segunda-feira, maio 25, 2020

Reavaliemos Política e Evangelho (25/30)

25. Política e Evangelho

O que o velho testamento fala do povo de Israel e seu governo político?

      “Então todos os anciãos de Israel se congregaram, e vieram a Samuel, a Ramá, E disseram-lhe: Eis que já estás velho, e teus filhos não andam pelos teus caminhos; constitui-nos, pois, agora um rei sobre nós, para que ele nos julgue, como o têm todas as nações. Porém esta palavra pareceu mal aos olhos de Samuel, quando disseram: Dá-nos um rei, para que nos julgue. E Samuel orou ao Senhor. E disse o Senhor a Samuel: Ouve a voz do povo em tudo quanto te dizem, pois não te têm rejeitado a ti, antes a mim me têm rejeitado, para eu não reinar sobre eles. Conforme a todas as obras que fizeram desde o dia em que os tirei do Egito até ao dia de hoje, a mim me deixaram, e a outros deuses serviram, assim também fazem a ti. Agora, pois, ouve à sua voz, porém protesta-lhes solenemente, e declara-lhes qual será o costume do rei que houver de reinar sobre eles.” I Samuel 8.4-9

      A vontade de Deus é clara no antigo testamento, teocracia, o próprio Deus governaria Israel, obviamente através de homens, esse foi o papel dos juízes durante um período aproximado de 410 anos. Além de Moisés e Josué fazem parte da lista de juízes, Otniel, Eúde, Sangar, Débora, Gideão, Tola, Jair, Jefté, Ibsã, Elom, Abdom e Sansão, registrados no livro de Juízes, e Samuel, registrado nos livros de I e II Samuel e I e II Crônicas. Samuel foi um juiz especial, o maior profeta depois de Moisés, um homem importantíssimo na história de Israel, desempenhou tanto as funções de profeta e sacerdote, quanto de líder político.
      Após isso, Israel pede um rei, conforme o sistema político de outras nações, e Deus dá, um rei conforme seus corações rebeldes, Saul. Mas depois Deus dá um novo rei, agora conforme o coração de Deus, Davi da tribo de Judá da qual nasceria o Cristo. Depois de Davi reina seu filho Salomão, que levaria Israel ao seu tempo áureo como nação, contudo, depois dele reinam seus filhos e uma infinidade de reis inconstantes que se afastam e se aproximam de Deus, ora servindo a Deus, ora aos falsos deuses, dividindo as tribos da nação de Israel que nunca mais provaria a grandeza que teve na época de Davi e Salomão. 
      É claro que teocracia era a vontade de Deus para um povo seu debaixo da velha aliança, a Lei de Moisés e o sistema de ofertas e sacrifícios no Templo de Jerusalém, onde tudo era relacionado, religião, política e mesmo orientações de saúde, de higiene, alimentação etc, eram tempos de um homem ainda em desenvolvimento social e espiritual. Para a nação Israel debaixo desse sistema havia deveres, mas também havia direitos, o ser humano, contudo, de qualquer maneira sempre se mostra inviável para ser feliz em harmonia com Deus neste mundo, por isso Jesus foi enviado, o rei eterno, de Israel e da Igreja. 

O que o novo testamento diz sobre a relação de cristãos, convertidos, novos nascidos em Cristo, com a política?

      “É-nos lícito dar tributo a César ou não? E, entendendo ele a sua astúcia, disse-lhes: Por que me tentais? Mostrai-me uma moeda. De quem tem a imagem e a inscrição? E, respondendo eles, disseram: De César. Disse-lhes então: Dai, pois, a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus.” Lucas 20.22-25

      “Admoesto-te, pois, antes de tudo, que se façam deprecações, orações, intercessões, e ações de graças, por todos os homens; Pelos reis, e por todos os que estão em eminência, para que tenhamos uma vida quieta e sossegada, em toda a piedade e honestidade; Porque isto é bom e agradável diante de Deus nosso Salvador, Que quer que todos os homens se salvem, e venham ao conhecimento da verdade.” I Timóteo 2.1-4

      “Ousa algum de vós, tendo algum negócio contra outro, ir a juízo perante os injustos, e não perante os santos? Não sabeis vós que os santos hão de julgar o mundo? Ora, se o mundo deve ser julgado por vós, sois porventura indignos de julgar as coisas mínimas? Não sabeis vós que havemos de julgar os anjos? Quanto mais as coisas pertencentes a esta vida? Então, se tiverdes negócios em juízo, pertencentes a esta vida, pondes para julgá-los os que são de menos estima na igreja?” I Coríntios 6.1-4

      “Não vos prendais a um jugo desigual com os infiéis; porque, que sociedade tem a justiça com a injustiça? E que comunhão tem a luz com as trevas? E que concórdia há entre Cristo e Belial? Ou que parte tem o fiel com o infiel? E que consenso tem o templo de Deus com os ídolos? Porque vós sois o templo do Deus vivente, como Deus disse: Neles habitarei, e entre eles andarei; e eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo. Por isso saí do meio deles, e apartai-vos, diz o Senhor; E não toqueis nada imundo, E eu vos receberei; E eu serei para vós Pai, E vós sereis para mim filhos e filhas, Diz o Senhor Todo-Poderoso.” II Coríntios 6.14-18

      O texto de Lucas se refere diretamente a pagamento de impostos, mas podemos usá-lo para entender com clareza as diferenças das relações e compromissos que podemos ter neste mundo, físicos ou espirituais, políticos ou religiosos, com os homens ou com Deus, e Deus não exime seus filhos de viverem neste mundo debaixo de leis físicas, políticas e humanas. O texto de I Timóteo nos orienta sobre o respeito que devemos ter com lideranças deste mundo, sejam na área profissional ou política, elas não devem ser desprezadas, mas protegidas por nós em oração, ainda que não sejam cristãs. Se todos os seres humanos precisam ser salvos, muitos mais os líderes, cujas diretrizes influenciam um número muito maior de pessoas, sejam ou não cristãs.
      As duas passagens de Paulo escrevendo aos coríntios precisam de um pouco mais de reflexão, mas penso que elas são importantes para entendemos as orientações bíblicas sobre a relação de cristãos com o mundo no tocante às leis e mesmo à política. Em primeiro lugar, usando ainda o texto de Lucas, “dai a César o que é de César”, desobediências às leis de homens, sejam civis, criminais, fiscais, devem ser tratadas com os homens. Nenhum cristão queira se esconder atrás de sua fé para fugir às consequências de seus atos, ainda que Deus o perdoe e lhe dê paz, cristão não é isento de pagar suas dívidas com as leis, ainda que em paz com Deus e que isso não o prejudique na eternidade.
      Contudo, Paulo se refere a outra coisa em I Coríntios 6, ele fala de problemas entre irmãos em Cristo e que, porventura, ainda não tenham ido para os tribunais humanos. Se esses problemas forem resolvidos só entre irmãos, e o mais rapidamente possível, escandalizará menos o evangelho, mas isso, repito, se a justiça dos homens ainda não tiver sido acionada. Isso é possível, “roupa suja ser lavada em casa”, se for uma questão entre cristãos, possível e recomendado. Essa passagem mostra o nível moral e ético que um cristão deve ter, que o coloca numa posição espiritual superior a de não cristãos, nível que lhe confere direitos? Sim, mas também deveres. 
      É baseado nessa qualidade moral, ética, social e espiritual, que um cristão genuíno tem (ou deveria ter), que podemos interpretar a Bíblia como orientando que o cristão não precisa se envolver com política, além do dever cívico de ir à sua zona eleitoral e votar, fazendo a melhor e mais consciente escolha. O texto de II Coríntios 6 vai mais a fundo sobre essa diferença quando questiona, “que comunhão tem a luz com as trevas?”. Se o sistema político, câmaras de vereadores, de deputados, de senadores, se cargos de prefeitos, governadores e presidentes, fossem de fato limpos, talvez o cristão pudesse se envolver sem se sujar, mas isso é impossível, não num mundo físico onde o próprio Deus dá livre arbítrio aos homens e onde os sistemas políticos existem para administrar esses homens, que fizeram escolhas morais, espirituais e sociais diferentes. 

O que muitos cristãos hoje em dia dizem sobre política?

      Não, cristão não deve se envolver com cargos políticos, principalmente se forem cristãos com cargos e funções dentro de igrejas. Se forem cristãos sem envolvimentos em ministérios, é menos ruim, pois escandalizam o evangelho em menor instância, contudo, o que ocorre é justamente o contrário. Ditos “evangélicos” com cargos, pastores, missionários, bispos, presbíteros, diáconos, pregadores (e como tem “evangélico” que adora título), são os que mais participam de eleições e mantém cargos políticos, usando justamente seus títulos para se elegerem, para convencerem uma grande maioria de crentes mal informados e imaturos, que eles têm legitimidade espiritual para exercerem tais cargos, quanto equívoco. Pior que isso, acumulam cargos, muitas vezes de pastores e de vereadores, por exemplo, para ganharem salário dobrado.
      Será que um pastor vereador merece ganhar como pastor em tempo integral, ou será que tem tempo para trabalhar como pastor sendo também vereador? Reavaliemos isso, nos revoltemos com isso, digamos não a isso, isso não é correto nem bonito, ainda que ter um cargo político possa acariciar o ego de muitos líderes evangélicos que querem ser, sem estudar e trabalhar por isso do jeito certo. Pastores e outros líderes, querem influenciar mais e melhor a sociedade? Preparem-se, façam uma boa faculdade (não qualquer uma, dessa “pagou passou”), adquiram conhecimento intelectual sério, sejam bons professores de Bíblia e de muito mais, revolucionem pela educação, imaginem só se a educação fosse ocupada por cristãos genuínos, fariam muito mais diferença no mundo que políticos.
      Um argumento muito usado por muitos cristãos que almejam cargos políticos, e concordo que muitos usam esse argumento até com boa sinceridade, ainda que com imaturidade, é que se os cristãos não ocuparem os cargos a política não melhorará, nunca será purificada. O primeiro engano que esses cometem é achar que é possível o céu, com luz moral e espiritual, no mundo, isso vai contra muitos ensinos bíblicos. “Sabemos que somos de Deus, e que todo o mundo está no maligno.”, ou o mundo jaz no maligno (I João 5.19), ponto! E a política jaz no íntimo do pior do maligno, porque ela mexe com o poder que domina o mundo, maior ainda que o dinheiro ou prazeres carnais, as pessoas fazem tudo para terem poder político e muito mais para se manterem nesse poder.

      “Não erreis: Deus não se deixa escarnecer; porque tudo o que o homem semear, isso também ceifará.” Gálatas 6.7

      Não posso deixar de falar sobre o fato de termos no momento um presidente da república apoiado por uma grande maioria de evangélicos, incluindo altas lideranças cristãs. Em primeiro lugar nem sabemos ao certo se a pessoa é de fato evangélica (talvez isso seja até melhor), esse presidente escolheu um bom ministério e está tentando fazer um governo sem “rabo preso” com “toma lá dá cá”, sem corrupção e venda de cargos? Aparentemente sim, e grande parte de seus ministros é de técnicos e pessoas idôneas. Mas tenhamos cuidado, não nos iludamos, não façamos com ele o que a ideologia política oposta e opositora a esse governo faz com seu maior líder, adorar homem. Esse presidente é honesto e o líder opositor é desonesto? Parece que sim, mas ainda assim, irmãos e irmãs, tenhamos cautela.
      O tal homem ocupa uma posição que não pode agradar só a cristãos, uma posição que precisa governar para todos, não para uma parte, ainda que ele esteja sendo fiel com suas promessas eleitorais e esteja tentando agradar ao seu eleitorado, ao meu ver de forma exagerada visto que não está mais em palanque eleitoral, está incentivando, dia a dia, uma situação beligerante e perigosa. Ele e seus filhos dizem coisas erradas todo o dia, ofendendo, provocando, enfim, agindo de uma maneira tanto desnecessária pela qualidade do governo que faz com seus ministros, quando inadequada pelo perfil que ele diz ter como alguém que respeita a tradição judaica-cristã, a família etc. Eu temo por esse presidente, pela vida dele, mas temo muito mais por uma igreja cristã evangélica que está colocando sua confiança em homem, e num homem estúpido e amargo. 

Esta é a 25ª de 30 partes do estudo
“Reavaliemos nossas crenças”,
se possível leia todo o estudo
para ter o entendimento correto
do “Como o ar que respiro”
sobre o assunto, obrigado.

José Osório de Souza, 13/04/2020

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