sábado, outubro 24, 2020

24. Espiritualidade gera santidade, humildade e amor

Espiritualidade Cristã (parte 24/64)

      Uma experiência marcante com o Espírito Santo sempre gera em nós três coisas: santidade, humildade e amor. Se uma dessas coisas faltar, não é o Espírito de Deus quem agiu, não em sua plenitude. Essas virtudes abrangem todas as nossas relações, a santidade nos permite agradar a Deus, a humildade nos permite aceitar a nós mesmos e o amor nos permite respeitar os outros. Só o Espírito Santo de Deus habitando o espírito dos salvos através do perdão exclusivo e completo de Cristo, pode colocar o homem no mais alto nível espiritual, limpando sua alma e curando seu corpo. Precisamos entender isso e não aceitar falsificações de experiências espirituais, feitas por muitos que podem estar provando outras coisas, mas não de fato a unção do Espírito Santo de Deus. 
      Santidade é a primeira coisa que nossa alma sente como prioridade quando temos de fato um encontro com Deus, uma passagem bíblica que bem exemplifica isso é a do profeta Isaías, “No ano em que morreu o rei Uzias, eu vi também ao Senhor assentado sobre um alto e sublime trono; e o seu séquito enchia o templo. Serafins estavam por cima dele; cada um tinha seis asas; com duas cobriam os seus rostos, e com duas cobriam os seus pés, e com duas voavam. E clamavam uns aos outros, dizendo: Santo, Santo, Santo é o Senhor dos Exércitos; toda a terra está cheia da sua glória. E os umbrais das portas se moveram à voz do que clamava, e a casa se encheu de fumaça. Então disse eu: Ai de mim! Pois estou perdido; porque sou um homem de lábios impuros, e habito no meio de um povo de impuros lábios; os meus olhos viram o Rei, o Senhor dos Exércitos.” (Isaías 6.1-5). 
      “Então disse eu, aí de mim”, essa é a reação de quem de fato se aproxima de Deus, esse sente medo, não por por recear algo mal, moralmente reprovável ou violento, mas por sentir-se indigno, como se fosse colocado diante de alguém famoso, rico, poderoso, mas com vestes inapropriadas, sem banho, com cabelos desarrumados, com a barba por fazer, ou se for mulher, sem maquiagem ou unhas feitas. Deus é muito mais nobre, poderoso e limpo que qualquer homem ou ser espiritual, assim o sentimento honesto de quem se aproxima dele é temor por se achar indigno, despreparado, em pecado. Hoje temos o sangue de Cristo que nos purifica de todo pecado, mas ainda assim muitos não se apossam disso e ousam tentar entrar na presença do Senhor de qualquer jeito, e muitas vezes só para impressionar os outros, para dizerem que entraram mesmo não sendo verdade.
      Humildade é o segundo efeito de quem encontra Deus, porque quando olhamos para Deus nos vemos e quando nos vemos de verdade, sem máscaras ou filtros, entendemos o quanto somos fracos, imperfeitos, dependentes da misericórdia do Senhor, necessitados de mudanças, de melhoras. Quando nos vemos como somos olhamos os outros diferentemente, não exigimos desses o que nem nós somos. A humildade nos leva a agir de uma outra forma com as pessoas, mas antes disso, ela nos dá paz, pois com ela podemos nos aceitar, sem exigir de nós o que não somos ou podemos, e amando nossas verdades pessoais sem vaidades. Só o humilde se aceita, se gosta, tem paz e pode então se relacionar melhor com os outros, essa é a verdadeira humildade que nasce só de um real encontro com Deus, onde nos humilhamos e clamamos por misericórdia e perdão.
      “O Senhor eleva os humildes, e abate os ímpios até à terra“ (Salmos 147.6), humildade é um dos grandes mistérios espirituais, pois algo que a princípio pode parece que nos diminui no final acaba nos engrandecendo, isso porque abrimos mãos da referência errada e confiamos na referência certa. A errada é a do homem, nós mesmos ou os outros, o humilde abre mão de ser honrado pelo outros sendo aquilo que ele acha que vai agradar os outros ou a si mesmo. A referência certa é a referência de Deus, quando paramos de nos importar com o que os homens acham que é importante Deus nos revela o que é importante para ele, e nessa experiência nos sentimos muito bem, satisfeitos, úteis, completos, em paz, num orgulho pessoal que não sente necessidade de mostrar aos outros, mas que se sente feliz só por saber que Deus sabe e se importa. 
      A terceira experiência que temos quando vivenciamos um real encontro com Deus é o amor. Se pela santidade nos equalizamos com Deus e com a humildade nos aprumamos com nós mesmos, podemos, então, ver os outros como são e tratá-los como Deus quer os tratemos. Amor é dar ao outro o mesmo direito que queremos para nós, mas não de um jeito frio, como se fosse só obedecendo cegamente uma lei. O verdadeiro amor compungi-nos, move nossas estranhas, toca profundamente nossos sentimentos, nos faz querer abraçar alguém, física e emocionalmente, e assim, enternecidos, queremos que a pessoa seja honrada, ainda que isso signifique que nós não seremos. O amor não espera recompensa, se sacrifica em silêncio e entrega nas mãos de Deus, esperando dele e somente dele qualquer espécie de retorno, só após um encontro profundo com o Espírito Santo conseguimos amar. 
      “Então foram Elifaz, o temanita, e Bildade, o suíta, e Zofar, o naamatita, e fizeram como o Senhor lhes dissera; e o Senhor aceitou a face de JóE o Senhor virou o cativeiro de Jó, quando orava pelos seus amigos; e o Senhor acrescentou, em dobro, a tudo quanto Jó antes possuía“ (Jó 42.9-10), essa passagem de Jó é um dos registros mais reveladores sobre o amor na Bíblia, mostra o amor na prática, demonstrado por quem não podia fazer outra coisa a não ser amar, e que precisava receber nada melhor que amor sincero. Os “amigos” de Jó foram punidos por Deus por terem falado a Jó sobre Deus com uma falsa sabedoria, aquela que até usa Deus e sua palavra como argumentos, mas que por não ser em amor julga e condena. Contudo, ainda assim, aquele que vivia uma provação enorme de Deus, que tinha sofrido muito e perdido tudo, se deu ao trabalho de orar por falsos amigos. 
       Quem se lembra de amigos falsos quando está lá no fundo do poço? E muitas vezes depois que saímos do fundo ainda tentamos nos vingar dos que foram cruéis conosco, ainda que seja só com um desprezo discreto. Mas Jó orou, pois bem, Deus não só ouviu a oração como “mudou a sorte de Jó”, e não só o levantou, mas com honra dobrada em relação a tudo que ele tinha perdido. Contudo, tem algo que passa quase que desapercebido no último capítulo do livro de Jó, no final do versículo 9, “fizeram como o Senhor lhes dissera e o Senhor aceitou a face de Jó”, não podemos dizer com certeza se uma coisa tem relação direta com a outra. Contudo, será que podemos interpretar que o Senhor aceitou a face de Jó só depois que seus amigos ofereceram a Deus sacrifícios por seus pecados? Em seguida, aceito por Deus, Jó ora pelos amigos e o Senhor concretiza a bênção. 
      Se interpretarmos dessa maneira, parece-nos que a bênção de um vem pelo esclarecimento dos outros, e vice-versa, Jó é abençoado quando seus amigos se arrependem e seus amigos são abençoados quando Jó ora por eles. Somos muito materialistas, gostamos de interpretar a bênção maior que Jó teve com a provação que passou, como a multiplicação de seus bens, nos esquecemos da bênção maior, a “iluminação” que tanto ele como seus amigos tiveram com a experiência Essa “iluminação” proporcionou-lhes uma visão mais clara do porquê estarmos neste mundo, uma experiência que os tornou mais preparados, e mais que para viver no plano físico, para habitar a eternidade espiritual com Deus. Jó não só ficou mais rico, mas com certeza mais santo, mais humilde e mais amoroso, assim como seus amigos, esse é o propósito maior de Deus em todas as provações que permite que passemos. 
      Quando temos de fato um encontro com Deus essas três experiências transbordam de nossos corações, desejo de ser santo, humildade não fingida e amor sem concessões, quem não demonstrar isso depois de ter alguma experiência espiritual precisa rever suas referências de experiência espiritual, seu entendimento sobre dons do Espírito. Uma experiência profunda com e no Espírito Santo mexe com nossas emoções, mas é muito mais que isso, mexe com nosso espírito, e isso nos coloca num nível espiritual diferenciado, nos dá uma convicção mental, um esclarecimento intelectual que transcende o emocional. Uma experiência com o Santo Espírito não deixa nossos corpos “sem controle”, como acontece em experiências com espíritos ”estranhos”, somos curados psicológica e fisicamente quando temos uma experiência verdadeira, ela nos coloca de fato mais perto de Deus e de sua espiritualidade mais elevada. 

“Espiritualidade Cristã”
é um estudo dividido em 64 partes,
por favor, se possível, leia todas as reflexões 
para melhor entendimento do assunto abordado.
José Osório de Souza, 30/09/2020.

sexta-feira, outubro 23, 2020

23. O que Deus tem e o que não tem para nós

Espiritualidade Cristã (parte 23/64)

      “Pois tu és a minha esperança, Senhor Deus; tu és a minha confiança desde a minha mocidade. Por ti tenho sido sustentado desde o ventre; tu és aquele que me tiraste das entranhas de minha mãe; o meu louvor será para ti constantemente. Sou como um prodígio para muitos, mas tu és o meu refúgio forte. Encha-se a minha boca do teu louvor e da tua glória todo o dia. Não me rejeites no tempo da velhice; não me desampares, quando se for acabando a minha força.” Salmos 71.5-9

      Ser espiritual é aceitar a espiritualidade de Deus, onde ela começa e onde ela termina para cada um de nós, assim, temos que aprender a ser felizes com o que o Senhor tem para nós e estarmos em paz com o que o Senhor não tem para nós. Eis o segredo de uma alma tranquila e de um corpo curado, satisfeitos em viver o plano de Deus. Para isso é preciso buscar a Deus com todo o coração para saber qual de fato é a sua vontade para as nossas vidas, seja na área afetiva, isso é na família, na área profissional, em nossa formação acadêmica e em orientação de emprego secular, ou na área ministerial, em nossas atividades dentro de igrejas. Somos corpo, alma e espírito, Deus nos fez assim e quer nos usar nessas três áreas no plano físico.
      É importante que se entenda que sob a ótica de Deus nenhuma dessas áreas tem prioridade sobre as outras, nossa missão maior neste mundo compreende as três áreas, ainda que a quantia de tempo que se possa usar para cada área possa variar de pessoa para pessoa, conforme o plano de Deus. Como já tantas vezes tenho dito aqui, o que trabalha mais em serviços ligados a uma igreja local não é mais espiritual que o que trabalha no mundo, o que leciona na E.B.D. não é mais espiritual que o que leciona numa escola pública ou particular, nem o que toca um instrumento em cultos não é mais espiritual que o que toca em festas e cerimônias, desde que faça debaixo do temor de Deus e para a glória dele.
      Depois que descobrimos o que Deus quer de nós, de verdade, sem ilusões ou medos, sejamos feliz nisso, não invejando o que Deus tem para os outros nem sendo relapsos com nossas responsabilidades, é claro, com equilíbrio, não idolatrando nada ainda que seja algo separado por Deus para nós. Quem idolatra, até coisas legítimas que são permitidas por Deus, amará mais as coisas e a si, e menos as pessoas e a Deus, nada deve ser idolatrado, nem serviços puramente espirituais. Muitos não são felizes com o que fazem para Deus porque não se descobriram em Deus, assim não têm uma visão correta do que são e do que podem fazer, ou acham que fazem demais, ou acham que fazem menos que deveriam.
      Se olhar por inteiro e se aceitar só é possível quando nos olhamos em Deus, Deus é o espelho, que nos revela à medida que andamos com ele, falamos com ele em oração, observamos a vida e verificamos os frutos, medindo até onde podemos ir sem pecar, ou o que precisamos fazer para não pecar. Se conhecer, contudo, não é uma tarefa rápida, levamos a vida inteira para isso, só o tempo para nos mostrar quem de fato somos, e se conhecer e se aceitar está diretamente ligado a ser feliz. Só achamos felicidade quando entendemos com humildade qual é nossa missão nessa vida, infelizmente podemos descobrir isso só na velhice, é mais que entender, é aceitar e aceitar do jeito certo. 
      Muitos acham que estão se esforçando em Deus para fazer mais e serem melhores, mas na verdade só estão lutando contra a vontade de Deus, e quando isso acontece nos violentamos e levamos infelicidade principalmente para aqueles próximos a nós. Muitos não entendem que menos pode ser mais quando é tudo no Senhor, aquele que faz a ferramenta é o que sabe a maneira mais eficiente de usá-la e Deus nos constrói por toda uma existência. É realmente feliz o que faz o que Deus quer ele faça, mas são necessários limites para saber e ter paz naquilo que não devemos fazer. Você sabe exatamente aquilo que Deus não quer que você faça? Sim, tem esse outro lado, saber o sim e aceitar o não.

      “Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? e em teu nome não expulsamos demônios? e em teu nome não fizemos muitas maravilhas? E então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniqüidade. Todo aquele, pois, que escuta estas minhas palavras, e as pratica, assemelha-lo-ei ao homem prudente, que edificou a sua casa sobre a rocha; E desceu a chuva, e correram rios, e assopraram ventos, e combateram aquela casa, e não caiu, porque estava edificada sobre a rocha.” Mateus 7.21-25

      Não entendamos aquilo que Deus não quer que façamos como coisas erradas, mas como coisas que mesmo que a princípio sejam certas, podem ser tornar más, por não serem a vontade de Deus para nós, e por fazermos na desobediência. Não basta ao cristão ter fé e força de vontade, é preciso comando de Deus, e muitos hoje em dia fazem um monte de coisas por fé e com força de vontade, contudo, sem comando de Deus. Isso inicialmente pode até funcionar, pode colaborar para que o evangelho seja pregado, e creia, mesmo esses equívocos Deus usa, principalmente quando não tem outro jeito. Mas em algum momento pode escandalizar o evangelho e prejudicar muito a obra de Deus. 
      Mesmo o bem, sem ordem de Deus, é mal. Por quê? Porque o que prega, mesmo uma visão da palavra do Senhor, mas sem ordem dele para isso, não conseguirá viver o que prega, não da maneira certa, a maneira de Deus. Assim esse tropeçará nas palavras e poderá escandalizar aqueles que creram em sua pregação. Preciso repetir Mateus 7, ele é citado com frequência no “Como o ar que respiro”, mas é porque ele é muito relevante para entendermos o falso evangelho que se prega atualmente. Dessa vez quero chamar a atenção para a segunda parte do texto, a que diz, “o que escuta estas minhas palavras e as pratica”. Por que ela segue na passagem a exortação sobre os falsos cristãos? 
      Porque os falsos até falam a verdade, mas não conseguem praticá-la, isso acontece porque não aceitam o não de Deus, não são humildes o suficiente para terem paz naquilo que não é para eles, e que eles desejam fazer, não para obedecer e louvar a Deus, mas por vaidade e ganância. Não, meus queridos, o verdadeiro evangelho é simples, mas “não” é fácil, justamente porque é simples, e muitos não aceitando essa simplicidade complicam as coisas para as próprias perdições. É simples porque não exige de nós mais do que somos de verdade, mas não é fácil porque precisamos entender e aceitar o que somos de verdade, somos porque Deus nos fez assim e nos fez assim para cumprirmos uma missão.
      Feliz com o que devemos fazer e em paz com o que não temos que fazer, simples assim, isso é ser prudente, é construir casa sobre rocha. Ah, meus queridos, muitos caem e são humilhados porque não acatam a vontade de Deus, querem ser o que não são e terem o que não estão preparados para ter, e ainda que trabalhem muito e sejam bons cidadãos, não têm humildade espiritual para acatar a orientação do pai que nos conhece e sabe o que é melhor para nós. Deus só quer que sejamos felizes e tenhamos paz, assim ouçamos sua voz mansa de pai, obedeçamos sua vontade. A tempestade se levanta contra todos, já está ocorrendo uma e bem forte, só sobre a rocha nos manteremos de pé até o fim. 
      Esta reflexão nos leva muito mais adiante, a entender o que é espiritualidade, o que é ser espiritual, como e quando devemos ser. Muitos ainda aliam espiritualidade as quatro paredes de templos religiosos, tanto para serem espirituais só dentro dos templos, quanto para levarem ao mundo certos conhecimentos que deveriam ser restritos as quatro paredes. “Então temos que ser diferentes, de um jeito dentro da igreja, e fora de outro?“ Não, não é isso. Primeiro ponto: Deus quer que sejamos o nosso melhor sempre e em todos os lugares. Segundo ponto: o efeito disso diante de todos são obras de justiça feitas em amor, não só palavras. Ponto três: falar disso com mais profundidade, contudo, só para quem Deus orienta.
      O equilíbrio que nos traz a felicidade do que Deus tem para nós e a paz com o que ele não tem, nos permite ser espirituais o tempo todo, não atores em púlpitos que tentam ser os que não são, ou frustrados em bares que não aceitam o que são. Esse equilíbrio também nos leva a respeitar limites, falar o que devemos no lugar melhor, e finalmente nos livra da hipocrisia, de pregar algo que não vivemos. Enfim, só entendendo nossa chamada podemos ser espirituais, para Deus, para nós mesmos, e para as pessoas que realmente interessam e o Senhor quer abençoar através de nossas vidas. Eu estou feliz e tenho paz? Pois se não sou feliz e não tenho paz ainda não entendi o que é ser cristão e muito menos sou espiritual.

      “Tenho-vos dito isto, para que o meu gozo permaneça em vós, e o vosso gozo seja completo.” João 15.11

“Espiritualidade Cristã”
é um estudo dividido em 64 partes,
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José Osório de Souza, 30/09/2020.

quinta-feira, outubro 22, 2020

22. Espiritualidade é obedecer a vocação maior

Espiritualidade Cristã (parte 22/64)

      “Portanto, irmãos, procurai fazer cada vez mais firme a vossa vocação e eleição; porque, fazendo isto, nunca jamais tropeçareis. Porque assim vos será amplamente concedida a entrada no reino eterno de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.II Pedro 1.10-11

      A palavra vocação significa qualquer aptidão, gosto natural, disposição, talentos, chamamento de alguém para exercer certa função obrigatória ou para a posse de um direito. Como seres humanos temos aptidões naturais, que nos ajudam no exercício de uma profissão mais eficiente, como cristãos podemos receber dons espirituais, que nos ajudam a ter uma vida pessoal vitoriosa e a exercer um ministério mais profícuo, contudo, o sentido que Pedro deu no texto inicial à palavra pode ser algo que vá além disso. Qual a nossa principal vocação como seres eternos no universo? É voltarmos ao Altíssimo, contudo, neste mundo somos identidades diferentes e como tais cada um de nós chega a Deus e o agrada de uma maneira específica.
      Se você não consegue mostrar seu melhor falando, fique quieto, nem todos são chamados para falar, e não existe nenhum desmérito nisso. Como é difícil para muitos com essa vocação entenderem isso, e quando dizemos que alguns devem se calar nem é porque não falam bem ou não tenham coisas legítimas para dizer. Nesse caso, contudo, não nos referimos ao conteúdo, mas à forma, e para fazermos algo bem devemos saber o que fazer e como fazer, se soubermos o que dizer mas não dissermos do jeito certo, é melhor não falarmos. O jeito certo de fazer, para desempenhar qualquer função ou missão, é com amor. O amor tem paciência com os que sabem menos e humildade com os que sabem mais, no amor todos somos alunos. 
      Se você recebeu uma ordem da vida, cumpra-a, não alegue limitações, mas trabalhe nos aperfeiçoamentos, somos seres em constantes construções. Ninguém nasce pronto e também não estará pronto no final, assim quem espera melhorar para fazer algo, nunca fará, isso não é fazer de qualquer jeito nem ser irresponsável, mas ser diligente e simples. Aliás, as pessoas que mais mudam o mundo de forma positiva acham satisfação na simplicidade, ainda que sejam inteligentes e competentes acima da média, são simples para começar e terminar algo, sem melindres ou vaidades. Quem tem medo de errar nunca acertará, e podem ser necessários muitos erros, até que se descubra porque se veio ao mundo para então se fazer algo original.
      Por outro lado é preciso avaliar investimentos e lucros, e muitas vezes, sim, é preciso parar o que se está fazendo, às vezes por anos a fio, e fazer outra coisa. Eis uma virtude nobre, mudar de ideia, eis uma coragem ímpar, admitir mudança de ideia diante dos outros, eis algo que alegra a Deus, se colocar debaixo de sua luz. Muitos seguem errando e não acham forças para mudarem de rumo porque estão em trevas, intelectuais, emocionais, espirituais, assim não se conhecem, não se assumem, vivem de aparências, não são felizes e nunca experimentam de fato suas verdadeiras vocações. É triste ver gente assim, nos aperta o coração, queremos ajudar mas elas nos impedem, se forem tocadas, gritam e esperneiam, como crianças mimadas.
      Não ligue para esta terra, eis parte de um entendimento fundamental para conhecermos nossa vocação, que não é só para esse mundo, mas para o outro também. Não é para aqui, mas começa aqui, e viver aqui não é qualquer coisa, é experiência de suma importância que define radicalmente nossa existência eterna. Os que se acham ateus dão importância demais para este plano, os que se dizem cristãos dão importância de menos, a verdade está no equilíbrio, e eis um mistério espiritual, vislumbrar o Espírito com os pés bem firmes na terra. Alcançar a espiritualidade não é alienar-se do mundo, mas vencer nele e ainda assim não deixar que isso importe mais que os valores que levaremos para o outro mundo, só quem tem pode abrir mão. 
      A outra parte do entendimento fundamental é: não ligue para o tempo. Quando começamos a de fato a exercer nossa vocação? Não importa, quando nascemos de novo em Cristo e recebemos iluminação do Espírito Santo, Deus não vê as coisas assim e as coisas espirituais não funcionam assim. Por isso não devemos nos comparar com os outros, nos acharmos melhores porque acertamos a mais tempo, ou nós considerarmos inferiores porque erramos por mais tempo. Para muitos de nós dez anos de obediência às nossas vocações valerão mais que cinquenta anos de outros que pareciam desempenhar suas vocações e não o faziam. Últimos serão primeiros e primeiros serão últimos, mil anos como um dia e um dia como mil anos. 

      Pedro nos ensina coisas importantes em seu texto, “procurai fazer cada vez mais firme a vossa vocação e eleição, porque, fazendo isto, nunca jamais tropeçareis, porque assim vos será amplamente concedida a entrada no reino eterno”. Três palavras chamam a atenção: firme, tropeço e reino, as três têm implicações diretas com vocação. Firme, isso nos lembra que a vida é uma luta persistente, não alcançamos e descansamos, e muito menos nos esforçamos e depois desistimos, na evolução espiritual, enquanto neste plano físico, não há parada, descanso ilimitado só na eternidade. Deus pode nos permitir períodos para que nos recuperemos, mas a luta não para, e fica na verdade cada vez mais sútil, à medida que o caminho se estreita. 
      Tropeço, quem estaciona tropeça e cai, ninguém consegue, no crescimento espiritual, ficar de pé e parado, só estamos de pé à medida que caminhamos. Muitos, pensando que já alcançaram tudo, podem cair em terríveis armadilhas do mal, porque se acharam no direito de parar e usufruir, não viemos ao mundo a passeio. Mas mais que isso, Pedro nos revela algo que muito evangélico, em sua “fé na fé”, não entende bem: “assim vos será amplamente concedida a entrada no reino eterno“. Desempenharmos nossa vocação de forma adequada nos dará direito à melhor eternidade com Deus, isso pode ir contra o pensamento que muitos têm de que lhes basta crer e ter uma vida moral civilizada. Não basta fazer, tem que fazer o mais certo. 
      Não basta pregar, tem que pregar no Espírito Santo, não basta trabalhar, tem que trabalhar naquilo que Deus mandou, não basta aparecer no mundo, tem que pagar o preço que Jesus pagou, não basta ser cristão, tem que ser espiritual, só somos quando conhecemos e exercemos nossa maior vocação como seres eternos, voltarmos ao criador. Quando morremos as vendas de nossos olhos espirituais caem para vermos o mundo espiritual como é, seremos atraídos por aquilo que levarmos conosco, se levarmos trevas, seremos infernizados pelos espíritos rebeldes das trevas, se levarmos luz, seremos abraçados pelo Esprito de luz do Altíssimo. Só em Jesus existe a luz que podemos levar conosco e que nos ligará eternamente ao Pai de toda luz.
      Meu querido e minha querida, não perca tempo tentando agradar os outros, tentando ganhar discussões, tentando prevalecer sobre quem não tem nada realmente de bom pra você, já que quem de fato pode te abençoar não exige nada de você, só sinceridade do bem. Temos algo maior para alcançar e levar desta vida, isso importa mais que viver para fazer dívidas e pagar dívidas. Se for preciso, pare tudo e reavalie tua história, tudo o que fez e conquistou até agora. Sim, pode ter sido muita coisa e a troco de trabalho honesto, não estou negando isso, mas será que valeu a pena? Você realmente sente que desempenhou tua vocação maior? Se morrer agora, deixará para quem ama o que mais importa e levará consigo de fato espiritualidade? 

“Espiritualidade Cristã”
é um estudo dividido em 64 partes,
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José Osório de Souza, 30/09/2020.

quarta-feira, outubro 21, 2020

21. Espiritualidade do profeta

Espiritualidade Cristã (parte 21/64)

      Muitos se consideram profetas, nas igrejas evangélicas atuais, mas a maioria não entende de fato o que era um profeta no antigo testamento, assim como não entendeu o que é profecia, hoje, sob o novo testamento. Nunca nos esqueçamos, Jesus, mais do que qualquer outro personagem bíblico, é nossa referência máxima de homem espiritual. No mundo atual, onde o ministério do Espírito Santo tem liberdade nas vidas de todos os convertidos, não há necessidade mais de profecias como as do antigo testamento, direcionadas a um povo e com o objetivo de trazer um povo desviado de volta a Deus. Na maior parte das vezes as palavras que o Espírito Santo entrega atualmente são palavras de consolo, não de condenação, as mais sérias só recebem os muito rebeldes, e quero crer que são excessões. 
      A experiência  com o Senhor, após a obra redentora de Cristo e a descida do Espírito Santo, é individual, ainda que nos reunamos em igrejas para compartilhar a fé, de acordo com afinidades e gostos doutrinários comuns. Se Deus precisa falar, ele fala ao coração do homem pelo seu Espírito, quanto ao mundo o Senhor fala pelo testemunho dos crentes, não por profetas no estilo bíblico, muitos que se colocam nessa função, seria mais prudente que os encaminhássemos para psicoterapia. No antigo testamento a religião autorizada por Deus era diferente, uma simbologia do cristianismo, as coisas eram físicas. Contudo, vidas de homens como Habacuque, nos ensinam muito até hoje, sobre sensibilidade espiritual, sobre lucidez para com a realidade e principalmente com respeito à espiritualidade cristã.

O peso que viu o profeta

      “Habacuque ou Habacuc é o livro bíblico cuja autoria é atribuída ao profeta de mesmo nome. Discute-se a data em que o livro foi escrito, havendo duas hipóteses:
- o livro foi escrito pouco antes da queda de Nínive em 612 AC; nessa hipótese, os opressores seriam os Assírios;
- o livro foi escrito entre a Batalha de Carquemis em 605 AC e o primeiro cerco a Jerusalém em 597 a.C.; nessa hipótese, os opressores seriam os caldeus. 
      Habacuque significa "abraço", e está incluso na subdivisão da Bíblia chamada de Profetas Menores, sendo um livro de apenas três capítulos. Provavelmente tenha sido escrito no século V a.C.. Habacuque nos sugere que observava a sociedade judaica a partir do Templo, onde possivelmente servia como levita, isto é cantor, ornamentador, prontificador do templo (ver Números 3:6-10). Podemos notar que o capítulo três de seu livro é uma canção, sendo que os últimos versos são considerados uma das maiores expressões de fé do Antigo Testamento. 
      O livro de Habacuque é diferente dos demais livros dos profetas em seu estilo literário, pois em momento algum há profecias contra esta ou aquela nação ou pessoa em particular, porém o que se pode ver é um diálogo entre o profeta e Deus. Entre seu texto há no capítulo dois a expressão: "O justo viverá da fé", que mais tarde inspiraria o apóstolo Paulo a escrever a mais teológica de suas cartas, a Carta aos Romanos, que posteriormente inspirou também Martinho Lutero na elaboração das 95 Teses "gatilho" da Reforma Protestante.”
Fonte: wikipedia 

      “O peso que viu o profeta Habacuque.”

      A palavra “peso”, usada na primeira frase, também pode ser traduzida como advertência ou sentença, e o texto é isso, uma veemente palavra profética chamando a atenção dos homens para a realidade. O profeta sentiu a seriedade do momento e clamou a Deus, nesse clamor o Espírito Santo teve liberdade para revelar a ele a profundidade da situação. Se alguém é frio ou acha na frieza proteção pessoal, não busque ser profeta, se alguém prefere ficar na sua, não se envolver, não tomar partido, não almeje ser boca de Deus. Para ser boca de Deus antes é preciso ter ouvidos espirituais acurados para ouvir a palavra de Deus, mas ser boca não seja sair proclamando o que se sabe de qualquer maneira, é preciso o mesmo cuidado que se teve para ouvir, para falar. Se Deus precisa corrigir um filho, isso é algo sério, devemos ter temor de Deus por isso, principalmente se estamos numa condição de mais iluminação onde podemos ver que alguém está errado e pode pagar um preço caro por isso. O fiel de Deus sente o peso da palavra do Senhor e treme, não se alegra com a queda do arrogante, nem com a vergonha do tolo, antes enxerga a situação, cala-se e espera, com respeito. 

      “Até quando, Senhor, clamarei eu, e tu não me escutarás? Gritar-te-ei: Violência! e não salvarás? Por que razão me mostras a iniqüidade, e me fazes ver a opressão? Pois que a destruição e a violência estão diante de mim, havendo também quem suscite a contenda e o litígio. Por esta causa a lei se afrouxa, e a justiça nunca se manifesta; porque o ímpio cerca o justo, e a justiça se manifesta distorcida.

      O conhecimento tem seu preço, a sensibilidade espiritual tem sua responsabilidade, Habacuque via uma situação errada que não se resolvia e sofria com isso, não era indiferente nem dizia, “o problema não é meu, se eles erraram que paguem o preço”. Ele sofria porque tinha sede de justiça, e o Espírito Santo clama dentro dos filhos de Deus por justiça, aqueles que de fato andam com Jesus não se alegram com a injustiça nem são displicentes, mas anseiam que as coisas se resolvam. Contudo, os profetas de Deus não fazem justiça com as próprias mãos, querem que as coisas se resolvam, mas do jeito certo, o jeito certo é o jeito de Deus, no tempo e no lugar certo. Deus pode agir por meios que podem ser impossíveis aos homens, mesmo desconhecidos por eles, mas quem tem os olhos espirituais abertos e vê que algo está errado, quando muitos falsos profetas veem que está tudo certo, clama a Deus por justiça. 

      “Vede entre os gentios e olhai, e maravilhai-vos, e admirai-vos; porque realizarei em vossos dias uma obra que vós não crereis, quando for contada. Porque eis que suscito os caldeus, nação amarga e impetuosa, que marcha sobre a largura da terra, para apoderar-se de moradas que não são suas. Horrível e terrível é; dela mesma sairá o seu juízo e a sua dignidade. E os seus cavalos são mais ligeiros do que os leopardos, e mais espertos do que os lobos à tarde; os seus cavaleiros espalham-se por toda parte; os seus cavaleiros virão de longe; voarão como águias que se apressam a devorar. Eles todos virão para fazer violência; os seus rostos buscarão o vento oriental, e reunirão os cativos como areia. E escarnecerão dos reis, e dos príncipes farão zombaria; eles se rirão de todas as fortalezas, porque amontoarão terra, e as tomarão. Então muda a sua mente, e seguirá, e se fará culpado, atribuindo este seu poder ao seu deus.

      Então Deus responde a Habacuque, aos que o buscam com todo o coração o Senhor sempre responde, e de forma maravilhosa, a solução de Deus pode vir de maneiras que nós sequer imaginamos. Ela pode nos surpreender porque Deus tem solução quando ninguém tem, ele é dono de tudo e de todos, todos os sistemas do plano físico e do plano espiritual estão em suas mãos, e ele os administra com equilíbrio. Algumas vezes para vencer um inimigo poderoso Deus levanta um inimigo mais poderoso ainda que domina o inimigo inicial e traz justiça à Terra, disciplinando os rebeldes. Enganam-se os que dividem os homens em bons e maus, ou mesmo os seres espirituais em anjos e demônios, como se uns obedecessem a Deus e os outros, não. 
      Existem diferenças nas índoles, diabos e demônios tiveram oportunidade de livre arbítrio e escolheram ser rebeldes, mas todos estão debaixo, de um jeito ou de outro, da soberania divina, alguns obedecendo ordens diretas, e outros, mesmo que através de atos cruéis, contribuindo para que a vontade final de Deus seja cumprida. As complexidades do universo são para terror dos ímpios, as “árvores cabalísticas da vida”, as hierarquias dos anjos, os rituais mágicos, tanto quanto os políticos corruptos e a burocracia dos estados, quem está em trevas tenta dominar tudo isso para conquistar seu espaço. Mas a vida é simples para os simples, direto ao Altíssimo, esse não teme babilônios, caldeus, gregos ou romanos, pois tem o todo poderoso ao seu lado. 
      O justo vive pela fé, quem busca, obedece e adora a Deus tem uma vida iluminada, quem está em Deus tem ao seu lado o tempo e todos os seres, homens ou anjos, e não precisa temer nem os poderes desse mundo, que por maiores que se apresentem são temporários. O arrogante, contudo, será vencido, não pelo simples que humilhou, mas por alguém mais arrogante que ele, apesar de aparentar-se forte e destemido, seu íntimo teme, pois sabe que existem outros com ele, injustos e egoístas. Já para o justo que crê a mão de Deus pode se apresentar de diversas maneiras, não para destruí-lo, mas para defendê-lo, assim ele não precisa se vingar ou dar a última palavra, basta crer, com temor a Deus e em silêncio. 

      “Não és tu desde a eternidade, ó Senhor meu Deus, meu Santo? Nós não morreremos. O Senhor, para juízo o puseste, e tu, ó Rocha, o fundaste para castigar. Tu és tão puro de olhos, que não podes ver o mal, e a opressão não podes contemplar. Por que olhas para os que procedem aleivosamente, e te calas quando o ímpio devora aquele que é mais justo do que ele? E por que farias os homens como os peixes do mar, como os répteis, que não têm quem os governe? Ele a todos levantará com o anzol, apanha-los-á com a sua rede, e os ajuntará na sua rede varredoura; por isso ele se alegrará e se regozijará. Por isso sacrificará à sua rede, e queimará incenso à sua varredoura; porque com elas engordou a sua porção, e engrossou a sua comida. Porventura por isso esvaziará a sua rede e não terá piedade de matar as nações continuamente?

      O profeta enxerga a verdade e pede que Deus aja, ele entende que se há sofrimento, é porque houve pecado, penso em quantos veem o Brasil como está hoje e ainda acham que está tudo certo, e quando digo tudo certo são evangélicos e protestantes que pensam que se há algum problema ele está no mundo, não neles. O julgamento do ímpio só ocorrerá no final ou após sua morte, Deus autorizou o homem a cuidar do mundo à sua maneira, o homem já entendeu que o mundo que é seu precisa ser cuidado melhor, por isso tanta preocupação com queima de florestas, com poluição de ar, rios e mares. A verdade é que os poderes deste mundo estão bem acordados quanto às suas responsabilidades com o planeta, quem não está acordado é o cristão quanto à sua vocação espiritual.
      O cristão é corrigido no mundo, não na eternidade, na eternidade ele estará no melhor de Deus, numa “posição” espiritual onde não haverá choro, dor, culpa, mágoas, lembranças ruins e nem medos, na luz de Deus só há o amor. Todavia, neste plano, o filho de Deus é disciplinado para que possa mudar de atitude, crescer, receber cura e libertação, experimentar perdão e justiça. Dessa forma, se o mundo, se o Brasil, passa por uma situação difícil, a responsabilidade pode ser do cristão, principalmente daquele que fugiu para dentro dos templos, para “curtir” cultos cheios de música ou cheios de estudos bíblicos técnicos, que não mudam suas práticas de vida, ficam encantados com a falsa unção, mas não são transformados e assim não são força de transformação na sociedade. 
      Quando Israel se desviou de Deus o mundo se desequilibrou, porque quem tinha a missão de iluminar o mundo estava em trevas. Por causa disso as nações, que já viviam em paz ainda distantes de Deus já que Deus respeita o livre arbítrio, entraram em guerra, conquistaram Israel e depois foram conquistadas por outras nações. É a serpente engolindo o próprio rabo, tudo porque quem deveria estar fazendo a coisa certa não estava. Não fazemos ideia do quanto as pessoas são prejudicadas quando desobedecemos o Senhor, ainda que fisicamente possamos não estar fazendo a elas nenhum mal. Deus age no mundo pelos seus fiéis profetas, isso não é algo só físico, que acontece quando uma palavra profética é entregue, é espiritual, quando alguém como Habacuque faz a oração do capítulo um de seu livro. 

Na torre de vigia

      “Pôr-me-ei na minha torre de vigia, colocar-me-ei sobre a fortaleza e vigiarei para ver o que Deus me dirá e que resposta eu terei à minha queixa.”

      O ofício do profeta, dedicar tempo para conhecer a vontade de Deus, apesar de ser mais adequado que se esteja bem física e emocionalmente, já que o trabalho de comunhão espiritual mais profunda exige que nossos sentidos e movimentos físicos estejam sadios, a tarefa é espiritual. É preciso que se esteja com o espírito lavado pelo sangue de Cristo, com a mente em paz, com a consciência limpa e com os sentimentos tranquilos e focados em Deus. 
      Nesse ofício o trabalho do homem é obedecer, é Deus quem chama o profeta, se limpar, é Cristo que purifica o profeta, e prestar atenção, é o Espírito Santo que fala, revela, ensina, mostra e toca. O que tiver real chamada de profeta entenderá as coisas espirituais porque é espiritual, ainda que tenha convicção de que é só um homem pecador como todos os outros, não é especial por ter recebido sua chamada, mas tem uma chamada especial porque é comissionada por Deus. O profeta de Deus ouve  e adora somente a Deus.

      “O Senhor me respondeu e disse: Escreve a visão, grava-a sobre tábuas, para que a possa ler até quem passa correndo. Porque a visão ainda está para cumprir-se no tempo determinado, mas se apressa para o fim e não falhará; se tardar, espera-o, porque, certamente, virá, não tardará. Eis o soberbo! Sua alma não é reta nele; mas o justo viverá pela sua fé.”

      A palavra de Deus deve ficar clara para que os homens identifiquem sua origem, o profeta, portanto, não pode ser covarde ou confuso, ainda que muitos não o queiram ouvir e que ele deva ter muita sabedoria para saber com quem deve compartilhar as revelações que recebe, e ainda que muitos mereçam saber dos mistérios de Deus por códigos, para que mesmo que olhem não vejam, por terem corações endurecidos e arrogantes. Os simples e humildes, contudo, sempre entenderão a profecia, e na verdade nem necessitarão dela, profecia ocasional é para rebelde, o fiel tem consolo o tempo todo, pois se acertam com Deus antes que sejam necessárias disciplinas e exortações. 
      Entretanto, não se enganem os soberbos, Deus não se atrasa e nem falha, mesmo que confiem na curta glória do mundo que seus olhos veem, mesmo que duvidem da justiça por se acharem com créditos suficientes para serem aprovados por Deus, isso tem tempo certo para acabar. O justo, todavia, não se ilude com o momento, não se ilude com as vaidades, não se vende por nada, antes suporta em silêncio a injustiça e a incredulidade dos loucos e confia plenamente num Deus que mantém o equilíbrio do universo. Nenhum mal fica sem castigo e nenhum bem sem recompensa, mas só o poder do nome de Jesus anula o efeito espiritual do pecado, esse direito só tem o que crê no invisível. 
      Começamos a andar com Deus pela fé, então, vivenciamos as primeiras experiências, a paz que vem do perdão, as curas dos vícios mais sérios, o consolo da oração, a sabedoria da Bíblia, depois caminhamos com alguma facilidade, porque fé vira experiência que gera conhecimento e conhecimento mantêm-nos na vida eterna. Contudo, o conhecimento de Deus não para, o Espírito Santo está sempre nos desafiando a conhecer mais para viver com mais profundidade a vida eterna, assim, mais fé se faz necessário. Neste mundo sempre será assim, se sabemos não precisamos crer, mas só se cresce com mais conhecimento espiritual, assim, é preciso crer mais. O justo viverá pela fé até o fim de sua vida aqui. 

      “Assim como o vinho é enganoso, tampouco permanece o arrogante, cuja gananciosa boca se escancara como o sepulcro e é como a morte, que não se farta; ele ajunta para si todas as nações e congrega todos os povos. Não levantarão, pois, todos estes contra ele um provérbio, um dito zombador? Dirão: Ai daquele que acumula o que não é seu (até quando?), e daquele que a si mesmo se carrega de penhores! Não se levantarão de repente os teus credores? E não despertarão os que te hão de abalar? Tu lhes servirás de despojo. Visto como despojaste a muitas nações, todos os mais povos te despojarão a ti, por causa do sangue dos homens e da violência contra a terra, contra a cidade e contra todos os seus moradores. Ai daquele que ajunta em sua casa bens mal adquiridos, para pôr em lugar alto o seu ninho, a fim de livrar-se das garras do mal! Vergonha maquinaste para a tua casa; destruindo tu a muitos povos, pecaste contra a tua alma. Porque a pedra clamará da parede, e a trave lhe responderá do madeiramento. Ai daquele que edifica a cidade com sangue e a fundamenta com iniquidade!”

      O homem que se afasta de Deus e assume sua situação, ainda se mantenha afastado, se torna um pária no mundo, escravo de vícios, usados por muitos e nunca tendo nada seu, mas o que se afasta e não se assume como tal prova do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal, quer ser Deus e parte, sem medo, para conquistar o mundo e dominar os homens. Se para o primeiro tipo de homem há esperança de mudança de vida mais rápida, ainda que pague um alto preço por isso, para o segundo tipo a mudança pode ocorrer, se ocorrer, só no final, depois de ter gasto uma vida roubando, matando e sendo infeliz. 
      Não, não me refiro a roubo como algo explícito, socialmente ilegal, mas a algo que pode ser feito mesmo com trabalho honesto e muito esforço, quando um homem busca ter uma vida, ainda que certa para outros, não a vida que Deus tem como a melhor para ele. Quando se faz isso se rouba, não a Deus, mas a si mesmo, pois se usa o tempo que deveria ser usado para receber coisas certas para tentar comprar coisas erradas, ou melhor roubar. Quem faz isso sempre acaba, de alguma forma, matando os outros, pois não teve tempo para amar quem precisava, dar a eles atenção, vida, visto que gastou seu tempo amando a si mesmo. 
      O maior risco que corre o que se fortalece a troco de enfraquecer os outros e que acaba encontrando outros iguais a ele, quem rouba, acaba roubado, “os que lançarem mão da espada, à espada morrerão” (Mateus 26.52b), o mal atrai o mal. Como saber se alguém adquiriu poder nesse mundo do jeito legítimo? Não é pelas obras exteriores, essas até podem parecer boas, mas é pela intenção do coração, e essa só o tempo para revelar. O certo é que quem faz algo sem a aprovação de Deus está desprotegido, Deus protege os que se constróem em seu amor, porque esses adoram a ele, não a si mesmos, e abençoam os outros. 

      “Não vem do Senhor dos Exércitos que as nações labutem para o fogo e os povos se fatiguem em vão? Pois a terra se encherá do conhecimento da glória do Senhor, como as águas cobrem o mar.”

      O próprio Deus permite que o soberbo prossiga, insista em seu caminho, o Senhor faz isso esperando que ele um dia se arrependa? Sim, Deus ama sempre e sempre espera que o homem volte para ele, a porta do céu sempre, sempre está aberta, mas os que insistem em se fatigar com trabalho desnecessário, com guerras inventadas, para compensar uma insegurança que dinheiro, bens e aprovação humana não compensam, e que só uma vida humilde em Jesus pode curar, seguirá por muito tempo, antes que seja disciplinado. 
      Nesse tempo poderá achar que de fato está fazendo tudo certo, quando não está, só Deus sabe o tempo de cada um debaixo do Sol, o tempo de receber glória, o tempo de ser cobrado pela falsa glória que usurpou. Mas um dia a justiça vem, e como uma luz forte revela todas as intenções, mesmo as mais ocultas, o que se fez por inveja será conhecido, o que se acumulou para impressionar os homens será revelado, mas o que se buscou de todo o coração no Senhor, será honrado, nada e nem ninguém pode impedir isso. 

      “Ai daquele que dá de beber ao seu companheiro, misturando à bebida o seu furor, e que o embebeda para lhe contemplar as vergonhas! Serás farto de opróbrio em vez de honra; bebe tu também e exibe a tua incircuncisão; chegará a tua vez de tomares o cálice da mão direita do Senhor, e ignomínia cairá sobre a tua glória. Porque a violência contra o Líbano te cobrirá, e a destruição que fizeste dos animais ferozes te assombrará, por causa do sangue dos homens e da violência contra a terra, contra a cidade e contra todos os seus moradores.”

      As pessoas podem ser maquiavélicas, esconderem más intenções atrás mesmo de presentes e festas, só para dominarem os homens, alguns se surpreenderiam em saber o que muitos fazem para prevalecerem sobre os outros, para tentarem comprar as pessoas, para forçá-las a mostrar suas fraquezas e então humilhá-las. Quanta malícia pode haver na alma de seres humanos que por não terem paz em si mesmas com Deus, querem roubar a paz dos outros, enfraquecer e desmerecer para dominar e usar. 
      Por que mortes estúpidas em acidentes e no crime? Porque a vida pode cobrar num minuto estupidez acumulada em anos, exigir num instante as oportunidades que deu para alguém por anos neste mundo, e que a pessoa endurecida não aproveitou. Por que mortes demoradas e dolorosas em leitos de hospitais, na solidão em asilos? Porque pode ser preciso uma interrupção abrupta e extrema do corpo, para que o espírito pare e ache humildade para entender o que precisava ter feito para ser feliz, e não fez por toda uma vida.

      “Que aproveita o ídolo, visto que o seu artífice o esculpiu? E a imagem de fundição, mestra de mentiras, para que o artífice confie na obra, fazendo ídolos mudos? Ai daquele que diz à madeira: Acorda! E à pedra muda: Desperta! Pode o ídolo ensinar? Eis que está coberto de ouro e de prata, mas, no seu interior, não há fôlego nenhum.”

      Muitos de nós não fazemos ideia de como existem ídolos neste mundo ocupando o papel de Deus, e ídolos com semelhança de Deus, falando coisas da Bíblia, adorados por gente que se diz cristã e seguidora do evangelho. São ídolos lindos, feitos com os materiais mais nobres, mais que ouro e prata, são ídolos ideológicos, criados e mantidos nas mentes das pessoas e construídos de intenções nobres, humanitarismos, preocupação com o meio ambiente, bandeiras de justiça social, igualdade, tolerância, religiosidade. Mas ainda assim, são ídolos, não Deus, e como tais, na hora final, quando a pessoa mais precisar, não poderão ajudá-la, salvá-la, consolá-la, curá-la, dar-lhe paz. O ídolo é um deus falso como falso é quem o adora. 

      “O Senhor, porém, está no seu santo templo; cale-se diante dele toda a terra.” 

      Um dos versículo mais lindos da Bíblia, Habacuque 2.20, com poucas palavras o profeta expressa a nobreza e a majestade de Deus, assim como a reação que têm aqueles que de fato temem a Deus, o obedecem e o adoram, o silêncio contemplador. A alma precisa estar em silêncio para conhecer a Deus, não embriagada com as próprias e mesquinhas intenções, e nem ambiciosa para dominar e crescer diante dos homens, só o simples e humilde consegue calar a alma. Com a alma quieta e o espírito limpo a voz do Espírito Santo é clara para nos entregar o discernimento que nos permite entender todas as verdades, a nossa, as dos homens e a do Deus Altíssimo. 
      Profeta legítimo de Deus tem esse privilégio, mas não tente ele esperar de homens honra por isso, não nesse mundo, a ele basta cumprir sua missão com mais e mais cuidado, santo, com domínio próprio, sendo um dos luzeiros de Deus que justificarão no juízo os julgamentos divinos. Se alguém perguntar naquele dia derradeiro, “por que estou sendo condenado por algo que eu nem sabia que tinha que fazer?”, Deus responderá, “havia um profeta, bem perto de você, ele te alertou com profecias, com sonhos, e sempre esteve disponível para te aconselhar, mas você preferiu ouvir os falsos profetas, que diziam aquilo que você queria ouvir, não o que precisava ouvir”.  

Ainda que a figueira não floresça

      “Oração do profeta Habacuque sobre Sigionote. Ouvi, Senhor, a tua palavra, e temi; aviva, ó Senhor, a tua obra no meio dos anos, no meio dos anos faze-a conhecida; na tua ira lembra-te da misericórdia. Deus veio de Temã, e do monte de Parã o Santo. A sua glória cobriu os céus, e a terra encheu-se do seu louvor. E o resplendor se fez como a luz, raios brilhantes saíam da sua mão, e ali estava o esconderijo da sua força. Adiante dele ia a peste, e brasas ardentes saíam dos seus passos. Parou, e mediu a terra; olhou, e separou as nações; e os montes perpétuos foram esmiuçados; ou outeiros eternos se abateram, porque os caminhos eternos lhe pertencem. Vi as tendas de Cusã em aflição; tremiam as cortinas da terra de Midiã.”

      O capítulo três do livro do profeta Habacuque é um "sigionote", um tipo de canto poético ou elegia, assim esse texto é a letra de uma música antiga. Que palavra atual essa do profeta, não há nada que o cristianismo de hoje mais precise que um avivamento, contudo, e infelizmente, como esse termo foi corrompido no meio cristão, o sentido bíblico e mesmo o evangélico de algum tempo atrás, que significava de alguma maneira uma volta ao primeiro amor, ao cristianismo original, se tornou sinônimo de qualquer heresia que se pregue como novidade em muitos púlpitos, e que toca os corações não por ser de Deus, mas só por ser uma nova moda. 
      Quem acompanha a igreja cristã há algumas décadas, sabe como vieram e foram vários modismos, métodos, teologias, termos e conhecimentos, que eram só novidades passageiras para seduzir gente que ama modas, que quer a vaidade de achar que possui um conhecimento mais profundo que os outros, mas que não ama a Deus. Deus não precisa de moda, é o mesmo ontem, hoje e será eternamente, os mistérios ele revela aos que o amam e esses não usam desse conhecimento como vaidade. 
      Aviva tua obra, Senhor, mas a obra de Deus não são igrejas e ministérios de homens, é a ação direta do Esprito Santo na Terra sobre indivíduos, essa obra é avivada quando as pessoas tiram os olhos daquilo que lhes convém no plano físico e olham diretamente para Deus, por isso pode ser necessário que o cristianismo evangélico e protestante atual seja desconstruído, para que o nome de Deus seja de fato glorificado. Da Igreja Católica não adianta nem falar nada, ela se perdeu no abismo há séculos, mas que o Senhor tenha misericórdia de muitos católicos sinceros e que de fato querem Deus, apesar do catolicismo. 
      Após esse clamor, Habacuque contempla a majestade de Deus e teme, as forças da natureza são só metáforas do eterno poder espiritual de Deus, se uma tempestade, se chuvas fortes e ventos violentos, se a força das águas e explosões vulcânicas nos fazem tremer, muito mais a manifestação da ira de Deus sobre um homem que quer ser Deus e não teme ao Deus verdadeiro. 

      “Acaso é contra os rios, Senhor, que estás irado? É contra os ribeiros a tua ira, ou contra o mar o teu furor, visto que andas montado sobre os teus cavalos, e nos teus carros de salvação? Descoberto se movimentou o teu arco; os juramentos feitos às tribos foram uma palavra segura. Tu fendeste a terra com rios. Os montes te viram, e tremeram; a inundação das águas passou; o abismo deu a sua voz, levantou ao alto as suas mãos. O sol e a lua pararam nas suas moradas; andaram à luz das tuas flechas, ao resplendor do relâmpago da tua lança. Com indignação marchaste pela terra, com ira trilhaste os gentios. Tu saíste para salvação do teu povo, para salvação do teu ungido; tu feriste a cabeça da casa do ímpio, descobrindo o alicerce até ao pescoço. Tu traspassaste com as suas próprias lanças a cabeça das suas vilas; eles me acometeram tempestuosos para me espalharem; alegravam-se, como se estivessem para devorar o pobre em segredo. Tu com os teus cavalos marchaste pelo mar, pela massa de grandes águas.”

      Sim, a natureza paga pelo pecado do homem, e ela responde a isso, viveremos tempos difíceis de agora em diante, todos seremos afetados, ninguém ficará impune, mesmo os justos, ainda que Deus os proteja do pior pela sua misericórdia. Mas não nos enganemos, ainda que a natureza se transforme e se revolte contra o egoísmo e a maldade do homem, desequilibrando o clima, secando os mares e queimando as matas, não é contra ela que Deus se ira. 
      Sobre Jesus foi lançada toda injustiça, assim quando cremos nele somos perdoados, porque ele levou sobre si nossos pecados, dessa forma Deus se “vingará” no final, não pelos justificados, não existe mais nação escolhida, mas um povo, de todas as nações, Deus derramará sobre os homens injustos a injustiça que fizeram e fazem contra o único justo, Cristo. Deus tomou sobre si o castigo para que pudesse lutar pelos justos, assim o final não será a guerra de homens bons contra homens maus, mas do rei Jesus contra todas as potestades de espíritos rebeldes. 
      Usei a palavra vingará entre aspas porque na verdade Deus não se vinga, não é assim que funcionam as coisas espirituais, mas o homem quando planta injustiça a injustiça ele colhe, e isso quem cobra é o universo, que está debaixo de leis eternas e imutáveis estabelecidas por Deus antes do início dos tempos. Por isso a natureza se revolve e exige, e com ela vêm pestes e guerras, sobre um homem que não foi humilde para buscar seu criador e muito menos será para fazer alianças com as criaturas para construir paz e justiça. 
      Ah, meus queridos e minhas queridas, o homem não tem ideia sobre com que está mexendo, ainda que ache que a solução seja tratar a natureza com respeito, ainda que ouça a sensatez da ciência, ele despreza o principal, seu próprio espírito, esse clama para voltar ao seu criador. Desse pecado nenhum cuidado com sustentabilidade, ecologia, e mesmo com justiça e igualdade social e tolerância, poderá salva-lo, só o nome do Cristo que ele desprezou e perseguiu.  

      “Ouvindo-o eu, o meu ventre se comoveu, à sua voz tremeram os meus lábios; entrou a podridão nos meus ossos, e estremeci dentro de mim; no dia da angústia descansarei, quando subir contra o povo que invadirá com suas tropas. Porque ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto na vide; ainda que decepcione o produto da oliveira, e os campos não produzam mantimento; ainda que as ovelhas da malhada sejam arrebatadas, e nos currais não haja gado; Todavia eu me alegrarei no Senhor; exultarei no Deus da minha salvação.”

      Habacuque expressa novamente seu temor, tem temor que tem sensibilidade espiritual, tem sensibilidade quem busca, acha, ouve e obedece a Deus, esse teme e treme, pois sabe que o universo geme por equilíbrio. Segue, então, o texto com uma das passagens mais lindas da Bíblia (versos 17 e18), dessas que reúnem poesia e espiritualidade, alma e espírito, expressados por um corpo machucado pela realidade que é conhecida somente por aquele que de fato é profeta de Deus. Será que somos espirituais de verdade para que ainda que nossos olhos físicos vejam uma Terra destruída, com um povo passando necessidades extremas, continuemos confiando em Deus e com muita alegria? 
      Como muitos evangélicos atualmente se acham preparados para o fim, acham conhecer bem a Bíblia, e nisso pensam ter o conhecimento espiritual mais profundo. Por outro lado, como pensam, hereticamente, que podem evitar o pior final com líderes políticos que defendam suas bandeiras, quanto equívoco, quanto equívoco. Não sei se temos olhos espirituais abertos o suficiente para nos darem luz diante das trevas que os olhos físicos verão, a verdade é que o que virá surpreenderá mesmo os que se acham os mais espirituais. 
      Mas os últimos tempos serão terríveis, o mundo enfrentará uma calamidade com colapsos em várias áreas ao mesmo tempo, como nunca enfrentou antes. Por isso Deus livrará alguns, não todos, pois muitos ainda que sejam filhos provarão a agonia final do planeta Terra, junto dos ímpios, dos ateus, dos materialistas, dos adoradores de Lúcifer e Satã, do enganados pelas falsas luzes de querubins e arcanjos caídos, de tantos que confiaram na ciência dos homens e nas tradições religiosas, mas não no Altíssimo. 
      Por isso nos acertemos enquanto há tempo, a nós e às nossa famílias, ainda que o fim possa demorar, é importante que nos preparemos sempre e em todos os tempos, para que a verdade do evangelho seja passada para as próximas gerações. Não olhemos para o homem, principalmente para aquele que se diz profeta de Deus quando é filho de Belial, Leviatã se levantará no final e tragará a todos, sem dó, porque recebeu de Deus autorização para isso, só os realmente lavados pelo sangue do cordeiro, que não se corromperam com prostituição espiritual e com as vaidades desse mundo serão poupados. 

      “O Senhor Deus é a minha força, e fará os meus pés como os das cervas, e me fará andar sobre as minhas alturas. 
(Para o cantor-mor sobre os meus instrumentos de corda).

      Se o monte é alto, Deus nos coloca num lugar mais elevado. Se o inimigo é rápido, Deus nos faz mais velozes. Se o mar é profundo, Deus nos faz leves para flutuar. Se o louco nos afronta com mentiras, Deus nos dá a paz que têm os que guardam sua verdade no coração. É preciso conhecer toda a verdade para ver toda a realidade para assumir toda a dor e, então, poder provar toda a libertação de Deus, é preciso não ter medo para sentir temor e tremor diante do Altíssimo. Quem busca escapismos numa verdade pessoal inventada, construída num coração que um dia não aceitou o plano de Deus para sua vida, coloca-se acima da verdade de Deus e viverá uma ilusão, se achará forte, rápido, mas será baixo e pesado, por fim, afundará na própria arrogância, sozinho, preso numa cela dentro da própria mente.
      Habacuque era um homem espiritual, via o mundo de sua época, seu povo, as outras nações, via os justos e os injustos, mas se colocava acima disso tudo, numa torre de vigia, ele era livre, por isso via além do mal na Terra, no coração do inimigo poderoso, nas intenções das potestades dos seres espirituais rebeldes. Ele não era alguém diferente de outros de sua época, ou de mim e de você, devia ter seus limites, seus pecados, mas ele tinha uma comunhão diferenciada com Deus, Deus o atraia e ele se deixava atrair, por isso buscava coisas mais excelentes que os outros. Assim Deus o usou, para registrar coisas mais altas, que abençoam todos os que leem textos sagrados judaicos e cristãos por séculos, ainda que tenha escrito um livro pequeno, de somente três capítulos, porém, com palavras que nos abraçam de forma especial. 

“Espiritualidade Cristã”
é um estudo dividido em 64 partes,
por favor, se possível, leia todas as reflexões 
para melhor entendimento do assunto abordado.
José Osório de Souza, 30/09/2020.

terça-feira, outubro 20, 2020

20. Espiritualidade conforme tua fé

Espiritualidade Cristã (parte 20/64)

      “Porque pela graça que me é dada, digo a cada um dentre vós que não pense de si mesmo além do que convém; antes, pense com moderação, conforme a medida da fé que Deus repartiu a cada um.“ “De maneira que cada um de nós dará conta de si mesmo a Deus.“ “Tens tu fé? Tem-na em ti mesmo diante de Deus. Bem-aventurado aquele que não se condena a si mesmo naquilo que aprova.Romanos 12.3 e 14.12, 22 

      Fé é um evento produzido pela alma, através de um elemento emocional e outro mental. O emocional sente com convicção algo que se quer que aconteça, ele gera o conteúdo, o mental dá forma ao conteúdo, pode imaginar, visualizar aquilo que se deseja que ocorra. Isso, contudo, é só a parte humana, mas ainda que não encontre a parte divina pode trazer benefícios positivos ao ser humano. Essa convicção emocional que consegue ver uma solução pode influenciar o corpo, de alguma maneira que a ciência ainda não explicou, sua estrutura material e psíquica, realizando mesmo cura de enfermidades físicas e psicológicas, seria um efeito oposto ao do evento psicossomático, com a mente tendo influência positiva sobre o corpo.
      Essa “energia humana”, que mesmo cristãos podem achar equivocadamente que é ação direta de Deus, só se torna fé espiritual de verdade quando encontra uma vontade de Deus em realizar aquilo que se creu. Assim, não é qualquer coisa que se crê que Deus “responde”, é preciso que seja algo da vontade do Senhor, que de alguma maneira abençoará o homem e glorificará o nome de Deus, no tempo e no lugar melhor de acordo com o plano de Deus. Se isso ocorre nosso espírito saberá, visto que o Espírito Santo o informará que a bênção é de fato dom de Deus, e não mera casualidade do universo, é preciso que fique claro que “milagres” podem acontecer por motivos diversos, não tendo diretamente a mão de Deus envolvida.
      Mas quanto aos benefícios no corpo colhidos por um coração crédulo e positivo, também não foram permitidos por Deus? Sim, mas sob esse ponto de vista nada ocorre no universo sem que Deus permita, contudo, essa experiência pode vivenciar mesmo ateus ou adoradores de Satã. O ponto é que a princípio o limite da fé é a imaginação humana e o quanto podemos focar nela uma convicção emocional, assim, uma pergunta precisa ser feita: há limites para a fé? Sim, o limite é dado pela nossa imaginação, pelo menos para o evento inicial, não para a fé que é respondida por Deus no final. Espiritualidade é uma experiência que se inicia com fé, assim em sua origem também depende da fé pessoal que cada um de nós pode exercer.
      Se desejamos que Deus nos responda, há limites no que podemos crer, simplesmente acreditar, com sinceridade, não basta, é preciso sensatez, coerência e equilíbrio, e o Espírito Santo sempre nos orienta a crer da maneira correta. Contudo, mesmo entre os “filhos de Abraão” que habitarão o “ceio de Abraão” na eternidade, a fé pode diferenciar, é assim que tem que ser e Deus respeita isso. Ainda que achemos que alguns vivenciam uma fé menor que a nossa, devemos respeitar isso, muitos não conseguiriam entrar no reino de Deus com os dois olhos (usando o ensino de Mateus 18.9), olhar as verdades espirituais de maneira mais profunda poderia escandalizar alguns, e Deus na verdade não julga as pessoas dessa maneira. 
      Assim, que cada um caminhe segundo a fé que consegue carregar e seja fiel a ela, fazendo as coisas em paz indiferentemente daquilo que outros pensam ou creem. Agora, se fazemos com dúvidas, tentando convencer os outros porque nós não estamos convictos e na verdade queremos é convencer a nós mesmos, aí estamos em pecado, essa fé que dizemos ter, e não temos, não agrada a Deus. É melhor retroceder, fechar um olho, mas estar em paz, que pensar de si mesmo mais do que se é, por vaidade ou ganância, e não com humildade de espírito. Deus não nos julgará pelo número de olhos abertos, nem de pés que andam, nem pelas mãos que são usadas, mas pela paz real dos que creem nele, tenham esses os limites que tiverem. 
      Quando o objetivo da fé é Deus, o efeito dela é uma paz diferenciada, quem de fato crê tem a tranquilidade dos justificados, não o delírio dos loucos, que acreditam em sandices, imaginam alucinações e colhem amargura. Fé que para existir precisa que outros também creiam igual não é a fé dom de Deus, que salva e consola, é obsessão, ideia de homem para exaltar o homem, não é espiritual, não conduz nem adora a Deus. A fé genuína começa e termina no Altíssimo e à medida que o tempo passa fica mais firme, mais discreta, mesmo mais silenciosa, ainda que muito, muito mais eficiente, pois encontra a Deus sem subterfúgios, sem segundas intenções, se torna mais simples e estreita, mas mais reta e forte.
      “Se vós estiverdes em mim, e as minhas palavras estiverem em vós, pedireis tudo o que quiserdes, e vos será feito“ (João 15.7), eis um dos versículos mais simples e profundos da Bíblia, um mistério espiritual importante é revelado nele, dois princípios extremos são citados mas um limita o outro. Temos que estar em Deus, isso é estar em obediência a Deus, com uma vida que agrada-lhe totalmente. Temos que pedir conforme a palavra de Deus, dentro daquilo que o Espírito Santo ensina como sendo Deus e sua vontade para o homem. Mas não basta uma das coisas, quem tem vida certa e pede uma tolice, ou pede algo sábio mas tem vida errada, não acessará a fé dom de Deus que conduz à espiritualidade cristã. 
      Como em tudo na vida com Deus, espiritualidade se processa com fé, e se foi assim nas primeiras coisas, no perdão que dia a dia nos apossamos na presença de Deus, também é assim no “conhecimento espiritual mais profundo”. Usei e ainda usarei muitas vezes no estudo “Espiritualidade Cristã”, do qual essa reflexão faz parte, o termo “conhecimento espiritual mais profundo”, muitos talvez não entendam o que seja isso. É um conhecimento bíblico e teológico maior? Sim. É um conhecimento doutrinário maior da nossa religião cristã? Também. Mas o que está escrito, apesar de conter fundamentos essenciais que nos dão “limites”, é só o início, o que saber mais depende da fé de cada um no Espírito Santo. 
      Vimos que fé envolve convicção e imaginação, o sentimento foca e a mente visualiza, algo que se quer sem que ainda exista, de quem a fé espera resposta? De qualquer coisa, espírito ou homem, incluindo de si mesmo, o homem é livre para crer no que quiser para receber o que quer que seja. Há resposta para toda fé? Sim. É sempre resposta de Deus? Sim, nada ocorre nos universos sem autorização de Deus. Mas toda resposta abençoa o homem espiritualmente? Não, ainda que em curto prazo pareça abençoar. Fé só beneficia de fato o homem, em todas as áreas, e de uma maneira que o benefício permaneça e faça o homem crescer espiritualmente, quando é exercida no Espírito Santo, isso é muito mais que prosperidade material e cura física. 
      Fé é movimento, mas o Espírito Santo é o único caminho que conduz a Deus. Você pode ter um carro e usá-lo em estradas diferentes para chegar a lugares distintos, mas somente o carro em movimento na estrada certa vai levá-lo à casa do pai, onde há um amor especial. O selo do Espírito Santo só tem quem entendeu, aceitou e viveu a salvação de Jesus, nessa redenção ganhamos o Espírito de Deus que nos permite entender as verdades espirituais mais elevadas e construir em nós a vida eterna, que será plenamente manifestada no plano espiritual quando deixarmos nossos corpos físicos, seja pela morte ou pelo arrebatamento. 
      Quem tem o Espírito Santo tem acesso a Deus porque está em Deus, assim têm acesso livre à melhor estrada que leva ao mais excelente lugar. Contudo, não basta estar na estrada certa e ficar contemplando, de longe, o destino, é preciso fé para se mover nessa estrada, e uma fé aprovada por Deus. A fé que Deus aprova é a descrita em João 15.7, ela movimentará nosso espírito através do Esprito Santo até o Deus altíssimo. Para a maioria das pessoas acreditar não é um problema, no divino muitos creem, outros só em si mesmos, passando por uma infinidade de entidades, homens, objetos e ritos mágicos, contudo, muitos, incluindo cristãos, têm dificuldade para se apossarem do caminho reto do Espírito Santo. 
      Esse caminho é vivenciado através de um processo de colocação espiritual, que inicia-se com perdão e adoração, para estão alcançar um estado de tranquilidade onde nos posicionamos na mais pura estrada espiritual. A grande maioria dos cristãos pede perdão, louva, deixa seus pedidos, e para aí, não medita, não contempla e não ouve a voz do Espírito Santo ensinando e revelando. Muitos evangélicos, ainda que livres emocionalmente para sentirem o prazer que advém da liberdade do Espírito Santo, não abrem suas mentes para discernirem a voz do Espírito Santo, assim param no início da estrada e não se movem por ela até o Deus Altíssimo, e infelizmente, achando que isso é o máximo na espiritualidade cristã.
      Tudo é possível ao que crê no Espírito, tudo o que Deus quer dar a alguém para que seja feliz. Isso não faz de alguém um super-herói, muito menos um religioso famoso que realiza sinais e prodígios, não, o plano de Deus nunca foi esse apesar de muitos acharem que o evangelho prega essas referências. Mas se fizermos tudo certo poderemos nos aproximar mais do homem que Jesus foi quando encarnado, só não se esqueça, que o que alguém espiritual como ele provou no final da vida, foi perseguição e descrença. Andemos conforme a nossa fé e nos movamos com ela no Espírito Santo, mas cientes que ser um cristão espiritual neste mundo é buscar a vida de Jesus homem, não de “deuses”. 

“Espiritualidade Cristã”
é um estudo dividido em 64 partes,
por favor, se possível, leia todas as reflexões 
para melhor entendimento do assunto abordado.
José Osório de Souza, 30/09/2020.

segunda-feira, outubro 19, 2020

19. Tempos: de salvação, de galardão

Espiritualidade Cristã (parte 19/64)

      “E um dos malfeitores que estavam pendurados blasfemava dele, dizendo: Se tu és o Cristo, salva-te a ti mesmo, e a nós. Respondendo, porém, o outro, repreendia-o, dizendo: Tu nem ainda temes a Deus, estando na mesma condenação? E nós, na verdade, com justiça, porque recebemos o que os nossos feitos mereciam; mas este nenhum mal fez. E disse a Jesus: Senhor, lembra-te de mim, quando entrares no teu reino. E disse-lhe Jesus: Em verdade te digo que hoje estarás comigo no Paraíso.” Lucas 23.39-43

      Julgamos a nós mesmos e aos outros pelo tempo, pensamos: “esse é tão novo e já tão bem sucedido”, ou, “aquele já passou do tempo de tomar jeito”, ou ainda, “se eu tivesse a cabeça que tenho hoje há vinte anos atrás”. Assim achamos que um ser humano melhor é aquele que aproveitou o tempo mais eficientemente, que levou menos tempo para acertar, que conquistou mais em um tempo menor. Mas será que é assim que Deus pensa? Será que Deus nos julga pelas referências de tempo deste mundo? Qual de fato a importância do tempo em nosso crescimento, em nossa espiritualidade?
      Em nosso crescimento espiritual pessoal o tempo não têm qualquer importância. Se levamos um ano, cinco, dez ou trinta anos, para entendermos e praticarmos certas coisas, não importa, levaremos para a eternidade a melhor posição espiritual que tivemos no mundo e na qual permanecemos pelo maior tempo que nos foi possível, não importa quanto levamos para isso. Também não importa o quanto beneficiamos outros com nossos crescimentos, não para a salvação e direito ao céu, por isso não devemos julgar ninguém, quem sabe o que alguém decidiu diante de Deus em seu último instante de vida aqui?
      O exemplo do segundo crucificado com Cristo na passagem inicial ensina-nos isso de forma clara, Jesus prometeu ao condenado o paraíso imediato, por que isso? Porque Jesus sabia que naquele homem havia um coração arrependido e crente, pronto para a melhor eternidade com Deus, ainda que tivesse passado uma vida no erro, mesmo que estivesse sendo crucificado para pagar o preço de seus erros para o mundo. Isso revela o poder da fé no nome de Jesus e a força que existe num posicionamento pessoal de mudança de vida, posicionamento muitas vezes desconhecido dos homens, mas sabido por Deus. 
      Tempo importa aqui, no mundo, no plano físico, e nas referências materiais, mas essas só construirão valores também materiais, que poderão ser usufruídos aqui, não na eternidade espiritual. Assim, esses valores poderão beneficiar não só a nós como aos outros e é claro, serão vistos e conhecidos por muitos, que poderão nos colocar em alta consideração por causa disso. Mas até que ponto esses valores abençoam os outros espiritualmente? Muitos recebem conforto e bens, mas não recebem o verdadeiro amor, porque quem os criou teve tempo para muitas coisas, menos para amar, deu coisas, não afeto. 
      Obviamente de imediato alguns só precisam de um prato de comida, e quem lhes dá isso pratica uma obra que abençoará não só ao corpo, mas também ao espírito, só com o mínimo de saúde física podemos ter saúde mental para buscar saúde espiritual. Se pessoalmente um instante pode bastar para mudar nossas vidas, o tempo nos dá a oportunidade de abençoarmos outras vidas neste mundo. Isso será importante na eternidade? Não para salvar, ninguém é salvo por obras, mas para nos graduar espiritualmente, o que a teologia protestante chama de galardão, conceito que os evangélicos pouco se atém.
      Mas, talvez, nossa existência aqui neste plano, que às vezes parece interminável e outras vezes rápida demais, seja só um instante na eternidade, um grão de areia na ampulheta divina, para que somente uma coisa nós façamos, nos dobrarmos a Deus. Cada um é dobrado de um jeito, cada um tem algo a ser quebrado para que depois busque conserto através de Jesus, cada um de nós tem algo único e diferente que precisa ser revelado pela luz do Espírito Santo. Se entendermos esse instante, não morreremos, apenas passaremos daqui para o plano espiritual em Deus, e quem parte nele continua nele, para sempre. 

      “Porque ninguém pode pôr outro fundamento além do que já está posto, o qual é Jesus Cristo. E, se alguém sobre este fundamento formar um edifício de ouro, prata, pedras preciosas, madeira, feno, palha, a obra de cada um se manifestará; na verdade o dia a declarará, porque pelo fogo será descoberta; e o fogo provará qual seja a obra de cada um. Se a obra que alguém edificou nessa parte permanecer, esse receberá galardão. Se a obra de alguém se queimar, sofrerá detrimento; mas o tal será salvo, todavia como pelo fogo.” I Coríntios 3.11-15

      A passagem acima nos ensina sobre o galardão que os salvos ganharão não eternidade. Que metáforas representam edifício, os materiais e o fogo? O edifício é nossa existência no plano físico, o sábio se colocará sobre Jesus, pisará na rocha, não sobre religião nem sobre o materialismo, mas naquele que pode levar diretamente ao Altíssimo e selar com o Espírito Santo. Jesus é a rocha inabalável em qualquer tempo ou situação desse mundo tão frágil e sujeito às injustiças dos homens. Contudo, ainda que se seja salvo, que se esteja sobre o fundamento melhor, é preciso construir com os materiais corretos.
      O que define o galardão não é a base onde se constrói nem a construção em si, mas o material usado para construir. Pode-se usar materiais diferentes, ouro, prata, pedras preciosas, madeira, feno, palha, o fogo provará esses materiais e só o material que permanecer ganhará galardão. Galardão não é salvação, pois mesmo que nada sobreviva ao fogo a pessoa será salva, mas será salva porque ainda que tenha construído com materiais inadequados estava sobre o fundamento melhor. Cristo nos salva do fogo, mesmo que tenhamos passado a vida construindo existências equivocadas, se cremos em Jesus somos salvos. 
      Os materiais não são as obras, mas a qualidade delas, diversos materiais podem ser usados e mesmo sendo diferentes podem resistir ao fogo, assim o galardão também pode ser diferente. Materiais diferentes podem ter qualidades diferentes, pureza, beleza, transparência, brilho, resistência, representando virtudes diferentes, dessa forma algumas virtudes são diferentes de outras, ainda que não sejam melhores. Então, podemos entender que o galardão poderá ser não só uma posição espiritual distinta, mais baixa ou mais alta, mas também uma identidade espiritual única, ainda que na mesma posição. 
      O fogo é o juízo, para o salvo não para decidir se ele irá para o céu ou para o inferno, mas se ganhará galardão e qual a qualidade desse galardão. Não é um fogo físico, mas espiritual, o fogo do Santo Espírito, a luz do altíssimo passada através de tudo que alguém fez, disse, pensou e sentiu no mundo, todas as suas obras. É a palavra viva de Deus descrita em Hebreus 4.12, que funciona como uma sonda que vasculha “células” e “átomos” espirituais, revelando o âmago de cada ser, suas mais profundas intenções, trazendo à tona mesmo as vaidades mais secretas, a verdade de cada um que muitas vezes é escondida de todos. 
      Cada ser tem uma identidade espiritual, com uma missão específica para expressar essa identidade, por isso cada um passa por provas diferentes para que sua essência espiritual seja trazida à tona. Isso ocorre à medida que deixamos que o Espírito Santo trabalhe em nós, o que nos permite usar materiais mais nobres em nossas construções. Alguns podem construir enormes castelos, honrados pelos homens, mas se forem de palha serão queimados pelo fogo. Outros, contudo, podem construir pequenas casas, sem reconhecimento humano, mas se lá no interior das paredes for usado ouro, resistirão ao fogo.
      Refletindo sobre a importância do tempo na qualidade de nossa vida espiritual, concluímos que ele pouco pode valer numa decisão para nossa salvação pessoal, podemos ser elevados a um nível alto de espiritualidade num instante. Um instante pode parecer pouco, mas pode ser a conclusão de toda uma vida, e se um instante for o suficiente para Deus, quem somos nós para discordarmos? Contudo, os que têm a oportunidade de tomar a decisão certa com mais tempo de vida no mundo, poderão abençoar os outros, assim as obras que serão feitas nesse tempo poderão dar direito ao galardão espiritual. 

“Espiritualidade Cristã”
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José Osório de Souza, 30/09/2020

domingo, outubro 18, 2020

18. Espiritualidade e o tempo

Espiritualidade Cristã (parte 18/64)

      “E a vida eterna é esta: que te conheçam, a ti só, por único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste.” João 17.3

      “Porém, muitos primeiros serão os derradeiros, e muitos derradeiros serão os primeiros.Mateus 19.30

      “Porque muitos são chamados, mas poucos escolhidos.Mateus 22.14

      Amo João 17.3, é o texto lema do “Como o ar que respiro”, foi por ele que comecei o blog em 2010. Ele revela um dos mistérios mais importantes da Bíblia, senão o mais, ele responde à pergunta, “o que é a vida?”, e mais, nos diz muito sobre a verdadeira espiritualidade. Vida eterna e verdadeira espiritualidade, que são a mesma coisa, é conhecer a Deus como único Deus e Jesus como o enviado desse Deus para nos salvar. Novamente enfatizando, o sentido de conhecer a Deus no texto não é um conhecimento intelectual, mas espiritual, não é adquirir doutrinas, mas se posicionar espiritualmente.
      João 17.3 diz muito sobre a relação entre tempo e espiritualidade, porque conhecimento espiritual não está atrelado a tempo no plano físico, mas só a virtudes que nos colocam numa posição espiritual instantaneamente. Conhecer a Deus não é nos enchermos de informações, mas nos esvaziarmos delas e permitirmos que o Espírito Santo nos encha, quando estamos nessa comunhão não há tempo, e mesmo o pouco tempo nos dá todo o tempo do mundo. Conhecer a Deus não nos faz superiores aos homens, mas próximos ao Altíssimo, à medida que nos liberta da morte que é o pecado no tempo e nos dá vida eterna. 
      Para o evangélico comum ou é céu ou é inferno, para o católico ainda existe a possibilidade do purgatório, onde alguém passa um sofrimento no plano espiritual, mas passageiro, posição que pode ser mudada mesmo por influência da oração dos vivos, isso, repentinos, conforme a teologia católica. Os espíritas kardecistas e outros religiosos orientais vão além com o conceito da reencarnação, mortos podem tornar a viver no mundo com o mesmo espírito, mas em corpos diferentes, assim não existe céu nem inferno eterno, mas apenas tempos para que a pessoa reflita, mude de atitude e cresça espiritualmente. 
      Os protestantes são os que menos valorizam tempo para proporcionar evolução ao ser, para eles fé em Cristo é tudo. Cristo como único e suficiente salvador eterno é a bênção maior da verdadeira espiritualidade, mas que interpretado pelos homens pode ter um lado bom e um lado ruim. O lado bom é a segurança que independe de homens e de créditos pessoais, mas só de Deus, dando a ele toda a glória por isso. Esse lado bom é tão bom que compensa todos os outros lados, que são mais equívocos, que lados ruins, mas o lado menos bom é que muitos cristãos podem ser tornar mimados.
      Isso tem acontecido principalmente nos tempos atuais, quando o pentecostalismo se populariza, junto de suas ramificações hereges como a teoria da prosperidade, vemos nos últimos tempos crentes ociosos e pouco afeitos à caridades. Com ocioso não quero dizer vagabundo, não é isso, todos trabalham, contudo, deixam de fazer algumas coisas que são partes dos homens achando que é parte de Deus fazer. Por quê? Porque creem e acham que isso basta. Contudo, viver neste mundo é uma oportunidade especial de se viver no tempo e Deus tem um importante propósito com isso, para à salvação e para o galardão. 
      Talvez o texto mais relevante no novo testamento sobre tempo seja o do final de Mateus 19 (também presente nos evangelhos de Marcos e de Lucas), Jesus usa um antagonismo para exortar aqueles que por alguma vaidade possam se achar melhores que outros, ou com mais direitos, à eternidade e à espiritualidade. Chegar antes não basta, muitos vêm depressa para igrejas, mas nunca de fato mudam de vida, é preciso chegar com as vestes certas. A declaração no final da passagem de Mateus 22.1-14 ressalta isso, todos são convidados, e alguns no último momento, mas só os vestidos adequadamente podem ficar.
      Podemos precisar de um longo tempo neste mundo para purificar nossas intenções e nossas ações, enquanto outros já estão em igrejas, muitas vezes posando de cristãos, mas com vidas duplas, em hipocrisia e mentiras. Não nos apressemos, principalmente diante dos homens, quem salva é Deus, quem nos conhece é Deus, quem nos veste com vestidos brancos lavados com o sangue de Cristo é Deus, e tempo, para Deus, nada significa. Não se ganha espiritualidade por tempo de serviço em religiões, mas com corações humildes que querem agradar ao Altíssimo indiferentemente se os homens sabem ou concordam. 

“Espiritualidade Cristã”
é um estudo dividido em 64 partes,
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José Osório de Souza, 30/09/2020