limites. Como tentar não deixar que as coisas passem dos limites? “Com conselhos prudentes tu farás a guerra; e há vitória na multidão dos conselheiros“ (Provérbios 24.6), seguindo esse provérbio, usando o máximo possível de critérios, sejam doutrinários, intelectuais, psicológicos, espirituais, para verificarmos a legitimidade da chamada de alguém, ainda que ela seja muito sincera. 
      Em Jesus vemos um ensino claro sobre ministério, ele só o começou aos trinta anos, por que não fazer essa exigência para todos que almejam liderança pastoral? Autorização de profissional de confiança da área de psicologia ou de psiquiatria também deveria ser exigida para que alguém assumisse uma igreja como pastor ou mesmo grupos menores em igrejas, muitos não fazem ideia de como portadores de transtornos mentais tentam se engajar no “exército evangélico”. Estudo sério de teologia, onde a pessoa possa conhecer as ferramentas intelectuais disponíveis para uma interpretação bíblica respeitando ciência e tantos contextos, também deveria fazer parte dos pré-requisitos. Vida espiritual é de suma importância, mas confrontar isso com realidade científica é o que nos leva a amadurecer sem extremismos. 
      As orientações gerais que Paulo dá aos tessalonicenses no texto inicial, apresentam um equilíbrio necessário a quem se presta a cargos de lideranças nas igrejas cristãs, reflitamos sobre elas. Em primeiro lugar está o Espírito Santo, que está intrinsecamente ligado às palavras finais do texto, “fiel é o que vos chama, o qual também o fará“. A chamada verdadeira é feita pelo Espírito Santo e se é feita por ele ela se realiza, dá frutos, pois Deus não desampara os que chama, ele é fiel às alianças que faz com os homens. O que temos que saber é só se a chamada é de fato de Deus, e não só ilusão de nossas almas. Se é de Deus ainda que pareça não dar frutos, dará, no tempo de Deus, contudo, se não é de Deus ainda que pareça dar frutos, não são, não passarão pela prova do tempo. Nunca julguemos pela aparência presente. 
      Outra coisa que o texto nos ensina é sobre a análise racional que precisamos fazer para discernirmos se algo é de Deus, “examinai tudo, retende o bem, abstende-vos de toda a aparência do mal“, isso só é conseguido verificando com calma as coisas, não se deixando levar por uma impulsividade em nome de uma fé irresponsável, nem por uma falsa sabedoria que se acovarda diante de uma ordem espiritual urgente e clara de Deus (“não desprezeis as profecias”). “Todo o vosso espírito, e alma, e corpo, sejam plenamente conservados irrepreensíveis”, isso nos chama a atenção para a totalidade do homem, corpo, alma e espírito, físico, intelecto e sopro divino, sentimentos, pensamentos e percepção espiritual. Uma chamada deve ser analisada em todas essas áreas, na sua origem, na sua manutenção e em seus frutos.
      “Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração.... porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve.“ (Mateus 11.29-30), uma chamada genuína, apesar de exigir consagração, atenção e pureza constantes, não é pesada, não demais. Quem tem chamada verdadeira a conseguirá desempenhar a tempo, se for humilde e se quiser agradar a Deus, não a homens. A principal virtude de um servo é a humildade, um chamado de Deus é chamado para servir, não para ser servido, seu objetivo é fortalecer ovelhas, e não o contrário, seu desejo é ver Deus aparecer, não ele. Coração de servo, como falta isso em tantos que hoje se autodenominam pastores, ainda que tenham um “jeitinho” tranquilo, uma fala “mansa”, têm corações  orgulhosos e gananciosos, seus frutos serão provados, o futuro esclarecerá. 
      “Não ambicioneis coisas altas, mas acomodai-vos às humildes“ (Romanos 12.16). Será que o que o mundo mais está precisando hoje em dia é de mais igrejas e pastores? Perdoe-me se você pensa diferente, mas eu creio que não. Desliguem o sistema de som, guardem os microfones, fechem os grandes templos, parem de entregar dízimos a empresas. Façamos grupos pequenos nos lares, oração, louvor e palavra, usemos dízimos para ajudar os necessitados, em primeiro lugar os irmãos e depois os outros, mostremos Cristo através de vidas simples. Quanto aos chamados, tenham serviços seculares e não pesem financeiramente a ninguém, busquem a Deus, com choro, não com alegria, não é tempo de celebração, mas de humilhação. A realidade grita aos nossos ouvidos, acordemos e façamos diferença nesses dias difíceis. 
      Cristãos melhores serão frutos de igrejas verdadeiras, lideradas por homens com chamadas genuínas, isso só existirá quando o homem sair do trono, quando o papa abrir mão do Vaticano, mas quando os pastores, “bispos” e  “apóstolos” atuais, fizerem voto de pobreza, mas não como referência humana de espiritualidade, isso também é vaidade. Quando a palavra for pregada por homens que amam a Deus mais que a “mamom” (Mateus 6.24), que preferem agradar a Deus mais que aos homens, que definitivamente não se preocupam com quantidade, mas com qualidade, aí teremos de fato uma igreja corpo de Cristo preparada para o arrebatamento. Sou sincero, não acho que isso ocorrerá a tempo, Jesus não profetizou isso sobre o fim dos tempos, mas é o que todo sincero filho de Deus deve buscar, até seu último dia neste mundo. 

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José Osório de Souza, 13/04/2020

sábado, maio 23, 2020

Reavaliemos Chamadas (parte 1) (23/30)

 23. Chamadas (parte 1)

      Nesta reflexão, dividida em duas partes, pensemos sobre chamadas. Todos temos de alguma maneira vocações para servir a Deus neste mundo, seja na área afetiva, isso é, na família, seja na área profissional, na sociedade, ou na área espiritual, através das igrejas. O texto a seguir é a primeira parte da reflexão sobre vocação espiritual, nela somos chamados como indivíduos, como líderes de grupos e como líderes de grupos maiores, isso é, de igrejas, pensemos esse último tipo de chamada, a feita para pastores.

      “E disse-lhes: Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura. Quem crer e for batizado será salvo; mas quem não crer será condenado.” Marcos 16.15-16

      Deus age com inteligência, diferente do que o ditado “Deus não chama os preparados mas prepara os chamados” diz, ele chama espiritualmente os preparados intelectualmente, ainda que tenha que prepará-los espiritualmente. Exemplo disso é Paulo, mesmo preparado intelectualmente teve que ser preparado espiritualmente para se tornar um apóstolo. Já Pedro, estava preparado espiritualmente, foi apóstolo direto de Cristo, mas sem preparo intelectual teve um ministério mais restrito, seja na abrangência geográfica, seja como escritor dos fundamentos evangélicos. Paulo viajou mais como missionário e escreveu mais como teólogo, assim quem acha que cultura não importa, tem na chamada de um homem com passaporte romano, com formação acadêmica grega e com autoridade religiosa judaica, uma negativa (Atos 23.3). 
      Paulo foi o homem certo para desempenhar a vontade de Deus naquele tempo e naquele mundo, assim como foi Pedro. Contudo, ainda que para servirmos em e através de igrejas seja a vocação espiritual quem estabeleça a chamada, ninguém ache que basta fé e unção. Deus usa as duas coisas, aptidões humanas que nascem com a gente e que são aprimoradas por experiências intelectuais e profissionais seculares, somadas a dons e vocações espirituais, recebidos à medida que andamos com Deus. Paulo tinha o preparo intelectual para desempenhar a chamada que Deus tinha para ele, e Pedro o preparo intelectual para a chamada que Deus tinha para ele, Paulo não tinha que tentar fazer o trabalho de Pedro, nem o contrário, assim como Pedro não deveria se sentir melhor que Paulo pode ter uma chamada diferente, nem o contrário. 
      Deus chama todos para que reflitam sua luz no mundo, mas as chamadas são diferentes, tanto quanto as pessoas são. Uma chamada é mais importante que a outra? Uma tem um nível espiritual mais alto que o nível de outra? Não, todas são importantes e todos somos chamados para termos uma comunhão plena com Deus, o que difere são nossos dons, nossas habilidades e nossas experiências, que podem nos ajudar a compartilhar essa comunhão, seja com um grupo menor ou com um maior. Deus chama respeitando tudo isso, de modo que cada um dê o seu melhor no lugar e no tempo certo para abençoar melhor os outros. Obviamente o que tem um grupo maior sob liderança deverá ter o conhecimento adequado para além de servir espiritualmente, administrar áreas do mundo material, principalmente a financeira. 
      Muitos, contudo, pensam ter chamada espiritual de Deus, quando na verdade são só seres humanos carentes de atenção, tentando convencer a si mesmos que estão certos. Como aliamos a vontade maior de Deus para pregarmos o evangelho com palcos, ainda que o chamemos de altares e púlpitos, como acreditamos que ser espiritual é ser reconhecido publicamente. Essa é uma visão do cristianismo atual, não das religiões orientais, mas também não a de Cristo encarnado. O texto inicial cita o “ide” de Jesus, uma ordem que Cristo deu nas ultimas palavras à Igreja, querendo obedecê-lo com sinceridade muitos tentam ser Pedro ou Paulo, contudo, entendem só a parte da quantidade, de ter ministérios poderosos com templos cheios de membros, não entendem a espiritualidade melhor provada no solitário anonimato.
      Querendo quantidade, não qualidade, vemos hoje em dia um evangelho vendido barato, em todas as esquinas, oferecido fácil e sem obrigações, pérolas vendidas a porcos a troco de dízimos. Os “pastores“ que vendem esse “evangelho” sentem-se especiais, orgulhosos de suas chamadas, são esses, evangélicos? Sim, mas no fundo a grande maioria quer um ministério grande como o do Vaticano, deixou a Igreja Católica mas continua louca para ser igual a ela, com o mesmo poder. Na eternidade? Não, no mundo, e muitos Jovens que sentem chamada missionária atualmente também querem isso para si mesmos, não querem ser Pedros ou Paulos, muito menos como Cristo, só ambicionam ser outros “Macedos”, “Hernandes” e “Malafaias”. Por isso reavaliar chamada pastoral é uma necessidade tão urgente, identificar o erro na raiz. 
      Se um homem tivesse tido base familiar melhor, cuidado mais carinhoso de pais e próximos ou sofrido intervenção de amigos colocando-o sob cuidados psicológicos, milhões de vidas talvez não tivessem sido terrivelmente massacradas, o nome desse homem é Adolf Hitler. Sim, coisas importantes, sejam para o bem ou para o mal, foram feitas no mundo, deixando homens famosos, poderosos, ricos, só para satisfazerem uma necessidade de auto-afirmação ou compensarem inseguranças e falta de amor de um indivíduo. Se soubéssemos de detalhes sobre a vida, principalmente familiar, de muitos líderes, cientistas e empresários, faríamos essa constatação. Líderes religiosos não fogem disso, aliás, desbalanceados psicologicamente têm predileção especial por religião, principalmente por uma que se diz dona da verdade.
      Às vezes, após buscarmos a vontade de Deus com a igreja, em humildade e obediência, sem que tenhamos obtido uma certeza, uma busca solitária pode ser a saída. Em algumas situações a palavra final de Deus só conhecemos orando sozinhos. Homens usados de maneira diferenciada pelo Senhor, para missões decisivas, foram chamados na solidão, e assim foram seus ministérios, conduzidos exclusivamente sob a aprovação de Deus. Com Jacó foi assim, fugindo de seu irmão, com José foi assim, odiado por seus irmãos, com Moisés foi assim, exilado no deserto longe tanto da parentela egípcia de criação quanta da de sangue israelita. Interessante como familiares podem ser nossos maiores inimigos, os que menos entendem nossas chamadas, Jesus no final foi crucificado por escolha dos judeus, não dos romanos.
      A maioria de nós, todavia, hoje é chamada dentro de denominações evangélicas, sob lideranças estabelecidas, assim nos coloquemos debaixo de orientação dos mais experientes, isso é sábio e livra de armadilhas que podem ser armadas por nós mesmos. Para isso precisamos estar em igrejas idôneas, sob pastores sérios homens de Deus, que também achamos buscando no Senhor. O importante é não termos pressa para desempenhar nossas chamadas, não para aparecer diante de homens em igrejas, antes, sejamos diligentes, sim, para viver uma vida agradável diante de Deus, no dia a dia, como pessoas comuns. Não caiamos no engodo da vaidade de desejar títulos eclesiásticos, achando que isso nos torna especiais para Deus, o Senhor não se importa com isso, ele busca os que o obedecem mesmo que ninguém saiba ou veja.

Esta é a 23ª de 30 partes do estudo
“Reavaliemos nossas crenças”,
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sobre o assunto, obrigado.

José Osório de Souza, 13/04/2020

sexta-feira, maio 22, 2020

Reavaliemos Pastores (22/30)

22. Pastores

      Nesta reflexão, reavaliemos os pastores, não poderia deixar passar esse estudo sem pensar sobre eles, líderes das igrejas que tanto reavaliamos nessa série de reflexões, os maiores responsáveis pelo que o cristianismo representa no mundo hoje. Bem, o “Como o ar que respiro” já fez muitas reflexões sobre o assunto, mas desta vez senti que seria mais construtivo, ao invés de listar defeitos de muitos, estudar as virtudes de um, Paulo, o teólogo-apóstolo-missionário-evangelista e pastor. Depois do próprio Cristo, Paulo é nosso melhor exemplo sobre o que deve ser um pastor de acordo com o coração de Deus. Para isso vários textos me vieram à mente, principalmente aqueles que Paulo dá orientações diretas a pastores. 
      O capítulo 18 do livro de Atos dos Apóstolos (se possível leia-o na íntegra), por exemplo, relata a vida corrida de Paulo atrás de um único objetivo, pregar a palavra de Deus. Nessa passagem nos é informado que Paulo tinha um ofício secular, fazia tendas, outro exemplo da qualidade de homem de Deus que era, ainda que missionário em tempo integral não queria pesar para os outros, financeiramente (Atos 18.3). Contudo, o texto que ficou em meu coração são treze versículos de II Timóteo 4, uma verdadeira carta de despedida do apóstolo, que revela a humanidade desse excepcional homem de Deus, um registro não só do que ele orienta a outros fazerem, mas que revela como ele era, o que sentia, o que fazia. 
      Dizem que o estudo bíblico mais técnico é o que é feito seguindo os fundamentos da exegese, sim, somos gratos a homens estudiosos que usam princípios científicos para nos esclarecerem a Bíblia, que conhecem com profundidade história, geografia, línguas antigas etc, e nos permitem saber de detalhes que uma leitura mais leiga não permitiria. Contudo, será que o Espírito Santo inspirou homens a escreverem os livros bíblicos para que só os teólogos conseguissem entender? Não. A Bíblia foi escrita para que mesmo uma leitura descompromissada com princípios de hermenêutica pudesse abençoar qualquer um. A Bíblia original não é comentada, o Espírito Santo e um pouco de sensatez bastam para qualquer um entendê-la. 
      Darei, todavia, alguns dados históricos sobre a segunda carta de Paulo a Timóteo: Paulo escreveu em Roma, estando em sua segunda prisão aguardando sua execução, provavelmente em 64 d.C., Timóteo estaria em Éfeso e viria a Roma. Apesar de Paulo ser um fundador itinerante de igrejas, não um pastor fixo numa congregação, numa cidade, as orientações que ele dá nas epístolas são ensinos pastorais, visam a vida diária das ovelhas nas igrejas e no mundo, e alertam bastante sobre ensinos errados do evangelho. As duas cartas a Timóteo e a carta a Tito são especialmente chamadas de cartas pastorais pois dão orientações, não a grupos de pessoas, como as demais de Paulo, mas a líderes com responsabilidades pastorais.

      “Porque eu já estou sendo oferecido por aspersão de sacrifício, e o tempo da minha partida está próximo. Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé. Desde agora, a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, justo juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos os que amarem a sua vinda.II Timóteo 4.6-8

      Para um homem que fez tanto pelo evangelho, deveria haver nele desejo de ter alguma recompensa, mas a conclusão de Paulo ao sentir que sua carreira estava terminando é, “estou sendo oferecido por aspersão de sacrifício”. Que diferença de tantos pastores que com quarenta e poucos anos se acham no direito de terem uma vida mais tranquila financeiramente, uma casa boa, um carro mais caro, um salário alto, direito de fazerem boas viagens de férias, enfim, direitos de colherem neste mundo frutos materiais. Do quê? De uma obra que deveria ser puramente espiritual, pastoreio de ovelhas, pregação do evangelho que salva e cura almas.
      Paulo chegou ao final de seu combate com a fé guardada, não vendida, não adaptada ao mundo, não desviada da pura doutrina de Cristo. Paulo só via a coroa da justiça que receberia no céu, não queria outra coisa, não almejava mais nada. Um homem sem ilusões? Sim. Sem bens? Sim. Mas em paz por saber que fez o que Deus queria que ele fizesse. Paulo, não “bispos”, não “donos de ministérios poderosos”, não “pastores com posicionamentos políticos”, mas alguém que obedeceu a Deus até o fim, esse sim é alguém que devemos “invejar” (usando a melhor interpretação dessa palavra), alguém que devemos ter como modelo, alguém a ser imitado. 

      “Procura vir ter comigo depressa, Porque Demas me desamparou, amando o presente século, e foi para Tessalônica, Crescente para Galácia, Tito para Dalmácia. Só Lucas está comigo. Toma Marcos, e traze-o contigo, porque me é muito útil para o ministério. Também enviei Tíquico a Éfeso.” “Alexandre, o latoeiro, causou-me muitos males; o Senhor lhe pague segundo as suas obras. Tu, guarda-te também dele, porque resistiu muito às nossas palavras. Ninguém me assistiu na minha primeira defesa, antes todos me desampararam. Que isto lhes não seja imputado.” II Timóteo 4.9-12, 14-16

      Paulo era um ser humano e precisava de seres humanos para realizar a obra de Deus, bem, todos que precisam, de alguma maneira, de seres humanos, padecerão decepções, Paulo não foi isentado disso. Paulo abre o coração para Timóteo, reclama de alguns que o abandonaram, solicita que o discípulo venha o quanto antes vê-lo. Paulo está preso aguardando a morte, mas seu coração vive o evangelho. Atualmente, somos ensinados de púlpito por muitos pregadores, que buscam referência para espiritualidade em anulação emocional, um princípio tão católico, e que postam-se, ainda que muitos com sinceridade, como super-homens, que estão bem com todos e não se importam com os que lhes fazem mal. Isso só gera hipocrisia, e achando-se curados muitos nem buscam cura.
      Paulo dá nome aos bois, “Demas me desamparou, amando o presente século”, “Alexandre, o latoeiro, causou-me muitos males”, “ninguém me assistiu na minha primeira defesa”, parece que só Lucas estava com ele naquele terrível momento. De fato, quando estamos no alto da aprovação pública, muitos nos acompanham, mas quando as injustiças do mundo nos aprisionam e tentam nos matar, muitos nos abandonam, chegam mesmo a dar razão aos injustos por nos fazerem mal, mentindo dizem que se estamos sofrendo é porque merecemos, ainda que nunca tenham se aproximado de nós para saberem de fato a verdade, ou ao menos a noção versão. Não sabemos o certo de porque tantos deixaram Paulo só, mas ele demonstra claramente que sofria com isso.

      “Mas o Senhor assistiu-me e fortaleceu-me, para que por mim fosse cumprida a pregação, e todos os gentios a ouvissem; e fiquei livre da boca do leão. E o Senhor me livrará de toda a má obra, e guardar-me-á para o seu reino celestial; a quem seja glória para todo o sempre. Amém.II Timóteo 4.17-18

      Deus nunca nos abandona! Nunca!! Mas isso é para os que sabem que a companhia de Deus basta, já que para muitos, ainda que Jesus esteja ao lado deles, eles se desesperam, se fazem de vítimas, culpam os homens. Quem odeia demais é porque buscou amor demais nas pessoas erradas, o amor se transforma em ódio com facilidade. Só se desilude quem se ilude, mas quem tem os olhos firmes em Deus, aprendeu que ele tem o principal para que estejamos em paz sempre, em qualquer situação. Paulo sabia disso, estava preparado para seu fim, o fim de um genuíno seguidor de Cristo. Muitos conseguem trilhar um longo caminho com Deus, mas quando chegam no final, na última prova, desistem, negam tudo, e deixam de conhecer o melhor de Deus. 
      O objetivo de Deus é sempre se mostrar através de nossas vidas, muitas vezes ele faz isso nos dando vitória e livramento, mas nosso maior testemunho de Deus pode pedir de nós um grande sacrifício, de Jesus foi a crucificação, de Paulo a condenação à prisão e à morte. Estamos preparados para obedecer a Deus até as piores consequências? De verdade? Cuidado, não nos iludamos com este mundo, mas não nos iludamos com um falso evangelho tão pregado atualmente, que ensina que Deus sempre dá o melhor para seus filhos neste mundo em todas as circunstâncias. Sim, eu creio que ainda que condenado à morte de alguma maneira Deus livrou Paulo de uma morte pior, de alguma maneira Deus deu forças a ele para passar por aquilo com dignidade. 

      “Quando vieres, traze a capa que deixei em Trôade, em casa de Carpo, e os livros, principalmente os pergaminhos.” II Timóteo 4.13

      A Bíblia não especifica como Paulo morreu, há outros relatos de que ele teria sido decaptado e não crucificado de cabeça para baixo como Pedro, teria recebido um tratamento “melhor” por causa de sua cidadania romana. Final trágico para um homem tão importante? Pois é, isso é a realidade do verdadeiro evangelho, não a posição de imperador em meio a luxos que têm papas do Vaticano, nem a prosperidade material que tantos donos de ministérios evangélicos têm ou gostariam muito de ter atualmente. Que bens Paulo queria perto de si em seus últimos dias? O versículo 13 de II Timóteo 4 fala a respeito, que eu deixei por último porque para mim é um dos registros mais lindos e reveladores da Bíblia.
      Livros, registros de outros autores pelos quais Paulo tinha alguma afeição? (Uma versão do Antigo Testamento?). Pergaminhos, anotações feitas por ele? (Ou outros textos como dicionários?) Não sabemos, mas eram importantes para ele. Mas tinha um peça de roupa, uma capa (alguns estudiosos dizem que podia ser uma capa de livro), lembrando que Atos 16.8-11 registra que Paulo saiu meio às pressas de Trôade. Se for uma roupa podemos achar justificação no fato de Paulo poder estar preso num cárcere úmido e frio. Sejam o que forem, são poucos bens, poucas necessidades, simples urgências do plano físico para um homem que viveu a espiritualidade cristã em seu nível mais alto, o verdadeiro pai da igreja cristã.

Esta é a 22ª de 30 partes do estudo
“Reavaliemos nossas crenças”,
se possível leia todo o estudo
para ter o entendimento correto
do “Como o ar que respiro”
sobre o assunto, obrigado.

José Osório de Souza, 13/04/2020

quinta-feira, maio 21, 2020

Reavaliemos Igrejas (21/30)

21. Igrejas

       Muitos, de início, podem fazer uma pergunta: por que devo reavaliar minha igreja, ela está fazendo tudo certo? Pois é, o primeiro problema que enfrentamos para reavaliar igrejas e pastores é o fato de muitos cristãos hoje em dia não terem a mínima ideia do que deve ser uma igreja e um pastor, segundo a vontade de Deus, que deem a eles o alimento espiritual verdadeiramente do Espírito Santo, e isso acontece mesmo que muitos acreditem ser ungidos, íntimos de Deus, aliás isso ocorre mesmo com pregadores e líderes. Por que as pessoas não têm noção? 
      Porque há algum tempo, mesmo a doutrina bíblica tradicional protestante, deixou de ser ensinada na maioria das igrejas, principalmente nas mais frequentadas no Brasil, assim, sem Bíblia, não se tem informação sobre o que é igreja e o que é pastor. Esses ensinos foram substituídos por música e heresias, por longos períodos de “adoração”, por cultos ao dízimo e por discursos sobre prosperidade material e milagres. Enfim, tudo o que refletimos até aqui nessa série de reflexões “Reavaliemos nossas crenças”, tomou o lugar da orientação que levaria cristãos a entenderem o que é de fato uma igreja. 
      As palavras finais de Jesus antes de ser preso, em João 17, texto também conhecido como “oração do adeus” ou “oração sacerdotal de Cristo”, definem os cristãos, como nascem, como vivem no mundo e para onde irão após a morte, estabelecem a doutrina fundamental da igreja cristã e a sua missão, vou recortar da passagem alguns versículos (mas se possível leia todo o capítulo).

      “Jesus falou assim e, levantando seus olhos ao céu, disse: Pai, é chegada a hora; glorifica a teu Filho, para que também o teu Filho te glorifique a ti; Assim como lhe deste poder sobre toda a carne, para que dê a vida eterna a todos quantos lhe deste. E a vida eterna é esta: que te conheçam, a ti só, por único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste.“ (1-3): Jesus declara a legitimidade de sua obra, foi iniciativa de Deus, realizada por Deus em Cristo homem na Terra e entregando homens a Deus, começando por ele, que voltou ao céu como Cristo Deus. Jesus mostra a autoridade ímpar que a religião que ele fundou tem (o versículo tema do “Como o ar que respiro” está contido nessa passagem).
      “Manifestei o teu nome aos homens que do mundo me deste; eram teus, e tu mos deste, e guardaram a tua palavra. Agora já têm conhecido que tudo quanto me deste provém de ti; Porque lhes dei as palavras que tu me deste; e eles as receberam, e têm verdadeiramente conhecido que saí de ti, e creram que me enviaste. Eu rogo por eles; não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque são teus.” “Dei-lhes a tua palavra, e o mundo os odiou, porque não são do mundo, assim como eu não sou do mundo. Não peço que os tires do mundo, mas que os livres do mal. Não são do mundo, como eu do mundo não sou. Santifica-os na tua verdade; a tua palavra é a verdade.” (6-9, 14-17): Jesus afirma que suas palavras foram dadas a ele por Deus e ele as dá aos homens, deu em pessoa enquanto encarnado, e depois de ressuscitado dadas pelo Espírito Santo. Jesus ensina que existe uma diferença clara entre os que recebem sua obra e os que não recebem, entre os salvos e os do mundo, Jesus divide a humanidade em dois grupos, mas Jesus revela que os do mundo odiariam os da igreja, como a ele odiaram. 
      “E não rogo somente por estes, mas também por aqueles que pela sua palavra hão de crer em mim; Para que todos sejam um, como tu, ó Pai, o és em mim, e eu em ti; que também eles sejam um em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste.“ (20-21): Jesus revela que sua obra não se encerraria no primeiro século, nas vidas de seus contemporâneos, mas estaria disponível a todos, através da igreja e pelo Espírito Santo, mas Jesus dá uma característica singular de seus seguidores, que os diferenciaria dos não salvos, a união.

     Diante do 17º capítulo de João chegamos a três perguntas que precisamos fazer ao cristianismo atual: 
- ele tem a autoridade exclusiva da única religião fundada na terra pelo próprio Deus? 
- ele de fato se diferencia do mundo e das outras religiões, correndo mesmo o risco de ser odiado? 
- ele une os cristãos?

      As respostas às três perguntas, infelizmente, nos conduzirão à necessidade de fazermos reavaliações sobre nossas igrejas, responsáveis pelo atual cristianismo no mundo. O cristianismo se adaptou demais, e tudo que se adapta se altera para sobreviver, mas será que o verdadeiro cristianismo de Cristo precisaria se adaptar? Jesus disse, “não peço que os tires do mundo, mas que os livres do mal”, esse é o mistério que só a verdadeira igreja de Cristo pode viver, ser pura no meio do impuro, fazer diferença sem se adaptar, ainda que entregando uma maneira única de transformação. 
      Mas muitos se desviaram do verdadeiro cristianismo, ainda nos primeiros séculos, quiseram o mundo e seus valores, seu poder, sua aprovação, e não os valores do Deus altíssimo ensinados pelo Espírito Santo. Assim, para terem o que não precisariam ter, ser o que não precisariam ser, se adaptaram e nisso perderam a autoridade do evangelho puro. Esconderam-se debaixo do manto da autoridade humana, de poderes humanos, que ainda que usassem ícones do verdadeiro cristianismo, passaram a cultuar só a forma, a cruz, a palavra morta, as figuras dos apóstolos, os lugares históricos onde os cristãos primitivos viveram. 
      Contudo, a mentira nunca se basta, precisa de mais e novas mentiras para continuar existindo, assim nasceu e se estabeleceu a Igreja Católica, sobre a qual o protestantismo fez uma reforma, mas ainda mantendo em suas doutrinas muitas das mentiras. O cristianismo primitivo, da primeira igreja, de Pedro, de João, de Paulo, foi esquecido. A autoridade, a diferença e a união, se perderam, ainda que tantos cristãos hoje em dia tentem reivindicar essas virtudes que Cristo disse que seriam as de sua genuína igreja.
      Autoridade espiritual se tem quando se recebe, não de homens, mas de Jesus que a recebeu de Deus, “porque lhes dei as palavras que tu me deste”, disse Cristo. Essa palavra pura é a que salva, cura e pode fazer o que tantos chamam de milagres, contudo, só tem direito a essa palavra quem é de fato diferente do mundo, não diferente de acordo com referências humanas, sejam religiosas, sejam em costumes externos ou culturais. Alienação social pode ser insanidade, não reflexo de uma vida diferente em Cristo, seja como for o diferente em Cristo não é apreciado pelo mundo. 
      Nesse ponto algo precisa ficar bem claro, diferente em Cristo é ser como Cristo era, e Cristo não era odiado por ser escandaloso, inacessível, por dizer o que pensava sempre, para todos, querendo sempre gritar a última palavra como dono da verdade, se mostrando como “santarrão”. Jesus muitas vezes se calava e se retirava, Jesus era acessível e não tinha preconceitos, Jesus andava com pecadores e participava de festas (e bebia vinho, diferente de João batista, Lucas 7.33-34). Jesus era na aparência comum e não fazia nenhuma questão de ser diferente, mas era diferente no coração e nos frutos, por isso tinha autoridade.
      E sobre união? “Que também eles sejam um em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste”? Talvez a característica mais conhecida do cristianismo hoje seja a desunião, quantas denominações, quantas igrejas, quantos ministérios, quantas seitas, quantas cisões, e ainda assim todos dizem ter a autoridade do Espírito Santo. Por que tantas diferenças? Bem, as pessoas são diferentes, fazer caber todas, com diferenças de cultura, de nível financeiro, de nível intelectual, de características emocionais (introvertidas, extrovertidas, centradas), num só lugar, numa só igreja, é de fato impossível. 

      “Porque também o corpo não é um só membro, mas muitos. Se o pé disser: Porque não sou mão, não sou do corpo; não será por isso do corpo? E se a orelha disser: Porque não sou olho não sou do corpo; não será por isso do corpo? Se todo o corpo fosse olho, onde estaria o ouvido? Se todo fosse ouvido, onde estaria o olfato? Mas agora Deus colocou os membros no corpo, cada um deles como quis. E, se todos fossem um só membro, onde estaria o corpo? Assim, pois, há muitos membros, mas um corpo. E o olho não pode dizer à mão: Não tenho necessidade de ti; nem ainda a cabeça aos pés: Não tenho necessidade de vós.I Coríntios 12.14-21

      Contudo, é justamente essa vontade de viver só com quem pensa igual, uma escolha com certeza mais fácil, é que leva as igrejas a serem corpos deformados, monstros, não organismos completos e aptos a viverem bem. Mãos gostam de mãos porque é mais fácil viver com iguais, assim mãos formam uma igreja de mãos, de fato uma igreja especialista, em mãos, mas eu pergunto, um corpo só com mãos pode andar, ou pode andar bem? Não, lhe faltam pés. Mas os pés, por sua vez, fazem a mesma coisa, formam um corpo só de pés, especialista em pés, que podem andar, mas que não conseguem manusear bem as coisas, lhe falta mãos para pegar.
      Assim, temos igrejas com excelentes teólogos, mas que desprezam os dons espirituais e a palavra revelada, temos igrejas cheias de dons, mas que não conhecem com profundidade a palavra escrita na Bíblia, por quê? Porque teólogos protestantes, em muitos casos, não conseguem conviver com os pentecostais, que falam em línguas espirituais estranhas. Organismos completos e unidos? Não, guetos de monstros, corpos desfigurados, desequilibrados, nos quais o Espírito Santo clama com gemidos inexprimíveis e não é ouvido. 
      É importante que entendamos que conviver juntos como um corpo não é só fazer parte da mesma igreja e se respeitar educadamente, é preciso que de fato ideias, doutrinas, atitudes, sejam compartilhadas e inter-relacionadas. Uma mão não funciona sozinha, ela precisa de sangue que vêm do coração, de comandos que vêm do cérebro, e de um braço para ligá-la ao corpo. Espiritualmente entendemos isso tendo teólogos estudando a Bíblia racionalmente, mas atentos às profecias, que são entregues por profetas que buscam aprovação delas pela Bíblia estudada pelos teólogos. 
      Todos têm que ouvir todos e aprender com todos, ainda que tendo cada um chamadas vocacionais, dons espirituais, aptidões humanas, experiências e formações diferentes. Viver como corpo de Cristo, a metáfora perfeita nos ensinada por Paulo sobre a igreja, não é fácil, para ninguém, é preciso temor a Deus e humildade, para se saber que por mais que nos apliquemos em nosso trabalho, o outro também faz o mesmo. Dessa forma ninguém deve se julgar melhor ou maior que o outro, mas todos membros, diferentes, mas importantes, do mesmo corpo cuja cabeça é Cristo. 
      Contudo, além da desunião que prefere viver só com pares, ênfases doutrinárias divergentes, onde mandam as heresias, também dividem igrejas. A prioridade da igreja cristã, dada por Cristo, é uma, salvar gente, pregar o evangelho que muda vidas. Mas quantos batismos a grande maioria das igrejas faz atualmente por mês? Hoje em dia muitas nem têm batistério, mas um grande palco para músicos e pregadores itinerantes, em templos que são mais salas de espetáculos que locais santos onde o Cristo que salva é pregado, são só teatros onde se paga shows com dízimos. 
      A igreja que tem a autoridade dada por Cristo, que é diferente e que é unida, virou só mais uma empresa de homem querendo morder um pedaço do mercado que são os corações de homens que só querem uma religião para se livrarem de culpas e fugirem do diabo. Mal sabem que o diabo está no meio deles, sentado na cadeira ao lado, cantando, batendo palmas, satisfeito por não precisar mais tirar as pessoas dos templos para que se desviem.
      Ter uma igreja com real autoridade de Jesus, a dada a ele pelo próprio Deus, uma igreja de fato diferente de tudo que o mundo e o diabo representam, uma igreja que une todo tipo de ser humano, do intelectual ao de serviço braçal, do hétero ao homoafetivo, do branco ao negro, do pobre ao rico, ter essa igreja que estava no coração de Jesus quando ele fez a oração sacerdotal, só depende de mim e de você. Orar por isso, cobrar isso de líderes e de demais irmãos, não aceitar heresias e manipulações, e acima de tudo, buscar uma vida cristã que dê frutos, de santidade, de libertação, isso, muito mais que dízimos e música, entrega ao Deus altíssimo uma adoração agradável. 

      Igrejas evangélicas atuais e seus pastores pode ser o ponto mais importante que devemos reavaliar, já refletimos bastante sobre isso aqui no “Como o ar que respiro”, seguem links de algumas reflexões:
Esta é a 21ª de 30 partes do estudo
“Reavaliemos nossas crenças”,
se possível leia todo o estudo
para ter o entendimento correto
do “Como o ar que respiro”
sobre o assunto, obrigado.

José Osório de Souza, 13/04/2020