sexta-feira, maio 22, 2020

Reavaliemos Pastores (22/30)

22. Pastores

      Nesta reflexão, reavaliemos os pastores, não poderia deixar passar esse estudo sem pensar sobre eles, líderes das igrejas que tanto reavaliamos nessa série de reflexões, os maiores responsáveis pelo que o cristianismo representa no mundo hoje. Bem, o “Como o ar que respiro” já fez muitas reflexões sobre o assunto, mas desta vez senti que seria mais construtivo, ao invés de listar defeitos de muitos, estudar as virtudes de um, Paulo, o teólogo-apóstolo-missionário-evangelista e pastor. Depois do próprio Cristo, Paulo é nosso melhor exemplo sobre o que deve ser um pastor de acordo com o coração de Deus. Para isso vários textos me vieram à mente, principalmente aqueles que Paulo dá orientações diretas a pastores. 
      O capítulo 18 do livro de Atos dos Apóstolos (se possível leia-o na íntegra), por exemplo, relata a vida corrida de Paulo atrás de um único objetivo, pregar a palavra de Deus. Nessa passagem nos é informado que Paulo tinha um ofício secular, fazia tendas, outro exemplo da qualidade de homem de Deus que era, ainda que missionário em tempo integral não queria pesar para os outros, financeiramente (Atos 18.3). Contudo, o texto que ficou em meu coração são treze versículos de II Timóteo 4, uma verdadeira carta de despedida do apóstolo, que revela a humanidade desse excepcional homem de Deus, um registro não só do que ele orienta a outros fazerem, mas que revela como ele era, o que sentia, o que fazia. 
      Dizem que o estudo bíblico mais técnico é o que é feito seguindo os fundamentos da exegese, sim, somos gratos a homens estudiosos que usam princípios científicos para nos esclarecerem a Bíblia, que conhecem com profundidade história, geografia, línguas antigas etc, e nos permitem saber de detalhes que uma leitura mais leiga não permitiria. Contudo, será que o Espírito Santo inspirou homens a escreverem os livros bíblicos para que só os teólogos conseguissem entender? Não. A Bíblia foi escrita para que mesmo uma leitura descompromissada com princípios de hermenêutica pudesse abençoar qualquer um. A Bíblia original não é comentada, o Espírito Santo e um pouco de sensatez bastam para qualquer um entendê-la. 
      Darei, todavia, alguns dados históricos sobre a segunda carta de Paulo a Timóteo: Paulo escreveu em Roma, estando em sua segunda prisão aguardando sua execução, provavelmente em 64 d.C., Timóteo estaria em Éfeso e viria a Roma. Apesar de Paulo ser um fundador itinerante de igrejas, não um pastor fixo numa congregação, numa cidade, as orientações que ele dá nas epístolas são ensinos pastorais, visam a vida diária das ovelhas nas igrejas e no mundo, e alertam bastante sobre ensinos errados do evangelho. As duas cartas a Timóteo e a carta a Tito são especialmente chamadas de cartas pastorais pois dão orientações, não a grupos de pessoas, como as demais de Paulo, mas a líderes com responsabilidades pastorais.

      “Porque eu já estou sendo oferecido por aspersão de sacrifício, e o tempo da minha partida está próximo. Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé. Desde agora, a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, justo juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos os que amarem a sua vinda.II Timóteo 4.6-8

      Para um homem que fez tanto pelo evangelho, deveria haver nele desejo de ter alguma recompensa, mas a conclusão de Paulo ao sentir que sua carreira estava terminando é, “estou sendo oferecido por aspersão de sacrifício”. Que diferença de tantos pastores que com quarenta e poucos anos se acham no direito de terem uma vida mais tranquila financeiramente, uma casa boa, um carro mais caro, um salário alto, direito de fazerem boas viagens de férias, enfim, direitos de colherem neste mundo frutos materiais. Do quê? De uma obra que deveria ser puramente espiritual, pastoreio de ovelhas, pregação do evangelho que salva e cura almas.
      Paulo chegou ao final de seu combate com a fé guardada, não vendida, não adaptada ao mundo, não desviada da pura doutrina de Cristo. Paulo só via a coroa da justiça que receberia no céu, não queria outra coisa, não almejava mais nada. Um homem sem ilusões? Sim. Sem bens? Sim. Mas em paz por saber que fez o que Deus queria que ele fizesse. Paulo, não “bispos”, não “donos de ministérios poderosos”, não “pastores com posicionamentos políticos”, mas alguém que obedeceu a Deus até o fim, esse sim é alguém que devemos “invejar” (usando a melhor interpretação dessa palavra), alguém que devemos ter como modelo, alguém a ser imitado. 

      “Procura vir ter comigo depressa, Porque Demas me desamparou, amando o presente século, e foi para Tessalônica, Crescente para Galácia, Tito para Dalmácia. Só Lucas está comigo. Toma Marcos, e traze-o contigo, porque me é muito útil para o ministério. Também enviei Tíquico a Éfeso.” “Alexandre, o latoeiro, causou-me muitos males; o Senhor lhe pague segundo as suas obras. Tu, guarda-te também dele, porque resistiu muito às nossas palavras. Ninguém me assistiu na minha primeira defesa, antes todos me desampararam. Que isto lhes não seja imputado.” II Timóteo 4.9-12, 14-16

      Paulo era um ser humano e precisava de seres humanos para realizar a obra de Deus, bem, todos que precisam, de alguma maneira, de seres humanos, padecerão decepções, Paulo não foi isentado disso. Paulo abre o coração para Timóteo, reclama de alguns que o abandonaram, solicita que o discípulo venha o quanto antes vê-lo. Paulo está preso aguardando a morte, mas seu coração vive o evangelho. Atualmente, somos ensinados de púlpito por muitos pregadores, que buscam referência para espiritualidade em anulação emocional, um princípio tão católico, e que postam-se, ainda que muitos com sinceridade, como super-homens, que estão bem com todos e não se importam com os que lhes fazem mal. Isso só gera hipocrisia, e achando-se curados muitos nem buscam cura.
      Paulo dá nome aos bois, “Demas me desamparou, amando o presente século”, “Alexandre, o latoeiro, causou-me muitos males”, “ninguém me assistiu na minha primeira defesa”, parece que só Lucas estava com ele naquele terrível momento. De fato, quando estamos no alto da aprovação pública, muitos nos acompanham, mas quando as injustiças do mundo nos aprisionam e tentam nos matar, muitos nos abandonam, chegam mesmo a dar razão aos injustos por nos fazerem mal, mentindo dizem que se estamos sofrendo é porque merecemos, ainda que nunca tenham se aproximado de nós para saberem de fato a verdade, ou ao menos a noção versão. Não sabemos o certo de porque tantos deixaram Paulo só, mas ele demonstra claramente que sofria com isso.

      “Mas o Senhor assistiu-me e fortaleceu-me, para que por mim fosse cumprida a pregação, e todos os gentios a ouvissem; e fiquei livre da boca do leão. E o Senhor me livrará de toda a má obra, e guardar-me-á para o seu reino celestial; a quem seja glória para todo o sempre. Amém.II Timóteo 4.17-18

      Deus nunca nos abandona! Nunca!! Mas isso é para os que sabem que a companhia de Deus basta, já que para muitos, ainda que Jesus esteja ao lado deles, eles se desesperam, se fazem de vítimas, culpam os homens. Quem odeia demais é porque buscou amor demais nas pessoas erradas, o amor se transforma em ódio com facilidade. Só se desilude quem se ilude, mas quem tem os olhos firmes em Deus, aprendeu que ele tem o principal para que estejamos em paz sempre, em qualquer situação. Paulo sabia disso, estava preparado para seu fim, o fim de um genuíno seguidor de Cristo. Muitos conseguem trilhar um longo caminho com Deus, mas quando chegam no final, na última prova, desistem, negam tudo, e deixam de conhecer o melhor de Deus. 
      O objetivo de Deus é sempre se mostrar através de nossas vidas, muitas vezes ele faz isso nos dando vitória e livramento, mas nosso maior testemunho de Deus pode pedir de nós um grande sacrifício, de Jesus foi a crucificação, de Paulo a condenação à prisão e à morte. Estamos preparados para obedecer a Deus até as piores consequências? De verdade? Cuidado, não nos iludamos com este mundo, mas não nos iludamos com um falso evangelho tão pregado atualmente, que ensina que Deus sempre dá o melhor para seus filhos neste mundo em todas as circunstâncias. Sim, eu creio que ainda que condenado à morte de alguma maneira Deus livrou Paulo de uma morte pior, de alguma maneira Deus deu forças a ele para passar por aquilo com dignidade. 

      “Quando vieres, traze a capa que deixei em Trôade, em casa de Carpo, e os livros, principalmente os pergaminhos.” II Timóteo 4.13

      A Bíblia não especifica como Paulo morreu, há outros relatos de que ele teria sido decaptado e não crucificado de cabeça para baixo como Pedro, teria recebido um tratamento “melhor” por causa de sua cidadania romana. Final trágico para um homem tão importante? Pois é, isso é a realidade do verdadeiro evangelho, não a posição de imperador em meio a luxos que têm papas do Vaticano, nem a prosperidade material que tantos donos de ministérios evangélicos têm ou gostariam muito de ter atualmente. Que bens Paulo queria perto de si em seus últimos dias? O versículo 13 de II Timóteo 4 fala a respeito, que eu deixei por último porque para mim é um dos registros mais lindos e reveladores da Bíblia.
      Livros, registros de outros autores pelos quais Paulo tinha alguma afeição? (Uma versão do Antigo Testamento?). Pergaminhos, anotações feitas por ele? (Ou outros textos como dicionários?) Não sabemos, mas eram importantes para ele. Mas tinha um peça de roupa, uma capa (alguns estudiosos dizem que podia ser uma capa de livro), lembrando que Atos 16.8-11 registra que Paulo saiu meio às pressas de Trôade. Se for uma roupa podemos achar justificação no fato de Paulo poder estar preso num cárcere úmido e frio. Sejam o que forem, são poucos bens, poucas necessidades, simples urgências do plano físico para um homem que viveu a espiritualidade cristã em seu nível mais alto, o verdadeiro pai da igreja cristã.

Esta é a 22ª de 30 partes do estudo
“Reavaliemos nossas crenças”,
se possível leia todo o estudo
para ter o entendimento correto
do “Como o ar que respiro”
sobre o assunto, obrigado.

José Osório de Souza, 13/04/2020

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